Assim
que viu a silhueta turva da criada se afastar, Demetria voltou-se para o pai e
para a madrasta meio insegura. Taylor permanecera calada, mas irradiava raiva
por todos os poros ao ver seus planos arruinados.
—
Venha comer, Demi — disse-lhe o pai com doçura. — Você vai precisar bem mais do
que chá e torradas para enfrentar o dia de hoje.
Demetria
foi se juntar a ele na sala de jantar, desejando saber como acertar as coisas
com a madrasta. Dispensar a criada era só urna maneira de feri-la. Taylor
sempre demonstrara ressentimento por ela e esse sentimento só fizera crescer ao
longo dos anos. Como não sabia a causa, também não sabia como consertar a
situação.
Quando
lady Mowbray chegou, Demetria foi ter com a futura sogra no vestíbulo.
Taylor,
que estivera em seus aposentos, descia as escadas quando Demetria cumprimentava
lady Mowbray. Temendo que ela ainda estivesse em péssimo humor, Demetria não a
esperou para se despedir.
—
Minha nossa! — lady Mowbray comentou tão logo se instalaram na carruagem —, que
expressão carregada tinha lady Lovato. Parece que ela não é uma pessoa diurna.
Demetria
suspirou e pensou em simplesmente confirmar que ela não era, mas, refletindo
melhor, decidiu falar a verdade e contou a lady Mowbray o incidente da quebra
de seus óculos e a reação de Taylor.
Lady
Mowbray procurou consolá-la, concordando que não era culpa de ninguém, afinal
acidentes ocorrem, tecendo depois um comentário que soou estranho para Demetria:
—
Joseph ficará aliviado.
Sem
saber o que dizer, Demetria voltou o rosto para a janela, tentado esconder sua
preocupação. Será que ele detestava óculos tanto assim? Estragaria tudo quando
voltasse a usá-los? Ela que chegara a pensar em perguntar a lady Mowbray se não
poderiam dar uma paradinha para comprar um novo par na cidade, não cogitava
agora nem sequer de sugerir.
Demetria
reconsiderou o assunto enquanto a carruagem percorria as ruas da cidade e
continuou pensando nos óculos durante a prova do vestido, que, segundo a
opinião geral, era muito lindo. Assim que terminou de provar, a costureira a
ajudou a desvesti-lo e voltou toda a sua atenção para lady Mowbray e o vestido
que iria usar no casamento. Demetria caminhou pela loja e se dirigiu à porta da
frente, ainda com os óculos na cabeça.
—
Há algo em que possa ajudá-la, milady? Quer um chá enquanto aguarda?
Ela
reconheceu a voz da assistente da costureira. Sem hesitar então perguntou:
—
Há alguma ótica por aqui?
—
Há, sim, duas lojas acima — informou a assistente, satisfeita por poder ser
útil.
—
Obrigada — Demetria murmurou, dando uma olhada para a sala no fundo da loja. A
costureira demoraria um pouco para vestir lady Mowbray e fazer os acertos no
vestido dela, como fizera no seu. Vendo que a assistente se afastara, ela abriu
a porta e saiu da loja. Hesitou por um momento, mas resolveu ir procurar a
ótica. Afinal, ficava tão próximo que não haveria risco algum.
Como
a assistente havia lhe informado, duas lojas acima, ela encostou o rosto na
vitrine e confirmou que a ótica era lá mesmo. Apenas entrar naquela loja já lhe
fez bem. Estava chegando o momento de enxergar novamente.
—
Em que posso ajudar, milady?
Demetria
teve um sobressalto, pois não percebera a aproximação do vendedor. Procurando
acalmar-se, disse:
—
Preciso de óculos.
—
Muito bem, está no lugar certo, milady. Tenho uma grande variedade.
Demetria
deixou a ótica vários minutos depois, com um novo par de óculos pendurado no
nariz e um largo sorriso no rosto. Que maravilha. Era uma bênção poder ver de
novo.
Contemplou
a rua de um lado para o outro, observando pequenos detalhes das roupas e dos
rostos das pessoas que passavam. Depois voltou sua atenção para as carruagens e
os cavalos que circulavam. Um suspiro de satisfação escapou-lhe dos lábios. Não
queria que lady Mowbray desse por sua falta, pois não pretendia comentar com
ela sobre sua escapada e a compra dos óculos. Queria primeiro entender direito
a opinião de Joseph sobre o uso de óculos. Se ele realmente não gostasse, ela
aguardaria mais um pouco antes de usá-los na frente dele. Mas só o tempo
suficiente para que ele a amasse de fato. Depois, os óculos certamente não
fariam diferença para ele.
Pelo
menos era o que esperava, porque não tinha vontade alguma de passar a vida às
cegas.
Parando
à porta da costureira, Demetria deu uma última olhada ao mundo ao seu redor.
Tirou finalmente os óculos e os guardou em um pequeno bolso da saia. Por
enquanto seriam seu segredinho. Só os usaria quando estivesse sozinha.
Meio
cega de novo, Demetria mal entrara no ateliê da costureira quando lady Mowbray
veio depressa do fundo da loja.
—
Está pronta para irmos, querida? Pensei que poderíamos tomar chá na casa de
Joseph hoje. Assim você fica conhecendo a criadagem.
Demetria
levantou as sobrancelhas, surpresa.
—
Joseph tem uma casa só dele na cidade?
—
Tem, sim. Ele comprou quando ainda era jovem e rebelde. Queria um lugar onde
pudesse fazer o que quisesse — explicou lady Mowbray com um ar malicioso. —
Agora ele a mantém só para me aborrecer, acho. E evitar que eu fique dando
palpite para que vá a um baile ou outro ou assista a uma peça que não quer.
Demetria
esboçou um leve sorriso.
—
Um chá com Joseph será ótimo, milady.
—
Finalmente você chegou. — Joseph colocou o saco de moedas sobre a mesa e
recostou-se na cadeira com um suspiro quando Hadley apareceu. Martin Hadley era
o homem que havia contratado para pesquisar a razão de Demetria ter
desaparecido da sociedade e descobrir onde ele poderia encontrá-la novamente.
Joseph
havia usado o serviço de Hadley pela primeira vez vários anos antes quando
começaram a desaparecer algumas coisas da propriedade da família. O homem fora
recomendado por um vizinho a quem servira em diversas ocasiões, mostrando-se
muito competente ao lidar com tais assuntos. Hadley havia sido empregado como
lacaio na propriedade campesina da família. Na realidade, a única ocupação dele
fora descobrir para onde estavam sendo desviadas a prata e as relíquias da
família. Uma semana após entrar em cena, ele havia pego em flagrante a criada
responsável pelos roubos.
Joseph
ficara bastante impressionado. Passara a usá-lo em outras circunstâncias e
acreditava o bastante nele para incumbi-lo de localizar Demetria depois de
frustrados seus próprios esforços. A missão dele era descobrir a quais eventos
ela e a madrasta estavam frequentando na esperança de conseguir estar com ela
por alguns minutos. Naturalmente, essa necessidade acabara desde a noite de seu
noivado, e Joseph decidira fazer o acerto de contas com o rapaz. Era o que
então estavam fazendo naquele momento, mas essa não era a única razão pela qual
desejava vê-lo.
—
Obrigado, milorde, por me pagar tão rápido. Poucos são tão pontuais, precisam,
pelo contrário, ser caçados para pagar. — Com o saco de moedas devidamente
guardado no bolso, Hadley relaxou na cadeira e perguntou: — O senhor mencionou
em seu bilhete que há um outro assunto que quer que eu vá atrás.
—
Isso mesmo. Diz respeito a Demetria. — Joseph franziu o cenho e deixou seu
olhar vagar através da janela, contemplando o jardim. — É possível que alguém
esteja querendo fazer mal a ela. Creio que durante suas investigações você
tomou conhecimento do grande número de acidentes que ela tem sofrido?
Hadley
assentiu com a cabeça.
—
Ouvi dizer que a senhorita normalmente usa óculos, mas a madrasta os tirou
dela. Ela fica extremamente vulnerável a acidentes e sofre com isso.
Joseph
pareceu relaxar um pouco, aliviado de que o homem percebera coisas que mais
ninguém além dele via. Hadley era um bom homem. Esclareceria tudo.
—
É provável que a causa da maioria deles seja a falta dos óculos, mas há um ou
dois que me fazem pensar.
Hadley
comprimiu os lábios e depois disse:
—
Aposto que um deles foi a queda dela na rua quando quase foi atropelada por uma
carruagem.
Joseph
fez que sim com a cabeça, nada surpreso de que o homem tivesse ouvido falar a
respeito durante suas investigações. Hadley era conhecido por sua minúcia.
Após
Joseph relatar os fatos e explicar o que deveria ser feito, eles deixaram o
estúdio. Mal entraram no hall apareceu Jessop que, ao vê-los, apressou-se em ir
ao encontro deles.
—
Vai sair, milorde? — o homem perguntou com uma certa deferência, que Joseph achou
meio suspeita e sabia que não se devia apenas à presença de Hadley.
—
Vou, sim. Minha mãe combinou de tomarmos chá com Demetria depois de provarem os
vestidos, por isso vamos para lá. Elas já devem ter terminado as provas, não
acha?
—
Não saberia dizer, milorde — respondeu o criado secamente.
—
Hum, — Joseph não gostou muito do tom, mas simplesmente disse: — Traga a
carruagem para a frente da casa, por favor.
—
Pois não, milorde. — Assim que Jessop saiu, Joseph foi pegar seu casaco e
chapéu, bem como os de Hadley, e deixaram o hall para aguardar a carruagem do
lado de fora da casa.
—
O senhor está questionando o acidente com a carruagem por causa do que houve na
fonte? — Hadley perguntou enquanto esperavam que a carruagem chegasse.
—
Não só por isso, mas também pelo fato de que Demetria foi “jogada” na rua
quando alguém trombou com ela. E ela não tem a menor idéia de quem foi. Além
disso há também o episódio da queda na escadaria — Joseph argumentou.
—
Dessa queda não fiquei sabendo — disse Hadley. — O que aconteceu?
—
Como você deve saber, Demetria normalmente precisa que alguém a acompanhe onde
quer que vá; quem a acompanha quase sempre é a criada. Naquele dia, ela se
impacientou e resolveu descer sozinha. Acabou tropeçando em alguma coisa e
rolou escada abaixo. O estranho é que ninguém sabe em que ela tropeçou. —Joseph
esticou o pescoço para ver se a carruagem já estava chegando. — Pode ser um
exagero de minha parte, mas, na minha opinião, quando viram que ela tropeçou,
alguém poderia ter se interessado em saber o que havia causado a queda, no
entanto, ninguém o fez.
Hadley
permaneceu calado, refletindo sobre o que Joseph lhe contara.
—
Sei que não há razão para se concluir que ambos os acidentes foram outra coisa
senão meros acidentes. Mas, depois do incidente na fonte, tudo isso me
preocupa.
—
É muito conveniente que ela pareça ser estabanada se alguém realmente estiver
provocando esses acidentes — Hadley concluiu.
—
É o que também me passa pela cabeça — Joseph admitiu.
—
Se foi a madrasta quem tirou os óculos de Demetria, será que ela não está por
trás de tudo isso? — Hadley ponderou. — Ela não parece gostar muito de Demetria
pela maneira como a trata. Pelo menos, é o que me pareceu, mas posso estar
enganado.
—
Não, você não está enganado. Taylor parece identificar Demetria com a mãe
morta, a quem de certa forma vê como uma rival com quem compete pela afeição do
marido.
—
Compreendo — disse Hadley, silenciando com a chegada da carruagem.
Joseph
informou ao condutor da carruagem para onde desejava ir, entrou na carruagem e
ambos mantiveram-se calados até chegar à residência dos Lovato.
—
Lady Demetria não está em casa — Foulkes avisou ao abrir a porta e se deparar
com Joseph e Hadley.
—
Fiquei de me encontrar com ela e minha mãe aqui para tomarmos chá quando
chegassem —Joseph explicou.
—
Elas ainda não chegaram — informou o mordomo, com uma cara azeda.
Joseph
começava a pensar que teriam de aguardar na carruagem quando John Lovato surgiu
no hall e, ao vê-lo, logo os convidou para entrar.
—
Olá, Joseph. Entre! Demetria e sua mãe logo deverão estar de volta, a menos que
tenham parado em alguma loja para fazer compras. — Voltando-se para o mordomo,
ele disse: — Foulkes, acompanhe os cavalheiros até o salão para que aguardem Demi
e lady Mowbray lá.
—
Sim, senhor, milorde. — Foulkes abriu a porta e deu um passo para o lado para
permitir que entrassem.
—
Infelizmente, eu já estava de saída — explicou lorde Lovato, desculpando-se. —
Tenho uma reunião no clube com um velho amigo, caso contrário teria prazer em
lhes fazer companhia.
—
Não se preocupe, milorde. Talvez eu leve Hadley até a fonte enquanto esperamos
pela volta delas. Estou pensando em construir uma igual na minha casa de campo
e queria a opinião dele a respeito.
—
Ora, fique à vontade. Demetria realmente gosta muito da fonte. Sempre que pode
vai sentar-se e ler por lá. Ou costumava fazer isso — acrescentou com um leve sorriso.
— Antes de ficar sem os óculos. Por falar nisso, o par de reserva chegou esta
manhã.
Joseph
sentiu-se tenso diante da notícia, mas relaxou em seguida ao ouvir de lorde Lovato
que os óculos também haviam sido quebrados em um pequeno acidente.
O
alívio que Joseph sentiu foi quase palpável. Todo o seu corpo relaxou até que o
pai de Demetria acrescentou:
—
Preciso levá-la a uma ótica aqui na cidade para que compre óculos novos antes
do casamento.
—
Não há necessidade disso, milorde — Joseph rebateu rapidamente. — Eu mesmo
providenciarei para ela.
Lorde
Lovato hesitou um pouco e depois aquiesceu:
—
Como achar melhor. — Dirigindo-se então à porta, completou: — Com licença, então,
estou certo de que Demetria e lady Mowbray não demorarão.
—
Por aqui, senhores — Foulkes murmurou, após fechar a porta, encaminhando os
visitantes para o hall.
—
A partir daqui conseguiremos encontrar o caminho, Foulkes. Obrigado — disse
Joseph assim que o mordomo abriu as portas do salão.
—
Como queira — respondeu Foulkes, aquiescendo com a cabeça. Vou ver se a
cozinheira já está preparando o chá para tomarem quando as senhoras chegarem.
Joseph
abriu as portas francesas e caminhou na frente de seu acompanhante, que de vez
em quando olhava para trás para se localizar por onde estavam indo. Na noite do
baile, Joseph havia pulado o portão dos fundos, mas não teve problema de
encontrar a fonte. Sabia que ela ficava no fundo da propriedade, do lado
direito, por isso seguiu por trilhas que conduziam nessa direção.
—
Aqui estamos — finalmente disse, ao entrarem na clareira.
Hadley
parou, examinou a fonte, voltando-se depois para olhar a trilha por onde haviam
chegado até ali.
—
Foi por aqui que ela veio?
—
Essa é a trilha por onde Demetria e Joan voltaram, por isso presumo, que tenha
sido por ela que chegou até aqui — Joseph explicou e seguiu Hadley para
examinar as árvores no fim da trilha. Nenhuma era tão baixa a ponto de causar
qualquer problema. Nenhum dos dois precisara abaixar a cabeça para caminhar
entre as árvores, e a cabeça de Demetria batia na do queixo dele.
Hadley
virou-se para examinar a fonte de onde eles estavam.
—
Demetria achou que bateu a cabeça em um galho quando saía da trilha — Joseph começou.
— E lembra que, ao tropeçar, deu mais uns passos antes de cair e desmaiar.
Hadley
afastou-se ainda um pouco mais para pesquisar a fonte e sacudiu a cabeça.
—
Não foi dessa maneira que ela terminou na fonte.
—
Também acho que não — Joseph admitiu, contrariado.
—
E é evidente que ela não bateu a cabeça em galho algum. Mesmo que tivesse
tropeçado, os galhos são muito altos para que ela tivesse batido a cabeça.
—
Concordo.
—
Temo que o senhor esteja certo, milorde, — Hadley caminhou em direção ao
arvoredo do lado esquerdo da trilha e afastou com os pés a vegetação rasteira
para poder examinar o chão. — Não dá para acreditar que tenha sido um acidente.
—
Não. — Com o cenho fechado, Joseph foi mais uma vez olhar a fonte, recordando
como o coração quase lhe saltara do peito ao ver Demetria flutuando. Sabia que
estava interessado nela, mas só naquele momento a profundidade de seus
sentimentos ficara evidente. Era compreensível então que a ideia de que alguém
pudesse querer fazer mal a Demetria lhe fosse tão revoltante.
—
Ora, ora! O que temos aqui?
Joseph
voltou-se para olhar Hadley ao ouvir o tom ácido do comentário e viu que ele se
curvava para pegar alguma coisa do chão. Um momento depois o homem endireitou o
corpo, levantando um galho bem longo e grosso. Joseph foi imediatamente
postar-se a seu lado.
—
Você acha que Demetria pode ter derrubado esse galho?
—
Só se o tivesse serrado da árvore — Hadley respondeu em tom seco, mostrando a
ponta.
Joseph
notou as marcas do corte de uma serra no galho, depois os longos fios de cabelo
castanho que ficaram presos na ponta dele. Hadley tirou os fios de cabelo e
levantou uma sobrancelha.
—
Suponho que sejam de Demetria. Pelo menos, a cor parece.
Joseph
confirmou com a cabeça.
—
Isso significa que alguém antecipadamente cortou esse galho, a atraiu para cá e
a golpeou com ele. Depois ela foi jogada na fonte, sem dúvida com a expectativa
de que se afogasse. Ela só se salvou graças a seu plano de ter um encontro com
ela aqui naquela noite.
Joseph
sentiu um aperto no coração. E se ele tivesse escolhido um outro local para
encontrá-la, ou uma outra noite... Demetria poderia estar morta agora. Sentiu
um calafrio na alma à mera ideia de quão perto ele estivera de perdê-la.
Hadley
atirou o galho no chão novamente e esfregou as mãos para limpá-las.
—
E o incêndio?
Joseph
piscou os olhos.
—
O incêndio?
—
Sim, naquela mesma noite. Não houve um incêndio aqui e o senhor e Demetria foram
pegos em uma situação meio constrangedora?
—
Ah, sim. Não pensei mais nele. — Joseph apertou os lábios. — O fogo irrompeu
exatamente à porta do quarto dela. Parece que uma vela ficou ardendo na mesa do
hall e, de alguma maneira, caiu originando o incêndio, ou pelos menos é isso o
que todos presumem que aconteceu.
—
O senhor não acredita nisso?
—
A porta do quarto de Demetria estava trancada, ou bloqueada pelo lado de fora.
Não que isso importe porque estava extremamente quente quando percebi o fogo e
me aproximei dela. O fogo crepitava do outro lado. Tivemos que sair pela
janela. Mas se ela estivesse sozinha e dormindo...
Hadley
balançou a cabeça.
—
Vou começar a investigar sobre o incidente no mercado quando ela foi quase
atropelada pelos cavalos. Talvez não tenha passado de um acidente, como me
disse, mas vou especular por lá para ver se alguém se lembra de ter visto quem a
empurrou. Também vou conversar com o pessoal daqui sobre o dia em que ela caiu
da escada, mas...
—
Não concordo — retrucou Joseph, contra-argumentando: — Prefiro que ninguém
saiba que suspeitamos de que alguém esteja tentando prejudicá-la.
Hadley
ponderou:
—
E como fica Demetria? Se alguém estiver tentando matá-la, pode redobrar os
esforços agora para completar o serviço antes que ela se case com o senhor.
—
Eu pensei nisso. Estou pagando três empregados dos Lovato para ficarem de olho
nela. Tomei essa providência na própria noite do incêndio.
—
E quanto à criada dela? — Hadley perguntou.
Joseph
encolheu os ombros.
—
Bem, Joan já tem a incumbência de cuidar de Demetria e acompanhá-la por toda
parte. Além disso, receio que possa contar a Demetria, e não quero que ela
fique ansiosa ou assustada. Já está sob bastante estresse com os preparativos
para o casamento.
—
Acho que suas providências foram suficientes e...
—
Joseph Adam Montfort.
Tenso,
Joseph virou-se lentamente em direção à trilha na qual sua mãe surgia, trazendo
Demetria . Era óbvio que ele estava em apuros. Lady Mowbray só o chamava pelo
nome completo quando julgava que ele tivesse feito alguma coisa errada. Embora,
neste momento, ele não encontrava qualquer razão com que se preocupar. Assim,
sua atenção foi imediatamente desviada para Demetria.
Ela
estava usando um adorável vestido creme e os cabelos estavam puxados dos lados,
caindo atrás em uma linda cascata. Gostava mais quando ela se penteava assim do
que quando tinha um coque encaracolado no alto da cabeça, como todas as
mulheres usavam nos bailes. Ela estava linda.
—
Ora, pare de ficar olhando feito bobo para Demetria — lady Mowbray ralhou,
impaciente, provavelmente porque ele não estava lhe dando a devida atenção em
um momento em que se mostrava zangada. — Logo ela vai ser sua esposa e você
poderá se derreter à vontade. Agora, gostaria que você me ouvisse.
Joseph
piscou e voltou relutante o olhar para a mãe, perguntando:
—
O que fiz de errado?
—
Não se lembra de que propus um chá com Demetria hoje?
Joseph
levantou as sobrancelhas.
—
Claro que lembro. É por isso que Hadley e eu estamos aqui.
—
Ah, que amáveis —rebateu ela com um sorriso falso, que esmoreceu ao
acrescentar: — Só que ficamos de tomar o chá em sua casa!
—
Em minha casa?
Lady
Mowbray soltou um suspiro, exasperada.
—
Sim, Joseph, em sua casa. Você ficou de pedir aos criados que deixassem a casa
um brinco e que usassem a roupa de domingo para que fossem apresentados a
Demetria; assim ela teria a oportunidade de conhecer a nova casa e o pessoal
que nela trabalha antes do casamento.
Joseph
fitou a mãe, desconcertado. Agora que ela mencionara, tinha uma vaga lembrança
de ela ter comentado que seria uma boa maneira de Demetria ser apresentada ao
pessoal da casa. Quando isso se deu, não havia nem sequer entendido bem, mas
agora fazia todo o sentido.
A
mãe tivera uma ótima ideia, Joseph admitiu. Demetria não só mudaria de casa,
mas de vida com o casamento. Conhecer seu novo mundo facilitaria tudo para ela.
Pena que não tivesse prestado mais atenção à mãe para evitar aquele lapso.
Lady
Mowbray soltou um outro suspiro, depois olhou para Hadley.
—
Sr. Hadley, meu filho me falou do senhor.
Joseph
ficou tenso, receando que a mãe mencionasse o serviço que o homem havia
prestado para ele.
—
Demetria, esse é o Sr. Hadley. De vez em quando ele ajuda Joseph em algum
projeto. Sr. Hadley, esta é a minha futura nora, lady Demetria Lovato.
—
Lady Lovato. — Hadley caminhou sorridente até ela e estendeu-lhe a mão, não
deixando de levantar os olhos até o alto de sua cabeça.
Joseph
logo entendeu que ele queria ver o ferimento feito na noite do incêndio.
Entretanto, não havia mais sinal dele. Já havia passado uma semana e meia desde
o acidente.
—
Boa tarde, Sr. Hadley — Demetria cumprimentou-o. — Que tipo de ajuda o senhor
presta a Joseph?
Joseph
ficou tenso com a pergunta, mas não precisaria se preocupar. Hadley foi rápido
na resposta e mentiu sem hesitar:
—
Ah, em uma coisinha ou outra. Na verdade, em um pouco de cada coisa.
—
Ah — Demetria murmurou, mas pareceu ficar curiosa.
—
Na realidade — Hadley completou — Lorde Mowbray estava justamente me dizendo
esta manhã que seu próximo projeto é fazer uma fonte, no mesmo estilo da fonte
da casa de seu pai, em Mowbray. Foi, por isso, aliás, que me convidou para
tomar chá com as senhoras. Ele achou que seria bom conhecê-las e que eu assim
também poderia ter uma melhor idéia do que ele deseja para explicar ao pessoal
que vai trabalhar nessa obra.
Joseph
ficou maravilhado com a habilidade do homem.
—
Claro — disse Demetria com um largo sorriso. — Que linda surpresa.
—
Então o Sr. Hadley vai voltar conosco para sua casa para tomarmos chá lá, não
é?
—
Bem... — Joseph balbuciou, sem-graça. — Creio que Foulkes providenciou para que
a cozinheira fizesse o chá aqui.
—
Explicamos a confusão a Foulkes quando chegamos — Demetria informou. — E ele
disse que não nos preocupássemos. A cozinheira seria avisada que não era necessário
preparar nada.
—
Também explicamos a Jessop. — Foi a vez de a mãe informar. — E ele ficou de
pedir à sua cozinheira que o chá estivesse pronto no momento em que
chegássemos.
—
Vocês foram até lá? — Joseph perguntou, surpreso.
A
mãe assentiu com a cabeça.
—
Foi assim que ficamos sabendo que vocês estavam aqui. Foi Jessop quem nos
informou.
—
Ora, muito bem, então vamos para lá — Joseph concordou, imaginando como seu
pessoal estaria contrariado com ele naquele momento.
Caminharam
até a frente da casa e estavam se preparando para entrar na carruagem quando
Hadley disse:
—
Milorde, por mais agradável que seja tomar chá em tão boa companhia, acho
melhor começar logo a iniciar nosso último projeto.
—
É verdade, Hadley — Joseph concordou, estendendo-lhe a mão. — Muito obrigado.
Espero logo ter notícias suas.
O
homem apertou a mão de Joseph e aquiesceu com a cabeça. Despediu-se depois das
senhoras, agradecendo, e seguiu rua acima.
—
Por que o Sr. Hadley não quis ir tomar chá conosco? — Demetria perguntou quando
Joseph entrou na carruagem e ocupou o banco em frente às duas.
—
Porque tinha alguns negócios a tratar — Joseph respondeu vagamente, fitando-a
com carinho. Ela era um verdadeiro raio de sol naquele vestido creme e ele se
admirava de que ela lhe parecesse mais linda a cada vez que a via.
Lady
Mowbray começou a comentar sobre as provas dos vestidos que haviam feito pela
manhã, e Joseph mal conseguia ouvi-la durante o curto trajeto até sua casa,
disperso que estava em seus pensamentos. Passava-lhe pela cabeça a última vez
em que estivera com Demetria na carruagem e concluiu que era muito bom que sua
casa não fosse muito longe da de Lovato. Apesar da presença da mãe, já começava
a ficar excitado quando a carruagem parou.
Jessop
abriu a porta assim que Joseph e as duas senhoras se aproximaram dela.
—
Bem-vindo, milorde.
Bastou
uma olhada no rosto de Jessop para Joseph saber que estava em maus lençóis com
o mordomo e provavelmente com o restante do pessoal da casa. Imaginava que os
criados tivessem corrido como loucos para deixar tudo limpo e arrumado. Não que
tudo não estivesse sempre assim, mas eles deviam ter tentado caprichar um pouco
mais quando souberam que sua nova patroa iria visitá-los e o espaço de tempo
havia realmente sido muito curto.
—
Não fique aborrecido, Jessop — disse lady Mowbray ao entrar na casa. — Já fiz
um sermão para ele por não ter me dado ouvidos, nem avisado você.
—
Muito bem, milady — respondeu o mordomo, sem que sua expressão melhorasse um
pouco.
Joseph
deu um sorriso amarelo, mas sua atenção logo se voltou para Demetria que estreitava os olhos examinando a entrada
da casa, O esquema de cores ali era azul-escuro e lavanda, fazendo um fundo
perfeito para Demetria em seu vestido
creme. Ela parecia, sem dúvida, pertencer àquela casa.
—
Não se dê ao trabalho de olhar feio para ele, Jessop. Ele só tem olhos para a
noiva. Receio que meu filho esteja meio enfeitiçado e continuará assim por
algum tempo. Pelo menos até depois de se casar com Demetria . Ela não é encantadora,
Jessop?
—
Muito encantadora, milady — disse Jessop de pronto.
—
Eles vão me dar lindos netinhos, não acha?
—
Com certeza, milady.
Vendo
o rubor tomar conta do rosto de Demetria, Joseph lançou um olhar aos dois e
disse:
—
Estamos aqui e ouvimos tudo o que disseram.
—
Ah, então de vez em quando você me ouve? — lady Mowbray comentou rispidamente,
passando a mão pelo braço de Jessop e conduzindo-o para o hall. — Vamos ver que
a cozinheira conseguiu fazer para salvar o dia, bom homem. Joseph tem mesmo
muita sorte de ter um pessoal esperto e rápido como vocês. Não importa qual
seja a crise, vocês conseguem lidar com ela com grande presença de espírito e,
confesso, sempre fico impressionada.
Joseph
revirou os olhos ao ouvir a mãe adular o mordomo. Em poucos minutos, todo o
pessoal estaria se matando para agradá-la e ninguém mais se lembraria do caos
que tiveram de enfrentar por causa da visita inesperada.
—
Sinto muito toda essa confusão — murmurou Demetria baixinho. — Não
precisaríamos ficar para o chá se...
—
Que bobagem — Joseph interrompeu bruscamente e deu um passo para a frente para
tomá-la nos braços. Parou, porém, quando a mãe lhe disse sobre os ombros:
—
Mostre a casa a Demetria, Joseph. Ela deve, pelo menos, conhecê-la um pouquinho
antes de vir morar aqui.
Deixando
os braços cair, Joseph suspirou e pegou-a pelo braço, conduzindo-a até a
escadaria.
—
Vou mostrar primeiro a ela lá em cima.
—
Se vocês não descerem em quinze minutos, vou buscá-los — a mãe avisou antes de
desaparecer na cozinha com Jessop.
Joseph
riu e subiu com Demetria para o andar
superior.
postadinho
Que bom que Joseph está tomando providências pra saber sobre essas paradas da Demi.
ResponderExcluirTão fofo o jeito do joseph com a demi. Espero que tudo dê certo quando eles resolverem esse lance do óculos
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