quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

O Amor é Cego Capitulo V parte 3

Assim que viu a silhueta turva da criada se afastar, Demetria voltou-se para o pai e para a madrasta meio insegura. Taylor permanecera calada, mas irradiava raiva por todos os poros ao ver seus planos arruinados.
— Venha comer, Demi — disse-lhe o pai com doçura. — Você vai precisar bem mais do que chá e torradas para enfrentar o dia de hoje.
Demetria foi se juntar a ele na sala de jantar, desejando saber como acertar as coisas com a madrasta. Dispensar a criada era só urna maneira de feri-la. Taylor sempre demonstrara ressentimento por ela e esse sentimento só fizera crescer ao longo dos anos. Como não sabia a causa, também não sabia como consertar a situação.
Quando lady Mowbray chegou, Demetria foi ter com a futura sogra no vestíbulo.
Taylor, que estivera em seus aposentos, descia as escadas quando Demetria cumprimentava lady Mowbray. Temendo que ela ainda estivesse em péssimo humor, Demetria não a esperou para se despedir.
— Minha nossa! — lady Mowbray comentou tão logo se instalaram na carruagem —, que expressão carregada tinha lady Lovato. Parece que ela não é uma pessoa diurna.
Demetria suspirou e pensou em simplesmente confirmar que ela não era, mas, refletindo melhor, decidiu falar a verdade e contou a lady Mowbray o incidente da quebra de seus óculos e a reação de Taylor.
Lady Mowbray procurou consolá-la, concordando que não era culpa de ninguém, afinal acidentes ocorrem, tecendo depois um comentário que soou estranho para Demetria:
— Joseph ficará aliviado.
Sem saber o que dizer, Demetria voltou o rosto para a janela, tentado esconder sua preocupação. Será que ele detestava óculos tanto assim? Estragaria tudo quando voltasse a usá-los? Ela que chegara a pensar em perguntar a lady Mowbray se não poderiam dar uma paradinha para comprar um novo par na cidade, não cogitava agora nem sequer de sugerir.
Demetria reconsiderou o assunto enquanto a carruagem percorria as ruas da cidade e continuou pensando nos óculos durante a prova do vestido, que, segundo a opinião geral, era muito lindo. Assim que terminou de provar, a costureira a ajudou a desvesti-lo e voltou toda a sua atenção para lady Mowbray e o vestido que iria usar no casamento. Demetria caminhou pela loja e se dirigiu à porta da frente, ainda com os óculos na cabeça.
— Há algo em que possa ajudá-la, milady? Quer um chá enquanto aguarda?
Ela reconheceu a voz da assistente da costureira. Sem hesitar então perguntou:
— Há alguma ótica por aqui?
— Há, sim, duas lojas acima — informou a assistente, satisfeita por poder ser útil.
— Obrigada — Demetria murmurou, dando uma olhada para a sala no fundo da loja. A costureira demoraria um pouco para vestir lady Mowbray e fazer os acertos no vestido dela, como fizera no seu. Vendo que a assistente se afastara, ela abriu a porta e saiu da loja. Hesitou por um momento, mas resolveu ir procurar a ótica. Afinal, ficava tão próximo que não haveria risco algum.
Como a assistente havia lhe informado, duas lojas acima, ela encostou o rosto na vitrine e confirmou que a ótica era lá mesmo. Apenas entrar naquela loja já lhe fez bem. Estava chegando o momento de enxergar novamente.
— Em que posso ajudar, milady?
Demetria teve um sobressalto, pois não percebera a aproximação do vendedor. Procurando acalmar-se, disse:
— Preciso de óculos.
— Muito bem, está no lugar certo, milady. Tenho uma grande variedade.
Demetria deixou a ótica vários minutos depois, com um novo par de óculos pendurado no nariz e um largo sorriso no rosto. Que maravilha. Era uma bênção poder ver de novo.
Contemplou a rua de um lado para o outro, observando pequenos detalhes das roupas e dos rostos das pessoas que passavam. Depois voltou sua atenção para as carruagens e os cavalos que circulavam. Um suspiro de satisfação escapou-lhe dos lábios. Não queria que lady Mowbray desse por sua falta, pois não pretendia comentar com ela sobre sua escapada e a compra dos óculos. Queria primeiro entender direito a opinião de Joseph sobre o uso de óculos. Se ele realmente não gostasse, ela aguardaria mais um pouco antes de usá-los na frente dele. Mas só o tempo suficiente para que ele a amasse de fato. Depois, os óculos certamente não fariam diferença para ele.
Pelo menos era o que esperava, porque não tinha vontade alguma de passar a vida às cegas.
Parando à porta da costureira, Demetria deu uma última olhada ao mundo ao seu redor. Tirou finalmente os óculos e os guardou em um pequeno bolso da saia. Por enquanto seriam seu segredinho. Só os usaria quando estivesse sozinha.
Meio cega de novo, Demetria mal entrara no ateliê da costureira quando lady Mowbray veio depressa do fundo da loja.
— Está pronta para irmos, querida? Pensei que poderíamos tomar chá na casa de Joseph hoje. Assim você fica conhecendo a criadagem.
Demetria levantou as sobrancelhas, surpresa.
— Joseph tem uma casa só dele na cidade?
— Tem, sim. Ele comprou quando ainda era jovem e rebelde. Queria um lugar onde pudesse fazer o que quisesse — explicou lady Mowbray com um ar malicioso. — Agora ele a mantém só para me aborrecer, acho. E evitar que eu fique dando palpite para que vá a um baile ou outro ou assista a uma peça que não quer.
Demetria esboçou um leve sorriso.
— Um chá com Joseph será ótimo, milady.
— Finalmente você chegou. — Joseph colocou o saco de moedas sobre a mesa e recostou-se na cadeira com um suspiro quando Hadley apareceu. Martin Hadley era o homem que havia contratado para pesquisar a razão de Demetria ter desaparecido da sociedade e descobrir onde ele poderia encontrá-la novamente.
Joseph havia usado o serviço de Hadley pela primeira vez vários anos antes quando começaram a desaparecer algumas coisas da propriedade da família. O homem fora recomendado por um vizinho a quem servira em diversas ocasiões, mostrando-se muito competente ao lidar com tais assuntos. Hadley havia sido empregado como lacaio na propriedade campesina da família. Na realidade, a única ocupação dele fora descobrir para onde estavam sendo desviadas a prata e as relíquias da família. Uma semana após entrar em cena, ele havia pego em flagrante a criada responsável pelos roubos.
Joseph ficara bastante impressionado. Passara a usá-lo em outras circunstâncias e acreditava o bastante nele para incumbi-lo de localizar Demetria depois de frustrados seus próprios esforços. A missão dele era descobrir a quais eventos ela e a madrasta estavam frequentando na esperança de conseguir estar com ela por alguns minutos. Naturalmente, essa necessidade acabara desde a noite de seu noivado, e Joseph decidira fazer o acerto de contas com o rapaz. Era o que então estavam fazendo naquele momento, mas essa não era a única razão pela qual desejava vê-lo.
— Obrigado, milorde, por me pagar tão rápido. Poucos são tão pontuais, precisam, pelo contrário, ser caçados para pagar. — Com o saco de moedas devidamente guardado no bolso, Hadley relaxou na cadeira e perguntou: — O senhor mencionou em seu bilhete que há um outro assunto que quer que eu vá atrás.
— Isso mesmo. Diz respeito a Demetria. — Joseph franziu o cenho e deixou seu olhar vagar através da janela, contemplando o jardim. — É possível que alguém esteja querendo fazer mal a ela. Creio que durante suas investigações você tomou conhecimento do grande número de acidentes que ela tem sofrido?
Hadley assentiu com a cabeça.
— Ouvi dizer que a senhorita normalmente usa óculos, mas a madrasta os tirou dela. Ela fica extremamente vulnerável a acidentes e sofre com isso.
Joseph pareceu relaxar um pouco, aliviado de que o homem percebera coisas que mais ninguém além dele via. Hadley era um bom homem. Esclareceria tudo.
— É provável que a causa da maioria deles seja a falta dos óculos, mas há um ou dois que me fazem pensar.
Hadley comprimiu os lábios e depois disse:
— Aposto que um deles foi a queda dela na rua quando quase foi atropelada por uma carruagem.
Joseph fez que sim com a cabeça, nada surpreso de que o homem tivesse ouvido falar a respeito durante suas investigações. Hadley era conhecido por sua minúcia.
Após Joseph relatar os fatos e explicar o que deveria ser feito, eles deixaram o estúdio. Mal entraram no hall apareceu Jessop que, ao vê-los, apressou-se em ir ao encontro deles.
— Vai sair, milorde? — o homem perguntou com uma certa deferência, que Joseph achou meio suspeita e sabia que não se devia apenas à presença de Hadley.
— Vou, sim. Minha mãe combinou de tomarmos chá com Demetria depois de provarem os vestidos, por isso vamos para lá. Elas já devem ter terminado as provas, não acha?
— Não saberia dizer, milorde — respondeu o criado secamente.
— Hum, — Joseph não gostou muito do tom, mas simplesmente disse: — Traga a carruagem para a frente da casa, por favor.
— Pois não, milorde. — Assim que Jessop saiu, Joseph foi pegar seu casaco e chapéu, bem como os de Hadley, e deixaram o hall para aguardar a carruagem do lado de fora da casa.
— O senhor está questionando o acidente com a carruagem por causa do que houve na fonte? — Hadley perguntou enquanto esperavam que a carruagem chegasse.
— Não só por isso, mas também pelo fato de que Demetria foi “jogada” na rua quando alguém trombou com ela. E ela não tem a menor idéia de quem foi. Além disso há também o episódio da queda na escadaria — Joseph argumentou.
— Dessa queda não fiquei sabendo — disse Hadley. — O que aconteceu?
— Como você deve saber, Demetria normalmente precisa que alguém a acompanhe onde quer que vá; quem a acompanha quase sempre é a criada. Naquele dia, ela se impacientou e resolveu descer sozinha. Acabou tropeçando em alguma coisa e rolou escada abaixo. O estranho é que ninguém sabe em que ela tropeçou. —Joseph esticou o pescoço para ver se a carruagem já estava chegando. — Pode ser um exagero de minha parte, mas, na minha opinião, quando viram que ela tropeçou, alguém poderia ter se interessado em saber o que havia causado a queda, no entanto, ninguém o fez.
Hadley permaneceu calado, refletindo sobre o que Joseph lhe contara.
— Sei que não há razão para se concluir que ambos os acidentes foram outra coisa senão meros acidentes. Mas, depois do incidente na fonte, tudo isso me preocupa.
— É muito conveniente que ela pareça ser estabanada se alguém realmente estiver provocando esses acidentes — Hadley concluiu.
— É o que também me passa pela cabeça — Joseph admitiu.
— Se foi a madrasta quem tirou os óculos de Demetria, será que ela não está por trás de tudo isso? — Hadley ponderou. — Ela não parece gostar muito de Demetria pela maneira como a trata. Pelo menos, é o que me pareceu, mas posso estar enganado.
— Não, você não está enganado. Taylor parece identificar Demetria com a mãe morta, a quem de certa forma vê como uma rival com quem compete pela afeição do marido.
— Compreendo — disse Hadley, silenciando com a chegada da carruagem.
Joseph informou ao condutor da carruagem para onde desejava ir, entrou na carruagem e ambos mantiveram-se calados até chegar à residência dos Lovato.
— Lady Demetria não está em casa — Foulkes avisou ao abrir a porta e se deparar com Joseph e Hadley.
— Fiquei de me encontrar com ela e minha mãe aqui para tomarmos chá quando chegassem —Joseph explicou.
— Elas ainda não chegaram — informou o mordomo, com uma cara azeda.
Joseph começava a pensar que teriam de aguardar na carruagem quando John Lovato surgiu no hall e, ao vê-lo, logo os convidou para entrar.
— Olá, Joseph. Entre! Demetria e sua mãe logo deverão estar de volta, a menos que tenham parado em alguma loja para fazer compras. — Voltando-se para o mordomo, ele disse: — Foulkes, acompanhe os cavalheiros até o salão para que aguardem Demi e lady Mowbray lá.
— Sim, senhor, milorde. — Foulkes abriu a porta e deu um passo para o lado para permitir que entrassem.
— Infelizmente, eu já estava de saída — explicou lorde Lovato, desculpando-se. — Tenho uma reunião no clube com um velho amigo, caso contrário teria prazer em lhes fazer companhia.
— Não se preocupe, milorde. Talvez eu leve Hadley até a fonte enquanto esperamos pela volta delas. Estou pensando em construir uma igual na minha casa de campo e queria a opinião dele a respeito.
— Ora, fique à vontade. Demetria realmente gosta muito da fonte. Sempre que pode vai sentar-se e ler por lá. Ou costumava fazer isso — acrescentou com um leve sorriso. — Antes de ficar sem os óculos. Por falar nisso, o par de reserva chegou esta manhã.
Joseph sentiu-se tenso diante da notícia, mas relaxou em seguida ao ouvir de lorde Lovato que os óculos também haviam sido quebrados em um pequeno acidente.
O alívio que Joseph sentiu foi quase palpável. Todo o seu corpo relaxou até que o pai de Demetria acrescentou:
— Preciso levá-la a uma ótica aqui na cidade para que compre óculos novos antes do casamento.
— Não há necessidade disso, milorde — Joseph rebateu rapidamente. — Eu mesmo providenciarei para ela.
Lorde Lovato hesitou um pouco e depois aquiesceu:
— Como achar melhor. — Dirigindo-se então à porta, completou: — Com licença, então, estou certo de que Demetria e lady Mowbray não demorarão.
— Por aqui, senhores — Foulkes murmurou, após fechar a porta, encaminhando os visitantes para o hall.
— A partir daqui conseguiremos encontrar o caminho, Foulkes. Obrigado — disse Joseph assim que o mordomo abriu as portas do salão.
— Como queira — respondeu Foulkes, aquiescendo com a cabeça. Vou ver se a cozinheira já está preparando o chá para tomarem quando as senhoras chegarem.
Joseph abriu as portas francesas e caminhou na frente de seu acompanhante, que de vez em quando olhava para trás para se localizar por onde estavam indo. Na noite do baile, Joseph havia pulado o portão dos fundos, mas não teve problema de encontrar a fonte. Sabia que ela ficava no fundo da propriedade, do lado direito, por isso seguiu por trilhas que conduziam nessa direção.
— Aqui estamos — finalmente disse, ao entrarem na clareira.
Hadley parou, examinou a fonte, voltando-se depois para olhar a trilha por onde haviam chegado até ali.
— Foi por aqui que ela veio?
— Essa é a trilha por onde Demetria e Joan voltaram, por isso presumo, que tenha sido por ela que chegou até aqui — Joseph explicou e seguiu Hadley para examinar as árvores no fim da trilha. Nenhuma era tão baixa a ponto de causar qualquer problema. Nenhum dos dois precisara abaixar a cabeça para caminhar entre as árvores, e a cabeça de Demetria batia na do queixo dele.
Hadley virou-se para examinar a fonte de onde eles estavam.
— Demetria achou que bateu a cabeça em um galho quando saía da trilha — Joseph começou. — E lembra que, ao tropeçar, deu mais uns passos antes de cair e desmaiar.
Hadley afastou-se ainda um pouco mais para pesquisar a fonte e sacudiu a cabeça.
— Não foi dessa maneira que ela terminou na fonte.
— Também acho que não — Joseph admitiu, contrariado.
— E é evidente que ela não bateu a cabeça em galho algum. Mesmo que tivesse tropeçado, os galhos são muito altos para que ela tivesse batido a cabeça.
— Concordo.
— Temo que o senhor esteja certo, milorde, — Hadley caminhou em direção ao arvoredo do lado esquerdo da trilha e afastou com os pés a vegetação rasteira para poder examinar o chão. — Não dá para acreditar que tenha sido um acidente.
— Não. — Com o cenho fechado, Joseph foi mais uma vez olhar a fonte, recordando como o coração quase lhe saltara do peito ao ver Demetria flutuando. Sabia que estava interessado nela, mas só naquele momento a profundidade de seus sentimentos ficara evidente. Era compreensível então que a ideia de que alguém pudesse querer fazer mal a Demetria lhe fosse tão revoltante.
— Ora, ora! O que temos aqui?
Joseph voltou-se para olhar Hadley ao ouvir o tom ácido do comentário e viu que ele se curvava para pegar alguma coisa do chão. Um momento depois o homem endireitou o corpo, levantando um galho bem longo e grosso. Joseph foi imediatamente postar-se a seu lado.
— Você acha que Demetria pode ter derrubado esse galho?
— Só se o tivesse serrado da árvore — Hadley respondeu em tom seco, mostrando a ponta.
Joseph notou as marcas do corte de uma serra no galho, depois os longos fios de cabelo castanho que ficaram presos na ponta dele. Hadley tirou os fios de cabelo e levantou uma sobrancelha.
— Suponho que sejam de Demetria. Pelo menos, a cor parece.
Joseph confirmou com a cabeça.
— Isso significa que alguém antecipadamente cortou esse galho, a atraiu para cá e a golpeou com ele. Depois ela foi jogada na fonte, sem dúvida com a expectativa de que se afogasse. Ela só se salvou graças a seu plano de ter um encontro com ela aqui naquela noite.
Joseph sentiu um aperto no coração. E se ele tivesse escolhido um outro local para encontrá-la, ou uma outra noite... Demetria poderia estar morta agora. Sentiu um calafrio na alma à mera ideia de quão perto ele estivera de perdê-la.
Hadley atirou o galho no chão novamente e esfregou as mãos para limpá-las.
— E o incêndio?
Joseph piscou os olhos.
— O incêndio?
— Sim, naquela mesma noite. Não houve um incêndio aqui e o senhor e Demetria foram pegos em uma situação meio constrangedora?
— Ah, sim. Não pensei mais nele. — Joseph apertou os lábios. — O fogo irrompeu exatamente à porta do quarto dela. Parece que uma vela ficou ardendo na mesa do hall e, de alguma maneira, caiu originando o incêndio, ou pelos menos é isso o que todos presumem que aconteceu.
— O senhor não acredita nisso?
— A porta do quarto de Demetria estava trancada, ou bloqueada pelo lado de fora. Não que isso importe porque estava extremamente quente quando percebi o fogo e me aproximei dela. O fogo crepitava do outro lado. Tivemos que sair pela janela. Mas se ela estivesse sozinha e dormindo...
Hadley balançou a cabeça.
— Vou começar a investigar sobre o incidente no mercado quando ela foi quase atropelada pelos cavalos. Talvez não tenha passado de um acidente, como me disse, mas vou especular por lá para ver se alguém se lembra de ter visto quem a empurrou. Também vou conversar com o pessoal daqui sobre o dia em que ela caiu da escada, mas...
— Não concordo — retrucou Joseph, contra-argumentando: — Prefiro que ninguém saiba que suspeitamos de que alguém esteja tentando prejudicá-la.
Hadley ponderou:
— E como fica Demetria? Se alguém estiver tentando matá-la, pode redobrar os esforços agora para completar o serviço antes que ela se case com o senhor.
— Eu pensei nisso. Estou pagando três empregados dos Lovato para ficarem de olho nela. Tomei essa providência na própria noite do incêndio.
— E quanto à criada dela? — Hadley perguntou.
Joseph encolheu os ombros.
— Bem, Joan já tem a incumbência de cuidar de Demetria e acompanhá-la por toda parte. Além disso, receio que possa contar a Demetria, e não quero que ela fique ansiosa ou assustada. Já está sob bastante estresse com os preparativos para o casamento.
— Acho que suas providências foram suficientes e...
— Joseph Adam Montfort.
Tenso, Joseph virou-se lentamente em direção à trilha na qual sua mãe surgia, trazendo Demetria . Era óbvio que ele estava em apuros. Lady Mowbray só o chamava pelo nome completo quando julgava que ele tivesse feito alguma coisa errada. Embora, neste momento, ele não encontrava qualquer razão com que se preocupar. Assim, sua atenção foi imediatamente desviada para Demetria.
Ela estava usando um adorável vestido creme e os cabelos estavam puxados dos lados, caindo atrás em uma linda cascata. Gostava mais quando ela se penteava assim do que quando tinha um coque encaracolado no alto da cabeça, como todas as mulheres usavam nos bailes. Ela estava linda.
— Ora, pare de ficar olhando feito bobo para Demetria — lady Mowbray ralhou, impaciente, provavelmente porque ele não estava lhe dando a devida atenção em um momento em que se mostrava zangada. — Logo ela vai ser sua esposa e você poderá se derreter à vontade. Agora, gostaria que você me ouvisse.
Joseph piscou e voltou relutante o olhar para a mãe, perguntando:
— O que fiz de errado?
— Não se lembra de que propus um chá com Demetria hoje?
Joseph levantou as sobrancelhas.
— Claro que lembro. É por isso que Hadley e eu estamos aqui.
— Ah, que amáveis —rebateu ela com um sorriso falso, que esmoreceu ao acrescentar: — Só que ficamos de tomar o chá em sua casa!
— Em minha casa?
Lady Mowbray soltou um suspiro, exasperada.
— Sim, Joseph, em sua casa. Você ficou de pedir aos criados que deixassem a casa um brinco e que usassem a roupa de domingo para que fossem apresentados a Demetria; assim ela teria a oportunidade de conhecer a nova casa e o pessoal que nela trabalha antes do casamento.
Joseph fitou a mãe, desconcertado. Agora que ela mencionara, tinha uma vaga lembrança de ela ter comentado que seria uma boa maneira de Demetria ser apresentada ao pessoal da casa. Quando isso se deu, não havia nem sequer entendido bem, mas agora fazia todo o sentido.
A mãe tivera uma ótima ideia, Joseph admitiu. Demetria não só mudaria de casa, mas de vida com o casamento. Conhecer seu novo mundo facilitaria tudo para ela. Pena que não tivesse prestado mais atenção à mãe para evitar aquele lapso.
Lady Mowbray soltou um outro suspiro, depois olhou para Hadley.
— Sr. Hadley, meu filho me falou do senhor.
Joseph ficou tenso, receando que a mãe mencionasse o serviço que o homem havia prestado para ele.
— Demetria, esse é o Sr. Hadley. De vez em quando ele ajuda Joseph em algum projeto. Sr. Hadley, esta é a minha futura nora, lady Demetria Lovato.
— Lady Lovato. — Hadley caminhou sorridente até ela e estendeu-lhe a mão, não deixando de levantar os olhos até o alto de sua cabeça.
Joseph logo entendeu que ele queria ver o ferimento feito na noite do incêndio. Entretanto, não havia mais sinal dele. Já havia passado uma semana e meia desde o acidente.
— Boa tarde, Sr. Hadley — Demetria cumprimentou-o. — Que tipo de ajuda o senhor presta a Joseph?
Joseph ficou tenso com a pergunta, mas não precisaria se preocupar. Hadley foi rápido na resposta e mentiu sem hesitar:
— Ah, em uma coisinha ou outra. Na verdade, em um pouco de cada coisa.
— Ah — Demetria murmurou, mas pareceu ficar curiosa.
— Na realidade — Hadley completou — Lorde Mowbray estava justamente me dizendo esta manhã que seu próximo projeto é fazer uma fonte, no mesmo estilo da fonte da casa de seu pai, em Mowbray. Foi, por isso, aliás, que me convidou para tomar chá com as senhoras. Ele achou que seria bom conhecê-las e que eu assim também poderia ter uma melhor idéia do que ele deseja para explicar ao pessoal que vai trabalhar nessa obra.
Joseph ficou maravilhado com a habilidade do homem.
— Claro — disse Demetria com um largo sorriso. — Que linda surpresa.
— Então o Sr. Hadley vai voltar conosco para sua casa para tomarmos chá lá, não é?
— Bem... — Joseph balbuciou, sem-graça. — Creio que Foulkes providenciou para que a cozinheira fizesse o chá aqui.
— Explicamos a confusão a Foulkes quando chegamos — Demetria informou. — E ele disse que não nos preocupássemos. A cozinheira seria avisada que não era necessário preparar nada.
— Também explicamos a Jessop. — Foi a vez de a mãe informar. — E ele ficou de pedir à sua cozinheira que o chá estivesse pronto no momento em que chegássemos.
— Vocês foram até lá? — Joseph perguntou, surpreso.
A mãe assentiu com a cabeça.
— Foi assim que ficamos sabendo que vocês estavam aqui. Foi Jessop quem nos informou.
— Ora, muito bem, então vamos para lá — Joseph concordou, imaginando como seu pessoal estaria contrariado com ele naquele momento.
Caminharam até a frente da casa e estavam se preparando para entrar na carruagem quando Hadley disse:
— Milorde, por mais agradável que seja tomar chá em tão boa companhia, acho melhor começar logo a iniciar nosso último projeto.
— É verdade, Hadley — Joseph concordou, estendendo-lhe a mão. — Muito obrigado. Espero logo ter notícias suas.
O homem apertou a mão de Joseph e aquiesceu com a cabeça. Despediu-se depois das senhoras, agradecendo, e seguiu rua acima.
— Por que o Sr. Hadley não quis ir tomar chá conosco? — Demetria perguntou quando Joseph entrou na carruagem e ocupou o banco em frente às duas.
— Porque tinha alguns negócios a tratar — Joseph respondeu vagamente, fitando-a com carinho. Ela era um verdadeiro raio de sol naquele vestido creme e ele se admirava de que ela lhe parecesse mais linda a cada vez que a via.
Lady Mowbray começou a comentar sobre as provas dos vestidos que haviam feito pela manhã, e Joseph mal conseguia ouvi-la durante o curto trajeto até sua casa, disperso que estava em seus pensamentos. Passava-lhe pela cabeça a última vez em que estivera com Demetria na carruagem e concluiu que era muito bom que sua casa não fosse muito longe da de Lovato. Apesar da presença da mãe, já começava a ficar excitado quando a carruagem parou.
Jessop abriu a porta assim que Joseph e as duas senhoras se aproximaram dela.
— Bem-vindo, milorde.
Bastou uma olhada no rosto de Jessop para Joseph saber que estava em maus lençóis com o mordomo e provavelmente com o restante do pessoal da casa. Imaginava que os criados tivessem corrido como loucos para deixar tudo limpo e arrumado. Não que tudo não estivesse sempre assim, mas eles deviam ter tentado caprichar um pouco mais quando souberam que sua nova patroa iria visitá-los e o espaço de tempo havia realmente sido muito curto.
— Não fique aborrecido, Jessop — disse lady Mowbray ao entrar na casa. — Já fiz um sermão para ele por não ter me dado ouvidos, nem avisado você.
— Muito bem, milady — respondeu o mordomo, sem que sua expressão melhorasse um pouco.
Joseph deu um sorriso amarelo, mas sua atenção logo se voltou para Demetria  que estreitava os olhos examinando a entrada da casa, O esquema de cores ali era azul-escuro e lavanda, fazendo um fundo perfeito para Demetria  em seu vestido creme. Ela parecia, sem dúvida, pertencer àquela casa.
— Não se dê ao trabalho de olhar feio para ele, Jessop. Ele só tem olhos para a noiva. Receio que meu filho esteja meio enfeitiçado e continuará assim por algum tempo. Pelo menos até depois de se casar com Demetria . Ela não é encantadora, Jessop?
— Muito encantadora, milady — disse Jessop de pronto.
— Eles vão me dar lindos netinhos, não acha?
— Com certeza, milady.
Vendo o rubor tomar conta do rosto de Demetria, Joseph lançou um olhar aos dois e disse:
— Estamos aqui e ouvimos tudo o que disseram.
— Ah, então de vez em quando você me ouve? — lady Mowbray comentou rispidamente, passando a mão pelo braço de Jessop e conduzindo-o para o hall. — Vamos ver que a cozinheira conseguiu fazer para salvar o dia, bom homem. Joseph tem mesmo muita sorte de ter um pessoal esperto e rápido como vocês. Não importa qual seja a crise, vocês conseguem lidar com ela com grande presença de espírito e, confesso, sempre fico impressionada.
Joseph revirou os olhos ao ouvir a mãe adular o mordomo. Em poucos minutos, todo o pessoal estaria se matando para agradá-la e ninguém mais se lembraria do caos que tiveram de enfrentar por causa da visita inesperada.
— Sinto muito toda essa confusão — murmurou Demetria baixinho. — Não precisaríamos ficar para o chá se...
— Que bobagem — Joseph interrompeu bruscamente e deu um passo para a frente para tomá-la nos braços. Parou, porém, quando a mãe lhe disse sobre os ombros:
— Mostre a casa a Demetria, Joseph. Ela deve, pelo menos, conhecê-la um pouquinho antes de vir morar aqui.
Deixando os braços cair, Joseph suspirou e pegou-a pelo braço, conduzindo-a até a escadaria.
— Vou mostrar primeiro a ela lá em cima.
— Se vocês não descerem em quinze minutos, vou buscá-los — a mãe avisou antes de desaparecer na cozinha com Jessop.
Joseph riu e subiu com Demetria  para o andar superior. 


postadinho

Um comentário:

  1. Que bom que Joseph está tomando providências pra saber sobre essas paradas da Demi.

    Tão fofo o jeito do joseph com a demi. Espero que tudo dê certo quando eles resolverem esse lance do óculos

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