terça-feira, 31 de outubro de 2017

O Amor é Cego Capítulo I parte 1

Londres, 1720
— Mowbray! Que bons ventos o trazem a cidade?
Lorde Joseph Jonas, o conde de Mowbray, desviou a atenção dos casais que dançavam e olhou para o homem que se aproximara dele. Alto, loiro, tremendamente bem-apessoado: Mikey Greville.
Joseph e Greville, seu primo, haviam sido muito amigos no passado. O tempo e a distância, porém, haviam enfraquecido esse laço, com uma pequena ajuda da guerra com a Espanha. Ignorando a pergunta de Mikey, ele retribuiu o cumprimento com um leve sorriso e voltou o olhar para a elegante coreografia dos homens e mulheres na pista de dança.
— Está aproveitando a temporada, Greville? — perguntou.
— Muito, muito. Sangue novo. Novas caras.
— Novas vítimas — Mowbray acrescentou em tom seco.
— Também. — Mikey riu. Ele era conhecido pelo sucesso em seduzir jovens inocentes. Só não fora ainda forçado a sair da cidade devido a seu título e fortuna.
Balançando a cabeça, Joseph esboçou um sorriso pálido.
— Você não se cansa nunca da caça. Lamento dizer que todas me parecem a mesma. Posso jurar que essas são decepcionantemente iguais às jovens que estavam debutando a última vez em que estive aqui, que eram iguais às do ano anterior.
O primo achou graça e sacudiu a cabeça.
— Faz dez anos que você se deu ao trabalho de vir pela última vez à cidade, Joseph . As jovens de então estão todas casadas e procriando, ou a caminho de se tornarem solteironas.
— Diferentes rostos, mesmas damas — Joseph  disse, dando de ombros.
— Tanto cinismo — censurou Mikey — Você soa como um velho, homem.
— Apenas mais velho – Joseph corrigiu. — Mais velho e mais sábio.
— Não. Velho! — Mikey insistiu, rindo e voltando o olhar para as pessoas que se movimentavam diante deles. — Além disso, há algumas verdadeiras belezuras este ano. Aquela loira, por exemplo, ou a morena com Chalmsly.
— Hum. — Joseph observou-as. — Corrija-me se eu estiver errado, mas acho que aquela moreninha, por mais encantadora que seja, não tem nada na cabeça. Assim como lady Penélope que você seduziu da última vez em que estive aqui.
Mikey arregalou os olhos surpreso com a observação.
— E a loira — Joseph continuou, examinando a jovem em questão — é filha de pais comerciantes, muito endinheirada, e à procura de alguém que tenha título para se juntar. Mais ou menos como Lily Ainsley, outra de suas conquistas.
— Acertou em cheio — Mikey admitiu, parecendo um pouco incrédulo. Alternando o olhar de uma mulher para outra, ele riu contrafeito: — Agora você estragou tudo. Eu estava considerando dar atenção a uma delas, ou a ambas, mas, depois do que disse, elas perderam qualquer encanto. — Franzindo a sobrancelha, Mikey esboçou uma reação: — Ah, mas conheço alguém que você não conseguiria analisar com tanta facilidade.
Pegando Joseph pelo braço, ele obrigou o primo a circular até o outro lado do salão, parando então.
— Lá está ela! – disse, satisfeito. — Aquela jovem com vestido de musselina amarela. Lady Demetria Lovato. Lanço o desafio de que você se lembre de alguém de sua última temporada com quem compará-la.
Joseph  examinou a jovem em questão. Mignon, de aparência muito delicada, e adorável como uma rosa recém-desabrochada. Tinha os cabelos castanho-escuros, rostinho redondo, olhos grandes e expressivos e lábios carnudos, e parecia tão deprimida ao observar a sua volta como jamais vira qualquer outra jovem. Sua curiosidade foi aguçada.
— Da última temporada? — perguntou.
— Isso – confirmou Mikey divertido.
— Por que não está dançando? Uma lindeza como ela deveria estar com todas as danças prometidas.
— Ninguém se atreve a tirá-la, e, se você quer bem a seus pés, é melhor que também não o faça.
Joseph  levantou as sobrancelhas, de modo inquisitorial.
— Ela é tão cega quanto um morcego e um perigo para as canelas — avisou Mikey, balançando a cabeça em confirmação diante do olhar incrédulo de Joseph . — De verdade, ela não consegue dar um passo sem pisar em seu pé e tropeçar. Ela nem sequer consegue andar sem tropeçar em tudo. — Ele fez uma pausa, avaliando a expressão de Joseph . — Sei que você não acredita. Eu também não acreditava. — Mikey voltou-se para fitar a jovem e continuou: — Fui bem avisado, mas não dei ouvidos e a convidei para jantar — disse, observando Joseph . — Estava usando calças escuras aquela noite... infelizmente. Ela confundiu meu colo com a mesa e colocou a xícara de chá em mim. Ou, melhor, tentou. A xícara capotou. — Mikey demonstrou desconforto à mera lembrança. — Pobre de mim, ela quase queimou minhas partes baixas.
Joseph encarou o primo e caiu na risada.
— Isso. Ria. Mas, se eu nunca tiver um filho, legítimo ou não, será por culpa exclusiva de lady Demetria .
Sacudindo a cabeça, Joseph riu ainda mais, o que lhe fez tão bem. Havia anos não achava a mínima graça em nada. Mas a imagem daquela linda florzinha perto da parede, confundindo o colo do primo com uma mesa e derrubando uma xícara de chá era valiosa.
— O que você fez? — finalmente perguntou.
Mikey meneou a cabeça e levantou as mãos em um gesto de desalento.
— O que poderia fazer? Agi como se nada tivesse acontecido, fiquei onde estava e tentei não chorar de dor. — Olhou novamente para a jovem com um suspiro. — E, verdade seja dita, acho que ela nem notou o que havia feito. Dizem que ela enxerga bem com os óculos, mas é fútil demais para usá-los.
Ainda sorrindo, Joseph seguiu o olhar que o primo dirigiu à jovem, observando com atenção seu ar tristonho.
— Não, ela não é fútil — ponderou, vendo a mulher mais velha ao lado de Demetria murmurar alguma coisa, levantar-se e sair.
— Bem... – Mikey ia dizendo, mas parou quando Joseph fez menção de se dirigir à jovem. Balançando a cabeça, ele balbuciou: — Você foi avisado.
— Não force a vista para não ficar estrábica, por favor.
Aquilo não era um pedido, mas uma ordem, e Demetria já estava farta das ordens da madrasta. Se ao menos permitisse que ela usasse óculos, não precisaria estreitar os olhos. Não ficaria tampouco tropeçando nas coisas e nas pessoas. Mas não podia usar os óculos porque afastaria os pretendentes.
Como se seus modos desastrados não os afastasse, refletiu Demetria cansada, e intimamente riu dos pequenos “acidentes” que tivera desde que chegara a Londres.
Além de não enxergar as mesas em que deveria colocar as bandejas de chá, tivera um tombo feio na escada. Por sorte, não havia se machucado muito, só alguns arranhões e algumas manchas, mas não quebrara nada. Houvera também o pequeno incidente de cair na frente de uma carruagem em movimento, sem falar de ter posto fogo na peruca de Prudhomme.
Um novo suspiro escapou dos lábios de Demetria ao lembrar do sermão de Taylor depois do último acidente. A madrasta havia decidido que se ela era tão cega e desastrada sem os óculos, só havia uma alternativa. No futuro, quando na presença de outras pessoas, teria de ficar sentada quieta. Não poderia tocar em castiçais, xícaras, pratos, ou seja, basicamente em nada. Não devia mais participar das refeições com as visitas, e sim dizer que não estava com fome. Mesmo que estivesse. Tampouco devia beber. Sair para caminhadas estava fora de questão se uma criada não estivesse junto.
Sempre que Taylor terminava tais discursos, só restava a Demetria , quando havia outras pessoas presentes, sentar-se ao lado da madrasta, procurando parecer serena. O que significava não estreitar os olhos.
Com um suspiro, Demetria voltou a olhar para os vultos que desfilavam pela pista de dança. Cansada, abaixou os olhos para as próprias mãos. Seria mais uma noite entediante.
— Posso ter o prazer desta dança?
Apesar de ouvir o convite, Demetria não se deu ao trabalho de levantar os olhos. Para quê? Não ia conseguir ver nada direito mesmo. Em vez disso, aguardou que a madrasta respondesse, perguntando a si mesma quem seria o estranho que ainda não ouvira falar de seus desastres. Se tivesse ouvido, com certeza não se aproximaria.
Percebendo que Taylor ainda não havia declinado o convite em seu nome, alegando que ela estava muito cansada, ou qualquer outra desculpa polida, Demetria olhou de lado e viu que Taylor, ou melhor, o borrão rosado como conseguia identificá-la, não estava mais lá. Nesse instante um borrão preto ocupou a cadeira, sobressaltando-a.
Forçando os olhos, ela tentou em vão ver vestígios rosa forte, cor que a madrasta usava, à sua volta.
— Acredito que a dama que estava sentada aqui até um minuto atrás saiu em busca de algo para comer — o estranho disse-lhe tão próximo ao ouvido que Demetria pôde sentir sua respiração.
Contendo um estremecimento, voltou de imediato a atenção para o homem a seu lado. Ele era dono de uma voz grave, muito agradável, e pelo que conseguia entrever de sua figura, era bastante grande. Pela milésima vez, desejava estar de óculos para poder enxergar.
— Ela não lhe disse aonde ia? — perguntou o estranho. — Me pareceu vê-la falando com você antes de sair.
Demetria corou um pouco, e tornou a fitar a mancha colorida que se movimentava pela pista de dança, admitindo:
— Talvez tenha dito. Acho que eu estava distraída com meus pensamentos e não prestei atenção.
Embora tivesse uma vaga lembrança de Taylor ter comentado alguma coisa, Demetria estava mergulhada demais em autocomiseração para prestar atenção.
Era muito humilhante ficar sentada, tendo como distração apenas fragmentos de conversa das pessoas que passavam, muitas vezes tecendo, indelicadamente, comentários a seu respeito. Seus desastres aparentemente eram a piada da temporada. Tinha ganho o apelido de estabanada Demetria , e todos ficavam na expectativa de qual seria o próximo “acidente” para se divertirem.
— Dizem que você é tão cega quanto um morcego, e fútil demais para usar óculos.
Demetria piscou os olhos surpresa diante dessa inesperada declaração. Se a indelicadeza das palavras dele a surpreenderam, ela pôde perceber que surpreenderam seu interlocutor ainda mais. A respiração dele ficou suspensa como se tivesse se dado conta do que havia dito. Olhando de soslaio, deu para perceber que ele levantara a mão para cobrir a boca.
— Perdão, acho que estive tempo demais longe da sociedade. Nunca deveria...
— Ora, não se preocupe. – Demetria dispensou as desculpas e afundou na cadeira com um ar desanimado. — Está tudo bem. Sei o que as pessoas falam. Acham que, além de desastrada, eu sou surda, pois não se preocupam de falar na minha frente ou por trás de seus leques. Falam bastante alto para que eu ouça. — Ela imitou o modo como as pessoas falavam, fazendo caretas. — Oh, vejam, lá está a coitadinha, a estabanada Demetria .
— Peço desculpas — ele disse baixinho.
— Não precisa se desculpar. Pelo menos você disse na minha cara.
— Sim, mas... — O rapaz pareceu relaxar um pouco agora que as mãos dela não significavam mais uma ameaça. — Na verdade, era mais uma pergunta. Eu queria saber se você é mesmo como dizem.
— Bem, não sou tão cega assim. — Demetria sorriu tristonha. — Enxergo bem de óculos. Mas minha madrasta os tirou de mim. — Ela arriscou um sorriso na direção dele e esclareceu: — Taylor parece acreditar que terei mais sorte de incendiar o coração de um bom partido sem os óculos. Embora a única coisa em que pus fogo até agora foi na peruca de lorde Prudhomme.
— Como? — Joseph perguntou, espantado. — Na peruca de Prudhomme?
— Sim — ela confirmou, recostando-se na cadeira e tentando afastar a lembrança. — Pois é. Mas, se quer saber, a culpa não foi inteiramente minha. Ele sabia que eu não enxergava bem sem meus óculos. Por que cargas d’água tinha de me pedir para levar a vela mais próxima a ele? — Demetria fez uma pausa e olhou de soslaio na direção do estranho. — Sem a peruca, ele é careca feito uma bola de bilhar, não é?
Pareceu-lhe que ele aquiesceu com a cabeça, mas era difícil dizer. Também percebeu sons abafados, como se ele estivesse lutando contra o riso.
— Vamos, pode rir — Demetria disse, sorrindo. — Eu também ri, só que não na hora.
Ele então relaxou um pouco mais e, como estivessem sentados lado a lado, Demetria pôde até sentir o vigor de seu braço e de sua perna que encostaram ligeiramente nela.
Demetria apertou os olhos, tentando fazer com que o rosto do estranho entrasse em foco. Queria muito ver como ele era. Gostava do som de sua risada e de sua voz, firme e macia. E, embora devesse se afastar um pouco para não permitir a proximidade do quadril dele roçando no seu a cada movimento, gostava da sensação que sentia, por isso fazia de conta que não percebia.
— Como Prudhomme reagiu a esse pequeno acidente?
— Nada bem. Me culpou, claro. Me disse um par de grosserias também. Acho que teria me agredido se os criados não o tivessem detido e tirado de casa — admitiu, suspirando. — É claro que depois minha madrasta não parou de fazer discurso sobre como devo e não devo me comportar daqui para frente.
— Que tipo de discurso?
— Quase tudo é proibido. — Demetria sorriu. — Veja, não posso comer em público, não posso beber em público... De fato, não posso tocar em nada, como castiçais, vasos de flor, nada. Não posso nem sair para um passeio sem uma companhia para me guiar.
— Mas ela não disse nada quanto a dançar, não é?
— Não, mas isso nem precisava. — O sorriso de Demetria esvaneceu-se. Ela hesitou por um momento, depois tentou explicar: — Não enxergo nada direito. Dançando só vejo borrões de cor e luz ao meu redor, e acabo perdendo o equilíbrio. — Ela fez uma pausa, sentindo que começava a corar à lembrança da última alma corajosa que a havia tirado para dançar. Tropeçara nele e ambos acabaram caindo no chão. Deveras constrangedor.
— Então mantenha os olhos fechados.
— Como? — Demetria voltou o olhar para o vulto escuro a seu lado.
— Se mantiver os olhos fechados, você não perderá o equilíbrio — o rapaz lhe explicou e ela sentiu a mão dele aproximar-se da sua, para ajudá-la a levantar-se.
Estava pronta para recusar, mas o toque da mão dele provocou-lhe um frisson. Foi uma sensação estranha, excitante, que a fez sentir-se viva.
— Eu não... — começou a dizer, parando quando ele pôs a mão em seu queixo, levantou seu rosto e inclinou para olhá-la nos olhos.
Por um breve momento, ela contemplou claramente o mais lindo par de olhos castanhos aveludados que já tinha visto; ele então se afastou um pouco e saiu de foco.
— Confie em mim.
Não era bem um pedido, mas uma imposição. Demetria pensou naqueles olhos tão escuros e tão gentis, e concordou com a cabeça. Ele ajudou-a a se levantar e conduziu-a entre as pessoas até a pista de dança.
— Agora... — A voz dele era calma e suave ao tomá-la nos braços. — Feche os olhos e relaxe.
Demetria estava hipnotizada.
— É só me acompanhar. Não deixarei que você tropece.
Apesar de ter acabado de conhecê-lo, Demetria confiou nele e sentiu-se em segurança. De olhos fechados, contava apenas com seus ouvidos e as mãos do rapaz para conduzi-la. Ela se deixou levar pelos toques dele: um aperto na mão, uma pressão mais forte em sua cintura. E a sensação do ar passando conforme rodopiavam e rodopiavam pelo salão, sem escorregões, nem tropeços. Pela primeira vez desde a sua chegada a Londres, Demetria não se sentia desajeitada. Estava nas nuvens.
Quando a música parou, ele apertou-lhe e, segurando-a pelo braço, conduziu-a pelo salão.
— Você dança divinamente, milady — disse-lhe ao ouvido, abrindo caminho entre os demais pares.
Demetria ficou ruborizada e sorriu orgulhosa, balançando a cabeça.
— Não, milorde. O crédito não é meu. Desconfio que é você quem dança divinamente. Com outras pessoas com quem dancei só fiz tropeçar e cair.
— Então a culpa é dessas pessoas. Você é leve e graciosa como uma pluma.
Demetria pensou por um breve momento e acabou concordando:
— Talvez esteja certo. Afinal, se fosse só problema meu, mesmo com seu óbvio talento não teria sido fácil me conduzir. Talvez meus parceiros anteriores estivessem um pouco nervosos e inseguros.
Ela percebeu o riso na voz dele e levantou as sobrancelhas, desconfiada.
— Milorde?
— Sua sinceridade. Estou encantado com sua falta de falsa modéstia. Isso nunca havia me incomodado antes, mas agora o nariz empinado das pessoas quando estão na cidade me é bastante desagradável. Achei deliciosa sua franqueza.
Demetria sentiu-se rubra, mas os primeiros acordes de uma nova música ecoaram no ar e seu parceiro tornou a tomá-la nos braços.
— Feche os olhos — ele recomendou, apertando o braço em volta de sua cintura.
De olhos fechados, Demetria entregou-se ao prazer da dança. Passou-lhe pela cabeça que não deveriam estar dançando tão colados. Mas se tentasse evitar essa proximidade, talvez se sentisse insegura e poderia tropeçar como antes. Além do mais, era tão gostoso estar nos braços dele. Sentia-se aninhada e segura.
— Por que você não desobedece a essa sua madrasta?
Demetria piscou, tentando em vão ver o rosto diante dela.
— Como assim?
— Por que você simplesmente não usa seus óculos?
— Ah, até tentei no primeiro dia em que cheguei a Londres — ela disse com uma certa irritação. — Desci com eles pronta para o baile de lorde Findlay. Taylor ficou lívida. Arrancou os óculos de meu rosto e quebrou-os bem diante de meus olhos para que eu visse o que estava fazendo.
— Ela teve a coragem de quebrar seus óculos? — Joseph indagou, visivelmente chocado com a desfaçatez da madrasta.
Demetria balançou a cabeça, séria.
— Taylor sempre dá um jeito de ser obedecida.
— Mas se ela os quebrou, como você faz para circular pela casa? — ele quis saber, pesaroso. 



e ja começou a nova fic, agora oficialmente 
bjemi

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

O Amor é Cego PRÓLOGO


— O amor e febre que arde... em meu sangue.
Demetria Lovato não conteve uma expressão de desagrado quando estas palavras ecoaram no ar. Sinceramente, esse era o pior poema declamado por lorde Prudhomme desde que chegara à residência urbana de seu pai uma hora antes.
Nossa, fazia somente uma hora? Parecia que aquele cidadão idoso estava ali havia dias. Ele entrara sacudindo um livro e avisara triunfante que em vez de seu passeio habitual, leria para ela.
Demetria, de fato, gostaria muito desde que a leitura fosse algo interessante e não aquela baboseira. E gostaria ainda mais se ele não agisse como se estivesse lhe fazendo um favor.
Ela sabia muito bem a razão para essa súbita mudança de planos. Obrigando-a a permanecer comportadamente sentada enquanto lia alto, ele só tinha um objetivo evitar desastres. Parecia que até o velho e solidário Prudhomme estava ficando cansado de seus contínuos acidentes.
Não podia culpá-lo, ele havia sido extremamente tolerante até então, quase um santo.
Certamente, demonstrara mais compreensão e bravura do que seus outros pretendentes. Parecia aceitar e perdoar todas as vezes que ela confundia suas grossas coxas com a mesa de chá e apoiava as coisas sobre elas; esboçava um sorriso dolorido ao levar pisões nos pés quando dançavam; e suportava com galhardia seus constantes tropeços e quedas quando saíam para uma caminhada no parque.
Pelo menos, era o que parecia, mas aparentemente hoje descobrira um jeito de se safar de tudo isso. Pena que sua opção de leitura deixasse muito a desejar. Demetria teria preferido fazer o papel de boba no parque ou cair de cara em um bolo do que ficar ouvindo aquelas bobagens sem sentido.
— Minha imaginação ganha asas de um pássaro.
A voz de Prudhomme tremulava de paixão, ou talvez apenas de velhice, Demetria  não saberia dizer. A verdade é que aquele homem tinha idade para ser seu avô.
Infelizmente, isso pouco importava para Taylor. Sua madrasta havia prometido a John Lovato que procuraria um bom casamento para a filha antes que ambos morressem.
Até o momento, eles não pareciam correr qualquer risco. Ela, porém, estava em perigo iminente de se encontrar casada com o cavalheiro idoso ajoelhado a seus pés que, de braços erguidos, clamava amor eterno.
Prudhomme era um dos poucos pretendentes que ainda a cortejavam.
— Juro minha... minha... lady Demetria — Prudhomme interrompeu o que ia dizer. — Por favor, aproxime mais a vela. Está difícil decifrar essa palavra.
Demetria  suspirou de tédio e olhou de soslaio para o pretendente. Em sua visão embaçada, o rosto de Prudhomme era um borrão redondo e rosado, coroado por uma nuvem de cabelo prateado.
— A vela, menina — disse ele com impaciência, a irritação substituindo por um momento todo o charme do pretendente.
Demetria estendeu o braço sobre a mesa a seu lado, pegou o castiçal e o segurou mais próximo a ele.
— Bem melhor agora — disse Prudhomme satisfeito. — Onde estava mesmo? Ah, sim. Juro minha perene...
Ele fez uma nova pausa e fungou.
— Você sente o cheiro de queimado?
Demetria  aspirou o ar delicadamente. Começou a abrir a boca para dizer que sim, mas antes que pronunciasse qualquer palavra, Prudhomme soltou um grito.
Pulando para trás de surpresa, ela observou com espanto o homem levantar-se de um sobressalto e começar a pular pela sala, levantando os braços enlouquecido e batendo com as mãos na própria cabeça.
De início, Demetria  não conseguiu entender o que estava acontecendo até que o viu tirar da cabeça o que lhe parecia uma mancha branca, que outra coisa não era senão uma peruca que ele passou a bater com força contra a própria perna. Ela deu-se conta então de que talvez tivesse segurado o castiçal perto demais da cabeça dele e posto fogo em sua peruca.
— Ah, meu caro. — Demetria  abaixou o castiçal, sem soltá-lo até certificar-se de que estava bem apoiado sobre a mesa. Com a visão distorcida e seu senso de distância comprometido, ela quase derrubou o homenzinho ao pular da cadeira para ajudá-lo.
— Afaste-se de mim! — ele gritou, empurrando-a.
Demetria caiu sentada na cadeira novamente e olhou-o estarrecida; depois voltou a cabeça por ter ouvido um zunzum à porta.
Todos os empregados da casa tinham ouvido os gritos e corrido para a sala. É claro que sua madrasta estava lá também.
Sem os óculos, Demetria  guia enxergar direito se a olhavam com pena ou repreensão, mas não era necessário olhar para Prudhomme para adivinhar o que estava pensando. Sua raiva ganhara corpo e quase podia tocá-la através dos poucos metros que os separavam.
Prudhomme estava tão zangado que suas palavras emendavam-se umas nas outras, tornando-se quase incompreensíveis. Demetria  conseguiu compreender algumas, como “idiota desajeitada”, “desastrada” e “um perigo para a sociedade”; de repente, ele levantou o braço e avançou em sua direção. Ela congelou, temendo que ele fosse agredi-la.
Felizmente, os presentes desconfiaram que ele estava perdendo o controle e se aproximaram. No momento em que Prudhomme ia lhe dar um bofetão, foi impedido por várias pessoas.
Enquanto lutavam diante dela, Demetria  só percebia uma difusa confusão de pessoas e cores. Ela ouviu, porém, Prudhomme praguejar e um gemido que lhe pareceu ser de Foulkes, o mordomo. O praguejar continuou à medida que um borrão de vultos coloridos começou a sair pela porta.
— Que vergonha, Prudhomme! — choramingou Taylor, com a voz bastante alterada ao seguir os demais até a porta, acrescentando depois em tom ansioso: -
Espero que tão logo tenha se acalmado, possa perdoar Demetria completamente. Tenho certeza de que ela não teve a menor intenção de queimar sua peruca.
Demetria afundou na cadeira com um suspiro de desgosto. Não podia acreditar que a madrasta ainda esperava uni-la àquele homem. Mas devia saber muito bem que Taylor não desistiria de seu intuito.
— Demetria !
Endireitando rapidamente o corpo na cadeira, Demetria  se voltou em direção à porta e viu o vulto lilás de Taylor entrar e bater a porta.
— Como você foi fazer uma coisa dessas?
— Não fiz de propósito, Taylor — esclareceu Demetria . — E isso jamais teria acontecido se você me deixasse usar os óculos.
— Nunca! — retrucou Taylor. — Quantas vezes preciso lhe dizer que jovens que usam óculos simplesmente não arrumam maridos. Sei do que estou falando. Melhor alguém meio desastrada do que com óculos.
— Eu pus fogo na peruca dele! — Demetria exclamou, descrente. — Isso é bem mais do que ser um pouco desajeitada; na realidade, ultrapassa o ridículo. Está se tornando perigoso. Ele poderia ter se queimado muito.
— Poderia! Graças ao bom deus não se queimou — admitiu Taylor, soando repentinamente calma.
Demetria quase gemeu alto. Aprendera muito depressa que quando a madrasta ficava calma, não era um bom sinal.




E É ISSO, APENAS PARA AVISAR, NAO É MINHA FIC, ADAPTAÇÃO! bjemi

O Amor é Cego

 Inglaterra, 1720
Amor Perigoso
Joseph Jonas, o conde de Mowbray, sabia que a bela e estabanada lady Demetria Lovato poderia ser perigosa. Ela era, na verdade, um desafio. Mas era exatamente o desafio que ele precisava...
Demetria sempre desejou encontrar um noivo, mas sua madrasta queria mais ainda que a enteada encontrasse alguém disposto a se casar com ela. Demetria concordava que os óculos escondiam a beleza de seu rosto, mas se ela seguisse o conselho da madrasta e não os usasse, como iria enxergar?
Já causara confusão suficiente para merecer um apelido infame nos círculos sociais, em função de sua deficiência visual. Todos os possíveis pretendentes pareciam sair correndo... Até que de repente apareceu um cavalheiro disposto a dançar com ela. Um homem elegante, atraente, misterioso... E Demetria se vê a tropeçar... no amor! 

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

AVISO

essa semana não postarei ainda a nova fic, pois ainda não decidi qual
só digo que é adaptação. pois fiquei sem as originais
podem descansar do meu blog, mas só por essa semana
bjemi

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Nova Chance para Amar EPILOGO

-Não corram. Thomas por que não esta cuidando deles?
-Mãe, eles são mais rápidos. E ainda tenho dor no joelho.
-Ah desculpe, esqueci que faz alguns dias só que tirou o gesso.
-Encontrei esses dois pestinhas indo pro jardim. -Joseph aparece com os filhos nos braços, se debatendo para descerem.
-Estavam fugindo do banho.
-Ah bom saber... já os levo pra lá.
-Me dê a Duda.
-Não quelo banho.
-Mas precisam, já pensou em voarem pra casa cheirando cavalo?
-Eca mamãe.
-Eca mesmo, vamos pro banho. Thomas já arrumou suas malas?
-Já, vou ajudar meu pai com o Fernando.
-Tudo bem.
Joseph beija a esposa carregando o outro gêmeo.
-Thomas, acho melhor descansar, anda abusando, mesmo sem o gesso, sei que seu osso ainda não ta forte o suficiente.
Enquanto subiam as escadas, Demi conversa com o marido.
-Ainda tremo só de lembrar o dia que ele caiu daquele cavalo.
-Foi somente um susto, nosso filho é forte, como a mãe.
-E essa mãe quase morreu do coração.
-Já faz semanas meu amor.
-Eu sei.
Depois dos gêmeos terem tomado banho e já estando nas cadeirinhas dentro do carro, Joseph puxa a esposa.
-Aqui, para você.
-Outra joia?
-Abra.
-Oh amor é lindo.
-Abre o pingente.
-Tommy, e você com nossos filhos.
-Ei, ele também é meu.
-Você me entendeu. Ai sinto falta de o chamar assim.
-Mas ele “já é um homenzinho”.
-Será sempre meu bebê.
-Mãe coruja.
-Sou mesmo, algo contra?
-Nada, adoro essa mãe coruja... principalmente quando esta me cavalgando em nosso quarto.
-Joseph!-Demi o bate de leve e fica vermelha.
-Te amo.
-Eu também.
-Feliz aniversario de 3 anos e meio de casamento meu amor.
-Feliz aniversario.
Joseph a beija, mas ao olhar para fora da propriedade, vê Dianna acenando para eles.
-Dianna esta lá fora....de novo.
-Ela não desiste nunca?
-Não. Quer conhecer os netos.
-Ela não tem netos.
-Não mesmo, vamos que temos um avião para pegar.
-Vamos pais.
-Estamos indo Tommy.
-MAE!
-Desculpe, escapou.
-Você sempre será nosso Tommy rapazinho.
-Pai não bagunce meu cabelo.
-Usando gel?
-Quero ser igual meu pai.
-Você será...
-Ai 2 Josephs? Como irei aguentar?
-O que quer dizer com isso?
-Nada.
-Se prepare para as consequências essa noite senhora Jonas.
-O que fará senhor Jonas?
-Você saberá.-Ele a olha como um predador e Demi já geme imaginando a noite de amor que teriam.
-Mal posso esperar.
-Não me provoque.
-Vamos logo papai, quelo vê o tio Frankie.
-E eu a vovó Denise.
-Só por que ela te prometeu uma boneca é?
-E falá bolo de chocolate.
-Duda sua sapeca.
-Já vejo a zona que a cozinha da casa de seus pais ficarão.
-E você Thomas, o que fará ao chegarmos lá?
-Meu vô vai me ensinar golfe.
-Perfeito.
-O que é perfeito meu amor?
Joseph se aproxima da esposa e diz baixinho os planos que tem para eles enquanto os filhos estariam com os parentes dele.
-Mal posso esperar.
-Nem eu.
-Oh.
-Oh mesmo, hoje você não me escapa.
-Estarei ansiosa para isso.
-Não me provoque, ou não irá dormir essa noite.
-Adorarei ficar acordada....se você estiver dentro de mim.
-Então vamos ficar acordados a noite toda.
Ele a puxa para seu colo e a beija.
-Papai não beija a mamãe, é nojento.
-Eu amo beijar a mãe de vocês.
-Deixa eles se beijalem Fenando.
-Não deixo nada Duda.
-Sem brigar vocês 2. Ou irei bater em ambos.
-Tommy chato.
-Tommy legal, você que é chato Fenando.
-Ai essa viagem vai ser longa meu amor.
-Logo Duda e Fernando irão estar dormindo.
-Tomara.
-Não seja cruel Joseph.
-Não sou. Agora quero mais um beijo.
-Quantos você quiser.
Enquanto as crianças discutiam, Joseph beijava sem parar a esposa.
-Logo faremos mais um baby? Acho que a Duda iria amar uma irmãzinha.
-Outra criança?
-Por mim aquela casa estaria cheia de crianças...nossos filhos.
-E aguenta ficar 3 meses sem sexo?
-Por você sim...mas não mais que 3 meses, ou meu pênis explode.
Ela o olha e bate no ombro dele.
-Não tem graça.
-Não mesmo, fico louco só vendo você amamentando.
-Para de dizer isso.
-Por quê?
-Por que me lembrou....
-O dia que tomei leite logo que foi liberada...
-Sim.
Ele ri e abraça a esposa.
-Chegamos.
-Ajude a Duda com o cinto Thomas.
-Vem Duda, vamos pro avião.
Enquanto o menino ajudava os irmãos mais novos, Joseph abraça a esposa que sorri observando os pequenos entrando no avião.
-Você é feliz?
-Sou, e muito, muito feliz com a vida que temos, e você meu amor?
-Sou, você me deu 3 filhos maravilhoso Demi. E quero te dar o melhor que a vida pode ter.
-Eu já tenho....nossos filhos e você. É tudo o que mais quero, vocês sempre comigo.
-Sempre juntos. Eu amo você demais Demi.
-Meu coração é seu.
Ele a abraça apertado agradecendo pela vida ao lado da esposa.



e é isso, acabou de vez
foi uma fic curtinha eu sei, mas estava sem muitas ideias, espero que tenham gostado

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Nova Chance para Amar 10º Capitulo ULTIMO

Ele sente lagrimas nos olhos e olhando longe, vê Demi com a mão na boca e já chorando.
-Eu gosto muito de você meu filho.
-Papai.
-Preciso tirar uma foto desse momento.
Joseph estende uma das mãos e puxa Demi para o abraço.
-Te farei muito feliz. Prometo a ambos.
-Oh Joseph...
Tommy desce do colo dele e corre pelas escadas para ir ao quarto dele.
-Não corra!
-Ta mamãe.
-Agora quero um beijo.
-Só depois de me contar o que...
Ele a beija, calando-a.
-Agora uma porta de sofrimento foi fechada....para sempre.
-Por que você fez aquilo?
-Porque não permito que você sofra. Nunca mais Demi.
-E vai lutar por mim?
-Por você não, com você, agora é uma Jonas, e nós Jonas somos unidos.
-E quantos Jonas são afinal?
Ele começa a contar os pais, primos e um irmão mais novo dele.
-Alem de você e Tommy.
-Hmmm e quanto ao mais novo membro?
-Como assim?
-Não tenho certeza, mas minha menstruação esta atrasada 2 semanas.
-Quer dizer que....
-Farei o teste amanha.
-Por que esperar tanto?
-Quer ser pai?
-Claro que quero, você me deu o Tommy, mas um filho de meu sangue seria maravilhoso.
-Seria?
-Sim.
Ele a pega no colo e sobe as escadas rapidamente e quando entram na suíte, tira o vestido que Demi usava e a possui ali mesmo em pé.
Horas depois, os dois na cama abraçados trocam juras de amor.
-Demi...
-O que?
-Eu... na festa de nosso casamento você disse que me ama, isso é realmente verdade?
-Por que isso agora?
-Preciso saber.
-É verdade sim.
Joseph se joga sobre ela e a possui novamente.
-O que...o...
-Garantindo que teremos um filho,se você não estiver, hoje a deixaremos grávida. Um fruto do amor que tenho...... por você.
Demi o olha apaixonada e o abraça apertado, forçando que ele a penetre mais profundamente.
-Me ama?
-Desde o dia que te vi no meu escritório.
-Oh Joseph...
-Amo tanto você.
-Eu também te amo muito Joseph.


só não sei que dia postarei o epilogo.
se tiver mitos comentários hoje posso postar
bjemi