terça-feira, 7 de agosto de 2018

O Diário Secreto da Senhorita Demetria Cheever Capitulo 13


Adam não estava seguro de por que permaneceu tanto tempo em Kent. A excursão de dois dias prontamente se prolongou quando Lorde Harry decidiu que na verdade queria adquirir a propriedade, e não só isso, mas também queria convidar alguns amigos imediatamente para realizar uma festa. Não havia forma de que Adam pudesse livrarse educadamente, e para ser honesto, na realidade não tinha desejo de partir, não quando isso significava retornar a Londres para enfrentar suas responsabilidades.
Não é que estivesse tramando uma forma de evitar casar com Demetria. De fato, era absolutamente o contrário. Uma vez que se resignou à ideia de voltar a se casar, já não parecia um destino tão horrendo.
Mas ainda assim, não se decidia a retornar. Se não se apressou a sair da cidade argumentando o mais corriqueiro das desculpas, poderia ter esclarecido o assunto imediatamente. Mas quanto mais tempo pospôs, mais desejava continuar pospondoo.
Como demônio ia explicar sua ausência?
Assim que a viagem de dois dias se converteu em uma festa campestre de uma semana de duração que a sua vez se transformou em uma festa sem restrições de nenhum tipo de três semanas de duração. Com caçadas, corridas e abundantes mulheres dissolutas a quem lhes deu rédea solta dentro da casa. Adam tomou cuidado de não envolverse com estas últimas. Podia ser que estivesse fugindo da responsabilidade para com Demetria, mas o mínimo que podia fazer era permanecer fiel.
Logo chegou Mikey a Kent e procedeu a unirse à festa com um desenfreio tão temerário que Adam se sentiu obrigado a ficar e oferecer alguns conselhos fraternais. Isto requereu outras duas semanas de seu tempo, que outorgou alegremente, já que mitigava algo da culpa que esteve sentindo. Não podia abandonar seu irmão, não é verdade? Se não vigiasse Mikey, o pobre moço provavelmente terminaria com um severo caso de sífilis.
Mas finalmente se deu conta que não podia adiar o inevitável por mais tempo, e retornou a Londres, sentindose um imbecil. Provavelmente Demetria estivesse xingando. Teria sorte se o recebesse. E com isso em mente e não sem sentirse um pouco agitado, subiu os degraus da casa de seus pais e sem esperar ser recebido entrou no vestíbulo principal.
O mordomo se materializou imediatamente.
—Huntley — disse Adam a modo de saudação. — Encontrase a Senhorita Cheever? Ou minha irmã?
—Não, milord.
—Hmmm. Quando são esperadas de volta?
—Não sei milord.
—Pela tarde? Na hora do jantar?
—Imagino que não voltarão até dentro de várias semanas.
—Várias semanas! —Adam não tinha previsto isto. — Onde demônios estão? Huntley ficou rígido ante a imprecação de Adam.
—Na Escócia, milord.
Escócia? Maldito inferno. Que demônios estavam fazendo lá? Demetria tinha amigos em Edimburgo, mas se tinha feito planos para visitálos, não o informou.
Espera um momento, não estaria Demetria prometida a algum cavalheiro escocês relacionado com seus avôs? Se esse fosse o caso certamente alguém teria informadoo. Demetria, antes de qualquer um. E Deus sabia que Selena era incapaz de manter um segredo.
Adam caminhou a longos passos para o pé das escadas e começou a vociferar.
—Mãe! Mãe! —virouse para Huntley. — Imagino que posso assumir que minha mãe não as seguiu até Escócia?
—Não, ela está residindo aqui, milord.
—Mãe!
Lady Rudland se apressou a descer.
—Adam, em nome do céu, o que acontece? E onde esteve? Partindo ao Kent sem nem sequer nos dizer isso.
—Por que Selena e Demetria estão na Escócia?
Ante seu interesse, Lady Rudland arqueou as sobrancelhas.
—Uma enfermidade na família. Quero dizer na família de Demetria.
Adam evitou assinalar que isso era óbvio, já que os Bevelstoke não tinham parentes na Escócia.
—E Selena foi com ela?
—Bom, já sabe como são unidas.
—Quando retornam?
—Não posso dizer nada a respeito da Demetria, mas já escrevi a Selena, insistindo em que retorne. A esperamos em poucos dias.
—Bem — murmurou Adam.
—Estou segura que se sentirá feliz por sua devoção fraternal.
Adam semicerrou os olhos. Havia certa nota de sarcasmo na voz de sua mãe?
Não podia estar seguro.
—A verei logo, mãe.
—Estou segura de que o fará. OH, e Adam?
—Sim?
—Por que não tenta passar mais tempo com seu ajudante de quarto? Parece um pouco maltrapilho.
Quando Adam se foi estava grunhindo.
Dois dias depois, Adam foi informado que sua irmã tinha retornado a Londres.
Adam se apressou a sair para sua casa imediatamente. Se havia uma coisa que odiava era esperar. E se havia algo que odiava ainda mais, era sentirse culpado.
E se sentia malditamente culpado por ter feito Demetria esperar pelo que agora se converteu em um período de mais de seis semanas.
Quando chegou, Selena estava em seu quarto. Em vez de esperála na sala de estar, Adam subiu a escada e bateu na porta.
—Adam! —Exclamou Selena. — Valhame Deus! O que está fazendo aqui?
—Sinceramente, Selena, costumava viver aqui. Recorda?
—Sim, sim, é obvio. —Sorriu e se voltou a sentar. — A que devo este prazer?
Adam abriu a boca, e logo a fechou, sem estar seguro do que queria perguntar. Não podia simplesmente sair com, "Seduzi sua melhor amiga e agora preciso endireitar as coisas, assim consideraria apropriado que fosse procurála à casa de seus avôs enquanto um deles está doente?"
Voltou a abrir a boca.
—Sim, Adam?
Fechoua, sentindo um tolo.
—Queria me perguntar algo?
—O que achou da Escócia? —Balbuciou.
—Linda. Esteve lá alguma vez?
—Não. E Demetria?
Selena duvidou antes de responder.
—Está bem. Manda saudações.
De alguma forma, isso parecia duvidoso a Adam. Tomou fôlego. Devia proceder com cautela.
—Está de bom ânimo?
—Her, sim. Sim, está.
—Não estava desanimada ao perder o resto da temporada?
—Não, é obvio que não. Para começar nunca desfrutou muito. Você sabe.
—Correto. —Virouse para ficar de frente à janela, tamborilando com a mão contra uma de suas pernas em sinal de impaciência. — Retornará logo?
—Imagino que não o fará até dentro de alguns meses.
—Então, sua avó está bastante doente?
—Bastante.
—Deveria enviar minhas condolências.
—Não chegou a isso ainda. —Apressouse a dizer Selena. — O doutor diz que levará algum tempo, ehh, ao menos meio ano, talvez um pouco mais, mas pensa que se recuperará.
—Já vejo. E exatamente, que enfermidade padece?
—Uma doença feminina — disse Selena, sua voz soou talvez um pouquinho petulante em excesso.
Adam arqueou uma sobrancelha. Uma doença feminina em uma avó.
Extremamente intrigante. E suspeito. Voltou a se virar.
—Espero que não seja contagioso. Eu não gostaria que Demetria adoecesse.
—OH, não. A, er, enfermidade que há nessa casa definitivamente não é contagiosa. —Quando viu que Adam não desviava o olhar penetrante de seu rosto, acrescentou. — Olhe para mim. Estive ali uma quinzena e estou sã como um cavalo.
—Sim, está. Mas devo dizer que estou preocupado com Demetria.
—OH, mas não deveria estar — insistiu Selena. — Ela está bem é sério.
Adam semicerrou os olhos. As bochechas de sua irmã se puseram um pouco rosadas.
—Há algo que não está me dizendo.
—Eu... Eu não sei do que está falando — gaguejou. — E por que você está me fazendo tanta pergunta a respeito de Demetria?
—Também é uma boa amiga minha — respondeu em um tom suave como a seda. — E sugiro que trate de me dizer a verdade.
Enquanto ele se aproximava a grandes passos, Selena se deslizou velozmente por cima da cama, atravessandoa.
—Não sei do que está falando.
—Está envolvida com um homem? —Demandou. — Está? É por isso que inventou esta história tão óbvia a respeito de um familiar doente?
—Não é uma história — protestou.
—Me diga a verdade!
Fechou a boca com força.
—Selena — disse ameaçadoramente.
—Adam! —Sua voz adquiriu um tom histérico. — Eu não gosto do olhar que tem nos olhos. Vou chamar a mamãe.
—Mamãe é da metade de meu tamanho. Não será capaz de evitar que te estrangule, pirralha.
Ela arregalou os olhos.
—Adam, ficou louco.
—Quem é ele?
—Não sei! — Estalou. — Não sei.
—Assim sim há alguém.
—Sim! Não! Já não mais!
—Que demônio está acontecendo? — O ciúme, puro e ardentemente violento, percorreuno por inteiro.
—Nada!
—Me diga o que aconteceu com Demetria. — Rodeou a cama até que abandonou a Selena. Um sentimento de temor muito primitivo brincava de correr por seu corpo. Medo ante a possibilidade de perder Demetria e medo de que de alguma forma estivesse ferida. E se tinha acontecido algo com ela? Nunca teria imaginado que o bemestar de Demetria poderia lhe causar esse tipo de preocupação que fechava sua garganta, mas ali estava, e Cristo, era espantoso. Nunca quis preocuparse tanto por ela.
A cabeça de Selena se disparava de direita à esquerda procurando um meio de escape.
—Ela está bem, Adam. Juro.
Ele colocou as grandes mãos sobre os ombros da irmã.
—Selena — disse em voz muito baixa, com os olhos azuis cintilando de fúria e de temor. — Vou dizer isto só uma vez. Quando éramos crianças, nunca te batia, apesar, poderia acrescentar, de ter tido suficientes razões. — Fez uma pausa, inclinandose ameaçadoramente. — Mas não tenho inconvenientes em começar a fazêlo nesse mesmo instante. — O lábio inferior dela começou a tremer. —Se não me disser neste mesmo instante em que tipo de confusão Demetria se meteu, posso assegurar que se arrependerá profundamente.
Cem emoções diferentes cruzaram o rosto de Selena, a maioria delas relacionadas de certa forma com o pânico e o medo.
—Adam — suplicou — é minha melhor amiga. Não posso trair sua confiança.
—O que está acontecendo? — Pressionou.
—Adam...
—Me diga!
—Não, não posso, eu... — Selena ficou pálida. — OH, Meu Deus.
—O que?
—OH, Deus — resfolegou. — É você.
Uma expressão que Adam nunca tinha visto antes, não em sua irmã, nem dado o caso, em ninguém mais, apoderouse de seu rosto, e então...
—Como pôde! —Gritou, esmurrando a parte superior de seu corpo com seus pequenos punhos. — Como pôde? É uma besta! Escutou? Um animal! E é certamente ruim de sua parte deixála assim.
Adam permaneceu imóvel durante toda a enxurrada, tratando de encontrar sentido as palavras e a fúria da irmã.
—Selena — disse pausadamente. — Do que está falando?
—Demetria está grávida — vaiou. — Grávida.
—OH, Meu Deus. —As mãos de Adam caíram, afastaramse dos braços dela e se deixou cair afundandose na cama, atordoado.
—Presumo que você seja o pai — disse com frieza. — Isso é repugnante. Por amor de Deus, Adam. Virtualmente é seu irmão.
Ele jogou fumaça pelo nariz.
—Dificilmente.
—É mais velho que ela e mais experiente. Não deveria ter se aproveitado.
—Não vou justificar minhas ações ante você — cuspiu friamente. Selena bufou.
—Por que não me disse isso?
—Se por acaso não lembra, estava em Kent. Bebendo, fornicando e...
—Não estava fornicando — disse bruscamente. — Não estive com outra mulher depois de ter estado com Demetria.
—Me desculpe se acho difícil de acreditar, irmão mais velho. É desprezível. Saia do meu quarto.
—Grávida. — Voltou a pronunciar a palavra como se repetila fizesse mais fácil de acreditar. — Demetria. Um bebê. Deus.
—É um pouco tarde para rezar — disse Selena glacialmente. —Seu comportamento foi do pior, vai além do reprovável.
—Não sabia que estava grávida.
—Acaso importa?
Adam não respondeu. Não podia responder, não quando sabia que tinha atuado tão absolutamente mal. Deixou cair à cabeça entre as mãos, sua mente ainda retrocedia ante a comoção. Deus querido, quando pensava em quão egoísta tinha sido... Adiou enfrentar Demetria simplesmente devido a que era muito indolente.
Imaginou que quando retornasse, estaria aqui o esperando. Por que... Por que... Porque isso era o que ela fazia. Não o esperou durante anos? Não lhe disse...
Era um idiota. Não podia haver outra explicação nem outra desculpa.
Simplesmente tinha assumido... E logo se aproveitou... E...
Nunca, nem em seus sonhos mais selvagens imaginou que ela poderia ter ido umas trezentas milhas para o norte, aguentando uma gravidez inesperada que logo se converteria em um filho ilegítimo.
Disse a ela que o notificasse se algo assim ocorresse. Por que não lhe escreveu?
Por que não lhe disse algo?
Baixou a vista e olhou as mãos. Viamse estranhas, alheias e quando flexionou os dedos, sentiu os músculos tensos e torpes.
—Adam?
Pôde ouvir sua irmã sussurrar seu nome, mas por algum motivo não pôde responder. Podia sentir sua garganta movendose, mas não podia falar, nem sequer podia respirar. Tudo o que pôde fazer foi permanecer ali sentado sentindo um tolo, e pensando em Demetria.
Sozinha.
Estava sozinha e provavelmente aterrada. Estava sozinha, quando deveria ter estado casada e confortavelmente instalada em seu lar em Northumberland com ar fresco, comendo comida saudável e onde ele pudesse vigiála.
Um bebê.
Era gracioso, sempre pensou que deixaria que Mikey continuasse o sobrenome da família. E agora o que desejava mais que qualquer outra coisa era tocar o ventre inchado de Demetria, sustentar seu filho nos seus braços. Esperava que fosse uma menina. Esperava que tivesse olhos marrons. Podia ter um herdeiro mais a frente.
Com Demetria em sua cama, já não o preocupava o tema da concepção.
—O que vai fazer a respeito? — Demandou Selena.
Lentamente Adam levantou a cabeça. Sua irmã estava de pé como um militar, na sua frente, com as mãos nos quadris.
—O que pensa você que farei a respeito? — Rebateu.
—Não sei Adam — e por uma vez a voz de Selena carecia de fio.
Adam se deu conta que não era uma réplica mordaz. Não era uma provocação.
Era certo que Selena não estava convencida de que tivesse a intenção de fazer o correto e que fosse casar com Demetria.
Adam nunca se sentiu menos homem.
Com um profundo e tremente suspiro, ficou de pé e clareou a garganta.
—Selena, seria tão amável de me dar o endereço de Demetria na Escócia?
—Com prazer. — Foi para a escrivaninha e arrancou um pedaço de papel no qual rapidamente rabiscou umas poucas linhas. — Aqui está.
Adam tomou o pedaço de papel, dobrouo e o pôs no bolso.
—Obrigado.
Selena muito intencionadamente, não respondeu.
—Acredito que não a verei por algum tempo.
—Tenho esperanças de que ao menos seja por sete meses — replicou ela.
Adam cruzou a Inglaterra até Edimburgo correndo, completando a viagem em um incrível lapso de quatro dias e meio. Quando chegou à capital escocesa, estava cansado e poeirento, mas isso não parecia importar. Cada dia que Demetria passava sozinha era outro dia em que poderia... Infernos, não sabiam o que era capaz de fazer, mas tampouco queria averiguar.
Antes de começar a subir os degraus voltou a comprovar o endereço. Os avôs de Demetria viviam em uma casa relativamente nova em um setor elegante de
Edimburgo. Uma vez ouviu que eram pessoas ricas e que tinham propriedades mais ao norte. Suspirou aliviado de que estivessem passando o verão aqui embaixo perto da fronteira. Não teria ficado satisfeito ter que continuar a viagem internandose nas
Highlands. Já tendo chegado até ali estava exausto.
Golpeou a porta com firmeza. Um mordomo abriu a porta e o saudou com o acento nasal que alguém poderia encontrarse na residência de um Duque.
—Vim ver a Senhorita Cheever — disse Adam com um tom cortante.
O mordomo olhou desdenhosamente a roupa enrugada de Adam.
—Não está em casa.
—Não está? — O tom de Adam implicava que não acreditava. Não o surpreenderia que tivesse dado sua descrição a toda a casa com instruções de que proibissem sua entrada.
—Terá que retornar mais tarde. Entretanto, ficaria encantado de transmitir uma mensagem, se você...
—Esperarei — Adam passou ao lado do mordomo, entrando em um pequeno salão do vestíbulo principal.
—Como se atreve, senhor! — Protestou o mordomo.
Adam tirou um de seus cartões e entregou. O mordomo olhou seu nome, o olhou, e logo voltou a olhar seu nome outra vez. Obviamente não esperava que um
Visconde tivesse uma aparência tão desgrenhada. Adam sorriu com secura. Havia vezes em que um título podia resultar malditamente conveniente.
—Se deseja esperar, milord — disse o mordomo em um tom algo mais contido.
— Farei que uma criada traga o chá.
—Por favor.
Quando o mordomo saiu, Adam começou a vagar pelo recinto, examinando lentamente os arredores. Obviamente os avôs de Demetria tinham bom gosto. Os móveis eram simples e de estilo clássico, estilo que nunca parecia desconjuntado nem irremediavelmente passado de moda. Enquanto examinava ociosamente o quadro de uma paisagem, refletiu como fez umas mil vezes desde que deixou Londres, a respeito do que diria a Demetria. O mordomo não chamou a guarda ao escutar seu nome. Isso era um bom sinal, ou isso supunha.
Alguns minutos depois chegou o chá e quando Demetria não apareceu em seguida, Adam decidiu que o mordomo não estava mentindo a respeito de seu paradeiro. Não importava. Esperaria o que fosse necessário. Ao final sairia com a dele... Não tinha nenhuma dúvida a respeito.
Demetria era uma moça sensível. Sabia que o mundo era um lugar frio e desumano para uma criança ilegítima. E para a mãe. Sem importar quão zangada estivesse com ele e estaria disso não restava dúvida não desejaria relegar o filho a uma vida tão difícil.
Também era seu filho. Merecia o amparo de seu sobrenome. Tanto como
Demetria. Realmente não o agradava a ideia de que ela permanecesse muito mais tempo liberada a sua sorte, mesmo que seus avôs tivessem aceitado acolhêla neste difícil momento.
Adam permaneceu ali sentado com seu chá por meia hora, arrasando ao menos seis bolachas das quais haviam lhe trazido. Tinha sido uma longa viagem de
Londres, e não se deteve muito frequentemente para comer. Estava se maravilhando com o fato de que o sabor destas fosse muito melhor que qualquer coisa que tivesse provado na Inglaterra quando ouviu que se abria a porta principal.
—MacDownes!
A voz de Demetria. Adam ficou de pé, com uma bolacha ao meio comer entre os dedos. Soaram passos no vestíbulo, presumivelmente pertencentes ao mordomo.
—Poderia me ajudar com alguns destes pacotes? Sei que deveria ter pedido que fosse enviada a casa, mas estava muito impaciente.
Adam ouviu o som de pacotes trocando de mãos, seguido da voz do mordomo.
—Senhorita Cheever, devo lhe informar que tem um visitante esperandoa no salão.
—Um visitante? Eu? Que estranho. Deve ser um dos MacLean. Sempre fui amistosa com eles quando estou na Escócia, devem ter se informado que estou na cidade.
—Não acredito que seja de origem escocesa, senhorita.
—Realmente, então quem...
Adam quase sorriu quando sua voz se alargou pela comoção. Quase podia ver como ficava boquiaberta.
—Foi do mais insistente, senhorita — continuou MacDownes. — Tenho seu cartão justo aqui.
Houve um longo silencio depois do qual Demetria disse finalmente:
—Por favor, diga que não estou disponível. —Sua voz tremeu na última palavra, e logo se lançou escada acima.
Adam saiu ao vestíbulo a pernadas bem a tempo para se chocar com MacDownes, que provavelmente estava desfrutando com a ideia de jogálo para fora.
—Ela não deseja vêlo, milord — cantarolou o mordomo, não sem o mais leve indício de um sorriso.
Adam o empurrou para abrirse caminho.
—Maldição se não o fará.
—Não acredito milord. — MacDownes o agarrou pela jaqueta.
—Olhe amigo — disse Adam, tratando de soar friamente simpático, se tal coisa fosse possível. — Não tenho inconveniente em golpeálo.
—E eu não tenho inconveniente em golpeálo.
Adam examinou o homem mais velho com desdém.
—Saia de meu caminho.
O mordomo cruzou os braços e manteve sua posição.
Adam franziu o cenho e tirou a jaqueta das mãos de um puxão, logo caminhou a pernadas até o pé da escada.
—Demetria! — Gritou. — Desça agora mesmo! Agora mesmo! Temos coisas a disc...
Thwack!
Bom Deus, o mordomo lhe deu um murro na mandíbula. Aturdido, Adam acariciou a pele.
—Está louco?
—Não, nenhum pouco milord. Levo meu trabalho com muita seriedade.
O mordomo tinha adotado uma posição de luta com a soltura e a graça de um profissional. Podia contar com Demetria para contratar um mordomo treinado para boxear.
—Olhe — disse Adam em tom conciliador. — Preciso falar com ela imediatamente. É de suma importância. A honra da dama está em jogo.
Thwack!
Adam cambaleou por um segundo murro.
—Isso, milord, é por implicar que a Senhorita Cheever é algo menos que honorável.
Adam semicerrou os olhos ameaçadoramente, mas decidiu que não teria nem a menor oportunidade contra o mordomo louco de Demetria, não quando já estava no extremo oposto a dois golpes atordoantes.
—Diga à Senhorita Cheever — disse em tom mordaz — que retornarei e será melhor que me receba. — Saiu da casa e desceu os degraus dando furiosas pernadas.
Absolutamente furioso porque a garota se negou categoricamente a vêlo, se virou para olhar para a casa. Ela estava de pé em uma janela aberta do andar superior, cobrindo a boca nervosamente com os dedos. Adam a olhou com o cenho franzido e então se deu conta que ainda estava sustentando a bolacha meio comida. A lançou com força através da janela, e bateu totalmente no meio do peito.
Encontrou certa satisfação nisso.
24 DE AGOSTO DE 1819
OH, céus.
Nunca enviei a carta, é obvio. Passei um dia inteiro redigindoa e justo quando estava pronta para enviála, fezse desnecessária.
Não soube se me regozijar ou se começava a chorar.
E agora Adam está aqui. Deve ter tirado a verdade — ou melhor, dizendo, o que costumava a ser a verdade — de Selena à força. De outra forma ela nunca teria me traído. Pobre Livvy. Podia ser aterrador quando ficava furioso.
Coisa que, aparentemente, ainda estava. Atirou uma bolacha em mim. Uma bolacha! É algo difícil de compreender.