Na
manhã seguinte, Demi se encontrava sentada em frente a Joseph, que a observava tomar
o desjejum. Ele anuiu em aprovação quando a viu terminar de comer a omelete que
lhe preparara e a estimulou a tomar o copo de suco que pousara diante dela.
A
despeito da ansiedade e da insegurança, Demi se sentia bem sendo cuidada por
aquele homem, mesmo não tendo certeza de seu lugar no mundo de Joseph. Embora
solícito, lhe parecia distante. Demi não sabia dizer se aquilo era uma deferência
à sua amnésia, por não querer assustá-la, ou se o relacionamento dos dois era
assim mesmo.
Demi
prendeu o lábio inferior entre os dentes e o mordeu distraidamente. A ideia de
que aquilo poderia ser comum entre os dois a incomodava. Certamente não desejara
se casar com alguém que a tratava de maneira tão educada, como se estivesse
lidando com uma estranha.
E
ainda assim, para todos os propósitos, os dois não passavam de estranhos. Ao
menos
Joseph
era um estranho para ela. Uma onda de compaixão a atingiu. Como deveria ter sido
terrível para ele saber que a noiva, a mulher que amava e com quem planejara se
casar, simplesmente o esquecera como se ele nunca existisse. Não podia se
imaginar no lugar dele.
Joseph
a observara atentamente durante todo o desjejum e ela sabia que devia estar deixando
transparecer todo seu constrangimento, mas ele não disse nada até retirar a
mesa e levá-la para a sala de estar. Em seguida, acomodou-a no sofá e se sentou
ao lado dela, observando-a com olhar especulativo.
–
O que a está preocupando esta manhã? – perguntou. Os olhos âmbar a estudando, e
a expressão do belo rosto a deixando levemente ofegante.
–
Estava apenas pensando no quanto toda essa situação deve ser terrível para
você.
Uma
das sobrancelhas espessas se ergueu enquanto ele inclinava a cabeça para o lado
com expressão questionadora. Joseph parecia surpreso, como se aquela fosse a
última coisa que esperasse ouvir dela.
–
O que quer dizer com isso? – Demi baixou o olhar, sentindo-se de repente tímida
e ainda mais insegura. Ele esticou a mão e lhe tocou o queixo, erguendo-o e a
forçando a encará-lo. – Diga-me por que as coisas são tão terríveis para mim.
Quando
dito daquela forma, soava ridículo. Joseph era um homem que podia ter, e provavelmente
tinha, qualquer coisa que desejasse. Poder, riqueza, respeito. E ainda assim, ela
presumira que era uma catástrofe o fato de a insípida noiva não se lembrar
dele. Aquilo teria sido o suficiente para fazê-la gargalhar se não estivesse se
sentindo tão angustiada.
–
Estava tentando me colocar em seu lugar – disse ela melancólica. – Como seria a
sensação de ser esquecida por alguém a quem se ama. – O polegar longo lhe roçou
os lábios, fazendo um arrepio peculiar percorrer a espinha de Demi. – Acho que
me sentiria…rejeitada.
–
Está preocupada que eu esteja me sentindo rejeitado? – Um discreto brilho
divertido bailou nos olhos âmbar, e a insinuação de um sorriso fez curvar os
cantos dos lábios de Joseph.
–
Não está? – perguntou ela. E aquilo tinha alguma importância? Demi detestava
aquela falta de confiança. Não só as lembranças daquele homem lhe haviam sido
sequestradas como também qualquer segurança do papel que representava para ele.
Odiava a ideia de não conseguir discutir o relacionamento dos dois por medo de
tirar conclusões erradas e fazer papel de boba.
A
vergonha estampou um rubor nas maçãs do rosto de Demi enquanto ele continuava a
observá-la.
–
Não teve culpa do que lhe aconteceu, Demi. Não a culpo e também não nutro
nenhum ressentimento. Seria mesquinho de minha parte.
Não.
Não conseguia vê-lo como uma pessoa mesquinha. Perigoso. Um tanto assustador.
Mas
não mesquinho. Tinha medo daquele homem? Demi estremeceu de leve. Não. Não era
a ele que temia, mas a ideia de que pudesse ter sido tão íntima de um homem
como aquele e não conseguir se lembrar. Não conseguia se imaginar esquecendo
tal experiência.
–
O que aconteceu comigo? – Uma nota de súplica transpareceu em sua voz. As mãos
de Demi tremiam, e ela as entrelaçou com força para disfarçar a inquietação.
Joseph
suspirou.
–
Você teve… um acidente, pedhaki mou. O médico me assegurou de que sua amnésia
éapenas temporária e que é indispensável que você não sobrecarregue a mente.
–
Sofri um acidente de carro? – Mesmo enquanto perguntava, Demi baixou o olhar ao
próprio corpo, procurando por ferimentos ou hematomas. Mas não sentia nenhuma
dor muscular ou rigidez. Apenas uma imensa fadiga e a sensação de desconfiança
que não sabia explicar.
Por
um breve instante, os olhos âmbar se desviaram.
–
Sim.
–
Oh! Foi algo sério? – Demi levou uma das mãos à cabeça, tateando por algum
ferimento.
Joseph
lhe segurou a mão gentilmente e a pousou no colo de Demi, mas não a soltou.
–
Não. Não foi nada sério.
–
Então por que… como perdi minha memória? Sofri uma concussão? Minha cabeça não dói.
–
Fico feliz por sua cabeça não doer, mas não foi uma batida na cabeça que causou
a amnésia.
Demi
inclinou a cabeça para o lado e o observou, perplexa.
–
Então, como?
–
O médico explicou que essa é uma forma que você encontrou de lidar com o trauma
de seu acidente. Um instinto protetor para poupá-la de lembranças dolorosas.
As
sobrancelhas de Demi se aproximaram quando franziu a testa. Lutou, tentando
romper a névoa preta e espessa que lhe embotava a mente. Certamente devia haver
algo, algum lampejo de lembrança.
–
Mas ainda assim não sofri nenhum ferimento – disse ela incrédula.
–
Algo pelo qual sou muito grato – disse Joseph. – Ainda assim, deve ter sido
muito assustador.
Um
pensamento repentino lhe invadiu a mente, fazendo-a puxar a mão, alarmada.
–
Alguém mais se feriu?
Mais
uma vez os olhos de Joseph se desviaram apenas por um segundo. Ele esticou o braço
e lhe recapturou a mão, levando-a aos lábios. Um ofego suave escapou dos lábios
de Demi quando ele pressionou um beijo na palma da mão macia.
–
Não.
Demi
deixou escapar um suspiro de alívio.
–
Gostaria de poder me lembrar. Fico pensando que se me esforçar um pouco mais,
tudo voltará, mas, quando tento me focar no passado, minha cabeça começa a
latejar.
Joseph
franziu a testa.
–
Exatamente por isso não gosto de discutir o acidente com você. O médico me
preveniu para não lhe causar nenhum aborrecimento ou estresse. Deve esquecer
esse acidente e se focar em recuperar as forças. – Ele pousou a outra mão sobre
o abdômen abaulado de maneira protetora. – Esse tipo de estresse não faz bem
para nosso bebê. Você já passou por uma situação ruim o suficiente para o meu
gosto.
Demi
soltou a mão que ele segurava e pousou as duas sobre a que Joseph mantinha em
seu abdômen. Sob os dedos longos, o bebê se mexeu. Ele retirou a mão rapidamente,
com uma expressão perplexa a lhe iluminar o rosto.
Demi
franziu a testa enquanto o observava curiosa. Ele voltou a espalmar a mão sobre
seu abdômen, e, mais uma vez, o bebê se mexeu.
–
Isso é incrível! – Joseph exclamou.
Ao
vê-lo tão atônito, Demi não pôde conter um sorriso. Mas, no rastro daquele
sorriso, seguiu-se a incerteza. Ele agia como se nunca tivesse experimentado
aquilo.
Umedecendo
os lábios, ela praguejou contra o fato de não conseguir se lembrar de nada.
–
Certamente já o sentiu antes.
Joseph
não interrompeu a exploração suave do abdômen abaulado. Passou-se um longo instante
até que ele respondesse.
–
Estou sempre viajando a negócios – justificou, com uma nota de desânimo na voz.
– Havia acabado de retornar quando soube de seu acidente. Fazia algum tempo
que… não nos víamos.
Demi
soltou o ar que estava prendendo, o alívio lhe suavizando a preocupação. O fato
de estarem separados por algum tempo explicava muita coisa.
–
Acho que não foi a volta ao lar que esperava – disse ela tristonha. – Deixou
uma mulher que o conhecia, que estava grávida de um filho seu e com quem
planejava se casar e quando voltou, se deparou com uma que o trata como um
estranho. – Em um gesto automático, baixou o olhar aos próprios dedos enquanto
falava. Não havia nenhum anel ou aliança. Franziu de leve a testa, antes de
voltar a erguer o olhar, tentando fazer a inquietação desparecer uma vez mais.
–
Fiquei feliz com o fato de você e o bebê terem se salvado – retrucou ele,
mudando de posição de modo a colocar mais distância entre os dois. O olhar
ainda se fixando no abdômen proeminente, como se estivesse fascinado com o
pequeno ser se fazendo presente ali.
Um
telefone tocou, e Joseph se encaminhou ao interfone fixado na parede. Demi se esforçou
para ouvir quem estava falando, mas captou apenas a ordem de Joseph para que a pessoa subisse.
Em
seguida, ele retornou e se sentou, tomando-lhe as mãos nas dele.
–
É a enfermeira que contratei para cuidar de você. Tenho uma reunião à qual não
posso deixar de comparecer dentro de uma hora.
Os
olhos de Demi se arregalaram.
–
Mas, Joseph, não preciso de uma enfermeira. Sou perfeitamente capaz de
permanecer aqui enquanto você cuida de seus negócios.
As
mãos longas apertaram as dela com mais força.
–
Faça isso por mim, pedhaki mou. Sinto-me melhor sabendo que estou deixando você
em mãos capazes. Não gosto de pensar que você possa ter alguma necessidade
insatisfeita em minha ausência.
Um
sorriso curvou os lábios de Demi diante daquela insistência.
–
Por quanto tempo ficará ausente? – perguntou ela, detestando o tom esperançoso,
quase pesaroso da própria voz. Soava patética.
Joseph
se ergueu ao ouvir as portas do elevador se abrirem.
–
Fique aqui. Voltarei com a enfermeira.
Demi
relaxou contra o encosto do sofá e aguardou pelo retorno dele. Toda aquela
atenção de Joseph era adorável, mesmo que desnecessária.
Instantes
depois, ele retornou com uma mulher sorridente que trajava calça comprida e um suéter.
Dirigiu um sorriso luminoso a Demi quando estacou a alguns centímetros do sofá.
–
Você deve ser Demi. É um grande prazer conhecê-la. Sou a Srta. Cahill, mas, por
favor, me chame de Patrice. – Demi não
pôde evitar retribuir o sorriso da mulher. – O Sr. Jonas já me orientou sobre o que quer que eu
faça e me esforçarei ao máximo para garantir seus cuidados.
Demi
focou um olhar expressivo em Joseph.
–
Ah, ele fez isso, certo? Posso perguntar quais foram as instruções que lhe deu?
Joseph
conferiu a hora no relógio de pulso com um gesto teatral.
–
As instruções foram para garantir que você descanse. Agora, desculpe-me, mas
terei de me ausentar por um tempo. Voltarei a tempo de almoçarmos juntos.
–
Gostaria disso – retrucou Demi com voz suave.
Joseph
se inclinou e lhe depositou um beijo suave na testa, antes de virar e se
afastar.
Os
olhos de Demi o acompanharam enquanto imaginava como devia parecer pegajosa.
Com
muito esforço, conseguiu arrastar o olhar de Joseph para Patrice.
–
Estou me sentindo bem – explicou ela. – Joseph faz parecer que estou uma
completa inválida.
Patrice
sorriu e lhe deu uma piscadela.
–
Ele é homem. Eles são famosos por se comportarem dessa maneira. Ainda assim, um
pouco de descanso não faz mal algum, certo? Vou acompanhá-la até a cama e
depois prepararei uma bela xícara de chá para tomarmos quando você acordar.
Antes
que Demi se desse conta do que estava acontecendo, a enfermeira a estava
guiando em direção ao quarto. Ela piscou várias vezes, quando Patrice a
acomodou na cama e arrumou as cobertas em torno de seu corpo.
–
Você é muito hábil nisso – disse Demi.
Patrice
deixou escapar uma risada baixa.
–
Conseguir que meus pacientes façam o que não querem faz parte do meu trabalho.
Agora descanse um pouco para que seu noivo fique feliz comigo e com você quando
retornar.
Demi
ouviu os sons suaves dos sapatos de Patrice se afastarem do quarto. Quando o
ruído se dissipou, relanceou o olhar à lareira na parede oposta da cama. Joseph
acendera o fogo na noite anterior, mais para tornar o ambiente aconchegante do
que de fato aquecê-lo, porque o apartamento não era frio. Até mesmo o assoalho
era aquecido, o que Demi amava, porque detestava usar calçados dentro de casa.
O
pensamento a atingiu ao mesmo tempo em que uma onda de excitação a engolfou. O
que mais podia se lembrar de si mesma? Concentrou-se com afinco, mas o esforço
lhe fez a cabeça voltar a doer.
O
bebê se remexeu e ela baixou a mão para tocar o abdômen. O movimento abrandou o
desconforto em sua cabeça e a fez sorrir. Apesar da perda temporária de
memória, tinha um futuro no horizonte. O casamento e um filho. Desejava apenas
lembrar como chegara àquele ponto. Com um suspiro, resignou-se a viver o
momento presente. Esperava que suas lembranças retornassem e preenchessem todas
aquelas lacunas.
Demi
cochilou e, quando despertou, conferiu a hora no relógio sobre o criado mudo, constatando
que havia se passado uma hora. Sentindo-se revigorada, atirou as cobertas para
o lado, desejando de levantar e andar pela casa. O repouso constante a estava
deixando impaciente.
Embora
estivesse vestindo um pijama macio, esticou a mão para o robe de seda pousado
na extremidade da cama. Envolvendo o corpo com o traje, saiu do quarto e entrou
na sala de estar, onde encontrou Patrice.
Sorriu
para a enfermeira e lhe assegurou que estava se sentindo bem quando foi questionada.
Patrice anuiu em aprovação e, como se pressentisse que Demi precisava ficar sozinha,
se desculpou e se retirou.
Demi
aproveitou a oportunidade para explorar a espaçosa cobertura. Caminhou de um cômodo
para outro, familiarizando-se com a própria casa. Mas não a sentia como seu lar.
Podia
ver Joseph refletido naquele estilo e nas estruturas da decoração e da mobília,
mas não conseguia reconhecer nada que tivesse sua marca naquele apartamento.
Por alguma razão, aquilo a frustrou. Sentia-se como uma convidada intrometida
onde não pertencia.
Quando
entrou na suíte principal, as linhas que lhe vincavam a testa se aprofundaram.
Joseph
a acomodara no que aparentava ser o quarto de hóspedes. Não pensara sobre aquilo
quando ele a pousara na cama e a cercara de confortos no quarto extra. Na
ocasião, se encontrava muito abalada e focada em tentar processar tudo que
estava acontecendo.
Demi
se retirou, incapaz de rechaçar o pensamento de que estava sendo inconveniente.
Ao lado da suíte principal, ficava o amplo escritório. Obviamente o lugar onde Joseph
trabalhava. Os móveis eram escuros e
masculinos. Estantes de livros adornavam a parede dos fundos e uma enorme mesa
de mogno se encontrava postada alguns centímetros à frente delas.
Os
pés de Demi eram acariciados pelo carpete felpudo, à medida que penetrava no
interior do cômodo.
Um
laptop descansava sobre a mesa, e Demi se sentou na cadeira de couro, na
intenção de navegar na internet. Esperava apenas que Joseph possuísse uma
conexão sem fio, já que não conseguia ver nenhum cabo conectado ao computador.
Tocou
o teclado, e o monitor se iluminou. Ao menos ela não era um vegetal inútil e retivera
as noções básicas de informática. Por mais frustrante que fosse sua amnésia,
sentia-se aliviada em saber que a falta de memória se limitava à sua vida
pessoal e não ao mundo contemporâneo.
Demi
fez um movimento negativo com a cabeça, aborrecida com o disparate daquela situação.
Durante a primeira meia hora, realizou incontáveis pesquisas sobre a perda de memória,
mas vagar pelo turbilhão de opiniões conflitantes apenas lhe auferiu uma forte
dor de cabeça. Portanto, se concentrou em procurar por informações sobre Joseph.
Era
um pouco assustador constatar o quanto aquele homem era rico e poderoso. Ele e
os dois irmãos eram figuras determinantes no ramo da hotelaria. Não havia muita
informações pessoais, pelas quais Demi ansiava.
Recostou-se
para trás na cadeira, irritada com a própria covardia. Tudo que precisava era questionar
Joseph sobre a informação que quisesse. Pelo amor de Deus! Aquele homem era seu
noivo, seu amante. Geraram um bebê juntos, e ele a pedira em casamento. Se ao menos
pudesse se lembrar daqueles momentos, ficaria mais segura de si mesma.
–
O que está fazendo?
A
voz de Joseph a atingiu como um chicote, fazendo-a se sobressaltar de medo e surpresa.
Ela ergueu o olhar para encontrá-lo parado à soleira da porta. A raiva e a desconfiança
fazendo faiscar os olhos cor âmbar. Os lábios sensuais apertados em uma linha fina.
Ele se aproximou pisando duro, antes que Demi pudesse formular uma resposta.
–
Você me assustou. – Ela levou a mão ao peito na tentativa de acalmar as batidas
descompassadas do próprio coração.
–
Perguntei o que estava fazendo – repetiu Joseph com um tom de voz frio enquanto
contornava a mesa para se posicionar ao lado dela.
A
mágoa e a incompreensão a inundaram.
–
Estava apenas navegando na internet. Achei que não se incomodaria se eu usasse
seu laptop.
–
Prefiro que não mexa nas coisas que estão em meu escritório – retrucou ele de
forma concisa enquanto esticava o braço para fechar o computador.
Lágrimas
queimavam os cantos dos olhos de Demi. Ele a encarava com tanta… aversão.
Um
arrepio lhe percorreu todo o corpo, fazendo-a desejar apenas se afastar daquele
homem o máximo possível.
–
Desculpe. – Demi conseguiu dizer por fim. – Estava apenas tentando descobrir
alguma coisa sobre mim… você… e essa terrível amnésia – explicou, virando-se em
seguida e desaparecendo do escritório antes que envergonhasse a si mesma
cedendo ao pranto.
Joseph
a observou se afastar, com um xingamento baixo. Em seguida, passou uma das mãos
pelos cabelos, antes de se sentar e reabrir o laptop. Uma rápida pesquisa no
histórico do navegador da internet mostrou que ela não fizera nada além de
pesquisar sobre amnésia e alguns artigos sobre sua empresa. Outra verificação
nos próprios arquivos indicou que nenhum dos documentos da empresa fora
acessado.
Joseph
praguejou mais uma vez. Tivera uma péssima reação, mas vê-la utilizando o computador
o deixara imediatamente em alerta. Naquele momento, imaginara se a amnésia de
Demi não seria uma farsa e se ela não estaria tramando traí-lo outra vez.
Apoiou
os cotovelos no tampo da mesa e segurou a cabeça com as mãos. A reunião com o detetive
encarregado da investigação sobre o sequestro de Demi fora um exercício de frustração.
A
polícia tinha pouca informação para seguir adiante, e a única pessoa que
poderia fornecê-la não se lembrava de nada.
Demi
não fora resgatada como as notícias levaram os telespectadores a pensar. Em vez
disso, fora abandonada por seus sequestradores, e um telefonema anônimo alertou
a polícia para a presença dela em um prédio de apartamentos em estado precário.
Quando lá chegaram, os policiais encontraram uma mulher grávida em evidente
estado de choque. Ao despertar, no hospital, ela não se lembrava de nada. Na
essência, a vida de Demi começara naquele dia.
Tantas
perguntas, tantos fatos desconhecidos!
Entretanto,
o que ficara claro para Joseph era que não podia arriscar a segurança de Demi.
Qualquer que fosse a ameaça contra ela ainda persistia e seria execrado se
deixasse alguém se aproximar o suficiente para causar algum mal a ela ou à
criança. Esperara que as autoridades discordassem quando lhes disse que a estava
levando para fora do país. Não que aquilo fosse impedi-lo, porque o bem-estar
de Demi figurava no topo de suas prioridades e faria o que fosse preciso para
garanti-la.
Em
vez disso, eles concordaram que era a melhor opção e o aconselharam a reforçar
sua segurança. Queriam ser notificados no instante em que ela recuperasse a
memória para que pudessem interrogá-la. Joseph lhes forneceu seus contatos e
avisou que estaria partindo com ela no dia seguinte.
Havia
muitas providências a tomar para preparar aquela viagem. Alertara sua equipe de
segurança, tanto de Nova York quanto da ilha. Os preparativos estavam em
andamento, mas Joseph ainda tinha vários telefonemas a dar. Ainda assim, a
visão das lágrimas de Demi e a mágoa em seu tom de voz o fez parar para refletir.
Devia deixar aquilo de lado e dar prosseguimento a seus planos. A segurança de Demi
era o mais importante. Quer ela estivesse aborrecida ou não. Embora pensasse
daquela forma, Joseph se descobriu levantando da cadeira e indo ao encontro
dela.
Demi
se encontrava parada em frente ao closet do quarto que ele lhe designara, observando
com olhar vazio a fileira de roupas penduradas à sua frente. Limpou as lágrimas
com o dorso de uma das mãos e se concentrou no que vestir.
Vasculhou
entre os vários modelos, mas nenhum se parecia com ela. Com a testa franzida em
uma expressão tristonha, virou-se na direção da fileira de prateleiras que
preenchiam a parte direita do closet e viu uma pilha de jeans desbotados
próxima de algumas camisetas dobradas com perfeição.
Esticou
a mão para uma das calças jeans, certa de que era naquele traje que se sentia confortável.
Porém, quando a desdobrou, constatou que não se tratava de roupas de gestante. Uma
rápida procura na pilha restante produziu o mesmo resultado.
Demi
procurou entre as outras roupas penduradas no armário e verificou que aquelas também
não eram roupas adequadas a uma mulher em um estágio mais avançado de gravidez.
Por
que não tinha nada para vestir? Baixou o olhar à protuberância do próprio abdômen.
Embora
não estivesse gorda, as cinturas das roupas que lotavam o closet eram muito estreitas
para uma mulher com cinco meses de gravidez.
Demi
lhe sentiu a presença antes que ele fizesse qualquer ruído. Lentamente, ela
girou para se deparar com Joseph parado
à soleira da porta do closet. A expressão se suavizando quando ela limpou as
lágrimas do rosto e tornou a virar-se rapidamente.
Aproximando-se
alguns passos, ele lhe segurou a cintura com as mãos.
–
Desculpe.
Demi
enrijeceu o corpo e ergueu o queixo até lhe encontrar o olhar.
–
Não deveria ter tomado a liberdade de mexer em seus pertences. – Ela ergueu uma
das mãos e gesticulou para o closet repleto de roupas. – É óbvio que mantemos
um estilo de vida bastante segregado. Terá de me perdoar enquanto reaprendo as
regras.
Vincos
profundos se formaram na testa de Joseph enquanto ele a encarava com expressão
confusa.
–
Do que está falando? Não há segregação em nossa convivência.
Demi
deu de ombros, indiferente.
–
A evidência está aqui. Não precisa ser muito inteligente para perceber. Você me
acomodou em meu quarto. Minhas roupas estão separadas das suas. Nossas coisas
são separadas. Nossas camas são separadas. É de se admirar que eu tenha
engravidado – acrescentou ela, engolindo em seco, e prosseguiu fazendo a
pergunta que lhe queimava a mente. – Por que está se casando comigo? Minha
gravidez foi um acidente de percurso? Por acaso sou alguma vadia que lhe
preparou uma armadilha para obrigá-lo a se casar?
Demi
soube que soava histérica no instante em que as palavras lhe escaparam dos
lábios, mas a dor a estava roendo por dentro. Precisava se certificar, ter
algum sinal de que a vida que Joseph alegava ser dela era feliz e não algo
sombrio, repleto de lacunas como os buracos em sua memória.
–
Theos! Venha comigo.
Antes
que ela pudesse protestar, Joseph a estava arrastando do closet e a guiando na direção
da cama, onde a sentou e se acomodou ao lado dela.
Demi
olhou ao redor incomodada.
–
Onde está Patrice? – Não queria ter uma discussão na frente de terceiros.
–
Eu a dispensei quando cheguei – respondeu ele impaciente. – Ela só ficará aqui
quando eu não puder estar, até a nossa partida para a Grécia. Patrice
permanecerá na ilha conosco pelo tempo que você precisar dela.
Demi
não pôde disfarçar o desapontamento.
–
Mas eu não preciso dela e pensei que ficaríamos sozinhos quando chegássemos à
ilha.
O
semblante de Joseph deixava claro que aquela era a última coisa que desejava.
Mais uma vez a mágoa a atingiu em cheio diante da aparente rejeição do noivo.
–
Pode pensar que os serviços de Patrice não são necessários, mas não arriscarei
sua recuperação. Sua saúde é importante para mim. – A voz grave se suavizou, e
os olhos âmbar perderam um pouco da severidade. – Você está grávida e passou
por uma situação muito estressante. É natural que eu queira que tenha os
melhores cuidados possíveis. – Demi engoliu
em seco e anuiu lentamente com a cabeça. Joseph a observou com olhar penetrante.
– Agora, quanto à minha rudeza de agora há pouco… peço-lhe desculpas. Não tinha
direito de falar com você daquela maneira.
Demi
resfolegou, fazendo-o arquear as sobrancelhas.
–
Acho que rudeza não define o que fez. Agiu como um verdadeiro idiota.
Um
rubor se espalhou pelo rosto de Joseph enquanto ele engolia em seco.
–
Sim, tem razão, e lhe peço desculpas por isso. Não tenho nenhuma justificativa.
Estive ocupado tomando providências para nossa viagem e descarreguei minhas
frustrações em você. Isso é imperdoável, mas peço que me perdoe mesmo assim.
–
Aceito suas desculpas – retrucou ela em tom de voz seco.
–
E quanto às suas outras afirmações. – Joseph afastou uma das mãos que seguravam
as dela e a passou pelos cabelos negros. – Não vivemos vidas separadas. Nem
viveremos. Você não me preparou nenhuma armadilha para que a pedisse em
casamento e não quero que repita isso. – Ele fez uma pausa e suspirou. –
Coloquei-a neste quarto em respeito à sua condição.
Não
achei justo obrigá-la a dividir um quarto e uma cama com um homem que não passa
de um estranho para você. Não quis pressioná-la a esse ponto.
À
luz daquela explicação, a preocupação de Demi pareceu tola. O que ela havia interpretado
como desprezo, na verdade fora um ato zeloso da parte de Joseph. Os ombros de Demi
se curvaram quando um profundo suspiro lhe escapou dos lábios.
–
Pensei…
–
O que pensou, pedhaki mou?
–
Pensei que me rejeitasse – respondeu Demi tímida.
Joseph
praguejou em tom de voz baixo e lhe segurou a rosto entre as mãos. Por um longo
instante, se limitou a olhá-la nos olhos. Labaredas se refletiam nos olhos
dourados. E então, ele inclinou a cabeça na direção dela. A respiração de Demi
ficou presa na garganta quando os lábios sensuais pairaram sobre os dela.
Um
desejo feroz se acendeu dentro dela e de repente tudo que Demi desejava era
aquela boca explorando a dela. Quando os lábios dos dois se encontraram, um
raio carregado de eletricidade lhe perpassou a espinha e ricocheteou, se
espalhando por seu corpo como uma conflagração.
Em
um gesto instintivo, Demi arqueou as costas na direção dele, amoldando-se ao
casulo quente do corpo musculoso, enquanto os dedos longos lhe acariciavam o
rosto e ele aprofundava o beijo. Os seios sensíveis intumesceram à medida que o
desejo crescia. O peito largo lhe roçou os mamilos enrijecidos, fazendo-a se
contrair em reação.
Demi
envolveu o pescoço largo com os braços e enterrou os dedos nos cabelos da nuca de
Joseph. Uma paz avassaladora a envolveu. Uma sensação de perfeição, que não experimentara
desde que acordara naquela cama de hospital, se alojou em sua mente.
Um
gemido baixo escapou da garganta de Joseph enquanto ele recuava. A respiração alterada
e os olhos faiscando com a evidente excitação.
–
Seu corpo se lembra de mim, pedhaki mou, mesmo que a sua mente não se recorde.
– Um tom de pura satisfação masculina permeava aquelas palavras. Ele soava
arrogante e seguro de si, mas ainda assim aquilo proporcionou a Demi uma
injeção de confiança e um muito necessário estímulo. Joseph pareceu muito feliz
com a ideia de ela o reconhecer, mesmo que apenas no nível físico.
–
Não tenho nenhuma roupa que me sirva – disparou ela, corando em seguida diante
do absurdo daquela frase. O cérebro se fundira no instante em que ele a beijara
e agora ela lutava para disfarçar o embaraço. Uma das sobrancelhas de Joseph se
ergueu. – Por que não tenho roupas de gestante? – perguntou. – Não comprei
nenhuma? – Demi procurava por qualquer explicação plausível que justificasse o
fato de ela não possuir nenhuma roupa apropriada dentre um closet abarrotado.
Joseph
franziu a testa.
–
Desculpe-me, pedhaki mou. Não pensei nisso. Claro que não pode sair por aí
vestindo seu jeans. – Os lábios sensuais se curvaram em um sorriso lento. –
Mesmo que eu adore vê-la vestida com um deles. – Demi inclinou a cabeça para o
lado. Joseph soltou uma risada abafada, e o som baixo e sexy reverberou em seu
corpo hipersensível. – Você não gosta de usar esse tipo de roupa na minha
presença. Acho que gosta de estar bem vestida quando estamos juntos, mas posso
lhe garantir que a acharia linda em um saco de estopa se optasse por vestir um.
– Um calor intenso subiu ao rosto de Demi, mas ela sorriu diante do elogio.
Joseph
fez um gesto negativo com a cabeça, com expressão tristonha. – Não estou
fazendo um bom trabalho em tomar conta de você desde que saiu do hospital. Eu a
aborreci e não providenciei as coisas de que necessitava. Isso é algo que posso
corrigir imediatamente.
Porém,
admito que sua segurança e seu bem-estar foram minha prioridade.
–
Não diga isso – protestou ela. – Tem sido maravilhoso. Bem, exceto naqueles
breves instantes em que se comportou como um idiota. – Demi exibiu um sorriso
provocador enquanto falava. – Isso não deve ter sido fácil para você e, ainda
assim, tem se mostrado incrivelmente paciente. Desculpe por ser tão rabugenta.
Joseph
tocou seu rosto e, por um instante, Demi pensou que ele fosse beijá-la outra vez.
–
Não permitirei que peça desculpas. Fica se preocupando com o quanto isso é
difícil para mim enquanto foi você quem sofreu. – Joseph afastou a mão e se
levantou. – Agora tenho de dar alguns telefonemas para lhe providenciar roupas
mais adequadas.
Demi
piscou várias vezes surpresa.
–
Não podemos simplesmente sair para comprá-las?
Joseph
franziu a testa.
–
Não está em condições de se lançar em uma maratona de compras. Quero que
descanse.
Estaremos
partindo para a ilha amanhã, pela manhã, assim que você tiver uma consulta com
o médico e ele a liberar para viajar.
–
Amanhã? – repetiu ela. – Tão cedo?
Joseph
assentiu.
–
Agora sabe por que tenho de me apressar se quiser que suas roupas sejam
entregues a tempo.
Demi
ergueu as mãos em um gesto de rendição. O modo como Joseph falava deixava claro
que tinha muita experiência em fazer com que tudo saísse de acordo com sua
vontade. Se ele era capaz de lhe providenciar roupas com tanta rapidez, quem
era ela para discutir?
–
Agora…
Demi
ergueu uma das mãos para silenciá-lo. Conhecia bem aquele semblante e o tom de voz
para saber que uma ordem para que descansasse estava a caminho.
–
Se me mandar descansar, sou capaz de gritar. – Os olhos âmbar se estreitaram,
como se ele estivesse prestes a protestar. – Por favor, Joseph. Estou me
sentindo bem. Cochilei enquanto você estava fora. Você prometeu que iríamos
almoçar quando retornasse de sua reunião e de repente me descobri faminta.
Podemos comer?
Joseph
praguejou mais uma vez cerrando os punhos.
–
Claro que sim. Ao que parece, consigo ser negligente em todos os sentidos.
Venha, sente-se.
Providenciarei
algo para comermos.
Joe consegue ser um idiota quando quer.
gente como estou postando os capitulos enormes de uma so vez, será 1 vez por semana apenas. assim consigo fazer outras coisas
ah sei que to enchendo aqui com fotos e gifs desses japoneses.
1º amo a serie deles
2º é pra se acostumarem pois terá uma fic baseada neles
3º SAO TAO FOFOOOOSSSS *-*
BJEMI
Joseph é idiota, mas também é um amorzinho, como lidar??
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