quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

O Amor é Cego Capitulo IV parte 3

Tirou então a outra perna para fora da janela, respirou fundo, agarrou a mão de Joseph e se projetou para frente.
Por alguns segundos, suspensa no ar, pareceu-lhe não conseguir nem sequer respirar. Joseph puxou-a para si e ela gemeu ao bater no galho em que ele estava sentado. Começava a escorregar para baixo e, por um momento, teve a impressão de que fosse cair, mas Joseph a puxou, segurando-a firme a seu lado.
Ela ficou pendurada entre ele e o tronco da árvore e nada além do ar sob seus pés.
Joseph hesitou um pouco e depois resolveu:
— Vou abaixá-la até o chão.
— É melhor não — Demetria murmurou, agarrando-se ao braço dele.
— O chão está próximo, Demetria. Não estamos tão alto assim. Depois que você descer, eu pulo e caio a seu lado.
Demetria mordeu o lábio e abaixou a cabeça para avaliar a distância.
— Você tem certeza de que não é muito alto?
— Juro que não. Seu quarto fica apenas no segundo andar, Demetria, e esse galho é ainda um pouco mais baixo. Na hora que eu abaixá-la, seus pés quase tocarão o chão.
— Está bem, mas por favor não me deixe cair — ela implorou, medrosa.
Em vez de abaixá-la, Joseph a levantou mais um pouquinho para poder beijá-la no rosto.
— Não posso deixá-la cair, você é preciosa demais para mim.
Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, Joseph curvou-se um pouco para fazê-la começar a descer. Demetria agarrou-se à mão dele e fechou os olhos, certa de que era pesada demais para que ele aguentasse, sem deixá-la cair.
— Você está bem pertinho do chão agora, meu amor. É só se soltar e pular.
— Será que consigo?
— Desconfio que sim.
A segurança da voz de Joseph finalmente fez com que ela se decidisse. Armada de coragem, Demetria soltou a mão dele, Mal começou a cair, aterrissou de supetão. Realmente devia estar a menos de um metro do chão.
Demetria suspirou aliviada.
— Ela está aqui!
O alívio esvaiu-se no mesmo instante em que ouviu o débil comentário. Demetria assobiou em direção à voz e teve a impressão de ver a figura de um dos criados em um dos cantos da casa. Mordendo o lábio nervosa, ela olhou para cima onde Joseph ainda estava suspenso. Tentou chamá-lo baixinho, mas precisava ser ouvida. Ele fazia barulho chacoalhando os galhos na tentativa de soltar a camisa que se prendera em um deles e, ao mesmo tempo, blasfemava irritado por isso.
— Joseph! — insistiu.
— Um minuto, amor. Já, já estarei com você.
Demetria tornou a olhar para o canto da casa e viu o criado que vinha correndo em sua direção. E, atrás dele, vinha todo o pessoal da casa. E, atrás deles, metade dos moradores daquele quarteirão. Todos correndo para ver se ela estava a salvo.
Demetria contemplou aqueles rostos borrados que se aproximavam, sem se dar conta das palavras de alívio que pronunciavam. Então Joseph caiu em pé na sua frente, boquejando-lhe a visão.
— Viu? Até que me saí bem, não foi? — ele perguntou, passando o braço em seus ombros e curvando-se para beijá-la nos lábios.
— Lorde Mowbray!
Joseph ficou petrificado por um instante, depois endireitou o corpo vagarosamente e virou-se para encarar a multidão ao redor deles. Ao voltar-se novamente para ela, Demetria sentiu que ele a mediu com os olhos e teve um súbito arrepio. Deu-se conta então que sua camisola continuava desabotoada, revelando seu colo desnudo aos ali presentes.
Mordendo o lábio, ela desajeitadamente tratou de abotoar a camisola e voltou a olhar para Joseph que agora estava absorto em seu próprio estado de seminudez.
Demetria teve consciência de quão comprometedora era toda aquela situação e ficou perplexa quando Joseph, endireitando os ombros, disse:
— Lady Lovato, tenho a honra de pedir a mão de sua enteada em casamento?
Demetria mastigava a torrada e evitava encarar Taylor. Apesar de não conseguir enxergar a expressão do rosto dela, podia sentir seu olhar toda vez que voltava a cabeça para a direção em que estava sentada.
A madrasta estava furiosa com ela desde a noite do incêndio. Ela não tocara no assunto do ocorrido, nem após voltarem para casa depois do fogo ter sido extinto. O fogo começara no hall perto do quarto de Demetria, impedindo que, pelo lado de dentro da casa, alguém pudesse se aproximar da porta para avisá-la. Aquela parte do hall, seu quarto e os quartos de dois criados haviam sido os únicos cômodos destruídos; o salão sob seu quarto ficara também muito danificado por causa da água. Por sorte, todo o resto da casa estava perfeitamente em ordem, só exalando ainda um pouco o cheiro da fumaça.
Demetria passara a ocupar o quarto de hóspedes desde então e estava praticamente sem roupa. Tudo o que estava guardado no quarto fora queimado. Para remediar a situação, haviam sido encomendados às pressas dois ou três vestidos para ela.
Logo após o pedido de casamento, Joseph havia sugerido a Taylor que, durante a reforma que teria de ser feita, Demetria ficasse na casa de sua mãe, mas a madrasta não consentiu, deixando bem claro, com uma atitude de desdém, que não voltaria atrás. Embora tratasse Joseph com a maior frieza, ele fingia não perceber o desprezo da mulher e, quando de suas visitas, ambos, Demetria e ele, procuravam ignorar tanto o silêncio dela quanto os olhares glaciais que lhes dirigia. Também não tinham muita alternativa. Desde aquela noite, Taylor não permitirá que ficassem sozinhos por um único minuto sequer. Demetria sentia-se inconformada. Os proclamas já haviam sido publicados, o casamento fora marcado para duas semanas depois do incêndio, e tudo estava em ordem. Taylor deveria estar satisfeita. Afinal de contas, havia conseguido um conde para sua enteada. Mas era óbvio que não estava.
Demetria suspirou e mordiscou a torrada, remoendo a mesma preocupação e temor que lhe assaltaram desde a noite do incêndio. Sentia-se dividida. Não poderia deixar de estar mais feliz diante da perspectiva de se casar com o homem que amava, especialmente depois da experiência que tivera com ele na cama, provando que dormir com ele não seria sacrifício algum. Tinha, porém, o receio de que Joseph tivesse se sentido obrigado ao casamento depois do que havia acontecido e, portanto, acabasse não sendo feliz ao lado dela.
Não desejava a própria felicidade à custa da dele. Preferia enfrentar mais uma vez o escândalo sozinha, se fosse o caso. Havia sobrevivido ao primeiro, sobreviveria a esse também. Na realidade, era o que esperava ao serem flagrados por todas aquelas pessoas. O pedido de casamento de Joseph a surpreendera tanto quanto parecia ter enfurecido Taylor.
A porta da sala de jantar foi aberta, e Demetria voltou os olhos, estreitando-os para enxergar melhor quem entrava. Lá estava um homem alto, de cabelos grisalhos.
— Pai! — exclamou, reconhecendo-o de imediato enquanto começou a caminhar em sua direção.
— Olá, Clary! — John Lovato abraçou a filha, envolvendo-a no aroma de fumo de cachimbo.
— Que bons ventos o trazem, meu pai?
— Como eu poderia deixar de vir correndo ao saber da notícia de casamento da minha filhinha? — ele brincou.
Demetria lançou um olhar em direção a Taylor. A madrasta não mencionara que havia escrito ao pai.
— Também lhe trouxe alguma roupa. Sua madrasta me avisou que quase todas as suas coisas foram perdidas no incêndio.
— Que bom, pai. Obrigada.
— Agora vamos precisar também mandar fazer alguns vestidos de festa. — Lorde Lovato parou para observá-la. — Onde estão seus óculos, Clary?
— Demetria os quebrou — Taylor mentiu. — Logo após meu primeiro bilhete, mandei outro recado para que você trouxesse o par de reserva para que ela possa ver com quem está se casando, mas deve ter chegado depois de sua partida.
Demetria ficou surpresa com essa notícia, também não mencionada pela madrasta. Pelo tom da voz de Taylor, porém, providenciar os óculos naquele momento parecia mais uma maldade do que um gesto de bondade. Não podia entender por que a madrasta achava que seria um castigo poder ver direito o homem com que estava se casando.
— Bem, acidentes acontecem — o pai admitiu calmamente, fazendo com que Demetria voltasse sua atenção para ele. — Estou muito feliz por você, filha. Sempre gostei de Mowbray. Ele é urna excelente pessoa.
Demetria notou que Taylor ficou chocada ao ouvir essas palavras e sua própria surpresa foi maior ainda.
— Você conhece Joseph?
— Conheço, claro. Fui muito amigo do pai dele e nos correspondemos bastante desde a morte de sua mãe. O pai dele era um grande homem de negócios. Conseguia tirar lucro de onde quer que pusesse as mãos. Quando se aposentou, Joseph o substituiu e passei a me corresponder com ele.
— E eu não sabia disso — Demetria murmurou.
— Não havia razão para que soubesse. Nunca havíamos conversado a respeito antes e acredito que nem ele deva ter mencionado para você.
O pai sentou-se à mesa e uma criada apressou-se em servir o chá para ele. Demetria reparou em Taylor. Ela estava com uma expressão amarela no rosto. Foi então que Demetria se deu conta de que o pai não demonstrara afeto para com a madrasta. Ele a tinha abraçado ao chegar, mas nem sequer a cumprimentara. Pela primeira vez se perguntou que tipo de relacionamento os dois teriam. Talvez houvesse uma razão para a amargura e até mesmo para a raiva que Taylor demonstrava.
— Por que você não mostra a galeria para ela?
Joseph piscou sem-graça ao ser pego olhando para Demetria enquanto falava com o pai dela e sorriu timidamente à sugestão de John Lovato.
— Podem ir. Vocês dois me fazem lembrar de mim mesmo e da mãe de Demetria quando tínhamos a idade de vocês. Não parávamos de seguir um ao outro com os olhos, sempre querendo ter o outro na mira. — Ele sorriu ante a doce reminiscência e acrescentou: — Ainda sinto muita falta dela.
Joseph ergueu a sobrancelha.
— E Taylor?
— Taylor. — Lorde Lovato soltou um suspiro. — Taylor foi um erro em minha vida. Achei que Demetria precisaria da ajuda de uma mãe até se tornar mais adulta, especialmente depois do escândalo. Também não queria jogar sobre os ombros dela toda a carga de atribuições domésticas sendo ela ainda tão jovem. Foi um casamento de conveniência. Eu sabia que nunca poderia amar outra mulher como amei minha Margaret. — Ele suspirou novamente e sacudiu a cabeça. — Pensei que Taylor entendesse isso. Aliás, ela disse que entendia perfeitamente. Mas não entendeu coisa alguma. Achou que eu estava apenas vivendo a fase do luto e, tão logo me recuperasse, viria a me apaixonar por ela, como gostaria. Quando percebeu que isso não ia acontecer... — Ele deu de ombros e seu olhar pousou na filha. — Demetria é igualzinha à mãe. Não é só que se parece com a mãe, é a própria materialização de Maggie. Por isso, na cabeça de Taylor, Demetria rivaliza com ela em meu afeto.
— Entendo — disse Joseph pensativo. Isso explicava muito sobre o comportamento da madrasta. Cometia crueldades em nome do que era bom para Demetria.
— Agrada-me ver que você e Demetria se identificaram. Acho que vão ser tão felizes quanto a mãe dela e eu fomos. Agora vá mostrar a ela a galeria — ele insistiu e acrescentou: — Eu ia sugerir um passeio no jardim onde vocês teriam mais privacidade, mas como está chovendo, a galeria é o melhor que posso lhes propor.
— Obrigado — Joseph agradeceu e cruzou a sala a fim de dar a mão para Demetria.
Demetria conversava com a mãe de Joseph, com Mary, uma prima dele, e com Taylor. Pela primeira vez desde que conhecera Joseph, parecia estar se distraindo em um baile. Parecia até mesmo feliz. No entanto, quem parecia infeliz era Taylor. Ao contrário de Demetria cuja felicidade transparecia rio olhar, a fisionomia de Taylor não escondia a tristeza e a depressão. Se não fosse pelo número de vezes que deliberadamente fizera Demetria sofrer, Joseph teria até pena dela.
Aquele era o primeiro baile de que participavam desde o incêndio. Taylor se negara a deixar Demetria ir a outros sem a companhia dela e se recusara a ir a qualquer um, alegando que não suportaria o escândalo. Com a chegada de John, porém, tudo havia mudado. Ele havia insistido para que saíssem naquela noite e insistira para que Joseph os acompanhasse, fazendo-o ir na carruagem deles. Era notório o esforço de lorde Lovato para que Joseph se sentisse incluído na família.
— Joseph?
Ele sorriu diante da voz segura de Demetria ao aproximar-se. Apesar de sua visão deficiente, ela parecia reconhecê-lo sempre.
— Sim, querida ele confirmou. — Seu pai sugeriu que eu mostre a você a galeria.
Taylor começou a esboçar um protesto, mas calou-se. Não podia contrariar a vontade do marido. Dando um amplo sorriso, Demetria pegou a mão que ele lhe oferecia e levantou-se, saindo ambos então do salão de baile.
— Não imaginava que você e meu pai fossem tão bons amigos — disse ao caminharem pelo hall em direção à galeria.
— Bem, talvez não sejamos amigos tão íntimos assim, mas nos correspondemos com muita frequência. Ele é uma ótima pessoa.
Eles entravam na galeria e Joseph estava tão encantado observando tudo que não viu uma mulher à sua frente e colidiu com ela.
— Lorde Mowbray
Joseph abaixou os olhos ao ouvir aquela voz rouca e apertou os lábios ao ver de quem se tratava.
Lady Blanche Johnson.
Seu olhar percorreu os cabelos loiros platinados e o corpo exuberante da mulher. Havia dez anos que não se encontravam e teria ficado feliz se a não a visse por mais uns cinquenta. Essa mulher o magoara muito. Ela era uma víbora. Fora a única pessoa que não virara o rosto ao ver sua cicatriz. Sorrira e flertara com ele. E aceitara suas carícias com prazer.
Somente depois de atraí-lo para a casa dela e seduzi-lo que ele compreendera quem de fato ela era. Logo após fazerem sexo, ainda suados e
Ofegantes, ela começara a rir às gargalhadas, comentando que sempre achara os tipos bizarros excitantes e ótimos de cama.
Joseph congelara no chão do quarto onde tinham sido tomados pelo fogo de uma aparente paixão. Fora ficando com o estômago revoltado à medida que ela ia mencionando alguns de seus “estranhos” amantes. Insinuara que um anão e um corcunda haviam até então sido seus favoritos, mas a experiência com ele havia sido ainda melhor. Completara dizendo que pessoas do tipo deles estavam sempre prontas para agradar.
Joseph deixara Londres duas horas mais tarde. Parecera-lhe não haver mais qualquer razão para permanecer ali. A maior parte da cidade achava repugnante olhá-lo e ele não estava interessado em ser bizarro para ninguém.
— Minha nossa, você continua atraente como sempre — Blanche elogiou, colocando a mão no peito dele.
Joseph tirou a mão de maneira tão ríspida que poderia até tê-la machucado, mas tudo o que viu nos olhos de Blanche foi excitação.
— Lady Johnson, permita-me lhe apresentar minha noiva, lady Demetria Lovato— disse ele, com um frio aviso no olhar.
— Olá. — Blanche nem sequer se deu o trabalho de olhar na direção de Demetria. Havia gula em seus olhos acinzentados. Sem desviá-los de Joseph, comentou: — Que jovem de sorte você é por conquistar um garanhão como ele.
Joseph viu Demetria franzir as sobrancelhas e apertar os lábios. Sentiu a raiva crescer dentro dele. Lady Johnson estava se arriscando um jogo perigoso.
— Depois de levar sua amiguinha de volta, passe pela minha casa para tomarmos um drinque, milorde. Ficarei feliz em recebê-lo — Blanche murmurou.
O comportamento de Blanche era um insulto para Demetria, o que Joseph não permitiria.
— Um único drinque com você já é mais que suficiente, Blanche — ele revidou secamente, dispensando deliberadamente o título de lady. Dando-lhe as costas, em uma atitude de evidente desprezo, pegou Demetria pelo braço e afastou-a da loira, que ficou plantada à porta.
— Ela parece... interessante — comentou Demetria, insegura, enquanto percorria com Joseph o longo salão com pinturas enfileiradas.
— Na verdade, ela não tem nada de interessante — ele assegurou.
— Não sei, não.
Demetria ficou em silêncio por algum tempo. Joseph observou que ela mordia os lábios. Parecia que queria lhe dizer alguma coisa, mas se conteve ao passarem por um outro casal.
— Joseph, preciso lhe dizer uma coisa... não quero... bem, se você não quiser se casar comigo, não se sinta obrigado.
Joseph congelou, sentindo-se tomado de ansiedade.
— O quê?! — perguntou atônito, tentando logo esclarecer: — Demetria, Blanche não significa nada para mim. Eu não a vejo há dez anos.
— Ah, não precisa se justificar, milorde. Não estou dizendo isso por causa dela. É que... sei que você fez o pedido porque fomos surpreendidos naquela noite. Não quero que se case comigo somente para evitar um novo escândalo.
—Você não quer se casar comigo? —Joseph perguntou, em um tom de voz mais áspero do que pretendia.
— Claro que quero! — apressou-se Demetria a responder e soou tão sincera que ele relaxou de imediato. Ela então acrescentou: — Mas não ponho a minha felicidade acima da sua. Prefiro sofrer um escândalo do que...
As palavras ficaram suspensas no ar porque Joseph agarrou-a pelo braço e a arrastou dali, voltando ao hall. Lá ele abriu uma porta, mas ao ver que naquela sala havia gente, fechou-a de maneira abrupta. Tudo o que ele desejava era provar a Demetria que ele queria, sim, e muito, se casar com ela, não tendo nada a ver com os escândalos. Era evidente que os acontecimentos daquela noite haviam precipitado as coisas, entretanto, mais cedo ou mais tarde ele teria pedido a mão dela. Ela precisava acreditar nisso e só havia uma maneira de provar-lhe. Mas era preciso que tivessem privacidade para que pudesse fazê-lo a seu modo.
Joseph olhou de um lado para outro do hall e puxou Demetria até a porta seguinte, abriu-a e constatou que essa sala também estava ocupada. Ao abrir uma terceira porta e verificar que a sala também estava ocupada, ele olhou desanimado ao redor. Notou então uma porta diferente das demais. Ao abri-la descobriu que dava para uma minúscula despensa. Ele imaginou que o hall não estaria vazio por muito tempo, então empurrou Demetria despensa adentro.
— O que viemos fazer aqui? — ela perguntou confusa, ao vê-lo afastar algumas peças para abrir um pouco de espaço para os dois.
Em vez de responder, Joseph espiou para fora, para se certificar de que o hall estava mesmo vazio, e fechou a porta.
— Joseph? — Demetria insistiu e foi calada com um beijo. Havia nele um fogo acumulado nos vários dias em que não pôde fazer outra coisa senão observá-la rir, falar e sorrir.
Visivelmente confusa e assustada, no primeiro momento Demetria permaneceu imóvel nos braços dele, mas esse momento durou muito pouco, pois logo seu corpo se derreteu em contato ao de Joseph e seus braços o envolveram.
Joseph gemeu quando ela começou a ronronar de prazer, agarrando-se a ele feito uma gata manhosa. A maciez daquele corpo movendo-se contra o dele e aqueles mesmos gemidos o haviam enlouquecido nas duas vezes anteriores.
Na primeira vez, consciente da presença da mãe do outro lado das portas francesas, encontrara forças para se conter e parar de beijá-la, fazendo-a voltar ao salão de baile.
Na segunda vez, no quarto dela, não havia ninguém do outro lado da porta, nada que o forçasse a se controlar. Apesar de tentar resistir, ele deixou os escrúpulos de lado e se entregou a todo tipo de carícia que desejava que ela conhecesse. E teria feito mais se o fogo não o tivesse interrompido.
Naquela despensa agora, precisaria de um grande autocontrole ou acabaria fazendo amor com ela encostada na parede. Certamente não era a melhor iniciação para uma virgem. Mas seu corpo não parecia se importar. Como Demetria continuasse a suspirar e ronronar e roçar seu corpo ao dele, seu corpo respondia com ereção, não conseguindo deixar de corresponder aos movimentos dela. Joseph dizia a si mesmo que aquilo era tudo o que lhes era permitido, mas suas mãos ignoravam a razão: uma desceu até abaixo da cintura, pressionando o corpo delgado contra o seu, enquanto a outra foi buscar a maciez do seio, acariciando-o e apalpando-o.
— Oh, Joseph ... — Demetria murmurou, arfando quando Joseph interrompeu o beijo e seus lábios deslizaram por seu pescoço. Ela soltou um novo gemido que só fez a ereção dele aumentar.
Nesse momento Joseph desejou que estivessem casados. Ele a levaria direto para casa e para a cama. Não conseguia pensar em mais nada, todo o seu corpo reagindo à mão de Demetria que, curiosa, tocou em sua ereção.
— O que tem em suas calças, milorde, que fica me cutucando? — murmurou ela quase sem ar, obtendo apenas um choramingo como resposta.
Joseph queria implorar para que ela o tocasse com maior pressão, que descobrisse por conta própria o que era, que simplesmente enfiasse a mão sob as calças para poder sentir desnuda a força de seu desejo.
— Quanto falta para o casamento agora? — ele perguntou aflito.
Demetria fez uma pausa, respirando pesadamente e tentou calcular. Levou uns minutos para que respondesse dado ao estado em que se encontrava.
— Uma semana, milorde.
— Tudo isso?
— Parece muito, mas não é.
Joseph ficou paralisado ao ouvir o comentário vindo de fora da despensa. Por um breve momento, teve a sensação de que havia outra pessoa lá dentro com eles. Estava escuro ali e não dava para enxergar coisa alguma, mas percebeu que Demetria estava muito assustada, pois seu corpo se enrijecera junto ao dele.
Joseph hesitou e finalmente perguntou a Demetria:
— Não é a voz de seu pai?
Antes que ela pudesse responder, a voz do outro lado da porta riu:
— Sou eu, sim.
Blasfemando, Joseph procurou se afastar de Demetria o máximo possível dentro daquele cubículo, endireitou os ombros e abriu a porta para saírem. Estava até meio preparado para levar um soco ou receber uma proposta de duelo ao amanhecer. Deparou-se, porém, com um John Lovato risonho, encostado na parede oposta à despensa, com uma expressão das mais divertidas.
Joseph esboçou um sorriso amarelo.
— Me desculpe, senhor — tentou justificar-se. — Demetria pensou que eu queria me casar com ela apenas para poupá-la do escândalo e eu estava tentando provar que a quero por ela mesma.
— Era isso o que você estava fazendo? — Demetria perguntou surpresa, saindo da despensa.
Joseph ia responder, mas ao ver o estado dela, tentou imediatamente desamassar sua roupa antes que alguém a visse. John Lovato também se aproximou para ajudar, levantando os cachos de cabelo desmanchados por Joseph.
— Sim, era o que eu estava fazendo — respondeu ele, procurando endireitar o outro lado do vestido. — Que outro motivo teria para enfiá-la em uma despensa?
— Me beijar — disse Demetria com simplicidade.
Joseph voltou os olhos para o rosto divertido de John Lovato e suspirou.
— Tem razão, Demetria, mas quis beijá-la para provar o quanto a quero, que meu pedido não foi um mero gesto de cavalheirismo da minha parte.
Ela pareceu perplexa ao ouvir o comentário.
— Mas por que simplesmente não me disse, milorde?
— Santa ingenuidade! — John Lovato disse, rindo, e explicou: — Porque os homens não pensam da mesma maneira que as mulheres, Clary. As mulheres falam, os homens agem. E por isso que foi criada a expressão “homem de ação”
— Entendi — retrucou Demetria, não parecendo ter entendido coisa alguma. Joseph deu um passo para trás para examiná-la. O vestido estava em ordem, mas aparentemente o pai estava tendo dificuldade em arrumar o cabelo dela. Na verdade, ela estava bastante despenteada.
Lorde Lovato olhou para a cabeça da filha, franziu a testa e se voltou para Joseph.
— Você saberia arrumar?
— Não — Joseph confessou, sem-graça —, mas talvez minha mãe saiba. Aguardem aqui que vou buscá-la.
John aquiesceu com a cabeça e Joseph se apressou a ir procurar a mãe. Encontrou-a ainda sentada no mesmo lugar com lady Taylor e Mary. Cochichando, ele explicou o problema. Ela imediatamente se levantou e saiu do salão de baile, mas, no momento em que Joseph se voltou para segui-la, Taylor disse:
— Logo ela terá os óculos novamente.
Joseph gelou e retrocedeu:
— O que disse?
— Enviei um recado a Lovato para que mandassem os óculos de reserva aqui para Londres. Logo deverão chegar. — Ela sorriu. — Assim, Demetria conseguirá enxergar direito e verá com quem está se casando. Ela parece feliz agora. Mas me pergunto se continuará assim quando estiver de óculos.
— Claro que ela continuará feliz — aparteou Mary com firmeza. Levantando-se ela passou seu braço no de Joseph. — Venha, vamos nos juntar a Demetria e a sua mãe.
Joseph permitiu que a prima o conduzisse para fora do salão, sua cabeça girava em um turbilhão. Demetria logo teria os óculos de volta e conseguiria vê-lo. Sua mente entrou em pânico. Ela o enxergaria.
— Você está bem? — Mary perguntou preocupada assim que chegaram ao hall. — Você ficou tão pálido quando Taylor disse que os óculos de Demetria logo chegariam.
Joseph não respondeu, não sabia o que dizer. Não estava se sentindo bem mesmo. De fato, sentia-se nauseado, mas não comentaria nada com Mary.
— Demetria vai amá-lo assim como você é, Joseph.
Ele queria poder acreditar nisso, mas sentia o peito oprimido de medo e dor.
— Onde Mikey está? — perguntou.
— Creio que foi jogar cartas com os homens. Por quê?
— Preciso falar com ele — Joseph respondeu, dando um tapinha na mão da prima. — Obrigado, Mary. Minha mãe e Demetria estão ali. Vou falar com Mikey e depois encontro com vocês.
Mary aquiesceu distraída e perguntou:
— O que houve com o cabelo de Demetria?
— Ficou meio desalinhado, e minha mãe está dando um jeito nele — Joseph explicou, visivelmente preocupado ao ver que o cabelo de Demetria estava ainda pior do que antes.
Balançando a cabeça, Joseph tratou de ir para a sala onde os homens e umas poucas mulheres jogavam cartas. Logo avistou Mikey. O primo estava vibrando quando se aproximou. Devia ter ganhado aquela rodada.
— Mikey, preciso falar com você — disse Joseph, parando atrás da cadeira dele.
— Pode falar.
— Tem de ser em particular.
— Não dá para você esperar eu terminar de jogar?
Joseph hesitou, ponderando a respeito.
— Não — disse afinal.
Mikey deu um suspiro e levantou-se.
— Senhores, me deixem fora desta jogada. Volto em seguida.
— Obrigado, primo — Joseph murmurou ao atravessarem a sala para falar.
— Tudo bem. O que há de tão importante?
— Taylor mandou buscar os óculos de reserva de Demetria.
Mikey o encarou, não entendendo.
— E daí?
— Ela conseguirá enxergar.
Mikey levantou uma sobrancelha e repetiu:
— E daí?
— Ora, não posso deixar que ela me veja...
— Joseph, pense um pouco — Mikey o interrompeu. — Ela vai ser sua mulher e, mais dia menos dia, acabará enxergando. Você não pretende dar continuidade a essa tolice de Taylor e mantê-la cega indefinidamente, não é?
— Não, claro que não, mas...
— Mas o quê? — Mikey exasperou-se.
— Preciso de mais tempo.
— Para quê?
Joseph desviou os olhos, hesitou e disse:
— Talvez se ela vier a me amar antes de conseguir me enxergar...
Vendo o olhar de piedade do primo, Joseph virou o rosto. Engoliu em seco. Parecia que tinha um bolo na garganta. Era um adulto, mas sentia-se como um menino de seis anos ameaçado de perder seu melhor amigo.
— Joseph — Mikey colocou a mão no ombro do primo, encarando-o com firmeza —, em primeiro lugar, seu rosto não é tão feio assim. Em segundo, tenho certeza de que Demetria não se importaria mesmo que fosse. E, em terceiro, se isso afetar os sentimentos dela por você, não é melhor ficar sabendo agora?
Joseph deu de ombros, derrotado.
— Talvez.
— Tudo ficará bem — Mikey assegurou-lhe, dando um tapinha no ombro dele. —Vá usufruir da companhia de sua noiva. Finalmente você pode estar com ela sem ter que fazer planos mirabolantes e fica aí se preocupando. Vá beijá-la, homem.
Joseph observou Mikey voltar ao jogo e virou-se para retornar ao hall. Ficou surpreso ao ver que não havia mais ninguém lá, nem Demetria, nem seu pai, nem sua mãe. Ocorreu-lhe que talvez tivessem conseguido ajeitar o cabelo de Demetria e voltado à festa. Começava a se dirigir ao salão quando ouviu a voz da mãe e depois a de Demetria. Ele parou no hall e olhou ao redor. A porta da sala que ficava ao lado da despensa e que antes estava fechada, agora estava aberta, Ele se aproximou e espiou para dentro da sala. Seus olhos custaram a acreditar no que viam.
— Céus, o que vocês fizeram no cabelo dela? — perguntou entrando na sala. Pegando Demetria pela mão, ele a tirou das garras das duas pessoas que haviam acabado de estragar o penteado dela.
— Está tão mau assim? — Demetria perguntou aborrecida, passando a mão pelo cabelo.
— Não está, não — lady Mowbray apressou-se em responder, sem olhar para o filho.
O cabelo de Demetria, amontoado daquele jeito, mais parecia um ninho de ratos, em nada lembrando o lindo penteado com que chegara à festa.
Joseph balançou a cabeça.
—Mãe...
— Não me venha com repreensão, Joseph. Não fui eu que o desmanchei. Ter coragem de enfiar a pobre Demetria em uma despensa, pelo amor de Deus. Ela só poderia acabar despenteada!
— Bem, está ficando tarde. Talvez seja melhor você levar Demetria para casa de carruagem, filho — John Lovato sugeriu. — Peça ao cocheiro que depois volte para buscar a mim e a Taylor.
— Sim, claro. — Joseph olhou para Demetria, ficando aliviado de que ela não parecia aborrecida com esse desfecho. 

i'm back
demorei a postar por que meu word nao estava colaborando, traduzindo,nao queria abrir. mas ja voltou ao normal
bjemi

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