Dois
dias depois, Demi se encontrava sentada em uma cadeira de rodas. O nervosismo a
fazendo fechar os dedos com força em torno do cobertor com que a enfermeira lhe
cobrira o colo. Joseph estava parado a seu lado, escutando com atenção as
instruções que a enfermeira lhe dava sobre os cuidados adicionais. Demi alisou
as rugas da blusa de gestante que uma das enfermeiras lhe dera com tanta
gentileza. Todas haviam sido extremamente carinhosas, e Demi temia deixar para
trás todo aquele afeto para mergulhar no desconhecido.
Quando
a enfermeira concluiu, Joseph segurou as alças de impulso da cadeira de rodas e
começou a guiá-la pelo corredor na direção da saída. Ela piscou várias vezes
quando a luz radiante do sol lhe ofuscou a visão. Uma limusine brilhante se
encontrava estacionada a alguns metros de distância, e Joseph se encaminhou com
passos decididos na direção do veículo.
O
motorista o contornou para abrir a porta no momento em que Joseph, sem fazer o
menor esforço, a ergueu da cadeira de rodas e se apressou em acomodá-la no
interior aquecido do carro. Em questão de segundos, estavam se afastando do
hospital.
Demi
olhou para fora enquanto seguiam o fluxo intenso das ruas de Nova York. A
cidade em si lhe era familiar. Conseguia se lembrar de determinadas lojas e
marcos. Tinha conhecimento da cidade, mas o que estava faltando era a sensação
de que ali era sua casa, de que pertencia àquele lugar. Joseph não havia dito que viviam ali? Sentia-se como
uma artista diante de uma tela em branco, sem habilidade para pintar.
Quando
a limusine estacionou diante de um prédio moderno e luxuoso, Joseph saiu apressado
enquanto o porteiro abria a porta do lado onde Demi estava sentada. Joseph se inclinou para dentro
do carro e a retirou com cuidado do veículo. Ela pisou na calçada com os pés
trêmulos e logo se viu recostada ao corpo forte, com um braço firme em torno de
sua cintura, enquanto os dois transpunham a entrada.
Uma
onda de déjà vu a engolfou quando as portas do elevador se abriram e ele a
ajudou a entrar. Por alguns breves momentos, experimentou um lampejo de
memória, e Demi lutou para apartar os véus da escuridão.
–
O que foi? – perguntou Joseph.
–
Já fiz isso antes – murmurou ela.
–
Você se lembra?
Demi
respondeu com um gesto negativo de cabeça.
–
Não. Apenas me parece… familiar. Sei que já estive aqui.
Os
dedos longos se fecharam com força em torno do braço delicado.
–
É aqui que vivemos… durante vários meses. É natural que seja capaz de registrar
alguma coisa. – As portas do elevador voltaram a se abrir, e Demi inclinou a
cabeça para o lado enquanto ele seguia em frente. O fraseado de Joseph era
estranho. Não viviam ali antes do que quer que tivesse acontecido com ela? Ele
lhe estendeu a mão. – Venha. Estamos em casa.
Demi
aceitou a mão estendida, e ele a puxou para o saguão suntuoso. Para sua
surpresa, uma mulher veio ao encontro deles quando os dois adentraram à sala de
visitas. Ela hesitou quando a jovem alta e loira pousou uma das mãos no braço
de Joseph e sorriu.
–
Seja bem-vindo, Sr. Jonas. Deixei todos
os contratos que necessitam de sua assinatura sobre a mesa do escritório e
organizei suas ligações por ordem de prioridade. Também tomei a liberdade de
pedir o jantar. – A mulher varreu Demi com um olhar que a fez se sentir obscura
e insignificante. – Imaginei que não estaria disposto a sair depois desses dias
difíceis.
–
Demi franziu a testa ao perceber que a mulher insinuava que fora Joseph a
enfrentar um calvário e não ela.
–
Obrigado, Taylor – agradeceu ele. – Não deveria ter se dado ao trabalho. – Em
seguida, girou na direção de Demi e a puxou para perto. – Esta é Taylor
Chambers, minha assistente.
Demi
esboçou um sorriso trêmulo.
–
É um prazer revê-la, Srta. Lovato – disse Taylor com suavidade. – Há eras não a
vejo.
Meses,
creio eu.
–
Taylor – interveio Joseph em um tom de advertência. O sorriso nunca abandonou
os lábios da loira enquanto dirigia um olhar inocente ao patrão.
Demi
alternou o olhar entre os dois, cautelosa. A confusão em sua mente se agravando
cada vez mais. A intimidade com que a mulher se movia pelo apartamento que Joseph
afirmava ser o lar de ambos era
evidente. E ainda assim, Taylor não a encontrava havia meses? O olhar
possessivo com que a assistente o fitava foi a única coisa que ficou clara para
Demi.
–
Vou deixá-los a sós – disse Taylor com um sorriso gracioso. – Tenho certeza de
que têm muito a conversar. – Ela virou-se para Joseph e mais uma vez pousou uma
das mãos delicadas sobre seu braço. – Telefone-me se precisar de qualquer
coisa. Virei no mesmo instante.
–
Obrigado – murmurou ele.
A
loira alta se afastou com os saltos dos sapatos elegantes ecoando contra o
lustroso chão de mármore italiano e entrou no elevador, sorrindo para o patrão
enquanto as portas se fechavam.
Demi
umedeceu os lábios repentinamente ressecados e desviou o olhar. Joseph parecia
tenso a seu lado como se esperasse alguma reação de sua parte. Mas ela não era
tola o suficiente para fazê-lo. Não quando ele se encontrava com a guarda tão
erguida. Mais tarde, lhe faria o milhão de perguntas que pairavam em sua mente
cansada.
–
Venha, deveria estar deitada na cama – disse Joseph enquanto lhe envolvia as
costas com um dos braços.
–
Fiquei deitada tempo suficiente –retrucou ela em tom de voz firme.
–
Então, deveria ao menos se acomodar confortavelmente no sofá. Eu lhe trarei uma
refeição para que se alimente.
Comer.
Descansar. Comer um pouco mais. Aquelas ordens pareciam compor o único objetivo
de Joseph no que se referia a ela. Demi
suspirou e permitiu que ele a guiasse até a sala de estar. Após acomodá-la no
sofá, Joseph trouxe uma manta para cobri-la.
Havia
uma tensão nele que a deixava confusa, mas, se os papéis fossem invertidos e
tivesse sido ele a esquecê-la, Demi também não se sentira muito segura. Joseph deixou
a sala e, alguns minutos depois, retornou com uma bandeja que pousou na mesa de
centro em frente a ela. Um vapor aromático se desprendia da tigela de sopa, mas
Demi não se sentiu tentada com a oferta. Encontrava-se muito agitada para
comer.
Joseph
se sentou em uma cadeira diagonal ao sofá, mas, após alguns instantes, se ergueu
e caminhou pela sala como um predador impaciente. Os dedos puxando o nó da
gravata para afrouxá-lo e, em seguida, desabotoando os punhos da camisa de
seda.
–
Sua assistente… Taylor… disse que deixou trabalho para você?
Joseph
virou-se para encará-la. As sobrancelhas se enrugando quando franziu a testa.
–
O trabalho pode esperar.
Demi
suspirou.
–
Pretende me observar tirar um cochilo, então? Ficarei bem. Não pode tomar conta
de mim o tempo todo. Se há assuntos que requerem sua atenção, então vá
resolvê-los.
Um
lampejo de indecisão cruzou o belo rosto másculo.
–
De fato tenho coisas a fazer antes de deixarmos Nova York.
Uma
onda de pânico a pegou desprevenida, fazendo-a engolir em seco e se esforçar
para se manter inexpressiva.
–
Então, partiremos em breve?
Joseph
anuiu.
–
Pensei em lhe proporcionar alguns dias de descanso para que se recupere melhor
antes de partirmos. Providenciei para que meu jato particular nos leve até a
Grécia e depois pegaremos um helicóptero para a ilha. Enquanto conversamos,
meus empregados estão preparando tudo para nossa chegada.
Demi
o encarou receosa.
–
Qual é a extensão de sua fortuna?
Joseph
pareceu surpreso.
–
Minha família é proprietária de uma cadeia de hotéis.
O
nome Jonas flutuou nas escassas lembranças de Demi. Imagens de um hotel
suntuoso, no coração da cidade, lhe vieram à mente. Celebridades, realezas,
algumas das pessoas mais ricas do mundo se hospedavam no Imperial Park. Mas ele
não poderia ser aquele Jonas, certo?
Empalidecendo,
ela fechou os dedos para controlar o tremor. Eles eram apenas a mais rica família
hoteleira do mundo.
–
Como… como foi possível que nós dois… – Demi se viu incapaz de completar o pensamento.
Em seguida, franziu a testa. Pertenceria a uma família como aquela?
A
fadiga a venceu, fazendo-a enterrar os dedos nas laterais das têmporas enquanto
lutava contra o cansaço. No instante seguinte, Joseph estava ao seu lado. Ele a
ergueu no colo como se carregasse uma pena e a levou para o quarto. Com todo o
cuidado, deitou-a na cama, os olhos âmbar deixando transparecer o brilho da
preocupação.
–
Descanse agora, pedhaki mou.
Demi
anuiu e se aninhou sobre a cama confortável, com os olhos já semicerrados pela exaustão.
Pensar doía. Tentar lembrar lhe sequestrava todas as forças.
Joseph
se deixou afundar em sua cadeira e passou uma das mãos pelo cabelo. Em seguida,
ergueu a lista de mensagens telefônicas. Os olhos faiscaram quando se deparou
com a de um de seus irmãos, Kevin. Também havia outra de seu outro irmão, Nick.
Remexeu-se,
desconfortável, na cadeira. Sabia que não conseguiria evitar os irmãos por muito
tempo. Eles deviam ter recebido suas mensagens e certamente estariam curiosos.
Não sabia como poderia explicar aquela confusão para os dois e justificar o
fato de estar levando a mulher que tentara arruinar os negócios da família para
sua casa na Grécia.
Com
expressão desgostosa, ergueu o fone e discou o número de Kevin.
Joseph
falou rápido em grego quando o irmão atendeu.
–
Como foi a cerimônia de inauguração?
–
Joseph, finalmente – retrucou Kevin em tom de voz seco. – Estava imaginando se teria
de voar até aí para obter respostas suas.
Joseph
suspirou e respondeu com um grunhido.
–
Aguarde enquanto coloco Nick na chamada. Isso lhe poupará outro telefonema. Sei
que ele está tão interessado quanto eu em sua explicação.
–
E desde quando devo explicações a meus irmãos mais novos? – Joseph rosnou.
Kevin
soltou uma risada abafada e no instante seguinte Nick soou do outro lado da linha,
sem medir palavras.
–
Joseph, que diabo está acontecendo? Recebi sua mensagem e, a julgar pelo fato
de que não apareceu em Londres, só posso presumir que tenha tido algum problema
sério em Nova York.
Joseph
beliscou o nariz e fechou os olhos.
–
Ao que parece, vocês serão tios.
Um
profundo silêncio se seguiu ao comentário.
–
Tem certeza de que é seu? – perguntou Kevin por fim.
As
feições de Joseph se contraíram.
–
Ela está com cinco meses de gravidez, e cinco meses atrás eu era o único homem
na cama de Demi. Disso tenho certeza.
–
Da mesma forma que sabia que ela estava tentando nos roubar? – Nick retrucou.
–
Cale a boca – interveio Kevin. – A pergunta mais importante é: o que fará?
Obviamente ela não merece confiança. O que essa mulher tem a dizer em defesa
própria?
A
dor na cabeça de Joseph latejou com mais intensidade.
–
Há uma complicação – resmungou. – Ela não se lembra de nada.
Os
dois irmãos resfolegaram incrédulos.
–
Que conveniente, não acha? – perguntou Nick.
–
Essa mulher o está manipulando por meio do sexo – disse Kevin contrariado.
–
Também achei difícil de acreditar – admitiu Joseph. – Mas eu a vi. Ela está
aqui… em nosso… em meu apartamento. A amnésia dela é real. – Não havia a menor
possibilidade de Demi estar fingindo tal vulnerabilidade, confusão e dor que
lhe embotavam os olhos antes vivazes. A certeza da dor que ela sentia o
incomodava, embora não devesse. Demi merecia sofrer da mesma forma que fizera
com ele.
Nick
deixou escapar um som grosseiro.
–
O que pretende fazer? – Kevin perguntou.
Joseph
se preparou para as objeções dos irmãos.
–
Voaremos para a ilha tão logo ela se sinta melhor. É um lugar mais adequado à recuperação
de Demi, e fica longe dos olhos do público.
–
Não pode instalá-la em algum lugar até que o bebê nasça e depois se livrar
dela? – Nick questionou. – Perdemos dois negócios de milhões de dólares por
causa dessa mulher, e agora nossos projetistas estão assinando em nome da
empresa de nosso concorrente.
O
que o irmão não disse, mas Joseph ouviu em alto e bom som como se Nick tivesse falado,
era que perderam aqueles negócios porque ele ficara cego pela mulher com quem dormia.
A culpa fora tanto dele quanto de Demi. Falhara com os irmãos da pior forma possível,
arriscando o que eles levaram anos de trabalho para conseguir.
–
Não posso abandoná-la neste momento. – Joseph retrucou cauteloso. – Ela não tem
família. Ninguém que possa cuidar dela. Está grávida de um filho meu e por isso
farei o que for necessário para garantir a saúde e a segurança do bebê. O
médico acha que essa amnésia é apenas temporária, um mecanismo psíquico para
lidar com o trauma pelo qual ela passou.
–
O que as autoridades têm a dizer sobre o sequestro dela? – Nick perguntou. – Já
sabe o motivo ou quem foi o responsável?
–
Tive uma conversa breve com eles no hospital e tenho uma reunião com o detetive
encarregado da investigação amanhã. – Joseph respondeu em tom de voz tenso. –
Espero saber mais alguma coisa então. Também contarei a eles meus planos de
levá-la para fora do país. Tenho de pensar na segurança dela e do bebê.
–
Vejo que já está decidido quanto a isso – disse Kevin calmamente.
–
Sim.
Nick
deixou escapar um som como se fosse protestar, mas se calou quando a voz de
Kevin se fez ouvir mais uma vez.
–
Faça o que tiver de fazer, Joseph. Nick e eu podemos cuidar das coisas. E,
apesar de tudo, parabéns por se tornar pai.
–
Obrigado – murmurou Joseph enquanto pressionava o botão para interromper a ligação
e pousou o fone.
Em
vez de fazê-lo se sentir melhor sobre a situação em que se encontrava, a
discussão com os irmãos apenas reforçara o quanto tudo aquilo era absurdo. Não
duvidava de que Demi não se lembrasse dele ou do fato de que o roubara. Aquela
amnésia não poderia ser forçada. O que o deixava com uma única escolha, a mesma
que fizera no instante em que soubera que Demi estava esperando um filho seu.
Ele a manteria a seu lado, cuidaria dela, garantira que Demi tivesse os
melhores cuidados possíveis. Contrataria alguém para ficar com ela quando tivesse
de se ausentar e lhe fornecer os mínimos detalhes sobre os cuidados de Demi.
Dessa forma, poderia mantê-la a um braço de distância e, ao mesmo tempo,
observar seu progresso.
E,
por ora, deixaria de lado toda a raiva pela traição que ela lhe fizera.
é isso por hoje bjemi
Kevin bem sensato, Nick pelo amor ne... A menina tá grávida cara, tenha compaixão!!!
ResponderExcluirPosta Logo!!!
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ResponderExcluirTo amando essa historia
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