—Isso
acontece muitas vezes.
—Com
trágicos resultados.
—Talvez
para Marco Antonio e Cleópatra — reconheceu ela. —mas não é sempre assim. Há
quem é muito feliz.
—Essa
felicidade dura sempre muito pouco.
Ele
estava começando a frustrar sua firme convicção de que o amor não valia à pena
e levantou o olhar para o céu em um claro gesto de desespero.
—Oh,
por Deus! —exclamou. —Acredito que alguma vez já viu alguém se apaixonar
perdidamente e ser feliz.
Joseph
lembrou a noite em que encontrou seu pai morto, com quatro tubos de láudano a
seu lado.
—Sim
— respondeu ele. —mas teve um trágico final. —Então se levantou bruscamente.
Nós não queremos continuar falando. —Queira me perdoar, mas meu banho está
esfriando. Boa noite.
E
saiu da habitação sem dizer mais nada.
Primeiro
Viola, com aquela conversa tão estranha sobre o amor e agora a senhorita
Lovato. Maldita seja. Por que as mulheres eram incapazes de entender que o amor
não era importante na vida?
Apesar
do muito que Demi gostasse do clima úmido inglês, tinha que reconhecer que para
seu trabalho era um problema, especialmente quando se tratava de restaurar um
afresco. Nos desertos da África, Palestina e Mesopotâmia era suficiente retirar
a areia e as imagens reapareciam intactas, com toda sua beleza, mas na
Inglaterra a umidade fazia tudo mais complicado.
A
lama cobria o afresco e a causa de ter permanecido seiscentos anos embaixo
daquela terra úmida, a pintura estava tão degradada que para Demi era quase
impossível distinguir qualquer imagem. Encontrar a cor que mais se parecia ao
original e tentar desenhar os fragmentos que faltavam era um trabalho
exasperante, embora alguns dias fossem mais dos que os outros. Aquele era um
desses dias.
Reuniu
todos os fragmentos do afresco que dos trabalhadores tinham descoberto até o
momento e os classificou por grupos segundo as imagens que se representavam
nele. Logo, com a ajuda de uma pequena espátula, começou a juntar as peças como
se fosse um enigma. Parecido com um solo que tinha reparado no dia anterior, à
medida que os restaurava ia aparecendo à figura de Venus.
Não
estava acostumada a trabalhar com um material tão delicado; as peças se
quebravam facilmente, assim que tinha que concentrar toda sua atenção. O
problema era que uma e outra vez, se distraía recordando o que tinha passado
umas noites atrás e a conversa que Joseph e ela tinham tido na biblioteca.
Demi
não podia deixar de pensar no que tinha dito sobre conhecer alguém perdidamente
apaixonado e cujo final tinha sido trágico. Se perguntava de quem estaria
falando. De si mesmo talvez? isso explicaria sua atitude tão cínica, fria e
calculadora frente ao casamento. Tinha que concentrar-se. Ela não se importava
nada com o que o pensava sobre o casamento nem com quem fosse se casar.
Desde
essa noite na biblioteca, cada vez que ele lhe pedia algo adicionava «por
favor», e quando ela finalizava a tarefa que pedia, lhe diz sempre obrigado.
Muitas vezes conversava com ela sobre coisas sem importância, como o clima de
como as quentes temperaturas deviam ser melhores para seu trabalho. Às vezes
lhe comentava as noticias do dia, por especial ênfase em excesso de governantas
que inundavam a Inglaterra a chateação que era a vida social de Londres.
Inclusive tinha ordenado que cada hora um empregada fosse a antika perguntar se
queria uma taça de chá e muitas vezes enviava os trabalhadores para lá para ver
se precisava de ajuda.
Como
se nada disse pudesse convencê-la a ficar. Ao comprovar que com dinheiro não ia
convencê-la, agora o duque tentava lhe demonstrar que era capaz de ser
encantador e atencioso.
Ela
fez uma careta de desdém. Ele não era atencioso. Era egoísta, altivo, e não
levava em conta os sentimentos dos outros. Além de frio, tão frio que de uma
maneira calculista, tinha escolhido se casar com uma mulher que nunca pudesse
se apaixonar.
No
entanto, apesar de todos esses defeitos, ela tinha achado que estava apaixonada
por ele. Por quê? Demi deixou de trabalhar e olhou o infinito pensando nele. O
que tinha visto nele que a tinha cativado?
Se
lembrou de Cleópatra e se deu conta que não só as mulheres podem ter esse algo
que as transformam em mágicas e fascinantes. Joseph também tinha.
Pensou
em todas as vezes que ele a tinha olhado como se fosse especial, como se por um
instante para ele unicamente ela existisse em seu mundo. Mas apenas por um
instante, somente quando ele queria algo dela. Quando precisava que fizesse
algo difícil em pouco tempo, tinha recorrido a esse sorriso para que ela não
podia se negar. Uma vez tinha obtido tudo o que queria, tinha levando com ele a
magia, sem lhe dizer obrigado por ter passado milhares de horas trabalhando.
Agora
sabia que todas essas vezes que a tinha olhado desse modo especial nem sequer a
tinha visto falar. Só a tinha usado para alcançar seus fins. E, apesar de tudo
isso, quando no outro dia tinha pedido que ficasse, durante um segundo esteve
tentada a aceitar e obedecê-lo.
Sim,
ele tinha essa inexplicável alquimia que podia que uma funcionária fosse
procurar à manteiga fresca todas as manhãs sem se aborrecer, que a senhora
Bennington ficasse com a respiração acelerada só em estar falando com ele sobre
o mal estado do caminho e que a ordinária e comum Demi Lovato se sentisse uma
das mulheres mais belas do mundo. Mas não era real.
Respirou
fundo e recomeçou seu trabalho. Por sorte agora já o conhecia e essa magia não
podia afetar-lhe.
Demi
pegou outra peça com a espátula, começou a espalhar sobre ela um pouco de
cimento, A pressão deve ter sido muito forte que a delicada peça se partiu em
dois entre suas mãos. Era a quarta vez que acontecia isso, quatro fragmentos
únicos e irreparáveis tinham se convertido em pó e dreno entre seus dedos.
—Oh,
maldita lama inglesa! Destrói tudo o que toco! —gritou e exasperada, lançou a
espátula com força. O ruído que fez cair acompanhado de um assobio e quando
Demi se voltou viu Joseph de pé em um umbral de antika.
—Olhe
para onde joga as coisas, senhorita Lovato— disse e se abaixou para recolher a
espátula.
—Lhe
acertei?
—Não
—respondeu, —mas foi por pouco.
Demi
olhou enquanto ele se aproximava dela. Sabia que ainda não tinha ido visitar o
senhor Bennington na escavação já que ainda não vestia casaco nem gravata, sua
camisa era de um branco imaculado, sem um grão de poeira ou sujeira. Demi se alegrou
de que a tinha posto.
Desviou
o olhar.
—Eu
estou feliz de não ter-lhe ferido — disse, enquanto ele se colocava justo do
seu lado.
—Por
que estava maldizendo a lama da Inglaterra? —Colocou a espátula na mesa, do
lado do bolo preparado de cimento.
Demi
tomou fôlego e ao fazer isso, inalou seu aroma mesclado com um pouco de
essência de limão. Estava ficando nervosa e não sabia o que fazer. Era
realmente necessário que estivesse tão próximo dela?
—Não
é nada — respondeu e voltou a colocar a espátula. —É só que hoje estou de mal
humor.
—De
mau humor? Devo estar sonhando.
Ela
pegou um pouco de cimento.
—Não
sei o que se refere — disse e começou a repartir a massa por cima de uma peça
que tinha pego antes.
—Nós
últimos dias me senti perdido, como se estivesse num sonho estranho — explicou
e se afastou dela.
Demi
se sentiu aliviada que ele se afastasse, mas ainda notava seu olhar fixo
enquanto ela se colocava justo de frente para a mesa.
—A
senhorita não é nada que eu tinha imaginado —prosseguiu ele, —e a verdade é que
estou muito confuso.
Demi
juntou às peças do afresco e não respondeu. Enquanto esperava que o cimento
secasse, levantou a vista e viu como Joseph arregaçava as mangas da camisa. À
medida que o linho branco desaparecia, ela observava seus marcados antebraços e
como ia aparecendo sua pele morena. Começou a sentir calor e lembrar a imagem
de Joseph sem camisa, mas lutou para se concentrar no que ele estava dizendo.
—Acho
que todas as opiniões que tinha da senhorita estão desmoronando. Uma a uma.
Ela
era humana, não uma máquina, assim que não pode evitar perguntar.
—E
que opiniões eram essas?
Logo
que disse isso, desejou poder retirar aquelas palavras. Não se via capaz de
ouvir outra vez falsos elogios destinados a convencê-la que ficasse. Olhou de
novo as peças que tinha na mão e tentou reconciliar a conversa para um assunto
mais seguro.
—Esquece.
Não quero saber.
—Eu
vou lhe dizer de qualquer maneira. Achava que a senhorita era uma jovem tímida
e maleável, disposta a fazer tudo o que pedisse e quando eu pedisse.
«Também pensava que era
como um inseto em cima de uma folha.» Demi não se atreveu a
fazer esse comentário em voz alta, ainda que uma parte dela quisesse provocar
para que ele se sentisse culpado de tudo o que tinha dito nesse dia.
—Pois
estava equivocado.
—Eu
já percebi — admitiu ele. —Agora me dei conta de que não é nem tímida nem
maleável. Na verdade, senhorita Lovato, tem bastante caráter. Não tem medo de
jogar objetos através da habitação quando está irritada e tampouco teme dizer o
que pensa. Cinco meses atrás tinha uma atitude serena e paciente, há apenas
alguns dias a senhorita expressou com bastante eloquência o que pensa de mim.
Compreenderá que me sinto desconcertado e que me pergunto a razão dessas
mudanças.
Todo
seu corpo ficou tenso ao ouvir essas palavras, mas jurou que nunca lhe diria a
verdade. Seria vergonhoso demais. Respirou fundo e respondeu.
—Eu
não sei o que aconteceu comigo no outro dia. Não costumo ser tão brusca.
—Aceito
suas desculpas.
Demi
levantou o queixo e percebeu que ele estava sorrindo, pondo a caminho sua
magia.
—Não
estava me desculpando — replicou ela enfática. —Nunca me desculpo quando sou
provocada, dou minha sincera opinião.
Joseph
apoiou as mãos na mesa e se aproximou mais dela. Ainda não
tinha
um sorriso em seus lábios parecia que seus olhos estavam sorrindo.
—Senhorita
Lovato, não consegue perceber quando alguém está brincando?
—Estava
brincando?
—Suponho.
Ela
não queria que ele brincasse com ela. Isso fazia com que ela baixasse a guarda
e fosse muito mais difícil de odiá-lo. Certamente ele sabia disso.
—O
senhor gosta de provocar as pessoas?
—Agora,
eu gostaria de provocar-lhe. Confesso-lhe que achei … fascinante. Eu tenho que
fazer isso mais vezes. —Retrocedeu e se afastou da mesa. Com as mãos atrás das
costas, propôs: — Jante comigo amanha, senhorita Lovato.
—É
um convite ou uma ordem?
—Um
convite.
Ela
se sentiu embaraçado e desviou o olhar. Não queria jantar com ele, não queria
conhecê-lo melhor.
—Não
acho que seja apropriado.
—Convidarei
também o senhor e a senhora Bennington. —Ainda que seu semblante estivesse
serio, seu olhos se mantinham com aquele sorriso de antes. —Para persuadi-la
estou inclusive disposto a pedir-lhe por favor.
só sei que se a carreira dela nao der certo, pode ser atleta, arremessadora de espatulas kkkkkkkkkkkk, quase machuca o senhor Joe.
meu not nao ta pronto =\ e o pior, deu bug que perdi tudo o que tenho nele, bom, colega ta vendo se consegue fazer back up antes de formatar, mas meu coraçao ta dolorido pois as minhas fics....as que ja estao prontas e as que tava fazendo =\
vai dar tudo certo ne...espero
bjemi
Espero que dê tudo certo, pois estas histórias são incríveis e seria uma pena perdê-las.
ResponderExcluirJoseph está aos poucos a se render aos encantos de Demi, quero ver como o jantar vai correr (mesmo com a companhia do senhor e da senhora Bennington) :)