—
O amor e febre que arde... em meu sangue.
Demetria
Lovato não conteve uma expressão de desagrado quando estas palavras ecoaram no
ar. Sinceramente, esse era o pior poema declamado por lorde Prudhomme desde que
chegara à residência urbana de seu pai uma hora antes.
Nossa,
fazia somente uma hora? Parecia que aquele cidadão idoso estava ali havia dias.
Ele entrara sacudindo um livro e avisara triunfante que em vez de seu passeio
habitual, leria para ela.
Demetria,
de fato, gostaria muito desde que a leitura fosse algo interessante e não
aquela baboseira. E gostaria ainda mais se ele não agisse como se estivesse lhe
fazendo um favor.
Ela
sabia muito bem a razão para essa súbita mudança de planos. Obrigando-a a
permanecer comportadamente sentada enquanto lia alto, ele só tinha um objetivo
evitar desastres. Parecia que até o velho e solidário Prudhomme estava ficando
cansado de seus contínuos acidentes.
Não
podia culpá-lo, ele havia sido extremamente tolerante até então, quase um
santo.
Certamente,
demonstrara mais compreensão e bravura do que seus outros pretendentes. Parecia
aceitar e perdoar todas as vezes que ela confundia suas grossas coxas com a
mesa de chá e apoiava as coisas sobre elas; esboçava um sorriso dolorido ao
levar pisões nos pés quando dançavam; e suportava com galhardia seus constantes
tropeços e quedas quando saíam para uma caminhada no parque.
Pelo
menos, era o que parecia, mas aparentemente hoje descobrira um jeito de se
safar de tudo isso. Pena que sua opção de leitura deixasse muito a desejar.
Demetria teria preferido fazer o papel de boba no parque ou cair de cara em um
bolo do que ficar ouvindo aquelas bobagens sem sentido.
—
Minha imaginação ganha asas de um pássaro.
A
voz de Prudhomme tremulava de paixão, ou talvez apenas de velhice,
Demetria não saberia dizer. A verdade é
que aquele homem tinha idade para ser seu avô.
Infelizmente,
isso pouco importava para Taylor. Sua madrasta havia prometido a John Lovato
que procuraria um bom casamento para a filha antes que ambos morressem.
Até
o momento, eles não pareciam correr qualquer risco. Ela, porém, estava em
perigo iminente de se encontrar casada com o cavalheiro idoso ajoelhado a seus
pés que, de braços erguidos, clamava amor eterno.
Prudhomme
era um dos poucos pretendentes que ainda a cortejavam.
—
Juro minha... minha... lady Demetria — Prudhomme interrompeu o que ia dizer. —
Por favor, aproxime mais a vela. Está difícil decifrar essa palavra.
Demetria suspirou de tédio e olhou de soslaio para o
pretendente. Em sua visão embaçada, o rosto de Prudhomme era um borrão redondo
e rosado, coroado por uma nuvem de cabelo prateado.
—
A vela, menina — disse ele com impaciência, a irritação substituindo por um
momento todo o charme do pretendente.
Demetria
estendeu o braço sobre a mesa a seu lado, pegou o castiçal e o segurou mais
próximo a ele.
—
Bem melhor agora — disse Prudhomme satisfeito. — Onde estava mesmo? Ah, sim.
Juro minha perene...
Ele
fez uma nova pausa e fungou.
—
Você sente o cheiro de queimado?
Demetria aspirou o ar delicadamente. Começou a abrir a
boca para dizer que sim, mas antes que pronunciasse qualquer palavra, Prudhomme
soltou um grito.
Pulando
para trás de surpresa, ela observou com espanto o homem levantar-se de um
sobressalto e começar a pular pela sala, levantando os braços enlouquecido e
batendo com as mãos na própria cabeça.
De
início, Demetria não conseguiu entender
o que estava acontecendo até que o viu tirar da cabeça o que lhe parecia uma
mancha branca, que outra coisa não era senão uma peruca que ele passou a bater
com força contra a própria perna. Ela deu-se conta então de que talvez tivesse
segurado o castiçal perto demais da cabeça dele e posto fogo em sua peruca.
—
Ah, meu caro. — Demetria abaixou o
castiçal, sem soltá-lo até certificar-se de que estava bem apoiado sobre a
mesa. Com a visão distorcida e seu senso de distância comprometido, ela quase
derrubou o homenzinho ao pular da cadeira para ajudá-lo.
—
Afaste-se de mim! — ele gritou, empurrando-a.
Demetria
caiu sentada na cadeira novamente e olhou-o estarrecida; depois voltou a cabeça
por ter ouvido um zunzum à porta.
Todos
os empregados da casa tinham ouvido os gritos e corrido para a sala. É claro
que sua madrasta estava lá também.
Sem
os óculos, Demetria guia enxergar
direito se a olhavam com pena ou repreensão, mas não era necessário olhar para
Prudhomme para adivinhar o que estava pensando. Sua raiva ganhara corpo e quase
podia tocá-la através dos poucos metros que os separavam.
Prudhomme
estava tão zangado que suas palavras emendavam-se umas nas outras, tornando-se
quase incompreensíveis. Demetria
conseguiu compreender algumas, como “idiota desajeitada”, “desastrada” e
“um perigo para a sociedade”; de repente, ele levantou o braço e avançou em sua
direção. Ela congelou, temendo que ele fosse agredi-la.
Felizmente,
os presentes desconfiaram que ele estava perdendo o controle e se aproximaram.
No momento em que Prudhomme ia lhe dar um bofetão, foi impedido por várias
pessoas.
Enquanto
lutavam diante dela, Demetria só
percebia uma difusa confusão de pessoas e cores. Ela ouviu, porém, Prudhomme
praguejar e um gemido que lhe pareceu ser de Foulkes, o mordomo. O praguejar
continuou à medida que um borrão de vultos coloridos começou a sair pela porta.
—
Que vergonha, Prudhomme! — choramingou Taylor, com a voz bastante alterada ao
seguir os demais até a porta, acrescentando depois em tom ansioso: -
Espero
que tão logo tenha se acalmado, possa perdoar Demetria completamente. Tenho
certeza de que ela não teve a menor intenção de queimar sua peruca.
Demetria
afundou na cadeira com um suspiro de desgosto. Não podia acreditar que a
madrasta ainda esperava uni-la àquele homem. Mas devia saber muito bem que
Taylor não desistiria de seu intuito.
—
Demetria !
Endireitando
rapidamente o corpo na cadeira, Demetria
se voltou em direção à porta e viu o vulto lilás de Taylor entrar e
bater a porta.
—
Como você foi fazer uma coisa dessas?
—
Não fiz de propósito, Taylor — esclareceu Demetria . — E isso jamais teria
acontecido se você me deixasse usar os óculos.
—
Nunca! — retrucou Taylor. — Quantas vezes preciso lhe dizer que jovens que usam
óculos simplesmente não arrumam maridos. Sei do que estou falando. Melhor
alguém meio desastrada do que com óculos.
—
Eu pus fogo na peruca dele! — Demetria exclamou, descrente. — Isso é bem mais
do que ser um pouco desajeitada; na realidade, ultrapassa o ridículo. Está se
tornando perigoso. Ele poderia ter se queimado muito.
—
Poderia! Graças ao bom deus não se queimou — admitiu Taylor, soando
repentinamente calma.
Demetria
quase gemeu alto. Aprendera muito depressa que quando a madrasta ficava calma,
não era um bom sinal.
E É ISSO, APENAS PARA AVISAR, NAO É MINHA FIC, ADAPTAÇÃO! bjemi
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