Joseph
decidiu se concentrar em seu trabalho. Frequentava a seus habituais encontros
com os membros do Clube de Antiquários que estavam na cidade e cumpria com
todas as suas obrigações. Só controlar o projeto do museu o tinha ocupado desde
que o sol nascia até chegar à noite. Tudo para manter a mente em outra parte e
deixar de pensar naqueles olhos cor de lavanda e o desejo que eles lhe
despertavam.
Mas
ali, de pé no meio sala albergaria a maior coleção de objetos romano britânicos
do mundo, cada afresco, cada mosaico, cada ânfora, recordavam aquilo de que ele
queria escapar.
Que
tinha aquela mulher que não podia tirá-la da cabeça? Alguns meses atrás apenas
olhava para ela. Teve uma época em que era incapaz de se lembrar dela a não ser
que tivesse de pé na frente dele. Recordava como incomodava-lhe ouvi-la gaguejar
ao tentar explicar-lhe sua última tradução do latim ou ao descrever-lhe os
detalhes mais ínfimos de um mosaico. Ela obedecia todas as suas ordens sem
protestar, não importava ou exigentes ou poucos razoável que estas fossem; ela
sempre as cumpria com perfeição. Na verdade, se comportava como qualquer outro
membro do serviço: sem queixas, sem perguntas e cobrando um salário pelo
trabalho bem feito.
Então
se demitiu e disse-lhe na cara que ela não gostava dele e que não queria
trabalhar para ele nem mais um dia. Nesse momento, cinco meses depois de sua
chegada, ela se transformou diante de seus olhos. Se tornou alguém
desconhecido, alguém quem não se importava com seu título nem sua posição. Ele
acreditava que ela sempre tinha sido assim, mas por medo de perder seu emprego,
tinha se escondido atrás de uma máscara de eficiência. Quando tinha se
apresentado a primeira oportunidade de sair dali, tinha aceitado sem hesitar e
desde então ele tinha se visto obrigado a recorrer a todo o sua inteligência
para tentar convencê-la de que ficasse tempo.
E
tudo por quê? Porque ela não gostava dele. Mas tinha gostado que a abraçasse;
tinha gostado que a beijasse; tanto como ele.
Joseph
sabia que ele sim gostava dela. Demais. A desejava como nunca antes tinha
desejado outra mulher. Era tudo tão inesperado, tão incrível. Tinha estado
equivocado a respeito de Demi a principio e agora ela invadia cada canto de sua
mente. Maldita honra! Por que não tinha aproveitado a oportunidade de fazer
amor com ela? Pelo menos assim deixaria de imaginar o que sentiria se fizesse e
talvez pudesse afastar de sua mente essa obsessão e se concentrar em seu
trabalho. Olhou o afresco que tinha a sua frente e suas cores envelhecidas; o
cacho de uvas que tinha sido roxo e agora era de cor lavanda. Ele bateu com o
punho na mesa.
—Que
vá pra o inferno!
—Você
me chamava? —perguntou uma voz masculina no corredor.
—Dylan
Moore! —exclamou Joseph reconhecendo essa voz sem ter que levantar a vista.
Tomou fôlego e agradecido pela interrupção, afastou a vista da pintura.
—Isto
que você chama de museu, Tremore? —disse Dylan olhando ao seu redor. —Parece
mais com um mausoléu, está tudo cheio de pedras e de estatuas. Mas olhe,
inclusive tem um sarcófago.
—Vejo
que continua sem cortar o cabelo — comentou Joseph, se afastando da mesa. —Até
quando vai resistir os ditames da moda?
—Ainda
não decidi — respondeu seu amigo sorrindo. —Meu mordomo me repreende por isso
constantemente, acho que é até capaz de me drogar e cortá-lo enquanto durmo.
Mas estou decidido que vai voltar a moda as cabeleiras longas nos cavalheiros.
Por favor, Tremore, esses janotas de Londres necessitam de alguém que os guie.
Ninguém
podia acusar Dylan de janota. Era o compositor mais famoso de Inglaterra e sua
aparência era sempre um pouco chocante. Até o ponto que quando alguém o via
pela primeira vez, ficava tão impactado que não podia nem raciocinar. Foi tudo
muito estudado.
Era
tão alto como Joseph e usava uma cabeleira vasta e negra que chegava aos
ombros; sempre despenteada, como se acabasse de se levantar da cama. Seus olhos
também eram negros, com umas invisíveis pupilas tão escuras que lady Jersey o
tinha apelidado de o moderno Mefistófeles. A comparação tinha caído como uma
luva. Suas sobrancelhas se arqueavam zombando, enquanto seus lábios sorriam
sedutores. O encanto dos anjos e a sorte do demônio.
Se
vestia de acordo com seu apelido e alimentava essa imagem de Mefistófeles
usando sempre roupas negras, qualquer que fosse a ocasião. Seu casaco negro com
forro dourado era conhecido por todos, igual que era o seu comportamento que a
cada ano se tornava mais escandaloso. Dylan era selvagem, rebelde e sempre
convidavam-lhe todas as festas. Mas também era o compositor das melodias mais
belas que Joseph tinha escutado em sua vida. Se conheceram em Cambridge e eram
amigos íntimos desde então.
—Por
que você chamava o demônio, Tremore? Suponho que por algo relacionado com o
trabalho, isso é a única que pode fazer, trabalhar. — Dylan nunca tinha sido
capaz de ficar quieto, assim, que começou a caminhar pela sala observando os
objetos expostos. —Ou talvez a ideia de colocar as esmeraldas ducais ao redor
do colo de certa dama está fazendo você soltar maldizeres?
—Eu
não posso ter uma vida privada? —perguntou Joseph exasperado. —Até onde
chegaram os rumores?
—Na
semana passada apareceu no jornal uma lista das possíveis candidatas. Que
esperava meu amigo? Achava que podia levar as esmeraldas a uma joalheria de
Bond Street sem que ninguém soubesse?
—Foi
uma bobagem, eu sei.
—Muito
grande —continuou Dylan e parou de caminhar para encarar diretamente a seu
amigo. —Vamos, desembucha. Quem é a afortunada dama?
—Lady
Sarah Monforth.
Seu
amigo, incrédulo, olhou-o fixamente e afastou um par de estatuas até ficar de
frente para ele.
—Você
esta brincando comigo, Tremore. Me diz a verdade.
—Te
disse a verdade. Ela estará em Paris até o natal, então eu ainda não lhe falei.
Te peço por favor que mantenha isso em segredo.
—Estou
muito chocado para guardar. Posso saber por que precisamente você, que é um
homem inteligente, vai se casar com uma boba de tal calibre?
—É
uma união vantajosa para ambos.
—Sem
dúvida. Seu nome era o primeiro da lista. —Dylan pegou uma faca de bronze que
estava sobre a mesa e a observou atentamente por um instante, logo devolveu-a
seu lugar. —Sabendo como sei que odeia o casamento tanto como eu, suponho que
vai fazer para ter um herdeiro.
Joseph
estava irritando. Não gostava que seus amigos se metessem em seus assuntos.
—Tem
algo para se opor?
—Você
vai ter que dormir com ela — disse Dylan olhando-o nos olhos e fazendo uma cara
de nojo. —Lady Sarah é uma dessas mulheres que apesar de serem bonitas, não tem
nenhum ápice de sensualidade em todo seu corpo.
—Você
fala como o hedonista que é, eu estou sendo prático.
A
risada de Dylan ecoou por todo o museu.
—Meu
Deus, Tremore, como eu gostaria de ser como você. Você é tão responsável, tão
disciplinado e tem tanta determinação que consegue sempre o que quer. Suponho
que já tenha informado a Deus de que precisa de pelo menos três filhos homens
para assegurar a descendência de Tremore.
Joseph
já estava acostumado ao cáustico sentido de humor de Dylan e se negava a morder
a isca.
—Estou
muito contente de te ver, amigo.
—Confesso
que eu também. Nós passamos sempre muito bem quando se decide visitar a
capital. Que vamos fazer desta vez? Poderíamos ir a Seven Dials para fumar
ópio. Eu fui faz uns dias e foi uma experiência indescritível. Acho que
inclusive me inspirou para compor cinco novos concertos.
Joseph
sabia que era provável que Dylan estivesse dizendo a verdade. Visitar Seven
Dials e fumar ópio era a típica situação perigosa que Dylan gostava. Ele sempre
fazia coisas assim.
—Ou
talvez poderíamos invadir os bordéis, Tremore. Pelo que eu sei, nesse tempo tem
sido bastante inteligente para não se apaixonar por uma atriz e depois de tudo,
dentro de pouco tempo vai se casar com uma mulher tão erótica como esta peça
aqui —disse, apontando a estatua que tinha do lado. —Assim que me diz,
visitamos as prostitutas esta noite?
Por
um instante Joseph esteve tentado em aceitar. A melhor, um período com uma
cortesã de Londres era o que necessitava para se livrar daquela tensão, daquela
necessidade que o consumia por dentro. Depois de tudo, se o que necessitava era
estar com uma mulher, em meia hora uma prostituta podia resolver.
—Uma
ideia tentadora, Moore —admitiu, —mas não posso. Já tenho um compromisso.
—Não
seja chato. Levo dias trabalhando em uma nova ópera e faz mais de uma semana
que não estou com uma mulher.
A
mão de Joseph roçou a borda do afresco que tinha na mesa e inclinou a cabeça
para examinar mais de perto o desenho. Fechou os olhos e cheirava um pouco a
essência de gardênia. A preferida dela.
ta apaixonadoooooo ta apaixonadoooo
mas nao percebeu ainda....e essa Sarah deve estar pensando que vai mesmo se tornar a duquesa.
bjemi
Ele já não lhe consegue resistir (à Demi claro) :)
ResponderExcluirEspero que a Lady Sarah fique em Paris para sempre hehe
Posta logo
ResponderExcluir