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o bem
Primeira epístola aos
Tessalonicenses 5:21.
Demétria
se sentou na beira da cama, concentrando-se em fazer com que suas pernas
recuperassem as forças. Uma tímida pancada ressoou sobre a porta uns minutos
depois de Joseph sair. Demétria respondeu e uma criada entrou no quarto. Fina
como um pergaminho e com aspecto de cansada, a criada tinha os ombros
encurvados e sua larga testa estava sulcada por profundas rugas de preocupação.
Quando se dirigiu para a cama, seus passos tornaram-se cuidadosos.
A
criada parecia estar a ponto de sair correndo a qualquer momento, e foi então
que Demétria percebeu que possivelmente estivesse assustada. A mulher não
parava de lançar longos olhares à porta.
Demétria
sorriu em uma tentativa de aliviar o visível desconforto da criada, embora
estivesse perplexa ante o tímido comportamento.
A
mulher segurava alguma coisa atrás de suas costas. Movendo-se muito devagar,
fez com que uma mochila ficasse visível e então balbuciou:
-
Trouxe sua bagagem, milady.
-
Oh, isso é muito amável de sua parte - respondeu Demétria.
Demétria
pôde ver que seu agradecimento satisfez a mulher. Agora já não parecia tão preocupada,
só um pouco confusa.
-
Não sei por que tem tanto medo de mim - apressou-se a dizer, decidindo
enfrentar o problema da maneira mais direta possível -. Não vou lhe fazer mal,
posso prometer isso. O que os irmãos Wexton disseram para lhe assustar tanto?
A
franqueza de Demétria aliviou a tensão que havia na postura da mulher.
-
Não me disseram nada, milady, mas não sou surda. Pude ouvir como gritava dentro
deste quarto, inclusive quando eu estava lá embaixo fazendo manteiga, e quase
todos os gritos eram seus.
-
Eu estava gritando? - perguntou Demétria, horrorizada por aquela revelação e
pensando que a mulher deveria estar enganada.
-
Estavam sim - respondeu a criada, assentindo vigorosamente com a cabeça -.
Sabia que tinha febre e não podia evitar fazê-lo. Gerty trará sua comida daqui
a pouco. Eu tenho que ajudá-la a trocar de roupa, se este for seu desejo.
-
Estou faminta - observou Demétria. Flexionou suas pernas, testando sua força -.
E, além disso, estou tão fraca como um bebê. Qual é o seu nome?
-
Meu nome é Maude, como a rainha - anunciou a criada -. A que morreu,
naturalmente, já que nosso rei William ainda não tem uma esposa.
Demétria
sorriu.
-
Maude, acredita que poderia me arrumar um banho? - perguntou -. Sinto-me tão
suja...
-
Um banho, minha senhora? - Maude pareceu horrorizar-se ante a ideia -. No mais
frio inverno?
-
Estou acostumada a tomar banho todos os dias, Maude, e parece que se passou uma
eternidade desde a última vez em que...
-
Um banho por dia? E para quê?
-
É que eu gosto de me sentir limpa - respondeu Demétria. Jogou um longo olhar à
criada e chegou à conclusão de que àquela boa mulher também não seria nada mal
tomar um banho, embora guardasse seu comentário para si mesma, por temer
ofender a pobre Maude -. Acredita que seu senhor permitiria que eu desfrutasse
desta pequena vaidade?
Maude
encolheu os ombros.
-
Pode ter todo aquilo que quiser, desde que fique sempre aqui neste quarto -
respondeu -. O barão não quer que fique doente, tentando se esforçar muito.
Suponho que poderia encontrar alguma banheira por aí e fazer com que meu homem
a subisse pela escada.
-
Tem família, Maude?
-
Sim, um homem muito bom e um moço que já tem quase cinco verões. O menino é um
demônio.
Maude
ajudou Demétria a levantar e a acompanhou até a cadeira que havia junto ao
fogo.
-
Meu menino se chama William - seguiu dizendo -. Colocamos esse nome pelo nosso
rei morto, e não por aquele que está no comando agora.
A
porta se abriu durante o relato de Maude. Outra criada se apressou a entrar,
trazendo consigo uma bandeja de comida.
-
Não há necessidade de ficar tão nervosa, Gerty - disse Maude -. Não está tão
maluca como imaginávamos.
Gerty
sorriu. Era uma mulher volumosa, de olhos castanhos e pele impecável.
-
Sou a cozinheira aqui - informou a Demétria -. Ouvi dizer que era muito bonita.
Mas está um pouco magra, sim, demasiadamente magra. Coma até o último pedacinho
desta comida, ou do contrário você será levada embora pelo primeiro vento mais
forte que soprar.
-
Ela quer tomar banho, Gerty - anunciou Maude.
Gerty
arqueou uma sobrancelha.
-
Bom, então ela pode ter um. Mas não poderá nos culpar se ficar rígida de frio.
As
duas mulheres continuaram conversando animadamente entre elas enquanto limpavam
os aposentos de Demétria. Era evidente que sabiam fazer amizade com facilidade,
e Demétria desfrutou em ouvir suas fofocas.
Elas
também a ajudaram com o banho. Quando a banheira foi tirada do quarto, Demétria
já estava exausta. Lavou seu cabelo, mas estava demorando uma eternidade para
secar e Demétria se sentou sobre uma suave pele de animal, estendida em frente
à lareira. Ela separou as mechas de seu longo cabelo, aproximando-as das chamas
para que secassem mais rápido, até que seus braços começaram a doer. Com um
ruidoso bocejo, que não ficava nada elegante em uma dama, Demétria se deitou
sobre aquela macia pele de animal, pensando apenas em descansar por pouco
tempo. Só vestia sua regata, e ainda não queria colocar suas roupas até que
seus cabelos estivessem secos e trançados.
Joseph
a encontrou profundamente adormecida. Deitada de lado, em frente ao fogo,
Demétria oferecia uma imagem realmente sedutora. Tinha encolhido suas pernas
douradas até deixá-las junto ao seio, e seu magnífico cabelo cobria a maior
parte de sua face.
Não
pôde deixar de sorrir. Deus, como parecia uma gatinha, enrolada feita um
novelo! Sim, não havia dúvida de que Demétria estava muito atraente, e
provavelmente terminaria morrendo de frio, se ele não fizesse algo a respeito.
Demétria
nem sequer abriu os olhos quando Joseph a agarrou em seus braços e a levou para
cama. Ele sorriu pela maneira com que ela se aconchegou instintivamente contra
seu peito. Também suspirou, como se s sentisse muito à vontade e, maldição,
voltava a cheirar à rosa.
Joseph
a colocou em cima da cama e a cobriu. Tentou se comportar da maneira mais
distante possível, mas não pôde evitar passar a mão pela lisa suavidade de sua
bochecha.
Demétria
tinha um aspecto terrivelmente vulnerável quando estava dormindo. Certamente
esta era a razão pela qual ele não queria sair dali. Demétria era tão inocente
e confiante, que o impulso de protegê-la era esmagadora. Em seu coração, Joseph
sabia que não deixaria que ela voltasse para o irmão. Demétria era um anjo e
ele não permitiria que voltasse a estar perto daquele demônio do Sebastian,
nunca mais.
Era
como se todas as regras estivessem de cabeça para baixo diante dele. Com um
gemido de exasperação, Joseph foi para a porta. Demônios, pensou, já nem sequer
sabia o que passava por sua cabeça.
E
tudo era obra de Demétria, embora certamente ela não tivesse consciência
daquele fato. Ela o distraía, e quando estava perto dela Joseph quase não podia
pensar.
Decidiu
que teria que colocar um pouco de distância entre ele e Demétria até que
pudesse resolver todas as questões que o preocupavam tanto. Mas assim que tomou
a decisão de se afastar de Demétria, seu humor tornou-se sombrio. Finalmente
resmungou uma maldição, deu meia volta e fechou a porta atrás dele lentamente,
sem fazer nenhum ruído.
Demétria
ainda estava bastante fraca, então o isolamento forçado não a incomodava. Mas
depois de dois dias, tendo apenas Gerty e Maude para lhe fazerem uma visita
ocasional, já estava começando a sentir os efeitos de sua prisão. Dedicou-se a
andar de lá para cá nos aposentos até que chegou a saber de cor o último
centímetro dela, e logo começou a deixar as criadas nervosas, quando insistiu
em fazer o que elas consideravam ser trabalho comum. Demétria esfregou o chão e
as paredes. O exercício físico também foi de muita ajuda. Sentia-se tão presa
como um animal. E esperava, hora após hora, que Joseph viesse vê-la.
Demétria
não parava de repetir a si mesma que deveria estar agradecida por Joseph ter-se
esquecido dela. Deus, por acaso não estava acostumada a ser esquecida?
Passados
mais dois dias, Demétria já estava perto de se jogar pela janela, só para
quebrar um pouco a rotina. Sentia-se aborrecida demais para gritar.
Ficou
diante da janela e se dedicou a contemplar o pôr do sol que desvanecia sobre os
campos, enquanto pensava em Joseph.
Um
instante depois, Demétria pensou que o havia conjurado em sua mente, porque Joseph
apareceu, de repente, justamente quando ela pensava em quanto queria vê-lo. A
porta se abriu, ricocheteando no muro de pedra para anunciar sua chegada, e um
instante depois ali estava ele, imponente e poderoso, realmente muito arrumado
para tranquilidade dela. Para falar a verdade, Demétria poderia passar o resto
da noite contemplando-o.
-
Kevin vai tirar seus pontos - disse Joseph.
Então,
entrou nos aposentos e se deteve diante da lareira. Cruzou os braços sobre seu
peito, o que fez com que Demétria imaginasse de que aquela missão o aborrecia
terrivelmente.
Não
pôde evitar sentir-se ferida pela frieza de suas maneiras, mas estava decidida
a não deixá-lo saber. Deu a ele o que esperava ser uma expressão máxima de
serenidade.
Deus,
ela era realmente digna de se ver! Demétria usava um vestido de cor creme,
complementado com uma sobreveste azul. Um cordãozinho delicadamente trançado
rodeava sua esbelta cintura, acentuando suas curvas femininas.
Seus
cabelos não estavam recolhidos, mas sim repousavam sobre a curva de seus seios.
Era uma frisada massa de mechas digna de qualquer rainha, pensou Joseph, da cor
do zibelina, embora as mechas também estivessem entrelaçadas com alguns fios
vermelhos. Lembrou-se da sensação de seu contato, tão suave e sedoso.
Franziu
o cenho, subitamente irritado ante a maneira com que ela o perturbava. Também
não podia deixar de olhar para Demétria; então admitiu que tinha sentido falta
de tê-la junto dele. O pensamento era muito estúpido, algo que Joseph jamais
admitiria abertamente, mas, de qualquer maneira, ali estava, esporeando-o para
uma nova compreensão.
De
repente, percebeu que Demétria usava suas cores, e sorriu. Duvidava que ela
soubesse daquele fato, e se ela não parecesse tão malditamente adorável, ele
poderia ter mencionado o fato, só para ver sua reação.
Demétria
não podia olhar para Joseph por muito tempo. Temia que ele visse em sua
expressão o quanto havia sentido falta dele. Então ele iria se regozijar,
pensou.
-
Eu gostaria de saber o que você vai fazer comigo, Joseph - disse. Voltou seu
olhar para o chão, não se atrevendo a levantar os olhos para ver como ele
estava interpretando sua pergunta, porque não queria perder a linha de seus
pensamentos.
Sim,
sua capacidade de se concentrar estava sempre ameaçada, quando ela estava
próxima a Joseph. Demétria não entendia sua reação diante ele, mas a aceitava
mesmo assim. O barão era capaz de colocá-la nervosa, sem nem mesmo chegar a
dizer uma palavra. Ele perturbava a paz de sua alma, confundindo-a também.
Quando ele estava por perto, Demétria queria que ele fosse embora. Mas quando
Joseph estava longe dela, então sentia falta dele.
Demétria
deu-lhe as costas e voltou a olhar pela janela.
-
Pensa em me manter trancada nesta torre durante o resto de minha vida? -
perguntou-lhe finalmente.
Joseph
sorriu pela preocupação que ouviu em sua voz.
-
Demétria, a porta não estava trancada - ele disse.
-
Está brincando? - perguntou Demétria, virando-se e lançando-lhe um olhar de
total incredulidade -. Está tentando me dizer que não estive trancada nesta
torre durante toda a semana? - Deus, sentia desejos de gritar -. Poderia ter
escapado?
-
Não, não poderia ter escapado, mas poderia ter saído do quarto - respondeu
Joseph.
-
Não acredito em você - Demétria avisou. Cruzou os braços diante dela, imitando
zombeteiramente a postura de Joseph -. Mentiria só para me fazer parecer
estúpida. Conta com uma vantagem muito injusta, Joseph, porque eu nunca, nunca
minto. Por isso - concluiu -, o combate é muito desigual.
Kevin
apareceu no vão da porta. O irmão de Joseph tinha seu habitual cenho franzido.
Mesmo assim também parecia um pouco receoso, e ficou olhando para Demétria
durante um bom tempo, antes de entrar nos aposentos.
-
Você vai segurá-la desta vez - disse a Joseph.
Demétria
dirigiu um olhar cheio de preocupação a Joseph e o viu sorrir.
-
Agora Demétria não tem febre, Kevin, e é tão dócil como uma gatinha - observou.
Logo se virou para Demétria e disse que fosse até a cama para que Kevin pudesse
tirasse sua bandagem.
Demétria
assentiu. Sabia o que deveria fazer, mas a timidez prevaleceu à razão.
-
Se vocês dois saírem, terei um minuto de privacidade para me preparar.
-
Preparar o quê? - perguntou Joseph.
-
Sou uma dama delicada - balbuciou Demétria -. Não permitirei que nenhum de
vocês veja nada que não seja minha ferida. É por isso que vou me preparar.
Demétria
ficou vermelha o suficiente para que Joseph compreendesse que ela falava muito
a sério. Kevin começou a tossir, mas o suspiro de Joseph foi mais sonoro.
-
Não é momento para modéstia, Demétria. Além disso, eu já vi suas... pernas.
Demétria
ergueu os ombros, fulminou-o com o olhar e logo se apressou em ir para a cama.
Agarrou uma das peles de animal que tinha caído no chão, e quando se deitou
sobre a cama, estendeu a pele por cima dela e subiu suas roupas até o início de
suas coxas.
Deixou
à mostra apenas a bandagem exposta, ela começou a longa tarefa de desenrolar o
tecido.
Kevin
se ajoelhou perto dela enquanto a bandagem era retirada; e foi aí que Demétria
percebeu que havia uma sombra escura debaixo de seu olho esquerdo. Perguntou-se
como ele teria conseguido aquele arroxeado, e então chegou à conclusão de que o
responsável por aquilo provavelmente fosse um de seus irmãos. Que pessoas tão
odiosas, disse a si mesma, inclusive quando percebeu que Kevin estava sendo
muito delicado, enquanto retirava os pegajosos fios de sua pele.
-
Ora, Kevin, não é pior que um beliscão - disse com alívio.
Joseph
se tinha postado junto à cama, e parecia disposto a saltar sobre ela, caso
Demétria se mexesse.
Ter
dois homens olhando sua coxa era bastante constrangedor. Demétria não demorou a
se sentir bastante incomodada. Então disse a primeira coisa que veio a sua
cabeça, pensando que assim conseguiria desviar a atenção de Joseph de sua coxa.
-
Por que há fechaduras em cada lado da porta? - perguntou.
-
O quê? - perguntou ele efetivamente perplexo.
-
Refiro-me à ripa de madeira que desliza nos aros para trancar a porta -
explicou Demétria apressada -. Existem aros em ambos os lados. Por que isso? -
perguntou, fingindo interesse por um assunto tão ridículo.
Não
obstante, sua estratégia funcionou. Joseph se virou, olhou a porta e voltou a
olhar para Demétria. Agora estava observando sua face, esquecendo, no momento,
sua coxa descoberta.
-
E então? - ela o desafiou -. Ou ficou tão confuso quando fez a porta que não
conseguiu decidir de que lado deveria colocar as trancas?
-
Demétria, pela mesma razão pela qual a escada foi construída à esquerda -
replicou Joseph. Uma tênue, mas inegável luz brilhou em seu olho, e Demétria
percebeu a mudança que aquilo produzia em sua feição. Quando sorria, Joseph não
era tão preocupante.
-
E qual é essa razão? - perguntou, sorrindo consigo mesma.
-
Que eu prefiro assim.
-
Essa é uma razão muito mesquinha - concluiu Demétria.
Ela
continuou sorrindo até que percebeu estar segurando a mão de Joseph.
Apressadamente deixou-a livre e voltou a olhar para Kevin.
O
irmão olhava para Joseph. Ele levantou e disse -: curou-se.
Demétria
baixou o olhar para a linha espantosamente irregular que marcava sua coxa e
torceu o rosto ante aquela horrível cicatriz. Mas recuperou rapidamente o
controle de si mesma, envergonhando-se de sua reação superficial. Ora, se ela
nem mesmo era vaidosa!
-
Obrigada, Kevin - ela disse, enquanto puxava a coberta sobre sua perna.
Joseph
não tinha visto o resultado do trabalho do Kevin. Inclinou-se para frente para
afastar a pele do animal. Demétria empurrou sua mão e apertou a ponta do
cobertor contra a cama.
-
Seu irmão acaba de dizer que estou curada, Joseph.
Obviamente
ele queria ver com seus próprios olhos. Demétria soltou um gritinho de
surpresa, quando Joseph afastou o cobertor com um tapa. Demétria tentou baixar
o vestido, mas Joseph agarrou suas mãos e lenta, deliberadamente, foi subindo a
sobreveste até que a coxa de Demétria ficou totalmente descoberta.
-
Não há nenhuma infecção - observou Kevin, dirigindo-se a Joseph, enquanto contemplava
a cena do outro lado da cama.
-
Sim, está curada - anunciou Joseph com uma inclinação de cabeça.
Quando
soltou as mãos de Demétria, ela se apressou em esticar seu vestido. Perguntou:
-
Não acreditou em seu próprio irmão? - perguntou, parecendo horrorizada.
Joseph
e Kevin intercambiaram um olhar que Demétria não pôde interpretar.
-
É obvio que não acreditou nele - murmurou ela -. Provavelmente deu-lhe o olho
preto - acrescentou, deixando seu desgosto à mostra -. É isso que eu poderia
esperar dos irmãos Wexton.
Joseph
mostrou sua exasperação virando-se e caminhando até a porta. Seu forte suspiro
o seguiu. Kevin permaneceu onde estava, contemplando Demétria com o cenho
franzido por um minuto a mais, e então seguiu seu irmão.
Demétria
repetiu seu agradecimento.
-
Já sei que ele ordenou que cuidasse da minha ferida, Kevin, mas agradeço de
qualquer maneira.
Demétria
estava certa de que aquele homem tão rude e mal-humorado desprezaria seu
agradecimento, e se preparou para suportar seus insultos. Fosse qual fosse a
indelicadeza que lhe dissesse, ela humildemente dar-lhe-ia a outra face.
Kevin
não se incomodou em dizer nada. Demétria se sentiu bastante decepcionada. Como
ia poder demonstrar aos Wexton que era uma donzela amável e delicada se eles
não lhe davam ocasião de fazê-lo?
-
O jantar será servido dentro de uma hora, Demétria. Pode se juntar a nós no
salão quando Nicholas vier buscá-la.
Joseph
saiu pela porta depois de dar o recado. Kevin, entretanto, se deteve e se virou
lentamente para olhar, outra vez, para Demétria. Parecia estar meditando alguma
decisão.
-
Quem é Polifemo? - perguntou finalmente.
Demétria
abriu muito os olhos. Que pergunta mais estranha.
-
Ora, era um gigante que mandava nos Ciclopes no antigo conto de Homero -
respondeu -. Polifemo era um gigante terrivelmente deformado que tinha um olho
apenas, enorme e justo no meio de sua testa. Comeu os soldados de Ulisses no
jantar - acrescentou com um delicado encolhimento de ombros.
Kevin
não gostou de sua resposta.
-
Pelo amor de Deus - murmurou.
-
Não deveria falar o nome de Deus em vão! - gritou Demétria -. E que motivo você
tem para me perguntar sobre quem era Polifemo?
O
som de uns passos que se afastavam rapidamente fez com que Demétria imaginasse
que Kevin não iria responder.
Mas
mesmo assim, nem a indelicadeza do irmão de Joseph conseguiu diminuir o prazer
que Demétria estava sentindo. Saltou da cama e soltou uma gargalhada. Deus, por
fim ia poder sair daquele quarto! Não tinha acreditado, nem por um só instante,
que a porta tivesse permanecido sem fechar durante toda a semana. Joseph havia
dito aquilo só para chateá-la. Claro, pensou, porque ele me fez acreditar que
eu era estúpida, caso eu tentasse.
Demétria
vasculhou sua mochila. Desejou ter um bonito vestido para usar, e então
percebeu quão insensato era aquele desejo. Era sua prisioneira, pelo amor de
Deus, não sua convidada.
Precisou
de apenas cinco minutos para se arrumar. Ela caminhou pelo quarto por um tempo,
e depois foi até a porta, averiguar quão segura estava fechada. Com o primeiro
puxão, a porta se abriu tão bruscamente que quase fez com que Demétria caísse.
Era
evidente que Joseph tinha deixado a porta aberta só para preparar-lhe uma
armadilha. Demétria queria acreditar aquela história... até que se lembrou que
Joseph tinha saído do quarto antes de Kevin.
Um
som subiu pelo vão da escada, atraindo Demétria ao patamar. Inclinou-se sobre o
corrimão e se esforçou para ouvir a conversa, mas a distância demonstrou ser
muito longa para distinguir qualquer palavra. Demétria finalmente se deu por
vencida e voltou a entrar em seu quarto. Então viu a longa madeira apoiada no muro
de pedra e, seguindo um impulso, pegou-a e arrastou-a para dentro do quarto.
Escondeu a tranca debaixo da cama, sorrindo para si mesma ante a ousadia de sua
ação.
-
Posso ter vontade de deixar você trancado do lado de fora, Joseph, ao invés de
permitir que você me deixe trancada aqui dentro.
Como
se ela pudesse permitir muito de coisa alguma, pensou. Deus, tinha passado
muito tempo confinada dentro daquele quarto e certamente essa era a razão pela
qual via tanta graça em seus pensamentos.
Nicholas
demorou uma eternidade para vir buscá-la. Demétria já tinha chegado à conclusão
de que Joseph tinha mentido, e que só estava sendo cruel com ela.
Quando
ouviu o ruído de passos, sorriu com alívio e se apressou em postar-se junto à
janela. Alisou seu vestido e arrumou bem os cabelos, obrigando-se a adotar uma
expressão de calma.
Nicholas
não estava franzindo o cenho. Isso já era uma surpresa. Naquela noite estava
muito elegante, vestido com a cor da floresta na primavera. Aquele verde quente
o deixava bonito.
Quando
falou, havia ternura em sua voz.
-
Lady Demétria, queria falar um momento com você antes de descermos - anunciou
em lugar de falar uma saudação.
Depois
ele lançou um olhar cheio de preocupação, juntou as mãos atrás das costas e
caminhou diretamente para frente dela.
-
Miley provavelmente vai se juntar à família. Ela sabe que você está aqui e...
-
Sente-se muito infeliz?
-
Sim, apesar de ser algo mais que um mero sentir-se infeliz. Miley não disse
nada, mas a expressão que há em seus me deixou um pouco preocupado.
-
Por que me está contando tudo isto? - perguntou Demétria.
-
Digo isso porque senti que lhe devia uma explicação, para que assim você
pudesse se preparar.
-
Por que está preocupado? É evidente que mudou consideravelmente a opinião que
tinha a meu respeito. É porque ajudei você durante a batalha contra meu irmão?
-
Bem, é obvio que sim - balbuciou Nicholas.
-
Esta é uma razão realmente lamentável - disse Demétria.
-
Arrepende-se por ter salvado minha vida? - perguntou Nicholas.
-
Você não entendeu, Nicholas. Sinto muito por ter sido obrigada a tirar a vida
de outro homem para poder ajudar você - ela explicou -. Mas não lamento ter
sido capaz de lhe ajudar.
-
Lady Demétria está se contradizendo - disse Nicholas. Parecia muito confuso.
Ele
possivelmente não entenderia. Ele se parecia muito com seu irmão. Sim, supôs
Demétria, Nicholas estava acostumado a matar, e nunca compreenderia a vergonha
que ela estava sentindo pela maneira com havia se comportado. Deus, ele
provavelmente veria sua ajuda como um ato heroico!
-
Eu preferiria que tivesse encontrado algo de bom em mim e que essa fosse a
razão pela qual mudou de opinião.
-
Não entendo você - observou Nicholas, encolhendo-se de ombros.
-
Eu sei. - As palavras foram ditas com tanta tristeza que Nicholas sentiu o
impulso de consolá-la.
-
É uma mulher realmente excepcional.
-
Tento não ser. Mas é difícil, porém, quando você considera meu passado.
-
Quando digo que a vejo como excepcional, estou lhe fazendo um elogio - replicou
Nicholas por sua vez, sorrindo ante a preocupação que tinha percebido na voz
dela e perguntou-se se Demétria acharia que excepcional significasse um tipo de
defeito.
Sacudiu
a cabeça e virou-se para conduzi-la escada abaixo, explicando a Demétria que se
ela escorregasse, então ela teria que se agarrar rapidamente nos ombros dele
para não perder o equilíbrio. Os degraus estavam um pouco úmidos, e havia
alguns lugares bastante escorregadios.
Nicholas
manteve um incessante monólogo enquanto desciam a escada, mas Demétria estava
muito nervosa para poder escutá-lo. Por dentro parecia um autêntico feixe de
nervos ante a possibilidade de enfim conhecer Miley.
Quando
chegaram à entrada do salão, Nicholas se apressou em ficar ao lado de Demétria,
oferecendo-lhe o braço. Demétria rechaçou aquele gesto tão galante, temerosa de
que a mudança de atitude de Nicholas não fosse bem vista entre seus irmãos.
Com
uma pequena sacudida em sua cabeça, Demétria cruzou as mãos diante dela e
voltou sua atenção para o salão. Céus, era de proporção realmente gigantesca,
com uma lareira de pedra ocupando uma considerável porção da parede na frente
dela. À direita da grande lareira, e a certa distância dela, havia uma enorme
mesa, longa o bastante para acolher, pelo menos, umas vinte pessoas. A mesa
estava colocada em cima de uma plataforma de madeira. Tamboretes cheios de
sinais se alinhavam ao longo dos dois lados da mesa, alguns deles na posição
vertical, mas outros virados.
Um
aroma estranho chegou até Demétria, e ela enrugou o nariz em resposta. Então
olhou a seu redor e em seguida avistou a causa daquele aroma. Os juncos que
cobriam o chão da sala estavam escurecidos pelo passar do tempo. De fato,
estavam cheios de sujeira acumulada. Um grande fogo ardia na lareira,
esquentando o mal cheiro, e como se isso não fosse suficiente para revolver seu
estômago, uma dúzia de cães acrescentava àquela pestilência o aroma da sujeira
de seus corpos, enquanto dormiam colados uns aos outros, formando uma pilha
satisfeita no centro da sala.
Demétria
ficou completamente atônita com aquela desordem, mas estava decidida a guardar
seus pensamentos para ela mesma. Se os Wexton desejavam viver igual aos
animais, então que assim fosse. Certamente pouco lhe importava o que fizessem.
Quando
Nicholas a empurrou suavemente com o cotovelo, Demétria andou na direção da
plataforma. Kevin já estava sentado à mesa, de costas para a parede que se
elevava atrás dele. O irmão de Joseph observava Demétria e seu rosto
demonstrava estar mergulhado em profundas reflexões sobre alguma coisa. Tratava
de olhar através de Demétria, da mesma maneira que Demétria fingia agir com
indiferença.
Uma
vez que ela e Nicholas ocuparam seus lugares à mesa, soldados de diversas
categorias e altura lotaram no salão. Os recém-chegados ocuparam os bancos
restantes, salvo o que havia na cabeceira da mesa, junto ao lugar de Demétria.
Ela imaginou que o banco vazio pertencesse a Joseph, já que ele era o chefe do
clã Wexton.
Demétria
preparava-se para perguntar a Nicholas quando Joseph se reuniria com eles,
quando a voz de Kevin ressoou no salão.
-
Gerty!
O
alarido levou embora a pergunta de Demétria. A mensagem foi prontamente
atendida com uma estrondosa resposta, procedente da despensa que havia à
direita do salão:
-
Já ouvi você!
Em
seguida, Gerty apareceu, equilibrando-se com uma pilha de pranchas vazias
segurando em um braço e uma grande bandeja cheia de carne no outro. Duas outras
jovens criadas seguiram os passos de Gerty, carregando outras bandejas
adicionais, todas elas transbordantes de comida. Uma terceira criada apareceu
atrás delas para colocar fim à procissão, com pães crocantes nas mãos e outros
mais seguros sob os braços.
O
que ocorreu a seguir foi tão repulsivo que Demétria ficou sem fala. Gerty
depositou os pratos ruidosamente no centro da mesa, e indicou com um gesto às
outras criadas que fizessem o mesmo. As pranchas usadas para comer voaram pelos
ares como discos movidos em um campo de batalha, girando loucamente ao redor
dela, antes de aterrissarem sobre a mesa, seguidas por gordas jarras de
cerveja. Os homens, encabeçados por Kevin, começaram a comer imediatamente.
Obviamente
aquilo representava algum tipo de sinal para os cães adormecidos, já que todos
se apressaram em se levantar de uma vez e correram para ocupar posições ao
longo de ambos os lados da mesa. Demétria não entendeu a razão daquele
comportamento tão estranho até que o primeiro osso passou voando por cima dos
ombros de um dos soldados. O osso descartado foi recolhido imediatamente por um
dos maiores cães, uma espécie de mastim que era quase duas vezes maior que os
galgos que estavam perto deles. A seguir houve uma série de ferozes grunhidos
até que outro resto bruscamente descartado da mesa foi arrojado por cima de
outro ombro, e logo este foi seguido por mais e mais restos, até que todos os
cães ficaram freneticamente entretidos em se alimentarem, assim como os homens
que a rodeavam.
Demétria
observou os homens. Não podia esconder a repugnância que sentia e nem sequer
tentou fazê-lo. Ela, no entanto, perdeu o apetite.
Durante
todo o jantar nenhuma palavra decente foi dita, e por cima do estalar de
queixos dos cães, que ressoava como cortina de fundo, só se podia ouvir os
grunhidos obscenos de homens profundamente concentrados em desfrutar de seus
pratos.
A
princípio Demétria pensou que aquilo era algum tipo de truque para fazê-la
vomitar, mas como a coisa continuou até que todos os homens encheram seus estômagos
e arrotaram suas satisfações, ela se viu obrigada a reconsiderar sua maneira de
pensar.
-
Não está comendo nada, Demétria. Não está com fome? - perguntou Nicholas com a
boca cheia de comida, já que, por fim, percebeu que Demétria não havia tocado
em nenhum alimento passado entre eles.
-
Tinha, mas a perdi - sussurrou Demétria.
Viu
como Nicholas bebia um longo gole de cerveja e depois limpava a boca com a
manga de sua túnica. Demétria fechou os olhos.
-
Diga-me uma coisa, Nicholas - conseguiu murmurar finalmente -. Por que razão os
homens não esperaram por Joseph? Eu imagino que ele exigiria isso.
-
Oh, Joseph nunca come conosco - respondeu Nicholas. Arrancou um pedaço de pão
de uma enorme fogaça e ofereceu uma parte a Demétria. Ela sacudiu a cabeça.
-
Joseph nunca como com vocês?
-
Não, desde que nosso pai morreu e Mary ficou doente - afirmou Nicholas.
-
Quem é Mary?
-
Era - corrigiu-a Nicholas -. Agora está morta. - Arrotou antes de continuar
falando -. Mary era a governanta. Já tinha passado muitos anos da sua hora de
morrer - prosseguiu, demonstrando bastante falta de sensibilidade na opinião de
Demétria -. Eu pensei que ela sobreviveria a todos nós. Miley não queria nem
ouvir falar em substituí-la, porque dizia que isso feria seus sentimentos. No
final, seus olhos estavam falhando e a metade das vezes ela não podia encontrar
a mesa.
Nicholas
deu outra enorme dentada na carne e lançou distraidamente o osso por cima de
seu ombro. Demétria se viu obrigada a desviar do resto de comida. Uma nova onda
de raiva se apoderou dela.
-
Em todo caso - continuou Nicholas -, Joseph é o senhor desta fortaleza. Sempre
se mantém o mais distante possível da família. Acredito que também prefira
comer sozinho.
-
Não duvido - murmurou Demétria.
E
pensar que ela tinha tido tanta vontade de sair de sua casa!
-
Os homens de Joseph sempre comem com semelhante entusiasmo? - perguntou.
Sua
pergunta pareceu deixar Nicholas bastante confuso. Encolheu os ombros e disse:
-
Quando estão de serviço durante um dia inteiro, eu diria que sim.
Quando
Demétria já estava começando a pensar que não poderia continuar vendo aqueles
homens nem um instante a mais, a terrível provação chegou a um brusco final. Os
soldados se levantaram um a um, arrotaram e partiram. Se o ritual não tivesse
sido tão repugnante, Demétria poderia ter achado graça.
Os
cães também se retiraram, dirigindo-se com lânguido andar para a lareira para
formar uma nova pirâmide diante dela. Demétria percebeu que aqueles animais
eram mais disciplinados que seus donos. Nenhum deles se despediu com um arroto.
-
Não comeu nada - disse Nicholas -. Não gostou do jantar? - perguntou. Tinha
falado em voz muito baixa, e Demétria imaginou que assim o fazia para que Kevin
não pudesse ouvir o que estava dizendo.
-
Isso era um jantar? - perguntou Demétria, sem poder evitar que a raiva que
sentia aparecesse em sua voz.
-
Como você o chamaria? - interveio Kevin, subitamente, com um franzido no cenho
do tamanho da sala.
-
Eu chamaria de engolir a comida.
-
Não entendo o que quer dizer com isso - replicou Kevin.
-
Pois então, eu terei um imenso prazer em explicar - respondeu Demétria -. Vi
animais que tinham melhores maneiras. - Assentiu, dando assim mais ênfase a seu
comentário -. Uma ninhada de homens comia sua comida, Kevin. O que acabo de
presenciar não foi um jantar. Não, porque era apenas um bando de animais
vestidos de homens que enchiam o bucho. Isso está claro o bastante para você?
O
rosto do Kevin foi-se avermelhando durante o discurso de Demétria. Parecia a
ponto de saltar sobre da mesa e estrangulá-la. Demétria estava muito furiosa
para poder se importar. Extravasar sua raiva a fez sentir bem.
-
Acredito que você deixou sua posição sobre isso muito clara. Não está de
acordo, Kevin?
Oh,
Deus, era Joseph quem acabava de falar e sua grave voz tinha reverberado atrás
dela. Não se atreveu a se virar, temendo perder sua recém-encontrada coragem.
Demétria
o sentia terrivelmente perto dela. Ela se inclinou um pouco para trás, de
maneira quase imperceptível, e sentiu como as coxas de Joseph roçavam seu
ombro. Demétria percebeu que não deveria tocá-lo, porque se lembrava muito bem
do poder que encerravam aquelas coxas tão musculosas.
Decidiu
que o faria cair da plataforma. Demétria levantou-se, virando-se rapidamente ao
mesmo tempo em que se incorporava, mas se viu comprimida contra o barão de
Wexton. Joseph não tinha cedido nem um único centímetro, e agora era Demétria
que se via obrigada a deslizar cautelosamente ao redor dele. Recolheu suas
saias e desceu da plataforma, virando-se novamente para Joseph com o firme
propósito de dizer o que pensava sobre aquele bárbaro jantar. Mas, cometeu o
erro de levantar o olhar para ele, e se pegou contemplando seus olhos cinza e
sentiu como a coragem lhe escapava.
Aquele
poder místico que Joseph parecia possuir sobre a mente de Demétria era
realmente muito constrangedor. Agora ele o usava, pensou consigo mesma, para
roubar seus pensamentos. Que Deus a ajudasse, porque nem sequer podia se
lembrar do que gostaria de dizer.
Sem
que tivesse chegado a pronunciar uma única palavra de despedida, Demétria deu
meia volta e começou a se afastar lentamente. Ela considerou aquilo como uma
grande vitória, porque na realidade tinha preferido correr.
Já
tinha percorrido metade da distância que a separava da entrada do salão quando
a ordem de Joseph a deteve.
-
Não dei permissão para que saísse, Demétria.
Cada
palavra foi articulada com uma grande lentidão.
Demétria
se virou para Joseph com as costas rígidas, dirigiu-lhe um sorriso que não
podia ser menos verdadeiro e lançou sua resposta com o mesmo tom exagerado que
ele tinha empregado.
-
Eu não pedi permissão.
Demétria
teve tempo de ver a feição de espanto de Joseph antes de voltar a dar-lhe as
costas. Ela começou a andar, murmurando para si mesma que afinal de contas ela
não era nada mais que uma prisioneira, e que os prisioneiros certamente não
tinham que obedecer a vontade de seus captores. Sim, as injustiças a ela
infligidas eram realmente desleais. Ela era uma dama doce e delicada.
Demétria
estava tão concentrada falando com seus sussurros, que não ouviu quando Joseph
se moveu. Quando sentiu como suas enormes mãos posavam sobre seus ombros,
Demétria pensou de maneira frenética que agora ele acabava de agir como um
lobo.
Joseph
aplicou uma sutil pressão para detê-la, mas na realidade ela não era
necessária. Assim que ele a tocou, ele sentiu como a rigidez abandonava seus
ombros.
Demétria
se apoiou nele. Joseph a sentiu tremer, e foi então que percebeu que ela não
prestava a menor atenção nele. Não, Demétria estava encarando a entrada do
salão. Ela estava encarando Miley.