sábado, 20 de abril de 2019

Esplendor da Honra Capitulo 18


Proclamo que o poder é justo, e que a Justiça
é o interesse dos mais fortes.
Platón, A República, 1
Os rigorosos dias do inverno chegaram com temperaturas terrivelmente baixas, liderada por um vento uivante que tomou conta do campo com suas mandíbulas congelantes. O inverno parecia prometer manter o mundo preso em seu glacial esplendor durante toda a eternidade, até que aquela delicada donzela, a primavera, apresentou-se de repente trazendo consigo sua própria promessa. Trazia em dom do renascimento, envolto no cálido resplendor do sol. Seduzido por essa promessa, o vento perdeu seu fio trêmulo e se converteu em suave brisa.
As árvores foram as primeiras a mostrarem o cumprimento da promessa. Os galhos deixaram de ser quebradiços e ficaram maleáveis, agitando-se com graciosos movimentos quando a brisa os tocava. Frágeis brotos e verdes folhas engrossavam cada um deles. Sementes esquecidas, que tinham sido afundadas nas profundidades da terra pela inclemência dos primeiros ventos do outono, floresceram de repente em um estalo de cor e fragrância, inebriante o suficiente para atrair vaidosas abelhas, que zumbiam de um lado a outro.
Foi um tempo realmente mágico para Demétria. E havia tanta alegria no fato de amar Joseph! Parecia um milagre que Joseph também a amasse. As primeiras semanas depois de sua declaração, Demétria ficou um pouco inquieta e preocupada em pensar que Joseph pudesse ficar cheio dela. Ela fez o que pôde para agradá-lo, mas mesmo assim a inevitável discussão acabava chegando. Um simples mal-entendido que poderia ser facilmente resolvido terminava fora de tamanho pelo mau humor de Joseph e o cansaço de Demétria.
Para falar a verdade, Demétria depois nem se lembrava do que havia originado a discussão. Só se lembrava que Joseph tinha gritado com ela. Então ela se escondia imediatamente atrás da salvadora máscara de compostura, mas não demorava muito para que seu marido tirasse sua perfeita tranquilidade. Ela começava a chorar, dizia a Joseph que ele não a amava mais, e fugia para a torre.
Joseph ia atrás dela. Ele ainda gritava, mas o assunto tinha mudado para o hábito de Demétria chegar à conclusões erradas. Quando ela compreendeu que o que realmente o deixava furioso era o fato dela pensar que ele não a amava mais, ela deixava de se importar com os gritos e com aquele feroz cenho que ele franzia. Afinal, Joseph gritava que a amava.
Demétria tinha aprendido uma lição muito importante naquela noite, e agora sabia que não tinha nada de mau gritar de volta. Todas as suas regras mudaram desde que ela conheceu os Wexton. A liberdade que agora lhe permitia usufruir abriu as portas de suas emoções. Demétria já não precisava mais se conter. Quando sentia vontade de rir, ela ria. E quando tinha vontades de gritar, ela seguia em frente, embora tentasse manter com dignidade os modos de uma dama.
Demétria percebeu que ela mesma começava a adquirir algumas das características de seu marido.
Ser previsível dava segurança, e Demétria começava a odiar mudanças tanto quanto seu marido odiava. Quando Nicholas e Kevin partiram para oferecer seus quarenta dias aos seus suseranos, Demétria deixou que todos que estavam ao alcance de seus gritos soubessem do seu descontentamento.
Joseph lhe fez ver a inconsistência de seu raciocínio, e inclusive lembrou-lhe que antes, ela se mostrava a favor de delegar mais responsabilidades a seus irmãos. Demétria, entretanto, não queria ouvir a razões. Converteu-se em uma galinha poedeira e queria que todos os Wexton permanecessem ali onde ela pudesse vê-los.
Joseph entendia a sua esposa melhor do que ela o entendia. Os irmãos de Joseph e Miley eram membros da família de Demétria. Ela esteve sozinha por tantos anos que o prazer de ter tantas pessoas queridas em volta dela, era extremamente confortável para deixá-los ir sem protestar.
Ela também era uma pacificadora. Demétria interferia constantemente quando entendia que alguém estava sendo atormentado. Ela protegia a cada um, e mesmo assim se assustava quando alguém tratava de protegê-la.
Para falar a verdade, Demétria continuava sem entender qual seu real valor. Joseph sabia que ela achava um milagre que ele a amasse. Ele não era um homem de exaltar seus sentimentos, mas ele logo percebeu que Demétria precisava ouvir com frequência suas promessas de amor. Havia um sentido inconsciente de medo e insegurança, compreensível em razão do passado dela, e ele aceitou que levaria tempo para ela para ganhar confiança em suas habilidades.
Os dias que passava com sua nova esposa teriam sido realmente idílios, se Miley não estivesse resolvida a deixá-los loucos. Joseph se esforçava para manter um gesto simpático com sua irmã, mas o comportando de Miley bastava para que ele, secretamente, desejasse estrangulá-la.
Ele cometeu o erro de contar para Demétria como ele se sentia em relação às condutas de Miley e seu desejo de colocar uma mordaça em sua boca. Demétria ficou estarrecida. Ela defendeu Miley imediatamente. Sua esposa sugeriu a Joseph que ele aprendesse a ter um pouco mais de compaixão, e por que, em nome de Deus, ele iria querer fazer tal coisa, estava além de sua compreensão.
Demétria chamou-o de antipático, mas na verdade era exatamente ao contrário. Joseph era muito simpático com o barão Liam. Seu amigo tinha a paciência do Jó e a resistência de aço forjado.
Miley fazia todo o possível para dissuadir seu pretendente. Ela zombava, gritava, chorava. Nada disso parecia ter a menor importância. Liam não se deixava afastar de sua meta de conquistá-la. Joseph pensava que Liam ou era teimoso como uma mula, ou estúpido como um touro. Ele provavelmente tivesse um pouco de ambos.
Joseph não podia ajudar, mas admirava Liam. Tanta determinação era digna de elogio. Especialmente quando se considerava que o prêmio que Liam perseguia havia se transformado em uma megera que gritava.
Joseph realmente preferia poder ignorar toda aquela situação. Demétria, entretanto, não permitia que ele desfrutasse de semelhante privilégio. Ela constantemente o arrastava a participar das disputas familiares, explicando que era seu dever arrumar as coisas.
Ela lhe explicou, muito tranquila e sem se alterar, que ele poderia ser senhor e irmão de uma vez, mas que todas essas tolices de manter uma atitude fria e distante em relação a sua família eram um hábito do passado, do qual ele deveria se livrar.
Demétria também explicou que ele poderia conservar respeito ao mesmo tempo que conquistava a amizade de seus irmãos. Joseph não tentou discutir com ela. Bem sabia Deus que desde que se casaram, ele não tinha conseguido sair vencedor de uma única discussão.
Naquele caso, porém, Demétria estava certa. Joseph não se incomodou em dizer-lhe isso, é óbvio, sabendo que ela imediatamente apontaria algum outro “hábito” que ele deveria descartar.
Ele começou a jantar todas as noites com sua família, porque sabia que isso deixava Demétria feliz, e então descobriu ter um certo prazer na experiência. Durante os jantares sempre se falava sobre diversos assuntos, e ele desfrutava os animados debates que decorriam disso. Seus dois irmãos eram homens sagazes e inteligentes, e não demorou muito tempo para Joseph valorizasse as sugestões de ambos.
Joseph lentamente removeu as barreiras que tinha erguido, separando sua família de si mesmo, e ao fazê-lo descobriu que as recompensas eram muito maiores que o esforço.
Seu pai estava errado. Agora Joseph sabia. Seu pai poderia ter governado rigidamente, a fim de proteger sua posição como senhor das terras. Talvez ele pensasse que mostrar afeto a seus filhos o faria perder o respeito deles. Joseph não tinha certeza de qual tinha sido o raciocínio de seu pai. Só sabia que ele não poderia seguir esses velhos costumes.
Ele tinha que agradecer essa maneira de agir a sua esposa. Demétria havia ensinado que o medo e o respeito não tinham que andar de mãos dadas. Amor e respeito funcionavam tão bem, talvez até melhor Aquilo era bem irônico. Demétria era grata a Joseph por ter-lhe dado um lugar em sua família, quando o reverso era mais verdadeiro. Demétria havia-lhe dado um lugar em sua própria casa. Ela havia lhe mostrado como ser um irmão para Nicholas, Kevin e Miley. Sim, ela o arrastou para dentro do círculo familiar.
Joseph manteve o mesmo programa de atividades com seus homens, mas passou a reservar uma hora a cada tarde para ensinar a sua esposa a montar. Demétria aprendia depressa, e Joseph não demorou a permitir que ela montasse Silenus, até a pequena colina que se elevava além dos muros. Ele ia atrás dela, naturalmente, como precaução. E grunhia, também, ante a teimosia de sua esposa em levar comida para seu lobo imaginário.
Demétria pediu que ele explicasse por que um lado da colina estava nu, enquanto o outro era um bosque de árvores e imensidão.
Joseph explicou que todas as árvores tinham sido derrubadas no lado da colina que dava para a fortaleza. O vigia não podia ver além do topo, por isso não era necessário cortar as árvores que cresciam do outro lado. Quem quisesse entrar no castelo de Joseph, teria antes que escalar a primeira colina, e então o vigia poderia ver se era amigo ou inimigo. E fosse um inimigo, os arqueiros teriam alvos fáceis sem as árvores para proporcionar proteção e lugares onde se esconder.
Sua explicação deixou Demétria impressionada, porque agora percebia que tudo o que fazia Joseph relacionava-se à proteção. Ele sacudiu a cabeça e esclareceu a sua esposa que a proteção era sua responsabilidade como senhor de Wexton.
Demétria sorriu do sermão de Joseph. Ele havia se acostumado também aos seus sorrisos.
Joseph sabia que Demétria estava preocupada com o futuro de ambos. Ela continuava sem querer lembrar de seu irmão, e agora todos tentavam não mencionar seu nome nas conversas. Como Joseph não era capaz de convencer Demétria de que tudo estava bem, ambos evitavam falar sobre o assunto.
A primavera foi uma época de esclarecimento para Joseph. Ele precisou deixar Demétria durante quase um mês, em razão de assuntos urgentes, e quando retornou, sua esposa chorou de felicidade. Passaram toda a noite acordados, amando-se apaixonadamente, e teriam passado todo o dia seguinte na cama se as questões domésticas não interferissem.
Demétria odiava quando Joseph a deixava. Ele odiava tanto quanto ela, e embora nunca dissesse a Demétria, seus pensamentos eram consumidos pelo desejo de voltar para perto dela.
A primavera deixou atrás de si sua capa de flores e raios de sol. Os cálidos dias de verão, por fim, chegaram às terras de Wexton.
Agora viajar era mais fácil. Joseph sabia que era só questão de tempo para ser chamado a comparecer diante do rei, e manteve suas preocupações escondidas de Demétria, enquanto reunia discretamente seus soldados.
O barão Liam retornou a Wexton nos últimos dias de junho para concluir outra tentativa de ganhar Miley. Joseph recebeu seu amigo no pátio. Cada um tinha novidades importantes a comunicar ao outro. Joseph acabava de receber um mensageiro e aceitou uma carta que levava o selo do rei. O barão de Wexton podia ler, um fato que sua esposa não estava ciente, e a carta que acabava de ler fez com que se mostrasse vivo. Ele estava preocupado para dar a boas vindas a Liam como era devido.
Liam parecia estar em um estado de ânimo similar ao dele. Depois de ter saudado Joseph com uma breve reverência, entregou as rédias de seu cavalo ao jovem Ansel e virou-se para Joseph.
- Acabo de voltar dos Clare - anunciou falando em voz baixa.
Joseph chamou Anthony com um gesto.
- Há muitas coisas para se falar e eu gostaria que Anthony estivesse presente - explicou a Liam.
Liam assentiu.
- Eu estava dizendo a Joseph que acabo de retornar da mansão dos Clare -repetiu -. O irmão do rei, Henry, também estava ali. Ele me fez muitas perguntas a seu respeito, Joseph.
Os três homens andaram lentamente para o salão.
- Eu acredito que ele estava tentando chegar a algum tipo de entendimento quanto a sua posição se ele se tornasse o nosso rei - confessou Liam.
Joseph franziu o cenho.
- Que tipo de pergunta? – ele perguntou.
- A conversa era reservada. Era como se todos estivessem a par de algumas informações que eu não sabia. Eu não estou fazendo muito sentido, estou? - perguntou.
- Há necessidade de defender William? Acredita que Henry poderia chegar a desafiá-lo?
- Não - respondeu Liam, e seu tom não pôde ser mais enfático -. Mas eu achei isso bastante estranho. Você não foi convidado, no entanto, todas as perguntas que me fizeram eram a seu respeito.
- Eram perguntas a respeito da minha lealdade?
- Sua lealdade nunca esteve em julgamento - respondeu Liam -. Mas você comanda um exército dos melhores soldados que há na Inglaterra, Joseph. Você poderia facilmente desafiar nosso rei, se passasse por sua cabeça.
- Henry acredita que eu poderia me voltar contra meu monarca? - perguntou Joseph, claramente assustado pela possibilidade.
- Não, Joseph. Todo mundo sabe que você é um homem honrado. Contudo, não vi muito sentido à reunião. Havia uma atmosfera estranhamente tensa - Liam encolheu os ombros e disse -: Henry admira você, embora eu pudesse perceber que ele estava preocupado por alguma coisa. Só Deus sabe o que seria.
Os três homens subiram o lance de degraus que levava ao salão principal. Demétria estava de pé junto à mesa de jantar, colocando um buquê silvestres dentro de uma grossa jarra. Três garotinhos estavam no chão perto dela, comendo bolo.
Demétria levantou o olhar quando ouviu os homens chegarem, e sorriu ao ver que Liam voltava a visitá-los. Ela saudou os três com uma reverência.
- O jantar será servido dentro de uma hora. Eu me alegro em voltar a vê-lo, Liam. Não é, Anthony? Miley ficará feliz.
Os três homens riram às gargalhadas.
- Eu estou lhes dizendo a verdade - insistiu Demétria, e se voltou para as crianças -. Vão terminar seu lanche lá fora. Willie, faça o favor de procurar lady Miley. Diga-lhe que tem um convidado. Você pode se lembrar desta importante missão? - perguntou.
As crianças se apressaram a levantar e saíram correndo do salão. De repente Willie se virou para Demétria e rodeou suas pernas com os braços. Joseph viu como sua esposa se agarrava à mesa com uma mão e dava tapinhas na cabeça de Willie com a outra.
Sua doçura o encheu de emoção. Todas as crianças gostavam muito de Demétria e a seguiam onde quer que ela fosse. Cada um deles desejava receber seus sorrisos e suas palavras de elogio, e nenhum dos pequenos ficava decepcionado jamais. Demétria conhecia cada um deles pelo nome, um feito considerável tendo em vista haver mais de cinquenta crianças vivendo dentro da fortaleza com seus pais.
Quando Willie finalmente soltou sua esposa e correu para a entrada, o vestido de Demétria estava coberto com as manchas do rosto da criança.
Demétria baixou o olhar para o vestido e suspirou.
Ela chamou a criança.
- Willie, você voltou a se esquecer de se inclinar diante de seu senhor.
O pequeno se deteve em seco, deu meia volta e efetuou uma torpe reverência. Joseph assentiu. O criança sorriu e saiu correndo de novo.
- De quem são essas crianças? - pergunto Liam.
- São filhos dos criados - respondeu Joseph -. Seguem a minha esposa.
Um grito de angústia interrompeu sua conversa. Joseph e Liam suspiraram juntos. Era evidente que Willie acabava de informar a Miley da chegada de Liam.
- Não franza o cenho dessa maneira Liam - disse Demétria -. Miley esteve rondado pela casa como uma alma penada desde a última vez esteve aqui. Acredito que sentia sua falta. Não está de acordo comigo, Anthony?
A expressão que apareceu no rosto de seu vassalo indicou a Joseph que não estava nada de acordo com Demétria, e riu quando Anthony disse:
- Se você pensa assim, então eu vou permitir a remota possibilidade.
Liam sorriu.
- Percebo que está sendo muito diplomático, não é Anthony?
- Eu não quero desapontar minha senhora - anunciou Anthony.
- Eu rezo para que você esteja certa, Demétria - disse Liam. Sentou-se à mesa junto de Joseph e Anthony. Demétria ofereceu-lhe uma taça de vinho e Liam bebeu em um longo gole -. Nicholas e Kevin estão aqui?
Joseph sacudiu a cabeça. Agarrou a taça de vinho que Demétria lhe oferecia, mas não soltou sua mão. Demétria inclinou-se do seu lado e sorriu.
- Joseph. O padre Lawrence, por fim, vai rezar uma missa para nós - anunciou Demétria, e se virou para Liam, explicando sua observação -. O sacerdote queimou as mãos logo depois de casar Joseph e eu. O pobre homem demorou muito a se recuperar. Foi um acidente terrível, embora o padre Lawrence não explicasse como aconteceu exatamente.
- Se o padre Lawrence tivesse permitido que Kevin cuidasse de suas queimaduras, então não teria demorado tanto tempo para se curar - observou Anthony -. Agora Kevin não está aqui, naturalmente – acrescentou, encolhendo os ombros.
- Eu estive pensando em trocar umas palavras com o padre Lawrence - murmurou Joseph.
- Não gosta desse homem? - perguntou Liam.
- Não.
O comentário de seu marido deixou Demétria surpresa.
- Ele nunca esteve por perto, Joseph. Como pode lhe agradar ou desagradar? Você pouco o conhece.
- Esse sacerdote não cumpre seus deveres, Demétria. Esconde-se em sua capela. É muito tímido para meu gosto.
- Não sabia que você era um homem tão religioso - interveio Liam.
- Ele não é - comentou Anthony.
- Joseph só quer que o padre Lawrence faça aquilo que foi enviado para fazer - disse Demétria, estendendo a mão e enchendo com mais vinho a taça de Anthony.
- Esse homem me insulta - avisou Joseph -. Esta manhã chegou uma carta trazida pelo mensageiro de seu monastério. Eu pedi sua substituição. Demétria escreveu a o pedido por mim - concluiu com tom altivo.
Demétria empurrou seu braço com o cotovelo, quase derrubando sua taça de vinho. Joseph sabia que ela não queria que contasse a ninguém que sua esposa podia ler ou escrever. Ele sorriu para ela, divertindo-se por Demétria se envergonhar do notável talento de saber ler e escrever.
- O que dizia a carta? - perguntou Demétria.
- Não sei - respondeu Joseph -. Eu tinha outros assuntos mais urgentes para atender, esposa. Isso pode esperar até depois do jantar.
Então outro grito interrompeu a conversa. Era evidente que Miley conseguiu ficar, realmente, fora de si.
- Demétria, pelo amor de Deus, vá e faça com que Miley cesse esses gritos. Estou começando a temer suas visitas, Liam - disse Joseph a seu amigo.
Demétria se apressou em suavizar o comentário.
- Meu marido não pretendia ser indelicado - disse a Liam -. Ele tem muitos assuntos importantes em que pensar.
Joseph suspirou, prolongando o som por tempo suficiente para sua esposa voltar a olhá-lo.
- Não precisa desculpar minha conduta. Agora vá ver Miley.
Demétria assentiu.
- Eu também convidarei o padre Lawrence para que jantar conosco - disse a Joseph -. Não virá, mas eu o convidarei de qualquer maneira. Se nos conceder sua presença, peço-lhe que seja amável com o pobre homem até terminar o jantar. Depois você pode gritar com ele tudo o que quiser.
As palavras escolhidas correspondiam a um pedido, mas tinham sido articuladas em tom de ordem. Joseph olhou para Demétria e franziu o cenho. Ela sorriu para ele.
Assim que Demétria saiu do salão, Liam murmurou em voz muito baixa:
- Nosso rei voltou para a Inglaterra.
- Estou ciente - comentou Joseph.
- Vou com você quando chegar o requerimento - disse Liam.
Joseph sacudiu a cabeça.
- Com certeza, você não pode acreditar que nosso rei vá ignorar seu casamento, Joseph. Você terá que justificar suas ações. E eu tenho tanto direito a desafiar Sebastian como você, inclusive ainda mais. Estou decidido a matar esse bastardo.
- Meia Inglaterra gostaria de matá-lo - interveio Anthony.
- A requisição já chegou - comentou Joseph, falando em um tom tão aprazível e cheio de calma que Liam e Anthony demoraram um instante para reagir.
- Quando? - quis saber Liam.
- Justo na hora que você chegou - respondeu Joseph.
- Quando partimos? - perguntou Anthony.
- O rei ordena que eu parta imediatamente para Londres - disse Joseph -. Depois de amanhã será breve o bastante. Esta vez você não virá comigo, Anthony.
O vassalo não mostrou nenhuma reação visível à decisão de seu senhor. Ficou um pouco perplexo, não obstante, porque o normal era ele que cavalgasse ao lado de seu senhor.
- Vai levar Demétria com você? - perguntou Liam.
- Não, Demétria estará mais segura aqui.
- Da ira do rei ou de Sebastian?
- De Sebastian. O rei iria protegê-la.
- Sua fé é maior que a minha - admitiu Liam.
Joseph voltou o olhar para Anthony.
- Deixo meu maior tesouro em seus mãos, Anthony. Isso poderia ser uma armadilha.
- O que está sugerindo? - perguntou Liam
- Que Sebastian tem acesso ao selo real. As instruções que estão na carta não foram dadas pela voz do rei. É isso é que estou sugerindo.
- Quantos homens você vai levar e quantos deixará aqui para cuidarem de Demétria? - perguntou Anthony. Ele estava pensando na proteção à fortaleza -. Isto poderia ser um plano para afastar você daqui, permitindo assim que Sebastian pudesse atacar. Eu acredito que ele saiba que você não levará Demétria com você.
Joseph assentiu.
- Sim, já pensei nessa possibilidade.
- Agora só tenho cem homens comigo - interveio Liam -. Vou deixá-los aqui, com Anthony, se você desejar, Joseph.
Liam e Anthony começaram a falar da questão dos efetivos, enquanto Joseph se levantou, dirigiu-se para o fogo e se deteve diante dele. Aconteceu de ele se virar a tempo de ver Demétria sair do castelo. Provavelmente iria falar com padre Lawrence, pensou. O garotinho Willie se agarrou a suas saias e corria ao lado dela para não ficar atrás.
Joseph deixou de pensar em sua esposa quando Anthony e Liam se reuniram novamente com ele Dez bons minutos se passaram em um acalorado debate sobre a defesa da fortaleza de Wexton. Anthony e Liam trouxeram um par de cadeiras, e Joseph também se sentou no assento que Demétria tinha declarado pertencer a ele.
De repente, Willie entrou correndo no salão. A criança parou com uma derrapagem quando viu Joseph. Willie trazia uma expressão de intenso terror nos olhos.
Joseph pensou que a criança parecia ter acabado de ver o diabo. Não afastou um só instante seu olhar da criança. Willie foi timidamente para o assento de Joseph e terminou parando ao lado dele.
- O que houve, rapaz? Deseja falar comigo? - perguntou Joseph.
Sua voz era suave, assim o pequeno poderia não ficar tão assustado.
Anthony abriu a boca para fazer uma pergunta a Joseph, mas seu barão levantou uma mão pedindo que ficasse em silêncio.
Joseph se virou em seu assento até ficar de frente para a criança Inclinou-se para frente e gesticulou a Willie para que se aproximasse. Willie começou a choramingar, mas finalmente deslizou entre as pernas de Joseph e começou a chupar o polegar, enquanto elevava o olhar para seu senhor.
Joseph estava perdendo a paciência. De repente Willie se tirou o polegar da boca e murmurou:
- Ele está batendo nela.
Joseph saltou de seu assento, deixando-o cair, e ele já havia cruzado a metade do salão antes que Liam e Anthony soubessem o que estava acontecendo.
- O que está acontecendo? - perguntou Liam a Anthony quando o vassalo correu atrás de seu senhor.
Liam foi o último a perceber o perigo.
- Demétria!
Anthony gritou seu nome. Liam se levantou de um salto e correu atrás de Anthony. Sua espada já estava desembainhada antes de chegar aos degraus.
Joseph foi o primeiro em chegar à capela. A porta tinha sido trancada para impedir a passagem, mas só precisou de um espaço para fazê-la em pedaços. A raiva lhe deu novas forças.
O ruído alertou o padre Lawrence. Quando Joseph entrou no vestíbulo, o sacerdote já estava usando Demétria como seu escudo. Ele a segurava na frente dele e apontava a ponta de uma adaga do lado de seu pescoço.
Joseph não olhou para Demétria. Ele não se atreveu, porque sua raiva explodiria naquele instante. Manteve sua atenção totalmente concentrada no demente que o desafiava.
- Se você se aproximar ainda mais, eu cortarei o pescoço dela! - gritou o sacerdote, retrocedendo lentamente, e meio arrastando, meio puxando sua refém.
Cada passo que o sacerdote retrocedia, Joseph dava um passo a frente.
O sacerdote foi retrocedendo lentamente para uma mesinha quadrada que estava cheia de velas acesas.
Lançou um rápido olhar para trás, obviamente calculando a distância que teria que percorrer ao redor do obstáculo até poder chegar à lateral, aquele foi o erro de cálculo que Joseph esperava.
Então atacou. Joseph separou a faca do rosto de Demétria, forçando o lado sem corte da lâmina através do pescoço do padre em um rápido, movimento mortal. O sacerdote se viu subitamente impulsionado para trás no mesmo instante em que Joseph liberava Demétria de sua presa com um brusco puxão.
O padre Lawrence já estava morto antes de seu corpo se chocar com o chão.
A mesa se chocou com a parede do fundo com um impacto que fez cair as velas. As chamas começaram a lamber imediatamente a madeira ressecada.
Joseph não prestou nenhuma atenção ao fogo. Levantou delicadamente Demétria do chão, tomando-a em seus braços, e sua esposa se aconchegou contra seu peito.
- Você demorou uma eternidade para chegar - sussurrou junto a seu pescoço. Sua voz soou entrecortada, e estava chorando suavemente.
Joseph respirou profundamente, tratando de se acalmar. Ele estava tentando se livrar da sua ira, assim ele poderia ser gentil com ela.
- Você está bem? - conseguiu perguntar finalmente, embora sua voz soasse áspera pela fúria que sentia.
- Já vi momentos melhores - murmurou Demétria.
A ironia de sua resposta acalmou Joseph. Então Demétria elevou o olhar para ele. Quando Joseph viu os danos que o rosto de sua esposa tinha sofrido, tornou a se enfurecer. O olho esquerdo de Demétria já estava inchado. Um dos cantos de sua boca estava ensanguentado e havia numerosos arranhões em seu pescoço.
Joseph quis poder matar ao sacerdote outra vez, e Demétria pôde sentir o estremecimento que percorreu todo o corpo de seu marido. Os olhos de Joseph refletiam a ira que sentia. Demétria levantou sua mão para ele e acariciou sua bochecha com as pontas dos dedos.
- Já terminou, Joseph.
Liam e Anthony entraram correndo na igreja. Liam viu o fogo e saiu imediatamente, correndo enquanto gritava ordens pedindo ajuda aos homens que já tinham começado a se reunir.
Anthony ficou ao lado de seu senhor. Quando Joseph deu meia volta e andou para o vão da porta, Anthony afastou de seu caminho uma das tábuas, a única remanescente da porta, que Joseph não tinha destruído.
Demétria podia ver quão preocupado Anthony estava. O vassalo franzia o cenho tão sombriamente como Joseph. Tratou de tranquilizá-lo, de dizer que ainda estava inteira.
- Você já percebeu, Anthony, como meu marido gosta de atravessar portas? - perguntou.
Anthony ficou estupefato por um instante, e então um lento sorriso iluminou seu rosto.
Joseph se inclinou, protegendo a cabeça de Demétria enquanto passava pelo vão da porta. Ela apoiou a bochecha em seu ombro. Somente quando eles chegaram às portas do Castelo, Demétria percebeu que ainda estava chorando. Um resto do medo que acabava de passar, pensou com um estremecimento.
Quando chegaram aos aposentos de Joseph, Demétria batia os dentes.
Joseph a envolveu em mantas e a segurou em seu colo enquanto cuidava de seu rosto arroxeado.
Ele suava por causa do calor do fogo, aceso na lareira para Demétria.
- Joseph? Você viu o olhar de loucura que havia em seus olhos? - Demétria tremeu ao lembrar -. Ele ia... Joseph? Você ainda iria me amar se ele tivesse me violado?
- Não fale, meu amor - acalmou-a Joseph -. Eu a amarei para sempre. Esta foi uma pergunta muito tola.
Demétria foi reconfortada por sua resposta abrupta, e descansou em silêncio sobre o peito de Joseph durante vários minutos. Havia muitas coisas que ela precisava dizer a Joseph, mas precisava de forças para aquele dever.
Joseph pensou que ela tivesse adormecido, quando de repente Demétria balbuciou:
- Ele foi enviado aqui para me matar.
Demétria se virou em seus braços até ficar frente ele. A expressão que havia nos olhos de Joseph a deixou gelada.
- Ele foi enviado?
Sua voz era suave, e Demétria pensou que ele poderia estar tentando esconder sua ira. Não estava funcionado, mas ela não podia dizer isso.
- Fui à igreja para dizer ao padre Lawrence que ele estava convidado para o jantar. Peguei-o desprevenido, porque não usava seus hábitos. Ele estava vestido como um camponês, mas você também deve ter percebido isso. Suas mãos também não estavam cobertas de bandagens.
- Continue - pediu Joseph quando Demétria olhou para ele com expectativa.
- Não havia nenhuma cicatriz. O sacerdote havia queimado suas mãos, lembre-se. O padre Lawrence não podia rezar a missa por causa dos seus ferimentos. Só que não havia nenhuma cicatriz.
Joseph assentiu para que sua esposa continuasse falando.
- Eu não disse nada a respeito de suas mãos. Fingi que nem tinha percebido, mas pensei em me lembrar disso para lhe contar - ela prosseguiu -. Eu contei que havíamos acabado de receber uma carta de seu monastério e que queria falar com ele depois do jantar. Esse foi meu grande erro, embora nesse momento eu não soubesse a razão - acrescentou -. Então o sacerdote ficou furioso. Ele me disse que Sebastian havia enviado ele para cá. Sua missão consistia em me matar, se o rei lhe concedesse seu favor em vez de conceder a Sebastian. Joseph, como é possível que um homem de Deus tenha a alma de um demônio? Suponho que o padre Lawrence sabia que seu jogo tinha terminado. Ele disse que ia fugir daqui, mas não sem antes me matar.
Demétria voltou a se apoiar no peito de Joseph.
- Você estava assustado, Joseph? - Demétria perguntou, sussurrando.
- Eu nunca me assusto - Joseph respondeu. Ele estava tão furioso com a traição do sacerdote, que mal podia se concentrar.
A brusca afirmação de seu marido fez Demétria sorrir.
- Eu queria perguntar se você estava preocupado, não assustado - corrigiu-se.
- O quê? - perguntou Joseph. Sacudiu a cabeça, obrigando-se a deixar sua ira de lado. Agora Demétria precisava ser tranquilizada -. Preocupado? Por todos os diabos, Demétria, eu estava furioso.
- Eu poderia afirmar que você estava furioso - respondeu Demétria -. Você lembrava o meu lobo, quando encarava meu captor.
Joseph deixou que ela se incorporasse para poder beijá-la. Foi muito delicado e suave, porque os lábios de Demétria estavam muito inchados para que pudessem permitir uma autêntica paixão.
Demétria se levantou de seu colo. Ela segurou a mão dele, puxando-o até que ele se levantou e a seguiu pelo quarto. Ela se sentou na cama e deu uns toquezinhos com a palma da mão sobre o espaço livre que havia junto dela.
Joseph tirou sua túnica. O calor que fazia no quarto o deixou empapado de suor. Sentou-se ao lado de sua esposa, passou seu braço pelo ombro dela e a puxou para ele. Queria estreitá-la em seus braços e dizer o quanto a amava. Por Deus, Joseph acreditava ter mais necessidade de dizer aquelas palavras do que ela tinha de escutar.
- Você teve, Demétria?
- Um pouco - replicou Demétria.
Ela teria encolhido os ombros, mas o peso do braço de Joseph não permitiu o gesto. Demétria mantinha a cabeça inclinada para um lado e estava desenhando círculos ao redor da coxa de Joseph, e ele supôs ser uma tentativa de distraí-lo.
- Só um pouco?
- Bem, eu sabia que você viria me socorrer, então eu não estava terrivelmente assustada. Mesmo assim, comecei a me sentir um pouco irritada quando você não apareceu imediatamente na porta. Aquele homem estava rasgando meu vestido...
- Ele poderia ter matado você - disse Joseph. Sua voz tremia de raiva.
- Não, você não teria permitido que ele me matasse - disse Demétria.
Deus, ela tinha tanta fé nele! Joseph estava constrangido com aquela confiança.
Os lentos círculos que Demétria estava desenhando com as pontas de seus dedos foram avançando para o lugar em que se uniam as pernas de seu marido. Joseph agarrou a mão dela e a colocou sobre sua coxa. Sua esposa provavelmente ainda estava tão afetada pelo acontecido que não percebia o que estava fazendo, ou como aquilo estava começando a afetá-lo.
- Deus, que calor começou a fazer aqui dentro - sussurrou Demétria -. Por que você foi acender o fogo com este tempo, Joseph?
- Você estava tremendo - lembrou Joseph.
- Agora já estou melhor.
- Então, eu vou descer e pegar aquela carta do monastério. Tenho muita curiosidade em saber o que têm a nos dizer seus superiores - anunciou Joseph.
- Não quero que você desça ainda - disse Demétria.
Joseph se mostrou imediatamente solícito.
- Você tem que descansar uma hora ou duas - disse.
- Não quero descansar - respondeu Demétria -. Você pode me ajudar a tirar estas roupas? - pediu a seu marido, falando em um tom de voz tão inocente que Joseph em seguida suspeitou de alguma coisa.
Demétria ficou de pé entre as pernas de seu marido e não moveu um dedo para ajudá-lo, quando ele foi começou a tirar sua roupa.
- O que o fez ir à igreja naquele momento? - ela de repente se lembrou de perguntar.
- O menino de Maude viu quando o bastardo bateu em você. Ele veio me dizer - respondeu Joseph.
- Eu não sabia que Willie havia me seguido até igreja. Ele deve ter saído sair correndo antes de que o sacerdote fechasse a porta, e tenho certeza que ele, sim, teve muito medo. Ele só tem cinco verões. E você deve recompensá-lo por ele ter ido lhe buscar.
- Maldição, isso tudo é culpa minha - declarou Joseph -. Eu deveria ter cuidado dos assuntos da minha casa a mesma atenção que dedico ao treinamento dos meus homens.
Demétria colocou as mãos sobre seus ombros.
- Sou eu quem tem a obrigação de cuidar da sua casa. Embora, agora que eu penso nisso, nada disto teria acontecido se...
O suspiro de Joseph não deixou que Demétria terminasse a frase.
- Eu sei. Nada disto teria acontecido se eu estivesse ali para protegê-la.
Sua voz se encheu de angústia e Demétria sacudiu a cabeça.
- Eu não ia dizer isso - replicou -. Você não deve chegar à conclusões apressadas, Joseph. É um defeito deplorável, acredite em mim. Além disso, você tem assuntos mais importantes para tratar.
- Você vem antes de todos e de tudo - declarou Joseph enfaticamente.
- Bem, eu só ia dizer que isto não teria acontecido se eu soubesse como me proteger, a mim mesma.
- O que você está sugerindo? - perguntou Joseph.
Ele realmente não tinha nem ideia do que passava pela cabeça de Demétria e de repente sorriu, porque acabava de perceber que raramente ele sabia o que ela pensava.
- O padre Lawrence não era muito maior que eu - disse ela -. Ansel tem minha estatura.
- Como meu escudeiro entrou nesta conversa? - perguntou Joseph.
- Ansel está aprendendo a se defender - informou Demétria -. Portanto, você também poderia me ensinar a me defender, eu mesma. Você vê como é sensato, não?
Joseph não isso, mas decidiu não discutir com ela.
- Falaremos sobre isso mais tarde - anunciou.
Demétria assentiu.
- Então agora deve atender minhas necessidades, Joseph. Eu ordeno isso.
Joseph reagiu ao tom subitamente malicioso que havia na voz de Demétria.
- E qual é essa ordem que você se atreve a dar a seu marido? - perguntou.
Demétria explicou soltando lentamente a fita que mantinha no lugar a regata que usava. O objeto escorregou de seus ombros. Joseph sacudiu a cabeça, tentando negar o que ela estava pedindo.
- Você está cheia de hematomas para pensar em...
- Você encontrará uma maneira - interrompeu Demétria -. Sei que agora não estou muito bonita. Eu estou um horror, não estou?
- Você está machucada, tão feia como um de seus Ciclopes, e eu mal posso olhar para você.
As palavras de Joseph a fizeram rir. Demétria sabia que seu marido só estava brincando, porque tentava colocá-la em cima dele e tirar sua regata ao mesmo tempo.
- Então, nesse caso você terá que fechar os olhos quando fizer amor comigo - sugeriu.
- Eu vou suportar - ele prometeu.
- Eu ainda posso sentir as mãos dele me tocando - murmurou Demétria e sua voz continha um novo tremor -. Preciso que você me toque. Você me fará esquecer. Voltarei a me sentir limpa, Joseph. Você entende isso?
Joseph respondeu, beijando-a. Demétria não demorou a esquecer tudo aquilo devolvendo-lhe seus beijos. Em poucos minutos, só os dois importavam.
E dessa maneira, Demétria foi limpa em corpo e coração.

 (Jessica dando o ar da graça)
faltam 6 Capitulos para acabar e ai colocarei a fic que ganhou a votaçao daquela vez. eu sei la o que fiz que troquei a ordem das historias e so na metade que percebi... mas ja era tarde...
meio spoiler da proxima fic: realeza tambem, mas nada de idade medieval, atual.....
bjemi



sexta-feira, 12 de abril de 2019

Esplendor da Honra Capitulo 17


A sabedoria vale mais que as pérolas.
Jó, 28,18...
- Demétria, qual o problema com você? Está doente?
Miley se levantou de repente e correu para sua amiga, pensando que Demétria parecia estar à beira de um desmaio. De repente seu rosto tinha perdido toda a cor, e se Miley não tivesse chegado a tempo de poder agarrá-la, a formosa harpa teria caído no chão.
Demétria balançou a cabeça. Ela começou a levantar-se, mas logo percebeu que suas pernas não conseguiriam sustentá-la. Na realidade, ainda estava tremendo por causa de sua descoberta. Agora sabia que estava apaixonada por Joseph.
- Estou bem, Miley - respondeu -. Um pouco cansada, só isso. Por favor, não se preocupe.
- Sente-se bem o bastante para cantar outra canção?
Miley pediu, mas imediatamente se sentiu culpada por ter pedido, mas desculpou sua conduta, dizendo a si mesma que estava desesperada, apesar disso, pensou que encontraria uma maneira de recompensar Demétria por sua bondade, se agora ela viesse em seu socorro. Por isso, amanhã pela manhã ela subiria com uma bandeja de café da manhã.
Demétria sabia que Miley estava tentando ganhar tempo. Queria ajudar sua amiga, mas não encontrou nenhum plano que pudesse liberá-la daquele passeio com Liam.
Quando Liam veio até elas, deteve-se ao lado de Miley, Demétria disse:
- É um instrumento muito fino que você deu a Miley. Você escolheu bem, Liam.
O barão sorriu.
- Joseph também soube escolher.
Sua estranha observação deixou Demétria um tanto perplexa. Então Kevin e Nicholas expressaram sua alegria por sua bela performance, e Demétria não demorou a ruborizar-se de constrangimento. A verdade é que não estava acostumada a ouvir semelhante elogio. Ela pensou que os Wexton eram uma família estranha. Eles elogiavam com muita facilidade, e Demétria chegou à conclusão de que isso era porque eles não achavam que isso diminuísse seu valor.
Ela nunca tinha sido chamada de bonita até que conheceu os Wexton. Entretanto, cada um deles tinha feito aquele elogio em mais de uma ocasião, e Demétria começava a acreditar que eles realmente a consideravam bonita.
- Vocês vão me fazer ficar um pouco vaidosa, se continuarem a me elogiar dessa maneira - admitiu com um tímido sorriso.
Ela percebeu, entretanto, que Joseph não tinha feito nenhum comentário e se perguntou se ela o teria agradado.
Seu marido ainda não se comportava como ele mesmo, agindo de forma bem diferente de quando ele a tomou em seus braços, lá fora, e a beijou diante de todo mundo, e de quando ele a provocou durante o jantar. Se ela não conhecesse Joseph melhor, Demétria pensaria que aquele homem tinha senso de humor. O que era totalmente ridículo, é obvio.
Demétria viu quando Liam pegou a mão de Miley e a escoltava para fora do salão. A irmã de Joseph não deixou de olhar nem um só instante para Demétria, por cima do ombro, enquanto saía, olhando-a com uma expressão de súplica.
- Não fique fora por muito tempo, Miley - disse Demétria -. Você sentirá frio.
Era tudo o que ela podia fazer. Miley aceitou a sugestão com um assentimento de gratidão, antes que Liam a levasse para onde Demétria não podia vê-la.
Nicholas e Kevin também deixaram o salão. Joseph e Demétria repentinamente ficara a sós.
Demétria alisou seu vestido para ocupar suas mãos. Desejou poder subir ao quarto da torre e passar uns minutos a sós. Deus, havia tanta coisa para pensar, tantas decisões a tomar...
Ela podia sentir como Joseph a olhava.
- Gostaria de me falar sobre homens e seus cavalos agora, Joseph – Demétria perguntou -, antes de que você vá nadar no lago?
- O quê? – ele parecia perplexo.
- Você disse que queria falar sobre homens e seus cavalos - explicou - Não se lembra?
- Ah, isso... - respondeu Joseph, dando-lhe um cálido sorriso -. Aproxime-se um pouco mais, esposa, e eu começarei minha explicação.
Demétria franziu o cenho diante daquele pedido, pensando já estar bem perto dele.
- Você está se comportando de maneira muito estranha, Joseph - observou, enquanto ela caminhava para ficar ao seu lado -. E também está bem relaxado. Não você parece você mesmo - acrescentou.
Demétria mordiscou seu lábio inferior, baixando o olhar para seu marido. De repente, estendeu a mão e tocou sua testa com o dorso.
- Não tem febre - anunciou.
Joseph pensou que ela estivesse um pouco decepcionada. Seu cenho franzido estava bem marcado para lhe dar essa ideia.
Demétria arrumou seu vestido, e sentou-se tão dignamente quanto pôde, cruzando as mãos em seu colo.
- Está preocupada com alguma coisa? - perguntou Joseph, enquanto seu polegar separava suavemente o lábio inferior dos dentes.
É obvio que ela estava preocupada. Joseph estava se comportando como um completo desconhecido, e isso já era motivo de preocupação mais que suficiente para qualquer esposa. Demétria suspirou. Ela separou uma mecha de cabelos dos olhos, atingindo sem querer o queixo de Joseph com o cotovelo enquanto o fazia.
Desculpou-se, envergonhada por aquela repentina estupidez.
- Você não canta como uma rã - disse depois.
Demétria sorriu, pensando que era o elogio mais maravilhoso que havia recebido.
- Obrigado, Joseph - disse -. E agora me explique sobre os mistérios dos homens e seus cavalos - sugeriu.
Joseph assentiu. Sua mão foi subindo lentamente pelas costas de Demétria até que chegou a seu ombro. O movimento fez com que um delicado comichão percorresse a pele de Demétria. Então ele a puxou em sua direção e Demétria se viu apoiada em seu peito.
- O certo é que nós homens temos um vínculo muito especial com nossos cavalos, Demétria - começou dizendo.
Sua voz era tão deliciosamente reconfortante, como o calor que emanava das chamas. Demétria se aconchegou um pouco mais a ele, bocejou e fechou os olhos.
- Sim, dependemos de nossas montarias para obedecer todas as nossas ordens. Um cavalheiro não pode combater diligentemente se tiver que dedicar parte de seu tempo para controlar seu cavalo. Isso pode significar sua vida se a batalha for sangrenta e o animal indisciplinado.
Joseph prosseguiu com sua explicação durante alguns minutos.
- Você, esposa, enfeitiçou meu cavalo, fazendo com que ele se afaste de mim. Eu deveria estar furioso com você. Agora que eu estou pensando nisso, estou furioso - murmurou Joseph. O sorriso azedou em seu rosto, enquanto ele refletia sobre a perda de sua fiel montaria -. Sim, você estragou Silenus. Você pode protestar agora, se esse for o seu desejo, mas eu já fiz me decidi e vou lhe dar Silenus. E assim eu vou ouvir primeiro seu pedido de desculpas por arruinar meu cavalo, e depois seu agradecimento pelo presente que eu lhe dei.
Mas Joseph não recebeu nenhuma das duas coisas. Demétria não se desculpou nem lhe agradeceu. Joseph franziu o cenho por sua teimosia e jogou suavemente a cabeça dela para trás, assim poderia ver seu rosto.
Demétria estava profundamente adormecida. Provavelmente não tinha ouvido uma única palavra do que havia dito seu marido. Joseph deveria estar zangado com ela. Aquilo, sem dúvida, no mínimo, era uma falta de respeito. Joseph a beijou em vez de despertá-la. Demétria se aconchegou ainda mais e depois suas mãos subiram ao redor do pescoço de Joseph.
Kevin entrou na sala no instante em que Joseph depositava um segundo beijo no alto da cabeça de Demétria.
- Ela adormeceu? - perguntou Kevin.
- Meu sermão a assustou tanto que ela desmaiou - respondeu Joseph secamente.
Kevin riu, lembrou-se que Demétria estava adormecida e suavizou sua voz.
- Não se preocupe em acordá-la, Kevin. Dorme como uma gatinha bem alimentada.
- Sua esposa teve um dia muito longo. A refeição do jantar estava excepcional e tudo porque Demétria sempre exige a perfeição de seus criados. Eu comi quatro bolos - admitiu Kevin -. E você sabia que são as próprias receitas de Demétria, ensinadas a Gerty?
- Os criados dela?
- Sim, agora são leais a Demétria.
- E você Kevin? É leal a Demétria?
- Agora Demétria é minha irmã, Joseph. Daria minha vida para protegê-la - acrescentou Kevin.
- Não duvido de você, Kevin - respondeu Joseph, quando captou o tom defensivo na voz de Kevin.
- E então por que me pergunta isso? - perguntou Kevin. Agarrou uma cadeira e se sentou, encarando seu irmão -. Liam trouxe alguma novidade sobre Demétria?
Joseph começou a assentir, mas logo que moveu a cabeça, Demétria ocupou o espaço disponível debaixo de seu queixo. Joseph sorriu.
- Liam trouxe novidade, sim. Nosso rei ainda está na Normandia, mas Sebastian está reunindo com suas tropas. Liam estará conosco, naturalmente.
- Dentro de três semanas serei obrigado a voltar para o barão de Rhinehold - observou Kevin -. Embora ele conte com meu juramento de lealdade, sou vassalo de nosso rei em primeiro lugar, seu em segundo e de Rhinehold em terceiro. Por essa razão, Rhinehold iria permitir que eu ficasse aqui, enquanto você precisar dos meus serviços.
- Rhinehold também vai se unir a Liam e a mim contra Sebastian, caso seja necessário. Juntos podemos reunir mais de mil homens.
- Esquece sua aliança com os escoceses - recordou-lhe Kevin -. O marido de Catherine poderia reunir oitocentos homens, talvez mais.
- Não me esqueci, mas não desejo envolver a família de Catherine nesta disputa - respondeu Joseph.
- E se o rei se unir ao bando de Sebastian?
- Não o fará.
- Como pode estar tão seguro? - perguntou Kevin.
- São muitos os que têm uma imagem totalmente equivocada de nosso rei, Kevin. Eu combati junto dele em muitas ocasiões. Pensam que tem um temperamento incontrolável. Entretanto, durante uma batalha, um de seus próprios homens fez com que nosso rei caísse no chão de maneira acidental. Os soldados rodearam William, cada um deles jurava matar o vassalo descuidado. O rei riu do incidente, deu uma palmada no ombro do soldado que o fez cair, e disse para ele voltar a montar seu cavalo e se defendesse.
Kevin meditou sobre aquela história por um minuto antes de voltar a falar.
- Dizem que Sebastian exerce uma influência peculiar sobre a mente do rei.
- Duvido muito que nosso rei permita que alguém governe sua mente.
- Rezo para que você esteja certo, irmão.
- Há outra questão que quero falar com você, Kevin. As terras de Falcon, para ser exato.
- O que houve com elas? - perguntou Kevin, franzindo o cenho.
As terras de Falcon eram uma propriedade improdutiva, mas considerada muito apropriada para o cultivo, que pertenciam ao Joseph. Ficavam no extremo sul da propriedade dos Wexton.
- Eu gostaria que você supervisionasse aquela região, Kevin. Construa uma fortaleza ali. Eu cederia as terras, se isso fosse possível. Mas o rei não permitiria isso, a menos que encontrasse alguma maneira de ganhar seu favor.
Joseph fez uma pausa, meditando na complexidade do problema.
Os comentários de seu irmão deixaram Kevin atônito.
- O plano que você propõe é realmente inédito - balbuciou.
Pela primeira vez em sua vida, Kevin não sabia o que dizer. E embora fosse altamente improvável que aquilo chegasse a acontecer, uma pequena luz de esperança acendeu em seu coração. Possuir sua própria terra, governá-la como seu próprio dono e senhor... era tudo irresistível demais para ser verdade.
- E por que você quer que eu tome conta das terras de Falcon? - perguntou.
- Demétria.
- Não compreendo.
- Minha esposa ouviu como Nicholas e eu falávamos dos irmãos do rei. Quando Nicholas saiu do salão, Demétria me fez ver quão insatisfeitos estão Robert e Henry. Ela acredita que isso é porque a nenhum dos dois foi outorgada suficiente responsabilidade.
- Santo Deus, Robert recebeu a Normandia - interveio Kevin.
- Isso - disse Joseph, sorrindo -. Mas o irmão mais novo do rei só recebeu de seu pai ouro e uma pequena, e insignificante propriedade, e pude ver a frustração nisso aí. Ele nasceu para liderar, mas negado ao nascer o direito a governar.
- Se existir algum paralelo nisto, estou impaciente para ouvir - disse Kevin.
- Demétria me fez começar a refletir sobre isso. Você é meu vassalo tanto como de Rhinehold, e esses deveres devem permanecer intactos, mas se nós ganhássemos a gratidão do rei, então você poderia ficar com Falcon e fazê-lo producente. Você sempre soube como transformar uma moeda em dez, Kevin.
O irmão sorriu, feliz pelo elogio.
- Se nosso pedido não der frutos, ainda assim você vai construir seu lar ali e vai agir como meu supervisor. O rei vai agradecer por poder contar com esse dízimo adicional, e não vai se importar com qual irmão fará a contribuição.
- Estou concordo com seu plano - anunciou Kevin, que sorria.
- Nicholas em breve voltará para o barão Thormont para terminar seus quarenta dias de serviço - disse Joseph.
- Nicholas tem uma maneira de liderar os outros e, em breve, vai se tornar o primeiro-em-comando, da mesma maneira que Anthony é seu primeiro-em-comando - disse Kevin.
- Antes disso, nosso irmão terá que aprender a controlar seu temperamento - comentou Joseph.
Kevin assentiu para indicar que era a mesma opinião que ele.
- Ainda tem que me contar as novidades que Liam trouxe a respeito de Demétria - disse depois.
- Liam está convencido de que o irmão do rei, Henry, poderia estar tramando alguma coisa. Liam foi chamado para falar com Henry.
- Quando? Onde?
- Os Clare terão Henry como convidado. Não sei quando o encontro acontecerá.
- Você acredita que Henry pedirá a lealdade de Liam contra o nosso rei? - perguntou Kevin -. E sobre você? Você também foi convidado para este encontro?
- Não. Ele sabe que eu estarei do lado do meu rei - respondeu Joseph.
- Você está sugerindo que Henry se voltará contra William?
- Se eu realmente estivesse convencionado disso, iria me apresentar diante nosso líder e daria minha vida por ele. A honra me obriga a protegê-lo.
Kevin assentiu, sentindo-se satisfeito com aquela resposta.
- Liam disse que o número dos descontentes está crescendo rapidamente. Existe mais de uma conspiração para matar nosso rei. Isso não tem nada de estranho, é claro. Seu pai tinha tantos inimigos como ele.
Como viu que Joseph não dizia nada, Kevin continuou falando.
- Liam acredita que foi convidado a fazer parte nessa reunião por conta da nossa amizade. Ele acredita que Henry quer saber se eu o honrarei como rei, no caso de William morrer.
- Vamos esperar para ver quais são os resultados dessa reunião?
- Sim, vamos esperar - disse Kevin franzindo o cenho, e acrescentou -: Há muito a se considerar, irmão.
- Diga-me uma coisa, Kevin: Nicholas ainda acredita estar apaixonado por Demétria? - perguntou Joseph, mudando de assunto.
Kevin encolheu os ombros.
- Ele demorou algum tempo para se habituar ao seu casamento - admitiu -. Mas acredito que agora ele já superou sua paixão. Ele gosta muito de Demétria, mas ela continua chamando-o de irmão, e isso esfria bastante o ardor que sente por ela. Eu me surpreendo que você tenha notado a aflição de Nicholas.
- Nicholas traz seus pensamentos no rosto - observou Joseph -. Você viu como ele levou sua mão à espada durante a cerimônia de casamento, quando pensou que eu estava obrigando Demétria a se casar comigo?
- Você a obrigou - replicou Kevin com um sorriso -. E sim, eu testemunhei aquele gesto. Demétria também viu como Nicholas reagia. Acredito que essa foi a única razão pela qual ela, de repente, aceitou você como seu marido.
Joseph sorriu.
- Uma observação muito certa, Kevin. Demétria sempre tentará proteger qualquer um que lhe pareça mais frágil, e naquele momento ela temeu que eu fosse fazer Nicholas pagar caro por aquilo.
Ele começou a acariciar suavemente as costas de sua esposa. Kevin contemplou a maneira com que seu irmão acariciava Demétria, e pensou consigo mesmo que Joseph provavelmente nem sequer tinha consciência do que estava fazendo.
- Então Demétria quer que nós partamos daqui? - perguntou.
- Não, Kevin. Imagino que ela vai ficar muito triste e vai me culpar -respondeu Joseph -. Minha esposa não entende que sua lealdade também inclua o barão Rhinehold.
Kevin assentiu e seu irmão continuou falando.
- Eu acredito que a preocupação de Demétria é que eu vá manter você e Nicholas sob meu controle, pelo resto de suas vidas, não permitindo que nenhum dos dois aja guiado por seus próprios pensamentos.
- Seu esposa tem ideias muito estranhas - observou Kevin -. E ainda assim ela mudou sua vida, não é, Joseph? Mudou as nossas também. Esta é a primeira vez que você e eu conversamos por tanto tempo sobre qualquer assunto. Sim, eu acredito que Demétria tenha feito de nós uma família mais forte.
Joseph não respondeu àquele comentário. Kevin se levantou e caminhou para a entrada.
- É uma pena, sabe - disse por cima do ombro.
- O que é uma pena? - Joseph perguntou.
- Que eu não atenha capturado primeiro.
Joseph sorriu.
- Não, Kevin, foi uma bênção. Juro por Deus, eu a teria tirado de você.
Demétria despertou no mesmo instante em que Joseph fazia aquele comentário. Apressou a se incorporar e sorriu timidamente para seu marido.
- O que você teria tirado de seu irmão, Joseph? - perguntou com voz enrouquecida pelo sono. Depois alisou os cabelos, e Joseph se apressou em esquivar-se de seus cotovelos antes de responder.
- Nada com que você deva se preocupar, Demétria.
- Você sempre deveria compartilhar o que você tem com seus irmãos - disse Demétria, aproveitando aquela ocasião para ensinar a Joseph.
Kevin obviamente ouviu aquela observação, e sua gargalhada o seguiu, enquanto se afastava.
Então Miley entrou correndo no salão. Assim que ela viu Demétria, a irmã de Joseph começou a chorar.
- Liam insiste em dizer que o contrato é válido, Demétria. O que vou fazer? Esse homem ainda quer se casar comigo.
Demétria saltou do colo de Joseph no instante em que Miley se lançava em seus braços.
Joseph se levantou e suspirou com irritação ao ver como sua irmã estava à beira da histeria.
- Você deveria fazer esta pergunta para mim, Miley - disse secamente. Fechou a mão sobre o braço de Demétria, ignorando o fato de Miley se agarrar a ela como um vestido empapado, e começou a puxar sua esposa em direção à entrada.
- Não podemos deixar sua irmã em semelhante estado - protestou Demétria. Deus, sentia-se como se estivesse no meio de um cabo-de-guerra -. Joseph, você está arrancando o meu braço.
Então, o barão Liam entrou correndo no salão, estragando a tentativa de Joseph de levar Demétria para cima e tratar o problema de Miley pela manhã. Joseph não estava com humor para uma longa discussão e decidiu resolver o assunto imediatamente.
Antes que Liam pudesse dizer uma palavra, Joseph perguntou:
- Ainda quer se casar com Miley?
- Sim - respondeu Liam. Sua voz era tão desafiante, como seu porte -. Miley será minha esposa.
- Dei minha palavra a Miley de que ela poderia permanecer aqui pelo tempo que desejasse, Liam.
O rosto de Liam mostrou sua raiva, e Joseph teve vontade de grunhir.
- Eu estava errado em fazer-lhe tal promessa - disse, admitindo o equívoco na frente de Kevin, Demétria, Miley e Liam.
Era uma confissão assombrosa, vindo de um homem que nunca admitia um erro. Joseph sorriu ao ver a maneira com que sua confissão deixou todos atônitos. Virou-se para Demétria e sussurrou:
- Seu obsessão em dizer a verdade me afetou, esposa. E agora feche a boca, meu amor. Tudo sairá bem.
Demétria assentiu lentamente e dirigiu um sorriso a seu marido, deixando-o saber que confiava nele. Joseph se sentiu tão satisfeito que quando se virou novamente para Liam, ainda estava sorrindo. Liam conhecia Joseph bem demais para esperar até que ele desse uma explicação completa, antes de desafiá-lo abertamente. Joseph sempre tinha sido um homem de palavra.
- Deixe de chiar como uma galinha, Miley - ordenou Joseph -, e o conte ao barão Liam qual foi a exata promessa que eu fiz a você.
Seu tom de voz não sugeria discussão. Miley se incorporou, separando-se de Demétria e disse:
- Disse que eu poderia viver aqui até morrer, se este fosse o meu desejo.
Então Liam deu um passo para Miley, mas o olhar de Joseph o deteve.
- E agora, Liam? Que promessa eu fiz a você?
A voz de Joseph era suave, dando a impressão de estar aborrecido com aquela conversa. Demétria apertou a mão dele.
Liam respondeu Joseph com um grito.
- Com a bênção do rei, você permitiria que Miley se convertesse em minha esposa!
Kevin não conseguiu ficar silêncio por mais tempo.
- Como, em nome de Deus, você vai honrar ambos os juramentos? - perguntou a Joseph.
- Liam - disse Joseph, como se não tivesse ouvido Kevin -, minha palavra a Miley depende de seu desejo de permanecer aqui. Acredito que fazê-la mudar de ideia seja seu dever.
- Você está sugerindo que...?
- Você é um hóspede bem-vindo em mina casa pelo tempo que for preciso - disse Joseph.
Liam ficou perplexo, e logo um sorriso do mais arrogante transformou seu rosto. Virou-se para Miley e sorriu.
- Miley, já que você não vai embora daqui, então eu ficarei aqui com você.
- Você vai o quê?
Miley voltava a gritar, entretanto Demétria não pôde ver medo algum em seus olhos, a não ser incredulidade e raiva.
- Como disse seu irmão, Miley, ficarei aqui pelo tempo que for necessário para fazê-la compreender que tenho a intenção de casar com você - disse Liam -. Você me ouviu?
É obvio que ela tinha ouvido. Demétria pensou que inclusive o sentinela do sul deveria ter ouvido Liam. Ele gritou seu comunicado em alto e bom tom.
Demétria deu um passo para Miley com a intenção de protegê-la da raiva de Liam, mas subitamente Joseph voltou a segurar sua mão. E quando ela abriu sua boca para protestar, a pressão que Joseph exercia sobre sua mão se intensificou. Demétria decidiu que reservaria seu protesto para mais tarde.
Miley estava muito furiosa para poder falar. Ela recolheu suas e correu para Liam.
- Você estará velho, grisalho e enrugado antes que eu mude de ideia, Liam - disse-lhe.
Liam a olhou e sorriu.
- Você subestima minhas habilidades, Miley - replicou.
- Você é o homem mais teimoso que já existiu - balbuciou Miley - Seu… seu plebeu! - acrescentou depois, dando-lhe as costas e saindo do salão.
Tudo sairia bem. Demétria sabia disso, porque assim dizia seu coração. Miley estava furiosa, mas não aterrorizada.
- O que é um plebeu? - perguntou Liam a Kevin.
Kevin encolheu os ombros e olhou para Demétria.
- É outra dessas suas palavras? - perguntou.
- Sim - admitiu Demétria.
- É tão desagradável e odioso como Polifemo? - perguntou Kevin.
Demétria sacudiu a cabeça.
- Bem, Liam, ao menos Miley não acha que você tão desprezível como eu pareci ser para Demétria, quando nos encontramos pela primeira vez - disse Kevin com um sorriso.
Demétria não sabia do que Kevin estava falando. Joseph deu boa noite a todos e levou Demétria do salão, antes que pudesse ela perguntasse a Kevin o que ele queria dizer com aquela estranha observação.
Nem marido nem mulher trocaram uma única palavra entre ambos até chegarem ao quarto de Joseph. Quando ele abriu a porta para deixá-la passar, Demétria se distraiu em perguntar a respeito de Miley ou Kevin. Primeiro, o quarto atraiu sua atenção. Joseph tinha mudado suas coisas da torre para aquele quarto. Agora as duas cadeiras que ladeavam sua lareira, o cobertor que cobria sua enorme cama, e a tapeçaria feita por Demétria estava pendurada em cima da lareira.
Maude se preparava para sair dos aposentos e anunciou ao barão que o banho de Demétria já estava pronto para ela, tal como ele tinha pedido que se fizesse.
Assim que a porta se fechou atrás da criada, Demétria disse:
- Não posso tomar banho na sua frente, Joseph. Por favor, vá andar no seu lago enquanto eu...
- Já vi você sem roupa em muitas ocasiões, Demétria - disse Joseph. Ele soltou o cinturão trançado de sua esposa, jogou-o sobre uma das cadeiras, e então começou a tirar a meia túnica e o vestido.
- Mas sempre na cama, Joseph, com os cobertores e... - sua voz foi sumindo.
Joseph soltou uma risadinha.
- Entre na banheira antes que a água esfrie, meu amor.
- Você nada em um lago de água gelada - lembrou Demétria. Seu marido estava tirando lentamente sua regata por cima dos ombros -. Por que você está fazendo isso? - perguntou ela, ruborizando o bastante para sentir o calor de suas bochechas -. Você gosta de nadar quando a água está fria?
Demétria pensou que dessa maneira conseguiria distrair a atenção de Joseph da tarefa de despi-la. Mas seu marido era capaz de responder a pergunta e despi-la ao mesmo tempo.
- Particularmente, eu não gosto disso - respondeu Joseph.
Joseph teve pouco trabalho com sua roupa de baixo, ansioso para se livrar das roupas que protegia dele aquela beleza. Ajoelhou-se diante dela e foi tirando as meias e os sapatos, deixando um cálido rastro de carícias até sua cintura.
As mãos de Joseph faziam com que Demétria suspirasse de prazer.
- Então por que o faz? - gaguejou.
- Para endurecer minha mente e meu corpo.
Deixou de tocá-la. Demétria ficou desapontada.
- Há maneiras mais fáceis de endurecer seu corpo - sussurrou.
Ela notou que sua voz parecia rouca. Demétria tentou cobrir seus seios colocando seu cabelo para diante, e franziu o cenho quando percebeu que o tamanho de seus cabelos não bastava para cobri-los adequadamente. Ela esticou as pontas de suas mechas, convenientemente bloqueando a visão de seus seios.
Joseph, que não estava disposto a permitir que ela se escondesse dele, levantou-se e separou suas mãos com delicadeza. As palmas de suas mãos circundaram os seios de Demétria, enquanto seus polegares descreviam lânguidos círculos ao redor de seus rosados mamilos. Os dedos dos pés de Demétria afundaram entre os juncos que cobriam o chão. Inclinou-se instintivamente para frente, procurando o contato das mãos de Joseph sobre sua pele.
- Se eu beijar você, Demétria, não deixarei que você tome seu banho. Posso ver a paixão em seus olhos. Pode sentir o quanto eu desejo você?
Joseph falou em um sussurro que a acariciava tão meigamente como suas mãos. Demétria assentiu lentamente.
- Eu sempre desejo você, Joseph.
Ela se obrigou a dar meia volta e ir para a banheira.
Joseph tentou não olhar para sua esposa. Tinha jurado que aquela noite ele iria devagar. Faria amor com Demétria sem pressa, não importando quão desesperado fosse o impulso de deitá-la sobre a cama e amá-la apaixonadamente.
Ele iria tranquilizá-la com palavras suaves. Seu plano era forçá-la a confessar para ele o quanto ela o amava. Joseph estava um pouco nervoso. Ele precisava ouvir aquelas palavras agora que tinha admitido a si mesmo o quanto ele a amava.
Joseph estava decidido a fazer com que ela o amasse. E ele era arrogante o bastante para acreditar que uma vez que ele a cortejasse, Demétria não seria capaz de negar-lhe nada.
Joseph sorriu consigo mesmo. Ele estava disposto a usar a obsessão de Demétria em dizer a verdade em proveito. Ele tirou sua própria túnica e depois se ajoelhou diante da lareira para acrescentar outro lenha ao fogo.
Demétria se lavou rapidamente, temendo que Joseph se virasse e a visse fazer aquele trabalho tão íntimo.
E então ela viu o humor naquela situação e riu.
Joseph foi até a banheira e ficou ao lado dela. Com as mãos apoiadas no quadril, ele quis saber o que Demétria achava tão divertido.
Agora Joseph já não usava sua camisa. O coração de Demétria começou a bater desenfreadamente. De repente também ficou sem respirar. Oh, que facilidade seu marido tinha em excitá-la!
- Eu durmo ao seu lado todas as noites sem roupa alguma, e realmente agora não deveria me sentir envergonhada. Por isso eu estava rindo - acrescentou com um encolhimento de ombros que quase a afogou.
Demétria se levantou e se virou para seu marido, demonstrando a ela mesma e a seu marido que ela não estava mais constrangida.
As gotinhas de água reluziam sobre sua pele. As pontas de suas mechas se uniram em uma série de úmidos cachos, e havia uma expressão travessa em seu rosto. Joseph se inclinou para beijá-la uma única vez, no cocuruto de sua cabeça, e outra vez, agora no arco do nariz dela. Demétria tinha um aspecto magnífico e fazia um esforço tão nobre para não parecer tímida na frente dele, que Joseph não conseguiu se conter.
Quando a viu estremecer-se, Joseph pegou a toalha que Maude havia deixado em cima de uma das cadeiras. Envolveu Demétria com ela, tirou-a da banheira e a levou até a lareira.
Demétria ficou imóvel diante dele com as costas voltadas para o fogo. Fechou os olhos quando o peito de Joseph roçou contra seus seios. O calor das chamas esquentava seus ombros, e o olhar cheio de ternura de Joseph dava calor ao seu coração.
Sentiu-se adorada. A sensação era tão maravilhosa que Demétria não protestou quando Joseph começou a secá-la. A princípio usou a toalha para secar sua pele com suaves palmadas, mas quando terminou com suas costas, subitamente ele a puxou pelas pontas da toalha, atraindo-a contra seu peito. E então sua boca se apossou dos lábios de Demétria em um beijo abrasador. Sua língua penetrou no tesouro que ela estava oferecendo. Joseph deixou cair a toalha, colocou as mãos em suas nádegas, puxando-a contra sua rigidez, para o incrível calor que emanava dele.
Demétria gemeu de prazer dentro da boca de Joseph, enquanto acariciava a língua dele com a sua. Suas mãos acariciaram as costas dele, mas quando as pontas de seus dedos deslizaram para a borda da cintura da calça dele, Joseph rapidamente a afastou.
- Leve-me para a cama, Joseph - suplicou Demétria.
Ela tentou capturar sua boca com outro beijo, mas Joseph a evitou deliberadamente.
- No tempo certo, Demétria - prometeu com um sussurro rouco. Beijou a ponta de seu queixo, e foi descendo lentamente para seu seios -. É tão linda... - ele disse.
Ele queria saboreá-la toda. Joseph acariciou um seio com a mão, enquanto adorava o outro com a boca, sugando-o até que o mamilo ficou convertido em uma dura saliência.
O contato de sua língua era como veludo quente. Demétria apenas podia suportá-lo. Quando Joseph se ajoelhou e cobriu seu ventre com beijos úmidos e quentes, Demétria respirou fundo e esqueceu soltar a respiração. As mãos de Joseph acariciaram as coxas e se moveram entre elas, levando-a à beira da perda de controle. Joseph foi abrindo um atalho de beijos ao longo da cicatriz de Demétria, enquanto suas mãos prosseguiam com sua doce tortura, tocando, acariciando, adorando, até o calor que emanava dela.
Agarrou-a pelo quadril, e quando sua boca começou a beijar o suave montículo de cachos que havia entre as coxas de Demétria, ela sentiu que seus joelhos dobraram.
Joseph não deixava que ela se mexesse. Sua boca e sua língua saborearam a umidade que ele tinha criado dentro dela. Sua esposa era tão doce como o mel e tão embriagadora como um vinho fino.
Demétria pensou que fosse morrer de prazer. As unhas de seus dedos cravaram nos ombros de Joseph. Deixou escapar um suave gemido. Aquele primitivo som erótico quase deixou Joseph louco.
Lentamente ele inclinou Demétria até deitá-la no chão. A boca de Joseph reclamou a dela no mesmo instante em que seus dedos abriam passagem em sua apertada e úmida feminilidade. Demétria arqueou sob a mão de Joseph, gritando seu nome quando um esplendor explodiu dentro dela. Onda atrás onda de um incrível prazer estendeu por todo seu corpo e Joseph a manteve apertada contra ele durante toda essa experiência, sussurrando palavras de amor enquanto a estreitava em seus braços.
Demétria se sentia como ouro líquido em seus braços e pensou em dizer quanto prazer ele a fazia sentir, mas não era capaz de deixar de beijá-lo, tempo suficiente para chegar a dizer qualquer coisa.
Joseph se separou e tirou rapidamente o resto de sua roupa. Ele se deitou sobre suas costas e puxou Demétria para cima dele.
Sabia que estava a ponto de perder o controle. Separou suas pernas tentando ser o menos brusco possível, e quando Demétria montou escarranchada em cima dele, sua mão começou a acariciá-la, fazendo-a enlouquecer outra vez. Demétria gemeu seu nome, suplicando com as mãos e a boca que ele colocasse fim àquela tortura.
Joseph levantou o quadril e entrou nela com uma poderosa investida. Demétria estava mais que preparada para recebê-lo. Ela estava tão incrivelmente quente, tão molhada, tão apertada...
Joseph se deixou capturar por ela. Demétria arqueou as costas até que o recebeu por completo, e então começou a se mexer, com movimentos lentos e ritmados que enlouqueceram Joseph.
Joseph se sentia tão fraco como um escudeiro e tão poderosos como um senhor da guerra. Ele a agarrou pelo quadril, pedindo que ela se mexesse com mais energia.
Ele encontrou sua satisfação antes dela, mas o som e o prazer que dele emanavam, deu a Demétria sua própria e sublime rendição.
Demétria caiu sobre o peito de Joseph, que gemeu, mas Demétria estava exausta, satisfeita demais para pedir desculpas.
Passaram-se alguns minutos antes que um dos dois pudesse falar. Os dedos de Demétria acariciavam o peito de Joseph. Ela adorava a sensação do encaracolado de seu pelo, sua pele lisa, quente, seu perfume maravilhoso.
Demétria viu o quão orgulhoso ele estava. Joseph a olhava com uma expressão de imensa satisfação no rosto. Uma mecha de cabelo tinha caído em cima de sua testa.
Demétria ia levantar a mão para devolvê-lo a seu lugar, quando Joseph falou.
- Eu amo você, Demétria.
A mão de Demétria ficou entre eles, suspensa no ar.
Ela arregalou os olhos, e foi então que Joseph percebeu o que acabava de dizer.
Não era assim que ele tinha planejado. Era para ela dizer a Joseph que ela o amava. Ele sorriu com seu próprio engano, enquanto esperava pacientemente que ela se recuperasse da confissão que ele acabava fazer, dizendo para ela o quanto o amava.
Demétria não podia acreditar que ele tivesse dito aquelas palavras. Nesse momento a expressão de Joseph se tornou solene, indicando com isso que não poderia ter falado mais a sério.
Demétria começou a chorar. Joseph não soube como interpretar aquela reação.
- Você está chorando porque eu disse que amava você?
Demétria sacudiu a cabeça.
- Não - sussurrou.
- Então, por que você está triste? Eu acabei de lhe dar prazer, não?
Ele realmente parecia preocupado. Demétria secou as lágrimas de suas bochechas, acertando uma cotovelada no queixo de Joseph.
- Você me deu muito prazer - disse -. Mas eu estou tão assustada, Joseph... Você não deveria me amar.
Joseph suspirou. Decidiu que esperaria alguns minutos antes de obter uma explicação decente dela, porque agora Demétria tremia muito para falar com coerência.
Soube ter paciência, mas uma vez que ele a levou para a cama e estavam sob os cobertores, Demétria se aconchegou junto a ele e não disse uma única palavra.
- Por que você está assustada? - perguntou Joseph -. É tão terrível que eu ame você?
Sua voz estava cheia de ternura e isso fez com que Demétria voltasse a chorar.
- Não pode haver esperança para nós, Joseph. O rei...
- O rei nos deu sua bênção, Demétria. Nosso rei terá que aprovar este casamento.
Parecia tão seguro de si mesmo que Demétria se sentiu reconfortada por aquela imensa confiança.
- Diga-me por que pensa que o rei ficará do seu lado, Joseph. Faça-me entender isso. Não quero ficar com medo.
Joseph voltou a suspirar.
- O rei William e eu nos conhecemos desde que éramos jovens. William tem muitos defeitos, mas demonstrou ser um líder muito capaz. Ele não lhe cai bem por conta das histórias que você ouviu seu tio contar, e seu tio reflete as ações de sua igreja. O rei perdeu o apoio do clero, porque eles levaram tesouros de seus monastérios. Além disso, ele nunca se apressou em substituir nenhuma igreja oficial. O clero despreza nosso rei porque ele não se inclina aos seus ditames.
- Mas por que pensa que...?
- Não me interrompa quando estiver explicando alguma coisa para você - disse Joseph, e suavizou seu comentário com um delicado apertão -. Embora não queira alardear sobre isso, a verdade é que ajudei nosso rei a unir aos escoceses e manter uma coexistência pacífica. O rei conhece meu valor. Conto com um exército bem treinado, que ele pode recorrer em momento de necessidade, Demétria. O rei confia em minha lealdade. Eu nunca o trairia, e isso o rei também sabe.
- Mas Joseph, Sebastian é seu amigo especial - interveio Demétria -. Marta me disse isso, e também ouvi rumores dos lábios dos amigos de meu tio.
- Quem é essa Marta?
- Uma das criadas destinadas a meu tio - respondeu Demétria.
- Ah, então sem dúvida ela deve ser tão confiável como o Papa - replicou Joseph -. É assim que você pensa?
- É obvio que não - murmurou Demétria. Ela tentou se virar para olhar para Joseph, mas ele não deixou ela se mover. Demétria voltou a acomodar-se sobre ombro de seu marido e disse -:Meu irmão se vangloria do poder que tem sobre William.
- Diga-me, esposa, o que você quer dizer exatamente com isso de Sebastian ser seu amigo especial - Joseph exigiu.
Demétria sacudiu a cabeça veementemente.
- Não posso dizer essas palavras. Seria um pecado.
Joseph suspirou com exasperação. Sabia de sobra quais eram as preferências do rei, e fazia tempo que ele imaginava que Sebastian seria mais que um escrivão na corte de William. Surpreendeu-se, entretanto, que sua inocente esposa tivesse conhecimento disso.
- Você terá que confiar em mim a respeito disto, Joseph, quando eu digo que se trata de um pacto pecaminoso entre meu irmão e nosso rei.
- Isso não tem importância - replicou Joseph -. Não voltaremos a falar sobre este assunto, já que faz você se sentir tão incômoda. Eu sei o que você quer dizer com especial, Demétria. Mas o rei não trairá seus barões. A honra está do meu lado nesta luta.
- Você está falando da mesma honra que atou você a um poste na fortaleza de Sebastian? - perguntou Demétria -. Você tem tanta honra, que confiou que Sebastian honraria uma trégua temporária, não é?
- Era um plano cuidadosamente tramado - respondeu Joseph, e sua voz diminuiu sobre a orelha de Demétria -. Nunca confiei em seu irmão.
- Sebastian poderia tê-lo matado antes que seus homens conseguissem entrar na fortaleza, Joseph - replicou Demétria -. Sobre este assunto, você poderia ter congelado até a norte. Eu, é claro, salvei você. A honra teve muito pouco a ver com isso.
Joseph não tentou discutir com ela. Demétria estava enganada, era óbvio, mas ele não tinha necessidade de desfazer seu engano.
- Sebastian vai me usar para ferir você.
Aquele comentário não tinha absolutamente nenhum sentido.
- Demétria, não há um único barão em toda a Inglaterra que não saiba o que aconteceu com Miley. Se o rei der as costas à verdade, terá cometido seu primeiro grande erro. Existem outros barões leais, que ficarão do meu lado. Todos nós estamos atados ao nosso rei por vínculo de honra, com certeza, mas ele também deve agir com honra com cada um de nós. Do contrário nosso juramento de lealdade não significa nada. Tenha fé em mim, Demétria. Sebastian não pode ganhar esta guerra. Confie em mim, esposa, para saber o que deve ser feito.
Demétria refletiu por um tempo sobre o que Joseph havia dito e murmurou:
- Sempre confiei em você, desde aquela noite em que dormimos juntos dentro de sua tenda. Você prometeu que não tocaria em mim, quando eu dormisse, e eu acreditei em você.
A lembrança fez Joseph sorrir.
- E agora você percebe o absurdo que era, você pensar que eu poderia me aproveitar sem você que você soubesse?
Demétria assentiu.
- Tenho o sono muito profundo, Joseph - brincou.
- Demétria, não vou permitir que você ignore nosso assunto inicial. Acabo de confessar que eu amo você. Não tem nada para me dizer de volta? - perguntou Joseph.
- Obrigada, marido.
- Obrigada?
Joseph gritou a palavra. Sua paciência tinha-se esgotado. Demétria deveria dizer o quanto ela o amava e o por que demônios ela não sabia como aquilo o enfurecia.
De repente Demétria se viu deitada sobre suas costas e seu marido estava sobre ela. O músculo que havia no queixo de Joseph se contraiu, em uma clara indicação da raiva que ele sentia naquele momento. Ele parecia pronto para entrar em combate.
Aquilo não a intimidou nem um pouco. Demétria acariciou suavemente os ombros de Joseph, e deixou que as palmas de suas mãos fossem descendo lentamente pelos braços dele. Seu corpo estava rígido. Demétria podia sentir a força do aço sob seus dedos, e não afastou o olhar de seu marido nem um só instante enquanto continuava acariciando-o. E embora pudesse sentir o poder que havia dentro dele, também podia ver a vulnerabilidade em seus olhos. Era um expressão que Demétria jamais tinha visto nele, mas mesmo assim pôde reconhecê-la. Joseph parecia estar realmente muito preocupado.
Assim que Demétria o presenteou com um sorriso cheio de ternura, Joseph deixou de franzir o cenho imediatamente. Viu o brilho que iluminava os olhos de sua esposa e aquela era sua resposta. Seu corpo relaxou junto ao dela.
- Atreve-se a zombar de mim? - quis saber.
- Não estou zombando de você - disse Demétria -. Você acaba de me dar o presente mais maravilhoso, Joseph. Eu estou confusa.
Ele esperou em silêncio para ouvir mais.
- Você é o único homem que disse que me amava - sussurrou Demétria. Uma tênue ruga franziu sua testa e acrescentou -: Como eu poderia não amá-lo de volta?
Ela parecia como se tivesse acabado de perceber esse fato. O suspiro de exasperação que saiu dos lábios de Joseph foi tão potente que afastou o cabelo de Demétria.
- Então eu suponho que eu tive muita sorte por Nicholas não ter-lhe dito isso antes - murmurou depois.
- Ele disse - avisou Demétria, sorrindo pelo impacto causado por aquela afirmação -. Mas não considerei essa promessa de amor como a primeira, porque não era realmente verdade. Seu irmão só tinha uma paixãozinha.
Demétria se inclinou para cima e beijou Joseph. Ela colocou suas mãos na cintura dele e o apertou suavemente.
- Oh, Joseph, eu amo você há tanto tempo. Que tola eu fui ao não perceber isso antes! Embora deva confessar que esta noite, quando estávamos sentados junto ao fogo com sua família e seu convidado, percebi isso naquele exato momento. Você me deu valor, Joseph. Em meu coração, eu sei que sou importante para você.
Joseph sacudiu a cabeça.
- Você sempre teve muito valor, Demétria. Sempre.
Os olhos de Demétria se encheram de lágrimas.
- É um milagre você me amar. Você me capturou para me usar em seu plano de vingança contra meu irmão. Não foi assim?
- Certo - admitiu Joseph.
- E foi por esta razão que você se casou comigo - afirmou Demétria, franzindo subitamente o cenho enquanto olhava para seu marido -. Você me amava então?
- Eu pensei que fosse desejo - respondeu Joseph -. Eu queria me deitar com você - acrescentou com um sorriso.
- Vingança e desejo - replicou Demétria -. Tolas razões na melhor das hipóteses, Joseph.
- Você esqueceu a compaixão - informou Joseph.
- Compaixão? Você quer dizer que sentia pena de mim, é isso? - perguntou Demétria, começando a se sentir um pouco irritada -. Santo Deus, você me ama porque eu inspiro compaixão em você?
- Meu amor, você acaba de dar todas as razões que eu dava a mim mesmo.
Demétria se sentiu muito ofendida por sua risada.
- Se seu amor estiver apoiado no desejo, na compaixão e na vingança então...
- Demétria - interrompeu-a Joseph, tratando de acalmá-la -, o que eu disse a você antes de deixarmos a fortaleza de seu irmão? Você se lembra?
- Você me disse que era olho por olho - respondeu Demétria.
- E você me perguntou se eu achava que você pertencesse a Sebastian. Lembra-se de qual foi minha resposta?
- Sim, embora não a tenha entendido - disse Demétria -. Você disse que eu pertencia a você.
- Eu disse a verdade - disse Joseph, e a beijou apenas para livrá-la de seu olhar desconfiado.
- Continuo sem entender - afirmou Demétria, permitindo que Joseph voltasse a falar.
- Eu também não entendi - disse Joseph -. Eu pensava em mantê-la comigo, mas não considerei o casamento até mais tarde. Para falar a verdade, Demétria, foi seu ato de bondade que selou seu destino.
- Foi mesmo?
Os olhos de Demétria voltaram a encher de lágrima. A expressão que havia no rosto de Joseph era tão carinhosa, tão terna...
- Foi inevitável do momento em que você esquentou meus pés, embora tenha demorado um tempo para eu admitir verdade.
- Você me chamou de tola - disse Demétria, sorrindo daquela lembrança.
Aquele suave brilho havia voltado a iluminar seus olhos. Já não estava furiosa com ele. Joseph tinha fingido estar ofendido por sua observação, só para obter uma reação por parte dela.
- Eu nunca chamei você disso. Foi outra pessoa quem o fez, e agora mesmo vou desafiá-lo imediatamente.
Demétria riu.
- Foi você, barão. Mas eu já o perdoei. Além disso, eu chamei você de muitas coisas feias.
- Você fez isso? Eu nunca ouvi nenhuma delas - disse Joseph -. Quando você me chamou todas essas coisas?
- Quando você dava as costas, naturalmente.
Ela parecia tão inocente que o sorriso de Joseph se acentuou.
- Um destes dias, sua obsessão por dizer a verdade terminará colocando você em uma boa confusão - disse-lhe, e voltou a beijá-la antes de continuar falando -. Mas eu estarei do seu lado para protegê-la.
- Da mesma maneira em que eu sempre protegerei você - disse Demétria -. É minha obrigação como esposa.
Ela voltou a rir da expressão de incredulidade no rosto dele.
- Você não me assusta - ela se vangloriou -. Agora que tenho seu amor não voltarei a te ter medo de você.
Ela parecia soar presunçosa, então ele disse: - Eu sei.
Demétria riu por causa de tom desesperado de sua voz.
- Eu quero ouvir, mais uma vez, que você dizer que me ama - exigiu Joseph.
- Que pedido mais arrogante você está ordenando - sussurrou Demétria -. Eu amo você com todo meu coração, Joseph. – Beijou seu queixo -. Eu daria minha vida por você, marido - acariciou seu lábio inferior com a ponta da língua -. E sempre o amarei.
Joseph grunhiu de prazer e começou a fazer amor devagar e com uma imensa doçura.
- Joseph?
- Sim, meu amor?
- Quando você percebeu que me amava?
- Durma, Demétria. Já está quase amanhecendo.
Ela não queria dormir. Demétria não queria que aquela noite gloriosa terminasse nunca, e começou a acomodar, deliberadamente, suas costas sobre o estômago de Joseph. Os dedos de seus pés se curvaram sobre as pernas dele.
- Por favor, me diga exatamente quando foi.
Joseph suspirou. Sabia que Demétria não ficaria quieta até que ele dissesse.
- Hoje.
- Hum - disse Demétria.
- Hum, o quê? - perguntou Joseph.
- Agora você está começando a fazer sentido - explicou Demétria.
- Pois você não está fazendo sentido - devolveu Joseph.
- Você foi o único que agiu de forma imprevisível durante todo o dia. Se quiser que eu diga a verdade, você me deixou um pouco preocupada. Hoje quando?
- Quando o quê?
- Quando percebeu exatamente que me amava? - perguntou Demétria, que não estava disposta a se dar por vencida tão facilmente.
- Quando eu pensei que meu cavalo fosse matar você.
- Silenus? Pensou que Silenus ia me fazer mal?
Ele ouviu o assombro em sua voz. Sorriu por cima do alto da cabeça de Demétria. Sua esposa continuava sem ter nem ideia do terror que ela havia feito ele sentir.
- Joseph?
Joseph gostava de muito da maneira com que Demétria sussurrava seu nome, quando queria alguma coisa dele. Era um som terno, suplicante e terrivelmente sensual.
- Você estragou meu cavalo. Era isso o que eu estava contando no salão, quando você adormeceu no meu colo.
- Não o estraguei - protestou Demétria -. Eu só lhe dei um pouco de carinho e ternura. O afeto não pode fazer mal algum, pode?
- O afeto pode causar minha morte se você não me deixa descansar - respondeu Joseph com um bocejo -. Você se converteu em uma moça insaciável - acrescentou, fingindo suspirar -. Você me deixa sem forças.
- Obrigada.
- Você pode dispor de Silenus para seu uso próprio.
- Silenus? Meu? - Ela parecia tão ansiosa como uma criança.
- Agora o animal é leal a você. Você reduziu meu grande garanhão em um cordeiro. Minha vida nunca mais será a mesma.
- O que eu mudei em sua vida?
Joseph fingiu não ter ouvido a pergunta de Demétria e a fez virar até ficar frente a frente com ele. Então ele a olhou longamente.
- E agora me escute bem, minha esposa Você não montará Silenus até que tenha recebido a instrução adequada. Você me entendeu?
- O que o faz pensar que não recebi a instrução adequada? - perguntou Demétria. Não tinha recebido instrução alguma, é obvio, mas mesmo assim acreditava ter sabido esconder aquele defeito. Mas seu marido era mais ardiloso do que ela imaginava.
- Apenas prometa isso para mim - Joseph exigiu.
- Eu prometo. - Demétria já tinha começado a mordiscar o lábio inferior, quando um súbito pensamento começou a importuná-la -. Você não vai mudar de ideia pela manhã, vai?
- Claro que não. Agora Silenus é seu.
- Não estava falando de Silenus.
- Sobre o quê, então?
Ela parecia um pouco preocupada. Joseph franziu o cenho até que Demétria sussurrou seu medo.
- Não vai mudar de ideia sobre me amar, vai?
- Nunca.
Ele a beijou para provar sua promessa, e depois fechou os olhos e se deitou sobre as costas, totalmente disposto a dormir. Ele estava exausto.
- Você não se lembrou de nadar em seu lago esta noite. Isso foi muito imprevisível de sua parte.
Quando ele não fez nenhum comentário a respeito, Demétria insistiu.
- Por que não foi nadar?
- Porque estava malditamente frio.
Era uma resposta razoável, ainda que estranha vinda de Joseph. Demétria sorriu para si mesma. Como ela o amava!
- Joseph? Você gostou de fazer amor comigo junto ao fogo? Já sabe, quando me beijou...ali?.
Sua voz soou tímida, mas também cheia de curiosidade.
- Sim, Demétria. Seu sabor é tão doce como o mel.
A lembrança do sabor de Demétria já o deixava profundamente excitado, e Joseph se assustou diante do desejo que podia sentir por sua esposa.
Demétria ficou de lado e olhou para Joseph. Seus olhos estavam fechados, mas ela sorria e tinha a expressão satisfeita.
A mão de Demétria foi abrindo um lento caminho de carícias do queixo até o estômago de Joseph.
- E eu vou gostar do seu sabor? - perguntou-lhe em um sussurro enrouquecido.
Antes mesmo que Joseph pudesse responder, Demétria se inclinou sobre ele e beijou seu umbigo, sorrindo quando viu como os músculos do estômago se contraiam. Depois a mão de Demétria foi descendendo lentamente, movendo-se em uma suave carícia que ia traçando um caminho logo seguido por sua boca e sua língua.
Joseph deixou de respirar quando a mão de Demétria o pegou.
- Está tão duro, Joseph, tão quente... - disse ela -. Dê-me seu fogo.
Joseph esqueceu tudo o que estivesse relacionado com dormir, deixando que sua esposa tecesse seu mágico feitiço sobre ele. Pensou que sem dúvida era o homem mais rico do mundo, e tudo porque sua esposa o amava.
E então não pôde pensar em mais nada.



falta pouquíssimos capítulos para acabar.
so avisando