O
despejo dos camponeses era sempre uma questão delicada. Muitos nobres deixavam
essa tarefa nas mãos de seus secretários, mas para Joseph isso era para os
covardes e por mais desagradável que fosse o assunto, preferia fazer isso
pessoalmente.
—O
homem está doente. —Olhou seu secretario, que estava em frente ao lado do
escritório. —Me nego a acreditar que não há outra opção.
O
senhor Cox só tinha seis meses trabalhando para Joseph e ainda não conhecia
todas as excentricidades de seu patão, mas sabia que o duque valorizava a
sinceridade acima de tudo, assim que respondeu sem rodeios:
—Sua
senhoria já tinha permitido que ele ficasse um ano sem pagar as rendas. Faz um
ano que não trabalha e como está de cama, tampouco poderá colher nada nesta
temporada. Se permitir que ele e sua família fiquem, criará um antecedente.
—Senhor
Cox — interrompeu impaciente Joseph, —estando tão doente que tampouco poderá
alimentar a sua meia dezena de filhos. Não vou jogá-lo de sua casa tendo outras
condições.
Cox,
como um bom secretario, o olhou resignado.
—Que
deseja que eu faça?
—Sua
mulher tem saúde. Diga a senhora Pendergast que encontre um trabalho para ela e
para sua filha mais velha na lavanderia. Trabalharão ali enquanto ele estiver
doente. Encarregue-se também de encontrar algum vizinho que tenho o cargo de
seus outros filhos pequenos. Com isso bastará para pagar as despesas.
—Senhor,
o salário de uma lavadeira não cobre…
—
Estas são minhas ordens, senhor Cox. Leve-as a sério. Se dentro de quinze dias
ele continuar doente, quero que seus vizinhos recolham sua colheita para que
não estrague. Como pagamento lhes darei licor, seguro que assim estarão mais
dispostos a colaborar.
—Muito
bem, senhor.
Cox
se levantou e se foi. Joseph relaxou, esperava não tivesse que ter que falar de
despejos até o ano seguinte. Olhou pela janela e viu que estava chovendo. Uma
chuva como essa causava estragos nas escavações. Então se lembrou de quando a
senhorita Lovato jogou a espátula maldizendo a lama inglesa e lhe deu vontade
de rir. Não era nada próprio dela, mas como tinha dito, não era a mulher tímida
que ele tinha imaginado. Na realidade, estava resultando ser muito mais
imprevisível que isso.
Caminhou
até a janela para observar lá fora e o que viu confirmou o que estava pensando.
Ali, de pé embaixo da chuva, sem chapéu e sem roupas de chuva estava à
senhorita Lovato, com a cabeça para trás com toda a chuva caindo.
Que
estava fazendo lá fora com aquele tempo? Agosto tinha sido um mês quente, mas
em setembro as temperaturas já tinham baixado consideravelmente. Se ficasse em
baixo de semelhante chuva durante mais tempo pegaria um resfriado.
Joseph
afastou-se da janela e saiu de seu escritório. Alguns minutos mais tarde já
vestia uma capa de chuva e como faria qualquer pessoa sensata, pegou um
guarda-chuva e foi buscá-la.
Ela
continuava no mesmo lugar em que ele tinha visto do seu escritório. Em frente
de uma fonte, entre dois canteiros de flores e com a cabeça para trás. Não
estava com os óculos e tinha os olhos fechados. Estava completamente imóvel,
com os braços abertos, concentrada em sentir como a chuva caía sobre seu rosto.
—Que
está fazendo aqui fora, senhorita Lovato? —perguntou.
Ao
ouvir sua voz ela abriu os olhos e o olhou.
—Olá.
Quer se juntar a mim?
—Deus,
não. Eu vim buscá-la.
Se
aproximou mais dela e com o guarda-chuva, cobriu a ambos. Estava desconcertado
pelo sorriso dela. Não havia nada de divertido em estar encharcada pela chuva
de uma fria tarde de outono.
—Aconteceu
algo? —perguntou ela.
Ele
não tinha outro remédio que lhe dizer o óbvio.
—Está
chovendo e a senhorita está aqui fora, molhando-se.
—Eu
sei — admitiu ela, e logo, ante a surpresa de Joseph, começou a rir. —Não é
maravilhoso?
—Acho
que ficou louca senhorita Lovato. Isso é tudo o que posso pensar para justificar
seu pensamento. — A pegou pelo braço para tentar levá-la para casa.
—Não,
não —se opôs ela, soltando-se. —Não fiquei louca, eu lhe asseguro. Só quero
ficar aqui fora um pouco mais.
—Não
pode estar falando sério.
Ela
afirmou com a cabeça e deu um passo para atrás para sair de da proteção do
guarda-chuva.
—Estou
falando serio — respondeu enquanto se molhava. Tinha a roupa encharcada e o
cabelo pregado em seu rosto. —Eu gosto da chuva. O senhor não?
—Não,
eu não. E a senhorita tampouco. Não se lembra de que ontem mesmo estava
maldizendo o barro inglês?
Ela
riu.
—É
verdade. Odeio a lama porque dificulta meu trabalho, mas ainda assim eu gosto
da chuva. Vejo que não entende.
—Tem
razão, não entendo. Entre na casa ou pegará um resfriado.
Ele
voltou a se aproximar para tentar que assim o guarda-chuva a protegesse, mas
ela estava decidida a ficar embaixo do aguaceiro, negando com a cabeça e
retrocedendo cada vez que ele dava um passo até ela.
—De
verdade, obrigada por se preocupar comigo, mas não quero entrar, ainda não.
Ele
continuava olhando para ela sério, assim que Demi deixou de rir e aceitou a
proteção de seu guarda-chuva.
—O
senhor não entende — disse. — Eu passei a maior parte de minha vida em
desertos. Só saia deles um par de meses ao ano para descansar em Nápoles ou em
Roma. Sabe o que é passar nove meses de calor e secura sem fim?
Ele
trocou o guarda-chuva de mão e respondeu:
—Não,
nunca estive em um deserto.
—O
verão é tão caloroso que custa a respirar. Se olhar o horizonte pode ver como
se move o ar quente e o calor resseca tanto a pele que esta se aperta sobre os
ossos até doer. — Fechou os olhos e com os dedos molhados, acariciou seu rosto.
—Sente como seu próprio suor se torna lama ao pó que se tem depositado em seu
rosto. A boca fica seca e todo o tempo tem que umedecer os lábios, ainda que
não sirva de nada, pois já estão secos e rachados.
Joseph
baixou a vista até sua boca. Estava hipnotizado vendo como ela passava os dedos
de um lado para o outro em seus úmidos e entreabertos lábios. Talvez estivessem
rachados no deserto, mas agora pareciam extremamente suaves.
O
desejo o golpeou com tal força que não podia nem se mover.
—O
vento levanta a areia — continuou ela, enquanto deslizava os dedos pela face e
pelo queixo para baixo de sua garganta.
Ele
tinha a garganta tão seca como o deserto que ela descrevia.
—A
areia voa em todas as direções e arranha a pele como uma lixa. Toda a roupa
tinha que estar manchada de cores que disfarçavam a sujeira. Tem pouca água,
assim que só pode tomar banho um dia na semana e nem sequer é um banho
completo, mas apenas uma bacia de água e se a caravana de abastecimento
passasse por ali, um pouco de sabão e uma esponja.
Ele
queria dizer algo, qualquer coisa, mas cometeu o erro de baixar a vista. Nesse
momento, qualquer pensamento coerente desapareceu de sua mente. Pela primeira
vez, ela não estava com o avental e com a chuva o vestido tinha se pregado
completamente ao corpo. Marcava-lhe todas as curvas e o algodão molhado parecia
quase transparente. Por sorte, a moça não era consciente da imagem que
oferecia: a perfeita redondeza de seus seios desenhados embaixo do vestido, sua
estreita cintura, seus quadris insinuantes, a forma em que a roupa se moldava
entre sua ante perna. E suas pernas Deus, eram intermináveis.
«É a senhorita Lovato,— lembrou
a si mesmo — não uma deusa, ainda que seu
corpo indique o contrario.» Nem em um milhão de anos tinha podido imaginar
que aquele corpo tão sedutor se escondesse embaixo daqueles horríveis aventais.
Joseph
afastou a vista de sua escandalosa e encharcada figura e se concentrou na
estatua que tinha no alto da fonte que ficava atrás de Demi. Um satírico. «Que
apropriado», pensou, enquanto tentava apagar o desejo que havia inundado todo
seu corpo.
Ela
trabalhava para ele e tinha regras para essas coisas. Voltou a olhá-la e tentou
se concentrar em suas palavras.
—Enquanto
tenho oportunidade, quero caminhar na chuva. Eu gosto. Aqui na Inglaterra é
especialmente agradável, quedas suaves e faz com que os jardins sejam bonitos.
O primeiro dia que despertei nesta casa, em março, sai para passear na
propriedade queria conhecer o cheiro da erva molhada. Foi maravilhoso.
—Suspirou profundamente. —Oh, não posso nem imaginar o que é estar aqui quando
se tem vivido em climas secos e quentes em toda a vida.
Joseph
não podia ordenar seus pensamentos de forma coerente. Em algum lugar de sua
mente entendia o que ela estava dizendo e tentou imaginar o duro que devia ser
viver assim, especialmente para uma mulher. Também sentiu certa raiva de seu
pai, como pode um homem honorável obrigar sua filha a viver nessas
circunstancias? Mas diferente disso, Joseph era incapaz de se concentrar.
Diante dele tinha uma mulher que nunca tinha visto antes, uma mulher cujo corpo
era um tesouro oculto e cujos olhos eram da mesma cor que as violetas que
floresciam nos canteiros que tinha atrás dela. Uma mulher que gostava do aroma
da erva molhada e cujo inocente prazer de se molhar embaixo da chuva tinha
demonstrado ser para ele mais erótico que qualquer afrodisíaco.
Fazendo
esforço para reunir toda sua disciplina, Joseph apertou a mandíbula e tentou se
lembrar qual era sua posição e da dela.
—Diga-me,
a senhorita vai tornar isso um costume?
Ela
piscou, não sabia o que havia feito porque ele a tinha assustado com seu tom de
voz ou porque a água entrava em seus olhos.
—A
que se refere? —perguntou ela. —Permanecer embaixo da chuva?
—Há
perder o tempo se divertindo em vez de estar trabalhando. Não quero ter que
lembrá-la que lhe pago muito bem, extremamente bem, para isso.
—Porque
ficou de mau humor? —perguntou ela com um pouco de aspereza, mas antes que ele
pudesse responder, levantou a mão para calar-lhe. —Não importa, não quero
saber.
—Não
— disse ele com uma voz que soou estranha inclusive em seus próprios ouvidos — melhor não saber.
respire Joe, respire fundo senao Demi perceberá um certo volume em suas calças kkkkkkkkkk
desculpem pelo micro final do capitulo 8, calculei errado quando fui postar, ai sobrou esse pedacinho.
bad news... corro serio risco de perder tudo do meu notebook, o HD ta com defeito e cara nao consegue fazer o back up por isso =( minhas fics, meus videos, fotos, musicas...buaaaaaa='(
Acho que o joe se equivocou dizendo que ela era atraente como um inseto numa folha kkkkkk avho que nenhum inseto deixa ele doido do jeito que ficou
ResponderExcluirPOSTA LOGO
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAh pensava que já tinha comentado, visto que li o capítulo assim que saiu, desculpe...
ResponderExcluirAgora é que o Joe se apercebeu realmente da mulher que a Demi é, já deve estar mais do que arrependido de ter dito aquelas atrocidades :)