segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Traiçao Capitulo 3

Dois dias depois, Demi se encontrava sentada em uma cadeira de rodas. O nervosismo a fazendo fechar os dedos com força em torno do cobertor com que a enfermeira lhe cobrira o colo. Joseph estava parado a seu lado, escutando com atenção as instruções que a enfermeira lhe dava sobre os cuidados adicionais. Demi alisou as rugas da blusa de gestante que uma das enfermeiras lhe dera com tanta gentileza. Todas haviam sido extremamente carinhosas, e Demi temia deixar para trás todo aquele afeto para mergulhar no desconhecido.
Quando a enfermeira concluiu, Joseph segurou as alças de impulso da cadeira de rodas e começou a guiá-la pelo corredor na direção da saída. Ela piscou várias vezes quando a luz radiante do sol lhe ofuscou a visão. Uma limusine brilhante se encontrava estacionada a alguns metros de distância, e Joseph se encaminhou com passos decididos na direção do veículo.
O motorista o contornou para abrir a porta no momento em que Joseph, sem fazer o menor esforço, a ergueu da cadeira de rodas e se apressou em acomodá-la no interior aquecido do carro. Em questão de segundos, estavam se afastando do hospital.
Demi olhou para fora enquanto seguiam o fluxo intenso das ruas de Nova York. A cidade em si lhe era familiar. Conseguia se lembrar de determinadas lojas e marcos. Tinha conhecimento da cidade, mas o que estava faltando era a sensação de que ali era sua casa, de que pertencia àquele lugar. Joseph  não havia dito que viviam ali? Sentia-se como uma artista diante de uma tela em branco, sem habilidade para pintar.
Quando a limusine estacionou diante de um prédio moderno e luxuoso, Joseph saiu apressado enquanto o porteiro abria a porta do lado onde Demi  estava sentada. Joseph se inclinou para dentro do carro e a retirou com cuidado do veículo. Ela pisou na calçada com os pés trêmulos e logo se viu recostada ao corpo forte, com um braço firme em torno de sua cintura, enquanto os dois transpunham a entrada.
Uma onda de déjà vu a engolfou quando as portas do elevador se abriram e ele a ajudou a entrar. Por alguns breves momentos, experimentou um lampejo de memória, e Demi lutou para apartar os véus da escuridão.
– O que foi? – perguntou Joseph.
– Já fiz isso antes – murmurou ela.
– Você se lembra?
Demi respondeu com um gesto negativo de cabeça.
– Não. Apenas me parece… familiar. Sei que já estive aqui.
Os dedos longos se fecharam com força em torno do braço delicado.
– É aqui que vivemos… durante vários meses. É natural que seja capaz de registrar alguma coisa. – As portas do elevador voltaram a se abrir, e Demi inclinou a cabeça para o lado enquanto ele seguia em frente. O fraseado de Joseph era estranho. Não viviam ali antes do que quer que tivesse acontecido com ela? Ele lhe estendeu a mão. – Venha. Estamos em casa.
Demi aceitou a mão estendida, e ele a puxou para o saguão suntuoso. Para sua surpresa, uma mulher veio ao encontro deles quando os dois adentraram à sala de visitas. Ela hesitou quando a jovem alta e loira pousou uma das mãos no braço de Joseph e sorriu.
– Seja bem-vindo, Sr.  Jonas. Deixei todos os contratos que necessitam de sua assinatura sobre a mesa do escritório e organizei suas ligações por ordem de prioridade. Também tomei a liberdade de pedir o jantar. – A mulher varreu Demi com um olhar que a fez se sentir obscura e insignificante. – Imaginei que não estaria disposto a sair depois desses dias difíceis.
– Demi franziu a testa ao perceber que a mulher insinuava que fora Joseph a enfrentar um calvário e não ela.
– Obrigado, Taylor – agradeceu ele. – Não deveria ter se dado ao trabalho. – Em seguida, girou na direção de Demi e a puxou para perto. – Esta é Taylor Chambers, minha assistente.
Demi esboçou um sorriso trêmulo.
– É um prazer revê-la, Srta. Lovato – disse Taylor com suavidade. – Há eras não a vejo.
Meses, creio eu.
– Taylor – interveio Joseph em um tom de advertência. O sorriso nunca abandonou os lábios da loira enquanto dirigia um olhar inocente ao patrão.
Demi alternou o olhar entre os dois, cautelosa. A confusão em sua mente se agravando cada vez mais. A intimidade com que a mulher se movia pelo apartamento que Joseph  afirmava ser o lar de ambos era evidente. E ainda assim, Taylor não a encontrava havia meses? O olhar possessivo com que a assistente o fitava foi a única coisa que ficou clara para Demi.
– Vou deixá-los a sós – disse Taylor com um sorriso gracioso. – Tenho certeza de que têm muito a conversar. – Ela virou-se para Joseph e mais uma vez pousou uma das mãos delicadas sobre seu braço. – Telefone-me se precisar de qualquer coisa. Virei no mesmo instante.
– Obrigado – murmurou ele.
A loira alta se afastou com os saltos dos sapatos elegantes ecoando contra o lustroso chão de mármore italiano e entrou no elevador, sorrindo para o patrão enquanto as portas se fechavam.
Demi umedeceu os lábios repentinamente ressecados e desviou o olhar. Joseph parecia tenso a seu lado como se esperasse alguma reação de sua parte. Mas ela não era tola o suficiente para fazê-lo. Não quando ele se encontrava com a guarda tão erguida. Mais tarde, lhe faria o milhão de perguntas que pairavam em sua mente cansada.
– Venha, deveria estar deitada na cama – disse Joseph enquanto lhe envolvia as costas com um dos braços.
– Fiquei deitada tempo suficiente –retrucou ela em tom de voz firme.
– Então, deveria ao menos se acomodar confortavelmente no sofá. Eu lhe trarei uma refeição para que se alimente.
Comer. Descansar. Comer um pouco mais. Aquelas ordens pareciam compor o único objetivo de Joseph  no que se referia a ela. Demi suspirou e permitiu que ele a guiasse até a sala de estar. Após acomodá-la no sofá, Joseph trouxe uma manta para cobri-la.
Havia uma tensão nele que a deixava confusa, mas, se os papéis fossem invertidos e tivesse sido ele a esquecê-la, Demi  também não se sentira muito segura. Joseph deixou a sala e, alguns minutos depois, retornou com uma bandeja que pousou na mesa de centro em frente a ela. Um vapor aromático se desprendia da tigela de sopa, mas Demi não se sentiu tentada com a oferta. Encontrava-se muito agitada para comer.
Joseph se sentou em uma cadeira diagonal ao sofá, mas, após alguns instantes, se ergueu e caminhou pela sala como um predador impaciente. Os dedos puxando o nó da gravata para afrouxá-lo e, em seguida, desabotoando os punhos da camisa de seda.
– Sua assistente… Taylor… disse que deixou trabalho para você?
Joseph virou-se para encará-la. As sobrancelhas se enrugando quando franziu a testa.
– O trabalho pode esperar.
Demi suspirou.
– Pretende me observar tirar um cochilo, então? Ficarei bem. Não pode tomar conta de mim o tempo todo. Se há assuntos que requerem sua atenção, então vá resolvê-los.
Um lampejo de indecisão cruzou o belo rosto másculo.
– De fato tenho coisas a fazer antes de deixarmos Nova York.
Uma onda de pânico a pegou desprevenida, fazendo-a engolir em seco e se esforçar para se manter inexpressiva.
– Então, partiremos em breve?
Joseph anuiu.
– Pensei em lhe proporcionar alguns dias de descanso para que se recupere melhor antes de partirmos. Providenciei para que meu jato particular nos leve até a Grécia e depois pegaremos um helicóptero para a ilha. Enquanto conversamos, meus empregados estão preparando tudo para nossa chegada.
Demi o encarou receosa.
– Qual é a extensão de sua fortuna?
Joseph pareceu surpreso.
– Minha família é proprietária de uma cadeia de hotéis.
O nome Jonas flutuou nas escassas lembranças de Demi. Imagens de um hotel suntuoso, no coração da cidade, lhe vieram à mente. Celebridades, realezas, algumas das pessoas mais ricas do mundo se hospedavam no Imperial Park. Mas ele não poderia ser aquele Jonas, certo?
Empalidecendo, ela fechou os dedos para controlar o tremor. Eles eram apenas a mais rica família hoteleira do mundo.
– Como… como foi possível que nós dois… – Demi se viu incapaz de completar o pensamento. Em seguida, franziu a testa. Pertenceria a uma família como aquela?
A fadiga a venceu, fazendo-a enterrar os dedos nas laterais das têmporas enquanto lutava contra o cansaço. No instante seguinte, Joseph estava ao seu lado. Ele a ergueu no colo como se carregasse uma pena e a levou para o quarto. Com todo o cuidado, deitou-a na cama, os olhos âmbar deixando transparecer o brilho da preocupação.
– Descanse agora, pedhaki mou.
Demi anuiu e se aninhou sobre a cama confortável, com os olhos já semicerrados pela exaustão. Pensar doía. Tentar lembrar lhe sequestrava todas as forças.
Joseph se deixou afundar em sua cadeira e passou uma das mãos pelo cabelo. Em seguida, ergueu a lista de mensagens telefônicas. Os olhos faiscaram quando se deparou com a de um de seus irmãos, Kevin. Também havia outra de seu outro irmão, Nick.
Remexeu-se, desconfortável, na cadeira. Sabia que não conseguiria evitar os irmãos por muito tempo. Eles deviam ter recebido suas mensagens e certamente estariam curiosos. Não sabia como poderia explicar aquela confusão para os dois e justificar o fato de estar levando a mulher que tentara arruinar os negócios da família para sua casa na Grécia.
Com expressão desgostosa, ergueu o fone e discou o número de Kevin.
Joseph falou rápido em grego quando o irmão atendeu.
– Como foi a cerimônia de inauguração?
– Joseph, finalmente – retrucou Kevin em tom de voz seco. – Estava imaginando se teria de voar até aí para obter respostas suas.
Joseph suspirou e respondeu com um grunhido.
– Aguarde enquanto coloco Nick na chamada. Isso lhe poupará outro telefonema. Sei que ele está tão interessado quanto eu em sua explicação.
– E desde quando devo explicações a meus irmãos mais novos? – Joseph rosnou.
Kevin soltou uma risada abafada e no instante seguinte Nick soou do outro lado da linha, sem medir palavras.
– Joseph, que diabo está acontecendo? Recebi sua mensagem e, a julgar pelo fato de que não apareceu em Londres, só posso presumir que tenha tido algum problema sério em Nova York.
Joseph beliscou o nariz e fechou os olhos.
– Ao que parece, vocês serão tios.
Um profundo silêncio se seguiu ao comentário.
– Tem certeza de que é seu? – perguntou Kevin por fim.
As feições de Joseph se contraíram.
– Ela está com cinco meses de gravidez, e cinco meses atrás eu era o único homem na cama de Demi. Disso tenho certeza.
– Da mesma forma que sabia que ela estava tentando nos roubar? – Nick retrucou.
– Cale a boca – interveio Kevin. – A pergunta mais importante é: o que fará? Obviamente ela não merece confiança. O que essa mulher tem a dizer em defesa própria?
A dor na cabeça de Joseph latejou com mais intensidade.
– Há uma complicação – resmungou. – Ela não se lembra de nada.
Os dois irmãos resfolegaram incrédulos.
– Que conveniente, não acha? – perguntou Nick.
– Essa mulher o está manipulando por meio do sexo – disse Kevin contrariado.
– Também achei difícil de acreditar – admitiu Joseph. – Mas eu a vi. Ela está aqui… em nosso… em meu apartamento. A amnésia dela é real. – Não havia a menor possibilidade de Demi estar fingindo tal vulnerabilidade, confusão e dor que lhe embotavam os olhos antes vivazes. A certeza da dor que ela sentia o incomodava, embora não devesse. Demi merecia sofrer da mesma forma que fizera com ele.
Nick deixou escapar um som grosseiro.
– O que pretende fazer? – Kevin perguntou.
Joseph  se preparou para as objeções dos irmãos.
– Voaremos para a ilha tão logo ela se sinta melhor. É um lugar mais adequado à recuperação de Demi, e fica longe dos olhos do público.
– Não pode instalá-la em algum lugar até que o bebê nasça e depois se livrar dela? – Nick questionou. – Perdemos dois negócios de milhões de dólares por causa dessa mulher, e agora nossos projetistas estão assinando em nome da empresa de nosso concorrente.
O que o irmão não disse, mas Joseph ouviu em alto e bom som como se Nick tivesse falado, era que perderam aqueles negócios porque ele ficara cego pela mulher com quem dormia. A culpa fora tanto dele quanto de Demi. Falhara com os irmãos da pior forma possível, arriscando o que eles levaram anos de trabalho para conseguir.
– Não posso abandoná-la neste momento. – Joseph retrucou cauteloso. – Ela não tem família. Ninguém que possa cuidar dela. Está grávida de um filho meu e por isso farei o que for necessário para garantir a saúde e a segurança do bebê. O médico acha que essa amnésia é apenas temporária, um mecanismo psíquico para lidar com o trauma pelo qual ela passou.
– O que as autoridades têm a dizer sobre o sequestro dela? – Nick perguntou. – Já sabe o motivo ou quem foi o responsável?
– Tive uma conversa breve com eles no hospital e tenho uma reunião com o detetive encarregado da investigação amanhã. – Joseph respondeu em tom de voz tenso. – Espero saber mais alguma coisa então. Também contarei a eles meus planos de levá-la para fora do país. Tenho de pensar na segurança dela e do bebê.
– Vejo que já está decidido quanto a isso – disse Kevin calmamente.
– Sim.
Nick deixou escapar um som como se fosse protestar, mas se calou quando a voz de Kevin se fez ouvir mais uma vez.
– Faça o que tiver de fazer, Joseph. Nick e eu podemos cuidar das coisas. E, apesar de tudo, parabéns por se tornar pai.
– Obrigado – murmurou Joseph enquanto pressionava o botão para interromper a ligação e pousou o fone.
Em vez de fazê-lo se sentir melhor sobre a situação em que se encontrava, a discussão com os irmãos apenas reforçara o quanto tudo aquilo era absurdo. Não duvidava de que Demi não se lembrasse dele ou do fato de que o roubara. Aquela amnésia não poderia ser forçada. O que o deixava com uma única escolha, a mesma que fizera no instante em que soubera que Demi estava esperando um filho seu. Ele a manteria a seu lado, cuidaria dela, garantira que Demi tivesse os melhores cuidados possíveis. Contrataria alguém para ficar com ela quando tivesse de se ausentar e lhe fornecer os mínimos detalhes sobre os cuidados de Demi. Dessa forma, poderia mantê-la a um braço de distância e, ao mesmo tempo, observar seu progresso.
E, por ora, deixaria de lado toda a raiva pela traição que ela lhe fizera.


é isso por hoje bjemi

2 comentários:

  1. Kevin bem sensato, Nick pelo amor ne... A menina tá grávida cara, tenha compaixão!!!

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    To amando essa historia
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