Demetria
acordou muito cedo e muito ansiosa porque era o dia de seu casamento. Sabia
que, mesmo se tentasse, simplesmente não conseguiria dormir mais. Deixou-se
ficar na cama por alguns minutos, pensando eufórica sobre o dia à sua frente e
principalmente sobre a noite.
Lembrando-se
então dos óculos novos, sentou-se abruptamente na cama, tirou-os da bolsinha em
que estavam guardados e os colocou no rosto.
Um
suspiro de satisfação brotou-lhe aos lábios, O mundo estava em foco novamente.
Já não era sem tempo. Tinha uma constante dorzinha de cabeça de tanto firmar e
estreitar os olhos na tentativa de enxergar um pouco mais do que meros borrões.
Talvez não ficasse muito bem de óculos, mas o mundo à sua volta certamente
ficava muito melhor,
Não
era nada agradável deixar de usá-los quando tinha vontade de gritar de alegria
para que todos ouvissem que finalmente conseguia ver. Mas achava melhor ainda
mantê-los em segredo até que estivesse segura do amor de Joseph. Apesar de ele
afirmar o contrário, temia que tivesse se disposto a casar somente para evitar
mais um escândalo para ela.
De
óculos agora, Demetria considerou por um breve momento dar uma escapada até a
biblioteca para pegar um livro. Antes, porém, que tivesse se decidido, o som do
giro da maçaneta da porta quebrou o silêncio do quarto. Ela imediatamente tirou
os óculos e pegou sua bolsinha. Mal teve tempo de guardá-los, Taylor entrou no
quarto.
A
madrasta estava segurando alguma coisa que colocou sobre a penteadeira, mas
Demetria não saberia dizer o que era. Depois ela se aproximou da cama. Que pena
que não estava com seus óculos para ver a cara dela, pensou. Porque a vinda de
Taylor naquele horário e no dia de seu casamento não poderia ter um propósito
muito bom.
—
Seu pai achou que eu deveria lhe explicar as coisas que se passam na cama
depois do casamento — disse Taylor, sem qualquer preâmbulo.
Demetria
precisou se conter para não soltar um sonoro suspiro. Desconfiava de que não
iria gostar nada daquela conversa. Joseph parecia ter pressentido que a
madrasta faria de tudo para assustá-la sobre os acontecimentos logo mais à
noite, e ela agora via que ele estava certo. Tentou pensar em uma maneira de
impedi-la de falar, mas desistiu. Se todas as mulheres se casavam e
sobreviviam, por que com ela teria de ser diferente. Não se deixaria
influenciar pelo que Taylor lhe dissesse. Só não entendia a razão de o próprio
Joseph ter se mostrado tão relutante em conversar sobre o assunto e, embora não
quisesse pensar a respeito, não lhe saía da cabeça aquela história de dor e
sangue.
—
Vou lhe contar da mesma maneira que minha mãe me contou — disse Taylor
levantando a mão. — Consegue ver isto?
Demetria
apertou os olhos. O objeto que Taylor segurava era pequeno e escuro, mas não
dava para ver direito o que era.
—
É uma chave — Taylor explicou, caminhando em direção à porta. — Venha até aqui.
Demetria
hesitou, depois empurrou as cobertas, levantou-se e foi até a porta.
—
Agache-se um pouco e fique com o rosto bem perto daqui, Demetria. É importante
que você veja isto.
Demetria
fez o que a madrasta havia sugerido e Taylor colocou a chave na fechadura.
—
Você está vendo que coloquei a chave na fechadura — confirmou, — Minha mãe me
explicou que o homem tem a chave e a mulher, a fechadura. Joseph vai colocar a
chave dele em sua fechadura e assim o casamento estará consumado.
Demetria
mordeu os lábios e teve certeza de que a rigidez que a cutucara entre as pernas
era a chave em questão. Também tinha uma boa idéia de onde ficava sua fechadura.
Joseph, na verdade, a havia explorado bastante na noite do incêndio.
—
Minha mãe, porém, era uma mentirosa deslavada — Taylor continuou e Demetria,
muito espantada, foi novamente se sentar. — Não é nada tão simples e nem tão
limpo quanto parece com essa demonstração — assegurou Taylor. — Agora venha até
aqui.
Demetria
levantou-se e acompanhou Taylor até a penteadeira onde ela havia colocado
alguns itens. Inclinando-se e firmando os olhos, Demetria pôde ver que havia um
pequeno bastão de prata e um tipo de torta. Enquanto ela ainda estava inclinada
sobre a penteadeira, Taylor pegou o bastão.
—
Esse é o tamanho aproximado do equipamento masculino, ou, segundo a explicação
de minha mãe, da chave.
Demetria
avaliou o item, imaginando que deveria ter entre quinze e vinte centímetros de
comprimento. Nunca havia visto aquilo antes e se perguntava de onde Taylor o
havia tirado. Deixou, porém, de divagar, ao ouvir Taylor falar novamente:
—
A torta é a fechadura. Sua fechadura não está aberta e é perfeitamente
compatível com a chave do homem. E pequena, estreita e tem um fina película
chamada... hímen.
Demetria
firmou o olhar no rosto de Taylor ao sentir o evidente desconforto de sua voz.
Tocar nesse aspecto mais técnico aparentemente a constrangia. Mas ela foi em
frente.
—
E o homem tem que romper essa película na primeira vez. Assim!
Demetria
teve um sobressalto quando Taylor fincou o bastão na torta com um golpe
violento. Demetria olhou para a torta estraçalhada e então pegou um lenço para
limpar a geleia que havia se espalhado por todo o lado e respingado em seu
rosto. A torta era de morango ou framboesa e, por mais cega que fosse, dava
para ver o bastão meio enterrado na torta, recoberto com o vermelho escuro da
geleia.
—
Você vai sangrar — Taylor avisou com um meio sorriso e, como deve imaginar, vai
sentir dor, mas se tiver sorte, ele acabará rapidamente e a deixará sozinha
para descansar e chorar com privacidade. Pessoalmente, duvido que lorde Mowbray
tenha essa consideração.
Sem
se importar com a sujeira que havia feito, Taylor se encaminhou para a porta e,
antes de sair, disse secamente:
—
Bom divertimento à noite.
Depois
que a porta foi fechada, Demetria se sentou à penteadeira, sentindo uma grande
fraqueza. Não conseguia tirar os olhos da torta. A crosta dourada que a
recobria estava toda manchada, e o bastão espetado nela continuava firme e
orgulhoso.
—
Droga! — Havia jurado que não permitiria que Taylor a deixasse preocupada, mas
tudo aquilo era bastante preocupante.
—
Milady!
Demetria
se voltou ao ouvir a voz de Joan que entrava no quarto.
—
Sua madrasta estava saindo quando eu cheguei. Está tudo bem?
—
Eu — Demetria pigarreou e acabou esquecendo o que pretendia dizer. Perguntou
então de supetão: — É verdade que nós mulheres temos uma película e que o homem
tem de rompê-la?
—
Bem...
Demetria
percebeu a relutância na voz da criada e insistiu:
—
É ou não verdade?
—
É, mas...
—
É verdade também que sangra e dói?
Joan
suspirou.
—
Milady, não deve permitir que as palavras de sua madrasta a deixem preocupada.
A primeira vez dói para muitas mulheres, mas...
—
Então não dói para todas? — Demetria interrompeu, esperançosa.
—
Ouvi dizer que algumas sofrem muito pouco — Joan assegurou.
—
Ouviu dizer — Demetria ecoou. — Mas então não conhece ninguém que não tenha
sofrido na primeira vez?
Joan
hesitou novamente, depois foi fechar a porta do quarto e, com ar determinado,
se aproximou de Demetria.
—
Ouça, tenho certeza de que lorde Mowbray saberá conduzir tudo de maneira muito
delicada. Agora vamos trocar de roupa.
—
Mas...
—
Milady — Joan a interrompeu com calma. — A senhora quer se casar com ele, não
é? Ou preferia se casar com lorde Prudhomme ou com alguém desse tipo? Garanto
que lorde Prudhomme não estaria nem um pouco preocupado com seu medo ou
desconforto.
—
Não mesmo — Demetria concordou e levantou-se com um suspiro. — Ajude-me então.
Afinal, vou me casar hoje.
Era
evidente a falta de entusiasmo na voz de Demetria. Até ouvir as explicações de
Taylor, estava ansiosa para que chegasse a noite. Imaginava que seria ainda
melhor do que a que tivera em seu quarto quando Joseph fez com que seu corpo
fosse todo tomado de excitação e seu coração disparasse descontrolado. Agora
que sabia o que a esperava, só podia se sentir triste por haver nascido mulher.
Pois não tinha dúvida de que era bem melhor ser um bastão do que uma torta!
O
padre era idoso e formal e parecia tão insatisfeito quanto ela de estar ali
naquele momento. E, para completar, o dia estava frio e chuvoso, o que era bem
pouco usual naquela época do ano. Demetria só podia imaginar que fosse um mau
presságio do que estava para acontecer.
—
Demetria?
Ela
sobressaltou-se ao ouvir Joseph murmurar seu nome. Aparentemente todos estavam
com os olhos voltados para ela.
—
Você aceita...? — indagou o padre, em um tom insistente, como se já tivesse
feito a pergunta uma ou duas vezes.
—
Sim — Demetria o interrompeu prontamente, envergonhada de ser pega devaneando
em um momento tão importante.
Dando-se
conta de ter aceitado, ela soltou um suspiro profundo. Já não estava tão certa
de que desejava mesmo ter dito o “sim”, depois de saber o que a esperava.
Tarde
demais para se arrepender agora. Fizera seus votos e agora Joseph fazia os
dele. Acabava de se tornar lady Demetria Montfort, esposa do conde de Mowbray.
E não era nem sequer preciso perguntar a ele se queria que sua chave entrasse
na fechadura dela. Era óbvio que ele queria.
—
Eu os declaro marido e mulher. Agora pode beijar a noiva.
Mal
tinha registrado essas palavras quando Joseph a tomou nos braços e a beijou.
Demetria permaneceu dura em seus braços, sua mente em total confusão. Oito
horas antes ela estava feliz e eufórica ao pensar que estavam se casando
naquele dia. Agora não lhe saía da cabeça o bastão perfurando a torta com
força.
Joseph
deve ter estranhado a reticência dela, pois afastou seus lábios dos dela e a
fitou com uma expressão preocupada. Demetria forçou um sorriso, tentando
parecer natural. Então todos começaram a se aproximar ao mesmo tempo. Formou-se
uma fila para assinar o livro de casamento e cumprimentar os noivos. Alguns
minutos depois ela se viu carregada para o interior da carruagem e seguindo
para casa. Para a casa de seu pai. Aquela que não seria mais sua casa. Dali em
diante, moraria com Joseph.
—
Vamos para casa?
Demetria
ergueu os olhos do drinque que estivera bebericando. Sua expressão era de puro
alarme. Aquele era o momento que estava temendo desde que chegara à casa do pai
para a festa de casamento.
Mordendo
os lábios, Demetria desviou o olhar para a sala cheia de convidados. Era
surpreendente ver tanta gente presente, depois de ter sido evitada por quase
todos os presentes desde que chegara a Londres. Além de seus próprios
familiares e os de Joseph, lá estavam lorde e lady Havard, lorde e lady Achard,
lorde Prudhomme e a mãe e diversas outras pessoas cujas vozes soavam
conhecidas, mas que dificilmente ela reconheceria na rua se as visse, pela
dificuldade de enxergá-las sem os óculos.
Ciente
de que Joseph estava aguardando sua resposta, Demetria engoliu em seco, tentou
dar um sorriso espontâneo e não conseguiu. Sua voz era um mero sussurro ao
perguntar:
—
Por que tão cedo?
Joseph
levantou as sobrancelhas, surpreso, e disse baixinho: — Já é bem tarde,
Demetria. Quase meia-noite.
Para
um baile não seria tarde, por que seria para sua festa de casamento? Ela fez
mais uma tentativa desesperada:
—
Sim, mas todos ainda estão aqui. Não deveríamos esperar para que todos os
convidados fossem embora?
—
Demetria — explicou Joseph com toda a paciência —, faz parte da tradição que os
noivos saiam primeiro. Todos estão aguardando nossa saída.
—
Ah, não sabia. — Incapaz de pensar em qualquer outra maneira de postergar o momento
de ir embora, Demetria colocou o drinque na mesa a seu lado e capitulou: — Vou
pegar as minhas coisas.
—
Os criados já levaram todas as suas coisas durante a cerimônia — ele informou,
com delicadeza.
—
Oh! Mas e Joan?
—
Joan já está lá em casa também. Venha, vamos nos despedir de seu pai e de
Taylor.
—
Está bem. — Toda suspirosa, Demetria deixou-se conduzir pelo marido para se
despedir primeiro do pai e Taylor, depois de lady Mowbray.
As
coisas pareciam correr rápido demais para ela. No momento seguinte, já estavam
na carruagem. Ela se sentou tensa e ansiosa em um dos cantinhos, com a mente
toda tomada pelo que estava por acontecer.
Joseph
manteve-se calado no canto oposto, mas ela sentia os olhos dele examinando-a
durante todo o percurso. Demetria tinha consciência de que seu comportamento o
incomodava, e quebrava a cabeça para dizer alguma coisa que pudesse aliviar a
evidente tensão entre eles. Qualquer coisa que fosse. Mas sua mente estava
bloqueada com a imagem da demonstração feita por Taylor.
Os
criados de Joseph, seus também dali em diante, estavam todos perfilados à porta
quando entraram. Todos sorriam e balançavam a cabeça em cumprimento à medida
que Joseph, agora oficialmente, apresentava-os a ela, dizendo seus nomes.
Demetria procurava retribuir os sorrisos, mas já não se lembrava de nome algum
no momento em que começaram a subir a escadaria.
Ela
tinha a sensação de estar sendo levada para a forca. Cada nervo de seu corpo
gritava de medo e tensão. Ela quase gemeu quando Joseph abriu a porta do
quarto. Vendo-a hesitar, ele a empurrou gentilmente para dentro.
Ao
ouvir a porta ser fechada, Demetria se virou, arregalando os olhos. Seu marido
não havia entrado com ela. Sentiu como se tivesse tirado um peso dos ombros.
Haveria uma breve prorrogação.
—
Na casa nova finalmente!
Demetria
enrijeceu o corpo ao som da voz alegre de Joan e ao voltar-se viu o vulto da
criada caminhando em sua direção, cheio de energia. Demetria teve vontade de
perguntar a ela a razão de tanta euforia, mas conteve-se.
—
A cerimônia do casamento foi bonita? E na festa, tinha muita gente? A senhora
dançou? A comida estava gostosa? Todos trabalharam muito para que tudo saísse
perfeito — Joan comentou e começou a desabotoar seu vestido.
Ocorreu
a Demetria mais tarde que talvez tivesse respondido às perguntas da criada, mas
não saberia dizer que respostas dera. À medida que a criada a ajudava a tirar
cada peça de roupa, seu pânico só fazia aumentar, sentindo-se cada vez mais
vulnerável. Pouco depois, ela já havia se despido, tomado banho e se encontrava
enfiada na cama, em uma linda camisola de renda.
—
Pronto. A senhora está linda — Joan assegurou-lhe, como se isso importasse para
ela. Desejando-lhe boa-noite, a criada saiu do quarto.
Demetria
permaneceu estática no meio da cama. Seus olhos percorriam assustados as
sombras escuras que a cercavam. Não dava para ver muito além da vela sobre a
mesinha-de-cabeceira a seu lado. Depois de hesitar um pouco, ela se sentou e
pegou a bolsinha que havia levado e pedido à criada que colocasse na mesa de
cabeceira. Tirou os óculos de dentro e os vestiu para enxergar melhor seu novo
quarto.
Já
o havia visto no dia anterior quando Joseph a levara para conhecer a casa. Mas
então estava sem os óculos e a impressão que causava era bem diferente à luz de
vela. Escuro e melancólico, pensou. O vermelho que lhe parecera alegre à luz do
dia, agora lembrava a cor do sangue.
Suspirando,
ela deteve o olhar na cama. Era enorme, muito maior do que a que tinha na casa
de seu pai. Era casada agora e aquela era a cama que compartilharia com seu
marido. Esse último pensamento provocou-lhe um friozinho na barriga. Tirou os
óculos e voltou a escondê-los na bolsinha. Deitou-se depois, considerando a
possibilidade de fingir estar dormindo para que Joseph, quem sabe, deixasse a
consumação para o dia seguinte.
Seria
uma atitude covarde, pensou Demetria, que só prolongaria seu medo e faria com que
passasse todo o dia seguinte ansiosa até que a tarefa fosse finalmente
completada. Havia uma coisa que aprendera cedo na vida: em vez de adiar, era
sempre preferível atacar logo as tarefas desagradáveis e livrar-se delas de uma
vez. Além disso, seria bom saber o que teria de enfrentar todas as noites de
sua vida dali em diante... Se é que teria de enfrentar todas as noites. Com que
frequência o marido desejaria tê-la? Como, segundo ele, não havia sofrimento
para os homens, só o prazer que ela havia experimentado naquela noite em seu
quarto, talvez Joseph quisesse tê-la todas as noites.
Ela
estremeceu ante essa ideia. O bastão na torta todas as noites pelo resto de sua
vida...
Não
devia ser daquele jeito, Demetria decidiu de repente. Lady Havard e lady Achard
não estariam tão desejosas de ter um caso com lorde Prudhomme se fosse daquele
jeito todas as vezes. Talvez o problema da dor fosse só com o bastão. Ela já
sabia que havia muitas coisas que um homem e uma mulher fazem juntos que podem
ser bastante prazerosas.
Demetria
fez uma careta. Era uma pena que algo tão agradável terminasse de forma tão
desagradável; difícil de acreditar que o prazer compensasse a dor. E ainda
assim lady Havard e lady Achard pareciam não se preocupar nem um pouco de
sofrerem. Pelo contrário, agora ela entendia o que Prudhomme andara fazendo sob
as saias de lady Havard e, pensando bem, seus gemidos e suspiros não revelavam
dor alguma.
Demetria
franziu a testa perguntando a si mesma se ela também teria emitido sons quando
Joseph fizera aquelas coisas com ela. Estava tão distraída descobrindo as
sensações de seu corpo que não saberia dizer. Prestaria atenção da próxima vez.
Aliás, a ideia da próxima vez fez com que esboçasse um sorriso melancólico. A
próxima vez certamente não terminaria de maneira muito gostosa.
O
olhar de Demetria voltou-se então impaciente para a parede onde ficava a porta
que dava para o quarto anexo, o de Joseph. Já era tarde e o dia havia sido
longo e estressante. Queria dormir. Mas por onde andaria seu marido? Gostaria
que ele tivesse a consideração de acabar logo com sua ansiedade e permitisse
que ela dormisse.
Realmente,
agora lhe parecia ótima ideia fazer o que tinha de ser feito o mais rápido
possível. Ela se virou impaciente de um lado para o outro na cama e então jogou
as cobertas de lado e se levantou.
Demetria
pegou a vela da mesa de cabeceira e caminhou com cuidado em direção à porta de
comunicação com o quarto do marido. Sem dúvida, a vida seria muito mais fácil
para ela se pudesse estar com seus óculos. Não via a hora de poder usá-los na
frente de Joseph. Se ele soubesse o sacrifício que ela estava fazendo para
ganhar seu amor!
Demetria
soprou uma longa mecha de cabelo que lhe caía no rosto, estendeu a mão para
evitar que se chocasse com a parede, e ficou aliviada ao sentir a superfície da
porta. Então parou por um momento, respirou fundo e, armando-se de coragem,
colocou a mão na maçaneta. Era melhor assim. Quanto tempo será que levaria?
Certamente não demoraria muito. Um momento desagradável, depois poderia relaxar
e dormir. Resoluta, girou a maçaneta e abriu a porta.
Joseph
virou-se para o lado de costume na cama e soltou um suspiro conformado. Depois
que Keighsley o ajudara a desvestir-se e banhar-se, dispensou-o e sentou-se na
cama, tentando decidir o que fazer. Seu primeiro impulso foi o de ir imediatamente
ao quarto de Demetria e consumar o casamento. Só o pensamento o deixava
extasiado.
Infelizmente,
porém, notara que ela não estava bem. No dia anterior havia se mostrado
plenamente confiante e feliz com o casamento, mas desde o momento em que
entrara na igreja, ele percebera que havia algo de errado. Ela estivera
distraída e ansiosa durante — E a senhora concordou em ajudá-lo? — Demetria perguntou,
incrédula. Toda a
cerimônia, depois quieta e tensa durante a festa, sempre afastando-se um pouco
quando ele se aproximava dela, como se não aguentasse sua presença. Depois não
demonstrara nenhum entusiasmo de deixar a festa e ir para a nova casa.
Ele
não sabia qual era o problema e tinha receio de perguntar. Temia que ela
tivesse conseguido ver melhor o seu rosto e agora abominasse a ideia de viver
com ele. Era o tipo de coisa que Taylor poderia ter armado, pegando emprestados
os óculos de outra pessoa e feito com que ela olhasse pela janela para ver com
quem estava se casando. Se esse fosse o caso, a felicidade que tivera naquelas
semanas e que almejava perpetuar no futuro não existiria.
Ao
longo das últimas semanas, a mente de Joseph estava sempre tecendo sonhos e
fantasias sobre uma feliz vida conjugal. Entrevia uma casa cheia de amor e
riso, chorinho de criança, e Demetria sempre ao seu lado, compartilhando de
seus dias e de suas noites.
Mas
seu coração doía ao pensar que tudo isso podia estar lhe escapando. Não tinha
coragem de perguntar a ela o que a aborrecia e, pior ainda, receava procurá-la
na cama e ser repelido com repulsa. Por isso, estava acovardado e havia
resolvido deixá-la descansar aquela noite. O dia havia sido longo, disse a si
mesmo. Na manhã seguinte, veria como ela estava se sentindo. Se tivesse apenas
sido o estresse do casamento e a mudança para a nova casa, Demetria certamente
acordaria com melhor disposição. Caso não fosse...
Joseph
amaldiçoou em silêncio o ferimento que o transformara em uma besta humana. Queria
ser atraente para a esposa, queria que quando ela colocasse os óculos pudesse
continuar olhando para ele com o mesmo amor e atração que demonstrava desde que
haviam se conhecido.
O
ruído da porta se abrindo interrompeu os pensamentos que Joseph amargava. Ele
virou-se confuso para o lado onde ficava a porta de comunicação entre os dois
quartos e arregalou os olhos ao vê-la ser aberta, mostrando a chama de uma
vela.
—
Joseph? — Demetria o chamou baixinho, estreitando os olhos na tentativa de
localizá-lo no quarto. — Por que está tão escuro aqui? Onde você está, meu
marido?
Joseph
abriu a boca para responder, mas a voz não saiu ao ouvir a palavra “marido”.
Marido. Era a primeira vez que ela se dirigia a ele assim e seu coração se
apertou no peito. Marido. Ele era agora o marido de Demetria.
E
era sua esposa que surgia ali, usando uma fina camisola de renda. Transparente
e sensual, a camisola revelava muito mais do que encobria do corpo dela e não
era somente seu coração que reagia agora àquela visão, emoldurada pelo cabelo
solto e brilhante, caindo em ondas pelos ombros.
—
Joseph?
Pigarreando,
ele se sentou na cama.
—
Estou aqui, querida. O que você faz ainda acordada. Pensei que já estivesse
dormindo.
Para
seu espanto, Demetria pareceu contrariada ao ouvir essas palavras.
—
E nossa noite de núpcias, milorde — disse ela, como se isso explicasse tudo.
Joseph
não tinha tanta certeza. Tudo indicava que Demetria estivesse ali em busca
dele, uma vez que ele não fora até ela, mas era difícil de acreditar nisso
depois da atitude que ela tivera durante todo o dia.
—
Achei que você estivesse cansada e preferisse uma noite toda de sono —
justificou-se, inseguro.
—
O quê? — Demetria protestou, não havendo dúvida de que suas palavras a deixaram
irritada. — E me fazer esperar por mais vinte e quatro horas para consumar
nosso casamento?
Joseph
piscou os olhos. Ela parecia bastante consternada com essa possibilidade.
—
Bem, é que você estava tão tensa e ansiosa o dia todo, que achei que seria uma
consideração...
—
Não quero sua consideração, milorde. Quero acabar logo com isso — Demetria avisou.
Era
bom saber que ela estava tão ansiosa, Joseph pensou laconicamente,
sobressaltando-se ao vê-la dar uns passos e tropeçar na mesinha ao lado da
porta e derrubar uma vela apagada que estava sobre a mesma.
Resmungando,
Demetria se ajoelhou, segurando com uma das mãos a vela que trouxera e tateando
o chão com a outra para encontrar a peça que deixara cair.
Joseph
hesitou um pouco, então jogou para o lado as cobertas e levantou. Ele estava
completamente nu, mas, pensou, Demetria não enxergaria. Não que se importasse
de estar nu na frente dela. Seu rosto podia estar marcado, mas seu corpo estava
ileso e em perfeita forma. Em outras circunstâncias, porém, preferiria estar de
pijama em respeito à virgindade dela, só que não podia imaginar que ela fosse
aparecer.
—
Deixe, eu pego para você — disse ele, atravessando o quarto para chegar perto
dela.
Joseph
estendeu a mão, com a intenção de ajudá-la a levantar-se, mas, não percebendo o
gesto dele, Demetria levantou a cabeça para fitá-lo. Seus olhos, porém, não
chegaram ao rosto do marido. Detiveram-se na virilha dele e lá congelaram. À
meia-luz, Joseph observou como ela estava pálida.
—
Deus do céu! — ela exclamou. — Sua chave é enorme.
Pelo
menos é o que Joseph pensou ter entendido. Podia estar enganado, pois mal
conseguira ouvir o que ela sussurrara. Mas se estava certo, o que ouvira não
fazia sentido algum para ele.
Qualquer
preocupação ou curiosidade sobre o que ela havia dito morreu instantaneamente
quando Demetria aproximou dele a vela que segurava, como se quisesse avaliar
melhor o que via. Era óbvio que a percepção de distância dela era nula. Joseph quase
teve suas partes íntimas queimadas, não com água quente, como Mikey, e nem
sequer tinha, como ele, a proteção de qualquer tecido entre seu corpo e o
calor.
Joseph
tirou o castiçal da mão de Demetria com uma das mãos e, com a outra, a ajudou a
se levantar.
—
Venha então. Se você quer mesmo consumar nossa união ainda esta noite, fico
muito feliz — Joseph lhe assegurou, conduzindo-a até a cama. Pudesse ela ver,
não duvidaria nem um pouco. Só a perspectiva de tê-la na cama já o deixara
completamente preparado.
Joseph
colocou o castiçal na mesa-de-cabeceira enquanto Demetria subia pelo outro lado
da cama. Ao olhar para ela, viu que ela esfregava as mãos como quem lava roupa.
—Você
tem que se deitar se quiser... — Joseph sugeriu inseguro. Pois na verdade,
apesar de apregoar que desejava chegar às vias de fato, ela não parecia nem um
pouco animada. Olhando indeciso para a esposa, Joseph não se conteve e
perguntou:
—
Demetria, o que há de errado?
Ela
sacudiu a cabeça sem proferir uma palavra e continuou, com os olhos muito
assustados, esfregando as mãos.
Joseph
entendeu que todo aquele nervosismo só poderia ser medo e resolveu ser paciente
e carinhoso com ela. Não insistiu, por exemplo, para que ela se deitasse, mas
contornou a cama para se juntar a ela, pensando em beijá-la para acalmar um
pouco a ansiedade. No momento em que se aproximou, Demetria passou para o outro
lado da cama.
Joseph
esboçou um sorriso e tentou subir na cama do lado onde ela se encontrava, mas
Demetria se apressou em mudar para o outro lado.
Endireitando
o corpo, Joseph olhou para ela. Eles estavam cada um de um lado da enorme cama.
Demetria apertava as mãos e o olhar que lhe dirigiu não poderia ser mais
assustado.
—
Demetria — disse ele baixinho, mas não conseguiu falar mais nada porque ela,
não aguentando mais a tensão, desabafou:
—
Acho que não quero que sua chave penetre na minha fechadura.
Joseph
emudeceu e piscou. Não estava entendendo nada. Novamente a história da chave.
Que sentido fazia ela de estar preocupada com uma chave?
—
Não tenho ideia do que você quer dizer, minha esposa.
Demetria
estremeceu ao ouvi-lo dizer “esposa”, e explicou:
—
Estou dizendo que não quero que você rompa minha torta com sua chave.
Confuso
diante dessas palavras, Joseph perguntou:
—
O quê?
—
Minha fechadura é muito pequena para seu bastão.
—
Demetria, você está falando em códigos? — Joseph perguntou, intrigado.
—
Taylor me explicou tudo.
Joseph
emudeceu; de repente, teve uma iluminação:
—
Ah, Taylor.
Demetria
concordou com a cabeça.
—
Você me mandou perguntar a ela por que seria desconfortável... Nem precisei
perguntar, ela me procurou para explicar tudo.
—
Entendi. — Ele soltou um suspiro. Estava esclarecido o comportamento estranho
de Demetria durante todo aquele dia. Ela ficara apavorada com o que Taylor lhe
dissera e passara o dia do casamento temendo a noite que teria pela frente. E
tudo por culpa dele. Havia sugerido que ela perguntasse a Taylor por total
inabilidade de explicar-lhe o que devia.
—
E foi Taylor quem inventou essa história de fechadura, bastão?
Demetria
assentiu com a cabeça e contou a Joseph as explicações que Taylor lhe havia
dado e, principalmente, detalhou a demonstração que fizera.
—
E, embora eu esteja sem os meus óculos, me pareceu que seu bastão é enorme,
milorde — ela completou em um tom aflito.
Joseph
precisou conter o riso. Na verdade, não havia nada de engraçado em tudo aquilo.
Taylor dera um jeito de tornar a noite de núpcias deles muito mais difícil do
que precisava ser, mas sentia-se aliviado de saber que o comportamento da
esposa nada tinha a ver com qualquer repulsa quanto a sua cicatriz.
—
Demetria?
—
Sim? — Ela ainda estava visivelmente assustada, com os olhos arregalados e o
peito arfando.
—
Você gosta dos meus beijos? — Joseph perguntou, pacientemente.
A
expressão de Demetria ficou mais preocupada, como se temesse ser chantageada
com a pergunta. Depois de um minuto de hesitação, porém, respondeu:
—
Sim, milorde, gosto muito de seus beijos.
—
E você gosta quando a toco e a acaricio?
Demetria
levantou-se, como se estivesse pronta para fugir, mas concordou.
—
E você gostou do que fizemos em seu quarto?
Demetria
mordeu os lábios e corou, mas concordou novamente.
—
Então que tal se fizermos aquilo de novo?
—
Só beijar e tocar e... — Mesmo à luz da vela ele pôde perceber que ela ficou
rubra — ...aquela outra coisa?
—
Isso — Joseph mentiu. Tinha toda a intenção de avançar mais do que aquilo, mas
era preciso que ela primeiro estivesse relaxada e preparada. Não ajudaria em
nada falar antes da hora o que tinha em mente.
Demetria
relaxou um pouco.
—
Você não se importa de...
—
Não perfurar sua torta? — Joseph completou ao vê-la com dificuldade de
verbalizar a situação. — Não, não me importo.
Demetria
soltou um suspiro de alívio e deu um de seus luminosos sorrisos, fazendo-o
sentir-se o homem mais atraente do mundo. Não foi preciso que dissesse mais
nada, ela se enfiou sob as cobertas e voltou a sorrir para ele, desta vez um
sorriso cheio de expectativa.
Joseph
também suspirou, consciente de que o pior já havia passado. Ele levantou então
as cobertas e cuidadosamente se instalou na cama ao lado de Demetria.
Demetria
sentiu o balanço da cama quando Joseph deslizou sob os lençóis para seu lado e
se atirou sobre ele. Joseph soltou uma exclamação de surpresa e ela grudou em
seu peito, beijando-o loucamente no rosto, no nariz, na testa.
—
Obrigada, obrigada, obrigada — ela ficou repetindo entre os beijos. — Obrigada
por ser tão compreensivo e paciente. Você é o melhor marido do mundo. Verdade,
milorde, eu sou uma mulher de muita sorte.
A
respiração de Joseph ao falar junto de seu ouvido então foi uma verdadeira
carícia.
—
Fico feliz de vê-la feliz.
—
Hum. — Demetria sorriu, passando os braços em volta do pescoço de Joseph, e
pediu quando ele a abraçou com uma das mãos e afagou-lhe os cabelos com a
outra: — Por favor, me beije, meu querido marido.
—
Como queira, minha encantadora mulher. — Mal seus lábios tocaram os dela,
Demetria os entreabriu para a língua quente e sensual, soltando um pequeno
murmúrio de prazer quando ele a acomodou de costas na cama e se debruçou sobre
ela. Era disso que ela gostava. Gostava dos lábios de Joseph nos seus e do
corpo dele pressionando o seu que parecia latejar, com os pequenos
estremecimentos que sentia.
Era
suficiente que fizessem apenas aquilo sempre. Não via a necessidade de mais
nada, a não ser que fosse necessário quando quisessem ter filhos, pensou. Aí
não teria outra alternativa a não ser enfrentar o bastão.
Joseph
colocou a mão no seio de Demetria através do fino tecido da camisola, e sua
capacidade de pensar acabou ali. Arfando, Demetria arqueava o corpo a cada
toque dele. Ele começou delicadamente a brincar com seu mamilo, provocando
ondas de excitação em seu corpo, fazendo-a enterrar as unhas em seus ombros.
As
pernas de Demetria se movimentavam desassossegadas. Reagindo a uma necessidade
quase inconsciente, Joseph subitamente virou de lado e, segurando-a pelos
quadris, puxou-a também de lado para mais junto dele. Escorregou então uma
perna entre as dela. O contato da pele contra a sua foi a sensação mais erótica
que Demetria tivera. Foi assim que notou que sua camisola havia subido, mas
pouco se importou. Pelo contrário, mexeu novamente as pernas para acomodar
melhor a do marido no alto de suas coxas. A perna de Joseph começou então a
pressioná-la com movimentos delicados e insistentes, aos quais seu corpo
imediatamente respondeu pressionando-o também.
Demetria
teve uma vaga consciência de que seu corpo se contorcia na tentativa de
usufruir de toda a excitação e prazer que ele lhe despertava, mas de uma coisa
tinha certeza, queria mais do que aquilo.
Joseph
interrompeu o beijo e deslizou os lábios na pele macia do rosto de Demetria, mordiscando
lhe a orelha e descendo como brasa pelo pescoço delicado enquanto as mãos
fortes tratavam de abrir a camisola dela.
Quando
a mão de Joseph se apossou de seu seio, Demetria teve um estremecimento de
prazer. Joseph iniciou um caminho de beijos por seu ombro e colo. Quando a boca
quente e úmida tocou o seio, Demetria gemeu. Ele deixou que o mamilo lhe
escapasse da boca para fitá-la intensamente. Havia fogo na expressão de Joseph.
Então tornou a beijá-la.
Não
foi um beijo gentil, foi um beijo guloso, exigente, quase furioso que imediatamente
despertou em Demetria a mesma urgência e volúpia, fazendo-a retribuir com igual
paixão e necessidade. O beijo se tornou tão imperioso que quando ele finalmente
levantou a cabeça, Demetria deu-se conta de que estava deitada de costas e ele
havia se instalado entre suas pernas.
Demetria
estava arfando e prendeu a respiração quando Joseph a beijou primeiro em um
olho e depois no outro. Joseph estava tão perto que ela pode enxergar o rosto
másculo. Percebeu que a cicatriz na face em nada comprometia a beleza do
marido. Demetria esboçou um sorriso e sentiu o coração apertar no peito só de
olhar para o homem que havia transformado sua vida, com tanta atenção e
carinho.
—
Eu... — Demetria se pegou quase dizendo que o amava.
Piscou
confusa. Não era possível que ela já o amasse. Era cedo demais para amar tanto
e tão facilmente. Ou aquilo realmente seria amor?
Perdida
em pensamentos, de repente Demetria sentiu as mãos de Joseph percorrendo seu
corpo e notou não só que ele havia se ajoelhado, como também que sua camisola
parecia um cinto em volta de sua cintura, deixando o corpo desnudo acima e
abaixo dela. Ela podia sentir os olhos de Joseph devorando-a enquanto afagavam
seu corpo com mãos cada vez mais famintas até agarrarem seus dois seios.
Meio
inconsciente sob aquele olhar, Demetria lutava para não soltar nenhum gemido,
mas no momento em que ele tocou em seus seios, um gemido baixo escapou-lhe da
garganta. Soltou um outro gemido quando as mãos de Joseph deslizaram pelas
curvas de seu corpo alcançando seus quadris. Demetria estava indócil na cama,
desejando ser beijada novamente, ou que prosseguisse mais para baixo em suas
carícias.
Mal
acabara de ter esse pensamento, uma das mãos de Joseph mergulhou entre suas coxas.
Demetria fechou os olhos e estremeceu ao toque. Sua excitação estava chegando a
um ponto intolerável. De repente, Joseph se inclinou e esfregou o rosto em seu
ventre, primeiro em uma direção, depois na outra, descendo suavemente.
Demetria
pressentiu as intenções dele. Retesou o corpo, com os joelhos arqueados e os
pés fincados na cama enquanto delicadamente Joseph colocava a cabeça entre suas
coxas. Era demais. Muito mais do que estava conseguindo suportar, tentando
ainda reprimir os gemidos que lutavam para sair de sua boca. Para seu
desespero, uma das mãos de Joseph percorreu de novo seu corpo, apalpando-lhe
ora um seio ora o outro.
Embora
constrangida, Demetria desistiu de tentar se controlar e deu vazão aos sentimentos.
Suas mãos apertavam os lençóis, seus pés alternavam-se entre comprimir a cama e
acariciá-lo. Quando pensou que já não aguentava mais a agonia da excitação,
soltou os lençóis e agarrou a cabeceira da cama, dando-se conta de que Joseph mudara
de posição e estava agora em cima dela. A boca ávida cobriu a sua num beijo
ardente, que ela retribuiu sugando aquela língua que lhe pedia mais. Um
instante depois, gritou espantada, sentindo algo firme e forte dentro de seu
corpo.
Ambos
congelaram e permaneceram completamente calados por um momento. Então Joseph tirou
seus lábios dos dela vagarosamente, olhando-a preocupado.
—
Você está bem? — perguntou com um fio de voz.
Demetria
engoliu em seco, depois movimentou o corpo um pouquinho, percebendo que ainda
estavam unidos. Ele havia colocado a chave na fechadura, pensou, mas não havia
sentido nem um pingo de dor. Embora toda a sua excitação tivesse repentinamente
cessado com a surpresa do intruso, nada tinha sido como Taylor havia descrito.
—
Sua torta foi rompida. Me perdoe, achei melhor acabar logo com isso. Você está
bem?
Demetria
assentiu com a cabeça, observando a expressão tensa dele. Dos dois, ele é que
parecia estar sofrendo mais, por isso foi a vez de ela perguntar:
—
E com você, está tudo bem?
—
Está — o tom não foi muito convincente e ele logo quis saber: — Ainda está
doendo?
—
Para ser sincera, milorde, não doeu quase nada.
—
Mas você gritou.
—
Por causa da surpresa — ela admitiu.
—
Como você se sente agora?
—
Esquisita — Demetria disse com sinceridade e sorriu. — E um pouco decepcionada.
—
Decepcionada?
—
Sim, eu estava... — Corando muito, Demetria abaixou os olhos e confessou: — Eu
estava gostando do que você estava fazendo e queria sentir novamente o que
senti na noite do incêndio. Mas desta vez só senti... O que você está... Oh! —
Demetria arfou surpresa quando Joseph ergueu somente um pouco o corpo,
sustentando-o em um braço, e deslizou a outra mão entre eles para tocá-la.
—
Nossa... Oh, marido... — Demetria respirou fundo e seus quadris começaram automaticamente
a se mexer, sentindo-se novamente excitada com as carícias dele. —Assim...
assim... assim... Ohhhhh! — ela gemeu, apertando os braços dele.
Joseph
riu, mal conseguindo respirar por causa da própria excitação; depois inclinou a
cabeça para beijá-la.
Arfando,
Demetria quase delirou quando ele delicadamente retirou a mão de seu corpo e começou
a se movimentar lentamente dentro dela.
Era
isso então, pensou maravilhada, o bastão e a torta, a chave e a fechadura, o
homem e a mulher. Um dando prazer ao outro.
Passou
pela cabeça de Demetria então que, enquanto Joseph a beijava e a acariciava,
ela só fazia se agarrar a ele como se o marido fosse a tábua de salvação de um
náufrago em águas revoltas. Pensou por um momento no que poderia fazer para
também agradá-lo. Talvez pudesse beijá-lo no peito... A excitação, porém,
cresceu dentro dela, e ela resolveu pensar no assunto em uma outra hora,
concentrando-se em Joseph que de corpo e alma estava empenhado em conduzi-la ao
paraíso.
—
Ah, você está aqui!
Demetria
arrancou os óculos do nariz e os enfiou no bolso da saia, voltando-se depois em
direção à voz do marido que atravessava a sala para ir ter com ela.
—
Quando acordei, você havia fugido — Joseph protestou, abaixando-se para dar um
rápido beijo na boca de Demetria.
Ela
suspirou de prazer ao sentir o contato dos lábios dele e ergueu os braços
envolvendo o pescoço do marido. Acordara de madrugada e levantara
silenciosamente para ir se trocar em seu quarto. Joan ainda não estava lá e
Demetria não quis esperá-la para se vestir. Tinha um objetivo em mente que desejava
pôr em prática antes que o pessoal da casa se levantasse.
Sua
ideia era pesquisar a biblioteca para ver se achava um livro que ensinasse como
a mulher poderia agradar ao marido. Depois de se vestir e colocar os óculos,
ela descera sem ser vista e estava lá bisbilhotando havia uma hora.
Para
sua decepção, não conseguira encontrar um único volume sobre o assunto. Somente
havia encontrado uns poucos livros que sugeriam a importância de manter a casa
em ordem e o orçamento equilibrado.
Seu
pensamento estava vagando e ela exclamou de surpresa quando Joseph subitamente
a pegou no colo e se voltou para a porta, beijando-a.
—
Você não se vestiu — ela interrompeu o beijo ao sentir o tecido de seda do robe
sob seus dedos.
—
E nem você deveria estar vestida ainda — Joseph reclamou, carregando-a em
direção à porta da biblioteca. — Acabamos de nos casar, não deveríamos nem sair
de nosso quarto por pelo menos uma semana.
—
Tudo isso? — perguntou Demetria espantada.
—
Não, essa deveria ser a regra — Joseph esclareceu, rindo e começando a subir as
escadas que saíam do hall de entrada.
—
Nada disso. Como poderíamos visitar o feliz casal se resolvesse não sair da
cama?
Joseph
parou imediatamente e ambos se voltaram para ver de quem eram aquelas palavras.
Mikey
Greville estava parado à entrada da casa com Jessop, o mordomo. Ambos pareciam
rir, e Demetria nesse momento sentiu-se satisfeita de que pelo menos ela
estivesse vestida.
Ao
sentir um tapinha nas costas, Joseph entendeu a mensagem silenciosa e colocou
Demetria no chão. Ela então o beijou no rosto como que se desculpando e,
voltando-se para o visitante, sorriu.
—
Você é o primeiro a me visitar em minha casa nova — disse, atravessando o hall
para cumprimentá-lo.
—
Tenha certeza de que serei o primeiro de várias outras visitas que irão receber
— Mikey avisou, alegre. — Estou sabendo que tia Isabel e Mary pretendem passar
por aqui mais tarde. E seu pai certamente virá para ver como você está. Na
verdade, acho que meia cidade vai aparecer para examiná-la depois de sua
primeira noite de casada.
Demetria
voltou o olhar sobre os ombros em direção a Joseph que soltara um grunhido.
Entendia perfeitamente a reação dele. Também preferiria evitar esse monte de
visitantes logo após a noite de núpcias. Afinal, era um momento muito íntimo e
pessoal. A sensação era a de pura invasão, e não gostava nada de pensar que
certamente estariam curiosos para saber se o casamento havia sido consumado, o
que era extremamente constrangedor.
—
Jessop — Joseph falou de repente.
—
Sim, milorde? — O mordomo até endireitou o corpo ante a rispidez da voz de
Joseph.
—
Providencie para que as duas carruagens sejam preparadas e trazidas aqui para a
frente da casa. Depois peça a Joan e a meu criado pessoal que venham até aqui
imediatamente. Estamos indo para Mowbray dentro de uma hora.
Demetria
arregalou os olhos. Joseph caminhou até ela e a pegou pela mão para subirem a
escada.
—
Mas, e lorde Greville? — ela perguntou ao subirem os primeiros degraus. — Ele
veio nos visitar, não podemos simplesmente deixá-lo aqui e..
—
Ele não veio nos visitar — Joseph assegurou a ela, calmamente.
Demetria
virou-se para dirigir o olhar à porta e viu o vulto borrado de Mikey ainda
parado ali.
—
Não. Meu primo nunca se levanta tão cedo. Ele está no caminho de volta para
casa agora e teve a gentileza de parar aqui para nos avisar de que, se
ficarmos, seremos bombardeados de visitantes.
—
Será? — perguntou Demetria incrédula.
—
Sem dúvida — Joseph garantiu.
Ao
saber que corriam o risco de receber muitas visitas, Joseph se pôs em ação.
Primeiro acompanhou Demetria até o quarto dela e sugeriu que ela escrevesse uma
carta ao pai, explicando que haviam decidido viajar para Mowbray, para descansar
depois do casamento. Joseph gostava do sogro e não queria que ele se
preocupasse com essa partida inesperada. Também sugeriu que Demetria o
convidasse para ir visitá-los quando estivesse a caminho de sua residência no
campo, o que, segundo ele havia comentado, se daria em uma ou duas semanas.
Joseph
esperava que até então teria tido tempo suficiente com a esposa para não se
importar de ter um visitante em casa. Esperava também, e com maior fervor
ainda, que o sogro chegasse sozinho para que não precisassem ver a cara de
Taylor. — Então, marido — Demetria perguntou. — O que devo pedir para Joan pôr
na mala?
—
Tudo. — Foi a resposta sucinta de Joseph.
—
Tudo? — Ela espantou-se, e Joseph franziu o cenho. Ele odiava Londres e
esperava não ter de voltar para lá tão cedo. Mas agora tinha uma esposa, cuja
vontade também precisava ser levada em consideração.
—
Você queria ficar em Londres para a temporada? — perguntou, inseguro.
—
Oh, não — Demetria respondeu tão prontamente que ficava evidente não ter dito
aquilo apenas para agradá-lo. Depois de um instante, ela acrescentou: — Receio
ser como minha mãe que não tinha muita paciência com a sociedade dita
bem-educada.
—
Que bom — Joseph sorriu e a beijou, feliz de que ela fosse tão perfeita. Depois
reiterou: — Faça com que Joan ponha tudo nas malas, então.
Assentindo
com a cabeça, Demetria entrou no quarto e quase tropeçou no pé de uma cadeira
perto da porta, tão apressada estava. Joseph conseguiu segurá-la e afastou a
cadeira. Foi então que lhe ocorreu que não haviam encomendado óculos novos para
ela. Considerou brevemente a possibilidade de retardarem um pouco a viagem, mas
logo mudou de ideia. Poderiam providenciar os óculos no vilarejo, em Mowbray,
talvez. Ainda estava relutante de que a esposa pudesse vê-lo bem, tão depressa.
A noite anterior havia sido um ótimo começo para o casamento, mas gostaria de
ter mais umas semanas para solidificar o relacionamento deles antes de expor
sua cicatriz.
Incomodado
com seu egoísmo de manter a esposa às cegas, Joseph franziu o cenho ao fechar a
porta do quarto dela e entrar em seu próprio quarto. Não conseguia deixar de
dizer a si mesmo que a vida de Demetria seria muito mais fácil se tivesse os
óculos. Sem dizer que seria muito mais segura também. Preocupava-se que ela
continuasse correndo o risco de cair das escadas, de se queimar ao acender uma
vela, mas receava que reagisse mal à sua cicatriz.
Joseph
passou a mão no rosto. Somente mais algumas semanas, prometeu a si mesmo.
Compraria então os óculos para Demetria para que ela pudesse ler e se movimentar
com segurança. Enquanto isso, leria para ela e cuidaria dela para que não
sentisse muito a falta dos óculos. E alertaria todo o pessoal de Mowbray para
que estivesse atento quanto à segurança de sua esposa. Seria essa a maior
prioridade de todos.
Satisfeito
com tal decisão, atirou o robe na cama e se aproximou do armário para separar
as roupas. Estava meio vestido quando seu criado pessoal entrou no quarto.
Keighsley logo se prontificou para ajudá-lo a terminar de se vestir, mas Joseph
o dispensou, recomendando que ele começasse a fazer as malas e descreveu toda a
ajuda de que necessitava para que pudessem partir o mais rápido possível.
Uma
vez vestido, Joseph foi até o quarto de Demetria para ver se ela havia
terminado a carta. Joan se encontrava lá, tendo um enorme trabalho para refazer
as malas que havia desfeito no dia anterior. Joseph disse à criada que enviaria
alguém para ajudá-la e desceu com Demetria. Entregou a carta a Jessop para que
enviasse por um portador à casa de lorde Lovato. Então foram para a sala de
jantar. Como esperado, a cozinheira havia preparado um café da manhã especial.
Os dois, famintos depois de toda a extenuante atividade noturna, comeram de
tudo com prazer.
Os
criados ainda não haviam terminado de fazer as malas quando eles acabaram a
refeição, e Joseph não quis mais aguardar. Pediu a Jessop que carregasse na
primeira carruagem o que já estivesse pronto. Joan e Keighsley seguiriam com o
restante de seus pertences na segunda carruagem. Ele então apressou Demetria para
partirem e só sossegou quando a viu dentro da carruagem, dando depois
instruções ao condutor.
—
Nossa — disse Demetria, respirando fundo, quando o marido se juntou a ela na
carruagem um momento depois. — Quando você coloca uma coisa na cabeça, quer que
aconteça rapidamente.
Joseph
sorriu ao ver a expressão estarrecida de Demetria. Inclinando-se, beijou-lhe a
ponta do nariz e perguntou:
—
Você não se importa mesmo de deixarmos a cidade tão depressa, não é? Sei que
você estava feliz de usufruir da companhia de seu pai.
—
E usufruirei novamente quando ele passar em casa — ela respondeu calmamente. —
Não, milorde, não me importo mesmo. Pior seria se tivéssemos companhia demais
hoje.
Demetria
corou ao admitir isso, pois ficava claro que a razão de seu desconforto tinha a
ver com o que haviam protagonizado durante a noite passada. Joseph sorriu e a
puxou para seu colo.
Demetria
soltou um grito de surpresa, segurando-se nos ombros de Joseph quando ele a
ajeitou contra seu corpo.
—
Você está dolorida hoje? — Joseph perguntou enternecido, dando-lhe um leve
beijo na testa, depois em cada olho.
—
Não. Por quê? Eu deveria estar?
—
Não sei — Joseph confessou. Ele a beijou suavemente nos lábios e sorriu sem
afastá-los ao vê-la derreter-se contra ele. Então cochichou: — Demetria?
—Hum?
—
Você se lembra daquela vez em que estávamos na carruagem e você me perguntou
sobre as diferentes posições que um homem e uma mulher poderiam usar para fazer
amor?
—
Lembro — ela o interrompeu, corando graciosamente.
—
Bem... — Joseph fez uma pausa para mordiscar o pescoço dela.
Demetria
gostou de sentir os arrepiozinhos que lhe passavam pelo corpo. Delícia pensar
que ele não só podia causar aqueles arrepios de excitação, como poderia causar
muito mais prazer a ela ainda. Na noite anterior havia gritado ao terminarem de
fazer amor pela segunda vez.
Joseph
sentia-se abençoado por ter uma mulher muito sensual, tinha consciência de que
era uma sorte. Embora ainda tímida e inocente, quando excitada, ela perdia toda
a inibição e se entregava completamente às novas experiências.
—
Então? — Demetria cobrou que ele completasse o que ia dizer.
Sorrindo,
Joseph enfiou a mão sob a saia dela, depois curvou a cabeça para beijar um dos
seios sobre o decote do vestido, ao mesmo tempo em que a outra mão tratava de
abaixá-lo até que o seio saltasse para fora. Ele sorriu ao ver que o mamilo já
estava enrijecido... Da mesma forma em que ele também estava. Ambos eram
altamente inflamáveis, juntos logo pegavam fogo.
—
Bem... — continuou ele, dando uma lambidinha na pele exposta. — Lembro de você
ter dito que as viagens de carruagem eram longas e maçantes.
—
Quase nada é maçante quando você está por perto, milorde — Demetria retrucou
rindo e soltou um gemido quando ele abocanhou seu mamilo e o mordiscou.
—
Hum. — Joseph sorriu ao vê-la estremecer e arquear as costas, acrescentando
depois: — Me pergunto se você não gostaria de passar o tempo testando a posição
que eu estava lhe mostrando naquele dia?
A
respiração de Demetria tornou-se ofegante e ela se ajeitou no colo do marido,
abrindo um pouco as pernas quando a mão de Joseph subiu lentamente por sua
coxa.
—
Qual delas, milorde? — quis saber, lembrando-o de que ele havia mostrado duas
posições diferentes antes de a carruagem parar e jogá-los ao chão.
Os
lábios de Joseph brincaram em volta do mamilo de Demetria, enquanto seus dedos
finalmente alcançavam suas partes íntimas.
—
Oh, marido... Demetria gemeu, agarrando a cabeça de Joseph e movimentando os
quadris para se ajeitar, pressionando assim a ereção dele, o que o fez gemer
também.
—
Que posição? — ela repetiu com urgência, afagando-lhe os cabelos.
Joseph
largou o seio que tinha na boca e tirou a mão que estava sob a saia de Demetria
para poder usar as duas mãos. Tratou então de descer o vestido dela pelo decote
até que ambos os seios ficassem expostos ao ar e à sua visão.
—
As duas — respondeu, apalpando-lhe os dois seios. — As duas posições e talvez
outras. A viagem é longa.
—
Milorde! — Demetria exultou. — Creio que vou gostar muito mais desta viagem do
que a que fiz com Taylor para Londres!
—
Espero que sim, minha esposa — disse Joseph, gargalhando. — Afinal, tenho uma
vantagem sobre sua madrasta.
—
Você tem muitas — Demetria assegurou, quase sem voz, beijando-o nos lábios. —
Mas de qual você está falando?
—
Eu tenho a chave de sua fechadura.
Demetria
piscou e riu baixinho, riso que foi calado por Joseph com novo beijo.
demorei mas postei
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