quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

O Amor é Cego Capitulo V parte 3

Assim que viu a silhueta turva da criada se afastar, Demetria voltou-se para o pai e para a madrasta meio insegura. Taylor permanecera calada, mas irradiava raiva por todos os poros ao ver seus planos arruinados.
— Venha comer, Demi — disse-lhe o pai com doçura. — Você vai precisar bem mais do que chá e torradas para enfrentar o dia de hoje.
Demetria foi se juntar a ele na sala de jantar, desejando saber como acertar as coisas com a madrasta. Dispensar a criada era só urna maneira de feri-la. Taylor sempre demonstrara ressentimento por ela e esse sentimento só fizera crescer ao longo dos anos. Como não sabia a causa, também não sabia como consertar a situação.
Quando lady Mowbray chegou, Demetria foi ter com a futura sogra no vestíbulo.
Taylor, que estivera em seus aposentos, descia as escadas quando Demetria cumprimentava lady Mowbray. Temendo que ela ainda estivesse em péssimo humor, Demetria não a esperou para se despedir.
— Minha nossa! — lady Mowbray comentou tão logo se instalaram na carruagem —, que expressão carregada tinha lady Lovato. Parece que ela não é uma pessoa diurna.
Demetria suspirou e pensou em simplesmente confirmar que ela não era, mas, refletindo melhor, decidiu falar a verdade e contou a lady Mowbray o incidente da quebra de seus óculos e a reação de Taylor.
Lady Mowbray procurou consolá-la, concordando que não era culpa de ninguém, afinal acidentes ocorrem, tecendo depois um comentário que soou estranho para Demetria:
— Joseph ficará aliviado.
Sem saber o que dizer, Demetria voltou o rosto para a janela, tentado esconder sua preocupação. Será que ele detestava óculos tanto assim? Estragaria tudo quando voltasse a usá-los? Ela que chegara a pensar em perguntar a lady Mowbray se não poderiam dar uma paradinha para comprar um novo par na cidade, não cogitava agora nem sequer de sugerir.
Demetria reconsiderou o assunto enquanto a carruagem percorria as ruas da cidade e continuou pensando nos óculos durante a prova do vestido, que, segundo a opinião geral, era muito lindo. Assim que terminou de provar, a costureira a ajudou a desvesti-lo e voltou toda a sua atenção para lady Mowbray e o vestido que iria usar no casamento. Demetria caminhou pela loja e se dirigiu à porta da frente, ainda com os óculos na cabeça.
— Há algo em que possa ajudá-la, milady? Quer um chá enquanto aguarda?
Ela reconheceu a voz da assistente da costureira. Sem hesitar então perguntou:
— Há alguma ótica por aqui?
— Há, sim, duas lojas acima — informou a assistente, satisfeita por poder ser útil.
— Obrigada — Demetria murmurou, dando uma olhada para a sala no fundo da loja. A costureira demoraria um pouco para vestir lady Mowbray e fazer os acertos no vestido dela, como fizera no seu. Vendo que a assistente se afastara, ela abriu a porta e saiu da loja. Hesitou por um momento, mas resolveu ir procurar a ótica. Afinal, ficava tão próximo que não haveria risco algum.
Como a assistente havia lhe informado, duas lojas acima, ela encostou o rosto na vitrine e confirmou que a ótica era lá mesmo. Apenas entrar naquela loja já lhe fez bem. Estava chegando o momento de enxergar novamente.
— Em que posso ajudar, milady?
Demetria teve um sobressalto, pois não percebera a aproximação do vendedor. Procurando acalmar-se, disse:
— Preciso de óculos.
— Muito bem, está no lugar certo, milady. Tenho uma grande variedade.
Demetria deixou a ótica vários minutos depois, com um novo par de óculos pendurado no nariz e um largo sorriso no rosto. Que maravilha. Era uma bênção poder ver de novo.
Contemplou a rua de um lado para o outro, observando pequenos detalhes das roupas e dos rostos das pessoas que passavam. Depois voltou sua atenção para as carruagens e os cavalos que circulavam. Um suspiro de satisfação escapou-lhe dos lábios. Não queria que lady Mowbray desse por sua falta, pois não pretendia comentar com ela sobre sua escapada e a compra dos óculos. Queria primeiro entender direito a opinião de Joseph sobre o uso de óculos. Se ele realmente não gostasse, ela aguardaria mais um pouco antes de usá-los na frente dele. Mas só o tempo suficiente para que ele a amasse de fato. Depois, os óculos certamente não fariam diferença para ele.
Pelo menos era o que esperava, porque não tinha vontade alguma de passar a vida às cegas.
Parando à porta da costureira, Demetria deu uma última olhada ao mundo ao seu redor. Tirou finalmente os óculos e os guardou em um pequeno bolso da saia. Por enquanto seriam seu segredinho. Só os usaria quando estivesse sozinha.
Meio cega de novo, Demetria mal entrara no ateliê da costureira quando lady Mowbray veio depressa do fundo da loja.
— Está pronta para irmos, querida? Pensei que poderíamos tomar chá na casa de Joseph hoje. Assim você fica conhecendo a criadagem.
Demetria levantou as sobrancelhas, surpresa.
— Joseph tem uma casa só dele na cidade?
— Tem, sim. Ele comprou quando ainda era jovem e rebelde. Queria um lugar onde pudesse fazer o que quisesse — explicou lady Mowbray com um ar malicioso. — Agora ele a mantém só para me aborrecer, acho. E evitar que eu fique dando palpite para que vá a um baile ou outro ou assista a uma peça que não quer.
Demetria esboçou um leve sorriso.
— Um chá com Joseph será ótimo, milady.
— Finalmente você chegou. — Joseph colocou o saco de moedas sobre a mesa e recostou-se na cadeira com um suspiro quando Hadley apareceu. Martin Hadley era o homem que havia contratado para pesquisar a razão de Demetria ter desaparecido da sociedade e descobrir onde ele poderia encontrá-la novamente.
Joseph havia usado o serviço de Hadley pela primeira vez vários anos antes quando começaram a desaparecer algumas coisas da propriedade da família. O homem fora recomendado por um vizinho a quem servira em diversas ocasiões, mostrando-se muito competente ao lidar com tais assuntos. Hadley havia sido empregado como lacaio na propriedade campesina da família. Na realidade, a única ocupação dele fora descobrir para onde estavam sendo desviadas a prata e as relíquias da família. Uma semana após entrar em cena, ele havia pego em flagrante a criada responsável pelos roubos.
Joseph ficara bastante impressionado. Passara a usá-lo em outras circunstâncias e acreditava o bastante nele para incumbi-lo de localizar Demetria depois de frustrados seus próprios esforços. A missão dele era descobrir a quais eventos ela e a madrasta estavam frequentando na esperança de conseguir estar com ela por alguns minutos. Naturalmente, essa necessidade acabara desde a noite de seu noivado, e Joseph decidira fazer o acerto de contas com o rapaz. Era o que então estavam fazendo naquele momento, mas essa não era a única razão pela qual desejava vê-lo.
— Obrigado, milorde, por me pagar tão rápido. Poucos são tão pontuais, precisam, pelo contrário, ser caçados para pagar. — Com o saco de moedas devidamente guardado no bolso, Hadley relaxou na cadeira e perguntou: — O senhor mencionou em seu bilhete que há um outro assunto que quer que eu vá atrás.
— Isso mesmo. Diz respeito a Demetria. — Joseph franziu o cenho e deixou seu olhar vagar através da janela, contemplando o jardim. — É possível que alguém esteja querendo fazer mal a ela. Creio que durante suas investigações você tomou conhecimento do grande número de acidentes que ela tem sofrido?
Hadley assentiu com a cabeça.
— Ouvi dizer que a senhorita normalmente usa óculos, mas a madrasta os tirou dela. Ela fica extremamente vulnerável a acidentes e sofre com isso.
Joseph pareceu relaxar um pouco, aliviado de que o homem percebera coisas que mais ninguém além dele via. Hadley era um bom homem. Esclareceria tudo.
— É provável que a causa da maioria deles seja a falta dos óculos, mas há um ou dois que me fazem pensar.
Hadley comprimiu os lábios e depois disse:
— Aposto que um deles foi a queda dela na rua quando quase foi atropelada por uma carruagem.
Joseph fez que sim com a cabeça, nada surpreso de que o homem tivesse ouvido falar a respeito durante suas investigações. Hadley era conhecido por sua minúcia.
Após Joseph relatar os fatos e explicar o que deveria ser feito, eles deixaram o estúdio. Mal entraram no hall apareceu Jessop que, ao vê-los, apressou-se em ir ao encontro deles.
— Vai sair, milorde? — o homem perguntou com uma certa deferência, que Joseph achou meio suspeita e sabia que não se devia apenas à presença de Hadley.
— Vou, sim. Minha mãe combinou de tomarmos chá com Demetria depois de provarem os vestidos, por isso vamos para lá. Elas já devem ter terminado as provas, não acha?
— Não saberia dizer, milorde — respondeu o criado secamente.
— Hum, — Joseph não gostou muito do tom, mas simplesmente disse: — Traga a carruagem para a frente da casa, por favor.
— Pois não, milorde. — Assim que Jessop saiu, Joseph foi pegar seu casaco e chapéu, bem como os de Hadley, e deixaram o hall para aguardar a carruagem do lado de fora da casa.
— O senhor está questionando o acidente com a carruagem por causa do que houve na fonte? — Hadley perguntou enquanto esperavam que a carruagem chegasse.
— Não só por isso, mas também pelo fato de que Demetria foi “jogada” na rua quando alguém trombou com ela. E ela não tem a menor idéia de quem foi. Além disso há também o episódio da queda na escadaria — Joseph argumentou.
— Dessa queda não fiquei sabendo — disse Hadley. — O que aconteceu?
— Como você deve saber, Demetria normalmente precisa que alguém a acompanhe onde quer que vá; quem a acompanha quase sempre é a criada. Naquele dia, ela se impacientou e resolveu descer sozinha. Acabou tropeçando em alguma coisa e rolou escada abaixo. O estranho é que ninguém sabe em que ela tropeçou. —Joseph esticou o pescoço para ver se a carruagem já estava chegando. — Pode ser um exagero de minha parte, mas, na minha opinião, quando viram que ela tropeçou, alguém poderia ter se interessado em saber o que havia causado a queda, no entanto, ninguém o fez.
Hadley permaneceu calado, refletindo sobre o que Joseph lhe contara.
— Sei que não há razão para se concluir que ambos os acidentes foram outra coisa senão meros acidentes. Mas, depois do incidente na fonte, tudo isso me preocupa.
— É muito conveniente que ela pareça ser estabanada se alguém realmente estiver provocando esses acidentes — Hadley concluiu.
— É o que também me passa pela cabeça — Joseph admitiu.
— Se foi a madrasta quem tirou os óculos de Demetria, será que ela não está por trás de tudo isso? — Hadley ponderou. — Ela não parece gostar muito de Demetria pela maneira como a trata. Pelo menos, é o que me pareceu, mas posso estar enganado.
— Não, você não está enganado. Taylor parece identificar Demetria com a mãe morta, a quem de certa forma vê como uma rival com quem compete pela afeição do marido.
— Compreendo — disse Hadley, silenciando com a chegada da carruagem.
Joseph informou ao condutor da carruagem para onde desejava ir, entrou na carruagem e ambos mantiveram-se calados até chegar à residência dos Lovato.
— Lady Demetria não está em casa — Foulkes avisou ao abrir a porta e se deparar com Joseph e Hadley.
— Fiquei de me encontrar com ela e minha mãe aqui para tomarmos chá quando chegassem —Joseph explicou.
— Elas ainda não chegaram — informou o mordomo, com uma cara azeda.
Joseph começava a pensar que teriam de aguardar na carruagem quando John Lovato surgiu no hall e, ao vê-lo, logo os convidou para entrar.
— Olá, Joseph. Entre! Demetria e sua mãe logo deverão estar de volta, a menos que tenham parado em alguma loja para fazer compras. — Voltando-se para o mordomo, ele disse: — Foulkes, acompanhe os cavalheiros até o salão para que aguardem Demi e lady Mowbray lá.
— Sim, senhor, milorde. — Foulkes abriu a porta e deu um passo para o lado para permitir que entrassem.
— Infelizmente, eu já estava de saída — explicou lorde Lovato, desculpando-se. — Tenho uma reunião no clube com um velho amigo, caso contrário teria prazer em lhes fazer companhia.
— Não se preocupe, milorde. Talvez eu leve Hadley até a fonte enquanto esperamos pela volta delas. Estou pensando em construir uma igual na minha casa de campo e queria a opinião dele a respeito.
— Ora, fique à vontade. Demetria realmente gosta muito da fonte. Sempre que pode vai sentar-se e ler por lá. Ou costumava fazer isso — acrescentou com um leve sorriso. — Antes de ficar sem os óculos. Por falar nisso, o par de reserva chegou esta manhã.
Joseph sentiu-se tenso diante da notícia, mas relaxou em seguida ao ouvir de lorde Lovato que os óculos também haviam sido quebrados em um pequeno acidente.
O alívio que Joseph sentiu foi quase palpável. Todo o seu corpo relaxou até que o pai de Demetria acrescentou:
— Preciso levá-la a uma ótica aqui na cidade para que compre óculos novos antes do casamento.
— Não há necessidade disso, milorde — Joseph rebateu rapidamente. — Eu mesmo providenciarei para ela.
Lorde Lovato hesitou um pouco e depois aquiesceu:
— Como achar melhor. — Dirigindo-se então à porta, completou: — Com licença, então, estou certo de que Demetria e lady Mowbray não demorarão.
— Por aqui, senhores — Foulkes murmurou, após fechar a porta, encaminhando os visitantes para o hall.
— A partir daqui conseguiremos encontrar o caminho, Foulkes. Obrigado — disse Joseph assim que o mordomo abriu as portas do salão.
— Como queira — respondeu Foulkes, aquiescendo com a cabeça. Vou ver se a cozinheira já está preparando o chá para tomarem quando as senhoras chegarem.
Joseph abriu as portas francesas e caminhou na frente de seu acompanhante, que de vez em quando olhava para trás para se localizar por onde estavam indo. Na noite do baile, Joseph havia pulado o portão dos fundos, mas não teve problema de encontrar a fonte. Sabia que ela ficava no fundo da propriedade, do lado direito, por isso seguiu por trilhas que conduziam nessa direção.
— Aqui estamos — finalmente disse, ao entrarem na clareira.
Hadley parou, examinou a fonte, voltando-se depois para olhar a trilha por onde haviam chegado até ali.
— Foi por aqui que ela veio?
— Essa é a trilha por onde Demetria e Joan voltaram, por isso presumo, que tenha sido por ela que chegou até aqui — Joseph explicou e seguiu Hadley para examinar as árvores no fim da trilha. Nenhuma era tão baixa a ponto de causar qualquer problema. Nenhum dos dois precisara abaixar a cabeça para caminhar entre as árvores, e a cabeça de Demetria batia na do queixo dele.
Hadley virou-se para examinar a fonte de onde eles estavam.
— Demetria achou que bateu a cabeça em um galho quando saía da trilha — Joseph começou. — E lembra que, ao tropeçar, deu mais uns passos antes de cair e desmaiar.
Hadley afastou-se ainda um pouco mais para pesquisar a fonte e sacudiu a cabeça.
— Não foi dessa maneira que ela terminou na fonte.
— Também acho que não — Joseph admitiu, contrariado.
— E é evidente que ela não bateu a cabeça em galho algum. Mesmo que tivesse tropeçado, os galhos são muito altos para que ela tivesse batido a cabeça.
— Concordo.
— Temo que o senhor esteja certo, milorde, — Hadley caminhou em direção ao arvoredo do lado esquerdo da trilha e afastou com os pés a vegetação rasteira para poder examinar o chão. — Não dá para acreditar que tenha sido um acidente.
— Não. — Com o cenho fechado, Joseph foi mais uma vez olhar a fonte, recordando como o coração quase lhe saltara do peito ao ver Demetria flutuando. Sabia que estava interessado nela, mas só naquele momento a profundidade de seus sentimentos ficara evidente. Era compreensível então que a ideia de que alguém pudesse querer fazer mal a Demetria lhe fosse tão revoltante.
— Ora, ora! O que temos aqui?
Joseph voltou-se para olhar Hadley ao ouvir o tom ácido do comentário e viu que ele se curvava para pegar alguma coisa do chão. Um momento depois o homem endireitou o corpo, levantando um galho bem longo e grosso. Joseph foi imediatamente postar-se a seu lado.
— Você acha que Demetria pode ter derrubado esse galho?
— Só se o tivesse serrado da árvore — Hadley respondeu em tom seco, mostrando a ponta.
Joseph notou as marcas do corte de uma serra no galho, depois os longos fios de cabelo castanho que ficaram presos na ponta dele. Hadley tirou os fios de cabelo e levantou uma sobrancelha.
— Suponho que sejam de Demetria. Pelo menos, a cor parece.
Joseph confirmou com a cabeça.
— Isso significa que alguém antecipadamente cortou esse galho, a atraiu para cá e a golpeou com ele. Depois ela foi jogada na fonte, sem dúvida com a expectativa de que se afogasse. Ela só se salvou graças a seu plano de ter um encontro com ela aqui naquela noite.
Joseph sentiu um aperto no coração. E se ele tivesse escolhido um outro local para encontrá-la, ou uma outra noite... Demetria poderia estar morta agora. Sentiu um calafrio na alma à mera ideia de quão perto ele estivera de perdê-la.
Hadley atirou o galho no chão novamente e esfregou as mãos para limpá-las.
— E o incêndio?
Joseph piscou os olhos.
— O incêndio?
— Sim, naquela mesma noite. Não houve um incêndio aqui e o senhor e Demetria foram pegos em uma situação meio constrangedora?
— Ah, sim. Não pensei mais nele. — Joseph apertou os lábios. — O fogo irrompeu exatamente à porta do quarto dela. Parece que uma vela ficou ardendo na mesa do hall e, de alguma maneira, caiu originando o incêndio, ou pelos menos é isso o que todos presumem que aconteceu.
— O senhor não acredita nisso?
— A porta do quarto de Demetria estava trancada, ou bloqueada pelo lado de fora. Não que isso importe porque estava extremamente quente quando percebi o fogo e me aproximei dela. O fogo crepitava do outro lado. Tivemos que sair pela janela. Mas se ela estivesse sozinha e dormindo...
Hadley balançou a cabeça.
— Vou começar a investigar sobre o incidente no mercado quando ela foi quase atropelada pelos cavalos. Talvez não tenha passado de um acidente, como me disse, mas vou especular por lá para ver se alguém se lembra de ter visto quem a empurrou. Também vou conversar com o pessoal daqui sobre o dia em que ela caiu da escada, mas...
— Não concordo — retrucou Joseph, contra-argumentando: — Prefiro que ninguém saiba que suspeitamos de que alguém esteja tentando prejudicá-la.
Hadley ponderou:
— E como fica Demetria? Se alguém estiver tentando matá-la, pode redobrar os esforços agora para completar o serviço antes que ela se case com o senhor.
— Eu pensei nisso. Estou pagando três empregados dos Lovato para ficarem de olho nela. Tomei essa providência na própria noite do incêndio.
— E quanto à criada dela? — Hadley perguntou.
Joseph encolheu os ombros.
— Bem, Joan já tem a incumbência de cuidar de Demetria e acompanhá-la por toda parte. Além disso, receio que possa contar a Demetria, e não quero que ela fique ansiosa ou assustada. Já está sob bastante estresse com os preparativos para o casamento.
— Acho que suas providências foram suficientes e...
— Joseph Adam Montfort.
Tenso, Joseph virou-se lentamente em direção à trilha na qual sua mãe surgia, trazendo Demetria . Era óbvio que ele estava em apuros. Lady Mowbray só o chamava pelo nome completo quando julgava que ele tivesse feito alguma coisa errada. Embora, neste momento, ele não encontrava qualquer razão com que se preocupar. Assim, sua atenção foi imediatamente desviada para Demetria.
Ela estava usando um adorável vestido creme e os cabelos estavam puxados dos lados, caindo atrás em uma linda cascata. Gostava mais quando ela se penteava assim do que quando tinha um coque encaracolado no alto da cabeça, como todas as mulheres usavam nos bailes. Ela estava linda.
— Ora, pare de ficar olhando feito bobo para Demetria — lady Mowbray ralhou, impaciente, provavelmente porque ele não estava lhe dando a devida atenção em um momento em que se mostrava zangada. — Logo ela vai ser sua esposa e você poderá se derreter à vontade. Agora, gostaria que você me ouvisse.
Joseph piscou e voltou relutante o olhar para a mãe, perguntando:
— O que fiz de errado?
— Não se lembra de que propus um chá com Demetria hoje?
Joseph levantou as sobrancelhas.
— Claro que lembro. É por isso que Hadley e eu estamos aqui.
— Ah, que amáveis —rebateu ela com um sorriso falso, que esmoreceu ao acrescentar: — Só que ficamos de tomar o chá em sua casa!
— Em minha casa?
Lady Mowbray soltou um suspiro, exasperada.
— Sim, Joseph, em sua casa. Você ficou de pedir aos criados que deixassem a casa um brinco e que usassem a roupa de domingo para que fossem apresentados a Demetria; assim ela teria a oportunidade de conhecer a nova casa e o pessoal que nela trabalha antes do casamento.
Joseph fitou a mãe, desconcertado. Agora que ela mencionara, tinha uma vaga lembrança de ela ter comentado que seria uma boa maneira de Demetria ser apresentada ao pessoal da casa. Quando isso se deu, não havia nem sequer entendido bem, mas agora fazia todo o sentido.
A mãe tivera uma ótima ideia, Joseph admitiu. Demetria não só mudaria de casa, mas de vida com o casamento. Conhecer seu novo mundo facilitaria tudo para ela. Pena que não tivesse prestado mais atenção à mãe para evitar aquele lapso.
Lady Mowbray soltou um outro suspiro, depois olhou para Hadley.
— Sr. Hadley, meu filho me falou do senhor.
Joseph ficou tenso, receando que a mãe mencionasse o serviço que o homem havia prestado para ele.
— Demetria, esse é o Sr. Hadley. De vez em quando ele ajuda Joseph em algum projeto. Sr. Hadley, esta é a minha futura nora, lady Demetria Lovato.
— Lady Lovato. — Hadley caminhou sorridente até ela e estendeu-lhe a mão, não deixando de levantar os olhos até o alto de sua cabeça.
Joseph logo entendeu que ele queria ver o ferimento feito na noite do incêndio. Entretanto, não havia mais sinal dele. Já havia passado uma semana e meia desde o acidente.
— Boa tarde, Sr. Hadley — Demetria cumprimentou-o. — Que tipo de ajuda o senhor presta a Joseph?
Joseph ficou tenso com a pergunta, mas não precisaria se preocupar. Hadley foi rápido na resposta e mentiu sem hesitar:
— Ah, em uma coisinha ou outra. Na verdade, em um pouco de cada coisa.
— Ah — Demetria murmurou, mas pareceu ficar curiosa.
— Na realidade — Hadley completou — Lorde Mowbray estava justamente me dizendo esta manhã que seu próximo projeto é fazer uma fonte, no mesmo estilo da fonte da casa de seu pai, em Mowbray. Foi, por isso, aliás, que me convidou para tomar chá com as senhoras. Ele achou que seria bom conhecê-las e que eu assim também poderia ter uma melhor idéia do que ele deseja para explicar ao pessoal que vai trabalhar nessa obra.
Joseph ficou maravilhado com a habilidade do homem.
— Claro — disse Demetria com um largo sorriso. — Que linda surpresa.
— Então o Sr. Hadley vai voltar conosco para sua casa para tomarmos chá lá, não é?
— Bem... — Joseph balbuciou, sem-graça. — Creio que Foulkes providenciou para que a cozinheira fizesse o chá aqui.
— Explicamos a confusão a Foulkes quando chegamos — Demetria informou. — E ele disse que não nos preocupássemos. A cozinheira seria avisada que não era necessário preparar nada.
— Também explicamos a Jessop. — Foi a vez de a mãe informar. — E ele ficou de pedir à sua cozinheira que o chá estivesse pronto no momento em que chegássemos.
— Vocês foram até lá? — Joseph perguntou, surpreso.
A mãe assentiu com a cabeça.
— Foi assim que ficamos sabendo que vocês estavam aqui. Foi Jessop quem nos informou.
— Ora, muito bem, então vamos para lá — Joseph concordou, imaginando como seu pessoal estaria contrariado com ele naquele momento.
Caminharam até a frente da casa e estavam se preparando para entrar na carruagem quando Hadley disse:
— Milorde, por mais agradável que seja tomar chá em tão boa companhia, acho melhor começar logo a iniciar nosso último projeto.
— É verdade, Hadley — Joseph concordou, estendendo-lhe a mão. — Muito obrigado. Espero logo ter notícias suas.
O homem apertou a mão de Joseph e aquiesceu com a cabeça. Despediu-se depois das senhoras, agradecendo, e seguiu rua acima.
— Por que o Sr. Hadley não quis ir tomar chá conosco? — Demetria perguntou quando Joseph entrou na carruagem e ocupou o banco em frente às duas.
— Porque tinha alguns negócios a tratar — Joseph respondeu vagamente, fitando-a com carinho. Ela era um verdadeiro raio de sol naquele vestido creme e ele se admirava de que ela lhe parecesse mais linda a cada vez que a via.
Lady Mowbray começou a comentar sobre as provas dos vestidos que haviam feito pela manhã, e Joseph mal conseguia ouvi-la durante o curto trajeto até sua casa, disperso que estava em seus pensamentos. Passava-lhe pela cabeça a última vez em que estivera com Demetria na carruagem e concluiu que era muito bom que sua casa não fosse muito longe da de Lovato. Apesar da presença da mãe, já começava a ficar excitado quando a carruagem parou.
Jessop abriu a porta assim que Joseph e as duas senhoras se aproximaram dela.
— Bem-vindo, milorde.
Bastou uma olhada no rosto de Jessop para Joseph saber que estava em maus lençóis com o mordomo e provavelmente com o restante do pessoal da casa. Imaginava que os criados tivessem corrido como loucos para deixar tudo limpo e arrumado. Não que tudo não estivesse sempre assim, mas eles deviam ter tentado caprichar um pouco mais quando souberam que sua nova patroa iria visitá-los e o espaço de tempo havia realmente sido muito curto.
— Não fique aborrecido, Jessop — disse lady Mowbray ao entrar na casa. — Já fiz um sermão para ele por não ter me dado ouvidos, nem avisado você.
— Muito bem, milady — respondeu o mordomo, sem que sua expressão melhorasse um pouco.
Joseph deu um sorriso amarelo, mas sua atenção logo se voltou para Demetria  que estreitava os olhos examinando a entrada da casa, O esquema de cores ali era azul-escuro e lavanda, fazendo um fundo perfeito para Demetria  em seu vestido creme. Ela parecia, sem dúvida, pertencer àquela casa.
— Não se dê ao trabalho de olhar feio para ele, Jessop. Ele só tem olhos para a noiva. Receio que meu filho esteja meio enfeitiçado e continuará assim por algum tempo. Pelo menos até depois de se casar com Demetria . Ela não é encantadora, Jessop?
— Muito encantadora, milady — disse Jessop de pronto.
— Eles vão me dar lindos netinhos, não acha?
— Com certeza, milady.
Vendo o rubor tomar conta do rosto de Demetria, Joseph lançou um olhar aos dois e disse:
— Estamos aqui e ouvimos tudo o que disseram.
— Ah, então de vez em quando você me ouve? — lady Mowbray comentou rispidamente, passando a mão pelo braço de Jessop e conduzindo-o para o hall. — Vamos ver que a cozinheira conseguiu fazer para salvar o dia, bom homem. Joseph tem mesmo muita sorte de ter um pessoal esperto e rápido como vocês. Não importa qual seja a crise, vocês conseguem lidar com ela com grande presença de espírito e, confesso, sempre fico impressionada.
Joseph revirou os olhos ao ouvir a mãe adular o mordomo. Em poucos minutos, todo o pessoal estaria se matando para agradá-la e ninguém mais se lembraria do caos que tiveram de enfrentar por causa da visita inesperada.
— Sinto muito toda essa confusão — murmurou Demetria baixinho. — Não precisaríamos ficar para o chá se...
— Que bobagem — Joseph interrompeu bruscamente e deu um passo para a frente para tomá-la nos braços. Parou, porém, quando a mãe lhe disse sobre os ombros:
— Mostre a casa a Demetria, Joseph. Ela deve, pelo menos, conhecê-la um pouquinho antes de vir morar aqui.
Deixando os braços cair, Joseph suspirou e pegou-a pelo braço, conduzindo-a até a escadaria.
— Vou mostrar primeiro a ela lá em cima.
— Se vocês não descerem em quinze minutos, vou buscá-los — a mãe avisou antes de desaparecer na cozinha com Jessop.
Joseph riu e subiu com Demetria  para o andar superior. 


postadinho

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

O Amor é Cego Capitulo V parte 2

— Bem, você não precisa ficar deitada de costas para fazermos amor. Posso eu estar deitado e você sobre mim.
Aquela imagem imediatamente fez com que Joseph se visse na cama, com as mãos tocando e acariciando os seios de Demetria e ela cavalgando sobre ele.
— Então há muitas maneiras de se fazer amor, milorde? Há, sim. — A voz de Joseph começava a soar mais grave e rouca. Era difícil não se deixar afetar por aquele tipo de conversa.
— Me conte outras — Demetria pediu.
A mente de Joseph fez um levantamento de todas as posições em que gostaria de fazer sexo com ela. Procurou tirá-las da cabeça, então tossindo um pouco, elucidou:
— Há, por exemplo, as que eu já lhe contei; há também uma em que eu ficaria sentado com você no meu colo, ou...
— Como seria essa? — Demetria interrompeu, interessada.
Joseph fitou-a por um breve instante. Sua mente estava em um turbilhão de ideias opostas, debatendo entre simplesmente fazer todo o serviço ali, garantindo assim que ela teria de se casar com ele. Sabia não ser aquela a maneira correta de se ter uma esposa, que ela mereceria muito mais do que um desconfortável assento na primeira vez. Sem mencionar, a questão do respeito. Seria muito pouco respeitoso possuí-la em uma carruagem em movimento.
Por outro lado, seu corpo não estava preocupado com respeito, ou consideração, ou mesmo enganá-la para se casar. Seu corpo estava absolutamente excitado com toda aquela conversa e o intimava a tomar uma providência rápida.
Sem estar muito consciente do que estava fazendo, Joseph passou os braços pela cintura de Demetria, levantando-a para que se sentasse em seu colo, com os joelhos um de cada lado de suas coxas.
Demetria gemeu de surpresa, com os olhos arregalados, agarrando-se em seus ombros ao sentar-se.
— Desse jeito? — indagou, parecendo duvidar.
Joseph puxou-a para mais junto de si até que os seios dela quase tocassem em seu peito. Sua voz estava agora absolutamente rouca, quase inaudível.
— Isso, desse jeito. E então você movimentaria os quadris para cima e para baixo.
— Para cima e para baixo? Demetria quis confirmar, indecisa. Depois de hesitar um pouco, ela começou a levantar e abaixar o corpo. — Assim?
— Assim... — Joseph observava os seios dela se erguerem e se abaixarem diante de seus olhos. Abaixavam-se até a altura da boca e subiam até a altura dos olhos. Para cima e para baixo. Para cima e para baixo. Ele molhou os lábios, entontecido pelo movimento. Se inclinasse a cabeça só um pouquinho, ele poderia lamber aquela carne tenra que dançava diante dele.
— É duro — Demetria comentou.
— Estou, sim — Joseph concordou, pensando em princípio que ela estava se referindo à ereção dele. Percebeu depois que ela se referia à dificuldade do constante movimento de subir e descer, tencionando músculos que não estavam acostumados. Corrigiu então: — Quero dizer, é mesmo duro.
— Mas não conseguiríamos nos beijar fazendo isso, conseguiríamos? — ela perguntou, parecendo lamentar, pois já lhe dissera que adorava beijar.
Pegando-a pela nuca, Joseph se inclinou sobre ela e beijou-a, sugando seus lábios como uma abelha busca o mel na flor, forçando-os depois com a língua para que se abrissem e o beijo fosse mais profundo.
Demetria parou de se movimentar e se aconchegou ao peito dele, dando um pequeno suspiro. A pelve, ardente e desejosa, repousou no exato lugar em que a ereção dele pressionava as calças. Joseph gemeu e seu corpo, instintivamente, mudou de posição sob o dela, pressionando-a. Se ele conseguisse simplesmente escorregar a mão e ajeitar as roupas dos dois, poderia tê-la ali mesmo, pensou. No mesmo instante em que esse pensamento lhe passou pela cabeça, suas mãos alcançaram a barra da saia de Demetria, mas, para seu desapontamento, ela estava ajoelhada sobre a barra.
Joseph hesitou por um segundo, analisando como fazer para tirar a saia dela do caminho e, num gesto brusco, projetou-a para a frente. Demetria levou um susto e procurou se equilibrar. Ele a colocou no assento do banco oposto, ajoelhando-se entre as pernas dela no chão da carruagem. Tentava levantar a saia dela quando a carruagem parou abruptamente. Foi tão inesperado que o pequeno solavanco fez com que ele caísse de costas no chão da carruagem, puxando Demetria para cima dele.
Joseph gemeu de dor com o impacto do corpo de Demetria sobre sua virilha, sentindo-se alarmado quando a porta foi subitamente aberta ao lado deles. Ambos olharam para o cocheiro que retomou o olhar primeiro com urna expressão de espanto para, em seguida, tornar-se divertido.
— Nossa! — Demetria tirou o cabelo do rosto e sorriu constrangida para o homem. — Caímos do banco.
— Sim, milady — disse ele, impassível.
Joseph pegou Demetria pela cintura e rapidamente a acomodou no banco. Recompondo-se, ele se levantou e desceu da carruagem, tentando mostrar, sem sucesso, alguma dignidade. Uma vez fora da carruagem, ele deu um sorriso forçado para o cocheiro e voltou-se para oferecer a mão a Demetria para que descesse também.
Embora não pudesse ver a expressão do cocheiro, Demetria sentia-se constrangida e tentou justificar a cena, sem saber direito o que dizer.
— Nossa, James, sua parada nos pegou de surpresa. Não imaginávamos que já estivéssemos chegando. Lorde Mowbray estava me mostrando...
— O que ele estava lhe mostrando, milady? — James perguntou em um tom malicioso.
Demetria tinha certeza de que o caso seria objeto de mexerico entre os criados mais tarde.
Diante da hesitação dela, James, que estava se segurando para não explodir em risada, aquiesceu com a cabeça e disse:
— Claro, milady, logo imaginei que ele estava tentando lhe mostrar alguma coisa.
Joseph dirigiu um olhar furioso ao homem. Seus criados não ousariam ter tal atitude, pensou.
— Creio que devo levá-lo para casa agora — o cocheiro comentou quando Joseph começava a acompanhar Demetria.
— Sim — ele confirmou, em tom áspero. — Só vou levar lady Demetria até a porta.
— Pois não, milorde.
— Obrigada por suas instruções — disse Demetria baixinho ao chegarem à porta.
Joseph fitou-a com ternura, observando os cabelos dela. Metade do coque estava desfeito e caído em mechas; a outra metade estava presa de forma muito precária. Ele ergueu as mãos e soltou o que sobrara do coque. Os cabelos, apesar dos nós, caíram em ondas em volta do rosto delicado, de maneira encantadora. Ficariam lindos esparramados sobre os travesseiros, ele pensou.
Joseph se inclinou para beijá-la e estava a um fio de sua boca quando a porta foi repentinamente aberta.
Dando um suspiro, ele deu um passo para trás e murmurou baixinho:
— Sonhe comigo.
— Boa noite, milorde — Demetria respondeu e entrou em casa.
— Milady!
Demetria abriu os olhos e, piscando muito, sentou-se na cama quando a porta de seu quarto foi aberta.
— O que foi, Joan? perguntou, assustada.
— Seus óculos chegaram! — Joan disse tão animada como se os óculos fossem dela.
— Que bom! — Exultante, Demetria jogou os cobertores para o lado no exato momento em que Joan chegava junto à cama. A criada soltou um grito de espanto, que foi seguido por um barulho contra a parede à sua direita e um tinido que a fez congelar.
— O que aconteceu? — indagou temerosa.
Joan hesitou por um momento e, ao falar, gaguejou:
— Oh, milady... sua mão bateu na minha ao tirar os cobertores e... seus óculos voaram da minha mão.
— Foram eles que bateram contra a parede?
— Foram, milady — Joan disse, dando a volta na cama, e abaixando-se para pegar os óculos, cujas lentes estavam em pedaços.
Demetria abaixou a cabeça e cobriu o rosto com as mãos, inconformada. E a culpa era dela mesma.
— Sinto muito, milady — Joan murmurou, parada ao lado da cama, com as mãos em concha, segurando os óculos quebrados.
Demetria balançou a cabeça e levantou-se, procurando acalmá-la.
— A culpa não foi sua, Joan. Agora, ajude-me, por favor, a me vestir. Lady Mowbray vai me levar à costureira para fazer a prova final de meu vestido de noiva.
— Pois não, milady. — Joan colocou o que restara dos óculos sobre a mesa de cabeceira e começou a ajudá-la a despir a camisola e se aprontar para enfrentar o dia.
Demetria ficou calada, remoendo a raiva por ser tão estabanada e ter destruído os óculos que por tanto tempo aguardava. Mas não queria se abater por isso, pensou. Óculos podiam perfeitamente ser substituídos. Embora quisesse muito estar com os seus agora, poderia mandar fazer novos. Uma parte de sua mente, porém, duvidava que quisesse tanto, pois, por mais tolo que pudesse parecer, Taylor apregoara tanto que ela ficava muito melhor sem os óculos, que temia a reação de Joseph quando a visse com eles.
Demetria tinha certeza de que ele não desistiria dela por isso, mas de fato, não era nada atraente usar óculos. Adoraria não precisar deles.
— Pronto, milady — Joan murmurou, consternada.
Demetria não via motivo para ela parecer tão aborrecida. Fora um acidente como tantos outros que haviam acontecido desde que Taylor lhe tirara os óculos.
— Quer que eu a acompanhe, milady?
— Quero, sim, Joan — respondeu Demetria, pegando no braço da criada.
O hall do piso superior estava até então vazio, mas por azar ao chegarem à escadaria deram com Taylor que ia subir.
— Ah, você está aí — disse a madrasta, aguardando por elas no hall. — Foulkes disse que seus óculos chegaram. Por que você não está com eles?
Demetria sentiu a tensão no braço de Joan e lhe deu um tapinha confortador.
— Houve um pequeno acidente e eu os quebrei.
— Como? — Taylor cacarejou, voltando-se imediatamente para Joan. — Como você deixou que isso acontecesse?
— Não foi culpa de Joan — defendeu-a Demetria. — Fui eu que bati na mão dela sem querer.
— Eu deveria ter segurado os óculos com maior firmeza — Joan admitiu, aborrecida, e Demetria sentiu vontade de dar um tapa nela por ter aberto a boca.
— Sua estúpida — Taylor gritou. — Vá arrumar suas coisas. Quero você longe daqui imediatamente.
Demetria estava certa de que a madrasta teria ignorado a criada se ela não tivesse com suas palavras aguçado a raiva da patroa.
— Sim, senhora, milady. — Joan puxou o braço, mas Demetria a deteve.
— Joan é minha criada, Taylor. Eu ia pedir para levá-la comigo quando me casasse, mas como você a está demitindo, acho que não preciso mais de permissão. — Depois, voltando-se para Joan, disse com delicadeza. — É melhor você fazer as malas mesmo, se quiser vir comigo.
— Ela não vai ficar sob este teto. Ela...
— Taylor! — John Lovato apareceu na porta da sala de jantar, com uma expressão irritada. Obviamente, ouvira tudo e não parecia satisfeito.
Taylor voltou-se devagar para ele.
— Sim?
— Chega, Taylor! Se Demi quer levar Joan com ela, pode fazê-lo. Joan ficará aqui até Demetria nos deixar e irá com ela para o novo lar em Mowbray. Será muito bom para que não se sinta sozinha na nova casa. — Ele então voltou-se para a criada. — Você gostaria de ir com ela?
— Sim, milorde, vou ficar contente de acompanhá-la.
John Lovato balançou a cabeça.
— Como o casamento é daqui a dois dias, é bom mesmo que comece a fazer as malas.
— Obrigada, milorde Joan agradeceu e, hesitante, perguntou a Demetria: — Precisa de mais alguma coisa de mim agora, milady?
— Não, pode ir. Só vou tomar um chá e comer uma torrada enquanto aguardo por lady Mowbray. Vá ver o que ainda tem a fazer antes de sairmos. 


so sei de uma coisa.....esse casal nao bate bem



sorryyyyy, eu me esqueci completamente daqui....como nao tem ngm comentando sobre a historia por aqui, twitter, face, wpp....eu nem me toquei

sábado, 20 de janeiro de 2018

O Amor é Cego Capitulo V parte 1

— Peço desculpas por sua noite acabar mais cedo por causa do meu cabelo — disse Demetria quando a carruagem começou a se movimentar.
Uma risadinha espocou dos lábios de Joseph.
— Você não tem de pedir desculpa alguma, afinal fui eu o principal responsável pelo estrago.
— Isso é verdade! — disse Demetria, concordando com a cabeça, mas não parecendo nada aborrecida com isso. Dando um sorriso tímido, ela perguntou então: — Foi sincero o que você disse?
— Quando?
— Que não é para evitar o escândalo que você quer se casar comigo?
Joseph sorriu. Demetria tinha o semblante carregado e apertava muito os olhos na tentativa de vê-lo melhor. Era evidente que se sentia insegura e que sua resposta era muito importante para ela.
— Estar casado com você é o que eu mais quero, querida.
Ela abriu um largo sorriso que iluminou o seu rosto tal qual o sol que brilha após uma tempestade. Joseph sentiu um nó na garganta.
— Então por que não me beija para selarmos nosso compromisso?
Ele se derreteu diante de pergunta tão direta, mal acreditando no que ouvira:
— O quê?
— Adoro quando você me beija — Demetria explicou — e não me importaria nem um pouco se você quisesse me beijar agora.
— Melhor não.
— Por quê? Você não gosta de...
— Claro que gosto!
— Então por que não me beija?
Joseph franziu a testa.
— Essa é uma pergunta que a maioria das mulheres não faria.
— Eu não faço parte dessa maioria. Além disso, meu pai sempre diz que quem não pergunta nunca fica sabendo. E eu quero saber. Por que você não me beija se é o que nós dois desejamos?
— Porque, se eu a beijar, vou querer tocar em você.
— Eu gosto quando você me toca — Demetria não hesitou em dizer.
— Só que se eu tocar em você — Joseph completou —, vou querer fazer amor com você.
— Acho que também vou gostar.
Joseph levantou uma sobrancelha.
— Você acha que vai?
— Bem... — Demetria hesitou por um momento, mas resolveu perguntar: — Não foi amor o que você fez comigo na noite do incêndio?
— Não — respondeu Joseph, em um tom hostil ao se lembrar daquela noite. Por um lado, parecia ter acontecido há muito tempo; por outro, era como se tivesse sido um minuto atrás. Ainda tinha na boca o gosto dos beijos dela e quase podia sentir o clamor do corpo se mexendo ao toque de suas mãos. Céus, estava tendo uma nova ereção só de lembrar. Estava claro que ele não tinha autocontrole algum quando Demetria estava por perto.
— Não foi? — Demetria estranhou. — Então o que foi o que fizemos?
— Foi... foi... — Joseph não sabia por onde começar. — Sim, foi mais ou menos. Mas não foi... — Ele fez uma pausa e dirigiu um olhar terno para ela. — Será que ninguém explicou essas coisas para você?
— Não. — Demetria balançou a cabeça e encolheu os ombros. — Não se preocupe, milorde. Não precisa falar sobre isso se não se sente à vontade. Tenho certeza de que Taylor vai me explicar tudo no dia do casamento.
Josep sentiu-se horrorizado ante essa possibilidade. Aquela mulher faria terrorismo com Demetria, contando-lhe histórias que a encheriam de medo e ansiedade. A noite de núpcias acabaria sendo um pesadelo se ele tivesse de passar acalmando-a e confortando-a. Não poderia permitir que coubesse a Taylor explicar a Demetria os detalhes do que se passava entre um homem e uma mulher. Outra pessoa teria de fazê-lo.
— Vou pedir a minha mãe que converse com você — Joseph decidiu. — Se Taylor tomar a iniciativa, diga a ela que não há necessidade e não ouça nada do que ela tenha a dizer.
— Ah, não — disse Demetria, balançando a cabeça resoluta. — Ficaria muito sem-graça de conversar com sua mãe sobre essas coisas. Além disso, seria um insulto para Taylor se eu não a deixasse falar. Sabe, começo a pensar que há mais motivos para se ter pena de Taylor do que para não se gostar dela.
— Não vou deixar que ela a assuste com histórias de sangue e dor e...
— Fazer amor causa sangue e dor? — Demetria perguntou assustada.
— Não, claro que não — disse prontamente Joseph, com raiva de si mesmo por falar demais.
— Por que disse isso então? Há ou não há sangue e dor? Você não quer é que eu saiba!
— Droga! — Joseph resmungou.
Demetria estava visivelmente ansiosa, e ele não sabia como consertar a situação.
— Demetria ... — Joseph começou a falar, mas foi interrompido por ela.
— Não, milorde, você não pode me enganar. Preciso saber a verdade, mas não quero lhe causar qualquer desconforto. Perguntarei a Taylor quando ela e meu pai voltarem para casa. Talvez isso até nos aproxime e possamos nos tornar amigas.
Por Deus! Joseph endireitou o corpo e disse com firmeza:
— Não permito que você fale com Taylor.
— Ainda não somos casados, milorde. Não preciso que me permita o que quer que seja.
Joseph arregalou os olhos diante do pouco caso dela a uma ordem sua.
— Você pretende me desobedecer e me desafiar dessa maneira quando estivermos casados?
— Receio que sim — Demetria admitiu, quase que se desculpando, e então acrescentou: — Mas não é para desafiá-lo, é só quando não concordar com o que você me pede.
Joseph soltou urna gargalhada, e Demetria o encarou, curiosa.
— Você não está zangado comigo?
— Não — disse Joseph, rindo. — Na verdade, desconfio que muito poucas mulheres tenham a intenção de obedecer ao se casarem. Só achei graça de você admitir com tanta franqueza.
— Ora, tento sempre ser honesta, milorde.
— Certo. — Joseph suspirou e endireitou os ombros. — Se eu mesmo lhe contar, você me promete que não vai permitir que Taylor a assuste?
— Prometo.
— Muito bem, então vou pensar na melhor maneira de explicar tudo para você. — Ele recostou-se e refletiu por onde deveria começar. Pensou... e pensou... e pensou.
— Milorde, não vai me dizer nada?
Joseph suspirou constrangido e balbuciou:
— Estou pensando.
E estava mesmo quebrando a cabeça. Não cabia ao homem explicar sexo a uma donzela. Mas se não o fizesse, tinha certeza de que Taylor transformaria sua noite de núpcias em um tormento.
— Talvez eu possa ajudar, milorde.
Joseph piscou os olhos diante da sugestão, fitando-a curioso. — Como?
— Bem, não sou tão ignorante assim — disse Demetria, acrescentando: — Cresci no campo e vi muitos garanhões cobrirem éguas.
— Não é bem assim que acontece entre homens e mulheres — Joseph apressou-se a esclarecer.
— Como não? Certa vez, surpreendi o cocheiro que cuida do estábulo com a criada que fora buscar leite em cima de um fardo de feno no celeiro e...
— Por favor, pare, Demetria — Joseph sussurrou, pois sua mente dera um salto, projetando uma imagem de Demetria vestida de criada debruçada sobre um fardo de feno, com a saia levantada até a cintura e ele envolvendo-a por trás. Afastando a imagem da mente, ele respirou várias vezes fundo e procurou corrigir o que dissera, explicando: — Pode ser desse jeito, mas não na primeira vez. Na primeira vez é melhor que os dois estejam um de frente para o outro.
— Entendo — Demetria murmurou e ele estava quase respirando aliviado por terencerrado o assunto quando ela perguntou: — Por quê?
Joseph pigarreou e respondeu:
— Porque a primeira vez talvez não seja muito confortável para você.
— A sua primeira vez foi desconfortável? — Demetria quis saber.
— Não.
— Então por que a minha seria?
Era uma pergunta mais que razoável, só que Joseph não tinha a menor intenção em entrar em detalhes. Não sabia por onde começar e não queria nem sequer tentar, até que ela disse:
— Está bem, milorde. Vou mesmo perguntar para Taylor.
Rapidamente ele endireitou o corpo e disse:
— Você tem uma... Há uma... É melhor mesmo perguntar a Taylor — finalmente admitiu, sentindo-se um completo idiota. Seria mais fácil fazer a demonstração prática, muito mais do que tentar explicar. A parte de seu cérebro que continha tudo de impróprio, de indecoroso começou a provocá-lo para que fizesse a demonstração naquela noite mesmo, assim não teria mais de se preocupar que Demetria pudesse se recusar a se casar na semana seguinte.
— Desse jeito?
— Hum? — Tirado de seus pensamentos, Joseph viu que Demetria o fitava.
— Ficaríamos nos encarando assim? — ela perguntou.
— Não, você deitada de costas na cama e eu em cima de você —Joseph respondeu automaticamente, já lhe passando pela cabeça a expressão dela cheia de excitação como naquela outra noite.
— Por que eu devo estar deitada de costas?
Joseph olhou para ela, tentando se concentrar e lutando para tirar as imagens que lhe vinham à mente. 


hey gente