Três
meses depois
Joseph
se encontrava em seu apartamento, refletindo em silêncio. Deveria estar sentido
alguma paz de espírito agora que nada ameaçava sua empresa. Porém, o fato de
saber por que não lhe trazia nenhum consolo. Observou a pilha de documentos à
sua frente enquanto o noticiário na televisão zumbia ao fundo.
Aquela
parada em Nova York seria curta. No dia seguinte, viajaria para Londres para se
encontrar com o irmão, Kevin, para a cerimônia de inauguração do luxuoso hotel
que construíram. O que não teria sido possível se Demi tivesse levado a cabo
seu plano. Um resfôlego sarcástico lhe escapou da garganta. Ele, o CEO da Jonas
International, fora manipulado e roubado por uma mulher.
Por
causa dela, ele e os irmãos haviam perdido dois de seus projetistas para o concorrente
mais próximo, antes de ele descobrir a traição. Poderia tê-la entregado à
polícia, mas ficara demasiado perplexo, muito vulnerável para fazer tal coisa.
Nem
ao menos retirara os pertences de Demi do apartamento. Presumira que ela viria recolhê-los
e talvez uma pequena parte dele desejasse aquilo para ter a chance de confrontá-la
mais uma vez e questioná-la sobre o motivo. Em sua próxima viagem de volta,
faria isso.
Estava
na hora de varrê-la por completo de sua mente.
Quando
ouviu o nome familiar em meio ao turbilhão de pensamentos, pensou que o havia conjurado
de suas reflexões sombrias, mas, quando escutou o nome Demi Lovato outra vez, focou
a atenção na televisão.
Um
repórter se encontrava em frente a um hospital local, e levou alguns instantes
para que o zumbido nos ouvidos de Joseph lhe permitisse compreender o que estava
sendo dito. As imagens mudavam enquanto exibiam fotos tiradas mais cedo de uma
mulher sendo retirada de um prédio de apartamentos em uma maca. Ele se inclinou
para a frente, com expressão incrédula. Era Demi.
Joseph
se ergueu como uma flecha da mesa e tateou pelo controle remoto para aumentar o
volume. Encontrava-se tão perturbado que só conseguiu compreender algumas
palavras, mas foram suficientes.
Demi
havia sido raptada e agora fora resgatada. Os detalhes de quem cometera o crime
e o motivo ainda estavam incompletos, mas ela suportara um longo período em
cativeiro.
Joseph
sentiu a tensão crescer na expectativa de que seu nome fosse ligado ao dela,
mas por que seria? O relacionamento entre os dois fora um segredo bem guardado,
algo necessário em seu mundo. Seu anseio por privacidade nascera tanto da
vontade própria quanto da necessidade. Após a traição de Demi, sentiu-se ainda
mais aliviado pela circunspeção que mantinha em todos os seus relacionamentos.
Ela o fizera de bobo, e o pensamento de que o resto do mundo ignorava aquilo o
confortava.
À
medida que a câmera se aproximava do rosto pálido e assustado da mulher
sequestrada, algo se agitou dolorosamente dentro dele. Demi tinha a mesma
expressão da noite em que a confrontara sobre a farsa. Lívida, chocada e
vulnerável.
No
entanto o que o repórter disse a seguir o fez congelar, mesmo enquanto uma sensação
incômoda lhe percorria e espinha. O homem dizia que a mãe e o bebê estavam em
condições estáveis e que o aparente cativeiro de Demi não lhe afetara a gravidez. A única pista que
o repórter deixou escapar foi que a mulher parecia estar com quatro ou cinco
meses de gestação.
Os
demais detalhes estavam incompletos. Nenhuma prisão fora feita, já que os sequestradores
haviam escapado.
–
Theos mou – murmurou ele enquanto lutava para se agarrar às implicações daquela
revelação.
Joseph
se ergueu e pegou o celular enquanto saía do apartamento. Quando transpôs a entrada
do prédio alto, de segurança reforçada, o motorista havia acabado de estacionar
em frente à calçada.
Uma
vez dentro do carro, abriu o celular outra vez e ligou para o hospital para
onde Demi havia sido levada.
–
As condições físicas dela são satisfatórias – o médico informou a Joseph. – No
entanto, é seu estado emocional que me preocupa. – Ele se sentia quase explodir
enquanto esperava para que o médico concluísse seu relatório. Havia irrompido
pelo hospital, exigindo respostas tão logo chegou ao andar em que Demi fora acolhida. Apenas a declaração de que era
o noivo da paciente o fizera lograr algum êxito. Em seguida, providenciara para
que ela fosse transferida imediatamente para um quarto particular e insistira
que chamassem um especialista para examiná-la. Agora, tinha de suportar todo o
relato médico da condição em que ela se encontrava.
–
Mas ela não foi ferida – argumentou Joseph.
–
Eu não disse isso – resmungou o médico. – Falei apenas que as condições físicas
dela não são graves.
–
Então, pare de fazer rodeios e diga-me logo o preciso saber.
O
médico o estudou por um instante, antes de pousar a prancheta sobre a mesa.
–
A Srta. Lovato passou por um grande trauma. Não sei exatamente a extensão,
porque ela não consegue se lembrar de nada sobre seu cativeiro.
–
O quê? – Joseph encarou o médico com uma incredulidade perplexa.
–
Pior, ela não se lembra de nada antes disso também. Sabe o próprio nome e pouco
mais.
Até
mesmo a gravidez a chocou.
Joseph
passou uma das mãos pelos cabelos e xingou em três idiomas diferentes.
–
Ela não se lembra de nada? Nada mesmo?
O
médico respondeu com um movimento negativo de cabeça.
–
Temo que não. Ela está extremamente vulnerável. Frágil. Por isso é muito
importante que não a aborreça. A Srta. Lovato tem mais quatro meses de gestação
pela frente e um calvário do qual se recuperar.
Joseph
deixou escapar um som impaciente.
–
Claro que não faria nada para aborrecê-la. Apenas acho difícil acreditar que
ela não se lembre de nada.
O
médico fez um movimento negativo com a cabeça.
–
Obviamente a experiência foi muito traumática para ela. Suspeito de que seja
uma forma que a mente encontrou de poupá-la. É apenas um apagão até que ela
possa lidar melhor com tudo que aconteceu.
–
Eles… – Joseph se via incapaz de completar a pergunta, mas ainda assim tinha de
saber. – Eles a machucaram?
A
expressão do médico se suavizou.
–
Não encontrei nenhuma evidência de maus-tratos de nenhuma forma. Fisicamente
falando.
Não
há como saber tudo que ela suportou até que esteja apta a nos contar. Devemos
ser pacientes e não pressioná-la, antes que ela esteja preparada. Como disse, a
Srta. Lovato está extremamente fragilizada e, se sofrer qualquer tipo de
pressão, os resultados podem ser devastadores.
Joseph
deixou escapar um xingamento baixo.
–
Entendo. Eu me incumbirei de que ela tenha o melhor tratamento possível. Agora,
posso vê-la?
O
médico hesitou.
–
Pode, mas devo aconselhá-lo a não ser muito explícito quanto aos detalhes do
sequestro.
Linhas
profundas marcavam a testa de Joseph, que encarava o médico com olhar sombrio.
–
Quer que eu minta para ela?
–
Quero apenas que não a deixe nervosa. Pode inteirá-la dos detalhes da vida que
ela levava. Das atividades do dia a dia. Como se conheceram. As coisas
cotidianas. No entanto, sugiro, e confirmei isso com o psiquiatra do hospital,
que não se apresse em lhe dar detalhes sobre o sequestro ou de como ela acabou
perdendo a memória. Na verdade, nós a conhecemos muito pouco, portanto seria
imprudente especular ou lhe fornecer informações que podem não ser verdadeiras.
Ela deve permanecer calma. Não quero nem pensar o que outro aborrecimento
poderia causar à Srta. Lovato no estado em quem se encontra.
Joseph
assentiu, relutante. O que o médico dizia fazia sentido, mas a necessidade de saber
o que acontecera a Demi era premente. Porém, não a pressionaria se aquilo causa
se algum mal a ela ou ao bebê. Verificou a hora no relógio de pulso. Ainda
precisava falar com as autoridades, mas primeiro queria vê-la, e disse isso ao
médico.
Demi
lutava sob as camadas de névoa que a rodeavam e murmurou um fraco protesto quando
abriu os olhos. Não procurava a consciência. O cobertor escuro que o
esquecimento lhe oferecia era tudo de que necessitava.
Não
havia nada para ela no despertar. Sua vida era como um buraco negro. Apenas o próprio
nome atravessara as camadas desordenadas de mente. Demi.
Procurou
por mais alguma coisa. Precisava de respostas para as perguntas que a oprimiam
a cada vez que acordava. O passado se estendia como uma paisagem árida diante
dela. As respostas pendiam além de sua consciência, tentando-a, mas escapando
antes que pudesse alcançá-las.
Demi
virou a cabeça sobre o travesseiro fino, determinada a escorregar de volta para
o vácuo do sono, quando sentiu uma mão firme segurar a dela. Um arrepio de medo
lhe percorreu a espinha até se lembrar de que estava segura em um hospital.
Ainda assim, soltou a mão e não pôde evitar a respiração acelerada.
–
Não pode voltar a dormir, pedhaki mou. Ainda não.
A
voz daquele homem se alastrou por sua pele, deixando um rastro de calor em seu
encalço.
Cautelosa,
ela girou o rosto na direção do estranho. Quem era ele? Será que o conhecia?
Quem
a conhecia? Seria ele o pai da criança que se encontrava aninhada em seu
ventre?
Em
um gesto automático, Demi levou a mão ao ventre abaulado enquanto o olhar
focava o homem que falara com ela.
Era
uma presença dominante. Alto, ágil, perigosamente atento enquanto os olhos
âmbar a observavam. Não era americano. Quase deixou escapar uma gargalhada
diante dos pensamentos absurdos. Deveria estar exigindo saber quem ele era e
por que estava ali e tudo que conseguia concluir era que o homem não era
americano?
–
Nosso bebê está bem – disse ele quando baixou o olhar à mão protetora que ela
pousara sobre o abdômen.
Demi
não pôde evitar a tensão ao perceber que aquele homem de fato alegava ser o
pai.
Não
deveria reconhecê-lo? Tentou encontrar algo, algum lampejo de reconhecimento, mas
medo e inquietação foi tudo que encontrou.
–
Quem é você? – conseguiu perguntar por fim em um sussurro.
Algo
faiscou naqueles olhos âmbar, mas ele manteve a expressão neutra. Estaria
magoado por ela revelar que não o conhecia? Tentou se colocar na posição
daquele estranho. Imaginar como se sentiria se o pai de seu bebê de repente não
lembrasse mais dela.
Joseph
puxou uma cadeira para o lado da cama e se sentou. Em seguida, esticou o braço
e segurou sua mão. Dessa vez, apesar do instinto a estimular a fazê-lo, ela não
se retraiu.
–
Sou Joseph Jonas. Seu noivo.
Demi
lhe procurou o rosto tentando reconhecer a veracidade daquelas palavras, mas
ele a encarava com semblante calmo, sem nenhum sinal de emoção.
–
Sinto muito – disse ela, engolindo em seco quando a voz falhou. – Não me
lembro…
–
Eu sei. Conversei com o médico. O que você lembra não é importante no momento.
É primordial que descanse e se recupere para que eu possa levá-la para casa.
Demi
umedeceu os lábios, o pânico ameaçando dominá-la.
–
Casa?
Joseph
anuiu.
–
Sim, casa.
–
Onde fica? – Detestava perguntar. Odiava o fato de estar deitada ali,
conversando com um completo estranho. Mas, ao que parecia, ele não o era.
Aquele homem era alguém de quem fora íntima. Por quem era obviamente
apaixonada. Estavam noivos e ela carregava um filho dele. Aquilo não devia
mexer com algo dentro dela?
–
Está se esforçando muito, pedhaki mou – disse ele com voz suave. – Posso ver
pelo seu semblante. Não deve apressar as coisas. O médico disse que tudo
voltará no tempo certo.
Demi
lhe apertou a mão e, em seguida, baixou o olhar aos dedos unidos aos dele.
–
Será? E se isso não acontecer? – Uma onda de medo a invadiu, apertando-lhe o
peito, estreitando sua garganta e a fazendo lutar para respirar.
Joseph
esticou a outra mão e lhe tocou o rosto.
–
Acalme-se, Demi. Seu nervosismo não faz bem nem a você nem à criança.
Ouvir
seu nome naqueles lábios a fez experimentar sensações estranhas. Era como se
ele falasse de uma estranha, embora Demi se recordasse do próprio nome. Mas temera que,
na confusão da perda de memória, tivesse entendido mal e que com tudo mais o
nome também fosse um pedaço esquecido de sua vida.
–
Pode me contar alguma coisa sobre mim? Qualquer coisa?
Estava
quase a ponto de suplicar. Lágrimas lhe faziam a garganta se estreitar e os
olhos arderem.
–
Haverá muito tempo para conversarmos mais tarde. – Joseph retrucou com ternura.
–
Estou
tomando as providências para levá-la para casa.
Era
a segunda vez que ele mencionava a casa, embora ainda não tivesse mencionado
onde ficava localizada.
–
Onde fica nossa casa? – Demi insistiu.
Os
lábios de Joseph se estreitaram por um momento, e, em seguida, a expressão daquele
belo rosto relaxou.
–
Nossa casa fica aqui na cidade. Os negócios me obrigam a me ausentar com
frequência, mas moramos juntos em um apartamento. Planejo levá-la para minha
ilha tão logo possa viajar.
Demi
franziu a testa enquanto tentava compreender a estranheza daquela declaração.
Parecia
tão… impessoal. Não havia emoção, nenhum sinal de felicidade, apenas a estéril citação
de um fato.
Como
se sentisse que ela estava a ponto de lhe fazer mais perguntas, ele se inclinou
para pressionar os lábios à testa de Demi .
–Descanse,
pedhaki mou. Tenho providências a tomar. O médico disse que você poderá ter alta
dentro de alguns dias se tudo correr bem.
Exausta,
Demi fechou os olhos e concordou. Ele permaneceu lá por mais uns instantes e, em
seguida, ouviu os passos dele se afastando. Quando a porta do quarto se fechou,
ela voltou a abrir os olhos, apenas para sentir a trilha úmida das lágrimas que
lhe escorriam pelo rosto.
Era
um alívio saber que não estava só. No entanto, de alguma forma, a presença de Joseph
Jonas não a tranquilizara. Sentia-se mais apreensiva do que nunca e não sabia dizer
por quê. Puxou o lençol fino para cobrir ainda mais o corpo e fechou os olhos, desejando
que o entorpecimento pacífico do sono a possuísse mais uma vez.
Quando
acordou outra vez, uma enfermeira se encontrava parada ao lado da cama, aferindo
lhe a pressão arterial.
–
Oh, Deus, você está acordada – disse ela em tom alegre enquanto removia a
braçadeira. –
Trouxe
uma bandeja com seu jantar. Está com fome?
Demi
negou com a cabeça. Só de pensar em comer se sentia levemente nauseada.
–
Deixe a bandeja aqui. Eu farei com que ela se alimente.
Demi
ergueu o olhar surpreso para se deparar com Joseph assomando atrás da enfermeira,
com uma expressão determinada estampada no rosto. A mulher girou e lhe sorriu.
Em
seguida deu algumas palmadas leves no braço de Demi.
–
É muito sortuda por ter um noivo tão dedicado – disse ela antes de partir.
–
Sim, sortuda – murmurou Demi, imaginando por que sentia uma ânsia repentina de chorar.
Quando
a porta se fechou, Joseph puxou uma cadeira para perto da cama outra vez. Em seguida,
pousou a bandeja diante dela.
–
Deveria comer.
Demi
o fitou nervosa.
–
Não estou com muita fome.
–
Sente-se incomodada com minha presença? – perguntou ele enquanto lhe percorria
a forma abaulada do corpo com o olhar.
–
Eu… – Demi abriu a boca para negar, mas descobriu-se incapaz. Como dizer àquele
homem que o achava intimidador? Ali estava alguém a quem supostamente deveria
amar.
Fizera
amor com aquele homem. O simples pensamento fez um rubor lhe corar as maçãs do rosto.
–
Em que está pensando? – Os dedos longos lhe encontraram a mão e a acariciaram distraidamente.
Demi
desviou o rosto, esperando encontrar alívio longe do escrutínio daquele homem.
–
Na… nada.
–
Você está assustada. Isso é compreensível.
Demi
voltou a girar o rosto para encará-lo.
–
Não fica aborrecido por eu sentir medo de você? Na verdade, estou aterrorizada.
Não me recordo de você e de nada mais de minha vida. Estou esperando um filho
seu e não consigo me lembrar de como fiquei neste estado! – disse ela,
apertando o lençol e o mantendo contra o corpo como a se proteger.
Os
lábios de Joseph se estreitaram em uma linha fina. Estaria zangado? Estaria
apenas disfarçando para não aborrecê-la ainda mais?
–
É como você disse. Não consegue se lembrar, portanto sou um estranho. Caberá a
mim conquistar sua… confiança. – Ele pronunciou a última palavra como se a
achasse repugnante, mas ainda assim manteve a expressão controlada.
–
Joseph… – Ela deu voz ao nome, hesitante, deixando que as sílabas deslizavam em
sua língua. Não lhe parecia estranho, mas também não lhe suscitava nenhuma
lembrança. A frustração a dominou quando a mente permaneceu assustadoramente
vazia.
–
Sim, pedhaki mou.
Demi
piscou várias vezes quando percebeu que ele estava esperando que continuasse.
–
O que aconteceu comigo? – perguntou. – Como vim parar aqui? Como perdi minha memória?
Mais
uma vez ele lhe segurou a mão e Demi encontrou consolo naquele gesto. Em
seguida, Joseph se inclinou para a
frente e lhe tocou o rosto com a outra mão.
–
Não deve apressar as coisas. O médico foi categórico nesse ponto. No momento, o
mais importante para você e nosso bebê é ter calma. Tudo voltará no momento
devido. – Demi deixou escapar um
suspiro, percebendo que ele não cederia. – Descanse um pouco. –
Joseph
se ergueu, inclinou o corpo mais uma vez e lhe tocou a testa com os lábios. –
Em breve, sairemos deste lugar.
Demi
desejava que aquelas palavras lhe trouxessem mais tranquilidade, mas, em vez de
conforto, a insegurança e o transtorno cresceram dentro de seu peito, até que
temesse sufocar de ansiedade.
Gotas
de suor lhe brotaram na testa e o pouco da comida que conseguira engolir, instantes
atrás, ameaçava voltar. Joseph lhe lançou um olhar penetrante e, sem dizer uma
palavra, tocou a campainha para chamar a enfermeira.
Instantes
depois, a profissional adentrou o quarto. Ao pousar o olhar em Demi, a expressão
da mulher se encheu de compaixão. Pousou-lhe a mão fria sobre a testa enquanto
lhe administrava uma injeção com a outra.
–
Está segura agora.
Mas
as palavras não conseguiram abrandar o aperto no peito de Demi. Como poderiam, quando
em breve ela seria atirada em um mundo desconhecido, com um homem que lhe era completamente
estranho?
Joseph
permaneceu ao lado da cama, observando-a, cobrindo-lhe uma das mãos com a dele.
A medicação havia lhe embotado os sentidos e Demi se sentia flutuar, o medo desaparecendo
como uma névoa. As palavras que ele pronunciava foram a última coisa que conseguiu
ouvir.
–Durma,
pedhaki mou. Eu tomarei conta de você.
Estranho,
mas de fato ela conseguiu encontrar conforto naquela promessa suave.
Joseph
ficou parado no quarto escuro a observando dormir. A tensão causada pelo franzir
da testa lhe provocando uma dor entediante nas têmporas.
O
peito de Demi se erguia e baixava com a respiração cadenciada e, mesmo durante
o sono, a tensão lhe fazia franzir a testa. Ele se aproximou e a tocou com os
dedos, roçando-os de leve na pele pálida. Demi estava adorável como sempre,
mesmo no estado de fraqueza em que se encontrava. Os cachos ruivos formavam uma
massa desordenada sobre o travesseiro. Ele segurou um entre os dedos e o
afastou da testa delicada. Estavam mais compridos agora. Não mais o quepe de
cachos curtos que se agitavam em torno da cabeça toda vez que ela ria.
Um
xingamento lhe escapou dos lábios enquanto se afastava da cama. Tudo não
passara de um ardil. Demi nunca fora feliz. Verdadeiramente feliz. Ao que
parecia, não fora capaz de fazê-la feliz. Durante todo o tempo em que estiveram
juntos, ela tramara para roubá-lo e a seus irmãos. Embora a tivesse considerado
uma amante, nunca a colocara na mesma categoria das outras. O que compartilhara
com Demi não fora algo mercenário ou ao menos assim pensara.
No
final, tudo se resumira a dinheiro e traição. Coisas a que estava acostumado
nas relações com mulheres.
Ainda
assim a desejava. Aquela mulher ainda lhe fazia queimar as veias. Um vício
contra o qual não tinha o poder de lutar. Angustiado, fez um movimento negativo
com a cabeça.
Demi
estava esperando um filho seu, e isso tinha prioridade sobre tudo mais. Seriam forçados
a conviver um com o outro por causa da criança. O futuro de ambos irremediavelmente
interligado. Mas não era obrigado a achar aquilo agradável e não tinha de oferecer
nada mais do que sua proteção e seu corpo.
Se
mais uma vez Demi seria posta sob sua proteção, então faria tudo que estivesse
ao seu alcance para garantir os melhores cuidados, tanto para ela quanto para o
bebê, mas nunca mais lhe devotaria sua confiança. Aquela mulher esquentaria sua
cama e não seria mentiroso a ponto de dizer que tal perspectiva não o agradava.
Mas Demi não teria mais nada dele.
acho que Joe vai quebrar tanto a cara em breve. bjemi
Tadinha da Demi... Joseph tá bem escroto, tô doida pra ele quebrar a cara
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