—Oh,
não! Para mim viver aqui é um luxo que ainda não posso acreditar. Devo
reconhecer que dormir em um colchão de plumas é muito melhor que em um saco em
uma cabana de pedra em uma tenda no deserto.
—Céus,
eu imagino que qualquer mulher acredita. Você gosta de estar aqui?
—Sim,
eu gosto. Quando cheguei à Inglaterra tinha a estranha sensação que voltava
para casa, mas nunca estive aqui. Tudo na Inglaterra é tão legal, tão verde,
tão bonito comparado com os áridos desertos em que vivi… É como minha me mãe
dizia que era. Não quero nunca sair daqui.
—O
que você acha de Tremore Hall?
—Eu
tenho receio que não visito muito o local. Tenho estado muito ocupada com os
trabalhos na escavação e não tenha tido tempo para explorar, apesar de ter
andado várias vezes pelos jardins. É uma propriedade esplêndida, mas intimida
um pouco quando se chega pela primeira vez.
—Sim,
— confirmou Viola— eu sei o que você quer dizer. Quando era pequeno, estive em
um internato na França por vários anos. Viver fora, eu esqueci que foi
intimidador, mas me lembrei o quanto queria voltar. Joseph nunca me deixa mudar
nada. A história da família e todas essas coisas.
—Posso
entendê-lo.
—Sim,
claro, Demi, mas você também entende sua afeição por vasos de barro. Se esta
fosse a tua casa, sem dúvida seria como Joseph e você se recusa a redecorar
nada.
Demi
ficou sem respiração ao sentir uma onda de saudade com esse inocente
comentário, mas procurou esquecer. Aquela não era sua casa. Ela não tinha casa.
—Há
uma coisa que eu mudaria. —respondeu, se forçando a relaxar—Tiraria essas
horríveis carrancas da escada principal e as jogaria fora.
—São
horríveis. Quando era pequena me causavam pesadelos. Talvez quando Joseph se
casar, sua duquesa as tire para que seus filhos não tenham medo.
Demi
imaginou em sua mente a imagem de Joseph com sua duquesa e seus filhos,
levantando o queixo para disfarçar sua expressão.
—E
você quer se casar? —perguntou Viola, interrompendo seus pensamentos.
—Eu…
— respirou fundo e se abaixou debaixo da mesa para submergir outra vez o pincel
na água— eu nunca pensei. — respondeu, quando se recompunha. Ela retornou a seu
trabalho e não olhou a que tinha na sua frente— Não há probabilidade de
acontecer.
—Porque
diz isso?
—Estou
ciente que eu sou uma mulher comum e já tenho pouco mais de vinte e quatro
anos. Tenho poucas oportunidades de conhecer gente nova. E se me casasse, seria
apenas por um grande, profundo e duradouro amor. Então agora você vê, — continuou,
levantando a vista e sorrindo levemente— eu tenho absolutamente tudo contra.
Viola
não respondeu, mas Demi podia notar como sua nova amiga a olhava enquanto ela
prestava atenção outra vez em seu trabalho. Tendo passado uns minutos, Viola
ficou em silêncio.
—É
uma pena que você não foi a Londres.
Demi
levantou a vista surpresa pela mudança de assunto.
—Eu
gostaria, talvez vá algum dia. Você vive lá com seu esposo?
—Depende
da época do ano. — respondeu Viola— Passo o outono e o inverno em Enderby,
nossa fazenda fica em Chiswick, aos redores de Londres. Enquanto, Hammond está
em Hammond Park, em Northumberland. Na primavera, alugamos uma casa na cidade,
onde passamos juntos a temporada social. No verão eu vou a Brighton e Hammond
volta para Northumberland. É um arranjo que convém a nós dois, porque nos
obriga a passar juntos apenas alguns meses do ano. O suficiente para manter as
aparências.
Demi
estava surpresa, mas disfarçou. Sentia compaixão por sua nova amiga.
—Eu
vejo — murmurou.
—Eu
mantenho Enderby muito animado no inverno. —continuou Viola com certo tom de
amargura— Celebro festas constantemente e que participam muitas pessoas, não
gosto de estar sozinha. —Se interrompeu e riu entrecortando. — Não me olhe
assim sentindo pena. Deveria se envergonhar. Minha única desculpa é que você é
uma boa ouvinte, Demi.
—Não
precisa ficar com vergonha de se sentir sozinha.— disse Demi amavelmente—Eu
também sei o que é estar sozinha. Grande parte da minha vida passei em
desertos, longe de qualquer lugar; lugares em que eu era a única mulher inglesa
em quilômetros ao redor. Papai e eu estivemos um inverno em Roma enquanto
passava o tempo com outros acadêmicos e restauradores, eu vagava por
bibliotecas e museus, lendo tudo o que podia encontrar sobre a Inglaterra.
História, política, sociedade, costumes. Gostaria muito de poder conhecer
Londres algum dia.
—Oh,
Demi, eu gostaria tanto de ser eu que pudesse te ensinar! É uma cidade tão
excitante… Eu gostaria que você pudesse vir comigo quando voltar a Enderby.
Seria muito boa a sua companhia e Chiswick é só uma hora de caminho. Se você
estivesse ali durante a temporada, poderia vir comigo a cidade e te apresentaria
em sociedade. Inclusive poderia encontrar a família da sua mãe.
—Isso
é impossível — respondeu Demi. Joseph estava ali e ela não podia se imaginar
abandonando Tremore Hall em um futuro próximo. — Ainda tenho muito que fazer.
—O
museu de Joseph vai inaugurar em março. Não poderia vir depois?
—Não.
Embora com o museu inaugurado, terei que continuar trabalhando na escavação. Eu
duvido que esteja completamente terminado antes de cinco anos.
—Eu
entendo, mas é realmente uma pena. — De repente, Viola suspirou chateada. —Oh,
meu Deus, tenho que voltar. Se meu irmão descobrir que escapei de sua escavação
se chateará comigo. Ele sempre trata para que eu me interesse por coisas
intelectuais.
Viola
se dirigiu a porta, mas no caminho se virou e a olhou mais uma vez.
—Outra
coisa, Demi: saiba que a beleza não significa nada.
Demi
viu como sua nova amiga desapareceu no corredor e sorriu um pouco forçado.
—As mulheres bonitas
sempre dizem isso — murmurou para a porta vazia.Então, é isso mesmo, uma mini maratona a voces.
E ja to me preparando para os xingamentos que sei que farão ao Joe
Bjemi
Amando essa amizadeee
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