sábado, 21 de setembro de 2019

VIDA DE PRINCESA Capitulo 10


— Era uma conclusão que fazia sentido na época.
— Você está me enrolando. Fale-me qual foi.
— Achei que você tivesse conhecido outra pessoa.
— O quê?
Ele corou ligeiramente.
— Fiquei obcecado pela ideia de você ter conhecido outro homem. Seu pedido de divórcio só piorou.
— Por quê? — ela perguntou atônita.
— Eu não conseguia pensar em outra razão para você querer se divorciar.
— Mas...
— Você começou a me recusar sexualmente. Eu não entendia.
— Isso doía.
— Mas você não me falou. Tive de tirar minhas próprias conclusões.
— E concluiu que eu tinha um amante.
— Não consegui chegar tão longe, não conseguia imaginar isso.
— Obrigada... eu acho.
— Você começou a divagar em nossas conversas... como se estivesse pensando em outra coisa.
— Os remédios.
— Sim.
— Pensei que nem tivesse notado.
— Notei, acredite.
— Mas decidiu que a razão era meu coração ter se tornado infiel a você, se não meu corpo.
— Eu não podia assegurar que já possuía seu coração.
— O que quer dizer com isso?
— Nunca disse que me ama.
— O amor não era uma exigência em nosso acordo de casamento.
— Não, não era.
Inexplicavelmente, ela tinha a impressão de que ele queria que fosse... para ela. Mas por que desejaria o amor dela se não sentia nada profundo por ela? Não fazia sentido. Assim como esse novo desejo dele de paparicá-la porque estava doente.
Ou fazia sentido?
— Acho que entendi.
— Fico contente.
— Não o fato de você ter acreditado que eu havia conhecido outra pessoa — ela rapidamente tirou esse conforto dele. — Mas acho que entendo sua necessidade de me mimar agora.
— Por que está doente?
— Porque está se sentindo culpado por ter pensado que eu era infiel.
— Essa não é a razão para eu querer cuidar de você agora.
— Mas você se sente culpado.
Uma vez na vida era muito fácil ler os pensamentos dele. Estavam escritos em todas as expressões sofridas dele.
— Sim. Eu devia ter percebido que estava doente.
— Pelo menos notou que meu comportamento não estava normal.
— Claro que sim.
— Não há nada de claro sobre isso. Achei que você não se importava por eu ter começado a rejeitá-lo na cama.
Ele olhou para ela como se ela tivesse perdido a cabeça.
— Isso é um absurdo. Naturalmente me importava, mas não seria uma criança petulante em relação a isso. Se uma mulher diz não, é não.
— E por que minha rejeição não era importante?
— Claro que era importante.
— Mas você preferiu achar que eu era imoral a perguntar.
— Eu perguntei. Então ela lembrou.
— E eu não quis falar sobre isso, mas estava ocorrendo há meses. Por que esperou tanto?
Ele se movimentou na cama, com o rosto expressando forte passividade.
— Meu orgulho ficava arrasado quando eu era rejeitado sexualmente por você. Falar sobre isso só pioraria as coisas. Eu me sentiria como se estivesse implorando um favor seu.
— Isso é um absurdo.
— Não é. É verdade. Por que acha que viajei tanto quando estava
menstruada?
— Porque era conveniente.
— Você não espera muito de mim, não é?
— Não é verdade.
— Acho que é, mas não é o que estamos discutindo, portanto deixa pra lá. Eu organizava meus planos de viagem para que coincidissem com suas menstruações, pois havia deixado claro que o mais leve toque nessa fase a deixava desconfortável. Eu considerei um grande desafio manter minhas mãos longe de você e a melhor solução foi sair totalmente da cama. Pode acreditar ou não... mas organizei minha programação pelo seu bem, e não pelo meu.
— Você não tem problemas em não me tocar fora do quarto?
— Se realmente pensa assim, está cega. Eu a tocaria o tempo todo, mas não é adequado para um rei tocar sua mulher dessa forma.
— Ainda não é rei.
— Mas serei. E por conta de minha futura posição, tenho padrões para o meu comportamento. Atingir esses padrões me desafia, especialmente quando se trata de você. O único local que me permito ficar completamente livre é no nosso quarto. E acho muito difícil policiar meu comportamento aqui também — ele falou, como se admitisse um grave pecado.
— Eu não havia percebido...
— Em minha própria defesa, achei que soubesse.
— Como podia?
— Pensei que meu desejo por você fosse óbvio.
— Não era óbvio quando você aceitou a rejeição tão facilmente e agiu como se nada de diferente estivesse ocorrendo entre nós. Pensei que não tivesse importância.
— Agora sabe que não é assim.
— Sim, sei que sexo é um elemento fundamental na nossa relação.
— Fala disso como se fosse uma coisa ruim.
Ela mordeu o lábio e desviou o olhar. Até que ponto poderia ser honesta? Seu casamento havia acabado, mesmo que ele não quisesse reconhecer. Fazia algum sentido remexer em antigas feridas? Mas, novamente, ela não havia ficado muito tempo escondendo coisas dele?
Ela se virou para encará-lo.
— Eu gostaria que você se importasse comigo em um nível além do sexual.
— O que é mais íntimo que sexo?
— Não sei como explicar — ela admitiu. — É que eu queria ser importante por você pelo que sou... não apenas por causa do prazer que
encontra no meu corpo, ou pelo meu bom desempenho no papel de esposa.
— Quer que eu a ame.
— Talvez — ela deu de ombros. — Talvez nada menos que amor teria me satisfeito, mas isso não tem mais importância.
— Não quer mais o meu amor? É por isso que briga contra os meus mimos, como chama? Está contente em ficar sem mim?
— Não quero brigar pela sua atenção — ela falou enquanto bocejava, pelo efeito dos remédios. — É que isso ocorreu como uma surpresa.
A verdade era que gostava disso. Muito. Se permitisse a si mesma acostumar-se, seria ainda mais difícil partir, mas, ao mesmo tempo, ela não conseguia ter força de vontade suficiente para impedi-lo.
— Estou contente por estar comigo agora — ela falou suavemente. — Mesmo se devesse estar em outro lugar. Sei que tem muitas responsabilidades agora para se preocupar comigo, mas não consigo deixar de gostar dessa atenção. Acho que isso me enfraquece.
Na realidade, ela falava para si mesma, mas ele respondeu.
— Não, não enfraquece. Faz de você um ser humano — ele parecia satisfeito com alguma coisa, mas ela não sabia precisar o quê.
Ela suspirou.
— Pode ser, mas você não pode ficar me ligando várias vezes por dia ou continuar bancando o enfermeiro.
— Precisa parar de querer cuidar de todos no mundo. Posso lidar com as ligações telefônicas e, se eu não me importar com você, quem se importará? Você se recusa a contar para outras pessoas sobre a sua doença.
Ele tinha uma certa razão, mas ela não podia deixar barato. Estava tentando fazer tudo parecer tão simples, e não era. Só que seu cérebro confuso estava tendo dificuldade de conectar as ideias. Ela se lembrou de uma coisa.
— Não teve tempo para me ligar antes.
— Eu ligava... até você parar de atender todas as minhas ligações.
Ela olhou para ele, lembrando vagamente e tentando clarear a mente. Era verdade. Ele costumava ligar várias vezes por dia, de qualquer lugar do mundo. Não havia nenhuma razão específica para as ligações, a não ser um breve contato. Ele falaria sobre a sua agenda e perguntaria sobre os compromissos dela. Na realidade, grande parte da comunicação deles foi feita assim. Só quando ele parou de ligar que ela notou. Ela começou a ignorar as ligações ou até mesmo desligar... porque ele não dizia a coisa certa.
— Parecia que estava apenas verificando se eu cumpria bem meu papel de princesa. As ligações eram muito impessoais.
E isso doía, assim como quando ele parou de ligar.
— Como poderia tê-las feito de forma mais pessoal?
Olhando para trás, ela via que, para ele, as ligações eram pessoais, eram sua forma de ficar com ela quando os deveres os separavam. A garganta dela apertou de emoção.
— Podia dizer... só uma vez... que sentia minha falta.
— Sinto muito por não ter verbalizado isso. Pensei que as ligações por si passariam a mensagem.
— Ligava porque sentia saudade? — ela perguntou, chocada diante dessa possibilidade.
— Si. Por que outra razão eu ligaria para tratar de assuntos tão sem importância?
— Não sei. Meu cérebro está ficando confuso. Ele franziu a testa e se levantou.
— Se seguir o padrão de ontem à noite, não conseguirá mais conversar em vinte minutos, e tem uma coisa que quero discutir antes que apague.
— Ontem foi pior porque perdi muito sangue e dormi pouco — ela comentou.
— Se é o que diz — ele começou a retirar os sapatos dela. — Você falou que cirurgia é a cura adequada para endometriose?
— Não exatamente a cura, mas quase. É minha melhor alternativa para levar uma vida mais perto do normal e sem dor. — Ele tirou os sapatos dela e depois a meia-calça. O olhar dele ardia de paixão quando ele viu as pernas expostas dela, mas o toque foi quase totalmente impessoal.
— O que eles fazem? Só precisam retirar seu sistema reprodutor?
Pelo menos essa conversa era fácil. Ela pesquisou tanto as alternativas que poderia falar sobre elas, mesmo sonolenta.
— Não, agora não mais. Eles podem remover o tecido extra por meio de uma cirurgia a laser. O tempo de recuperação é mínimo e não precisarei passar a noite no hospital depois.
— Mas passará.
— Passarei? — ela perguntou delicadamente, com os olhos pequenos.
O olhar que ele lançou dizia que ela podia discutir o quanto quisesse, mas já havia tomado uma decisão.
— Mesmo as cirurgias a laser trazem risco e são traumáticas ao corpo. Não concordo com essa abordagem médica de querer se livrar tão cedo dos pacientes.
— Tenho certeza de que isso tem mais a ver com as empresas de
seguro que com as preferências médicas. Se quiser pagar por isso, não tenho dúvida de que o hospital vai querer que eu fique. — Ela imaginou que isso aliviaria a culpa dele.
— E essa cirurgia... é garantida?
— Não, mas como eu falei... é minha melhor alternativa. Um grande porcentual de mulheres que opta por isso acaba tendo reincidências mais tarde.
— Parece um preço baixo a pagar, se for aliviar a dor e o tipo de sangramento que você vem tendo.
— Concordo.
Ele estava retirando o vestido dela e ela permitia. Independentemente do que tivesse dito em contrário, era maravilhoso vê-lo cuidando assim dela. Especialmente porque ela sabia que logo não estaria mais ali para esfregar suas costas em um banho sensual.
— Precisa se cuidar para dormir?
Ela estava passando a perna para o lado da cama.
— Sim.
Mas, antes de levantar por conta própria, ele novamente a levantou e a conduziu ao banheiro. Ele deixou que ela cuidasse das coisas e estava nu na cama, trabalhando, quando ela voltou.
— Não precisa ir dormir só porque vou.
— Garanto que não é nada demais, depois da semana que tive.
Ela assentiu, muito tonta para discutir.
— Pelo menos, vai tentar dormir antes da meia-noite?
— Quer que eu tente? — ele perguntou, como se a ideia o satisfizesse.
— Sim, não quero que tenha infartos como seu pai.
— Isso seria falta de sorte, não? Afinal, quem governaria o país se os dois estivessem convalescendo?
— Minha mente está rodando, mas não estava pensando no bem de Isole dei Re — ela falou com mais ternura do que o faria sem o efeito dos remédios. — Eu me preocupo com você. Eu... vou dormir.
Ela subiu na cama, sem acreditar que quase havia declarado seu amor a ele.
Joseph trabalhava ao lado da adormecida Demetria, com a mente dividida entre os deveres e sua esposa. Se ao menos ela soubesse que esse não era um estado emocional tão incomum. Mas, da maneira como ela havia falado, era como se ele se preocupasse com ela apenas num nível periférico.
E ele permitiu que ela acreditasse nisso. Foi uma decisão consciente, mas ele não havia previsto as consequências. Ele estava se protegendo de seguir o caminho do pai. Nunca quis um amor que transfor-
masse um homem forte em uma farsa. Depois da conversa com o pai no hospital, talvez ele tenha entendido o que orientou o rei Paul anos atrás, mas a compreensão não trouxe a paz.
O resultado foi o mesmo. O amor tornava os homens uns tolos.
Mas será que negar a emoção terna de sua relação com Demetria significou alguma melhoria na vulnerabilidade que o amor causava? Ainda se sentia vulnerável... ainda sentia medo de perdê-la. Não melhorou nada... e, depois da conclusão errada sobre o comportamento dela, ele se sentia um idiota.
Mais que um idiota: sentia-se como um monstro cruel. Nunca fora sua intenção ferir Demetria por ter se casado com ele. Ele acreditava que estava oferecendo a ela uma vida boa e pensava que seria um bom marido. Não um marido normal — um rei não poderia ser assim —, mas um marido bom, acima de tudo.
Ele não havia previsto os acontecimentos atuais, mas mesmo assim... falhar de forma tão grave em seu primeiro teste real como marido era de amargar. Ele não lidava bem com as falhas. Nunca falhava, pois trabalhava muito para evitar isso. Mas não havia dúvidas de que havia julgado mal a mulher e, ao fazê-lo, causou-lhe ainda mais sofrimento.
Também destruiu laços fracos que, se não consertasse, terminariam com seu casamento. Ele não aceitaria isso, mas não sabia exatamente o que fazer para corrigir o problema. Sentia-se impotente e não gostava disso.
Um príncipe a caminho do trono não podia sentir-se impotente.
Não estaria assim se ela se importasse com ele... o amor dela poderia ser um vínculo a uni-los, mesmo se ele tivesse cometido alguns erros horríveis de julgamento. Mas ela não o amava. Embora, por um momento... um pouco antes de Demetria ir dormir, ele pensou que ela falaria que o amava. E queria ter ouvido essas palavras. Muito.
Mas ela não as pronunciou e ele ficara pensando que talvez tivesse sido sua imaginação. Mesmo se ela lhe tivesse amado antes — e ele achava possível —não amava mais.
Por que doía tanto reconhecer isso?
Como ela lembrou, o amor não era parte do acordo do casamento.
Mas ele queria seu amor. Ele... precisava dele. De alguma forma, tinha de convencê-la a continuar casada... e talvez se o fizesse, daria a si próprio outra chance diante do amor que aquecera sua alma antes de ele perceber sua existência. Ela havia se casado com ele apaixonada e somente agora, olhando para o passado, ele percebia isso.
Ela provavelmente pensava que ele não se importava, mas estava errada. Importava-se muito. Estava equivocada também sobre o divórcio ser
a única solução para o dilema deles. Assim como estava errada ao dizer que as ligações dele não significavam sua expressão de saudade. Só agora ele percebia o quanto ela havia interpretado mal as coisas, e ele não sabia como consertar.
Ele fora treinado para ser um governante, mas não fora ensinado a abrandar as emoções de uma mulher, a convencê-la do seu afeto. Ele e Demetria não viam o mundo da mesma forma e ele cometeu o erro de pensar que sim. Por causa da forma como ela foi educada. Mas ainda era uma mulher, diferente dele, e seus pensamentos seguiam uma lógica diferente da dele.
Ele supôs que ela soubesse muitas coisas que, voltando no tempo, ele tinha de admitir que não eram óbvias para ela como eram para ele. Ele não sabia se isso era parte das divergências entre homem e mulher ou se era algo exclusivo de suas personalidades, mas não importava. Ela fez pressuposições errôneas, assim como ele. Se ele pudesse admitir as falhas das próprias suposições — e todos aceitavam que ele era bastante teimoso —, ela também poderia.
— Deve estar brincando. Fazer a cirurgia agora é impossível.
Em um raro momento de solidão, Demetria estava relaxando em um dos seus locais favoritos nos fundos do palácio, quando Joseph a encontrou. O sol aquecia sua pele enquanto uma leve brisa soprava seus cabelos. Era gostoso e pacífico... mas não mais. Agora Demetria tinha um metro e oitenta de energia masculina vibrando na sua frente.
Joseph sentou-se na praia ao lado dela e sua vitalidade chamava atenção dos sentidos dela em um nível que não tinha nada a ver com razão ou lógica.
— O médico falou que não haverá problemas se você fizer a cirurgia quando a menstruação cessar por completo, e isso ocorrerá em cerca de dois dias.
Ela não estava acostumada a essa discussão franca, pois há quase três anos só tratavam disso na cama. Mesmo assim, havia coisas de que ela simplesmente não falava. Ele havia quebrado qualquer tabu no casamento deles quando cuidou dela na outra noite, e não tinha a menor vontade de voltar a ter a anterior relação fechada.
Aceitando essa verdade com toda graça que podia reunir, ela argumentou.
— Essa não é a única coisa a considerar. Seu pai está vindo para casa hoje e ainda convalescerá por um tempo.
Joseph ficou tenso e sua boca esboçou um traço de preocupação.
— Está dizendo que prefere esperar até ele se restabelecer completamente? — ele perguntou, incrédulo.
— Bem, pelo menos até ele ficar bem o suficiente para começar a reassumir seus deveres.
— Isso será daqui a seis semanas — ele falou.
— Sim, eu sei.
Joseph acariciou a nuca de Demetria com uma expressão severa.
— Não vou permitir que passe por outra menstruação dessa forma.
— É meu corpo — mas as palavras vieram sem que pensasse. O toque dele provocava sensações nela que ele nem sabia.
Ela não estava acostumada à afeição casual e não sabia como agir agora.
— Si. É seu corpo... um corpo lindo e generoso e é meu privilégio e minha responsabilidade garantir que cuide bem dele.
— Você é meu marido, e não meu pai.
— Seu pai teria ignorado sua dor. Eu, não.
Ele estava certo, mas, de alguma forma, essa lembrança não a machucava mais como antes.
— Não quero que seu pai fique chateado. Joseph largou a nuca de Demetria e pegou sua mão.
Ele alinhou os dedos deles.
— Suas mãos são tão pequenas, tão delicadas... tão lindas.
O ar congelou no peito dela por um segundo e ela inspirou quando seu coração começou a saltitar. Ele havia comentado várias vezes, enquanto faziam amor, o quanto gostava das mãos dela em seu corpo, mas nunca havia falado algo assim fora do quarto.
— Hum... seu pai...
Joseph entrelaçou a mão na dela e sorriu, desconcertando-a ainda mais.
— Paul está bem. Sob a minha solicitação, ele ficou mais dias no hospital do que o inicialmente previsto. Durante esse tempo, ele vem descansando e tendo suas ligações restritas, mas tem se levantado e caminhado, visitado outros pacientes. Está se recuperando bem.
— Mas ainda está fraco.
— Não deixe que ele a ouça.
Demetria tinha de reconhecer a justiça desse aviso.
— E tudo o que Denise pode fazer para mantê-lo no hospital e descansando por longos períodos.
— Precisamente. Só agradeço pelo fato de mamãe ter decidido que essa é a hora de voltar para a vida dele, pois acho que nenhum de nós teria sido bem-sucedido.
— Eles formam um bom casal.
— Sim. Pena que levaram tanto tempo para descobrir.
— A infidelidade não é algo fácil de ignorar.
— Nenhum dos dois ignorou, eu sei... mas parece que ela superou o passado.
— Fico contente — ela adorava os dois e ficou muito contente por terem se reencontrado.
— Eu também, mas não acho que você vai fugir da conversa. Conversei com seu médico em Miami e ele concordou em vir para cá em quatro dias para realizar a operação.
— Você não tem o direito de ligar para ele — ela reclamou. — E não quero fazer a cirurgia aqui.
Joseph olhou para ela e toda a sua amabilidade havia desaparecido, embora o toque de sua mão permanecesse gentil... como se, mesmo enraivecido, ele ainda a acariciasse.
— Você não tinha o direito de manter sua doença em segredo de mim. Podia ter feito a cirurgia há meses.
— Já falei por que agi assim.
— Não concordo com suas razões. Devia ter me contado. Essa é a verdade.
— As vezes, você é arrogante demais para conversar.
— Só às vezes.
Ela riu. Não conseguiu evitar. Ele estava sendo autoritário, mas era para o bem dela, e não para magoá-la. Ela sabia disso.
— É que às vezes me dá vontade de esganá-lo.
— Não consigo imaginar minha pequena e adequada esposa esganando nada. — Ele falou perto do ouvido dela e seus lábios lhe deram um suave beijo na testa.
Ela levou três segundos para conseguir responder. Como sabia que deveria lutar contra o impacto daquele beijo, ela se forçou a enfrentar um lado difícil da realidade.
— Uma esposa adequada poderia lhe dar um filho. Eu não poderei e, se fizer a cirurgia aqui, todo mundo ficará sabendo. Você será considerado sem coração e egoísta quando nos separarmos.
Em um movimento totalmente inesperado, ele a agarrou pela cintura, colocou-a no colo e segurou-lhe o seu rosto, de forma que não tivesse escolha, a não ser encará-lo.
— Não haverá separação e, se tentar me deixar, serei rotulado como coisa pior que isso.
— O que quer dizer? — ela perguntou, constrangida pela fraqueza de sua voz.
— Não vai me deixar, Demetria.
— Não está falando em sequestro... não pode estar. — Mas, pelo olhar dele, ela podia dizer que ele estava pensando nisso. — Isso é ridículo, Joseph. Não é um dos seus ancestrais saqueadores.
— Quem disse que meus ancestrais eram saqueadores?
— Eram piratas, pura e simplesmente. Usaram sua recompensa obtida de forma ilícita para estabelecer um país, mas não foram os pilares da sociedade descendente.
— Está dizendo que sou um pirata sob a minha camada de civilidade? — ele perguntou, soando horrivelmente dessa forma.
— Não... estou tentando lembrá-lo que é um desses descendentes civilizados e racionais — ela olhou dentro dos olhos dele e o que viu lhe causou arrepios.
— Eu teria concordado com você... antes, mas, nas últimas semanas, eu descobri uma até então desconhecida veia de primitiva possessão relacionada a você que remonta efetivamente a meus ancestrais.
— Então percebe que está aí...
— Sim. E você deve perceber também, o que quer dizer que deve notar o quanto seria estúpido me deixar.
Ela olhou para a complacente certeza dele.
— Se eu decidir, eu vou.
Ela queria dizer isso mesmo. Talvez não fosse descendente de piratas sicilianos, mas tinha o sangue dos romanos nas veias, bem como uma boa dose da segurança americana.




como prometido, os 2 capitulos que citei no face

2 comentários:

  1. Que bom que ele finalmente tá cuidando dela. Agora amiga pra de brigar e deixa ele cuidar de você, e resolver logo isso
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