terça-feira, 29 de maio de 2018

O Diário Secreto da Senhorita Demetria Cheever Capitulo 6


—Mikey estará aqui em seguida. —Selena entrou majestosamente no salão rosado com aquela declaração, oferecendo a Demetria um de seus sorrisos mais alegres.
Demetria elevou a vista de seu livro, uma manuseada e decididamente nada glamorosa copia de Morte d'Arthur que pegou emprestada da biblioteca de Lorde Rudland.
—Sério? — murmurou, mesmo sabendo muito bem que era esperado que Mikey chegasse àquela tarde.
—Sério? — imitou Selena. —Isso é tudo o que pode dizer? Perdão, mas tinha a impressão de que estava apaixonada pelo garoto, oh, me desculpe, agora é um homem, não é assim?
Demetria voltou para sua leitura.
—Disse que não estava apaixonada por ele.
—Bom, pois deveria estar — replicou Selena. — E estaria, se te dignasse há passar algum tempo com ele.
Os olhos de Demetria, que estavam se movendo com determinação pelas palavras da página, detiveramse de repente. Elevou a vista.
—Perdão, mas, não está em Oxford?
—Bom, sim — disse Selena, tirando importância do comentário com um movimento da mão como se as sessenta milhas de distância não tivessem transcendência, — mas esteve aqui na semana passada, e quase não ficou com ele.
—Isso não é verdade — replicou Demetria. — Demos um passeio a cavalo pelo Hyde Park, fomos ao Gunter tomar sorvete, e inclusive tomamos um barco pelo Serpentine aquele dia em que fez tanto calor.
Selena se deixou cair em uma cadeira próxima, cruzando os braços.
—Não é suficiente.
—Ficou louca — disse Demetria. Agitou ligeiramente a cabeça e a virou de volta a seu livro.
—Sei que vai querer Mikey. Só precisa passar um pouco de tempo na companhia dele.
Demetria apertou os lábios e manteve os olhos firmemente sobre o livro. Aquela não era uma conversa que pudesse chegar a nada sensato.
—Estará aqui só durante dois dias — meditou Selena. — Vamos ter que trabalhar rápido.
Demetria passou a página de repente e disse:
—Faz o que quiser Selena, mas não tomarei parte em suas intrigas. —Então elevou a vista com alarme. — Não, mudarei de ideia. Não faça o que quiser. —e deixasse as coisas em suas mãos, terminarei drogada e de caminho a Gretna Green antes de me dar conta.
—Uma ideia intrigante.
—Livvy, nada de se fazer de casamenteira. Quero que me prometa isso.
A expressão de Selena se tornou maliciosa.
—Não farei uma promessa que talvez não possa manter.
—Selena.
—OH, muito bem. Mas não pode parar Mikey se ele tiver em mente se fazer de casamenteiro. E a julgar por seu atual comportamento, bem que poderia ser.
—Enquanto você não interfira...
Selena sorveu pelo nariz e tentou parecer ofendida.
—Dói que pense sequer que eu faria uma coisa assim.
—OH, por favor. —Demetria voltou para o livro, mas era quase impossível concentraremse na trama quando sua mente estava continuamente contando para trás... Vinte... Dezenove... Dezoito...
Certamente, Selena não seria capaz de ficar em silencio durante mais de vinte segundos.
Dezessete... Dezesseis...
—Mikey seria um marido encantador, não acha?
Quatro segundos. Era extraordinário, inclusive para Selena.
—Obviamente é jovem, mas nós também somos.
Demetria a ignorou cuidadosamente.
—Adam provavelmente também teria sido um bom marido se Camille não tivesse aparecido e o arruinado.
Demetria levantou a cabeça de repente.
—Não acha que esse é um comentário bastante desagradável?
Selena lhe dirigiu um pequeno sorriso.
—Sabia que estava me escutando.
—É quase impossível não fazêlo — murmurou Demetria.
—Só estava dizendo que... —Selena elevou o queixo, e seu olhar se moveu para a entrada a costas de Demetria. — E aqui está ele. Que coincidência.
—Mikey — disse alegremente Demetria, virando no assento para poder dar uma olhada por cima do encosto do sofá. Exceto que não era Mikey.
—Sinto decepcionála — disse Adam, uma das comissuras de sua boca se retorceu em um preguiçoso e extremamente suave sorriso.
—Sinto muito — resmungou Demetria, sentindose inesperadamente tola. — Estávamos falando dele.
—Também estávamos falando de você — disse Selena. — Recentemente, de fato, por isso fiz alguns comentários a sua entrada.
—Coisas diabólicas eu espero.
—OH, é obvio — disse Selena.
Demetria arrumou para sorrir apesar de ter os lábios fechados enquanto ele se sentava a seu lado.
Selena se inclinou para frente e descansou o queixo coquetemente sobre a mão.
—Estava dizendo a Demetria que achava que seria um marido horrível.
Ele pareceu divertido enquanto se reclinava para trás.
—É bastante certo.
—Mas estava a ponto de dizer que com a formação adequada — continuou Selena— poderia se reabilitar.
Adam ficou de pé.
—Vou.
—Não, não vá! —gritou Selena rindo. — É obvio, só estou tirando o sarro. Já é muito tarde para te redimir. Mas Mikey... Bom, Mikey é como um pedaço de argila.
—Não direi a ele que disse isso — murmurou Demetria.
—Não diga que não está de acordo comigo. —Provocou Selena. — Não teve tempo de ficar horrível, como fazem o resto dos homens.
Adam olhou a irmã com manifesto assombro.
—Como é possível que esteja aqui sentado te escutando dar um sermão sobre como dirigir os homens?
Selena abriu a boca para replicar, algo inteligente e engenhoso, com certeza mas justo então apareceu o mordomo na entrada e o economizou a todos.
—Sua mãe requer sua companhia, Lady Selena.
—Voltarei — advertiu Selena enquanto saía excitada do aposento. — Estou impaciente para terminar esta conversa. —E então, com um sorriso travesso e uma sacudida de seus dedos, foi.
Adam suprimiu um gemido, sua irmã seria a morte de alguém, só esperava que não fosse á dele e olhou Demetria. Parecia um novelo sobre o sofá, os pés sob o corpo e um enorme e poeirento livro no colo.
—Uma leitura densa? —murmurou ele.
Ela elevou o livro.
—OH — disse ele, os lábios crisparam.
—Não ria — advertiu ela.
—Nem em sonhos.
—Tampouco minta — disse ela, sua boca assumiu aquela expressão de tutora que parecia saber fazer tão bem.
Ele se recostou para trás com um risinho.
—Bom isso não pode prometer.
Durante um momento, simplesmente ficou ali sentada, parecendo dura e severa a partes iguais, e então mudou a expressão do rosto. Nada dramático, nada alarmante, mas suficiente para deixar claro que ela tinha estado debatendo algo em sua mente. E que chegou a uma conclusão.
—O que pensa sobre Mikey? —perguntou.
—É meu irmão — disse ele.
Ela estendeu a mão e fez um movimento rápido com o pulso, como dizendo:
Que mais?
—Bom — disse, tentando ganhar tempo. Realmente, o que esperava que dissesse? — É meu irmão.
Ela elevou os olhos para cima sarcasticamente.
—Bastante revelador de sua parte.
—O que está perguntando exatamente?
—Quero saber o que pensa dele — insistiu.
O coração parou no peito sem uma razão que pudesse identificar.
—Está me perguntando —inquiriu com cautela — se acho que Mikey seria um bom marido?
Dirigiu aquele solene olhar dela, e então piscou, e do mais estranho foi quase como se estivesse esclarecendo antes de dizer, em um tom do mais normal:
—Parece que todo mundo tenta nos juntar.
—Todo mundo?
—Bom pelo menos Selena.
—Não é precisamente a pessoa a quem pediria conselhos românticos.
—Então não acredita que devesse me propor a conquistar Mikey — disse ela, inclinandose para frente.
Adam piscou. Conhecia Demetria e a tinha conhecido durante anos, por isso estava bastante seguro de que não havia modificado sua postura com a intenção de exibir seus surpreendentemente adoráveis seios. Mas resultou ser uma grande distração.
—Adam? —murmurou.
—É muito jovem — deixou escapar.
—Para mim?
—Para qualquer uma. Por Deus, só tem vinte e um anos.
—Na realidade, ainda tem vinte.
—Exato — disse incômodo, desejando que houvesse alguma forma de reajustar o lenço sem parecer idiota. Estava começando a sentir calor e estava ficando mais difícil manter a atenção concentrada em algo mais que Demetria sem ser óbvio.
Ela chegou para trás. Graças a Deus.
E não disse nada.
Até que ele não pôde evitar dizer:
—Então, tem a intenção de perseguilo?
— Mikey? — pareceu pensar— Não sei.
Ele bufou.
—Se não sabe, então claramente não deveria.
Ela se virou e o olhou diretamente aos olhos.
—Isso é o que pensa? O que o amor deveria ser óbvio e claro?
—Quem falou de amor? —sua voz soou ligeiramente cruel, o que lamentou, mas certamente ela entendia que aquela era uma conversa insustentável.
—Hmmm.
Teve a desagradável sensação de que o julgou e de que saiu perdendo. Uma conclusão que foi reforçada quando voltou sua atenção ao livro que tinha no colo.
E ali se sentou, como um completo idiota, simplesmente olhandoa ler seu livro, tentando idear algum tipo de comentário engenhoso.
Ela levantou a vista, seu rosto irritantemente plácido.
—Tem planos para esta tarde?
—Nenhum. — Respondeu bruscamente, ainda que tivesse a intenção de dar um passeio a cavalo.
—OH. Espera que Mikey chegue logo.
—Estou informado. —Por isso falávamos dele — explicou como se importasse. — Virá para meu aniversário.
—Sim, é obvio.
Inclinouse para frente uma vez mais. Que Deus o ajudasse.
—Recorda? —perguntou. — Vamos ter uma refeição familiar amanhã de noite.
—É obvio que me lembro — murmurou ele, embora não se lembrava.
—Hmmm — murmurou ela — enfim, obrigada por sua opinião.
—Minha opinião — repetiu. De que demônio falava agora?
—Sobre Mikey. Há muitas coisas a levar em consideração e de verdade desejava sua opinião.
—Bom. Agora já a tem.
—Sim. —Ela sorriu. — Alegrome. Porque sinto um grande respeito por você.
De alguma forma estava conseguindo fazêlo se sentir como se fosse algum tipo de relíquia antiga.
—Sente um grande respeito por mim? —as palavras deslizaram desagradavelmente de sua língua.
—Bom, sim. Achava que não?
—Francamente, Demetria, a maior parte do tempo não tem nem ideia do que pensa —espetou.
—Penso em você.
Os olhos dele voaram aos dela.
—E em Mikey, claro. E em Selena. Como se as pessoas pudesse viver na mesma casa com ela e não pensar nela. —Fechou o livro de repente e ficou em pé. — Imagino que deveria ir procurála. Ela e sua mãe não estão de acordo sobre alguns vestidos que Selena quer encomendar e prometi ajudála em sua causa.
Levantouse e a escoltou até a porta.
—Na de Selena ou na de minha mãe?
—Caramba, na de sua mãe, é obvio — disse Demetria rindo. — Sou jovem, mas não tola.
E com aquilo, partiu.
10 DE JUNHO DE 1819
Tive uma estranha conversa com Adam esta tarde. Não era minha intenção fazêlo sentir ciúmes, embora suponha que poderia interpretar dessa forma, se alguém conhecesse meus sentimentos por ele, o que é obvio ninguém faz.
Entretanto, sim era minha intenção inspirar certas noções de culpa no relacionado À Morte d'Arthur. Nisso, não acredito que tive êxito.
Mais à tarde, Adam voltou depois de cavalgar pelo Hyde Park com o amigo Lorde Westholme, só para encontrar Selena rondando pelo salão principal.
—Chis! — disse.
Era suficiente para que qualquer um ficasse curioso, e por isso Adam foi imediatamente ao seu lado.
—Por que estamos tão calados? —perguntou, negandose a sussurrar.
Ela lançou um olhar de aborrecimento.
—Estou bisbilhotando.
Adam não podia imaginar a quem, posto que estivesse aproximandose com cautela à escada que descia para a cozinha. Mas então ouviu o tom melodioso de uma risada.
—Essa é Demetria? —perguntou.
Selena assentiu.
—Mikey acaba de chegar e estão descendo juntos.
—Por quê?
Selena lançou uma olhada pelo outro lado do canto e se virou repentinamente para ficar frente a Adam.
—Mikey tinha fome.
Adam tirou as luvas.
—E necessita que Demetria lhe dê de comer?
—Não, desceram pelas bolachas de manteiga da senhora Cook. Ia me juntar a eles, pois odeio ficar sozinha, mas agora que está aqui, acho que deixarei que você me faça companhia.
Adam lançou um olhar para a parte de abaixo do salão, mesmo que fosse impossível ver seu irmão e Demetria.
—Eu também estou bastante faminto — murmurou pensativo.
—Abstenhase — ordenou Selena. — Necessitam tempo.
—Para comer?
Ela revirou os olhos.
—Para se apaixonarem.
Havia algo bastante mortificante em receber tal olhar de desdém da irmã menor, mas Adam decidiu que tomaria, se não o caminho mais longo, ao menos um intermédio, e por isso lhe dirigiu um olhar de superioridade e devolveu sucintamente: — E têm a intenção de fazer tudo isso com as bolachas e o chá em uma só tarde?
—É um começo — replicou Selena. — Não te vejo fazer nada para juntar o casal.
Aquilo pensou Adam com inesperada contundência, era porque qualquer idiota podia ver que seria um péssimo casamento. Queria muito ao Mikey, e o tinha em tão alta estima como qualquer um poderia ter a um menino de vinte anos, mas estava claro que era o homem errado para Demetria. Era verdade que só chegou a conhecêla bem nessas poucas semanas passadas, mas inclusive ele podia ver que ela era madura para sua idade. Necessitava alguém que fosse mais maduro, mais velho, que soubesse apreciar suas magníficas qualidades. Alguém que pudesse ter mão firme quando seu caráter fizesse uma de suas estranhas aparições.
Mikey, supunha, poderia ser esse homem... Em dez anos.
Adam olhou a irmã e disse, com firmeza:
—Necessito de comida.
—Adam, não! —Mas Selena não pôde detêlo.
Quando tentou, ele já estava a meio caminho do vestíbulo.
Os Bevelstoke sempre tiveram uma casa relativamente informal, ao menos quando não entretinham a convidados, e por isso, nenhum dos criados se sentiu particularmente surpreso quando Mikey apareceu pela cozinha, abrandando a cozinheira com sua doçura, com sua expressão de cachorrinho, e logo se deixou cair na mesa com Demetria. Para esperar enquanto a cozinheira preparava com rapidez algumas de suas mais famosas bolachas de manteiga. Acabava de deixálas sobre a mesa, ainda fumegantes e cheirando a glória, quando Demetria ouviu um audível bater de porta atrás dela.
Virou, piscando, para ver Adam de pé na base das escadas, com aparência de libertino, envergonhado e totalmente adorável, tudo de uma vez. Suspirou. Não pôde evitar.
—Desci as escadas de dois em dois — explicou, embora ela não estivesse totalmente segura da importância daquilo.
—Adam — grunhiu Mikey, muito ocupado comendo a terceira bolacha para lhe dar as boasvindas de forma mais eloquente.
—Selena me disse que estavam aqui — disse Adam. — Cheguei a um bom momento. Estou esfomeado.
—Temos um prato de bolachas, se quiser. —Disse Demetria, fazendo um gesto para o prato que estava sobre a mesa.
Adam deu um encolher de ombros e se sentou a seu lado.
—A senhora Cook que fez?
Mikey assentiu.
Adam pegou três, logo se virou para a cozinheira com a mesma expressão de cachorrinho que Mikey havia adotado antes.
—OH, muito bem — soprou, adorando claramente a atenção. — Farei mais.
Justa então Selena apareceu na entrada, os lábios apertados enquanto fulminava o irmão maior com o olhar.
—Adam — disse com voz irritada. — Disse que queria te mostrar o novo livro que tenho.
Demetria afogou um gemido. Havia dito a Selena que deixasse de tentar forçar a união.
—Adam — disse Selena com os dentes apertados.
Demetria decidiu que se Selena perguntasse alguma vez por aquilo, diria que simplesmente não se pôde conter, assim elevou a vista, sorriu docemente, e perguntou.
—E que livro seria?
Selena a fulminou com o olhar.
—Já sabe qual.
—Poderia ser aquele que fala do Império Turco, ou o sobre Trapaceiros no Canadá, ou aquele que fala da filosofia de Adam Smith?
—Esse do Smith — respondeu bruscamente Selena.
—Sério? —perguntou Mikey, virando para sua gêmea com renovado interesse. — Não tinha nem ideia de que você gostasse desse tipo de coisas. Este ano lemos A Riqueza das Nações. É uma mescla bastante interessante de filosofia e economia.
Selena sorriu apertadamente.
—Estou segura de que sim. Assegurarei de te dar minha opinião uma vez termine de lêlo.
—Até onde leu? —Perguntou Adam.
—Só umas poucas páginas.
Ou ao menos isso foi o que Demetria acreditou ouvir. Era difícil estar segura devido ao apertado dos dentes de Selena.
—Quer uma bolacha, Selena? —perguntou Adam, e em seguida sorriu de maneira fugaz e zombadora a Demetria, como dizendo: Nos dois estamos juntos nisto.
Parecia um jovenzinho. Brilhava com um jovem. Parecia... Feliz.
E Demetria se derreteu.
Selena cruzou o aposento e se sentou ao lado de Mikey, mas pelo caminho se inclinou e sussurrou na orelha de Demetria:
—Estava tentando te ajudar.
Entretanto, Demetria ainda estava se recuperando do sorriso de Adam. Sentia como se o estômago tivesse caído aos pés, à cabeça dava voltas, e parecia como se seu coração estivesse pulsando em uma sinfonia completa. Ou estava apaixonada ou tinha pegado a gripe. Jogou um olhar furtivo ao cinzelado perfil de Adam e suspirou.
Todos os sinais apontavam para o amor.
—Demetria. Demetria!
Elevou a vista para Selena, quem dizia seu nome impacientemente.
—Mikey quer conhecer minha opinião sobre As Riquezas das Nações quando acabar de lêlo. Disse que você o leria comigo. Estou segura de que poderemos conseguir outra cópia.
—O que? OH, sim, de acordo, eu adorarei lêlo. —Foi só quando viu o sorriso de satisfação de Selena que Demetria se deu conta do que acabava de aceitar.
—Ha, Demetria — disse Mikey, inclinandose sobre a mesa e dando palmadinhas na mão com a dele. — Tem que me contar se está desfrutando da temporada.
—Estas bolachas estão deliciosas — declarou Adam em voz alta, alargando a mão para pegar uma. — Perdoe Mikey, poderia mover o braço? —Mikey devolveu o braço a sua antiga posição, e Adam pegou uma bolacha e a colocou com rapidez na boca. Sorriu amplamente. — Maravilhosas como sempre, senhora Cook!
—Prepararei outro prato para você em apenas alguns minutos — asseguroua, radiante ante a adulação.
Demetria esperou que terminasse a troca e então disse a Mikey.
—Está sendo adorável. Apenas gostaria que você estivesse aqui mais frequentemente para desfrutar conosco.
Mikey se virou para ela com um preguiçoso olhar que deveria ter feito seu coração pular.
— Eu também gostaria — disse — mas ficarei durante a maior parte do verão.
—Não terá muito tempo para as damas, receio — interpôs Adam amavelmente. — Pelo que me lembro, minhas férias do verão passava de farra com os amigos. Era muito divertido. Não irá querer perder isso
Demetria o olhou de forma estranha. Adam soava quase muito alegre.
—Estou seguro de que foi — respondeu Mikey. — Mas também gostaria de ir a alguns dos eventos da sociedade.
—Boa ideia — disse Selena. — Irá querer adquirir um pouco de saber estar entre a sociedade.
Mikey virou para ela.
—Tenho suficiente saber, muito obrigado.
—É obvio que sim, mas não há nada como a experiência real para refinar um homem.
Mikey ruborizou.
—Tenho experiência, Selena.
Demetria arregalou os olhos.
Adam ficou de pé em um único e fluido movimento.
—Acho que esta conversa está se deteriorando com rapidez até um nível nada adequado para ouvidos tenros.
Mikey pareceu como se quisesse dizer algo mais, mas por sorte para a paz familiar, Selena uniu as mãos com um alentador:
—Bem dito!
Mas Demetria a conhecia muito para confiar nela, ao menos quando se tratava de se fazer de casamenteira. E era certo que logo se encontraria sendo a receptora final do sorriso mais matreiro de Selena.
—Demetria — disse quase muito encantada.
—Er, sim?
—Não me disse que queria levar Mikey a aquela loja de luvas que vimos na semana passada? Têm as melhores luvas que já vi — continuou Selena, dirigindo o comentário para Mikey. — Tanto para homem como para mulher. Pensamos que talvez necessitasse um par. Não estávamos seguras de que tipo de qualidade era a que se encontrava em Oxford, sabe?
Era um tipo de discurso pouco sutil, e Demetria estava segura de que Selena sabia. Lançou um olhar furtivo ao Adam, quem estava observando o procedimento com um ar de diversão. Ou talvez fosse desgosto. Às vezes era difícil discernir.
—O que diz, querido irmão? — disse Selena com sua voz mais encantadora. —
Iremos?
—Não posso pensar em nada que me agrade mais.
Demetria abriu a boca para dizer algo, então viu a futilidade de fazêlo e a fechou. Mataria Selena. Ia entrar no quarto dela e matar a intrometida garota. Mas por agora, sua única opção era dizer que sim. Não desejava fazer nada que pudesse levar
Mikey a acreditar que tinha sentimentos românticos por ele, mas seria o cúmulo da insensibilidade tentar escapar do passeio justo na frente dele.
E por isso, quando se deu conta de que três pares de olhos estavam concentrados e espectadores nela, não pôde mais que dizer:
—Podemos ir hoje. Seria estupendo.
—Irei com vocês — anunciou Adam, ficando decisivamente de pé.
Demetria virou para ele surpreendida, igual à Selena e Mikey. Adam nenhuma vez mostrou interesse em acompanhálos a nenhuma de suas saídas quando estavam em Ambleside, e na realidade, por que deveria fazer? Era nove anos mais velhos que eles.
—Necessito um par de luvas — disse ele simplesmente, seus lábios se curvaram ligeiramente como se dissesse: por que outra razão iria?
—É obvio — disse Mikey, ainda piscando ante a inesperada atenção por parte de seu irmão maior.
—Que bom de sua parte o sugerir — disse Adam bruscamente. — Obrigado, Selena.
Ela não pareceu alegrarse muito.
—Será genial que nos acompanhe — disse Demetria, talvez um pouco mais entusiasta do que tinha sido sua intenção. — Não se importa, não é, Mikey?
—Não, claro que não. —Mas parecia como se importava. Ao menos um pouco.
—Terminou com seu leite e bolachas, Mikey? — perguntou Adam. —
Deveríamos nos pôr em caminho. Parece que a tarde ficará nublada.
Mikey alargou a mão para agarrar outra bolacha, a maior da mesa.
—Podemos levar uma carruagem fechada.
—Irei procurar meu casaco — disse Demetria, ficando de pé. — Vocês dois podem decidir a carruagem. Nos encontramos no salão? Em vinte minutos?
—A acompanharei para acima — disse rapidamente Mikey. — Preciso pegar algo de minha mala de viagem.
O casal abandonou a cozinha, e Selena se virou em seguida para Adam com uma expressão que era positivamente felina.
—O que ocorre contigo?
Olhoua de maneira insossa.
—Desculpe?
—Estive trabalhando com cada fôlego de meu corpo para que esses dois fiquem juntos e você está arruinando tudo.
—Não fique dramática — disse com um breve movimento de cabeça. — Só vou comprar luvas. Não deterá um casamento, se de verdade houver algum iminente.
Selena franziu o cenho.
—Se não o conhecesse bem, pensaria que está com ciúmes.
Por um momento, Adam não pôde fazer outra coisa que olhála. E então encontrou o sentido comum , e a voz, e disse bruscamente:
—Bom, conheceme bem. Assim que agradeceria que não fizesse acusações infundadas.
Com ciúmes de Demetria. Bom Deus, o que seria a seguinte coisa em que pensaria Selena? Ela cruzou de braços.
—Bom, certamente está agindo de forma estranha.
Durante toda sua vida, Adam tratou a jovem irmã de diferentes maneiras. Em geral, de forma benignamente descuidada. Às vezes, adotava um rol mais amistoso, surpreendendoa com presentes e adulações quando era conveniente para ele fazêlo.
Mas a distância entre as idades assegurou que nunca a tratasse como a igual, que nunca falasse sem primeiro considerála uma menina.
Mas agora, ao acusálo daquilo, de desejar Demetria, de todas as coisas, arremeteu contra ela sem medir suas palavras, sem reduzir sua magnitude nem seus sentimentos. E sua voz foi rude, cortante e afiada quando disse:
—Se olhasse além de seu próprio desejo de ter Demetria constantemente a sua disposição, veria que ela e Mikey são extremamente incompatíveis.
Selena ofegou ante o inesperado ataque, mas se recuperou com rapidez.
—A minha disposição? — repetiu furiosa. — Agora quem faz acusações infundadas? Sabe tão bem como qualquer um que adoro Demetria e não quero mais que sua felicidade. Além disso, falta a ela beleza e um dote, e...
—OH, pelo amor de... —Adam fechou a boca com força antes de amaldiçoar diante de sua irmã. — A menospreza — espetou.
Por que as pessoas insistiam em ver Demetria como à desajeitada moça que tinha sido? Talvez não se ajustasse ao atual padrão de beleza da sociedade como Selena, mas possuía algo muito mais profundo e interessante. Era possível olhála e saber que havia algo atrás de seus olhos. E quando sorria, não era algo praticado, não era de maneira zombadora, OH, muito bem, às vezes sim era de forma zombadora, mas poderia aceitar, já que possuía exatamente o mesmo senso de humor que ele. E realmente, apanhados em Londres para a temporada como estavam, estavam obrigados a encontrarse com um montão de coisas dignas de brincadeira.
—Mikey seria um excelente par para ela — continuou Selena com veemência.
— E ela para... — detevese, ofegou, e colocou a mão com força sobre a boca.
—OH, e agora o que? — disse Adam irritado.
—Isto não é pela Demetria, não é? É por Mikey. Não acha que ela seja boa o suficientemente para ele.
—Não — replicou instantaneamente com uma estranha e quase indignada voz.
— Não — voltou a dizer medindo desta vez as palavras com mais cuidado. — Nada poderia estar mais longe da realidade. São muito jovens para casar. Especialmente Mikey.
Selena se sentiu imediatamente ofendida.
—Isso não é verdade, somos...
—É muito jovem — cortou com frieza — e não precisa olhar além deste aposento para ver por que um homem não deveria casarse tão jovem.
Não o entendeu no ato. Adam viu o momento exato em que sim, viu a compreensão, e logo a compaixão.
E ele odiava a compaixão.
—Sinto muito. —Deixou escapar Selena. As duas palavras lhe garantiram que voltariam a colocálo uma vez mais sobre a margem. E então voltou a dizer. — Sinto muito.
E fugiu. Demetria tinha estado esperando no salão rosado durante vários minutos quando apareceu uma criada na entrada e disse:
—Peço que me desculpe senhorita, mas Lady Selena me pediu que lhe dissesse que não descerá.
Demetria deixou em seu lugar a estatueta que tinha estado examinando e olhou à criada com surpresa.
—Sentese indisposta?
A criada pareceu vacilar e Demetria não desejou pôla em uma posição difícil quando simplesmente podia ir ver Selena ela mesma, assim disse:
—Não importa. Perguntarei eu mesma.
A criada se inclinou em uma reverência, e Demetria se voltou para a mesa que estava ao seu lado para assegurarse de que havia devolvido a estatueta de volta a antiga posição, então, lançando uma última olhada. Sabia que lady Rudland gostava que fizesse ornamento de sua curiosidade, mas deixando as coisas em seu lugar— caminhou para a porta.
E chocou contra um longo corpo masculino.
Adam. Soube inclusive antes que falasse. Poderia ter sido Mikey, ou um lacaio, ou poderia ter sido — que Deus a ajudasse, que vergonha — Lorde Rudland, mas não era. Era Adam. Conhecia seu aroma. Conhecia o som de seu fôlego.
Sabia como era o cheiro do ar o seu redor quando estava perto dele.
E foi então quando soube, com total segurança, que aquilo era amor.
Era amor, e era o amor de uma mulher por um homem. A jovenzinha que havia pensando nele como em um cavalheiro de brilhante armadura já não existia. Agora era uma mulher. Conhecia suas falhas e via seus defeitos, e ainda assim o queria.
Amavao e queria curálo, queria...
Não sabia o que queria. Queriao por completo. Queria tudo. Ela...
—Demetria?
As mãos dele estavam ainda em seus braços. Levantou a vista, inclusive embora soubesse que seria quase insuportável enfrentar o azul de seus olhos. Sabia o que não veria ali.
E não viu. Não havia amor, nem revelação. Mas parecia estranho, diferente.
E ela sentiu calor.
—Sinto muito — gaguejou, inclinandose para se afastar. — Deveria ter mais cuidado.
Mas não a liberou. Não imediatamente. Estava olhandoa, a sua boca, e Demetria pensou por um adorável e bendito segundo que talvez quisesse beijála.
Conteve o fôlego, e entreabriu os lábios, e...
E então tudo acabou.
Ele se afastou.
—Minhas desculpas — disse, com inflexão de nenhum tipo. — Também deveria ter mais cuidado.
—Ia procurar Selena — disse, sobre tudo porque não tinha nem ideia de que mais dizer. — Acaba de mandar me avisar que não irá descer.
A expressão dele mudou apenas o suficiente e com o suficiente cinismo para que soubesse que sabia que algo ia mal.
—Deixaa — disse. — Ficará bem.
—Mas...
—Por uma vez — disse cortante — deixe que Selena se encarregue de seus próprios problemas.
Os lábios de Demetria se abriram com surpresa ante seu tom. Mas se livrou de ter que responder graças à chegada de Mikey.
—Preparados para irmos? — perguntou jovialmente, completamente inconsciente da tensão no aposento. — Onde está Selena?
—Não virá — disseram Demetria e Adam ao uníssono.
Mikey olhou a um e logo ao outro, ligeiramente desconcertado por sua resposta coletiva.
—Por quê? — perguntou.
—Não se sente bem — mentiu Demetria.
—O que vamos fazer — disse Mikey, sem soar particularmente triste.
Sustentou o braço em alto para Demetria. — Vamos?
Demetria olhou Adam.
—Ainda virá?
—Não. — E nem sequer demorou mais de dois segundos em responder.
11 DE JUNHO DE 1819
Hoje foi meu aniversário, encantador e estranho.
Os Bevelstoke celebraram um jantar familiar em minha honra. Foi realmente doce e amável, especialmente porque meu próprio pai provavelmente se esqueceu de que hoje é outra coisa além do dia em que certo estudioso grego realizou certo cálculo especial matemático ou alguma outra coisa muito importante.
Da parte de Lorde e Lady Rudland: um belo par de brincos cor verde mar. Sei que não deveria aceitar algo tão caro, mas não poderia armar um escândalo na mesa e de fato disse: "Não posso..." (embora com um pouco de falta de convicção) e fui categoricamente sossegada.
Da parte de Mikey: um conjunto de preciosos lenços.
Da parte de Selena: uma caixa de escrivaninha, com meu nome gravado. Anexou uma pequena nota que advertia: "Só para você", e dizia, "Espero que não possa usar isto durante muito tempo!". O que claramente significava que esperava que meu nome logo fosse Bevelstoke.
Não fiz comentários.
E da parte de Adam, um frasco de perfume. Violetas. Imediatamente pensei no laço violeta que colocou em meu cabelo quando tinha dez anos, mas é obvio não se recordou de uma coisa assim. Não disse nada sobre isso; teria sido muito embaraçoso revelar algo tão sentimental. Mas acredito que é um presente muito doce e encantador.
Não parece que possa dormir. Passaram dez minutos desde que escrevi a frase anterior, e embora boceje com frequência, não sinto as pálpebras nem um pouco pesadas.
Acho que descerei à cozinha para ver se posso conseguir um copo de leite quente.
Ou talvez não vá à cozinha. Não é provável que haja ninguém lá embaixo que possa ajudar. E embora seja perfeitamente capaz de esquentar um pouco de leite, é provável que o chef tenha palpitações quando vir que alguém usou uma das panelas sem seu conhecimento. E o que é mais importante, já tem vinte anos. Se quiser posso tomar um copo de xerez para que me ajude a dormir.
Acho que isso é o que farei.


eu sou apaixonada por essa mulher
TAEYEON DONA DA PORRA TODA NA COREIA DO SUL