segunda-feira, 26 de março de 2018

O Amor é Cego Capitulo X ULTIMO

— Não fique aí parada, Joan. Entre!
Demetria estava tentando ler, mas não conseguia se concentrar. Sua mente estava ocupada demais por outros pensamentos, a maioria deles sobre a mulher que no momento cruzava a biblioteca em sua direção.
Joan e Keighsley eram as únicas pessoas além de Joseph, Taylor e Mikey que haviam estado na cidade e agora estavam em Mowbray, ou na vizinhança. Demetria não acreditava que Taylor ou Mikey pudessem ser responsáveis pela sequência de acidentes que sofrera, muito menos Joseph. Sobravam então apenas Joan e Keighsley.
A maior suspeita, sem dúvida, recaía sobre Joan. Keighsley era idoso. Demetria não conseguia vê-lo infiltrando-se na casa de Londres no meio da noite para pôr fogo no hall. Tampouco o imaginava escalando o portão dos fundos, como Joseph fizera, para seguir seus passos e agredi-la na fonte.
Joan, por seu lado, não necessitaria de qualquer peripécia para se aproximar dela. Estava sempre ali e tinha informações privilegiadas sobre todas as suas atividades. Ela era realmente a mais provável suspeita.
Demetria só não conseguia pensar em uma razão que justificasse que ela tivesse feito tais coisas. O fato é que gostava da moça.
Fechando o livro e deixando-o de lado sobre a escrivaninha, Demetria levantou os olhos quando a criada parou em frente a ela. Seus olhos imediatamente se estreitaram. Ela nunca havia visto a criada daquele ângulo. Não com os óculos. Agora conseguia enxergar a pequena pinta sob o queixo dela. Ocorreu-lhe ter visto uma pinta igual àquela e exatamente no mesmo lugar. Dez anos antes.
Ela fixou o olhar por um breve momento sobre a pinta e então levantou os olhos para o rosto de Joan, examinando-o com cuidado antes de dizer:
— O que foi, Molly?
— Só queria saber se a senhora quer uma xícara de chá ou de chocolate enquanto lê.
Demetria comprimiu os lábios. Molly nem havia notado a troca de nomes. Aquela pinta era a prova suficiente para ela.
— Não se estiver envenenada como a torta, Molly.
A criada ficou tensa, visivelmente acuada.
— Sei que é você, Molly — Demetria prosseguiu — mas não sei o motivo por que está tentando me matar.
De punhos cerrados ao lado do corpo, Molly admitiu:
— Pelo que fez ao meu irmão...
— Jeremy — Demetria murmurou, lembrando-se da figura imponente do homem de uniforme.
—. . . e a minha mãe — Molly continuou.
— Eu nunca vi sua mãe — Demetria espantou-se.
— E a mim também — Molly acrescentou cheia de amargura. — Quando Jeremy foi sentenciado e preso, perdemos nosso sustento. Tive de largar o palco para pôr comida na mesa. Até então eu tinha uma vida tranquila. Foi uma experiência e tanto.
— Sinto muito que tenha sido difícil para você sustentar a si mesma e a sua mãe... — Demetria começou a dizer, mas Molly não havia terminado.
— E de nada adiantou. Fiz tudo que pude pela minha mãe, mas ela morreu de coração partido por causa do escândalo e da prisão de Jeremy. — Molly levantou os olhos cheios de ódio para Demetria e acusou-a e um tom descontrolado: — A senhora matou os dois.
—Eu? ...
— Jurei para mim mesma que um dia e a faria pagar.
Demetria suspirou, olhando para Molly com pena.
— E você esperou todo esse tempo para se vingar!
— Para falar a verdade, eu nem esperava mais ter uma chance de me vingar — Molly admitiu, pegando uma espátula da mesa e brincando distraída com ela. — Mas, no começo da temporada, a senhora, lady Taylor e as amigas dela foram assistir a uma peça em que eu estava trabalhando.
Demetria piscou, surpresa.
— Só fui assistir a uma única peça em toda a minha vida. — Era uma peça baseada em contos de Shakespeare, mas ela nem se lembrava do nome. Também, sem os óculos não enxergara nada e até dormira um pouco. — Você estava trabalhando como atriz naquela peça? Molly assentiu com a cabeça.
— Minha personagem morreu no segundo ato. Foi só porque, supostamente morta, eu fiquei deitada no chão que consegui vê-la em um dos camarotes. Durante o intervalo, dei uma escapada até o saguão para vê-la mais de perto e ter certeza de que era a senhora. Quando me aproximei, ouvi lady Taylor comentar que a senhora estava precisando de uma criada de quarto. Eu estava bem atrás da senhora. Em um momento em que se virou, a senhora olhou diretamente para mim e não vi sinal algum de ter me reconhecido. Então percebi que estava sem os óculos. Tenho certeza — Molly prosseguiu — que não teria feito nada disso se o destino não tivesse me dado uma mãozinha. Fui para casa naquela noite exausta e aborrecida, e acordei no meio da noite com o cheiro de fumaça. Várias casas estavam em chamas, inclusive a minha. Dei um jeito de pular pela janela, mas não consegui pegar nenhuma roupa. Precisei roubar algumas. Perdi tudo no incêndio. Só quando amanheceu é que vi o que havia roubado. Parecia uma criada. — Ela deu uma risada. — Me pareceu quase providencial. Não entrei em contato com nenhum conhecido, deixei que todos pensassem que havia morrido no incêndio e resolvi me candidatar ao emprego de sua criada.
— Você não ficou com medo de ser reconhecida? — Demetria perguntou, curiosa. — Se não por mim, por uma outra pessoa. Como artista seu rosto certamente era conhecido.
— Não necessariamente. Ninguém presta muita atenção aos criados. Minha única preocupação era se conseguiria o emprego. Não sabia nada sobre o serviço,
Mas acho que minha profissão me ajudou bastante. A tarde, já era sua nova criada pessoal.
— E aí começaram os acidentes — disse Demetria. — É então a você que devo agradecer pelo tombo na escada?
— Ao meu sapato, foi nele que tropeçou. Eu o calcei depois e desci correndo para ver se a senhora estava bem.
— E a queda na frente da carruagem?
Molly sacudiu a cabeça.
— Aquilo foi mesmo um acidente. Não fiz nada para provocá-lo.
— A torta envenenada?
— Acho que não acrescentei veneno suficiente.
— A pancada na minha cabeça e o tombo na fonte?
Molly cerrou os dentes com muita raiva.
— Contratei o pai do menino que trouxe o bilhete. O trato foi que ele lhe desse uma pancada na cabeça para apagá-la. Acho que ele se entusiasmou demais e quis me impressionar — concluiu secamente.
Demetria ficou pensativa e então perguntou:
— E o incêndio?
— Tranquei a porta de seu quarto e pus fogo em um quebra-luz do hall; sabendo que o fogo iria se propagar rapidamente, voltei correndo para a cama para que tivessem de me acordar quando descobrissem.
Demetria suspirou e disse.
— Também perdi minha mãe e sei como é difícil, Molly. Mas você está culpando a pessoa errada. Todo aquele escândalo foi provocado por seu irmão. E se ele morreu na prisão, a morte dele não tem nada a ver comigo.
— Não tem nada a ver com a senhora? — Molly ecoou revoltada e, apontando a espátula para ela, disse: — Ele morreu na prisão... onde a senhora o colocou. Ele jamais deveria ter ido parar em uma prisão. Era um bom homem, generoso e doce e.
— Me parece, Molly — Demetria a interrompeu, espantada —, que você esqueceu que seu irmão me raptou e me forçou a casar com ele para passar a mão na minha herança. Eu custo a acreditar que um homem bom, generoso e doce agiria assim.
— Ele a amava.
— Amava minha herança e bolou um plano para se apossar dela — Demetria rebateu, impaciente. — E, como acontece com todos os planos malfeitos, o dele deu errado. Foi pego e teve de pagar por isso.
— Não haveria nenhum preço a pagar se o casamento tivesse sido consumado. Graças à bondade dele, ele a deixou descansar aquela noite e foi esse gesto de bondade que o matou — disse Molly com amargura e lágrimas nos olhos.
— Bondade coisa nenhuma! — Demetria rebateu irritada.
— Caso tivesse tido um pouquinho da bondade dele o teria salvado — Molly insistiu. — Mas não teve nenhuma.
— O que você queria que eu fizesse quando os homens de meu pai nos encontraram? — Demetria argumentou, completando com toda a honestidade: — Mas mesmo que eu pudesse fazer alguma coisa por ele, não sei se faria. Ele era um estranho para mim e, quando os homens de meu pai apareceram, fiquei sabendo que era tudo uma farsa para ele se apossar de minha herança.
— Como pode dizer isso? Ele a amava. Ele me disse que se apaixonou por você no momento em que a viu.
— Então ele mentiu para você também — retrucou Demetria, com firmeza. — Provavelmente para que você aceitasse o plano dele e o ajudasse. Nós nunca havíamos nos encontrado, como ele poderia afirmar que me amava?
Demetria viu a confusão estampada no rosto de Molly. Precisava convencê-la, por isso, acrescentou:
— Além disso, ouvi da própria boca dele. Eu tive um pesadelo na noite em que nos casamos e, assustada, fui procurar por ele. Quando abri a porta entre nossos quartos, ele estava falando para a criada, acho que era Beth o nome dela, que ela tinha seios maravilhosos. Quando a moça perguntou por que ele havia se casado comigo, muito bondosamente ele respondeu que embora me faltassem encantos, me sobrava dinheiro. Então começou a elogiá-la, disse que ela era a razão de não ter querido consumar o casamento comigo, que a consumação ficaria para a noite seguinte, mas que estaria pensando nela. Sem fazer barulho, fechei a porta, porque Jeremy começava a fazer o serviço completo com ela. Acho que a gula de seu irmão não se restringia apenas a dinheiro. Se ele tivesse conseguido se controlar, teria consumado o casamento comigo e estaria salvo. — Demetria encolheu os ombros, cansada. — Por isso, só posso ser eternamente grata de não ter sido tão atraente e ter dado tempo de os homens de meu pai chegarem.
— Mentiras, mentiras. Tudo mentira — Molly gritou, levantando a espátula ameaçadoramente.
— Será que são? Você estava lá. Eu não poderia ter sido mais dócil e passiva, de Londres a Gretna Green, até a última manhã. Você lembra como fiquei brava então, e como exigi que voltássemos para casa? Primeiro seu irmão disse que eu estava apenas cansada, mas quando insisti ele me bateu. Lembra disso?
Molly mostrou-se hesitante, como se as lembranças de Demetria lhe avivassem a memória. Ela abaixou um pouco a espátula e murmurou:
— Lembro.
Molly visivelmente se debatia internamente e seu rosto expressava toda a sua confusão. Demetria se levantou.
Como rosto tomado de raiva, Molly novamente apontou a espátula para Demetria.
— Não, a senhora está querendo me confundir. Jeremy nunca mentiu para mim.
— Nunca, nem mesmo para livrá-lo de um problema? — Demetria notou que a expressão de Molly estava coberta de dúvida.
— Meu Jeremy nunca faria o que a senhora está dizendo. Ele a amava.
Demetria sentiu pena da moça. Era notório que ela se sentia traída e assustada. Procurou então tratar os sentimentos dela com delicadeza.
— Talvez o Jeremy que você conheceu não mentisse. Mas seu irmão foi para a guerra, passou anos testemunhando coisas que mal podemos imaginar. Dizem que a guerra faz um homem mudar. Talvez o Jeremy que voltou não fosse mais o seu Jeremy.
Um soluço escapou dos lábios de Molly e ela caiu sentada em uma poltrona na frente da escrivaninha, soltando da mão a espátula que escorregou a seu lado.
— Nossa, o que eu fiz! — ela gemeu, desarvorada.
— Nada que seja irreparável — Demetria garantiu, tendo o cuidado de dar um passo para trás da mesa. Parou, porém, assustada quando a moça deu uma risada amarga e pegou novamente a espátula, pressionando-a dessa vez contra o próprio pulso.
— Por favor, não se aproxime, milady. Balançando a cabeça, ela olhou para a espátula com um olhar de total desamparo.
— Não faça nada precipitado, Joan... Molly. Vai dar tudo certo.
— Fácil dizer isso para quem não vai ter de enfrentar uma prisão.
— Você não irá para a prisão — Demetria assegurou.
— Como não? Vi o suficiente sobre prisão em minhas visitas a Jeremy. Prefiro morrer.
— Eu não vou denunciá-la.
— Mas eu tentei matá-la...
Demetria soltou um suspiro impaciente.
— Bem, acho que você não tentou com muita convicção. Estou ainda aqui.
Molly fungou e, ao levantar a cabeça, tinha esperança nos olhos, como se Demetria lhe tivesse dado algo que poderia redimi-la.
— É verdade, ou não é? — Demetria já começava a se exasperar. — Como dizem, eu estava cega como um morcego e desamparada feito uma criança a maior parte do tempo. Se você tivesse querido mesmo me matar, estou certa de que teria conseguido. Em vez disso, você só se saía mal. Entretanto, como criada, sempre foi muito eficiente. Acho que você não teve coragem de me matar.
— Não mesmo — Molly admitiu, com outro soluço. — Eu queria magoá-la, queria que sofresse, mas não conseguia... — Fazendo uma pausa, ela falou baixinho, como se estivesse falando consigo mesma: — Acho que pouco importa se a senhora vai me denunciar ou não. E só uma questão de tempo, seu marido me denunciará. Ele vai querer me ver na prisão.
Demetria teve um estremecimento ao se dar conta de que Molly estava certa. Joseph iria querer que ela fosse punida, com toda a certeza. Sua mente começou a funcionar, procurando uma saída para a moça e, então, seu rosto se iluminou.
— América!
Molly fitou-a, lívida.
— América?
— Você pode ir para lá. Eu pagarei a passagem. Lá você poderá ter um novo começo, sem temer que seu passado possa assaltá-la.
— Eu não tenho condições...
— Eu pago sua passagem — Demetria insistiu, inclinando-se sobre a escrivaninha e puxando urna folha de papel para escrever um bilhete. — Também lhe darei dinheiro suficiente para começar um pequeno negócio, uma pensão talvez...
— Por quê? — Molly perguntou incrédula. — Por que a senhora...?
— Porque nós duas sofremos nas mãos de seu irmão, Molly. Ele nos enganou as duas e ambas sofremos por isso nos últimos dez anos. Você mais do que eu. Além disso, lembro perfeitamente como você foi boa para mim naquela viagem, me confortando e garantindo que tudo ficaria bem. — Demetria assinou o nome no bilhete e o estendeu à moça. — Aceite! Pegue! Vou pedir ao cocheiro para levá-la a Londres. Vá recolher suas coisas e leve esse bilhete ao banco para pegar o dinheiro e viajar de navio para a América.
Vendo que Molly hesitava, embora esperançosa, Demetria tentou persuadi-la:
— Você pode iniciar um negócio lá e ter uma nova vida, como uma mulher respeitável. Algum dia, se você progredir, como desejo, poderá me pagar.
Tais palavras pareceram ser decisivas. Ainda que relutante, Molly pegou o bilhete.
Sorrindo, Demetria tirou a espátula da mão dela antes que ela mudasse de ideia, colocou-a sobre a mesa e então pegou Molly pelo braço para acompanhá-la até a porta da biblioteca, temerosa demais que Joseph pudesse chegar a qualquer momento.
— Há alguma coisa daqui que você precise?
— Não, não trouxe muita coisa comigo. A maior parte de minhas coisas está em Londres.
— Então vá arrumá-las antes de partir — disse Demetria, abrindo a porta da biblioteca e indo com Molly até o hall. — Tudo ficará bem. Ouvi dizer que há bastante progresso na América, mas você pode ir para a França, se preferir. Você tem muitas opções. Nem precisa me dizer qual escolherá. Tudo ficará bem.
Vendo Kibble que transitava pelo hall, Demetria o chamou e pediu que mandasse o cocheiro preparar a carruagem e a levasse para a frente da casa. Depois foi com Molly até a porta da frente e saiu, parando em um degrau.
— Também não precisa deixar a Inglaterra, se não quiser. Juro que ninguém irá persegui-la pelo que aconteceu aqui.
Molly a encarou com um tímido sorriso nos lábios.
— É por isso que não consegui machucá-la.
Demetria levantou uma sobrancelha de forma inquisidora, e Molly explicou:
— A senhora é muito boa. Vi como muitas damas tratam os criados. A senhora não é como elas. Sempre foi gentil comigo, levando em consideração minhas opiniões, como se fôssemos iguais. — Ela deu um sorriso mais aberto. — Cheguei até a desejar que meu irmão tivesse conseguido consumar o casamento. Teríamos sido como irmãs então.
Demetria arregalou um pouquinho os olhos.
— Sim, teríamos. Na verdade, fomos por alguns dias. — Ela sorriu também e abraçou a moça. A carruagem já havia aparecido, vinda dos estábulos.
— Se precisar de ajuda, me procure — Demetria cochichou no ouvido dela.
— Obrigada — Molly sussurrou, com lágrimas nos olhos, apertou a mão de Demetria e subiu na carruagem.
— Leve-a para onde ela quiser ir — Demetria recomendou ao cocheiro quando fechava a porta e se encaminhou de volta para casa, parando nos degraus da escadaria para ver a carruagem partir.
— Você tem um coração muito mole.
Demetria voltou-se abruptamente ao ouvir as palavras ditas em voz grave e deu com o marido parado no degrau atrás dela. Lorde Greville estava à porta, atrás de Joseph.
— Há quanto tempo vocês chegaram?
— Há bastante — respondeu ele, repetindo: — Você tem um coração mole demais, esposa.
Ignorando a crítica delicada do marido, ela se voltou para ver a carruagem que já descia a alameda.
— Vocês continuam amigos?
— Claro! — Joseph respondeu prontamente, dirigindo o olhar para Mikey que falou simultaneamente:
— Ainda não decidi.
Demetria esboçou um sorriso, depois, passando pelo marido, deu o braço a Mikey e o fez entrar.
— Vamos lá, milorde, perdoe meu marido por essas acusações falsas. Você deve saber muito bem como ele fica abobado quando se trata daqueles que ama. Veja só, ele nem percebeu ainda que estou de óculos.
Demetria sentiu que o marido tropeçou atrás dela; ela parou, achando graça, e voltou-se para dar a mão a ele.
Joseph estava pálido e olhava fixamente para a armação de metal dos óculos de Demetria.
— Você está conseguindo me enxergar?
— Sempre consegui, milorde. Posso simplesmente vê-lo um pouco melhor — Demetria esclareceu em tom carinhoso.
Vendo-o tão perturbado, Mikey reagiu de maneira impaciente.
— O cego tem sido você, não? Será que até agora não entendeu que sua mulher é míope e que de perto ela enxerga?
— Creio que meu marido achava que eu não conseguia ver nada — Demetria brincou.
Os três permaneceram calados por um momento, então Demetria se voltou para Mikey e sugeriu:
— Talvez, milorde, você possa ir até o salão e se servir de um drinque?
— Tenho uma ideia melhor. Acho que vou voltar para Wyndham e deixar vocês a sós. — Dito isso, ele beijou a mão de Demetria, despediu-se de Joseph e caminhou até a escadaria que haviam acabado de subir.
— Você conseguia mesmo me enxergar antes? — Foi a primeira coisa que Joseph perguntou ao ficarem sozinhos.
— Sim, milorde.
— Quando foi a primeira vez que você conseguiu?
— Na noite em que o conheci, quando você se inclinou para falar comigo. Você chegou tão perto que pude ver bem seu rosto e esses seus lindos olhos castanhos.
Joseph virou a cabeça, inconscientemente escondendo o lado de seu rosto em que tinha a cicatriz.
Aproximando-se mais dele, Demetria estendeu a mão até o queixo dele, fazendo-o encará-la, e depois, pondo-se na ponta dos pés, beijou a cicatriz que ele tanto odiava.
Joseph estremeceu ao toque e a expressão de seu rosto era de medo.
— Então você se casou comigo por pena?
— Por pena? — Demetria quase riu alto ao ouvir aquilo. — Que vergonha, milorde! Dizer isso o insulta. Você é um homem atraente.
— Sou um monstro. Um simples olhar para meu rosto fez com que várias mulheres desmaiassem.
Demetria deu de ombros.
— Talvez logo depois do ocorrido, quando o ferimento ainda era recente e estava muito exposto, muito vivo. Mas já se passaram dez anos. Está bem cicatrizado e se ajustou ao seu rosto. Agora é simplesmente uma parte de você, só uma linha que desce pela sua face. Acho que é muito maior em sua mente do que em seu rosto.
— Não é, não. Eu vi as mulheres se encolherem de medo.
— Nesta temporada, milorde?
Joseph hesitou e ela balançou a cabeça triunfante.
— Acho que não. Imagino que uma ou duas mulheres até tentaram se aproximar de você enquanto estávamos em Londres — ela acrescentou, ao se lembrar da proposta indecente que lady Johnson fizera a ele.
Joseph bufou.
— Só estava buscando uma nova experiência com um ser excêntrico.
— Custo a acreditar — contradisse-o Demetria, conduzindo o marido pela casa em direção ao escritório. — Mas sabe, acho muito bom que você continue pensando desse jeito. Assim, nunca vou precisar ter medo de que você me seja infiel.
Joseph bufou novamente, seguindo-a até o escritório.
— Você não precisa ter medo disso, de qualquer modo. Não tenho qualquer interesse em outras mulheres. Aprontei tudo o que devia muito tempo atrás.
— Hum. — Demetria caminhou até a escrivaninha e se sentou na beirada dela. — Então você acha que eu o quero porque desejo excentricidade na cama?
Joseph enrugou a testa.
— Agora que você me viu direito, você ainda me quer?
— Eu já lhe disse, marido. Eu o vi na primeira noite em que nos conhecemos e muitas vezes depois disso. E sempre o quis.
— Me ver de maneira embaçada e me ver perfeitamente e de perto são duas coisas diferentes.
Demetria ponderou por um momento.
— É verdade, milorde. Você está certo, são duas coisas diferentes. Isso significa então que você não vai me querer agora porque uso óculos novamente?
Joseph piscou.
— Não é a mesma coisa. Você pode tirar os seus óculos.
— Não se eu quiser ver — Demetria rebateu, depois escorregou da escrivaninha e começou a desabotoar o vestido. — Talvez devamos fazer um teste.
— O que você está fazendo? — Joseph perguntou, assustado, dando a volta para fechar a porta quando ela começou a se despir.
— Bem, me parece, milorde, que estamos diante de um dilema. Eu não tinha óculos quando nos casamos, portanto você poderá me achar verdadeiramente feia com eles. Sem ter os óculos, eu também não conseguia vê-lo perfeitamente mesmo de perto, portanto não sabia se depois iria achá-lo muito repulsivo. Acho que está na hora de resolver esse problema e saber se nosso casamento tem alguma chance.
Joseph arregalou os olhos ao vê-la descer o vestido dos ombros e deixá-lo cair aos pés. Seu espartilho e as anquinhas tiveram o mesmo destino, deixando-a, como no dia em que nasceu, completamente nua na frente dele. Exceto pelos óculos.
Engolindo em seco, ele contemplou aquele corpo, detendo os olhos nos seios de Demetria, em seu abdome lisinho até chegar aos pelos pubianos aninhados entre as pernas. A atenção dele foi desviada pela exclamação de aborrecimento que Demetria soltou. Ao levantar os olhos, ele viu que ela segurava com as mãos em concha os próprios seios e os contemplava com uma expressão contrariada.
— Era o que eu temia — disse Demetria infeliz, e Joseph sentiu o coração parar ao ouvir essas palavras. Mas, em seguida, ela explicou: — A mera ideia do prazer que seu corpo pode proporcionar ao meu fez com que meus seios ficassem pesados e doloridos e meus mamilos se empinassem como para receber um beijo.
Joseph engoliu em seco novamente, seus olhos fixando-se na prova das palavras dela; suas mãos apoderaram-se daqueles seios intumescidos, com os mamilos enrijecidos. Então ela tomou uma das mãos dele de seu seio e deslizou-a sobre o ventre até seu ninho entre as pernas. Joseph ficou incrédulo quando os dedos dela desceram um pouco mais e desapareceram nesse ninho por um breve instante.
— Oh, Deus!
Joseph fitou-a ao ouvir aquele suspiro, e ela explicou:
— Parece que já estou molhada só da carícia de seu olhar. Isso não está funcionando nada. Como posso testar o efeito de sua cicatriz quando todo o seu corpo, sua mera presença, me afeta desse jeito?
Tirando a mão dele de seu seio, ela o puxou.
— Aproxime-se — sussurrou, e Joseph quase tropeçou no próprio pé para obedecê-la. Deu um passo à frente, segurou a mão que ela lhe estendia e parou em dúvida ao vê-la fixar os olhos nele. — Não, isso parece que não está ajudando muito, milorde. Embora possa ver sua cicatriz de forma bem clara, não consigo ignorar o resto de seu corpo para conseguir testar somente o efeito da cicatriz em mim.
Os olhos de Demetria procuraram os do marido e ela arqueou a sobrancelha.
— Quero ver o homem que eu amo fazer amor comigo.
Joseph congelou sob o efeito dessas palavras.
— Você me ama?
Demetria também silenciou e a expressão de seu rosto foi se suavizando ao ver a esperança e a alegria no rosto dele.
— Claro que o amo. Como poderia não amá-lo?
— Mas...
— Não há “mas”, marido — Demetria o interrompeu. — Eu simplesmente o amo. Amo sua aparência, seu sorriso, seus olhos, até sua cicatriz. Amo tudo em você.
Joseph se colocou entre as pernas de Demetria e a beijou. Demetria fechou os olhos novamente por um segundo e se forçou a abri-los, sorrindo para ele.
— Eu o amo, Joseph. Vou repetir isso até que você se canse de ouvir.
— Nunca vou me cansar de ouvi-la dizer isso. Eu também a amo muito, Demetria. Amo tudo em você. Seu corpo, seu coração, sua alma, seu sorriso, sua mente e até esses seus olhos ceguinhos. Você é dona do meu coração. Você me fez rir novamente. Você deu um sentido à minha vida. Com óculos ou sem óculos, vestida ou despida. Amo-a todinha e sempre amarei. — Ele se inclinou para dar um beijinho na testa e completou: — Mas, por Deus, neste momento, eu a amo mais nuazinha.
Demetria riu.
— Fico tão feliz. Agora, por favor, faça amor comigo que não estou aguentando mais esperar.
Rindo, Joseph puxou os quadris dela contra seu corpo e penetrou vigorosamente no universo úmido e quente do corpo dela, fazendo-a vibrar a cada movimento de reafirmação de seu amor.
Ela o havia visto com os óculos e ainda o desejava, ainda o amava da mesma maneira. Era sua parceira, seu amor, sua vida. Ele não sabia o que havia feito para rnerecê-la, mas jurou fazer de tudo a seu alcance para vê-la sempre feliz. 





desculpem demora 
estava sem acesso a fic pois mandei o meu not trocar a fonte que estava estragando, mas agora esta arrumado.
proxima fic sera tambem adaptaçao mas amo tanto a historia que achei que seria perfeito como jemi entao espero que tambem gostem
bjemi

quarta-feira, 7 de março de 2018

O Amor é Cego Capitulo IX PENULTIMO


Demetria observou em silêncio os criados prepararem o banho para ela. Joseph havia prometido que mandaria prepará-lo e havia cumprido a promessa.
Após encher a tina, os criados saíram do quarto, deixando-a a sós com Joan. No momento em que a porta do quarto se fechou, Demetria caminhou até a mesinha-de-cabeceira para pegar os óculos.
Ainda deitada, ao contemplar o rosto de Joseph em determinado momento da noite, ela havia decidido seguir o conselho de lady Mowbray e Kibble e começar a usar os óculos. Como deixara de usá-los por tanto tempo, queria começar devagar. Iria usá-los primeiro na frente de Joan para ver como ela reagiria. Depois, na frente de algum outro criado, e então finalmente na frente da família e do marido.
Demetria hesitou um pouco com os óculos na mão, então colocou-os sobre o nariz, calmamente, retirou o livro da gaveta da mesinha-de-cabeceira e se encaminhou para a banheira.
— Posso... — As palavras de Joan morreram de súbito e foram acompanhadas pelo ploft do sabonete que ela segurava ao cair na água.
Demetria olhou fixo para a criada, tentando decifrar a expressão dela. Não era nada agradável admitir a si mesma que a expressão de Joan parecia de horror. A criada forçou um sorriso que lhe pareceu misericordioso e balbuciou:
— Eu... a senhora.
Demetria fez um gesto para que se calasse. Não desejava falar sobre os óculos. Sentiu-se de repente deprimida demais para se importar com explicações, e definitivamente não desejava ouvir nenhum comentário falso de que lhe ficavam bem, depois da expressão inicial da criada ter mostrado claramente que ficava bem pouco atraente.
Em dúvida, Joan não tocou no assunto e estendeu a mão para a patroa para que se equilibrasse ao entrar na tina. Demetria pegou a criada olhando-a de soslaio repetidas vezes.
Como o segredo dos óculos já não fosse mais segredo, pelo menos não para Joan, ela não insistiu em ficar sozinha para banhar-se e permitiu que a criada a ajudasse na lavagem dos cabelos. Enquanto Joan arrumava as roupas que ela iria usar, Demetria tentou relaxar na água e ler um pouco, mas teve dificuldade. Estava consciente demais de que o tempo todo a criada continuava a lançar olhares furtivos em sua direção.
— São tão feios assim? — Demetria perguntou, não conseguindo se conter.
— O que disse, milady? — Joan perguntou, com ar inocente.
— Estou tão feia assim de óculos? Você me pareceu horrorizada ao me ver pela primeira vez e fica agora toda hora me olhando.
— Oh, não, milady — Joan assegurou-lhe prontamente. — Eu não fiquei horrorizada. Os óculos são bonitos. Eu não sabia que lorde Joseph havia mandado buscar um novo par. Minha reação foi de surpresa, não de horror.
— Hum — fez Demetria, duvidando do que ouvia. Ela então fixou o olhar na criada. Havia visto a moça loira todos os dias nos últimos meses e o rosto dela lhe era familiar, mas agora podia enxergar melhor os detalhes. Joan era uma jovem adorável, mas quem disse que as criadas tinham de ser feias? Só que jovens bonitas pareciam ter melhores empregos, como vendedoras de loja. Deixando as divagações de lado, Demetria voltou sua atenção para o livro, mas estava se sentindo inquieta demais para usufruir da leitura. Com os óculos, estava mais consciente da própria nudez na frente da criada.
Colocando o livro de lado com um suspiro, Demetria procurou concentrar a atenção no banho, mas a cabeça só pensava no que iria fazer. Seu plano era usar os óculos na frente de Joan e, se desse certo, usaria na frente de outras pessoas até chegar a vez da família e do marido. Infelizmente, parecia que não havia se saído nada bem com Joan.
Ainda assim, chegaria a hora de ter de usá-los na frente de Joseph, ou passaria o resto da vida praticamente cega, com uns poucos momentos roubados em que se enfiaria no quarto para poder usá-los.
Demetria refutou essa ideia. Seria quase uma deslealdade. Além disso, se era verdade o que a sogra e Kibble alegavam de que Joseph temia que ela o achasse pouco atraente, era mesquinho deixá-lo sofrer por isso. Dia mais, dia menos teria de colocar os óculos na frente dele, sabia disso, mas preferia realmente adiar um pouco mais esse momento.
Não muito mais, Demetria ponderou consigo mesma. Aparentemente, Joseph estava de fato se afeiçoando a ela. Ele demonstrara uma real preocupação com seu estado no dia anterior e ficara aliviado ao ver que ela estava se recuperando.
— Covarde — ela balbuciou por entre os dentes e levantou-se da tina.
Meia hora depois, já estava pronta para descer. Seu cabelo ainda estava úmido e os óculos ainda estavam pendurados no nariz. Ela estava tentando ser corajosa, mas não tinha certeza se não os esconderia se topasse com o marido.
Taylor estava sozinha na sala de refeições quando ela entrou, mas havia pratos vazios sobre a mesa, o que sugeria que seu pai, Joseph e possivelmente lady Mowbray já tivessem estado ali e saído. Bastou um olhar para o rosto da madrasta para entender o porquê. Taylor estava de cara muito amarrada. Demetria suspirou, sabendo que ela estaria em um de seus dias difíceis. Sentiu ímpetos de dar meia-volta e fugir para seu quarto, mas Taylor já ia visto e sair de lá só complicaria tudo.
— Ora, vejo que você está de óculos.
Taylor dirigiu um sorriso forçado, e Demetria manteve-se calada, dirigindo-se ao aparador, onde estava disposto o serviço de café da manhã, para fazer seu prato.
— Quando chegaram os óculos? — a madrasta quis saber. — Seu marido já a viu com eles? Agora você entende o castigo que arrumou para si mesma com seu comportamento esquisito? Está infeliz, não é?
Demetria deixou que a madrasta disparasse todas as perguntas enquanto se servia. Só depois de se dirigir à mesa, sentar-se, colocar o guardanapo no colo e pegar o garfo finalmente disse em tom calmo:
— Tenho os óculos desde a véspera de meu casamento, Taylor.
Um silêncio pesado tomou conta da sala diante da notícia. Demetria começou a comer e levantava o garfo para levá-lo à boca quando Taylor quebrou o silêncio, externando toda a sua surpresa:
— Você se casou com ele mesmo tendo visto a aparência horrível dele? Meu Deus, você é louca? Como aguenta que ele a toque?
Suspirando, Demetria abaixou o garfo e disse:
— Na realidade, Taylor, eu não apenas me casei com Joseph sabendo qual era a aparência dele, como soube muito antes que ele me beijasse ou fizesse amor comigo. Eu pude vê-lo razoavelmente bem no baile em que o conheci e dancei com ele. — Demetria a encarou de frente. — Eu o achei muito atraente naquela noite e continuo achando. Sinto muito que você não o ache. Mas também não foi você que se casou com ele.
Ela começou a comer novamente, consciente do olhar de Taylor. A madrasta a observava como se ela fosse um quebra-cabeça que não conseguia resolver.
— Parece que você está mesmo feliz — Taylor finalmente disse, intrigada, e não se contendo, perguntou então: — Como você pode ser feliz com ele?
Demetria levantou a cabeça. Com olhos tristes contemplou a mulher do outro lado da mesa. Taylor não conseguia mesmo entender.
— Porque Joseph é bom e generoso. Porque ele me trata como uma princesa. Porque ele me faz rir. Porque ele me faz feliz. Porque quando ele me beija eu vou ao paraíso e quando faz amor comigo, não consigo conter minha paixão por ele.
A reação de Taylor não poderia ter sido mais estranha, como se Demetria a tivesse agredido.
Demetria, por sua vez, ficou refletindo sobre a reação da madrasta ao pegar o garfo novamente e voltar sua atenção para a comida. Decorreram vários minutos até que Taylor se recuperasse o suficiente para atacá-la novamente.
— Ele já a viu de óculos? — ela perguntou de súbito. —Aposto que não. Eu não a vi usando eles antes. É porque ele não gosta de óculos, é?
Engolindo o alimento que mastigava, Demetria pousou o garfo e a faca ao lado do prato. Depois limpou os lábios com o guardanapo, recolocando-o no colo, descansou as mãos no colo, levantou os olhos para Taylor e fez o que deveria ter feito muitos anos antes.
— Por que você quer tanto me ver infeliz? O que a faz me odiar assim?
Sobressaltando-se na cadeira, como se tivesse levado um tapa no rosto, Taylor retorquiu:
— Não seja ridícula. Você é minha enteada. Eu não a odeio.
— Mas quer me ver infeliz.
— Essa é a vida, Demetria — disse ela, ríspida. — Todos aqueles sonhos que se tem de filhos e felicidade? Um lar um marido amoroso? Esqueça-os. O destino é volúvel. Mesmo quando parece ter lhe dado tudo o que queria, logo você aprende que não tem nada. É melhor aprender como a vida é dura enquanto se é jovem do que crescer mimada e protegida e então descobrir isso de coração partido.
Demetria fitou a madrasta em silêncio, sentindo que estava perto de entendê-la. Depois de um momento, perguntou:
— Você foi mimada e protegida, Taylor?
— E como fui. — Ela esboçou uma risada. — Fui mimada mais do que se possa imaginar. Qualquer coisa que quisesse, eu podia ter. Qualquer coisa de que precisasse, logo estava ali.
— Até você se casar com meu pai.
Taylor olhou para o prato. Depois de uma pausa, disse baixinho:
— Achei que o queria assim que o vi. Via como ele era com sua mãe e..
— Você o conheceu enquanto minha mãe ainda vivia? — Demetria perguntou, surpresa.
Taylor confirmou com a cabeça, com os olhos baixos, quase envergonhados.
— Eles se amavam muito. Eu invejava sua mãe. Quando ela morreu, adorei, pois havia chegado a minha vez. E fui atrás dele. Não imediatamente, claro. Fiquei por perto para confortá-lo, para externar meu sentimento pela situação difícil que seria para você não ter mãe. Que seria difícil para ele também. Você precisava de alguém para ajudá-la a se tornar adulta, especialmente depois do escândalo. E criar uma filha e administrar uma casa devia ser um peso muito grande para uma pessoa sozinha.
— E ele se casou com você — Demetria completou baixinho, lembrando-se de que Taylor havia sido bondosa com ela logo que chegou a Lovato. Depois, aos poucos, ela foi se mostrando distante e fria até se tornar muito desagradável. E não somente com ela, mas com todos em Lovato.
— Sim, ele se casou comigo — ela repetiu muito triste. — Como disse, quase tive o que queria.
— Mas não teve, não é? — perguntou Demetria, compreendendo a situação. — Sabe por quê? Porque não era exatamente meu pai que você queria. Você queria o tipo relacionamento que ele e minha mãe tinham.
— É verdade — ela admitiu, forçando um sorriso. — Você sempre foi uma menina esperta. Se eu tivesse a metade de sua esperteza, não teria estragado a minha vida. — Soltando um suspiro, Taylor passou a mão pelo cabelo e depois sacudiu a cabeça. — Ah, ele é bom e generoso a seu modo distante, mas não senti nada quando ele me beijou. Desconheço essa paixão incontrolável de que você falou. Eu o culpei por isso. Ele se casou comigo para que eu cuidasse de você e da casa. Era só o que importava. Você era a filha da preciosa Margaret, e ele sempre demonstrou mais afeição, atenção e consideração por você do que por mim. — Após uma pequena pausa, Taylor continuou: — Eu poderia ter convivido com isso. Muitos casamentos são simples negociações. Me contentaria com o pouco de afeição que ele me tivesse e até sua falta de interesse por mim se, pelo menos, eu tivesse tido meus próprios filhos para criar. Mas não tive.
A mão de Taylor apertou tanto a xícara que segurava que suas juntas ficaram embranquecidas. Demetria ficou preocupada que ela pudesse quebrar a xícara de raiva.
— Estou com seu pai há dez anos, sem qualquer perspectiva de um filho.
A visão de Demetria tornou-se turva mesmo com os óculos. Ela deu-se conta de que os olhos estavam marejados de lágrimas de empatia. Afastando as lágrimas e limpando a garganta, argumentou:
— Você teve a mim. Eu teria sido sua filha.
— Não era você que eu queria — contestou Taylor de maneira brusca, com um olhar duro. Ela então desviou os olhos, envergonhada. — Me desculpe, Demetria, mas você já era bastante crescida quando cheguei a Lovato. Quase uma mulher feita, com personalidade e atitudes próprias... e a réplica exata de sua mãe, que teve o casamento que eu queria, mas que eu não consegui ter.— Ela fez um muxoxo e sacudiu a cabeça. — Eu queria o que sua mãe Margaret teve, um marido para amar e ser amada e um bebê meu. Minha própria filha para se parecer comigo e a quem eu pudesse mimar e proteger.
Demetria balançou levemente a cabeça.
— E tenho certeza de que minha mãe gostaria de ter tido o que você tem.
Taylor piscou, confusa.
— O que eu tenho que ela não teve?
— Saúde — respondeu Demetria. — Minha mãe sempre foi frágil e doente. Não tinha forças para fazer quase nada. Um friozinho podia fazê-la adoecer por dia. E todo o nosso amor não foi capaz de mantê-la saudável e bem.
Por um instante, uma expressão de vergonha passou pelo rosto de Taylor. Ela desviou os olhos e apertou lábios.
— Não estou dizendo isso para envergonhá-la — Demetria disse prontamente. — Digo porque, mesmo com tudo o que ela teve, e que você deseja, ela também não teve tudo. Talvez ninguém tenha.
Taylor voltou o olhar para Demetria, tendo a expressão de vergonha dado lugar à de curiosidade.
— Ela era feliz?
Demetria suspirou e pensou no passado, lembrando-se do riso da mãe, apesar de sempre estar tão doente. Margaret Lovato nunca demonstrou cansaço ou frustração com aquela situação. Era de uma alegria incomparável e sempre tinha um sorriso, apesar de todo o sofrimento. Por isso todos a amavam tanto.
— Creio que um lado dela deveria ser muito infeliz — Demetria finalmente respondeu. — Eu mesma acharia muito frustrante conviver tanto tempo com a doença. Mas ela nunca demonstrou. Uma vez ela me disse que a felicidade era uma escolha. Se escolher ser negativa e melancólica, você será, mas se desejar ser feliz e estiver determinada a usufruir o que a vida tem para lhe oferecer, assim o será. Ela dizia que não há nada na vida que seja só bom ou só mau, que a vida dá um pouco de cada, embora algumas vezes só consigamos ver o que há de ruim a nossa volta enquanto na dos outros só vemos o que há de bom. Por isso precisávamos ter olhos sempre atentos para o bom para não nos deixarmos abater pelo desânimo e pessimismo.
— Parece que sua mãe era muito sábia — murmurou Taylor baixinho, com lágrimas nos olhos. — Gostaria de tê-la conhecido melhor enquanto vivia. Talvez se tivesse ouvido um pouco da sabedoria dela não tivesse feito essa trapalhada irreparável com minha própria vida.
— Por que irreparável? — indagou Demetria, e Taylor soltou uma gargalhada seca.
— Ah, não sei. Mas o que você acha? Estou ficando velha e gorda, uma verdadeira matrona, e estou casada com um homem que me odeia e tenho uma enteada que me odeia.
— Eu não a odeio — contestou Demetria.
— Seu pai me odeia.
—Ele...
— Por favor — Taylor levantou a mão para que Demetria se calasse —, não tente me dizer que ele não me odeia. De início, achei que fosse apenas indiferença o que ele sentia por mim. Mas, com o passar do tempo, veio o desprezo. Acho que mereci. Minha decepção me tornou infeliz e fiz todos vocês infelizes também. Agora seu pai nem gosta mais de mim. — Ela dirigiu um olhar sombrio para Demetria e afirmou: — Ele me detesta tanto que até acredita que sou eu que estou tentando matar você. — Taylor balançou a cabeça. Tinha um olhar ferido. — Como ele pode pensar uma coisa dessas? Entendo que ele não goste de mim, mas será que não me conhece depois de todos esses anos?
— Tenho certeza de que ele não pensa assim — afirmou Demetria, sentindo pena da madrasta. Nunca havia visto Taylor tão vulnerável. Tampouco havia se dado conta de como ela era infeliz. Nunca parara para pensar a razão de ela não ter tido filhos. Ou se ela teria realizado seus sonhos de infância. Tudo indicava que ela tivera uma vida de criança muito feliz e não conseguiu lidar muito bem com os desapontamentos da vida adulta.
— Pois ele me acusou na cara e me avisou que, se alguma coisa acontecesse a você, ele faria com que eu fosse enforcada.
— Tenho certeza de que ele não falou de coração. Pelo que entendi, os homens concluíram que deve ser alguém que está aqui agora e que também esteve na cidade. A lista é bem curta.
— E eu estou nela — Taylor murmurou, recostando-se na cadeira com um suspiro. — Creio que de seu pai só vou ganhar desprezo.
Demetria ficou em silêncio por um momento.
— Taylor, se minha mãe estivesse certa e somos nós que escolhemos ser felizes... quero dizer, se você não ficasse sempre se queixando e tornando difícil a vida das outras pessoas, talvez meu pai encontrasse um caminho de volta para você.
Taylor olhou a esmo por um momento, depois dirigiu um olhar angustiado para Demetria.
— Por falar em tornar as pessoas infelizes... por que você está sendo tão gentil comigo quando eu sempre me portei tão mal com você.
Demetria franziu o cenho.
— Percebi agora que eu fui uma criança egoísta no que diz respeito a você. Nunca me passou pela cabeça que você pudesse querer ter filhos ou que meu pai não era perfeito. Eu intuía que você era infeliz, mas simplesmente achava que era porque você queria. Na verdade, nunca tentei entender direito. — Ela ficou pensativa por um momento e depois disse com sinceridade: — Me perdoe, Taylor. Me perdoe por suas decepções e me perdoe por não ter tomado conhecimento mais cedo.
— Você era uma criança — Taylor justificou-a. — Eu não. Deveria ter sabido lidar melhor com as decepções. Se eu tivesse tido meus próprios filhos, provavelmente ficaria grata por poder ser mãe também para você. Na manhã em que você foi envenenada, quando passava pelo corredor em frente ao seu quarto para descer, ouvi lady Mowbray comentar com você que sempre quisera ter uma filha e gostaria de ser uma mãe para você. — A expressão de Taylor tornou-se triste. — Esse papel eu é que deveria ter feito. — O olhar de Taylor externava grande arrependimento. — Me desculpe, Demetria. Gostaria de poder começar tudo de novo. Se pudesse, faria tudo de maneira diferente. Seria sua amiga e procuraria ser realmente uma mãe para você.
— Nunca é tarde. Podemos começar de novo e ser amigas — Demetria prontificou-se. — Eu gostaria.
Taylor deu um sorriso inseguro.
— De verdade? Depois de todas as coisas horríveis que lhe fiz? Você pode mesmo me perdoar e começar de novo?
Demetria fez um aceno com a mão.
— Você não foi tão horrível, Taylor. A maioria das vezes você foi implicante e, por isso, eu a evitava. Foi só em Londres mesmo que você se tornou intolerante. Contudo, isso me levou a encontrar e me casar com Joseph, portanto não posso me queixar, não é? Sou muito feliz com ele.
Um leve sorriso brotou dos lábios de Taylor.
— Fico contente de que você seja feliz, Demetria. Vejo que seu marido é atencioso, gentil e cuidadoso com você. Acho que tudo isso compensa de sobra aquela cicatriz repugnante.
Demetria ficou surpresa. Realmente não entendia aquela fixação de todos com a cicatriz. Fazia parte dele, como uma orelha ou um dedo. E a seu ver dava até uma certa personalidade ao rosto de Joseph, mas Taylor obviamente a achava medonha.
Balançando a cabeça, Demetria disse:
— Estou pensando em ir até o vilarejo hoje. Gostaria de ir comigo?
Taylor reagiu qual uma criança a quem tivesse sido oferecida uma guloseima inesperada.
— De verdade?
— Sim. — Demetria riu ao ver a expressão dela. — Se vamos nos tornar amigas, precisamos fazer algumas coisas juntas, não é?
— Creio que sim — a madrasta concordou, exultante. — A que horas vamos?
— Agora mesmo, se você quiser. Já acabei de comer.
Taylor pôs-se em pé no mesmo instante.
— Vou pegar algumas moedas em meu quarto para o caso de encontrarmos alguma coisa para comprar. — Ao se dirigir à porta, ela parou e se voltou para perguntar a Demetria: — Vamos de carruagem ou a pé?
— Acho que podemos caminhar — Demetria propôs, levantando-se e juntando-se à madrasta perto da porta. — Não é muito longe... a menos que você prefira ir de carruagem.
— Não, não, uma caminhada vai nos fazer bem.
Ao cruzarem o hall, uma Taylor animada não parava de falar. Demetria sorriu e lamentou não tê-la confrontado antes. Podiam ter tido aquela conversa muito tempo atrás. Talvez tivessem se tornado grandes amigas.
— Demetria!
Demetria sobressaltou-se ao ouvir a voz do marido atrás dela. Imediatamente tirou os óculos do rosto e enfiou no bolso da saia. Ela percebeu o olhar espantado que Taylor lhe dirigiu, mas o ignorou e voltou-se para Joseph.
— Olá, querido.
— Onde vocês pretendem ir? — ele perguntou preocupado, olhando de uma para a outra.
— Só vou subir e pegar algumas moedas — disse Taylor, afastando-se. — Não vou levar nem um minuto.
Demetria observou o vulto da madrasta desaparecer na escadaria e explicou ao marido:
— Vou ao vilarejo para ver algumas coisas.
— Não com Taylor?
Demetria suspirou, sabendo que teria trabalho para convencê-lo.
— Sei que você acha que ela é a responsável pela torta envenenada, milorde. Mas nós duas tivemos uma longa e muito boa conversa esta manhã, e eu tenho certeza de que não foi ela. Taylor sente-se infeliz e, por isso, quer ver os outros infelizes também, mas não é ela que está tentando me matar.
— Demetria ...
— Joseph, você tem de acreditar. Ela não é a culpada Aposto minha vida que não.
— Você está apostando sua vida mesmo. E eu não vou aceitar isso. Me recuso a deixar que você vá ao vilarejo sozinha com ela.
Demetria estreitou os olhos para poder ver melhor a expressão de pânico do marido e deu um largo sorriso. Ficando na ponta dos pés, ela o beijou de leve nos lábios.
—Você fica tão lindo bravo e mandão, milorde. Verdade. Me dá até vontade de levá-lo para cima e atirá-lo na cama.
A tensão de Joseph esmoreceu um pouco e um pequeno sorriso brincou em seus lábios.
— Atirar-me na cama, hein? — Ele envolveu-a pela cintura. — Estou disposto a sacrificar algum tempo para esse projeto se você for persuasiva.
— Quão persuasiva? — Demetria acariciou os lábios dele com a língua.
Joseph ganiu e agarrou-a pela nuca, não deixando que ela se afastasse ao tentar beijá-la.
Demetria passou os braços em volta do pescoço do marido, e arfou quando as mãos dele agarraram suas nádegas e a ergueram um pouco para que seus corpos roçassem um no outro eroticamente. Então o som de passos que desciam rapidamente as escadas fez com que os dois parassem de se beijar. Relutante, Joseph abaixou Demetria até que ela tivesse os pés novamente no chão. Nesse instante, Taylor surgiu ao lado deles.
— Estou pronta — disse a madrasta em tom alegre e parou, com os olhos arregalados, ao perceber o que havia interrompido.
— Nossa... — ela balbuciou.
— Também estou pronta — Demetria afirmou, soltando-se do abraço do marido e indo se juntar a Taylor.
— Vamos. Lucy disse que há uma encantadora casa de chá no vilarejo que serve biscoitos e doces finíssimos.
— Demetria ... — Joseph começou a dizer, mas ela simplesmente abriu a porta e deu passagem para que Taylor saísse primeiro.
— Voltamos logo — avisou alegre, seguindo a madrasta e fechando a porta.
Joseph viu apavorado a porta se fechar atrás da esposa. Apesar da conversa que tivera com Demetria, antes do casamento, sobre ela obedecê-lo, ele não podia acreditar que sua autoridade fosse desacatada com tanta indiferença... e em um assunto de tanta importância.
Irritado, cruzou o hall, gritando:
— Frederick! Frederick!
— Pois não, milorde. — O rapaz, que ficava o tempo todo perto de Demetria, não estava muito distante e logo apareceu por uma outra porta do hall.
— Reúna mais três criados e siga sua patroa e a madrasta. Fique de olho nas duas o tempo todo. Se aquela senhora fizer qualquer mínimo gesto que você julgue ameaçador, tem minha permissão para interceptá-la. Está claro?
— Está, sim, milorde.
Joseph observou o rapaz se afastar para cumprir sua ordem e permaneceu no hall, andando de um lado para outro. Gostaria de ter ido atrás das duas mulheres ele mesmo, mas havia combinado com lorde Lovato de se encontrarem com Hadley pela manhã para delinear um plano de ação. Talvez ele devesse segui-las mesmo, pensou. De que lhes valeria um plano de ação se Taylor já tivesse assassinado Demetria.
Decidido, atravessava o hall apressado para solicitar uma carruagem quando topou com Kibble que deixava o salão por uma das extremidades do hall.
— Não é lady Lovato a culpada — o mordomo foi logo dizendo.
Joseph inclinou a cabeça de lado.
— Você parece muito seguro disso.
— E estou. Pelo que você havia me dito e pelo que presenciei quando lady Demetria cumprimentou lorde e lady Lovato ao chegar aqui, eu concluí que a madrasta era a mais provável suspeita. Coloquei então dois lacaios para observá-la. Desde então eles a seguem por toda parte e garantem que não foi ela que colocou a torta envenenada o quarto de sua esposa.
Joseph precisou se apoiar na parede ao seu lado, pois sentiu as forças lhe faltarem por causa do súbito alívio. Ele não duvidou por um segundo da informação de Kibble. Nem sequer ficou surpreso de que tivesse mandado vigiar Taylor. Ele sempre fora um homem de iniciativa.
— Estou satisfeito que não seja ela — Kibble acrescentou. — Lady Demetria e a madrasta tiveram uma ótima conversa esta manhã. Acho que agora poderão se tornar mais amigas. Isso vai ajudar lady Taylor a se sentir menos infeliz.
— Você esteve ouvindo atrás da porta, Kibble!
Kibble deu de ombros:
— Você recomendou que vigiássemos lady Demetria, não foi? Só estava seguindo suas instruções.
Joseph sorriu. Soltando um suspiro, se voltou e cruzou novamente o hall para ir a seu escritório, ciente de que Kibble o seguia.
— Sei que o Sr. Hadley, lorde Lovato e você vão se encontrar para montar uma estratégia. Gostaria de estar presente, se você não se importar — comentou Kibble enquanto Joseph se sentava à escrivaninha.
— Tudo bem — Joseph concordou, dirigindo o olhar pela janela. — Combinamos de nos reunir quando o Sr. Hadley voltar do vilarejo.
— Do vilarejo? — Kibble estranhou.
— Ele recebeu um recado hoje cedo e disse que precisaria ir até lá para tratar de alguma coisa. Imagino que logo deva estar de volta.
— Muito bem. — Kibble se encaminhou à porta e então parou e disse: — Sei que você não simpatiza nada com lady Taylor por causa da maneira como tratava sua esposa, mas acho que deve dar a ela uma nova chance.
— Vou pensar no assunto, Kibble. Só o tempo dirá se ela realmente merece essa chance. Vamos ver como vai se portar daqui em diante.
Assim que o mordomo saiu do escritório, Joseph girou a cadeira e ficou de frente para a janela.
Embora contente pela esposa de que a madrasta estivesse fora de suspeita, a situação se complicava um pouco, pois a lista de nomes diminuía. E ele preferia pensar que fosse Taylor do que, por exemplo, Mikey, que agora passava a ser o suspeito mais provável.
Bastante preocupado, Joseph deixou que seu olhar vagasse através da janela, mas não eram as colinas ou as árvores que ele contemplava. Estava se recordando de Mikey quando os dois eram crianças, brincavam de pega-pega, faziam travessuras e riam muito. Estava se recordando do primo jovem, de olhos brilhantes ao falar de uma nova aventura que os dois deveriam experimentar. Pensava no primo como um homem adulto, como um possível assassino que tentava tirar a vida de sua mulher.
— Filho, o que você está fazendo?
Voltando-se para a porta, Joseph demonstrou surpresa ao ver lady Mowbray.
— O que há, mãe?
— Vim apenas lhe dizer que estou indo embora.
— Indo embora? — ele perguntou, confuso. — Mas a senhora acabou de chegar.
— Pois é, mas parece que Demetria e Taylor se entendem pela manhã e estão tentando consertar seu relacionamento. Não quero me interpor entre elas. Vou fazer uma visita aos Wyndhams e voltarei assim que lady e lorde Lovato partirem.
— Está bem, se a senhora acha melhor, mas quem lhe disse que elas haviam se entendido? Kibble?
— Não, a própria Demetria.
Joseph dirigiu um olhar surpreso à mãe.
— Demetria? Mas ela acabou de ir ao vilarejo.
— Elas foram bem cedo ao vilarejo e há quase uma hora estão de volta. E você, por que está aqui trancafiado a manhã toda?
Joseph teve um estremecimento, espantando-se por ter passado tanto tempo meditando. Olhou desanimado pela janela. O tempo não havia sido desperdiçado. Conseguira chegar a uma decisão. Mikey era como um irmão para e, já era difícil imaginar que pudesse fazer mal a alguém, quanto mais a Demetria. Mas ele precisava ter certeza disso, de uma maneira ou de outra. Precisava confrontar o primo o mais breve possível e descobrir a verdade por si mesmo.
— Joseph — disse lady Mowbray —, espero que você não impeça a amizade delas. Poder contar uma com a outra será bom para ambas.
— Só vou interferir se Taylor se comportar como antes — disse ele, automaticamente.
— Assim que deve ser — respondeu a mãe satisfeita, calando-se por um momento. Então ela caminhou e se interpôs entre o filho e a janela, bloqueando a visão dele e forçando-o a prestar atenção a ela. — Acho que seria gentil se você me acompanhasse até a porta.
— Claro, minha mãe. Me desculpe. — Levantando-se rapidamente, ele pegou-a pelo braço e caminharam até a porta do escritório. — Também preciso sair. Nos vemos lá fora.
Demetria aguardava ansiosa à porta. Podia ouvir que o marido e a sogra se aproximavam, conversando. Com um sorriso contido no rosto, ela procurou não apertar as mãos nervosamente quando eles se juntaram a ela.
— Aqui está ela! — exclamou lady Mowbray, com um sorriso, abraçando Demetria e depois afastando-a para dizer: — Vou sentir sua falta, querida. Você tem de obrigar Joseph a levá-la para Londres assim que ele acabar com esse assunto por aqui.
— Faremos isso, milady — respondeu Demetria, nem um pouco animada ante a perspectiva de voltar a frequentar a sociedade, mesmo de óculos.
Pela expressão de lady Mowbray, ela demonstrou ter compreendido, mas simplesmente sorriu e deu um tapinha nas costas de Demetria, voltando-se novamente para o filho.
— Dê um beijo em sua mãe, querido.
Inclinando-se Joseph a beijou distraído, parecendo nem notar a frase que habitualmente o incomodava.
De sobrancelhas erguidas interrogativamente, a mulher mais velha olhou para a nora sobre os ombros do filho. Demetria também não havia entendido a razão de ele não ter reagido à provocação materna. Então Joseph tomou a mãe pelo braço e rapidamente a acompanhou até a carruagem.
Depois de instalá-la e fechar a porta, ele bateu duas vezes na lateral do veículo e deu uns passos para trás. O cocheiro imediatamente chicoteou os cavalos e a carruagem começou a andar. Lady Mowbray acenou e dirigiu um olhar preocupado para eles, como se intuísse que alguma coisa estava errada com o filho.
Demetria só poderia concordar com a sogra. Definitivamente, havia algo errado, pois Joseph voltou-se de maneira brusca e caminhou em direção ao estábulo sem dizer uma palavra a ela. Nem sequer notara que ela estava usando os óculos.
Demetria e lady Mowbray haviam juntas planejado o esquema de ela aparecer de óculos para o marido. As duas haviam conversado pouco depois de Taylor e ela chegarem do vilarejo. Foi depois dessa conversa que lady Mowbray decidira fazer uma pequena visita, prometendo retornar em alguns dias. Mas, para ficar sossegada de que tudo estaria bem, pedira a Demetria que aparecesse de óculos para Joseph, antes de sua partida. Embora relutante, Demetria concordara e ambas decidiram que ela aguardasse de óculos à porta da frente para que o marido a visse quando a mãe estivesse indo embora.
Entretanto, o bobo havia estragado todos os planos. Ele nem havia percebido os óculos. Na realidade, aparentemente ele nem notara sua presença ali, o que não era nada usual. Estava distraído demais. E, pela expressão do rosto dele, algum mau pensamento perturbava sua mente.
Demetria levantou um pouco as saias e saiu correndo atrás dele.
— Joseph?
— O que é, meu amor? — ele perguntou aéreo, sem diminuir os passos.
Ela gostou de ouvir o termo carinhoso, mas simplesmente perguntou:
— Há algo errado?
— Não, nada — ele negou, chegando ao estábulo, e logo começou a selar um cavalo.
— Então aonde você está indo?
— Tenho de ir até Wyndham.
— Wyndham, seus vizinhos?
— Nossos vizinhos — Joseph a corrigiu.
— Nossos vizinhos! Mas por que precisamos ir até lá?
Ao perceber a hesitação do marido para responder, Demetria agarrou o braço dele e fez com que ele a encarasse.
— O que está acontecendo?
— Nada — ele respondeu, desviando o olhar para o cavalo.
Demetria sacudiu o braço dele impaciente.
— Então por que estamos indo ver Mikey?
Joseph ficou em silêncio por um instante, depois voltou vagarosamente o olhar para ela.
— Você sabia que ele está lá?
— Sabia.
— Como?
— Nós o encontramos no vilarejo e ele nos disse.
— Meu Deus, ele poderia tê-la matado — Joseph murmurou de dentes cerrados. — Demetria, não quero que você ande mais sozinha por aí.
— Eu não estava sozinha, milorde, estava com Taylor e pelo menos quatro criados nos seguindo na ida e na volta do vilarejo — ela argumentou, secamente. — E, por favor, não comece a desconfiar de Mikey também. Sei que Hadley desconfia dele, mas acho que você tem mais bom senso. Mikey jamais faria mal a alguém.
Joseph soltou um suspiro impaciente.
— Kibble colocou homens para vigiar Taylor desde que ela chegou. Segundo eles, não foi ela quem envenenou a torta, o que nos deixa com apenas um suspeito.
— Mikey!? — Ela meneou a cabeça. — Não acredito.
— Também não acreditei de início, mas, de acordo com Hadley, ele está precisando de dinheiro e seria meu herdeiro, se você não estivesse por perto. Além disso, ele é a única pessoa que está aqui e esteve em Londres na mesma época que nós. E Wyndham fica a apenas meia hora de distância, sendo muito fácil se infiltrar em casa e deixar a torta ao lado de sua cama. — Virando-se, ele cingiu a sela e recomendou:
— Não saia de casa até eu voltar.
Sem esperar resposta, Joseph tirou o cavalo do estábulo, montou-o e rumou para Wyndham.
Demetria o observou partir, preocupada. Ela não acreditava de jeito algum que Mikey estivesse por trás de todos os seus acidentes. Joseph só podia estar perturbado. Por Deus, nem sequer notara que ela estava usando os óculos.
Era uma estupidez estragar uma amizade de infância, ela lamentou, retornando à casa com as palavras de Joseph ecoando-lhe na cabeça.
Ele é a única pessoa que está aqui e esteve em Londres na mesma época que nós. Era isso o que os homens comentavam quando ouvira a conversa deles na biblioteca. Taylor também estivera nos dois lugares. Ainda bem que não havia prova alguma contra ela. E Mikey havia sempre sido muito gentil com ela todas as vezes que haviam se encontrado antes do casamento e mesmo naquela manhã, no vilarejo.
Não, pensou, convencida. Deve haver outra pessoa. Alguém.
Demetria diminuiu os passos de repente. Um pensamento lhe assaltou a mente. E havia mesmo. Mas não, refletiu imediatamente, não poderia ser. Ou será que poderia?
Demetria entrou em casa e se dirigia ao quarto, mas resolveu mudar de direção e foi para a biblioteca. Precisava pensar a respeito.
— Primo! — Mikey entrou no salão onde Joseph o aguardava, com um largo sorriso de boas-vindas no rosto. — Pensei que você fosse estar ocupado demais com sua mulher para visitas, senão eu mesmo teria ido vê-lo.
— Estou com a casa cheia de hóspedes no momento. Um a mais não faria diferença.
— Na verdade, eu sabia disso e achei que vocês não precisassem de mais um.
— Como você ficou sabendo?
O olhar de Mikey mostrou surpresa diante do tom áspero de Joseph.
— Tia Isabel havia acabado de chegar alguns minutos antes de você e comentou comigo. Aliás, eu a acompanhava até o quarto quando o mordomo de lorde Wyndham subiu para anunciar sua chegada.
— Ah... — Joseph ponderou que se Mikey estivesse rondando Mowbray nos últimos dias, ele saberia que havia visitas lá, de outra maneira...
— Então, a que devo sua visita? — Mikey perguntou, sentando-se na cadeira ao lado do primo. — Você precisa de alguma ajuda com sua esposa? Algum conselho para conquistá-la ou algo assim? Estou à sua disposição, como sempre.
Joseph apertou os lábios. Não dava para acreditar que aquele homem estivesse tentando assassinar Demetria. Só um cantinho de sua mente ainda tinha alguma dúvida e essa era a razão de estar ali. Precisava esclarecer.
— Mikey, na noite do baile de Lovato — Joseph perguntou de chofre, surpreendendo o primo.
— O que tem o baile?
— Não foi você que deu aquele bilhete para o menino entregar a Demetria, foi?
— Claro que não. Pois se fui ao baile para falar com ela pessoalmente para ir ao seu encontro, como havíamos planejado. Por que enviaria também um bilhete? — Mikey fez uma pausa, pensativo. — Sabe que teria sido uma boa ideia. Teria me poupado a ida àquele baile que, por sinal, estava bem maçante, ainda que eu tenha ficado por tão pouco tempo lá.
— A que horas você saiu?
— Pouco depois que falei com você. Bem, um pouco depois disso por que tive dificuldade de encontrar Jeevers. Assim que o encontrei, avisei que estava indo embora e fui. Fui para o Staudt e perdi uma pequena fortuna lá.
Joseph sabia que Staudt era uma casa de jogo bastante suspeita.
— Você foi sozinho?
— Não. Passei no caminho pela casa de Thoroughgood e ele foi comigo. Mas por que todas essas perguntas, Joseph? — Mikey estranhou.
Mikey comprimiu os lábios ao ver que Joseph hesitava e disse, calmamente:
— Tia Isabel me contou que Demetria foi envenenada outro dia. Acho que isso significa que você estava certo ao pensar que alguns dos acidentes foram atentados contra a vida dela.
Joseph deu de ombros e evitou o olhar do primo.
— Ela também me disse que você, Hadley e lorde Lovato estão tentando descobrir quem é o responsável pelos “acidentes” de Demetria e que concordam no ponto de que deve ser alguém que esteve com vocês em Londres e está aqui agora.
Joseph se movimentou, desconfortável, na poltrona em que estava sentado.
— Como eu — Mikey comentou e, ao ver que Joseph se sentiu acuado com o comentário, deu um pulo da poltrona, pondo-se em pé. — Você desconfia de mim!
— Não gostaria de desconfiar — Joseph assegurou, prontamente —, mas como você mesmo disse, se Hadley afirma que foi alguém que esteve lá e aqui...
— Muito obrigado — disse Mikey, mostrando-se magoado. — Depois de tudo o que fiz para ajudar vocês, sem falar de todos os nossos anos de convivência... e ouvir que você me julga um louco assassino?
— Não sou eu que estou julgando, Mikey...
— Por que cargas d’água eu haveria de querer assassinar Demetria? Será que Hadley não parou para pensar que eu não teria motivo algum?
— Na realidade, ele acha que você teria.
Mikey piscou confuso e perguntou incrédulo:
— Deus, que motivo eu poderia ter?
— Ele ouviu rumores de que você tem tido problemas financeiros.
Mikey deu uma risada de desdém.
— É só isso mesmo: rumores. E fui eu mesmo que espalhei. Mas isso seria um motivo para eu querer matar sua mulher?
— Com Demetria viva, você não seria meu herdeiro.
— Na verdade, seria mais provável eu pensar em matar você e me casar com ela, se eu tivesse qualquer intenção. Desde que a vi, fiquei encantado com ela. Se a tivesse conhecido melhor para saber que não era por vaidade que ela não usava os óculos e não tivesse havido aquele incidente com o chá, talvez eu estivesse casado com ela hoje. Joseph fechou a cara ao ouvir do primo a sugestão de que poderia estar casado com Demetria e então perguntou, em tom bravo:
— Por que você soltaria o boato de que está em má situação financeira?
Mikey ficou sem-graça e foi a vez de ele evitar o olhar do primo.
— Estou interessado em uma certa lady que apareceu nesta temporada. Ouvi dizer, porém, que ela é uma interesseira. Por isso, comentei aqui e ali que estava em dificuldade para testá-la.
— Verdade, mesmo? — Joseph perguntou, surpreendendo-se ao ver o constrangimento do primo. Tudo indicava que Mikey estava seriamente interessado pela mulher em questão. — Quem é ela?
— Mudemos de assunto, vamos falar sobre Demetria e seu provável assassino.
Joseph concordou com a cabeça. Seu primo estava certo. Poderiam falar sobre a vida amorosa dele em outra ocasião.
— Se não é Taylor, e nem eu... Eu lhe asseguro que não sou eu. — Dirigiu um olhar frio ao primo. — A propósito, você pode perguntar a Thoroughgood sobre aquela noite e ele vai confirmar que eu estava bem distante de Lovato quando o fogo começou. E você também tem minha permissão para perguntar ao meu contador sobre minha verdadeira situação financeira.
— Não há necessidade — Joseph murmurou, constrangido de tê-lo acusado. Ele deveria ter acreditado em sua intuição. Mikey não era o suspeito.
— Sei — Mikey resmungou, contrariado. — Parece que há, sim, ou você não teria vindo até aqui para me investigar.
— Veja, realmente não acreditava que fosse você, mas precisava ter certeza. Peço que me perdoe.
— De qualquer maneira — Mikey o interrompeu —, como eu ia dizendo, se é certo que não é Taylor e eu sei que não sou eu, quem pode ser?
Joseph suspirou.
— Só restam os criados, ou alguém que nem imaginamos que seja.
— Você disse os criados?
— Disse — Joseph confirmou. — Embora nenhum tenha motivo.
— Bem, nem eu tinha, mas você desconfiou de mim — Mikey disparou.
— Não se zangue comigo por causa disso. Afinal, foi você o idiota que saiu por aí dizendo que estava quebrado e dando motivo para suspeita. Não eu.
Mikey bufou.
— Voltemos aos criados.
Joseph balançou a cabeça.
— Como eu disse, não temos motivo para suspeitar de nenhum deles. Além disso, temos uma criadagem aqui e outra na cidade. Os únicos que trabalham nos dois lugares são Keighshley e Joan.
— Joan é a criada pessoal de Demetria, não é?
Joseph fixou o olhar nele.
— O que você está insinuando? Conheço bem essa sua expressão.
— Nada, nada. Provavelmente estou enganado — alegou Mikey, aborrecido por não conseguir controlar suas expressões.
— Por favor, Mikey, me diga o que quer que tenha lhe passado pela cabeça. Mesmo que seja uma bobagem. — Joseph impacientou-se.
— É que na noite do baile de Lovato quando eu entrei na casa novamente... eu lhe disse que demorei um pouco para encontrar Jeevers.
— Sim, disse. E aí?
— Quando o encontrei e avisei que já estava indo, ao passar pelo hall Demetria e a criada estavam descendo a escadaria e voltando ao baile. — Mikey hesitou um pouco e depois disse: — A criada me lembrou alguém, é só isso, mas não poderia ser ela.
— Não poderia ser quem? Quem ela o lembrou?
— Uma atriz que vi várias vezes no palco — disse Mikey finalmente e acrescentou: — Mas não poderia ser ela. Soube que ela havia falecido em um incêndio.
— Em um incêndio? — Uma campainha pareceu soar no fundo da cabeça de Joseph, ativando sua memória. — Qual era o nome dessa atriz?
— Molly Fielding — respondeu Mikey, e Joseph deu um soco no braço da poltrona em que estava sentado. No mesmo minuto, pôs-se em pé e caminhou até a porta.
— Ei! — Mikey correu atrás dele. — Onde é que você está indo?
— Você se lembra do nome do homem que raptou e enganou Demetria para se casar com ela quando adolescente? — Joseph perguntou, enquanto atravessava o hall. Sua voz estava embargada.
— Capitão Fielding — respondeu Mikey, seguindo Joseph que saía da casa e se dirigia ao estábulo.
— Segundo consta, o capitão Fielding estava com uma irmã quando a encontraram na estalagem e viajaram com ela para vários lugares até chegar a Gretna Green.
— Pode ser uma coincidência — Mikey alertou o primo. — Eu disse que a criada se parecia com Molly Fielding, pois, como lhe disse, essa Molly sumiu de cena porque morreu no incêndio.
— Essa Molly Fielding deve ser a irmã do capitão Fielding porque Hadley comentou que a irmã dele havia morrido em um incêndio — Joseph insistiu.
Eles já haviam chegado ao estábulo, e Joseph caminhou toda a extensão das baias à procura do local onde havia deixado o cavalo.
— Muito bem — Mikey admitiu. Ele havia parado junto à segunda baia e a abrira para deixar seu cavalo sair. — Mas se você mesmo diz que ela morreu, como a empregada de Demetria poderia ser Molly?
— Não sei, mas as peças se encaixam — disse Joseph ao finalmente encontrar o próprio cavalo. Ele conduziu o animal para fora, emparelhando-o com o de Mikey, para colocar a sela. — Ela estava em Londres e veio para cá, tem acesso ao quarto de Demetria e foi ela que tirou Demetria do baile para receber meu suposto bilhete.
— Mas naquela ocasião não foi você quem disse que, dentre todos, ela saberia que Demetria não poderia ler o recado. Por que enviaria então?
— Não sei — Joseph confessou. — Possivelmente por isso mesmo. Ela sabia que Demetria não conseguiria ler sem os óculos e ninguém iria desconfiar que ela faria isso. Eu mesmo não desconfiei dela. Além disso, seria fácil para ela marcar a hora em que o bilhete deveria ser entregue e estar por perto. Ah, como ela foi prestativa em toda essa circunstância.
— Mas como Demetria não a reconheceria, homem? — Mikey questionou.
— Sem os óculos, ela não enxerga nada bem, não é? E acredito que Joan não esteja há muito tempo com ela.
Demetria comentou alguma coisa sobre sua criada aqui no campo... chamava-se Violet. Havia sido criada da mãe e estava muito idosa para ficar indo e vindo entre o campo e a cidade. Ela se aposentou quando Demetria foi para Londres. — Ele meneou a cabeça. — Demetria provavelmente nunca viu Molly com os óculos. Ela...
— O que foi? — Mikey perguntou, quando o primo parou de repente.
— Parece que as coisas vão mesmo fazendo sentido. Taylor havia encomendado óculos novos para Demetria antes do casamento. Creio que chegaram na véspera e Joan subiu correndo para entregá-los a Demetria. A versão de Demetria é que acidentalmente bateu na mão da criada que os deixou cair. Agora me pergunto se foi mesmo a mão de Demetria que os fez cair, ou se isso foi o que Joan disse. Quem garante que não foi ela que os atirou para que se quebrassem e para que Demetria não pudesse vê-la e reconhecê-la.
— Hum. Parece possível. Mas por que Joan, ou melhor, Molly iria querer a morte de Demetria?
— Fielding morreu na prisão — Joseph lembrou-o. O dois conduziram os cavalos para fora do estábulo. — Talvez ela culpe Demetria, afinal ele foi preso pelo que fez minha mulher.
— Que droga! — Mikey exclamou ao montarem nos cavalos. — É como digo sempre. É tão difícil encontrar gente de confiança hoje em dia. Já é ruim o bastante quando tentam nos roubar, mas agora temos de nos preocupar que tentem nos matar?
Joseph blasfemou, depois bateu com os saltos no animal para rapidamente cavalgar para casa. Sentia-se reconfortado de que o primo o tivesse perdoado a ponto de acompanhá-lo. Estava tão bravo naquele momento que poderia matar a criada com as próprias mãos. Se ela tivesse tocado em um único fio do cabelo de Demetria enquanto estava ausente, era o que faria. Nem mesmo Mikey seria capaz de detê-lo.






sorry demora, ando meio que ocupada.
esta acabando essa historia e a proxima tambem é adaptada, so preciso decidir qual
bjemi