A
previsão de lady Fitzhugh de que sua casa se encheria de visitas começou a se
concretizar na tarde seguinte. O primeiro a visitar Demi foi lord Durand.
Ela
não estava de bom humor para receber visitas. Junto com Elizabeth acabava de
chegar em casa depois de um longo passeio por Montagu House, onde não lhe
tinham deixado entrar no museu porque não tinha concluído seu pedido com
antecedência. O fato de que ela fosse à filha de sir Henry Lovato, cujos
descobrimentos constituíam a maior parte da exposição, não tinha impressionado
suficientemente aos encarregados para romper suas estritas normas de admissão.
Assim que, quando chegou à casa de Russell Square e se encontrou com lord
Durand que estava esperando-a na sala, seu humor não melhorou.
Ficou
petrificada de pé na escada, sua mão agarrada com força ao seu corrimão.
—Lord
Durand? —repetiu olhando confundida a Mary enquanto entregava seu casou e seu
chapéu. —Por que veio me ver?
A
empregada pegou suas coisas e respondeu.
—Não
sei, senhorita, mas lady Fitzhugh me pediu que eu lhe dissesse quando chegasse.
Antes
que Demi pudesse responder, lady Fitzhugh, que deve ter ouvido suas vozes, saiu
da sala e desceu rapidamente da escada.
—Lord
Durand está aqui — sussurrou a Demi. —Ele está esperando-a mais de meia hora.
—Tocou com carinho o braço de Demi. —Ele me disse que é teu avô, o pai de tua
mãe e que acaba de saber disso. Isso é verdade, Demi?
—Sim
— admitiu Demi e começou a subir com ela a escada. —Mas nos ignorou durante
anos e eu nunca o vi em toda a minha vida. Por que ele quer me ver precisamente
agora?
—Disse
que deseja falar contigo. Parece ansioso para conhecê-la e para que não seja
tudo tão estranho, sir Edward e eu gostaríamos de estar presentes na reunião. O
barão está de acordo, se você não se importa, claro.
—Não,
não, claro. Suponho que não posso me negar a vê-lo, apesar de que ele se negou
a me ver.
—Ele
fez isso? —Lady Fitzhugh estranhou. —Hoje ele parece ter muita vontade em te
ver. Mas em qualquer caso, não acho que foi a decisão mais acertada, querida.
Ele já reconheceu Edward e eu somos uma família.
—Ah
é? —perguntou na hora que lady Fitzhugh abria a porta da sala e entrava nela.
Demi a seguiu.
A
primeira imagem do barão a deixou surpreendida e se deteve na porta. Demi não
esperava que fosse um homem bonito. Tinha imaginado uma espécie de ancião de
mandíbula desencavada e expressão maléfica. Em vez disso, se tratava de um
homem alto, elegante, com o cabelo prateado e que apesar de sua idade,
continuava sendo muito bonito. Essa surpresa se incrementou ao ouvir suas primeiras
palavras.
—Minha
queridíssima neta — exclamou e se aproximou para pegar-lhe as mãos. —Fico tão
feliz em poder te ver finalmente. Venha, venha, deixa eu te olhar. — Examinou-a
de cima a baixo e logo a pegou pelo braço para guiá-la até o sofá que tinha
perto do fogo, de frente da cadeira que estava sentada lady Fitzhugh. —Tenho
tanta vontade que passemos um agradável tempo juntos.
Demi
soltou-se e preferiu se sentar perto de lady Fitzhugh, para assim poder olhá-lo
diretamente nos olhos. Mas antes que pudesse perguntar-lhe nada, o barão falou:
—Estou
tão contente por você, querida menina. Deixa que eu seja o primeiro a
felicitá-la.
Ela
piscou surpresa.
—Perdão?
Por que me felicita?
—Pelo
teu compromisso com o duque de Tremore, claro.
Demi
não podia acreditar.
—Não
sei do que se refere. Não estou comprometida com o duque.
O
barão, não pareceu impressionado por suas palavras.
—Claro,
claro, eu entendo. O duque já me explicou o quão impetuosa que foi sua proposta
e pediu para te cortejar como você merece antes de tornar oficial o compromisso
de vocês.
—Ele
disse isso? —perguntou ela apertando os dentes.
—Sim
e eu entendo perfeitamente. Você tem todo o direito a querer que te conquistem,
mesmo que ele seja um duque.
—Não
tenho nenhuma intenção de me casar com ele — respondeu ela sem conseguir
distinguir se irritava-se mais com Joseph ou com o barão. Nesses momentos
estava igualmente farta dos dois.
O
barão piscou-lhe um olho.
—Poucas
jovens se atreveriam fazer um duque esperar, mas ele parece estar bastante apaixonado
por você e já esta bastante resignado com a ideia. De todos os modos, deixa que
eu te dei um conselho, querida. Não faça ele esperar muito. A final, ele é um
duque.
Demi
tinha a sensação de que iria ouvir essa frase bastante frequentemente.
—Não
vou me casar com ele — insistiu ela. —Não fale de um compromisso que não
existe, eu lhe rogo.
—É
inútil que você tente manter em segredo, o próprio duque me disse que tinha
intenção de fazer público que esta te cortejando. Você é minha neta e como
cavalheiro tenho o dever e a obrigação em cuidar de ti. Te darei conselhos de
como prosseguir com este cortejo, ainda que agora já seja um pouco inútil, pois
já dei meu consentimento ao duque.
Demi
começava a ficar farta de tratar com cavalheiros honoráveis.
—Eu
não quero ser sua obrigação, senhor.
Antes
que ele pudesse responder, se atreveu a perguntar-lhe a única coisa que
realmente queria saber.
—Por
que ocultou que minha mãe fugiu com meu pai e como conseguiu manter em segredo
seu casamento?
O
barão olhou a sir Edward e a lady Fitzhugh. Parecia aborrecido pela mudança de
assunto e se incomodou de ter que responder essas perguntas, mas ainda assim
respondeu.
—Minha
filha era muito jovem, só tinha dezessete anos. Não dei minha aprovação no
casamento. A grande diferença social fazia que para ela fosse uma união muito
desvantajosa. Quando fugiram, decidi evitar a todo custa o escândalo e disse a
todo mundo que Jane tinha ido a Itália estudar arte.
Demi
se sentia satisfeita de que ele tivesse disposto a contar a verdade sobre seus
pais, mas era como se estivesse falando um discurso perfeitamente ensaiado.
—Eu
fiz o melhor que pude.
Demi
cruzou os braços e o encarou seria.
—Verdade?
O
barão se mexeu desconfortavelmente na cadeira, mas Demi não se afetou.
—Por
que então não tentou corrigir seu erro e me reconhecer quando lhe pedi? Já sei
que meu pai era um órfão sem família nem influencias, mas era um homem
brilhante. Era um cavalheiro e sua filha o amava. O senhor sabia que eu era sua
neta e apesar disso se negou a me reconhecer. Não tem vergonha de ter nos
tratado assim?
O
barão não pode raciocinar diante daquela avalanche de acusações. Ele parecia
irritado por ter que tocar nesse assunto em sua primeira visita. Mas quando
falou não estava aborrecido, mas agitou as mãos surpreso.
—Demi,
não é como você diz.
—Ah
não?
—Não,
não. —Voltou a olhar incomodado para sir Edward e para lady Fitzhugh, mas eles
não lhe ofereciam ajuda. Lady Fitzhugh costurava e sir Edward atiçava o fogo.
Nenhum dos dois parecia estar escutando sua conversa e nem tossindo forçado o
barão conseguiu captar a atenção deles.
Sem
nenhuma vontade o barão voltou a encarar Demi, que mantinha um estoico
silencio.
—Teu
pai estava em Durham, perto de minha propriedade de Cramond. Ia a dar ali umas
conferencias sobre antiguidades romanas. Minha filha assistiu essas
conferencias e começaram a se encontrar em segredo. Uma semana mais tarde,
vieram me ver e me comunicaram que tinham intenção de se casarem. Não faz falta
que te diga que não aprovei.
—A
deserdou?
Ele
negou com a cabeça no mesmo instante.
—Não,
não. Mas estava furioso. Teu pai era um órfão sem família e sem influencias.
Era quase vinte anos mais velho que minha Jane e não tinha dinheiro para poder
mantê-la como ela merecia, nem tampouco os filhos que teriam. Se tivessem vindo
morar comigo os teria perdoado, mas ele queria que tua mãe o seguisse por todo
o Mediterrâneo. Além do mais, estava convencido de que em uma semana não tinha
tido muito tempo de se apaixonar. Minha filha e eu discutimos. Ela e teu pai
fugiram na mesma noite e alguns dias depois embarcaram para Edimburgo com
destino a Nápoles. Nunca voltei a ver minha filha. Minha mulher também já
morreu e não tenho mais filhos. Você pode chegar a entender o quão amargo e
traído que me sinto?
—O
senhor disse que não a deserdou, mas fez sim. Eliminou-a de seu coração e nunca
respondeu nenhuma de suas cartas. Como tampouco respondeu a minha.
Ele
piscou diante a brutalidade de suas palavras.
—Espero
que algum dia você entenda.
Demi
se apoiou na cadeira, sem chegar a compreender seu ponto de vista.
—Não,
não entendo. Não apenas abandonou sua filha, mas também me abandonou. Eu lhe
escrevi pedindo ajuda e a única coisa que recebi foi uma carta de seus
advogados. Quer que lhe diga o que dizia?
Ele
tratou de responder, mas ela não o permitiu.
—Dizia,
de um modo muito explícito, que eu não podia ser sua neta —continuou — e que
qualquer outra tentativa de entrar em contato com o senhor para obter seu
dinheiro seria inútil. Meu pai tinha acabado de morrer. Estava no meio do
deserto do Marrocos, sem dinheiro, sem família, sem ninguém que me ajudasse.
Lhe escrevi desde Tánger e durante dois meses esperei sua resposta tentando
sobreviver com o pouco que tinha. Todas as antiguidades que papai tinha
descoberto em Volubilis já as tinha vendido ao duque de Tremore ou a um museu
de Roma e o pouco dinheiro que papai tinha para gastos já tinha se acabado.
Se
dava conta que se estava ficando nervosa e muito emotiva, mas não se importava.
Queria que soubesse como tinha-lhe ferido sua indiferença.
—Me
vi obrigada a vender os livros e a equipe de meu pai para poder comprar comida
e ter um lugar onde dormir, mas esperei, tinha a esperança de que meu avô, de
que o senhor, me ajudaria. Entretanto, não ajudou. Me abandonou e me deixou sozinha,
sem dinheiro e sem proteção. Sorte que o duque de Tremore queria contratar meu
pai e mandou duas passagens para Inglaterra. Fui para Hampshire e trabalhei
para ganhar meu sustento. O senhor me pergunta se posso entender o que fez e
minha resposta é não. Não posso entendê-lo e acho que será impossível
perdoá-lo.
—Sendo
tão jovem você dar sua opinião muito convencida — gritou ele irritado. —Eu vim
aqui de boa fé, com a intenção de corrigir o péssimo modo como me comportei
contigo.
—Só
veio aqui porque acha que vou me casar com um duque. Não há nenhum compromisso.
Assim que…
—Talvez
— interrompeu sir Edward pela primeira vez desde o inicio da conversa —
deveríamos falar deste assunto a sós, lord Durand. Acho que as mulheres e
acredito que o senhor está de acordo, são criaturas muito emotivas e não
permitem que a razão intervenha em seu discurso.
Demi
se sentiu ultrajada, mas lady Fitzhugh pôs uma mão em seu braço e quando ela se
virou para olhá-la, lady Fitzhugh disse:
—Tranquila.
—Talvez
tenha razão, sir Edward — disse Durand.
—Fantástico!
Vamos para o meu estúdio? — Apontou a porta e os dois homens saíram juntos
deixando as mulheres sozinhas.
Demi
ficou de pé logo quando cruzaram a porta e começou a andar pela habitação.
—Isto
é humilhante. Sei perfeitamente que a única coisa que fez vir aqui hoje é
porque acha que vou me casar com o duque. Que homem tão horrível! E como o
duque se atreve a ir à casa de Durand e falar-lhe tudo isso? Ele sabe que não
vou me casar com ele, quando o recusei fui bastante clara a respeito.
—Demi,
se senta.
Ela
viu que lady Fitzhugh a estava observando tão seria que decidiu dar-lhe atenção
e se sentar.
—Então
na verdade o duque te pediu em casamento.
—Sim.
— Temerosa de que lady Fitzhugh pudesse dizer-lhe, continuou: — Por favor, não
me diga que fui uma estúpida ao recusá-lo. Eu…
—Não,
não, Demi, eu nunca me intrometeria em algo tão delicado. Você deve ter suas
razões para ter feito isso. Respeito se que não quer falar disso é tua escolha.
Eu só te perguntava se era verdade que o duque lhe tinha proposto casamento,
porque se sim eu gostaria de te dar um conselho. Se você me permite.
Demi
a olhou surpresa e um pouco intrigada. Ela tinha muita estima a lady Fitzhugh e
não queria ouvi-la dizer que tinha se equivocado ao rechaçar um duque.
—Conselho?
—Sim.
—A mulher cruzou as mãos sobre seu colo e guardou um momento de silencio.
Depois começou a falar: — Antes de mais nada, quero que você sabia que
tenho-lhe muito carinho, querida. Você tem sido uma excelente companhia para
minhas filhas, já que sendo mais velha que elas tem conseguido transmitir-lhes
certa serenidade e responsabilidade. Mas eu sou mais velha que você e esses
anos me fizeram mais sábia ou assim espero. Por favor, permite que te dei um
conselho e entende que o faço só pensando em ti e em sua felicidade.
—Claro,
pode me dar todos os conselhos que quiser. A senhora tem sido muito amável
comigo, abriu as portas de sua casa para mim, tem sido minha amiga e… — e
interrompeu sua voz e demorou um momento em poder continuar. —Lady Fitzhugh, eu
estou tão agradecida. A senhora tem me tratado como se fosse mais um membro da
família e as palavras não podem expressar…
—Tranquila,
filha — disse, dando uns tapinhas carinhosos em sua mão. —E me chame de Elinor,
querida. E você tem que saber que para mim você já é um membro da minha família
—continuou sorrindo, —ainda que talvez você não goste tanto de mim quando
ouvires o que tenho para te dizer.
Demi
se preparou para o inevitável.
—Vai
me dizer que deveria ser mais pronta e aceitar a proposta do duque.
—Não,
não, você já é adulta o suficiente para saber o que há em seu coração e em sua
cabeça. Além do mais, ser duquesa é uma enorme responsabilidade e entendo
perfeitamente sua reticência a ocupar esse posto. Não estou segura de que eu quisesse
para uma de minhas filhas. Não, meu conselho se refere ao barão.
—Ao
barão?
Demi mostrando as garras diretamente ao avô....
comentem pessoal. pleaseee
bjemi
Agora é que a barraca está armada... aquele avô da Demi tem muita lata, ele devia ter-se importado logo com a neta, não apenas após saber que ela pode ser duquesa, enfim...
ResponderExcluirO Joe vai continuar a ter que suar muito para conseguir dar a volta à Demi, mas aos pouquinhos ele vai lá :)
Adorei ler logo dois capítulos, posta mais :)
Eita que a demi soltou os cachorros pra cima do avô, e o Joe pra não perder tempo já foi lá falar com ele que pediu a demi em casamento esse homem realmente vai jogar com todas as armas que tem
ResponderExcluir