segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Traiçao Capitulo 3

Dois dias depois, Demi se encontrava sentada em uma cadeira de rodas. O nervosismo a fazendo fechar os dedos com força em torno do cobertor com que a enfermeira lhe cobrira o colo. Joseph estava parado a seu lado, escutando com atenção as instruções que a enfermeira lhe dava sobre os cuidados adicionais. Demi alisou as rugas da blusa de gestante que uma das enfermeiras lhe dera com tanta gentileza. Todas haviam sido extremamente carinhosas, e Demi temia deixar para trás todo aquele afeto para mergulhar no desconhecido.
Quando a enfermeira concluiu, Joseph segurou as alças de impulso da cadeira de rodas e começou a guiá-la pelo corredor na direção da saída. Ela piscou várias vezes quando a luz radiante do sol lhe ofuscou a visão. Uma limusine brilhante se encontrava estacionada a alguns metros de distância, e Joseph se encaminhou com passos decididos na direção do veículo.
O motorista o contornou para abrir a porta no momento em que Joseph, sem fazer o menor esforço, a ergueu da cadeira de rodas e se apressou em acomodá-la no interior aquecido do carro. Em questão de segundos, estavam se afastando do hospital.
Demi olhou para fora enquanto seguiam o fluxo intenso das ruas de Nova York. A cidade em si lhe era familiar. Conseguia se lembrar de determinadas lojas e marcos. Tinha conhecimento da cidade, mas o que estava faltando era a sensação de que ali era sua casa, de que pertencia àquele lugar. Joseph  não havia dito que viviam ali? Sentia-se como uma artista diante de uma tela em branco, sem habilidade para pintar.
Quando a limusine estacionou diante de um prédio moderno e luxuoso, Joseph saiu apressado enquanto o porteiro abria a porta do lado onde Demi  estava sentada. Joseph se inclinou para dentro do carro e a retirou com cuidado do veículo. Ela pisou na calçada com os pés trêmulos e logo se viu recostada ao corpo forte, com um braço firme em torno de sua cintura, enquanto os dois transpunham a entrada.
Uma onda de déjà vu a engolfou quando as portas do elevador se abriram e ele a ajudou a entrar. Por alguns breves momentos, experimentou um lampejo de memória, e Demi lutou para apartar os véus da escuridão.
– O que foi? – perguntou Joseph.
– Já fiz isso antes – murmurou ela.
– Você se lembra?
Demi respondeu com um gesto negativo de cabeça.
– Não. Apenas me parece… familiar. Sei que já estive aqui.
Os dedos longos se fecharam com força em torno do braço delicado.
– É aqui que vivemos… durante vários meses. É natural que seja capaz de registrar alguma coisa. – As portas do elevador voltaram a se abrir, e Demi inclinou a cabeça para o lado enquanto ele seguia em frente. O fraseado de Joseph era estranho. Não viviam ali antes do que quer que tivesse acontecido com ela? Ele lhe estendeu a mão. – Venha. Estamos em casa.
Demi aceitou a mão estendida, e ele a puxou para o saguão suntuoso. Para sua surpresa, uma mulher veio ao encontro deles quando os dois adentraram à sala de visitas. Ela hesitou quando a jovem alta e loira pousou uma das mãos no braço de Joseph e sorriu.
– Seja bem-vindo, Sr.  Jonas. Deixei todos os contratos que necessitam de sua assinatura sobre a mesa do escritório e organizei suas ligações por ordem de prioridade. Também tomei a liberdade de pedir o jantar. – A mulher varreu Demi com um olhar que a fez se sentir obscura e insignificante. – Imaginei que não estaria disposto a sair depois desses dias difíceis.
– Demi franziu a testa ao perceber que a mulher insinuava que fora Joseph a enfrentar um calvário e não ela.
– Obrigado, Taylor – agradeceu ele. – Não deveria ter se dado ao trabalho. – Em seguida, girou na direção de Demi e a puxou para perto. – Esta é Taylor Chambers, minha assistente.
Demi esboçou um sorriso trêmulo.
– É um prazer revê-la, Srta. Lovato – disse Taylor com suavidade. – Há eras não a vejo.
Meses, creio eu.
– Taylor – interveio Joseph em um tom de advertência. O sorriso nunca abandonou os lábios da loira enquanto dirigia um olhar inocente ao patrão.
Demi alternou o olhar entre os dois, cautelosa. A confusão em sua mente se agravando cada vez mais. A intimidade com que a mulher se movia pelo apartamento que Joseph  afirmava ser o lar de ambos era evidente. E ainda assim, Taylor não a encontrava havia meses? O olhar possessivo com que a assistente o fitava foi a única coisa que ficou clara para Demi.
– Vou deixá-los a sós – disse Taylor com um sorriso gracioso. – Tenho certeza de que têm muito a conversar. – Ela virou-se para Joseph e mais uma vez pousou uma das mãos delicadas sobre seu braço. – Telefone-me se precisar de qualquer coisa. Virei no mesmo instante.
– Obrigado – murmurou ele.
A loira alta se afastou com os saltos dos sapatos elegantes ecoando contra o lustroso chão de mármore italiano e entrou no elevador, sorrindo para o patrão enquanto as portas se fechavam.
Demi umedeceu os lábios repentinamente ressecados e desviou o olhar. Joseph parecia tenso a seu lado como se esperasse alguma reação de sua parte. Mas ela não era tola o suficiente para fazê-lo. Não quando ele se encontrava com a guarda tão erguida. Mais tarde, lhe faria o milhão de perguntas que pairavam em sua mente cansada.
– Venha, deveria estar deitada na cama – disse Joseph enquanto lhe envolvia as costas com um dos braços.
– Fiquei deitada tempo suficiente –retrucou ela em tom de voz firme.
– Então, deveria ao menos se acomodar confortavelmente no sofá. Eu lhe trarei uma refeição para que se alimente.
Comer. Descansar. Comer um pouco mais. Aquelas ordens pareciam compor o único objetivo de Joseph  no que se referia a ela. Demi suspirou e permitiu que ele a guiasse até a sala de estar. Após acomodá-la no sofá, Joseph trouxe uma manta para cobri-la.
Havia uma tensão nele que a deixava confusa, mas, se os papéis fossem invertidos e tivesse sido ele a esquecê-la, Demi  também não se sentira muito segura. Joseph deixou a sala e, alguns minutos depois, retornou com uma bandeja que pousou na mesa de centro em frente a ela. Um vapor aromático se desprendia da tigela de sopa, mas Demi não se sentiu tentada com a oferta. Encontrava-se muito agitada para comer.
Joseph se sentou em uma cadeira diagonal ao sofá, mas, após alguns instantes, se ergueu e caminhou pela sala como um predador impaciente. Os dedos puxando o nó da gravata para afrouxá-lo e, em seguida, desabotoando os punhos da camisa de seda.
– Sua assistente… Taylor… disse que deixou trabalho para você?
Joseph virou-se para encará-la. As sobrancelhas se enrugando quando franziu a testa.
– O trabalho pode esperar.
Demi suspirou.
– Pretende me observar tirar um cochilo, então? Ficarei bem. Não pode tomar conta de mim o tempo todo. Se há assuntos que requerem sua atenção, então vá resolvê-los.
Um lampejo de indecisão cruzou o belo rosto másculo.
– De fato tenho coisas a fazer antes de deixarmos Nova York.
Uma onda de pânico a pegou desprevenida, fazendo-a engolir em seco e se esforçar para se manter inexpressiva.
– Então, partiremos em breve?
Joseph anuiu.
– Pensei em lhe proporcionar alguns dias de descanso para que se recupere melhor antes de partirmos. Providenciei para que meu jato particular nos leve até a Grécia e depois pegaremos um helicóptero para a ilha. Enquanto conversamos, meus empregados estão preparando tudo para nossa chegada.
Demi o encarou receosa.
– Qual é a extensão de sua fortuna?
Joseph pareceu surpreso.
– Minha família é proprietária de uma cadeia de hotéis.
O nome Jonas flutuou nas escassas lembranças de Demi. Imagens de um hotel suntuoso, no coração da cidade, lhe vieram à mente. Celebridades, realezas, algumas das pessoas mais ricas do mundo se hospedavam no Imperial Park. Mas ele não poderia ser aquele Jonas, certo?
Empalidecendo, ela fechou os dedos para controlar o tremor. Eles eram apenas a mais rica família hoteleira do mundo.
– Como… como foi possível que nós dois… – Demi se viu incapaz de completar o pensamento. Em seguida, franziu a testa. Pertenceria a uma família como aquela?
A fadiga a venceu, fazendo-a enterrar os dedos nas laterais das têmporas enquanto lutava contra o cansaço. No instante seguinte, Joseph estava ao seu lado. Ele a ergueu no colo como se carregasse uma pena e a levou para o quarto. Com todo o cuidado, deitou-a na cama, os olhos âmbar deixando transparecer o brilho da preocupação.
– Descanse agora, pedhaki mou.
Demi anuiu e se aninhou sobre a cama confortável, com os olhos já semicerrados pela exaustão. Pensar doía. Tentar lembrar lhe sequestrava todas as forças.
Joseph se deixou afundar em sua cadeira e passou uma das mãos pelo cabelo. Em seguida, ergueu a lista de mensagens telefônicas. Os olhos faiscaram quando se deparou com a de um de seus irmãos, Kevin. Também havia outra de seu outro irmão, Nick.
Remexeu-se, desconfortável, na cadeira. Sabia que não conseguiria evitar os irmãos por muito tempo. Eles deviam ter recebido suas mensagens e certamente estariam curiosos. Não sabia como poderia explicar aquela confusão para os dois e justificar o fato de estar levando a mulher que tentara arruinar os negócios da família para sua casa na Grécia.
Com expressão desgostosa, ergueu o fone e discou o número de Kevin.
Joseph falou rápido em grego quando o irmão atendeu.
– Como foi a cerimônia de inauguração?
– Joseph, finalmente – retrucou Kevin em tom de voz seco. – Estava imaginando se teria de voar até aí para obter respostas suas.
Joseph suspirou e respondeu com um grunhido.
– Aguarde enquanto coloco Nick na chamada. Isso lhe poupará outro telefonema. Sei que ele está tão interessado quanto eu em sua explicação.
– E desde quando devo explicações a meus irmãos mais novos? – Joseph rosnou.
Kevin soltou uma risada abafada e no instante seguinte Nick soou do outro lado da linha, sem medir palavras.
– Joseph, que diabo está acontecendo? Recebi sua mensagem e, a julgar pelo fato de que não apareceu em Londres, só posso presumir que tenha tido algum problema sério em Nova York.
Joseph beliscou o nariz e fechou os olhos.
– Ao que parece, vocês serão tios.
Um profundo silêncio se seguiu ao comentário.
– Tem certeza de que é seu? – perguntou Kevin por fim.
As feições de Joseph se contraíram.
– Ela está com cinco meses de gravidez, e cinco meses atrás eu era o único homem na cama de Demi. Disso tenho certeza.
– Da mesma forma que sabia que ela estava tentando nos roubar? – Nick retrucou.
– Cale a boca – interveio Kevin. – A pergunta mais importante é: o que fará? Obviamente ela não merece confiança. O que essa mulher tem a dizer em defesa própria?
A dor na cabeça de Joseph latejou com mais intensidade.
– Há uma complicação – resmungou. – Ela não se lembra de nada.
Os dois irmãos resfolegaram incrédulos.
– Que conveniente, não acha? – perguntou Nick.
– Essa mulher o está manipulando por meio do sexo – disse Kevin contrariado.
– Também achei difícil de acreditar – admitiu Joseph. – Mas eu a vi. Ela está aqui… em nosso… em meu apartamento. A amnésia dela é real. – Não havia a menor possibilidade de Demi estar fingindo tal vulnerabilidade, confusão e dor que lhe embotavam os olhos antes vivazes. A certeza da dor que ela sentia o incomodava, embora não devesse. Demi merecia sofrer da mesma forma que fizera com ele.
Nick deixou escapar um som grosseiro.
– O que pretende fazer? – Kevin perguntou.
Joseph  se preparou para as objeções dos irmãos.
– Voaremos para a ilha tão logo ela se sinta melhor. É um lugar mais adequado à recuperação de Demi, e fica longe dos olhos do público.
– Não pode instalá-la em algum lugar até que o bebê nasça e depois se livrar dela? – Nick questionou. – Perdemos dois negócios de milhões de dólares por causa dessa mulher, e agora nossos projetistas estão assinando em nome da empresa de nosso concorrente.
O que o irmão não disse, mas Joseph ouviu em alto e bom som como se Nick tivesse falado, era que perderam aqueles negócios porque ele ficara cego pela mulher com quem dormia. A culpa fora tanto dele quanto de Demi. Falhara com os irmãos da pior forma possível, arriscando o que eles levaram anos de trabalho para conseguir.
– Não posso abandoná-la neste momento. – Joseph retrucou cauteloso. – Ela não tem família. Ninguém que possa cuidar dela. Está grávida de um filho meu e por isso farei o que for necessário para garantir a saúde e a segurança do bebê. O médico acha que essa amnésia é apenas temporária, um mecanismo psíquico para lidar com o trauma pelo qual ela passou.
– O que as autoridades têm a dizer sobre o sequestro dela? – Nick perguntou. – Já sabe o motivo ou quem foi o responsável?
– Tive uma conversa breve com eles no hospital e tenho uma reunião com o detetive encarregado da investigação amanhã. – Joseph respondeu em tom de voz tenso. – Espero saber mais alguma coisa então. Também contarei a eles meus planos de levá-la para fora do país. Tenho de pensar na segurança dela e do bebê.
– Vejo que já está decidido quanto a isso – disse Kevin calmamente.
– Sim.
Nick deixou escapar um som como se fosse protestar, mas se calou quando a voz de Kevin se fez ouvir mais uma vez.
– Faça o que tiver de fazer, Joseph. Nick e eu podemos cuidar das coisas. E, apesar de tudo, parabéns por se tornar pai.
– Obrigado – murmurou Joseph enquanto pressionava o botão para interromper a ligação e pousou o fone.
Em vez de fazê-lo se sentir melhor sobre a situação em que se encontrava, a discussão com os irmãos apenas reforçara o quanto tudo aquilo era absurdo. Não duvidava de que Demi não se lembrasse dele ou do fato de que o roubara. Aquela amnésia não poderia ser forçada. O que o deixava com uma única escolha, a mesma que fizera no instante em que soubera que Demi estava esperando um filho seu. Ele a manteria a seu lado, cuidaria dela, garantira que Demi tivesse os melhores cuidados possíveis. Contrataria alguém para ficar com ela quando tivesse de se ausentar e lhe fornecer os mínimos detalhes sobre os cuidados de Demi. Dessa forma, poderia mantê-la a um braço de distância e, ao mesmo tempo, observar seu progresso.
E, por ora, deixaria de lado toda a raiva pela traição que ela lhe fizera.


é isso por hoje bjemi

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Traição Capitulo 2

Três meses depois
Joseph se encontrava em seu apartamento, refletindo em silêncio. Deveria estar sentido alguma paz de espírito agora que nada ameaçava sua empresa. Porém, o fato de saber por que não lhe trazia nenhum consolo. Observou a pilha de documentos à sua frente enquanto o noticiário na televisão zumbia ao fundo.
Aquela parada em Nova York seria curta. No dia seguinte, viajaria para Londres para se encontrar com o irmão, Kevin, para a cerimônia de inauguração do luxuoso hotel que construíram. O que não teria sido possível se Demi tivesse levado a cabo seu plano. Um resfôlego sarcástico lhe escapou da garganta. Ele, o CEO da Jonas International, fora manipulado e roubado por uma mulher.
Por causa dela, ele e os irmãos haviam perdido dois de seus projetistas para o concorrente mais próximo, antes de ele descobrir a traição. Poderia tê-la entregado à polícia, mas ficara demasiado perplexo, muito vulnerável para fazer tal coisa.
Nem ao menos retirara os pertences de Demi do apartamento. Presumira que ela viria recolhê-los e talvez uma pequena parte dele desejasse aquilo para ter a chance de confrontá-la mais uma vez e questioná-la sobre o motivo. Em sua próxima viagem de volta, faria isso.
Estava na hora de varrê-la por completo de sua mente.
Quando ouviu o nome familiar em meio ao turbilhão de pensamentos, pensou que o havia conjurado de suas reflexões sombrias, mas, quando escutou o nome Demi Lovato outra vez, focou a atenção na televisão.
Um repórter se encontrava em frente a um hospital local, e levou alguns instantes para que o zumbido nos ouvidos de Joseph lhe permitisse compreender o que estava sendo dito. As imagens mudavam enquanto exibiam fotos tiradas mais cedo de uma mulher sendo retirada de um prédio de apartamentos em uma maca. Ele se inclinou para a frente, com expressão incrédula. Era Demi.
Joseph se ergueu como uma flecha da mesa e tateou pelo controle remoto para aumentar o volume. Encontrava-se tão perturbado que só conseguiu compreender algumas palavras, mas foram suficientes.
Demi havia sido raptada e agora fora resgatada. Os detalhes de quem cometera o crime e o motivo ainda estavam incompletos, mas ela suportara um longo período em cativeiro.
Joseph sentiu a tensão crescer na expectativa de que seu nome fosse ligado ao dela, mas por que seria? O relacionamento entre os dois fora um segredo bem guardado, algo necessário em seu mundo. Seu anseio por privacidade nascera tanto da vontade própria quanto da necessidade. Após a traição de Demi, sentiu-se ainda mais aliviado pela circunspeção que mantinha em todos os seus relacionamentos. Ela o fizera de bobo, e o pensamento de que o resto do mundo ignorava aquilo o confortava.
À medida que a câmera se aproximava do rosto pálido e assustado da mulher sequestrada, algo se agitou dolorosamente dentro dele. Demi tinha a mesma expressão da noite em que a confrontara sobre a farsa. Lívida, chocada e vulnerável.
No entanto o que o repórter disse a seguir o fez congelar, mesmo enquanto uma sensação incômoda lhe percorria e espinha. O homem dizia que a mãe e o bebê estavam em condições estáveis e que o aparente cativeiro de Demi  não lhe afetara a gravidez. A única pista que o repórter deixou escapar foi que a mulher parecia estar com quatro ou cinco meses de gestação.
Os demais detalhes estavam incompletos. Nenhuma prisão fora feita, já que os sequestradores haviam escapado.
– Theos mou – murmurou ele enquanto lutava para se agarrar às implicações daquela revelação.
Joseph se ergueu e pegou o celular enquanto saía do apartamento. Quando transpôs a entrada do prédio alto, de segurança reforçada, o motorista havia acabado de estacionar em frente à calçada.
Uma vez dentro do carro, abriu o celular outra vez e ligou para o hospital para onde Demi havia sido levada.
– As condições físicas dela são satisfatórias – o médico informou a Joseph. – No entanto, é seu estado emocional que me preocupa. – Ele se sentia quase explodir enquanto esperava para que o médico concluísse seu relatório. Havia irrompido pelo hospital, exigindo respostas tão logo chegou ao andar em que Demi  fora acolhida. Apenas a declaração de que era o noivo da paciente o fizera lograr algum êxito. Em seguida, providenciara para que ela fosse transferida imediatamente para um quarto particular e insistira que chamassem um especialista para examiná-la. Agora, tinha de suportar todo o relato médico da condição em que ela se encontrava.
– Mas ela não foi ferida – argumentou Joseph.
– Eu não disse isso – resmungou o médico. – Falei apenas que as condições físicas dela não são graves.
– Então, pare de fazer rodeios e diga-me logo o preciso saber.
O médico o estudou por um instante, antes de pousar a prancheta sobre a mesa.
– A Srta. Lovato passou por um grande trauma. Não sei exatamente a extensão, porque ela não consegue se lembrar de nada sobre seu cativeiro.
– O quê? – Joseph encarou o médico com uma incredulidade perplexa.
– Pior, ela não se lembra de nada antes disso também. Sabe o próprio nome e pouco mais.
Até mesmo a gravidez a chocou.
Joseph passou uma das mãos pelos cabelos e xingou em três idiomas diferentes.
– Ela não se lembra de nada? Nada mesmo?
O médico respondeu com um movimento negativo de cabeça.
– Temo que não. Ela está extremamente vulnerável. Frágil. Por isso é muito importante que não a aborreça. A Srta. Lovato tem mais quatro meses de gestação pela frente e um calvário do qual se recuperar.
Joseph deixou escapar um som impaciente.
– Claro que não faria nada para aborrecê-la. Apenas acho difícil acreditar que ela não se lembre de nada.
O médico fez um movimento negativo com a cabeça.
– Obviamente a experiência foi muito traumática para ela. Suspeito de que seja uma forma que a mente encontrou de poupá-la. É apenas um apagão até que ela possa lidar melhor com tudo que aconteceu.
– Eles… – Joseph se via incapaz de completar a pergunta, mas ainda assim tinha de saber. – Eles a machucaram?
A expressão do médico se suavizou.
– Não encontrei nenhuma evidência de maus-tratos de nenhuma forma. Fisicamente falando.
Não há como saber tudo que ela suportou até que esteja apta a nos contar. Devemos ser pacientes e não pressioná-la, antes que ela esteja preparada. Como disse, a Srta. Lovato está extremamente fragilizada e, se sofrer qualquer tipo de pressão, os resultados podem ser devastadores.
Joseph deixou escapar um xingamento baixo.
– Entendo. Eu me incumbirei de que ela tenha o melhor tratamento possível. Agora, posso vê-la?
O médico hesitou.
– Pode, mas devo aconselhá-lo a não ser muito explícito quanto aos detalhes do sequestro.
Linhas profundas marcavam a testa de Joseph, que encarava o médico com olhar sombrio.
– Quer que eu minta para ela?
– Quero apenas que não a deixe nervosa. Pode inteirá-la dos detalhes da vida que ela levava. Das atividades do dia a dia. Como se conheceram. As coisas cotidianas. No entanto, sugiro, e confirmei isso com o psiquiatra do hospital, que não se apresse em lhe dar detalhes sobre o sequestro ou de como ela acabou perdendo a memória. Na verdade, nós a conhecemos muito pouco, portanto seria imprudente especular ou lhe fornecer informações que podem não ser verdadeiras. Ela deve permanecer calma. Não quero nem pensar o que outro aborrecimento poderia causar à Srta. Lovato no estado em quem se encontra.
Joseph assentiu, relutante. O que o médico dizia fazia sentido, mas a necessidade de saber o que acontecera a Demi era premente. Porém, não a pressionaria se aquilo causa se algum mal a ela ou ao bebê. Verificou a hora no relógio de pulso. Ainda precisava falar com as autoridades, mas primeiro queria vê-la, e disse isso ao médico.
Demi lutava sob as camadas de névoa que a rodeavam e murmurou um fraco protesto quando abriu os olhos. Não procurava a consciência. O cobertor escuro que o esquecimento lhe oferecia era tudo de que necessitava.
Não havia nada para ela no despertar. Sua vida era como um buraco negro. Apenas o próprio nome atravessara as camadas desordenadas de mente. Demi.
Procurou por mais alguma coisa. Precisava de respostas para as perguntas que a oprimiam a cada vez que acordava. O passado se estendia como uma paisagem árida diante dela. As respostas pendiam além de sua consciência, tentando-a, mas escapando antes que pudesse alcançá-las.
Demi virou a cabeça sobre o travesseiro fino, determinada a escorregar de volta para o vácuo do sono, quando sentiu uma mão firme segurar a dela. Um arrepio de medo lhe percorreu a espinha até se lembrar de que estava segura em um hospital. Ainda assim, soltou a mão e não pôde evitar a respiração acelerada.
– Não pode voltar a dormir, pedhaki mou. Ainda não.
A voz daquele homem se alastrou por sua pele, deixando um rastro de calor em seu encalço.
Cautelosa, ela girou o rosto na direção do estranho. Quem era ele? Será que o conhecia?
Quem a conhecia? Seria ele o pai da criança que se encontrava aninhada em seu ventre?
Em um gesto automático, Demi levou a mão ao ventre abaulado enquanto o olhar focava o homem que falara com ela.
Era uma presença dominante. Alto, ágil, perigosamente atento enquanto os olhos âmbar a observavam. Não era americano. Quase deixou escapar uma gargalhada diante dos pensamentos absurdos. Deveria estar exigindo saber quem ele era e por que estava ali e tudo que conseguia concluir era que o homem não era americano?
– Nosso bebê está bem – disse ele quando baixou o olhar à mão protetora que ela pousara sobre o abdômen.
Demi não pôde evitar a tensão ao perceber que aquele homem de fato alegava ser o pai.
Não deveria reconhecê-lo? Tentou encontrar algo, algum lampejo de reconhecimento, mas medo e inquietação foi tudo que encontrou.
– Quem é você? – conseguiu perguntar por fim em um sussurro.
Algo faiscou naqueles olhos âmbar, mas ele manteve a expressão neutra. Estaria magoado por ela revelar que não o conhecia? Tentou se colocar na posição daquele estranho. Imaginar como se sentiria se o pai de seu bebê de repente não lembrasse mais dela.
Joseph puxou uma cadeira para o lado da cama e se sentou. Em seguida, esticou o braço e segurou sua mão. Dessa vez, apesar do instinto a estimular a fazê-lo, ela não se retraiu.
– Sou Joseph Jonas. Seu noivo.
Demi lhe procurou o rosto tentando reconhecer a veracidade daquelas palavras, mas ele a encarava com semblante calmo, sem nenhum sinal de emoção.
– Sinto muito – disse ela, engolindo em seco quando a voz falhou. – Não me lembro…
– Eu sei. Conversei com o médico. O que você lembra não é importante no momento. É primordial que descanse e se recupere para que eu possa levá-la para casa.
Demi umedeceu os lábios, o pânico ameaçando dominá-la.
– Casa?
Joseph anuiu.
– Sim, casa.
– Onde fica? – Detestava perguntar. Odiava o fato de estar deitada ali, conversando com um completo estranho. Mas, ao que parecia, ele não o era. Aquele homem era alguém de quem fora íntima. Por quem era obviamente apaixonada. Estavam noivos e ela carregava um filho dele. Aquilo não devia mexer com algo dentro dela?
– Está se esforçando muito, pedhaki mou – disse ele com voz suave. – Posso ver pelo seu semblante. Não deve apressar as coisas. O médico disse que tudo voltará no tempo certo.
Demi lhe apertou a mão e, em seguida, baixou o olhar aos dedos unidos aos dele.
– Será? E se isso não acontecer? – Uma onda de medo a invadiu, apertando-lhe o peito, estreitando sua garganta e a fazendo lutar para respirar.
Joseph esticou a outra mão e lhe tocou o rosto.
– Acalme-se, Demi. Seu nervosismo não faz bem nem a você nem à criança.
Ouvir seu nome naqueles lábios a fez experimentar sensações estranhas. Era como se ele falasse de uma estranha, embora Demi  se recordasse do próprio nome. Mas temera que, na confusão da perda de memória, tivesse entendido mal e que com tudo mais o nome também fosse um pedaço esquecido de sua vida.
– Pode me contar alguma coisa sobre mim? Qualquer coisa?
Estava quase a ponto de suplicar. Lágrimas lhe faziam a garganta se estreitar e os olhos arderem.
– Haverá muito tempo para conversarmos mais tarde. – Joseph retrucou com ternura. –
Estou tomando as providências para levá-la para casa.
Era a segunda vez que ele mencionava a casa, embora ainda não tivesse mencionado onde ficava localizada.
– Onde fica nossa casa? – Demi insistiu.
Os lábios de Joseph se estreitaram por um momento, e, em seguida, a expressão daquele belo rosto relaxou.
– Nossa casa fica aqui na cidade. Os negócios me obrigam a me ausentar com frequência, mas moramos juntos em um apartamento. Planejo levá-la para minha ilha tão logo possa viajar.
Demi franziu a testa enquanto tentava compreender a estranheza daquela declaração.
Parecia tão… impessoal. Não havia emoção, nenhum sinal de felicidade, apenas a estéril citação de um fato.
Como se sentisse que ela estava a ponto de lhe fazer mais perguntas, ele se inclinou para pressionar os lábios à testa de Demi .
–Descanse, pedhaki mou. Tenho providências a tomar. O médico disse que você poderá ter alta dentro de alguns dias se tudo correr bem.
Exausta, Demi fechou os olhos e concordou. Ele permaneceu lá por mais uns instantes e, em seguida, ouviu os passos dele se afastando. Quando a porta do quarto se fechou, ela voltou a abrir os olhos, apenas para sentir a trilha úmida das lágrimas que lhe escorriam pelo rosto.
Era um alívio saber que não estava só. No entanto, de alguma forma, a presença de Joseph Jonas não a tranquilizara. Sentia-se mais apreensiva do que nunca e não sabia dizer por quê. Puxou o lençol fino para cobrir ainda mais o corpo e fechou os olhos, desejando que o entorpecimento pacífico do sono a possuísse mais uma vez.
Quando acordou outra vez, uma enfermeira se encontrava parada ao lado da cama, aferindo lhe a pressão arterial.
– Oh, Deus, você está acordada – disse ela em tom alegre enquanto removia a braçadeira. –
Trouxe uma bandeja com seu jantar. Está com fome?
Demi negou com a cabeça. Só de pensar em comer se sentia levemente nauseada.
– Deixe a bandeja aqui. Eu farei com que ela se alimente.
Demi ergueu o olhar surpreso para se deparar com Joseph assomando atrás da enfermeira, com uma expressão determinada estampada no rosto. A mulher girou e lhe sorriu.
Em seguida deu algumas palmadas leves no braço de Demi.
– É muito sortuda por ter um noivo tão dedicado – disse ela antes de partir.
– Sim, sortuda – murmurou Demi, imaginando por que sentia uma ânsia repentina de chorar.
Quando a porta se fechou, Joseph puxou uma cadeira para perto da cama outra vez. Em seguida, pousou a bandeja diante dela.
– Deveria comer.
Demi o fitou nervosa.
– Não estou com muita fome.
– Sente-se incomodada com minha presença? – perguntou ele enquanto lhe percorria a forma abaulada do corpo com o olhar.
– Eu… – Demi abriu a boca para negar, mas descobriu-se incapaz. Como dizer àquele homem que o achava intimidador? Ali estava alguém a quem supostamente deveria amar.
Fizera amor com aquele homem. O simples pensamento fez um rubor lhe corar as maçãs do rosto.
– Em que está pensando? – Os dedos longos lhe encontraram a mão e a acariciaram distraidamente.
Demi desviou o rosto, esperando encontrar alívio longe do escrutínio daquele homem.
– Na… nada.
– Você está assustada. Isso é compreensível.
Demi voltou a girar o rosto para encará-lo.
– Não fica aborrecido por eu sentir medo de você? Na verdade, estou aterrorizada. Não me recordo de você e de nada mais de minha vida. Estou esperando um filho seu e não consigo me lembrar de como fiquei neste estado! – disse ela, apertando o lençol e o mantendo contra o corpo como a se proteger.
Os lábios de Joseph se estreitaram em uma linha fina. Estaria zangado? Estaria apenas disfarçando para não aborrecê-la ainda mais?
– É como você disse. Não consegue se lembrar, portanto sou um estranho. Caberá a mim conquistar sua… confiança. – Ele pronunciou a última palavra como se a achasse repugnante, mas ainda assim manteve a expressão controlada.
– Joseph… – Ela deu voz ao nome, hesitante, deixando que as sílabas deslizavam em sua língua. Não lhe parecia estranho, mas também não lhe suscitava nenhuma lembrança. A frustração a dominou quando a mente permaneceu assustadoramente vazia.
– Sim, pedhaki mou.
Demi piscou várias vezes quando percebeu que ele estava esperando que continuasse.
– O que aconteceu comigo? – perguntou. – Como vim parar aqui? Como perdi minha memória?
Mais uma vez ele lhe segurou a mão e Demi encontrou consolo naquele gesto. Em seguida, Joseph  se inclinou para a frente e lhe tocou o rosto com a outra mão.
– Não deve apressar as coisas. O médico foi categórico nesse ponto. No momento, o mais importante para você e nosso bebê é ter calma. Tudo voltará no momento devido. – Demi  deixou escapar um suspiro, percebendo que ele não cederia. – Descanse um pouco. –
Joseph se ergueu, inclinou o corpo mais uma vez e lhe tocou a testa com os lábios. – Em breve, sairemos deste lugar.
Demi desejava que aquelas palavras lhe trouxessem mais tranquilidade, mas, em vez de conforto, a insegurança e o transtorno cresceram dentro de seu peito, até que temesse sufocar de ansiedade.
Gotas de suor lhe brotaram na testa e o pouco da comida que conseguira engolir, instantes atrás, ameaçava voltar. Joseph lhe lançou um olhar penetrante e, sem dizer uma palavra, tocou a campainha para chamar a enfermeira.
Instantes depois, a profissional adentrou o quarto. Ao pousar o olhar em Demi, a expressão da mulher se encheu de compaixão. Pousou-lhe a mão fria sobre a testa enquanto lhe administrava uma injeção com a outra.
– Está segura agora.
Mas as palavras não conseguiram abrandar o aperto no peito de Demi. Como poderiam, quando em breve ela seria atirada em um mundo desconhecido, com um homem que lhe era completamente estranho?
Joseph permaneceu ao lado da cama, observando-a, cobrindo-lhe uma das mãos com a dele. A medicação havia lhe embotado os sentidos e Demi se sentia flutuar, o medo desaparecendo como uma névoa. As palavras que ele pronunciava foram a última coisa que conseguiu ouvir.
–Durma, pedhaki mou. Eu tomarei conta de você.
Estranho, mas de fato ela conseguiu encontrar conforto naquela promessa suave.
Joseph ficou parado no quarto escuro a observando dormir. A tensão causada pelo franzir da testa lhe provocando uma dor entediante nas têmporas.
O peito de Demi se erguia e baixava com a respiração cadenciada e, mesmo durante o sono, a tensão lhe fazia franzir a testa. Ele se aproximou e a tocou com os dedos, roçando-os de leve na pele pálida. Demi estava adorável como sempre, mesmo no estado de fraqueza em que se encontrava. Os cachos ruivos formavam uma massa desordenada sobre o travesseiro. Ele segurou um entre os dedos e o afastou da testa delicada. Estavam mais compridos agora. Não mais o quepe de cachos curtos que se agitavam em torno da cabeça toda vez que ela ria.
Um xingamento lhe escapou dos lábios enquanto se afastava da cama. Tudo não passara de um ardil. Demi nunca fora feliz. Verdadeiramente feliz. Ao que parecia, não fora capaz de fazê-la feliz. Durante todo o tempo em que estiveram juntos, ela tramara para roubá-lo e a seus irmãos. Embora a tivesse considerado uma amante, nunca a colocara na mesma categoria das outras. O que compartilhara com Demi não fora algo mercenário ou ao menos assim pensara.
No final, tudo se resumira a dinheiro e traição. Coisas a que estava acostumado nas relações com mulheres.
Ainda assim a desejava. Aquela mulher ainda lhe fazia queimar as veias. Um vício contra o qual não tinha o poder de lutar. Angustiado, fez um movimento negativo com a cabeça.
Demi estava esperando um filho seu, e isso tinha prioridade sobre tudo mais. Seriam forçados a conviver um com o outro por causa da criança. O futuro de ambos irremediavelmente interligado. Mas não era obrigado a achar aquilo agradável e não tinha de oferecer nada mais do que sua proteção e seu corpo.
Se mais uma vez Demi seria posta sob sua proteção, então faria tudo que estivesse ao seu alcance para garantir os melhores cuidados, tanto para ela quanto para o bebê, mas nunca mais lhe devotaria sua confiança. Aquela mulher esquentaria sua cama e não seria mentiroso a ponto de dizer que tal perspectiva não o agradava. Mas Demi não teria mais nada dele.

acho que Joe vai quebrar tanto a cara em breve. bjemi

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Traiçao Capitulo 1

GRÁVIDA.
Apesar do calor do dia de verão, um incômodo calafrio percorreu a pele de Demi Lovato no momento em que ela se sentou no banco do pequeno jardim, a poucos quarteirões do apartamento que dividia com Joseph Jonas.
Um tremor a sacudiu mesmo quando os raios solares incidiam sobre os dedos que ela fechava com força, o calor incapaz de lhe dissipar os arrepios. Seu breve desaparecimento não agradaria a Stavros. Tampouco a Joseph, quando o guarda-costas lhe contasse que ela não seguira as medidas de segurança. Contudo, arrastar aquele necessário brutamontes para sua consulta com o médico não lhe parecera uma opção. Joseph teria ficado sabendo da gravidez antes de ela retornar e lhe contar.
Como ele reagiria àquela notícia? Apesar de terem tomado precauções, estava com oito semanas de gravidez. A ocasião mais provável que podia imaginar fora quando Joseph voltara de uma longa viagem de negócios ao exterior e se mostrara insaciável. Mas ela correspondera com o mesmo entusiasmo.
Um intenso rubor dissipou o frio em seu rosto enquanto se recordava da noite em questão.
Joseph fizera amor com ela incontáveis vezes, murmurando palavras suaves em grego, que fizeram seu coração executar acrobacias dentro do peito.
Demi verificou a hora no relógio de pulso. Ele chegaria em casa dentro de poucas horas, e, ainda assim, a covardia a imobilizava naquele lugar por temer uma discussão. Ainda não havia trocado a calça jeans desbotada e a camiseta, trajes que usava apenas na ausência de Joseph.
Com uma relutância originada da insegurança, Demi  se forçou a levantar e começou a cruzar a curta distância até o prédio luxuoso que abrigava o apartamento de Joseph .
– Está sendo tola – resmungou ela à medida que se aproximava da entrada. Se o porteiro se surpreendeu ao vê-la chegar a pé, não demonstrou, embora tenha se apressado a admiti-la dentro do prédio.
Ao entrar no elevador, ela acariciou o abdômen ainda plano. O nervosismo lhe apertando o peito durante a subida. Quando o elevador estacou com um solavanco suave e as portas se abriram para o espaçoso saguão da cobertura, ela mordeu o lábio inferior e saiu.
Em seguida, se encaminhou à sala de estar, se livrando dos sapatos durante o percurso até o sofá, onde pousou a bolsa. A fadiga lhe triturava os músculos, e tudo o que desejava era se deitar. Contudo tinha de matutar uma forma de abordar o assunto sobre seu relacionamento com Joseph.
Alguns dias atrás, diria que estava totalmente satisfeita, mas o resultado do exame de sangue daquele dia a deixara abalada. Fizera-a refletir sobre os últimos seis meses que vivera com Joseph.
Amava-o com toda a força de seu coração, mas tinha certeza do lugar que ocupava na vida dele. Quando estava ao seu lado, ele parecia ardente. O sexo era fantástico. Mas agora tinha de pensar em seu bebê. Precisava mais do que sexo excitante nas semanas em que a agenda atribulada do homem que amava permitia.
Demi penetrou na ampla suíte e estacou quando Joseph saiu do toalete, com apenas uma toalha lhe envolvendo os quadris.
Um sorriso lento se formou no belo rosto másculo. Todas as vezes que pousava o olhar naquele homem tinha a mesma sensação da primeira vez. Arrepios lhe percorriam a pele, e labaredas lhe lambiam todas as terminações nervosas.
– Che… chegou cedo. – Ela conseguiu dizer.
– Estava esperando por você, pedhaki mou. – Joseph  retrucou com voz rouca.
Em seguida, deixou a toalha cair, fazendo-a engolir em seco quando fixou o olhar na potente ereção. Com passos predatórios, ele fechou rapidamente o espaço que os separava. As mãos longas se curvaram sobre os ombros delicados, ao mesmo tempo em que ele inclinava o rosto para lhe saquear os lábios.
Demi deixou escapar um leve suspiro enquanto sentia os joelhos cederem. Ele era como um vício. Um do qual poderia nunca se saciar. Tudo que Joseph tinha a fazer era tocá-la para que ela se consumisse em paixão.
Os lábios experientes escorregaram da mandíbula de Demi  para lhe tocar a pele do pescoço. Os dedos longos e impacientes, tentando livrá-la da blusa. Como se tivessem vida própria, as mãos de Demi se fecharam em torno dos cabelos pretos, puxando-o para perto.
Forte, esbelto, musculoso. Um predador deslumbrante. Ele se movia com graça e maestria, dedilhando-lhe o corpo como um instrumento perfeitamente afinado.
Quando Joseph a inclinou na direção da cama, ela se agarrou ao pescoço largo.
– Está com muitas roupas – murmurou ele enquanto lhe retirava a camiseta pela cabeça.
Demi sabia que deviam parar. Precisavam conversar, mas sentira a falta daquele homem.
Ansiara por ele. E talvez uma parte de si desejasse aqueles momentos, antes que tudo mudasse de forma radical.
Joseph lhe retirou o sutiã, e ela ofegou quando os dedos ávidos lhe tocaram os mamilos agora ultrassensíveis. Estavam escurecidos, e Demi imaginou se ele perceberia.
– Sentiu saudades?
– Sabe que sim – respondeu ela ofegante.
– Gosto de ouvir você dizer isso.
– Senti saudades. – Demi cedeu com um sorriso a lhe curvar os lábios.
Não deveria surpreendê-la a rapidez com que Joseph a despiu, atirando o jeans, o sutiã e a calcinha pelo chão. E então, o corpo musculoso pairava acima dela, sobre ela, dentro dela.
Demi arqueou as costas enquanto ele a possuía, colando-se à estrutura sólida e quente daquele corpo musculoso, durante todo o tempo em que faziam amor. A paixão excitante e ardente. Era sempre assim. A um passo do desespero. O desejo um pelo outro os consumindo por inteiro.
Ao mesmo tempo em que a puxava para os braços, Joseph  sussurrava em grego. As palavras lhe roçando a pele como uma carícia enquanto atingia o ápice do prazer. Demi se aninhou ao corpo forte, feliz e saciada.
Devia ter dormido, porque quando abriu os olhos, Joseph estava deitado a seu lado, o braço estirado de maneira possessiva sobre seus quadris. Ele a observava com os olhos dourados ardentes pelo prazer da saciedade.
Aquele era o momento certo. Precisava abordar o assunto. Nunca encontraria melhor ocasião. Por que o pensamento de questioná-lo sobre aquele relacionamento lhe enchia o coração de receio?
– Joseph – começou em tom de voz suave.
– O que é? – Ele perguntou espremendo o olhar. Teria percebido a preocupação em seu tom de voz?
– Preciso conversar com você.
Esticando o corpo avantajado, ele recuou alguns centímetros para poder olhá-la melhor. O lençol escorregou até os quadris retos e se amarfanhou lá. Demi  se sentiu vulnerável, exposta e trêmula quando a mão longa escorregou pela superfície de um de seus seios?
– Sobre o que quer conversar?
– Sobre nós – retrucou ela concisa.
Os olhos dourados de Joseph  se tornaram desconfiados, mas logo em seguida, ocultaram qualquer emoção. O rosto se transformando em uma máscara de indiferença, que a assustou. Podia senti-lo recuando, mentalmente se afastando dela.
O som da campainha a faz se sobressaltar. Joseph xingou em voz baixa e esticou a mão para apertar o botão do interfone.
– O que é? – perguntou sucinto.
– É Taylor. Posso subir?
Demi sentiu o corpo enrijecer ao som do nome da assistente de Joseph. Era quase noite e ainda assim a mulher estava lá, tocando na campainha do que ela sabia ser o apartamento que o patrão dividia com a amante.
– Estou muito ocupado no momento, Taylor. Certamente isso pode esperar até eu chegar ao escritório amanhã.
– Sinto muito, senhor, mas não pode. Preciso de sua assinatura em um contrato que está sendo esperado para as 7h.
Joseph soltou outro xingamento baixo.
– Então, entre – convidou, atirando as pernas pela lateral da cama e se levantando. Em seguida, caminhou até o guarda-roupa de mogno lustroso e de lá retirou uma calça comprida e uma camisa.
– Por que ela vem aqui com tanta frequência? – perguntou Demi em tom de voz calmo.
– Ela é minha assistente – retrucou, dirigindo-lhe um olhar surpreso. – É sua função trabalhar em conjunto comigo.
– Em sua residência?
Joseph fez um movimento negativo com a cabeça enquanto abotoava a camisa.
– Voltarei dentro de um minuto e poderemos ter nossa conversa.
Demi o observou sair do quarto, com o peito ainda mais apertado. Sentiu-se tentada a deixar aquela discussão para outra noite, mas tinha de lhe contar sobre a gravidez e, para isso, precisava saber quais eram os sentimentos de Joseph  em relação a ela. O que ele pensava sobre o futuro de ambos. Portanto, teria de ser aquela noite.
A ansiedade de Demi aumentava à medida que os minutos escoavam. Não desejando a desvantagem da nudez, se ergueu da cama e vestiu o jeans e a camiseta. Bastava de parecer composta e bela! Pensou, tristonha, com um gesto negativo de cabeça.
Por fim, ouviu os passos de Joseph do lado de fora da suíte e o viu entrar com a testa franzida em uma expressão distraída. Quando pousou o olhar nela, retorceu os lábios em desaprovação.
– Prefiro-a nua, pedhaki mou.
Demi exibiu um sorriso trêmulo e voltou para a cama.
– Tudo bem no trabalho?
Joseph fez um gesto negligente com a mão.
– Nada que não tenha sido resolvido. A falta de uma assinatura. – Ele caminhou com passadas firmes até a cama, com um brilho predador no olhar. Quando se encontrava a 30 cm de onde ela estava, estacou e esticou a mão para os botões da blusa da camisa.
– Joseph… precisamos conversar.
Uma expressão aborrecida se estampou no belo rosto másculo, mas logo em seguida ele deixou escapar um suspiro resignado, sentando-se na cama ao lado dela.
– Então, fale. O que a está preocupando?
A frieza de Joseph quase a fez desistir. Ela se recostou para trás na cama em uma tentativa de colocar alguma distância entre os dois.
– Quero saber o que sente por mim, como vê nosso relacionamento – começou nervosa. – E se temos um futuro.
Demi ergueu o olhar para lhe captar a reação. Os lábios sensuais se apertaram em uma linha fina.
– Então, é isso – disse ele em um tom de voz severo.
Em seguida, se levantou e virou-se de costas para ela, antes de tornar a girar para encará-la.
– Is… isso o quê? Apenas preciso saber o que sente por mim. Se temos um futuro. Nunca fala sobre nós em nenhum tempo a não ser o presente – concluiu tímida.
Joseph se inclinou para a frente e lhe segurou o queixo.
– Não temos um relacionamento. Não sou afeito a relacionamentos, e você sabe disso.
Considero-a minha amante.
Por que sentia como se ele tivesse acabado de esbofeteá-la? O queixo de Demi  pendeu sobre a mão longa enquanto ela o encarava como os olhos arregalados pelo choque.
– Amante? – Demi grasniu. Uma companheira com quem vivia. Uma namorada. A mulher com quem ele estava saindo. Aqueles eram termos que ele poderia ter usado. Mas amante?
Uma mulher que comprara? Uma mulher a quem pagava para ter sexo? A náusea lhe chegou à garganta. Demi afastou a mão com força e cambaleou, recuando para trás. Uma expressão confusa se estampou no rosto de Joseph. – Isso é realmente o que significo para você? –perguntou ainda perplexa, incapaz de compreender a declaração que ele fizera. – Uma am…amante?
Um suspiro exasperado escapou dos lábios de Joseph.
– Você está nervosa. Sente-se que vou lhe trazer algo para beber. Tive uma semana difícil e é óbvio que você não está bem. Não será bom para nenhum de nós prosseguir com essa discussão.
Joseph a levou de volta à cama e, em seguida, saiu da suíte, em direção à cozinha.
Após uma longa semana armando ciladas para a pessoa que estava tentando trair sua empresa debaixo de seu nariz, a última coisa de que precisava era uma discussão histérica com a amante.
Encheu um copo com o suco favorito de Demi e, em seguida, preparou uma boa dose de conhaque para si mesmo. O início de uma dor de cabeça começava a incomodá-lo.
Um sorriso lhe curvou os lábios quando se deparou com os sapatos de Demi no meio do chão, onde ela os havia largado tão logo saíra do elevador. Joseph seguiu a trilha das coisas deixadas por ela até o sofá, onde a bolsa se encontrava jogada.
Demi era uma criatura tranquila. Nunca se mostrava exigente. Portanto, aquela explosão emocional o pegara de surpresa. Aquilo não combinava em nada com ela. Demi não era pegajosa, motivo pelo qual aquele relacionamento perdurara. Relacionamento? Acabara de negar que tivessem um. Ela era sua amante.
Deveria ter suavizado a resposta que lhe dera. Provavelmente Demi não estava se sentindo bem e precisava de um pouco de ternura de sua parte. O pensamento fez suas feições contraírem, mas ela sempre estava pronta para confortá-lo após semanas de viagens de negócios e reuniões entediantes. Era justo que ele lhe oferecesse mais do que sexo. Embora o sexo com Demi figurasse no topo de sua lista de prioridades.
Joseph girou para voltar ao quarto e tentar contornar aquela situação, quando um pedaço de papel que saltava para fora da bolsa de Demi lhe chamou atenção. Estancando, franziu a testa e pousou as bebidas na mesa de centro.
O medo lhe fez contrair o peito. Não podia ser.
Esticou a mão e arrancou o papel da bolsa, abrindo-o com um movimento brusco, enquanto a raiva, quente e volátil, se derramava em suas veias. Demi, sua Demi , era a traidora dentro de sua empresa?
Joseph queria negar o fato. Amassar a prova e atirá-la no lixo. Mas a tinha diante de si, encarando-o. A informação falsa que plantara naquela mesma manhã na esperança de encontrar a pessoa que vendera os projetos sigilosos da empresa para seu concorrente havia sido levada por Demi. Ela não perdera tempo.
De repente, tudo se tornou claro. Seus planos de construção começaram a desaparecer na mesma época em que Demi se mudara para a cobertura. Ela continuara a trabalhar para sua empresa e, mesmo depois de ele tentar convencê-la a se demitir para lhe dedicar tempo integral, Demi ainda tinha acesso irrestrito ao seu escritório. Que tolo fora!
O telefonema de Stavros horas antes se alojou na mente de Joseph como uma adaga. Na ocasião, sentira-se apenas levemente aborrecido, uma questão que planejara discutir com Demi quando a encontrasse. Pretendia lhe passar um sermão sobre atitudes negligentes, sobre segurança, quando, na verdade, era ele que não estava seguro na companhia de Demi.
Ela fora ao escritório dele e, em seguida, desparecera por várias horas. E agora, os documentos de sua empresa apareciam na bolsa que ela estava usando.
Com os papéis apertados em uma das mãos, saiu pisando duro na direção do quarto para encontrá-la ainda sentada na cama. Ela girou o rosto úmido pelas lágrimas para encará-lo, e tudo que Joseph conseguiu enxergar foi o quanto aquela mulher fora hábil em manipulá-lo.
– Quero-a fora de meu apartamento dentro de 30 minutos – disse sem rodeios.
Demi o encarou, chocada. Teria ouvido corretamente?
– Não entendo – retrucou com a voz estrangulada.
– Tem 30 minutos para juntar suas coisas, antes que eu acione a segurança para colocá-la para fora.
Demi se ergueu em um pulo. Como tudo pudera sair tão errado? Ainda nem havia lhe contado sobre a gravidez.
– O que há de errado? Por que está tão zangado comigo? Foi por causa de minha reação ao ouvi-lo me rotular como sua amante? Foi um grande choque para mim. Achei que significava mais do que isso para você.
– Agora só lhe restam 28 minutos – insistiu ele, com frieza, erguendo a mão com várias folhas de papel amarrotadas – Como foi capaz de pensar que poderia levar isso a cabo? Acha mesmo que eu toleraria sua traição? Não tenho a menor compaixão com traidores e mentirosos, e você, minha querida, consegue ser as duas coisas.
Todo o sangue desertou o rosto de Demi. Ela oscilou, quase se desequilibrando, mas
Joseph não fez um só movimento para ajudá-la.
– Não sei a que está se referindo. Que papéis são esses?
Os lábios sensuais se curvaram em um sorriso desdenhoso.
– Os que roubou de mim. Tem sorte de eu não telefonar para as autoridades. Mas se eu pousar alguma vez pousar os olhos em você outra vez, será exatamente isso que farei. Seus esforços poderiam ter enfraquecido minha empresa. Mas quem fez papel de tola foi você.
Estes são documentos falsos que plantei para tentar descobrir o culpado.
– Roubei? – A voz de Demi se ergueu com o nervosismo. Esticando o braço, arrancou os papéis da mão de Joseph. As palavras enevoadas diante de seus olhos. Tratava-se de um e-mail interno impresso, obviamente de um endereço do ISP da empresa. Informações sigilosas. Detalhamento de projetos de construção para uma proposta futura em uma grande cidade estrangeira. Fotocópias e desenhos. Nada daquilo fazia sentido.
Demi ergueu a cabeça e sustentou seu olhar, como se o mundo estivesse desmoronando e se despedaçando ao seu redor.
– Acha que roubei estes papéis?
– Estavam dentro da sua bolsa. Não insulte a ambos negando o que fez. Quero-a fora daqui.
– Com um gesto teatral, Joseph conferiu a hora no relógio. – Agora só lhe restam 25 minutos.
O nó na garganta de Demi cresceu e lá se alojou, quase a impedindo de respirar. Não conseguia pensar nem reagir.
Entorpecida, se encaminhou à porta, sem pensar em juntar suas coisas. Tudo o que queria era sair dali. Estacou segurando a maçaneta para se equilibrar antes de girar para tornar a encará-lo. O semblante de Joseph permanecia impassível. Linhas vincavam sua a pele em torno dos lábios e os olhos pareciam intolerantes e implacáveis.
– Como pôde pensar que eu faria uma coisa dessas? – sussurrou antes de girar e sair.
Demi cambaleou às cegas para o elevador. Soluços silenciosos lhe escapavam da garganta enquanto descia até o saguão. O porteiro lhe lançou um olhar preocupado e se ofereceu para lhe arranjar um táxi. Ela o dispensou com um gesto de mão e penetrou na noite, caminhando, sem firmeza, pela calçada.
O ar morno soprava seu rosto. As lágrimas esfriavam sua pele, mas ela não se importava.
Joseph teria de ouvi-la. Faria com que a escutasse. Permitiria que ele se acalmasse durante aquela noite, mas seria ouvida. Tudo não passava de um terrível engano. Tinha de haver alguma forma de fazê-lo cair em si.
Transtornada, Demi não prestou atenção no homem que a seguia e, quando virou a esquina, sentiu a mão forte lhe segurar o braço. O grito de alerta foi abafado por um saco de pano que lhe foi enfiado pela cabeça. Ela lutou, frenética, mas com a mesma rapidez se descobriu empurrada para o assento traseiro de um veículo. Ouviu a porta bater com força e o murmurinho de vozes baixas. Em seguida, o veículo se pôs em movimento.




e é isso por hoje, primeiro capitulo. ja começou com um pouco de tudo hein
ps: adaptaçao gente....sorry pra quem queria outra fic minha, mas tava doida pra postar essa historia