quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

O Amor é Cego Capitulo IV parte 2

— É, de fato não devíamos — Demetria concordou, afagando os ombros e o peito de Joseph, ao mesmo tempo em que jogava a cabeça para trás, permitindo que ele lhe beijasse o pescoço.
— Não estou tendo o devido respeito para com você — ele sussurrou no ouvido de Demetria, que sentiu um arrepio da cabeça aos pés. Podia ser desrespeitoso, mas estava muito bom.
— Me peça para parar — Joseph murmurou, descendo os lábios pelo pescoço lânguido.
Demetria abriu a boca e soltou um gemido quando ele enfiou a mão pela abertura da camisola e acariciou lhe o seio.
— Talvez... — Joseph acariciou lhe a pele macia e ela arqueou o corpo, invadida por sensações estranhas. Seus músculos latejavam de excitação e uma sensação de calor apoderava-se de suas partes íntimas.
— Talvez, o quê? — Joseph perguntou ofegante.
—Talvez você deva me beijar de novo — disse Demetria arfando, embora soubesse que não era isso que deveria dizer.
Joseph deixou escapar dos lábios um pequeno murmúrio e cobriu os lábios dela com os seus.
Demetria afagou os cabelos macios, retribuindo os beijos com o mesmo ardor e, pela primeira vez, sentiu viva cada uma das partes de seu corpo como nunca havia acontecido antes.
Em virtude de sua inexperiência, no íntimo, tudo o que preocupava Demetria era não estar correspondendo da maneira certa, mas essa preocupação desapareceu quando Joseph soltou um som gutural e seus beijos tornaram-se mais ardentes e exigentes. Aquela reação só poderia ser por estar retribuindo à altura. Então ele a recostou na cama.
— Só um pouquinho — murmurou Joseph, interrompendo o beijo.
— Está bem — Demetria concordou, só desejando que o prazer que estava sentindo não acabasse.
— Só vou tocar um pouquinho em você e prometo que depois eu paro — disse Joseph, e a ideia lhe agradou.
Demetria queria que aqueles momentos durassem uma eternidade. Nunca havia se sentido tão desejada e viva.
Quando Joseph começou a beijar-lhe o seio, Demetria percebeu que ele estava totalmente descoberto. Joseph havia desabotoado vários botões de sua camisola, sem que ela tivesse percebido. O calor da boca brincando com seu mamilo teve o efeito de uma chama acendendo todo o seu corpo.
— Oh — gemeu, passando as mãos dos cabelos para os ombros dele. Tentou então tirar o colete de Joseph, puxando-o dos ombros. O colete desceu um pouquinho e acabou interceptando o movimento dos braços de Joseph, que acabou fazendo uma pausa para tirá-lo ele mesmo.
Demetria deixou que suas mãos deslizassem pelo tecido fino da camisa de Joseph. Não se contendo, levantou o tecido, desejando tocar a pele macia. Joseph parou de brincar com seu mamilo e um “não” quase suplicante escapou-lhe dos lábios. Ele tornou a beijá-la e Demetria puxou o resto da camisa para fora das calças, acariciando as costas.
Joseph gemeu e seus beijos tornaram-se mais fortes e sua língua mais exigente; quando se sobrepôs ao corpo de Demetria, ela pôde sentir toda a virilidade dele ao entreabrir um pouquinho as pernas. Estremeceu de prazer, cravando as unhas nas costas de Joseph.
— Por Deus, Demetria — ele pediu, afastando seus lábios dos dela para beijá-la por todo o rosto. — Precisamos parar.
— Oh, Joseph — Demetria gemeu de prazer, enrijecendo o corpo quando a mão dele acariciou suas pernas e Joseph deslizou os lábios por seu pescoço.
— Peça-me para parar — Joseph implorou, fazendo uma pausa para tirar a camisa, curvando-se depois para beijar e sugar o seio de Demetria.
Demetria ofegante, enterrou as unhas nas costas dele e arqueou o quadril para que ele pudesse acariciar suas partes íntimas.
A mão de Joseph deslizou de suas pernas na tentativa de pegar a bainha de sua camisola e a suspender até as coxas. Ela estremeceu antecipando o que estava por vir e colou seu corpo ao dele.
— Oh, Joseph ... — Demetria arfou, sentindo o corpo pulsar em crescente tensão quando ele tocou suas partes íntimas, agora sem o impedimento de tecido algum.
— Só isso, prometo que não vamos fazer amor — ele sussurrou, beijando-a no cantinho da boca. —Mas preciso tocar em você, sentir o seu gosto.
— Sim... — disse Demetria imediatamente, pronta para concordar com tudo desde que ele não parasse.
Demetria acariciava o corpo de Joseph, pendendo a cabeça para o lado quando a boca dele começou a descer por seu corpo, detendo-se por um momento em um seio, depois na altura de seu abdome e... Seu devaneio foi subitamente interrompido; ela retesou todo o corpo quando ele se ajoelhou entre suas pernas, para que a boca tomasse o lugar da mão que a acariciava. Sua primeira reação foi de choque e vergonha. Ela agarrou a cabeça de Joseph, tentando levantá-la.
— Não quero... você não deveria... Joseph? — murmurou indecisa, desistindo do protesto diante do prazer com que seu corpo respondeu às carícias daquela boca.
Demetria largou a cabeça de Joseph e se agarrou na cama e nos lençóis, sentindo tudo à sua volta girar. Teve então uma vaga consciência de que seus quadris agiam naquele momento por conta própria, movimentando-se para cima na ânsia de receber mais beijos e mais carícias.
— Oh... — Demetria vislumbrou as sombras da vela projetada no teto, mas toda a sua concentração estava voltada para as sensações que estava descobrindo.
— Oh... — Entendia agora por que nasciam tantos bebês.
— Oh... — Joseph lhe parecia o homem mais inteligente da Inglaterra, talvez do mundo.
— Oh... — De repente o desenho do universo passou a fazer sentido.
— Oh... — Definitivamente Deus existia.
— Oh... — O que seria o cheiro de fumaça que estava sentindo?
Demetria aguçou os sentidos, tentando desprender-se da paixão que lhe toldava a mente naquele momento. Inspirou profundamente e, sem dúvida, havia cheiro de fumaça. Voltou o olhar para a vela que Joseph havia acendido, mas, pelo pequeno círculo de luz que conseguia ver, aparentemente não era dela que se desprendia a fumaça.
Talvez fosse imaginação sua, mas era difícil pensar no que quer que fosse quando tudo o que desejava era se deixar levar pelo prazer que sentia, pouco se importando com a causa daquele cheiro. Soltou a mão que apertava os lençóis e enfiou as mãos nos cabelos de Joseph, incentivando-o a satisfazer o desejo de seu corpo.
Receosa de machucá-lo em razão de seu estado de excitação e insensatez, soltou novamente os cabelos dele e voltou a agarrar a cama, enquanto seus quadris continuavam a se mover à medida que a tensão de seu corpo aumentava. Suas mãos apertavam os lençóis, sua cabeça girava em um turbilhão, quando os lábios de Joseph tocaram o centro de sua excitação. Seu corpo vibrou na cama, sentindo cada um de seus poros latejar. Com a respiração acelerada, ela soltou um suspiro e tossiu ao aspirar a fumaça.
Tentando desesperadamente pensar, passada a excitação que a assaltara, Demetria procurou erguer-se um pouco e olhar ao redor do quarto. Seus olhos detiveram-se na porta. Parecia haver uma claridade no vão próximo ao chão e por ela penetrar uma grossa camada de fumaça.
Instintivamente mexeu na cabeça de Joseph, mas ele segurou-lhe as duas mãos e prensou com o peso do corpo as pernas dela para continuar o que estava fazendo.
— Joseph! — ela chamou-o arfando, mas determinada. — Fogo... Oh... queimando.
— Estou queimando por você também. — Ele levantou a cabeça por um segundo apenas para responder e continuou a acariciá-la, decidido que estava a enlouquecê-la de prazer.
— Não... Oh... não — Demetria tentou mais uma vez avisá-lo, lutando para conseguir livrar suas mãos, mas Joseph continuava a prendê-las. Finalmente, conseguindo liberar uma das mãos, ela o puxou com força pelos cabelos.
Com os olhos fixos na luz sob a porta, Demetria mais uma vez gritou: “Fogo!”, mas sentiu novamente a tensão começar a se apoderar de seu corpo, crescendo em novas ondas intermináveis de prazer até se tornar uma massa trêmula e frágil jogada na cama.
Joseph finalmente levantou a cabeça e, embora com a mente entorpecida, Demetria percebeu o movimento dele para deitar-se a seu lado. Ele abraçou seu corpo inerte, beijou sua testa, depois franziu as sobrancelhas, aspirou o ar, levantou a cabeça, aspirou novamente o ar e perguntou:
— Não está cheirando fumaça?
— Está, sim. — Demetria suspirou, com um sorriso nervoso no rosto. — Acho que a casa está pegando fogo.
— O quê!? — Joseph exclamou, e ela foi subitamente deixada de lado; ele se levantou e correu até a porta. Tentou abri-la uma vez, depois forçou-a com as duas mãos, mas não fez qualquer diferença. Como não conseguisse, colocou a mão em sua superfície, praguejou e retornou rápido até a cama.
— Por que você não me avisou?
— Mas eu tentei disse Demetria, constrangida. — Disse fogo, que algo estava queimando e tentei empurrar sua cabeça.
— Oh, é verdade. Pensei que você... Deixa isso pra lá. — Joseph deu uma olhada para a janela, pegou então a mão dela e puxou-a para fora da cama. — Vamos, temos que sair daqui.
Demetria levantou-se e quase desmontou no chão. Joseph segurou-a, preocupando-se:
— O que você tem?
— Estou com as pernas moles. Me dê um minuto.
Ele hesitou por um instante, depois tomou-a nos braços e a carregou até a janela.
— O que você está fazendo? — Demetria perguntou, surpresa.
— A porta está muito quente, sinal de que o fogo está logo ali. Precisamos sair pela janela.
— Meu Deus! — Demetria exclamou assustada quando ele a colocou no chão e debruçou-se na janela a fim de olhar para fora. Ela não tinha boa coordenação. Mesmo com os óculos, já era meio desajeitada. A ideia de tentar sair pela janela não lhe agradava nem um pouco.
— Não se preocupe, vou ajudá-la — Joseph procurou tranquiliza-la, colocando uma perna para fora da janela e sentando-se no peitoril. Em seguida, ele esticou os braços e sumiu de vista. Demetria se aproximou da janela e olhou para fora. O lado positivo é que não conseguia enxergar a altura em que estava. Odiava alturas. O lado negativo é que não conseguia enxergar nada. Sentiu então Joseph tocar sua mão.
— Segure minha mão. Vou ajudá-la.
— Está bem. — Demetria respirou fundo e pegou na mão dele. Segurou-a firme, sentando-se de lado no parapeito, tentando tirar uma perna para fora, como ele havia feito, mas achando que a camisola tolhia seu movimento.
Depois de uma pequena hesitação, Demetria ponderou que Joseph já tinha visto o que havia sob a camisola e levantou-a até as coxas para conseguir se movimentar melhor. Tentou então ver o que Joseph estava fazendo e conseguiu vislumbrar sua silhueta, graças à camisa branca que ele usava e que contrastava com a escuridão do céu e das árvores ao redor.
— Basta dar um impulso para frente e eu a porei neste galho. — A voz de Joseph soou calma e confiante. Demetria fez o possível para concentrar-se nisso e ignorou seus medos. 


reapareci ne? desculpa sumiço, estava tentando me concentrar na fic que to fazendo
ta dando muito certo nao.
mas enfim.... é isso por enquanto


-norte americana coreana mais cuti cuti ♥♥♥♥♥♥♥


quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

O Amor é Cego Capitulo IV parte 1

Demetria sonhava com Joseph. Eles estavam em um pequeno barco, que deslizava por um lago plácido, e Joseph recitava poemas para ela. Ao contrário do poema lido por Prudhomme, esse era lindo, falava de paixões infindas e de amor eterno. Parando de recitar de repente, ele a fitou e estranhamente começou a chamá-la:
— Demetria? Cadê você? Ai! Droga! Demetria?
O chamado parecia tão verdadeiro que ela acordou sobressaltada. Piscando os olhos, franziu a testa ao dar-se conta de que continuava ouvindo a voz de Joseph, apesar de não estar mais sonhando.
— Demetria? Diga alguma coisa. Não enxergo nada nessa escuridão...
— Joseph? — murmurou ela, sonolenta.
— Demetria? — A voz dele não passava de um sussurro, vindo de algum ponto próximo ao pé de sua cama.
Já desperta, embora ainda confusa, Demetria sacudiu a cabeça. Só poderia ser sonho. Como era possível Joseph estar em seu quarto àquela hora da noite?
— Ai.
Deus do céu, não é que ele estava mesmo! Demetria rapidamente sentou-se na cama.
— Joseph?
— Sim, sou eu, mas não enxergo nada. Continue falando para que eu siga sua voz. Ai! Que droga, por que tanto móvel no meio do quarto?
A cama sacudiu um pouco quando Joseph se chocou contra ela, e Demetria, forçando os olhos na escuridão, sussurrou incrédula:
— O que você está fazendo aqui?
— Preciso falar com você, mas como não conseguimos nos encontrar da maneira convencional, eu... O que é isso?
— Meu pé — disse mexendo os dedos. Em seguida, estendeu os braços para tentar alcançá-lo. Se não era fácil só ver borrões, a escuridão total era muito pior. Finalmente pareceu tocar no peito dele. Então Joseph tocou na mão dela e ela pôde puxá-lo em direção à cabeceira da cama.
— Está tão escuro aqui. Onde está a vela?
Demetria não conseguiu segurar a risada, cobrindo a boca com a mão.
— Mas se é noite!
— Eu sei, é que...
— Se acendermos a vela poderá chamar a atenção de algum criado. Sente-se aqui e me diga o que há de tão importante que o tenha feito invadir o meu quarto.
Demetria ajeitou-se, deixando espaço a seu lado para que ele pudesse se sentar.
Joseph deu um suspiro e, ao sentar-se, a cama balançou um pouco com seu peso. Limpando a garganta, ele comentou:
— Sei que não é nada apropriado estar aqui.
— Quase tudo o que fazemos parece não ser — Demetria ressaltou, em tom divertido.
— Me parece que não — Joseph concordou, sorrindo, mas sua voz tornou-se novamente séria.
— Queria saber mais sobre o recado que você disse que eu lhe mandei.
— Sim, claro. Desculpe por não termos conversado. O que havia de importante nele?
— Não fui eu que enviei o bilhete.
— Não? — Demetria ficou lívida. — Mas estava assinado J.J.
— Mas não fui eu que mandei — Joseph repetiu com firmeza. — E, quero que você tenha em mente para o futuro que nunca assino J.J.
Demetria refletiu por um momento. Não sabia o que pensar, nem o que dizer.
— Quem o teria enviado então? E por quê?
— É isso o que me preocupa, Demetria. — O tom de voz era de apreensão. — Fico pensando se o acidente de hoje foi mesmo um acidente. Aliás, todos os seus outros acidentes também me intrigam. Me diga como foi a queda da escada.
Demetria ergueu as sobrancelhas.
— Acho que já lhe disse que o combinado é que sempre tenha uma criada para me acompanhar, mas naquela manhã eu estava muito impaciente. Às vezes me aborrece essa história de precisar ter alguém me acompanhando, então resolvi descer sozinha. Não tive problema algum para deixar o quarto e caminhar pelo corredor. Quando cheguei na escada, porém, tropecei em alguma coisa e rolei escada abaixo.
— Mas em que você tropeçou?
— Não sei dizer. Torci o tornozelo e perdi o equilíbrio. Joan e Foulkes fizeram um estardalhaço. Não me ocorreu na hora pedir a eles que verificassem em que eu havia tropeçado.
— E ninguém mencionou se havia alguma coisa na escada?
Demetria sacudiu a cabeça em negativa.
— E como foi que você quase foi atropelada por uma carruagem?
— Ah — Demetria soltou um suspiro à lembrança —, eu estava entediada e ouvi a cozinheira dizer que ia ao mercado. Resolvi ir com ela para comprar umas frutas. Ela me pegou pelo braço e paramos em uma barraca de verduras na extremidade do mercado. Ela me largou por um minuto somente, não mais do que isso. No mesmo instante, alguém trombou comigo. Como foi inesperado, meu pé dobrou no cascalho e caí para a frente de joelhos. Percebendo uma grande comoção, levantei a cabeça e vi um borrão enorme vindo em minha direção. Era uma carruagem, mas o condutor conseguiu parar a uns passos de mim, aparentemente com os cavalos empinando. Acho que tenho tido sorte.
— Quem trombou em você? — Joseph quis saber.
— Não sei. A cozinheira veio correndo me perguntar se eu estava bem, se pôs a gritar com o condutor porque ele estava gritando comigo e, em seguida, me trouxe para casa para que Joan me ajudasse a trocar de roupa.
Joseph permaneceu calado por um momento, depois perguntou:
— Demetria, você realmente viu o bilhete que supostamente lhe mandei?
Demetria podia sentir a respiração dele em seu ouvido e estremeceu. Engolindo em seco, respondeu:
— Claro que vi. O menino insistiu em entregá-lo para mim. Joan até teve de me tirar do baile para recebê-lo.
— Você leu o bilhete?
— Não; tentei, mas não consegui. Joan leu para mim.
Joseph pensou um pouquinho e perguntou:
— Você guardou o suposto bilhete?
— Suposto? Você fica repetindo isso, Joseph, mas eu vi o bilhete.
— Sim, você viu, mas não leu.
— Por Deus, o que você está imaginando?
— Não sei — Joseph confessou, suspirando. — Foulkes e Joan estavam por perto e foram os primeiros a se aproximar de você quando caiu e a cozinheira estava com você no mercado. Mas ninguém se preocupou de verificar por que você tropeçou ou quem a empurrou na rua.
— Alguém trombou comigo. Não fui empurrada — contestou Demetria. — E ambas as vezes as pessoas estavam ocupadas demais comigo para se preocupar com essas coisas. Eu tampouco me preocupei. E, céus, sei que a criadagem me odeia por todos os acidentes que já causei, mas daí a pensar que todo o pessoal que trabalha com meu pai me queira ver morta?
— Não, claro que não — Joseph concluiu mais que depressa. — Dá para você acender a vela e achar o bilhete?
Demetria hesitou e não conteve o riso:
— Como se a luz pudesse me ajudar!
Balançando a cabeça, ela saiu da cama e, com os braços estendidos, se dirigiu com cuidado até a penteadeira. Ainda assim, bateu com o pé em uma das pernas da peça. Dando um passo para trás, praguejou e abaixou as mãos para localizar o tampo. Tinha uma vaga lembrança de Joan ter colocado o bilhete ali quando entraram no quarto.
— Deve estar por aqui — Demetria percorreu as mãos pelo tampo e esbarrou nele. Pegou então o pequeno pedaço de papel e virou-se para voltar para a cama quando, repentinamente, a luz iluminou o quarto.
Demetria congelou a meio caminho da cama, piscando muito por causa da luz repentina.
Joseph tinha encontrado a vela ao lado da cama e a acendera. Demetria entregou-lhe o bilhete e aguardou que ele o lesse.
— E então? — perguntou, depois de algum tempo.
— Está escrito o que você disse, mas a letra não é minha.
— Quem mandou então? — ela perguntou com ar apreensivo. — As únicas pessoas que sabem a nosso respeito são seu primo e minha criada e... Prudhomme.
— Prudhomme sabe? Você tem certeza?
— Tenho. Ele e Taylor estavam passeando no jardim da casa dele na noite de nosso piquenique, e eles viram quando nos beijamos à porta do salão — Demetria explicou e acrescentou: — Assim, Taylor também sabe.
— Desconfiava que ele soubesse — Joseph murmurou, depois levantou a cabeça e Demetria sentiu o olhar dele.
De repente, ela teve plena consciência de estar ali usando somente uma camisola. Podia perceber agora o olhar de Joseph percorrendo seu corpo e teve um estremecimento. Instintivamente, cruzou os braços sobre o peito.
Fez-se um longo silêncio entre eles. Então Joseph anunciou com voz enrouquecida:
— Demetria, estou louco para beijá-la.
Ela prendeu a respiração, sentindo de imediato a excitação tomar conta de seu corpo, esmorecendo no minuto seguinte quando ele vacilou:
— Não, é melhor não beijá-la.
— Não vai me beijar? — Demetria perguntou tornada de desapontamento.
— Seria inapropriado.
— Mas eu gostaria que você me beijasse — Demetria admitiu com franqueza.
— Oh, por favor, não diga isso — Joseph quase gemeu. — Estou tentando ser cavalheiro.
— E cavalheiros não beijam damas? — ela perguntou com um pequeno sorriso, lembrando-o depois: — Você me beijou no baile dos Devereaux.
— Beijei, mas a situação era muito diferente.
— Diferente, por quê?
— Você não estava semidespida e em seu quarto.
— Posso me vestir.
Uma leve risada escapou dos lábios de Joseph e ele se abaixou para beijá-la. Demetria não disse uma palavra, seu coração parou de bater por um momento, entregando-se por completo ao beijo. Agora podia constatar que o calor e excitação que tomara conta dela na noite do baile dos Devereaux nada tinham a ver com o vinho.
O corpo de Demetria parecia saber exatamente o que fazer e se moldou perfeitamente ao de Joseph. Suas mãos envolveram o pescoço dele para ficarem ainda mais juntos e então ele introduziu a língua em sua boca, como havia feito no primeiro beijo. Desta vez não ficara nem um pouco surpresa, nem sentira o corpo enrijecer-se. Pelo contrário, sentiu os joelhos enfraquecerem e escorregaria até o chão se não tivesse os braços de Joseph envolvendo-a bem firme.
Demetria suspirou e deixou-se beijar, gemendo de prazer às carícias eróticas de Joseph. Em dado momento, ela soltou uma pequena exclamação de surpresa. Ele a afastou e sentou-se na beirada da cama.

— Está errado — sussurrou, beijando-a no rosto e escorregando os lábios até o ouvido dela. — Não devíamos estar fazendo isso. 

 
(Catch Me If You Can) tunts tunts

hey people, estao gostando da historia?
sorry demora, mas estou em um trabalhinho e chego um caco em casa, mas aqui estou postando por que....é porque postei hehe
bjemi

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

O Amor é Cego Capitulo III parte 3

— Consigo, sim. — Uma das vantagens da residência na cidade é que conhecia bem todos os seus recantos. Tinha certeza de que conseguiria chegar até a fonte sem ajuda.
— Bem, então fico aguardando aqui para levá-la de volta pela escada de serviço. Assim vocês poderão ter um pouco de privacidade. Mas tome cuidado.
— Não se preocupe.
— Talvez eu deva acompanhá-la. A senhora pode...
— Nada disso. Sei o caminho e vou bem depressa.
— Não, vá devagar, por favor. Não quero que se apresse e acabe se machucando — Joan recomendou.
Demetria se localizou rapidamente, prestando atenção ao caminho que levava à clareira em que ficava a fonte. Como estivesse em boas condições, apressou o passo, eufórica diante da perspectiva de ver Joseph.
Não vendo um galho à sua frente, Demetria foi de encontro a ele. O impacto e a dor deram-lhe a sensação de ter arrebentado a cabeça. Sem conseguir se equilibrar, tropeçou várias vezes e sentiu que ia cair.
Ao ouvir uma voz ansiosa repetir e repetir seu nome, Demetria finalmente acordou. Levou alguns minutos para dar-se conta de que era a voz de Joseph. Piscando os olhos, sentiu dificuldade para abri-los por causa da dor. Não era uma dorzinha de cabeça, mas a dor de marteladas em sua testa que latejava de agonia. Demetria voltou a fechar os olhos.
— Graças a Deus — Joseph sussurrou em seu ouvido, e ela sentiu um beijo em sua testa.
— Joseph? — Esforçou-se para abrir os olhos. O rosto dele estava quase em foco e mostrava-se preocupado, contemplando-a.
— Como você está se sentindo? Quando a vi dentro da fonte, me assustei tanto. Pensei que você estivesse morta.
— Dentro da fonte? — Demetria perguntou confusa e levantou a mão para tocar no rosto dele, com água escorrendo pela face. — É por isso que estou molhada?
— Você caiu na fonte — começou Joseph vagarosamente, como se assim fosse mais fácil para ela entender. Ele procurou levantá-la um pouco. — Como você se sente? Está tendo visão dupla?
— Acho que não. — Demetria sentou-se, consciente da escuridão que os cercava. Podia ver o suficiente para saber que estavam bem ao lado da fonte. Joseph também estava molhado. Ele devia ter pulado na fonte para tirá-la da água.
Apesar de seu atual estado de pouca visão, conhecia perfeitamente os contornos da fonte. Ela sempre estivera lá. Havia sido seu lugar favorito quando criança. Era enorme em torno, da base, mas bastante rasa. Continha, porém, água suficiente para alguém se afogar.
— Como posso ter ido parar na fonte? O que eu estava fazendo?
— Boiando — Joseph explicou. — Pensei que você tivesse se afogado.
— Será que caí? — Ela se lembrou então de ter se apressado para ir ao encontro dele. Lembrou-se de ter batido em um galho e tropeçado. Ao tropeçar, certamente fora projetada para a frente e caído na fonte.
— Levei um choque ao vê-la na fonte. Como você foi parar dentro dela?
— Vinha encontrá-lo, conforme você me pediu no bilhete, e bati a cabeça em um galho. Lembro de ter tropeçado antes de ficar tudo escuro. Devo ter caído na fonte.
— No bilhete? — Joseph perguntou em tom de surpresa, não prestando atenção a mais nada.
— É, com seu recado. Eu...
— Milady!
Ambos voltaram-se a fim de olhar para a figura escura que saíra da trilha e caminhava na direção deles.
— Queira perdoar a intromissão, mas sua madrasta está à sua procura. Precisamos ir, milady. A senhora ainda precisa trocar de roupa e...— Joan interrompeu o que ia dizer quando percebeu que Demetria estava molhada. — O que aconteceu com seu vestido?
— Está tudo bem, Joan. Acho que me molhei um pouquinho. — disse Demetria, sendo ajudada por Joseph para se levantar.
— Oh! Sabia que devia tê-la acompanhado. — Joan balançou a cabeça, e então pareceu exasperada ao dizer: — Da próxima vez serei mais insistente! Agora vamos.
— Preciso ir. Pena que não tivemos nem chance de conversar, milorde — Demetria desculpou-se diante da insistência da criada. — Tudo porque vim o mais depressa que pude ao receber o seu bilhete.
— Bilhete? — Joseph repetiu, mas as duas já haviam desaparecido no escuro do bosque pela trilha que levava à casa. Ele não havia enviado bilhete algum, mas talvez Mikey tivesse achado difícil falar a sós com ela e tivesse lhe passado o recado por escrito.
Havia pedido ao primo que procurasse Demetria assim que chegasse e pedisse a ela para encontrá-lo junto à fonte. Estremeceu e passou as mãos pelo rosto como que para apagar a lembrança de vê-la desacordada. Aquilo era a última coisa que poderia imaginar ao escalar o portão do fundo e esgueirar-se até o bosque. Todo aquele plano era fruto do desespero. Fazia uma semana que não via Demetria e a beijara. Aquela noite fora para casa sentindo-se no topo do mundo. Tudo o que planejara funcionara perfeitamente. O piquenique tinha sido um sucesso. Ela mostrara-se feliz. O beijo havia sido um prêmio inesperado. Ele não cogitara tomar qualquer iniciativa ainda, mas ela estivera em seus braços, com os olhos brilhando, e os lábios, doces e macios, eram um convite que não podia ser recusado. Ele queria sorver neles os momentos de pura magia que estavam vivendo.
Depois de beijá-la, porém, Joseph dera-se conta de que havia cometido um erro. Demetria era terna e calorosa e derretera-se ao contato dele como manteiga no pão quente, instigando-o a querer muito mais do que simplesmente beijá-la. Por isso tivera de se controlar de forma abrupta. Ao sair da casa dos Devereaux, estava completamente excitado e ansioso por vê-la de novo.
Joseph havia feito muitos planos desde então para, em outras festas, poder separá-la da madrasta e passarem novos momentos a sós. Certamente precisaria contar com a ajuda da mãe, dos primos e até de amigos. Mas de nada adiantara. As duas não apareceram em um único baile desde então.
Como último recurso, ele acabara contratando alguém para saber a razão de elas não estarem comparecendo a nenhum evento e para descobrir situações em que pudesse vê-la. Um ou dois criados foram subornados, mas as informações que chegaram foram de que, aparentemente, não estava acontecendo coisa alguma, ninguém estava doente e as duas não haviam saído de casa a semana toda. Lady Lovato simplesmente declinara todos os convites para os bailes e não recebera qualquer visitante. Até mesmo Mikey não conseguira visitá-las para, a seu pedido, propor um novo passeio de carruagem a fim de que pudesse encontrá-la.
Joseph já receava que lady Lovato tivesse de alguma maneira descoberto o piquenique que haviam feito, mas teve a certeza disso quando Prudhomme fez um comentário sarcástico ao se encontrarem em um dos bailes que comparecera na esperança de ver Demetria. Assim que soube do baile que lady Lovato havia decidido realizar, Joseph idealizou um novo plano. Sabia que ninguém da família dele seria convidado, mas um dos amigos do primo seria e o primo poderia acompanhá-lo, com a única finalidade de marcar o encontro dos dois. Ele escalaria o portão do fundo, encontraria a fonte e ficaria aguardando por Demetria.
Joseph havia saído mais cedo do que o primo, com a intenção de chegar antes do que Demetria junto à fonte, por isso ficara chocado ao encontrá-la boiando, com o vestido e os cabelos flutuando sob a luz da lua. A sorte é que a fonte era rasa.
— Joseph?
Ele ficou atento ao sussurro de seu nome e observou que o primo se aproximava.
— Então você conseguiu entrar. — Parando ao lado de Joseph, Mikey examinou o local com os olhos e balançou a cabeça em aprovação. — Que lugar agradável.
— Para quê?
— Para seu encontro com Demetria, ora. A propósito, ainda não a encontrei para dizer que você estaria aqui. Aparentemente, a criada a levou para mudar de roupa, ou algo assim, e ainda não desceram. Só vim para lhe dizer que não precisa se preocupar. Ela logo estará na festa e eu pedirei que me mostre o jardim e a trarei até aqui.
Joseph olhou para o primo cheio de surpresa.
— Quer dizer então que você ainda não deu o recado a ela?
— Não, como lhe disse, desde que cheguei ela está no quarto.
— Como então ela recebeu meu recado? — Joseph estranhou. — Pensei que você tivesse tido problema de conversar a sós com ela e tivesse lhe passado um bilhete.
— Não. — Mikey franziu a testa. — Você está me dizendo que Demetria já esteve aqui, que já a viu?
— Sim — Joseph afirmou pensativo. — E você nem imagina o susto que levei. Quando cheguei, ela estava boiando, inconsciente, na fonte. Parece que trombou com um galho, tropeçou e, não se sabe como, acabou caindo na fonte.
Joseph fez um movimento para examinar a fonte e depois a trilha que levava até ela.
Mikey teve uma reação de aborrecimento e disse:
— Lady Lovato é uma idiota. A menina vai acabar morta em um desses acidentes, tudo por causa dessa ridícula teimosia de não permitir que ela use óculos.
— Começo a me perguntar se serão mesmo acidentes — retorquiu Joseph, preocupado.
— O que anda passando por sua cabeça, primo?
— Bem, eu não mandei bilhete algum para ela. E se você também não o fez, quem teria enviado?
— Quando você disse que ela havia estado aqui, pensei que tivesse mudado de ideia e, por mais arriscado que fosse, tivesse enviado o bilhete.
— Não, por que enviaria se já havíamos combinado tudo. Além disso, como ela não consegue ler sem óculos, jamais enviaria um recado por escrito.
— A criada poderia ler.
— Poderia, mas acontece que não mandei.
— Quem mandou então?
— É o que eu gostaria de saber. — Joseph deu alguns passos e foi examinar os galhos das árvores. Nenhum parecia tão baixo a ponto de Demetria bater a cabeça. Só se ela tivesse saído da trilha, mas ela teria percebido porque a barra de seu vestido teria se enroscado nas plantas que margeiam o caminho.
Joseph retrocedeu e voltou a examinar a fonte, lembrando-se do ferimento na testa dela. Como teria sido possível ela tropeçar onde terminava a trilha e ter ido parar dentro da fonte? Mesmo que tivesse ficado tonta e se mantido em pé.
— O que você está procurando? — Mikey perguntou, aproximando-se do primo.
— Demetria disse que bateu com a cabeça em um galho e acha que por isso deve ter perdido o equilíbrio e ido parar na fonte.
Mikey olhou ao redor e depois sacudiu a cabeça.
— Impossível. Não há nenhum galho mais baixo do que ela por aqui.
— Não, não há. Mas sabe-se lá como, ela acabou com a cabeça ferida e boiando na fonte. Se eu não tivesse chegado, ela poderia ter morrido. Aliás, foi o que imaginei quando a vi.
Mikey ficou por um momento em silêncio, com o olhar vagando da fonte para as árvores e das árvores para a fonte.
— Você acredita de fato que alguém a tenha incentivado a vir até aqui com má intenção?
Joseph nada disse. Aquilo tudo lhe pareceu ridículo.
Aparentemente tomando o silêncio do primo como uma confirmação, Mikey insistiu:
— Quem mais, fora eu, sabe sobre vocês?
— Não sei ao certo. Minha mãe e Mary sabem, mas, é claro, que nada têm a ver com isso. Talvez Prudhomme também saiba.
— Prudhomme? — Mikey surpreendeu-se.
Joseph assentiu com a cabeça.
— Acho que ele estava no jardim na noite em que minha mãe deu um jeito de ficarmos sozinhos e em que fizemos o piquenique. Não que o tenha visto, e posso até estar enganado, mas um outro dia ele fez um comentário sarcástico sobre beijar Demetria ao luar.
— Hum. — Mikey fez uma expressão de dúvida. — E a criada?
— A criada de Demetria? — Joseph fez uma pausa para pensar. — Acho que Joan sabe de alguma coisa. Foi ela que veio buscar Demetria porque Taylor estava procurando por ela. Não demonstrou qualquer surpresa ao me ver.
Ambos permaneceram calados por alguns instantes. Então Mikey quebrou o silêncio.
— Também, como você pode ter certeza de que não passou de um acidente como todos os outros?
— Por que não enviei bilhete algum a ela.
— Sim, talvez o bilhete tenha sido um trote mesmo, o resto, porém, pode ter sido um mero acidente.
— Mikey, se não vemos qualquer galho em que ela possa ter trombado... — Joseph argumentou, acrescentando: — Não consigo deixar de pensar nos outros acidentes também. Foram tantos. Ela caiu da escada, tropeçou na frente de uma carruagem...
— Ora, Joseph, agora você está exagerando. Demetria enxerga tão mal que não há nada de surpreendente que tenha caído na escada ou tropeçado na frente de uma carruagem.
— Talvez — Joseph admitiu, relutante. — Preciso falar com ela.
— Acho que agora não dá mais para fazê-la vir até aqui. E também já ficou tarde. Se a madrasta havia mandado a criada procurar por ela, deve estar controlando todo e qualquer movimento de Demetria. É melhor você desistir por hoje e traçar um novo plano para amanhã.
Joseph soltou um grunhido que poderia ser de aquiescência, mas seu olhar se deteve na janela do piso superior da casa. Ele notou quando um dos quartos ficou iluminado pela luz de velas e agora podia ver as silhuetas de duas mulheres. A mais alta ajudava a mais baixa a despir peça por peça. Só poderiam ser Demetria e a criada.
— Você ouviu o que eu disse, Joseph?
Relutante, ele desviou o olhar da janela e fitou o primo.
— O quê?
— Eu disse que vou voltar à festa, me desculpar e ir embora.
— Está bem — Joseph concordou, voltando a olhar para a janela. Mal havia prestado atenção ao que o primo dissera, sua mente estava toda concentrada na cena que se passava naquele quarto.
Continuou a observar até que o quarto escureceu novamente. Então decidiu o que iria fazer. Tinha de dar um jeito de chegar ao quarto de Demetria e aguardar pela volta dela. Queria indagá-la melhor sobre o que havia acontecido aquela noite e sobre os outros acidentes que tivera. Assim, ficaria sabendo se havia ou não motivo para se preocupar.
Satisfeito com seu plano, se aproximou da casa para examinar a árvore que o levaria ao quarto de Demetria. Não teria dificuldade de chegar lá.
— A festa acabou mais cedo do que o esperado.
Demetria deu um leve sorriso à observação de Joan e sacudiu os ombros.
— Pois é, acho que Taylor não deve estar nada contente. Fugi antes das últimas visitas se despedirem para evitar a raiva dela.
Todas as grandes festas duravam até quase a madrugada. Levando isso em consideração, o baile de Taylor não tinha sido um sucesso. A madrasta estava lívida. Ela já era nervosa quando tudo estava bem. Seria impossível chegar perto dela no dia seguinte, refletiu Demetria enquanto Joan desabotoava seu vestido.
— Como está sua cabeça? — Joan perguntou, ajudando-a a livrar-se da roupa.
Demetria fez uma expressão de dor. Por sorte, o galho havia atingido sua cabeça do lado e no alto, ferindo-a sob os cabelos, mas não era preciso ver o ferimento para saber que estava lá. A cabeça tinha doído a maior parte da noite. Tudo o que disse, porém, foi:
— Estará melhor amanhã, espero.
— Pronto! — disse a criada, quando Demetria terminou de colocar a camisola. —Eu lhe trouxe um chocolate quente para ajudá-la a dormir logo.
— Obrigada por tudo, Joan. De coração.
— De nada, milady — disse Joan baixinho, encaminhando-se para a porta. — Durma bem.
Demetria acomodou-se na cama. Joan deixara a vela na mesinha-de-cabeceira para que ela simplesmente assoprasse quando quisesse apagar. Foi o que ela fez, tomando cuidado para não se aproximar muito da chama. A cabeça ainda doía muito e sentia-se tão exausta que nem o delicioso cheiro do chocolate a animou a tomá-lo.
Assim que se deitou, todos os seus pensamentos voltaram-se para Joseph, lamentando que tivessem ficado tão pouco tempo juntos e nem tivessem podido conversar. A vida ganhava colorido quando ele estava por perto, pensou e sorriu, deixando-se embalar no sono.


terça-feira, 28 de novembro de 2017

O Amor é Cego Capitulo III parte 2

— Mas é claro, meu bem. Se Joseph está interessado em você, é com a maior satisfação que farei de tudo para ajudá-lo.
Demetria hesitou por um momento e corou, antes de se atrever a perguntar:
— Apesar do escândalo em que acabei envolvida, milady? Creio que ouviu falar a respeito...
Seguiu-se um longo silêncio. Mais uma vez Demetria desejou que pudesse ver o suficiente para poder controlar a própria expressão.
Tomando-lhe as duas mãos nas suas, lady Mowbray disse, de maneira solene:
— Ouvi falar, sim, minha querida, sobre seu breve casamento com o capitão Fielding. Em minha opinião, porém, você não teve culpa alguma. E, sinceramente, também não me importaria se tivesse. Você é a primeira jovem por quem Joseph mostra interesse nestes dez últimos anos. Ainda que você tivesse matado o arcebispo de Canterbury, eu o ajudaria também.
Cheia de admiração, Demetria estreitou os olhos na tentativa de enxergar melhor essa senhora que defendia com tanto ardor o filho.
— Agora venha, querida. Mary e eu ficaremos conversando aqui enquanto você estiver com Joseph. — Abrindo as portas francesas que davam para fora, passou o braço nas costas de Demetria, incentivando-a a sair do salão.
— Mas e se Taylor...
— Nós tomaremos conta de sua madrasta, não se preocupe. Lady Devereaux me devia um favor e fará o possível para mantê-la ocupada enquanto for necessário. Se não conseguir, eu mesma me incumbirei dela. Pode ir... A menos que você não deseje se encontrar com Joseph?
— Claro que desejo — Demetria respondeu prontamente, ao sentir um certo receio na voz de lady Mowbray.
— Bem, então vá.
Demetria atravessou um corredor ladeado de cortinas e parou hesitante. Não conseguia enxergar muito bem, mas pareceu-lhe haver uma trilha à sua frente. Começou a caminhar insegura quando, dentre as árvores, surgiu uma sombra que se projetou em sua direção.
— Que bom que você veio!
Demetria relaxou assim que ouviu a voz de Joseph. Sabia que ele não permitiria que se sentisse insegura, sozinha na escuridão.
— Então sua mãe deu um jeito de me separar de Taylor.
— Parece que sim — disse ele, sorrindo.
— Fiquei bastante surpresa de ela ter conseguido — Demetria confessou. — E mais ainda de ouvi-la dizer que não se incomoda com o escândalo de que fui vítima.
— Ah, é verdade, o escândalo... — Joseph murmurou. — Você precisa me contar o que aconteceu.
— Você não sabe nada a respeito? Demetria perguntou, preocupada. — Como sua mãe disse que tinha tido conhecimento, pensei que você também soubesse.
— De fato, sei o que me contaram, mas gostaria de ouvir de sua boca.
— Ah, na verdade não há muito a contar. — Demetria suspirou e comentou os detalhes de como fora ludibriada sob a alegação de que sua família precisava de ajuda.
— E esse capitão Fielding se dispôs ele mesmo a se casar com você para ajudá-la a salvar a família — Joseph concluiu em tom cáustico.
— Pois é. Eu pensei que ele estivesse sendo extremamente bondoso até que mais tarde descobri toda a verdade. — A expressão de Demetria era séria. — Não bastasse o escândalo que causou, foi tudo muito cansativo.
— Você achou maçante casar? —— Joseph perguntou, brincando, e Demetria  deu de ombros.
— Bem, nada houve de casamento. Ficamos na frente um ferreiro negro, na presença de um outro casal, dissemos: “aceito” e assunto encerrado.
— E a noite de núpcias? — Joseph chegou ao ponto que desejava, não contendo a tensão na voz.
Demetria fechou o cenho.
— Não houve noite de núpcias. O casamento não poderia ter sido anulado se tivesse havido.
— Quer dizer que ele nem tentou se...?
— Ele foi me procurar, sim, mas havíamos viajado muito e eu estava bastante exausta. — Demetria abaixou a cabeça para esconder o rosto rubro. Sentia-se muito embaraçada com esse tipo de questionamento. — Ele não me forçou a nada. Foi dormir em outro quarto e me deixou sozinha.
A tensão que Joseph sentia da mãozinha pousada em seu braço relaxou. Demetria o olhou indagativa, desejando, como sempre, poder ver a expressão dele.
— Fico feliz em saber — murmurou Joseph, imediatamente acrescentando: — Não que eu fosse culpá-la ou desmerecê-la se o casamento tivesse se consumado. Mas fico muito contente de saber que não se consumou.
Demetria refletiu um pouco e suspirou.
— A cidade toda pensa que sim, não é?
— Acho que é a opinião que prevalece. O fato de seu pai tê-la levado para o campo para evitar o escândalo é compreensível, mas mantê-la afastada por tanto tempo suscitou não só esse boato, como também o de que havia sido gerado um filho, que você estava criando no campo.
Demetria ficou de queixo caído e voltou-se para ele horrorizada:
— É isso o que todos pensam?
— Talvez não devesse ter lhe contado — Joseph ponderou, com evidente arrependimento.
— Não. É melhor saber o que se passa do que ficar na ignorância. O único problema é que não tenho como acabar com o diz-que-diz.
—Acho não que tem jeito mesmo. Talvez a única saída seja aprender a conviver com o falatório e não ligar para o que as pessoas pensam.
— Será que isso é possível? — Demetria perguntou, com ar triste.
— Não sei. Você se importa com o que pensam? Você me pareceu divertir-se tanto ao me contar sobre as atribulações causadas pela falta de óculos que achei que não ligasse para esse tipo de coisa.
— Normalmente não ligo — ela concordou. — Mas só eu sei o que aconteceu e não aconteceu. Sei também do meu caráter. Por isso não aguento quando cochicham atrás dos leques para que eu ouça. Preferia que falassem na minha cara, para que eu pudesse me defender, mas, fora isso, nunca realmente me incomodou o que os outros pensam, com exceção daqueles a quem quero bem.
Joseph apertou a mão que repousava em seu braço e depois fez com que Demetria parasse, dizendo:
— Aqui estamos.
Demetria voltou-se e estreitou os olhos, tentando visualizar melhor a pequena clareira para onde ele a levara. No chão, havia um grande quadrado de diferentes cores e padrões, uma colcha talvez, parecendo haver diferentes itens sobre ela.
— Um piquenique? — ela arriscou, em dúvida.
Joseph riu e a fez sentar-se em um dos cantos da colcha.
— Sim. Lembrei-me que você disse que sua madrasta não a deixa comer e beber em público, em ocasiões como esta, e não quero que passe nem fome e nem sede. Dei então um jeito de remediar a situação. Espero que goste do que eu trouxe.
Demetria já não enxergava direito e, para complicar ainda mais sua visão, ficou com os olhos cheios de lágrimas, percorrendo assim, quase sem ver, o olhar por todos os itens a sua volta.
Imensamente comovida com tanto carinho e consideração, Demetria  ó poderia achar Joseph  o mais doce dos homens.
— E... — Ele mostrou alguma coisa de cor clara, levemente florida. Demetria piscou, confusa. — Seu babador, milady — disse, brincando. — Para evitar qualquer incidente que possa nos denunciar. Faça de conta que sou um de seus criados e use-o. Posso ajeitá-lo para você?
Demetria não podia acreditar em mais aquele gesto atencioso. Entre lágrimas e risos, concluiu que Joseph era mesmo maravilhoso.
— É um babador improvisado — continuou Joseph, colocando um enorme guardanapo em torno do pescoço dela. — Mas foi o que de melhor encontrei para que não haja risco de sujar sua roupa.
— Obrigada — Demetria agradeceu, observando Joseph também se acomodar na colcha. — Está tudo perfeito. E eu estou faminta.
— Vamos comer então — ele propôs satisfeito, dissertando sobre o cardápio. —Temos frango assado, presunto, queijo, pão, geleia e frutas.
O clima entre eles não poderia ser melhor. Comeram, conversaram e riram muito. Demetria tinha a sensação de aquele estar sendo o momento mais feliz de sua vida. Já haviam terminado de comer a algum tempo; ela ria de uma história que Joseph acabara de contar sobre os problemas com um antigo mordomo muito briguento, quando percebeu que ele endireitava e levantava a cabeça para olhar sobre seus ombros.
Ambos pararam de rir e um vulto rosa pálido se aproximou deles. Demetria deu-se conta de que era Mary antes que a jovem dissesse, quase se desculpando:
— Sua mãe pediu-me que viesse lhes dizer que Demetria precisa entrar agora.
Por um momento fez-se silêncio entre eles, rompido então por Joseph.
— Vou levá-la imediatamente. Agradeça a minha mãe, muito obrigado a você também, Mary, pela ajuda desta noite.
— Fico contente que tenham aproveitado. Você tem tido muito pouca distração, primo — Mary comentou, com doçura, deixando-os em seguida.
Demetria voltou-se para Joseph, com pena de que aqueles momentos chegassem ao fim. Ficaram ambos calados. Ele levantou-se e estendeu-lhe a mão para que também se levantasse. Ao chegarem perto da porta onde haviam se encontrado, ela o encarou, séria.
— Obrigada, milorde, adorei o piquenique. Não me divertia tanto desde que... bem, desde a última vez que nos vimos. Sinto-me muito afortunada por ter um amigo como você.
Ela percebeu que Joseph enrijecera o corpo ante suas palavras, mas a reação dele logo ficou clara ao externar seu desapontamento:
— Um amigo, Demetria? É assim que você me vê?
Ela sentiu-se corar e abaixou a cabeça, murmurando:
— Não quis ter a pretensão de achar que seu...
Joseph interrompeu as palavras dela, colocou a mão em seu queixo para levantar-lhe o rosto e, sem que esperasse, cobriu-lhe a boca com a sua.
Demetria ficou imobilizada ao contato dos lábios dele, que deslizaram suaves, mas firmes sobre os dela, em uma carícia gentil e intensa. Ela entreabriu ligeiramente os lábios num suspiro, possibilitando que ele introduzisse a língua em sua boca.
Alarmada, Demetria congelou por um momento diante de tal intrusão, sentindo-se tensa. O movimento da língua de Joseph dentro de sua boca, porém, era tão delicado e tão doce que seu corpo relaxou e seus lábios se entreabriram um pouco mais em total entrega.
Apesar de ter se casado, Demetria nunca havia sido beijada. Ela até achava que beijar era esquisito, isso porque nunca havia experimentado. Sentia agora o prazer e a excitação percorrer-lhe o corpo. Agarrada aos braços dele para manter o equilíbrio, de início ela somente se deixou beijar, correspondendo depois com igual ardor. Joseph soltou um gemido e suas mãos deslizaram pelo corpo de Demetria, pressionando-a contra seu próprio corpo enquanto seus lábios continuavam exigindo beijos cada vez mais profundos.
Demetria passou os braços em torno do pescoço dele, quase estrangulando-o na tentativa de tê-lo ainda mais junto de si. Ela sentiu uma das mãos de Joseph descer por suas costas, apertando-a ainda mais até que ela roçou em uma parte enrijecida do corpo dele, sem que, naquele momento, se desse conta do que era. Então, de repente, ele a soltou e afastou-se.
Demetria o fitou às cegas, consciente de que estava arfando. Levou um minuto para perceber que a respiração de Joseph estava acelerada também.
Com a voz rouca, Joseph finalmente lhe disse:
— É melhor você entrar agora.
Abriu a porta e delicadamente passou a mão na cintura dela para que ela entrasse, tomando cuidado para manter uma certa distância entre ambos; caso contrário, não conseguiria resistir à tentação de abraçá-la outra vez. Prometeu então:
— Logo a verei novamente.
Demetria ouviu a porta ser fechada e soltou um longo suspiro. Fechou os olhos por um minuto e seus lábios se abriram em um doce sorriso.
Logo a verei novamente. Que quatro palavrinhas mais lindas, pensou, e sentiu outras mãos envolvê-la.
— Você se divertiu?
— Claro que sim. Veja só o sorriso dela.
Demetria teve um sobressalto, ao ouvir a voz de lady Mowbray e a resposta de Mary. Ela não havia notado que as duas mulheres estavam próximas da porta quando entrou. Só temia que tivessem testemunhado o beijo que Joseph lhe dera, mas nenhuma das duas teceu qualquer comentário ou a repreendeu por ter aceito o beijo. Havia riso em suas vozes enquanto elas a especulavam, ajeitando-lhe o penteado e alisando pequenas partes enrugadas de seu vestido. Lady Mowbray então acompanhou-a até o salão de baile.
Já estavam próximas ao salão quando a mãe de Joseph se voltou para olhá-la de frente.
— Demetria, minha querida. — Ela hesitou, respirou fundo e pegou a mão de Demetria. — Nunca vi meu filho tão feliz como tem estado nesse curto período em que a conheceu. Quero agradecer a você por isso. Não importa o que venha a acontecer, muito obrigada.
— Ele é um homem muito especial — Demetria murmurou baixinho, corando.
— Pena que nem todos o vejam assim — complementou lady Mowbray, com expressão de tristeza. — Algumas pessoas não aguentam nem passar perto da cicatriz de seu rosto.
— Como minha madrasta — Demetria sugeriu.
— Ela é apenas uma de muitas — lady Mowbray afirmou, dando um pequeno suspiro. — Vamos entrar. Sua madrasta deve estar pisando em ovos a esta altura.
Pegando-a pelo braço, lady Mowbray a conduziu pelo salão de baile.
— Ei-las! — exclamou Taylor, já em pé. — Ficaram duas horas conversando.
Demetria não deixou de notar o tom de raiva subjacente às palavras da madrasta.
— Culpa minha — lady Mowbray disse, sorrindo. — As meninas se deram tão bem que não me doeu o coração interrompê-las.
— Muito bem, fico contente com isso — respondeu Taylor, mas Demetria percebeu que isso não a tranquilizara. Havia algo de errado.
— Agora desejo que em breve vocês venham tomar um chá comigo — convidou lady Mowbray, em tom alegre, não conhecendo Taylor o suficiente para perceber o que se passava em seu íntimo. — Vou convidar Mary também para que as meninas possam continuar a conversa.
— Será ótimo — respondeu Taylor, forçando um sorriso. — Até breve então. — Despediu-se lady Mowbray, com um aceno de cabeça, dando um apertãozinho na mão de Demetria.
Tão logo ficaram sozinhas, Taylor pegou Demetria pelo braço e apressou-a a sair dali.
— Onde estamos indo? — ela perguntou quando cruzavam o salão.
— Para casa — respondeu Taylor, rispidamente. Demetria mordeu o lábio, mas ficou quieta. Ao deixar a residência dos Devereaux, tiveram que aguardar por algum tempo pela carruagem, mas só quando estavam sentadas dentro dela e com a porta fechada Taylor disparou o ataque.
— Você estava vermelha demais quando voltou da visita a Mary. — A voz de Taylor era fria e contida.
Demetria permaneceu por um momento calada, sentindo-se inquieta.
— Estávamos sentadas ao lado da lareira. Lá estava muito quente.
— E seus lábios ainda estão inchados de beijar lorde Mowbray.
— Você viu. — Demetria congelou por dentro.
—Vi — Taylor confirmou furiosa. — Lorde Prudhomme queria falar comigo e fomos dar uma volta nos jardins. Vimos vocês voltando e ficamos observando perto das árvores como você se deixou agarrar por Mowbray como um animal e..
Taylor fez urna pausa repentina como se o assunto a perturbasse demais para continuar. Demetria, porém, mal notou, perturbada pela menção de Prudhomme e da volta no parque, recordando claramente o que testemunhara de tais passeios com outras mulheres.
— Como você permite que um homem a toque — vociferou Taylor. — Você tem um homem bom como lorde Prudhomme disposto a esquecer seu passado escandaloso e escolhe, uma vez mais, arruinar tudo. Desta vez com Mowbray.
— Prudhomme, um bom homem? — Demetria rebateu com espanto, lembrando-se no mesmo instante que não havia comentado nada do que vira com a madrasta.
— Sim, senhora, um bom homem — Taylor enfatizou. — E disposto a esquecer tudo: o escândalo, seus desastres e o beijo que viu.
— Quanta bondade dele, não? — Demetria ironizou. — E, em contrapartida, suponho que terei de esquecer os casos dele?
— O quê? Do que você está falando, menina? — Taylor quis saber, com exagerada curiosidade na voz. Demetria podia garantir que havia até pânico no tom dela. Como queria enxergar direito para poder ver a expressão de seu rosto!
— Estou falando dos casos dele com lady Havard e com lady Achard — respondeu, calmamente. — Na noite em que você me encontrou no jardim da casa dele, eu tinha acabado de vê-lo brincando com as duas senhoras.
— Como? — Taylor perguntou, áspera. — O que quer dizer com isso?
— Quase topei com ele e lady Achard no jardim naquela noite, mas me escondi entre os arbustos e ouvi o que diziam. Parecia que tinham acabado de fazer amor. Ele, jurando fidelidade, amaldiçoou a boa saúde de lorde Achard por impedi-los de assumir seu amor. Depois chegou lady Havard para avisar que lorde Achard estava no baile. Lady Achard saiu imediatamente dali, e Prudhomme passou a clamar seu amor por lady Havard, amaldiçoando da mesma maneira lorde Havard e, pouco depois, desapareceu sob a saia dela.
Seguiu-se um longo silêncio. Embora não pudesse ver expressão de Taylor, Demetria estava certa de que ela empalidecera e estava ainda mais certa de que a madrasta tinha algum tipo de envolvimento com Prudhomme.
— Você está mentindo — Taylor disse trêmula.
— Não estou, não — revidou Demetria com toda a calma e depois acrescentou: — E eu não estava sozinha, não fui a única pessoa a testemunhar tudo que lhe contei.
— Quem mais testemunhou?
Demetria hesitou. Já estava em apuros por causa de Mowbray e achara melhor não mencionar o nome dele antes. Por outro lado, se convencesse Taylor de que ela estava falando a verdade, talvez a madrasta parasse de empurrar Prudhomme para ela.
— Mowbray — disse, finalmente. — Pode perguntar a ele se não acredita em mim.
Demetria não viu a mão da madrasta levantar-se para dar-lhe um tapa, mas a dor que sentiu foi profunda e, com o impacto, sua cabeça foi jogada para o lado.
Erguendo-se ela levou a mão ao rosto e voltou-se lentamente para encarar a madrasta.
— Você não tocará mais nesse assunto — Taylor decretou. — E nunca mais verá Mowbray novamente. Nunca mais.
Demetria manteve-se firme e calada, mas queimava de raiva por dentro pelo acontecido.
A porta da carruagem foi aberta de seu lado. Sem notar, já haviam chegado em casa. Demetria quase tropeçou na saia em sua pressa de desembarcar. O lacaio segurou-a pelo braço para impedir que caísse. Ela murmurou um agradecimento e se afastou rapidamente, seguindo apressada pela trilha em direção à porta da frente.
Foulkes, ou alguém que ela julgou ser Foulkes, abriu a porta ao vê-la se aproximar. Ela subiu rapidamente as escadas, não vendo a hora de estar na privacidade e segurança de seu quarto, mas Taylor a alcançou.
— Demetria — sibilou a madrasta, apertando-lhe o braço no momento em que ia abrir a porta.
Respirando fundo, Demetria virou-se para enfrentá-la, mas desistiu, não desejando suscitar mais raiva nela.
— Nunca mais quero falar sobre esta noite — ela repetiu com firmeza. — E você também nunca mais verá lorde Mowbray de novo. Como pôde permitir que ele a tocasse... — Taylor ainda estava furiosa, com a respiração pesada, e fuzilava-a com os olhos. — Seu pai nunca me perdoaria se eu deixasse que um homem a prejudicasse. E Prudhomme também não será mais bem-vindo a esta casa. Ter a ousadia de cortejá-la enquanto...
A voz da madrasta vacilou. Demetria estava cada vez mais convicta de que ela tinha alguma coisa com Prudhomme. Se não estivessem tendo um caso, ele certamente deveria estar tentando. Era evidente o aborrecimento de Taylor.
Depois de um momento de silêncio, Taylor virou as costas e se dirigiu a seu quarto, batendo a porta.
Demetria soltou um suspiro profundo, sentindo a tensão do corpo aliviar-se, Ao entrar no quarto teve um sobressalto quando um vulto se aproximou para ajudá-la a entrar.
— Desculpe, milady — disse Joan. — não tive a intenção de assustá-la. Fiquei esperando que voltasse para ajudá-la a trocar de roupa.
— Está tudo bem, não se preocupe — Demetria retrucou, fechando a porta do quarto.
Joan começou a ajudá-la a se despir, mas havia algo de tenso nela. Passados alguns minutos, Demetria não se conteve e perguntou:
— O que há com você? Parece que quer me dizer alguma coisa, pois diga.
— Desculpe, milady — Joan murmurou, pondo finalmente para fora o que a incomodava: — Seu vestido está amassado, há uma marca em seu rosto. Parece que levou um bofetão. Seus lábios estão um pouco inchados e ouvi o que lady Lovato disse sobre lorde Mowbray. Está claro que houve alguma coisa entre a senhorita e ele, milady. Dizem que o coração dele tem uma cicatriz tão feia quanto o rosto e ele...
A voz de Joan ficou presa na garganta, e Demetria dirigiu-lhe um olhar de censura.
— Estou apenas preocupada, milady. A senhora é muito meiga e bondosa e ainda um pouco ingênua. Não queria que ele se aproveitasse disso.
Demetria deu-lhe as costas, consumida de raiva. Joseph só tinha demonstrado bondade e consideração para com ela. Fora um ouvinte atento e se apressara em providenciar tudo o que ela desejava e sentia falta. E não tinha tentado uma única vez se aproveitar dela. Demetria considerou por um momento dizer a Joan que isso não era da conta dela, mas Joseph merecia que ela o defendesse. Além disso, desejava ter pelo menos uma pessoa a seu lado, ainda que fosse a criada.
Sentando-se na cadeira da penteadeira para que Joan lhe soltasse e escovasse os cabelos, Demetria pigarreou e contou à criada como haviam sido seus encontros com Joseph, sem omitir qualquer detalhe.
— Ele parece maravilhoso — disse Joan, finalmente. — Não tem nada a ver com as histórias que as pessoas contam sobre ele.
— Ele é maravilhoso — confirmou Demetria, enxugando as lágrimas que insistiam em molhar seus olhos. Era ridículo, mas sentia-se extremamente grata que a criada tivesse uma boa impressão de Joseph.
— Bem — Joan deu seu endosso ao terminar de escovar os cabelos de Demetria —, acho que deve continuar a vê-lo. Se ele marcar um novo encontro, não deixe de ir.
— Mesmo? — perguntou Demetria ansiosa.
— Certamente — confirmou a criada, com firmeza, acrescentando: — Milady, não a tinha visto tão feliz em todo esse tempo em que trabalho aqui. Seus olhos se iluminam quando fala dele e seu sorriso fica ainda mais doce. É óbvio que está apaixonada por este homem.
Demetria piscou surpresa diante dessas palavras e permaneceu em silêncio. Joan puxou as cobertas da cama, ajudou-a a deitar-se e desejou boa-noite, saindo do quarto. As palavras da criada ficaram ecoando em sua mente.
Seria verdade, perguntou-se. Estaria mesmo apaixonada por ele?
Demetria não tinha certeza. Tudo o que sabia é que gostava de Joseph, que vivia entediada quando ele não estava por perto e ganhava vida nova quando ele aparecia. Joseph a fazia rir e gostava de conversar com ele e agora que a tinha beijado... Era só no que pensava, naqueles beijos e quando teria a oportunidade de beijá-lo novamente. Devia mesmo estar apaixonada. E era a sensação mais gostosa do mundo. Não via a hora de vê-lo de novo.
— Seu xale, milady.
Demetria ficou confusa quando Joan apareceu ao seu lado, estendendo-lhe um xale.
— Meu xale?
— Sim, a senhora não disse que estava sentindo frio e me pediu para pegá-lo? — Joan confirmou, abaixando-se para dar um safanão na saia de Demetria. — Acho que não conseguimos limpar todo o ponche derramado em seu vestido na noite do baile de Brudman. Talvez seja melhor trocá-lo.
— Trocá-lo? — perguntou Demetria abaixando-se para examinar a saia. Não que ela fosse enxergar qualquer coisa, mas tinha certeza de que aquele não era o vestido em que derramara o ponche. Aquele era verde.
— Vá logo, Demetria — disse Taylor irritada. — Leve-a para cima para se trocar, Joan. Ela não pode usar um vestido manchado em meu primeiro baile como anfitriã. Espero que ninguém tenha notado.
— Ninguém notou, milady — disse Joan, puxando Demetria que se levantou.
— Mas... — ela começou a dizer quando deixavam o salão de baile e foi calada por Joan. A criada não a deixou falar até chegarem ao hall.
— Joan, que história é essa? Este não é o vestido em que derrubei o ponche.
— Eu sei, milady, mas lady Lovato tem péssima memória e eu precisava tirá-la de lá.
— Por quê?
— Porque há um menino na porta com um bilhete para a senhora e se recusa a entregá-lo a outra pessoa.
— Nossa, o que será?
— Não sei, milady, mas foi uma sorte eu estar passando pela porta quando ia subir ao quarto, caso contrário Foulkes a teria aberto e sua madrasta ficaria sabendo.
Demetria ergueu as sobrancelhas. Foulkes era mesmo muito certinho e, sem dúvida, contaria a Taylor. Se por sorte fosse um recado de Joseph, nunca ficaria sabendo o conteúdo porque a madrasta pegaria o papel e o queimaria na frente dela.
— Será que é de Joseph? — Demetria perguntou a Joan, esperançosa. Não o via há uma semana, desde a noite do baile dos Devereaux, e já sentia falta dele.
— Não sei, milady, mas se for, deve avisá-lo para não enviar recados desse jeito. Diga-lhe que nas próximas vezes o menino procure por mim. Se o recado que o pobre garoto trouxer for para mim, não haverá suspeita alguma. Posso alegar que ele é meu irmão caçula.
Demetria correu a abrir a porta. Na varanda, um menino estava a sua espera.
— Esta é lady Demetria — disse Joan. — Pode entregar o bilhete agora.
O menino examinou Demetria. Tinha olhos enormes e o rosto muito sujo. Ele puxou o bilhete de dentro da camisa e o entregou.
— Me disseram.que eu ia ganhá uma moeda pelo trabaio.
— Ah! — Demetria voltou-se atrapalhada para Joan. — Minha bolsinha de moedas está em meu quarto.
— Pegue aqui. — Joan sacou uma pequena carteira das dobras de sua saia e deu uma moeda ao menino. — Pode ir agora.
Neste instante, Foulkes apareceu e se encaminhou na direção delas. Tirando o bilhete da mão de Demetria, a criada o manteve consigo, falando alto enquanto subiam a escada:
— Venha, é melhor tratar de mudar de roupa logo, milady.
Demetria esperou até estarem no quarto para abrir o bilhete. Como não conseguiria ler, pediu a Joan que o fizesse.
— Só está escrito encontre-me na fonte e assinado J.A.J.
— J.A.J.? É de Joseph — Demetria exultou. — Bem... Não vou me trocar?
Demetria estranhou que a criada começasse a empurrá-la para a porta.
— Depois — Joan disse em tom firme. — Se eu trocar sua roupa agora e Joseph amassar seu vestido como da última vez, vou ter de trocá-la de novo.
— Você tem razão — Demetria concordou, corando ao lembrar como o vestido ficara amassado. Talvez ele a beijasse novamente, imaginou, sentindo um friozinho na barriga à mera ideia de que acontecesse.
Joan levou-a para o andar de baixo pela escada de serviço. Verificou se o corredor estava livre e a fez sair pela porta da sala de jantar, o lugar mais adequado para evitar os visitantes e a criadagem. 
Parando à porta, voltou-se para ela:
— Acha que daqui consegue ir sozinha?


demorei muito? NAO RESPONDAM
podem curtir mais uma parte
bjemi