domingo, 29 de setembro de 2019

VIDA DE PRINCESA Capitulo 11 ULTIMO


— Não decida ir embora — o protesto na voz dele era mais impressionante que o fato de ter se permitido revelar sua veia primitiva de forma tão espalhafatosa.
— O que fará? — ela perguntou suavemente, tentando ler a expressão dele, mas sem compreender o que via.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos e suspirou.
— Eu a seguirei.
Ela riu, pois era um absurdo. Era mais orgulhoso que seu pai e, se Paul fora incapaz de se curvar para pedir desculpas por um comportamento que ele reconhecia como repreensível, Joseph nunca deixaria de caçar sua esposa fujona. Além disso, ele não poderia, mesmo se tentasse.
— Seus deveres não permitiriam e você nunca se rebaixaria para ir atrás de mim como um cachorrinho.
— Os cachorrinhos são inofensivos. Eu não. Não duvide... Eu a seguiria.
— Mas os seus deveres...
— Meu primeiro dever é minha esposa... e nosso casamento. Não deixarei que parta.
Ele deixaria... se ela realmente quisesse. Com veia primitiva ou não... ele era um homem moderno. Mas o que ele dizia ali era que não facilitaria. Ela não sabia se tinha forças para lutar contra o desejo dos dois para que ficasse. Porém, ela não estava mais certa de que teria forças para permanecer em um casamento em que não era amada.
Doía, tanto quanto a endometriose. Ela havia aprendido algo na noite anterior. Sua dor e sua vulnerabilidade que resultavam de amar sem ser amada fizeram com que ela interpretasse mal as ações dele, provocando mais dor em seu sofrido coração. Sem o amor dele, ela não continuaria a fazer a mesma coisa?
Mesmo que quisesse com todas as suas forças evitar.
Ela colocou sua mão sobre a mão dele.
— Precisa ser razoável. Por favor, Joseph.
— Você é que não está sendo razoável. É perigoso e tolo esperar para fazer a cirurgia. E é muito limitador da sua parte achar que temos de nos divorciar.
— Sou estéril. Não posso lhe dar um herdeiro.
— Seu médico diz que a fertilização in vitro apresenta taxas de setenta por cento de sucesso em pacientes com endometriose.
— Isso não é garantia.
— Assim como a concepção normal.
— Mas você terá mais chances de ter filhos com uma mulher que não tenha endometriose.
— Não quero outra mulher!
Ela recolheu a mão e se inclinou para trás em um movimento brusco, atordoada diante da veemência dele.
— Isso é apenas sua culpa falando mais alto.
Ele sacudiu a cabeça e seu olhar foi tomado de uma forte raiva.
— Não é culpa. Você é minha esposa. Quero que continue como minha esposa. Se não há outro homem, por que reluta tanto?
— Não há outro homem — ela exclamou. — Não acredito que vamos voltar a esse assunto.
— Então, por quê?
— É pelo bem do país, Joseph. Você veria isso se pensasse com o cérebro, e não com o orgulho.
— Não — ele olhou para ela de forma ameaçadora. — O bem do
país será obtido se você permanecer como minha esposa.
Ela não podia acreditar que ele estivesse sendo tão teimoso.
— Não, se eu não posso lhe dar filhos.
— Se não pode, tenho irmãos e um sobrinho para assumir o trono.
— Você ouviu seus irmãos ontem à noite. Não querem que um de seus filhos sofra as pressões de crescer para ser o rei.
— Porém — ele falou, sem o menor gesto de desculpa —, eles podem não ter nascido primeiro, mas são filhos do rei. Se eu morrer antes de ter um filho, Liam teria de assumir minha função e seu filho herdaria o trono.
Ela colocou as duas mãos no peito dele, precisando sentir o calor dele sob os seus dedos.
— Não fale sobre morrer.
— Não fale que vai me deixar.
— Não é a mesma coisa.
— Não. E pior, pois um homem não escolhe quando vai morrer, mas está falando em matar conscientemente nosso casamento e sair da minha vida.
— Para o seu próprio bem. Não entende isso? — ela apelava, com a voz trêmula.
— Entendo que acredite que seja para o meu bem, mas está errada.
— Mas...
— Pare de discutir comigo. Você assumiu um compromisso vitalício comigo, princesa Demetria Scorsolini. Não permitirei que o descumpra. Não permitirei que me deixe.
— Não pode me impedir.
— Posso. Mesmo se você fugir, não vou me casar novamente. Não haverá outras chances de herdeiros para mim.
— Quando concluirmos o divórcio, você mudará de ideia — ela falou magoada, pois sabia que seria verdade.
— Não haverá divórcio. Talvez eu não seja tão arcaico a ponto de prendê-la fisicamente contra a sua vontade, mas nenhum de nós vai se casar novamente.
— Não pode impedir isso.
— Posso ser impotente para impedir certas coisas, minha pequena e intransigente esposa, mas estamos falando das leis de divórcio de Isole dei Re, e não das dos Estados Unidos. Não pode se divorciar de um membro da família real sem o consentimento dele. Não vou lhe dar o consentimento. Nunca.
— Isso é arcaico.
— Pode ser — ele deu de ombros, obviamente não ofendido com o julgamento. — Mas é a nossa lei. E nos casamos aqui, Demetria... e não nos Estados Unidos. Lembre-se disso.
— Mas...
— Nada de mas — ele parecia extremamente contente com a declaração, como se tivesse tirado um forte peso das costas.
Ela não entendia. Certamente, para ela, o casamento era um peso.
— Você quer ser pai.
Ele sorriu e colocou uma das mãos gentilmente sobre o abdome dela.
— Sim, e gostaria muito que você carregasse meu filho, mas podemos adotar um, se não puder conceber. Será uma excelente mãe se tirar essa ideia de divórcio da cabeça.
— Não podemos adotar — ela engasgou. — E quanto ao progenitor?
— Claro que podemos. Quanto à ascensão ao trono, terei de nomear meu sobrinho como sucessor, mas isso pode ser feito. Somos uma realeza moderna, e não meus ancestrais.
— Nem parece o mesmo homem que acabou de me falar sobre uma lei arcaica.
— Já falamos demais sobre esse divórcio. — Ele a levantou cuidadosamente do seu colo e colocou-a no banco. Então, ele se levantou e olhou nos olhos dela com censura. — Você é uma das pessoas com mais compaixão que conheço, mas parece não se importar em passar como um trator por cima dos meus sentimentos e ideais. Se tudo o que queria era um doador de esperma quando nos casamos, por que não foi a um banco de esperma?
— O quê? — Ele perdera a cabeça? — Não penso em você como um doador de esperma!
— Mas no momento em que descobre que não posso engravidá-la, você quer se divorciar.
— Não é pelo meu bem, mas pelo seu — ela enfatizou, mas começava a duvidar da validade dos próprios argumentos.
Ele claramente não queria o divórcio. Se era culpa, senso de responsabilidade, orgulho ou apenas puro desejo físico, ele queria continuar casado... com ela. Ela não havia previsto essa reação.
Ele ainda olhava para ela.
— Não será para o meu bem se eu estarei infeliz.
— O divórcio o deixaria infeliz?
— Que diabos pensa que estou falando aqui? Ela olhou para ele, sem saber o que dizer.
— Diga alguma coisa.
— Estou chocada.
— E isso me irrita. O que fiz para você acreditar que nosso casamento não significa nada para mim?
— Casamo-nos por conveniência. E não por amor. Eu sabia quando me pediu para ser sua esposa. Eu cumpria suas exigências. Todas elas.
— Está certa... Casei com você porque era a mulher ideal para mim. Sendo este o caso, o que a fez pensar que eu não nutria sentimentos por você? Claro que tenho. — Mas ele parecia surpreso com as próprias palavras, como se ele tivesse tido algum tipo de revelação interior.
Ela se recusou a especular o que poderia ter sido. Machucara-se muito recentemente para acreditar em ilusões românticas.
— Você é tudo que eu sempre quis em uma mulher e mais, cara — ele falou mais calmamente.
— Mas não me ama.
— O que é o amor, se não é o que temos?
Pelo menos para isso, Demetria tinha uma resposta pronta.
— É o que seus irmãos têm pelas esposas deles. Já vi um homem Scorsolini apaixonado... Não é da mesma forma que você é comigo.
— Então, o que acha que sinto por você?
— Desejo. Acho que gosta de mim... ou pelo menos gostava. Acho que sente culpa agora... porque queria ter percebido minha doença antes e mesmo porque foi cruel quando pedi o divórcio sem lhe dar explicação.
— Mas tem certeza de que não a amo?
— Sim.
— Acho que estamos quites — ele falou, suspirando. — Mas as coisas vão mudar aqui.
Com essa declaração, ele virou e saiu.
Com o retorno do rei Paul para casa, a situação ficou muito agitada durante o resto do dia para Demetria pensar nas palavras de Joseph. Porém, à noite, quando estava sozinha nos aposentos deles, enquanto Joseph trabalhava representando o pai, ela remoía aquilo intensamente.
Ela sugeriu acompanhá-lo ao jantar, mas Joseph se recusou, e não seria dissuadido por nada. Ela teve de garantir a ele que estava melhor, o que era verdade, antes de ele ir. O que foi uma guinada para ele.
Os deveres vinham em primeiro lugar para Joseph Scorsolini.
Vinham... talvez ainda viessem. Ele falou que o dever dele mais importante era o casamento, mas nem sempre fora assim. Ela sabia. Havia muitas evidências contrárias. O que havia mudado? Ou talvez ela estivesse teimando em acreditar que tudo tivesse mudado. Será que a culpa era forte o suficiente para motivar alguém a mudar da forma como Joseph estava
mudando? Parecia um forte esforço, mesmo para um Scorsolini.
Além disso, o que ele quisera dizer mais cedo?
Ao dizer que estavam quites, ele estava afirmando que concordava com ela e que também achava que não a amava? Ou dizia que não acreditava que ela o amasse? E em qualquer um dos casos... o que queria dizer com "as coisas vão mudar"? Independentemente da forma como ela encarava isso, o amor estava entrando no acordo do casamento... por decisão de Joseph.
Embora resistisse, ela acabou contando à família sobre a sua doença no dia seguinte. Também revelou que faria uma cirurgia, e quando. Em um ato que seria totalmente fora de cogitação, Joseph continuou, contando que, embora a cirurgia fosse cuidar dos sintomas dela, ela já havia sofrido muito com a doença e que, sem uma fertilização in vitro, provavelmente se tornaria estéril.
Os irmãos dele e o pai ficaram claramente atônitos com a abertura dele, mas as outras mulheres trataram da notícia como se fosse algo que toda a família devesse saber. Mas, como Demetria pensou, as notícias causaram menos alvoroço na família com Denise por perto.
Todos estavam presentes na reunião familiar.
Demetria estava sentada no canto, perto da sogra. Joseph a puxara para perto, em vez de deixá-la pegar uma poltrona, o que era um hábito comum. Então, ele passou o braço sobre os ombros dela com descarada possessão. Era bom, mas estranho.
Os lindos olhos escuros de Denise se encheram de emoção.
— Sabia que havia algo errado, mas hesitei em falar. Sinto muito. Deve ter sentido dor muitas vezes, e, ainda por cima, escondeu.
Demetria não pôde negar, mas não queria que a sogra se sentisse culpada por isso. Não era culpa de Denise que a endometriose causasse tanta dor. Nem de ninguém mais.
— Está tudo bem. Se tivesse dito alguma coisa, não teria mudado nada.
— Ao contrário, se tivéssemos conhecimento antes, você poderia ter começado logo o tratamento.
Ela olhou para Joseph.
— Não é culpa da sua mãe.
— Não falei que era, mas, se tivesse contado antes, teria sido melhor para nós e muita coisa poderia ter sido evitada.
Ela não acreditava que ele estivesse falando sobre isso na frente da família.
— Não vamos tocar nesse assunto agora — ela sussurrou.
— Se é o que quer, mas é a verdade.
Ela mal conseguiu controlar um suspiro de irritação.
Liam riu do outro lado da sala e Miley o cutucou.
— O que é tão divertido, fratello mio?
— Demetria está irritada com você.
— Acha engraçado? — perguntou Joseph, sem achar graça.
— Tem de admitir que não é típico dela — falou Nicholas, com diversão nos olhos.
Demetria olhou para os dois, imaginando o que havia acontecido com eles.
— Acham uma piada o fato de eu estar chateada com meu marido? — ela perguntou, intrigada.
Em geral, eles eram mais sensíveis que isso. Eram Scorsolini, o que significava que não eram os mais intuitivos quando o assunto era emoção, mas aquilo era estranho.
Selena mordeu o lábio e sorriu, encolhendo os ombros.
— Você precisa admitir que não é do seu temperamento, querida.
— No dia em que seu pai e Joseph me fritaram, você ficou muito irritada com eles, mas foi bastante sutil. Uma clássica princesa — Miley sorriu. — Para dizer a verdade, fiquei admirada.
Demetria não sabia o que dizer. Eles estavam certos... Quando escondia as emoções, ela não era nada. Mas por que eles achavam isso engraçado?
— Quando você está irritada com meu irmão, não esconde o fato — falou Joseph a Miley.
Joseph olhou para Demetria.
— Nosso casamento não é tão diferente dos deles. Naquele momento, quando ele se comportava com ela da mesma forma como os irmãos agiam com as esposas, ela não sabia o que dizer...
— Não, não acho que seu casamento seja tão diferente — falou Denise, com uma expressão implacável. — Mas eu imaginava quando você acordaria para isso, filho.
— Posso assegurar que estou bem acordado agora — respondeu Joseph, enquanto se permitia piscar para a madrasta, longe de estar ofendido com o comentário.
Era quase como se houvesse outro nível de comunicação silenciosa entre eles. Como se a conversa não fosse totalmente nova para os dois.
Mas Demetria engasgou. Estava querendo dizer que a amava?
Ele voltou a atenção para ela e seus olhos estavam totalmente vulneráveis.
— O que foi? Percebeu as similaridades?
— Não... hum... não. Denise sacudiu a cabeça.
— Com a sua educação, isso não é surpreendente, mas, querida, precisa parar de olhar para o nosso Joseph com olhos de filha de diplomata e começar a vê-lo com os olhos de uma mulher que quer acreditar no coração dele e no próprio.
Denise tinha toda a sua atenção agora.
— O que quer dizer quando fala da minha educação?
— Você não conheceu o amor incondicional... Acho que, na realidade, conheceu muito pouco do amor. Está acostumada a supor que não há amor, quando, na realidade, há.
Por nenhuma razão que pudesse discernir, Demetria sentiu um aperto no peito de emoção.
— Não entendo.
— Todos amamos você, é isso o que digo — Denise apertou a mão de Demetria.
Liam sorriu.
— Sim e, embora eu fique honrado se meu filho subir ao trono dos Scorsolini, vou torcer para a fertilização de vocês dar certo.
— Porque não quer que ele sofra as pressões de reinar um país? — perguntou Demetria, dolorosamente incerta sobre permanecer casada com Joseph.
— Porque qualquer criança nascida de você e do meu irmão será abençoada e uma linda contribuição a este mundo.
— Isso foi lindo e muito verdadeiro — Denise sorriu em aprovação a Liam e virou-se para ajeitar o cobertor que cobria as pernas do rei.
— Pare de me paparicar, amore. Estou bem. Desde que fique comigo, estarei bem.
— E agora que vão anunciar que vão se casar de novo? — perguntou Selena.
O rei apenas sorriu.
— Sim, meus filhos, é exatamente o que vai acontecer.
— Que maravilha! Quando será o casamento? — perguntou Nicholas.
— Em três meses... quando será seguro fazer uma festa de casamento — respondeu o rei Paul.
Depois disso, seguiram-se beijos e abraços de felicitações. A atenção foi totalmente desviada de Joseph e Demetria, e ela ficou agradecida.
Mais tarde, ela estava acordada no escuro, sua mente rodando sobre o que Denise havia falado e a forma estranha como Joseph vinha se comportando. Mesmo agora, ele dormia de frente para ela, com a cabeça acima da sua no travesseiro, uma das mãos no ombro dela e a outra em seu
quadril. Estava presa, como se ele tivesse medo que escapasse.
— Explique como acha que um Scorsolini apaixonado se comporta — a voz rouca dele vinda da escuridão a assustou.
— Pensei que estivesse dormindo.
— Não estou.
— Aparentemente.
— Então, fale.
— Por quê?
— Por favor, tesoro mio, não jogue comigo.
— Não estou jogando, apenas não entendo que ideia é essa.
— Você me falou que tem certeza de que eu não a amo porque não sou um marido para você como meus irmãos são para as suas esposas. Quero saber especificamente onde falhei.
Ela sentiu-se sem ar.
— Por quê?
— Para poder corrigir.
— Quer que eu acredite que me ama? — ela perguntou suavemente.
— Isso não é óbvio?
— Talvez devesse ser, mas não... não na realidade.
— É como Denise falou... você está tão desacostumada a receber amor que não o reconhece.
— Quero ser amada — ela admitiu com uma vulnerabilidade que jamais demonstraria antes de todo o acontecimento.
—- Eu amo você, Demetria, e um dia saberá disso.
Não, não era possível, mas por que ele dizia isso? Culpa podia provocar muitas coisas, mas não uma falsa confissão de amor. Ela achava que não.
— Está dizendo que me ama porque deve fazê-lo... está tentando se redimir de alguma coisa?
— Não. — E isso foi tudo. Um simples não. Ele não ficou ofendido ou tentou convencê-la com outras palavras.
E havia algo totalmente convincente naquela simplicidade...
— Eu...
— Está incerta. Entendo isso. Eu não percebi que a amava quando nos casamos. Pode ser perdoada por não saber disso também. Denise percebeu, mas também notou que eu brigava contra isso. Porca miséria... eu era tão idiota que sequer notei seu amor por mim, mas notei quando ele se foi.
— Se foi? — ela perguntou, sem forças, mexendo a cabeça para conseguir ver o rosto dele.
Ela podia sentir o olhar dele a fulminando, embora ambos estivessem no escuro.
— Sim. Acha que eu não perceberia? Garanto que não sou tão bobo assim. A forma como você costumava me olhar como se eu fosse tudo o que sempre quis... a forma como ficava excitada quando eu entrava neste quarto. Acabou — a voz dele trazia uma dor que ela conhecia bem. — Só rezo a Deus para que nós ajude, e conto com os conselhos da família. Vou conseguir recuperar o seu amor.
— Pediu conselhos à sua família... aos seus irmãos... sobre como conquistar meu amor?
— Sim, embora nenhum deles seja muito esperto nessa área.
— O que disseram?
— Liam sugeriu que eu insistisse na cama, mas essa não é uma opção e eu não quero transar até que seja seguro para você.
— Oh...
— Nicholas sugeriu que eu fosse honesto com você, mas tenho feito isso há dias, sem sucesso.
— Comunicação honesta é essencial para uma relação. — Mas a pessoa com quem se comunicava deveria acreditar em você, e não em motivos excusos... como ela vinha fazendo com ele.
Seria verdade? Ele a amava? Ela esteve errada sobre tantas coisas, assim como ele, mas Joseph aparentemente, queria consertar seus erros. Queria que ela se sentisse amada.
— Foi isso que Denise falou, mas o papai acha que você precisa de provas. Novamente, não achei esse conselho muito útil. Não sei que prova posso lhe dar.
Ela sorriu diante do tom desconcertado da voz dele.
— Seus irmãos não tinham uma sugestão para isso?
— Como eu disse, nada que eu pudesse usar.
— A cama não é o único lugar para expressar amor — mas agora ela via que era o local em que ele o fazia com mais conforto.
— Sei disso. Reservei todo o meu afeto e a liberação das minhas emoções para o quarto, mas isso só a convenceu de que só servia na cama para mim. E não é verdade, amore. Por favor, acredite que sempre foi importante para mim de todas as formas que uma mulher pode impressionar um homem. Eu poderia cortar minha própria língua por algumas das coisas que eu falei depois que você pediu o divórcio. Você acreditou em todas elas muito facilmente, mas depois não acreditou quando falei que elas haviam sido geradas por raiva e mágoa. Eu tenho sido muito negligente como marido, e acabei a convencendo da minha falta de sentimentos por você. Não percebi tudo isso antes que fosse tarde demais.
— Tarde demais?
— Acordei para muitas coisas tarde demais — a tristeza na voz dele era muito real e profunda para ser ignorada.
Ele realmente a amava. Ele não havia percebido e, de sua maneira típica, não se deixara levar pelas emoções. Mas ele percebia isso agora e estava magoado.
Assim como ela também ficou magoada.
Ela sentia como se a agonia dele estivesse dentro do seu coração. E se ela perguntasse... ele diria que também podia sentir a dor provocada pela endometriose em Demetria, pois ele a amava e a dor dela também era dele.
A evidência sempre esteve ali, mas ela atribuía a todos os motivos possíveis, menos aos verdadeiros... ele a amava.
Ela virou de lado para vê-lo completamente e acendeu a luz de cabeceira. Eles ficaram iluminados e ela pôde ver sua face molhada.
Ela o tocou, incapaz de acreditar que ele estava chorando por ela. Homens como Joseph não choravam. Nunca.
— Não é tarde demais — ela sussurrou.
O forte corpo que se aninhava junto ao dela de repente ficou rígido, e o lindo rosto dele trazia uma esperança cuja visão lhe era dolorosa.
— Não?
— Não.
— O... — ele respirou fundo e continuou. — O que exatamente está tentando dizer?
— Eu imaginava o que fazia de Selena uma moça tão especial... por que ela podia ser amada pelos pais, por Nicholas, mas eu estava destinada a não ser amada pelas pessoas mais importantes para mim.
— Selena é especial, mas Demetria... para .mim, você é infinitamente mais preciosa. Amo você e passarei o resto da minha vida provando isso. Seus pais são muito estúpidos.
— Não. Ambos são muito inteligentes.
— Não quando se trata de amor. Você é incrível e a grande bênção da minha vida. O fato de eles não poderem reconhecer isso faz deles idiotas.
— Você não reconheceu inicialmente.
— Reconheci, mas não rotulei os sentimentos que tinha por você como amor, pois não queria ficar vulnerável.
— Como seu pai.
— Si.
— Todos aprendemos com nossos pais.
— Mas podemos desaprender com eles também. Amo você, Demetria, e isso não faz de mim um tolo ou fraco. Isso me dá força e me enche de prazer quando penso no dia em que vou compartilhar isso com você. E vamos, Demetria. Porque mesmo que você não me fale o que meus irmãos fazem, eu vou descobrir e você saberá que é amada.
— Quer continuar casado comigo mesmo que isso signifique não ter seu próprio filho como herdeiro de Isole dei Rei?
— Si. É verdade. Finalmente, acredita em mim?
— Oh, acredito... — E a crença a deixava atordoada. — Amo você, Joseph. Ontem, hoje e sempre.
A mão que repousava sobre o seu quadril apertou-a quase dolorosamente.
— Não pode.
— Posso e amo — ela pegou todo o ar que tinha e saltou em águas desconhecidas. — Acredito que você me ame também. Realmente.
— Amo você, minha preciosa esposa. Amo. Graças a Deus, acredita em mim... Graças a Deus. — Ele fechou os olhos como se enviasse esses agradecimentos aos anjos e os reabriu. — De hoje em diante, você nunca mais vai duvidar disso. Palavra de príncipe.
— Acredito em você - ela falou novamente, com o coração borbulhando por um tipo de felicidade que nunca havia experimentado.
Ele se inclinou e a beijou. Foi o encontro mais comovente dos lábios deles, pois afirmou de uma forma totalmente não-sexual que eles eram a metade um do outro. Para sempre.





calma 





calma






calma




caaaalllmmmaaaaa
ainda falta o Epilogo

sábado, 21 de setembro de 2019

VIDA DE PRINCESA Capitulo 10


— Era uma conclusão que fazia sentido na época.
— Você está me enrolando. Fale-me qual foi.
— Achei que você tivesse conhecido outra pessoa.
— O quê?
Ele corou ligeiramente.
— Fiquei obcecado pela ideia de você ter conhecido outro homem. Seu pedido de divórcio só piorou.
— Por quê? — ela perguntou atônita.
— Eu não conseguia pensar em outra razão para você querer se divorciar.
— Mas...
— Você começou a me recusar sexualmente. Eu não entendia.
— Isso doía.
— Mas você não me falou. Tive de tirar minhas próprias conclusões.
— E concluiu que eu tinha um amante.
— Não consegui chegar tão longe, não conseguia imaginar isso.
— Obrigada... eu acho.
— Você começou a divagar em nossas conversas... como se estivesse pensando em outra coisa.
— Os remédios.
— Sim.
— Pensei que nem tivesse notado.
— Notei, acredite.
— Mas decidiu que a razão era meu coração ter se tornado infiel a você, se não meu corpo.
— Eu não podia assegurar que já possuía seu coração.
— O que quer dizer com isso?
— Nunca disse que me ama.
— O amor não era uma exigência em nosso acordo de casamento.
— Não, não era.
Inexplicavelmente, ela tinha a impressão de que ele queria que fosse... para ela. Mas por que desejaria o amor dela se não sentia nada profundo por ela? Não fazia sentido. Assim como esse novo desejo dele de paparicá-la porque estava doente.
Ou fazia sentido?
— Acho que entendi.
— Fico contente.
— Não o fato de você ter acreditado que eu havia conhecido outra pessoa — ela rapidamente tirou esse conforto dele. — Mas acho que entendo sua necessidade de me mimar agora.
— Por que está doente?
— Porque está se sentindo culpado por ter pensado que eu era infiel.
— Essa não é a razão para eu querer cuidar de você agora.
— Mas você se sente culpado.
Uma vez na vida era muito fácil ler os pensamentos dele. Estavam escritos em todas as expressões sofridas dele.
— Sim. Eu devia ter percebido que estava doente.
— Pelo menos notou que meu comportamento não estava normal.
— Claro que sim.
— Não há nada de claro sobre isso. Achei que você não se importava por eu ter começado a rejeitá-lo na cama.
Ele olhou para ela como se ela tivesse perdido a cabeça.
— Isso é um absurdo. Naturalmente me importava, mas não seria uma criança petulante em relação a isso. Se uma mulher diz não, é não.
— E por que minha rejeição não era importante?
— Claro que era importante.
— Mas você preferiu achar que eu era imoral a perguntar.
— Eu perguntei. Então ela lembrou.
— E eu não quis falar sobre isso, mas estava ocorrendo há meses. Por que esperou tanto?
Ele se movimentou na cama, com o rosto expressando forte passividade.
— Meu orgulho ficava arrasado quando eu era rejeitado sexualmente por você. Falar sobre isso só pioraria as coisas. Eu me sentiria como se estivesse implorando um favor seu.
— Isso é um absurdo.
— Não é. É verdade. Por que acha que viajei tanto quando estava
menstruada?
— Porque era conveniente.
— Você não espera muito de mim, não é?
— Não é verdade.
— Acho que é, mas não é o que estamos discutindo, portanto deixa pra lá. Eu organizava meus planos de viagem para que coincidissem com suas menstruações, pois havia deixado claro que o mais leve toque nessa fase a deixava desconfortável. Eu considerei um grande desafio manter minhas mãos longe de você e a melhor solução foi sair totalmente da cama. Pode acreditar ou não... mas organizei minha programação pelo seu bem, e não pelo meu.
— Você não tem problemas em não me tocar fora do quarto?
— Se realmente pensa assim, está cega. Eu a tocaria o tempo todo, mas não é adequado para um rei tocar sua mulher dessa forma.
— Ainda não é rei.
— Mas serei. E por conta de minha futura posição, tenho padrões para o meu comportamento. Atingir esses padrões me desafia, especialmente quando se trata de você. O único local que me permito ficar completamente livre é no nosso quarto. E acho muito difícil policiar meu comportamento aqui também — ele falou, como se admitisse um grave pecado.
— Eu não havia percebido...
— Em minha própria defesa, achei que soubesse.
— Como podia?
— Pensei que meu desejo por você fosse óbvio.
— Não era óbvio quando você aceitou a rejeição tão facilmente e agiu como se nada de diferente estivesse ocorrendo entre nós. Pensei que não tivesse importância.
— Agora sabe que não é assim.
— Sim, sei que sexo é um elemento fundamental na nossa relação.
— Fala disso como se fosse uma coisa ruim.
Ela mordeu o lábio e desviou o olhar. Até que ponto poderia ser honesta? Seu casamento havia acabado, mesmo que ele não quisesse reconhecer. Fazia algum sentido remexer em antigas feridas? Mas, novamente, ela não havia ficado muito tempo escondendo coisas dele?
Ela se virou para encará-lo.
— Eu gostaria que você se importasse comigo em um nível além do sexual.
— O que é mais íntimo que sexo?
— Não sei como explicar — ela admitiu. — É que eu queria ser importante por você pelo que sou... não apenas por causa do prazer que
encontra no meu corpo, ou pelo meu bom desempenho no papel de esposa.
— Quer que eu a ame.
— Talvez — ela deu de ombros. — Talvez nada menos que amor teria me satisfeito, mas isso não tem mais importância.
— Não quer mais o meu amor? É por isso que briga contra os meus mimos, como chama? Está contente em ficar sem mim?
— Não quero brigar pela sua atenção — ela falou enquanto bocejava, pelo efeito dos remédios. — É que isso ocorreu como uma surpresa.
A verdade era que gostava disso. Muito. Se permitisse a si mesma acostumar-se, seria ainda mais difícil partir, mas, ao mesmo tempo, ela não conseguia ter força de vontade suficiente para impedi-lo.
— Estou contente por estar comigo agora — ela falou suavemente. — Mesmo se devesse estar em outro lugar. Sei que tem muitas responsabilidades agora para se preocupar comigo, mas não consigo deixar de gostar dessa atenção. Acho que isso me enfraquece.
Na realidade, ela falava para si mesma, mas ele respondeu.
— Não, não enfraquece. Faz de você um ser humano — ele parecia satisfeito com alguma coisa, mas ela não sabia precisar o quê.
Ela suspirou.
— Pode ser, mas você não pode ficar me ligando várias vezes por dia ou continuar bancando o enfermeiro.
— Precisa parar de querer cuidar de todos no mundo. Posso lidar com as ligações telefônicas e, se eu não me importar com você, quem se importará? Você se recusa a contar para outras pessoas sobre a sua doença.
Ele tinha uma certa razão, mas ela não podia deixar barato. Estava tentando fazer tudo parecer tão simples, e não era. Só que seu cérebro confuso estava tendo dificuldade de conectar as ideias. Ela se lembrou de uma coisa.
— Não teve tempo para me ligar antes.
— Eu ligava... até você parar de atender todas as minhas ligações.
Ela olhou para ele, lembrando vagamente e tentando clarear a mente. Era verdade. Ele costumava ligar várias vezes por dia, de qualquer lugar do mundo. Não havia nenhuma razão específica para as ligações, a não ser um breve contato. Ele falaria sobre a sua agenda e perguntaria sobre os compromissos dela. Na realidade, grande parte da comunicação deles foi feita assim. Só quando ele parou de ligar que ela notou. Ela começou a ignorar as ligações ou até mesmo desligar... porque ele não dizia a coisa certa.
— Parecia que estava apenas verificando se eu cumpria bem meu papel de princesa. As ligações eram muito impessoais.
E isso doía, assim como quando ele parou de ligar.
— Como poderia tê-las feito de forma mais pessoal?
Olhando para trás, ela via que, para ele, as ligações eram pessoais, eram sua forma de ficar com ela quando os deveres os separavam. A garganta dela apertou de emoção.
— Podia dizer... só uma vez... que sentia minha falta.
— Sinto muito por não ter verbalizado isso. Pensei que as ligações por si passariam a mensagem.
— Ligava porque sentia saudade? — ela perguntou, chocada diante dessa possibilidade.
— Si. Por que outra razão eu ligaria para tratar de assuntos tão sem importância?
— Não sei. Meu cérebro está ficando confuso. Ele franziu a testa e se levantou.
— Se seguir o padrão de ontem à noite, não conseguirá mais conversar em vinte minutos, e tem uma coisa que quero discutir antes que apague.
— Ontem foi pior porque perdi muito sangue e dormi pouco — ela comentou.
— Se é o que diz — ele começou a retirar os sapatos dela. — Você falou que cirurgia é a cura adequada para endometriose?
— Não exatamente a cura, mas quase. É minha melhor alternativa para levar uma vida mais perto do normal e sem dor. — Ele tirou os sapatos dela e depois a meia-calça. O olhar dele ardia de paixão quando ele viu as pernas expostas dela, mas o toque foi quase totalmente impessoal.
— O que eles fazem? Só precisam retirar seu sistema reprodutor?
Pelo menos essa conversa era fácil. Ela pesquisou tanto as alternativas que poderia falar sobre elas, mesmo sonolenta.
— Não, agora não mais. Eles podem remover o tecido extra por meio de uma cirurgia a laser. O tempo de recuperação é mínimo e não precisarei passar a noite no hospital depois.
— Mas passará.
— Passarei? — ela perguntou delicadamente, com os olhos pequenos.
O olhar que ele lançou dizia que ela podia discutir o quanto quisesse, mas já havia tomado uma decisão.
— Mesmo as cirurgias a laser trazem risco e são traumáticas ao corpo. Não concordo com essa abordagem médica de querer se livrar tão cedo dos pacientes.
— Tenho certeza de que isso tem mais a ver com as empresas de
seguro que com as preferências médicas. Se quiser pagar por isso, não tenho dúvida de que o hospital vai querer que eu fique. — Ela imaginou que isso aliviaria a culpa dele.
— E essa cirurgia... é garantida?
— Não, mas como eu falei... é minha melhor alternativa. Um grande porcentual de mulheres que opta por isso acaba tendo reincidências mais tarde.
— Parece um preço baixo a pagar, se for aliviar a dor e o tipo de sangramento que você vem tendo.
— Concordo.
Ele estava retirando o vestido dela e ela permitia. Independentemente do que tivesse dito em contrário, era maravilhoso vê-lo cuidando assim dela. Especialmente porque ela sabia que logo não estaria mais ali para esfregar suas costas em um banho sensual.
— Precisa se cuidar para dormir?
Ela estava passando a perna para o lado da cama.
— Sim.
Mas, antes de levantar por conta própria, ele novamente a levantou e a conduziu ao banheiro. Ele deixou que ela cuidasse das coisas e estava nu na cama, trabalhando, quando ela voltou.
— Não precisa ir dormir só porque vou.
— Garanto que não é nada demais, depois da semana que tive.
Ela assentiu, muito tonta para discutir.
— Pelo menos, vai tentar dormir antes da meia-noite?
— Quer que eu tente? — ele perguntou, como se a ideia o satisfizesse.
— Sim, não quero que tenha infartos como seu pai.
— Isso seria falta de sorte, não? Afinal, quem governaria o país se os dois estivessem convalescendo?
— Minha mente está rodando, mas não estava pensando no bem de Isole dei Re — ela falou com mais ternura do que o faria sem o efeito dos remédios. — Eu me preocupo com você. Eu... vou dormir.
Ela subiu na cama, sem acreditar que quase havia declarado seu amor a ele.
Joseph trabalhava ao lado da adormecida Demetria, com a mente dividida entre os deveres e sua esposa. Se ao menos ela soubesse que esse não era um estado emocional tão incomum. Mas, da maneira como ela havia falado, era como se ele se preocupasse com ela apenas num nível periférico.
E ele permitiu que ela acreditasse nisso. Foi uma decisão consciente, mas ele não havia previsto as consequências. Ele estava se protegendo de seguir o caminho do pai. Nunca quis um amor que transfor-
masse um homem forte em uma farsa. Depois da conversa com o pai no hospital, talvez ele tenha entendido o que orientou o rei Paul anos atrás, mas a compreensão não trouxe a paz.
O resultado foi o mesmo. O amor tornava os homens uns tolos.
Mas será que negar a emoção terna de sua relação com Demetria significou alguma melhoria na vulnerabilidade que o amor causava? Ainda se sentia vulnerável... ainda sentia medo de perdê-la. Não melhorou nada... e, depois da conclusão errada sobre o comportamento dela, ele se sentia um idiota.
Mais que um idiota: sentia-se como um monstro cruel. Nunca fora sua intenção ferir Demetria por ter se casado com ele. Ele acreditava que estava oferecendo a ela uma vida boa e pensava que seria um bom marido. Não um marido normal — um rei não poderia ser assim —, mas um marido bom, acima de tudo.
Ele não havia previsto os acontecimentos atuais, mas mesmo assim... falhar de forma tão grave em seu primeiro teste real como marido era de amargar. Ele não lidava bem com as falhas. Nunca falhava, pois trabalhava muito para evitar isso. Mas não havia dúvidas de que havia julgado mal a mulher e, ao fazê-lo, causou-lhe ainda mais sofrimento.
Também destruiu laços fracos que, se não consertasse, terminariam com seu casamento. Ele não aceitaria isso, mas não sabia exatamente o que fazer para corrigir o problema. Sentia-se impotente e não gostava disso.
Um príncipe a caminho do trono não podia sentir-se impotente.
Não estaria assim se ela se importasse com ele... o amor dela poderia ser um vínculo a uni-los, mesmo se ele tivesse cometido alguns erros horríveis de julgamento. Mas ela não o amava. Embora, por um momento... um pouco antes de Demetria ir dormir, ele pensou que ela falaria que o amava. E queria ter ouvido essas palavras. Muito.
Mas ela não as pronunciou e ele ficara pensando que talvez tivesse sido sua imaginação. Mesmo se ela lhe tivesse amado antes — e ele achava possível —não amava mais.
Por que doía tanto reconhecer isso?
Como ela lembrou, o amor não era parte do acordo do casamento.
Mas ele queria seu amor. Ele... precisava dele. De alguma forma, tinha de convencê-la a continuar casada... e talvez se o fizesse, daria a si próprio outra chance diante do amor que aquecera sua alma antes de ele perceber sua existência. Ela havia se casado com ele apaixonada e somente agora, olhando para o passado, ele percebia isso.
Ela provavelmente pensava que ele não se importava, mas estava errada. Importava-se muito. Estava equivocada também sobre o divórcio ser
a única solução para o dilema deles. Assim como estava errada ao dizer que as ligações dele não significavam sua expressão de saudade. Só agora ele percebia o quanto ela havia interpretado mal as coisas, e ele não sabia como consertar.
Ele fora treinado para ser um governante, mas não fora ensinado a abrandar as emoções de uma mulher, a convencê-la do seu afeto. Ele e Demetria não viam o mundo da mesma forma e ele cometeu o erro de pensar que sim. Por causa da forma como ela foi educada. Mas ainda era uma mulher, diferente dele, e seus pensamentos seguiam uma lógica diferente da dele.
Ele supôs que ela soubesse muitas coisas que, voltando no tempo, ele tinha de admitir que não eram óbvias para ela como eram para ele. Ele não sabia se isso era parte das divergências entre homem e mulher ou se era algo exclusivo de suas personalidades, mas não importava. Ela fez pressuposições errôneas, assim como ele. Se ele pudesse admitir as falhas das próprias suposições — e todos aceitavam que ele era bastante teimoso —, ela também poderia.
— Deve estar brincando. Fazer a cirurgia agora é impossível.
Em um raro momento de solidão, Demetria estava relaxando em um dos seus locais favoritos nos fundos do palácio, quando Joseph a encontrou. O sol aquecia sua pele enquanto uma leve brisa soprava seus cabelos. Era gostoso e pacífico... mas não mais. Agora Demetria tinha um metro e oitenta de energia masculina vibrando na sua frente.
Joseph sentou-se na praia ao lado dela e sua vitalidade chamava atenção dos sentidos dela em um nível que não tinha nada a ver com razão ou lógica.
— O médico falou que não haverá problemas se você fizer a cirurgia quando a menstruação cessar por completo, e isso ocorrerá em cerca de dois dias.
Ela não estava acostumada a essa discussão franca, pois há quase três anos só tratavam disso na cama. Mesmo assim, havia coisas de que ela simplesmente não falava. Ele havia quebrado qualquer tabu no casamento deles quando cuidou dela na outra noite, e não tinha a menor vontade de voltar a ter a anterior relação fechada.
Aceitando essa verdade com toda graça que podia reunir, ela argumentou.
— Essa não é a única coisa a considerar. Seu pai está vindo para casa hoje e ainda convalescerá por um tempo.
Joseph ficou tenso e sua boca esboçou um traço de preocupação.
— Está dizendo que prefere esperar até ele se restabelecer completamente? — ele perguntou, incrédulo.
— Bem, pelo menos até ele ficar bem o suficiente para começar a reassumir seus deveres.
— Isso será daqui a seis semanas — ele falou.
— Sim, eu sei.
Joseph acariciou a nuca de Demetria com uma expressão severa.
— Não vou permitir que passe por outra menstruação dessa forma.
— É meu corpo — mas as palavras vieram sem que pensasse. O toque dele provocava sensações nela que ele nem sabia.
Ela não estava acostumada à afeição casual e não sabia como agir agora.
— Si. É seu corpo... um corpo lindo e generoso e é meu privilégio e minha responsabilidade garantir que cuide bem dele.
— Você é meu marido, e não meu pai.
— Seu pai teria ignorado sua dor. Eu, não.
Ele estava certo, mas, de alguma forma, essa lembrança não a machucava mais como antes.
— Não quero que seu pai fique chateado. Joseph largou a nuca de Demetria e pegou sua mão.
Ele alinhou os dedos deles.
— Suas mãos são tão pequenas, tão delicadas... tão lindas.
O ar congelou no peito dela por um segundo e ela inspirou quando seu coração começou a saltitar. Ele havia comentado várias vezes, enquanto faziam amor, o quanto gostava das mãos dela em seu corpo, mas nunca havia falado algo assim fora do quarto.
— Hum... seu pai...
Joseph entrelaçou a mão na dela e sorriu, desconcertando-a ainda mais.
— Paul está bem. Sob a minha solicitação, ele ficou mais dias no hospital do que o inicialmente previsto. Durante esse tempo, ele vem descansando e tendo suas ligações restritas, mas tem se levantado e caminhado, visitado outros pacientes. Está se recuperando bem.
— Mas ainda está fraco.
— Não deixe que ele a ouça.
Demetria tinha de reconhecer a justiça desse aviso.
— E tudo o que Denise pode fazer para mantê-lo no hospital e descansando por longos períodos.
— Precisamente. Só agradeço pelo fato de mamãe ter decidido que essa é a hora de voltar para a vida dele, pois acho que nenhum de nós teria sido bem-sucedido.
— Eles formam um bom casal.
— Sim. Pena que levaram tanto tempo para descobrir.
— A infidelidade não é algo fácil de ignorar.
— Nenhum dos dois ignorou, eu sei... mas parece que ela superou o passado.
— Fico contente — ela adorava os dois e ficou muito contente por terem se reencontrado.
— Eu também, mas não acho que você vai fugir da conversa. Conversei com seu médico em Miami e ele concordou em vir para cá em quatro dias para realizar a operação.
— Você não tem o direito de ligar para ele — ela reclamou. — E não quero fazer a cirurgia aqui.
Joseph olhou para ela e toda a sua amabilidade havia desaparecido, embora o toque de sua mão permanecesse gentil... como se, mesmo enraivecido, ele ainda a acariciasse.
— Você não tinha o direito de manter sua doença em segredo de mim. Podia ter feito a cirurgia há meses.
— Já falei por que agi assim.
— Não concordo com suas razões. Devia ter me contado. Essa é a verdade.
— As vezes, você é arrogante demais para conversar.
— Só às vezes.
Ela riu. Não conseguiu evitar. Ele estava sendo autoritário, mas era para o bem dela, e não para magoá-la. Ela sabia disso.
— É que às vezes me dá vontade de esganá-lo.
— Não consigo imaginar minha pequena e adequada esposa esganando nada. — Ele falou perto do ouvido dela e seus lábios lhe deram um suave beijo na testa.
Ela levou três segundos para conseguir responder. Como sabia que deveria lutar contra o impacto daquele beijo, ela se forçou a enfrentar um lado difícil da realidade.
— Uma esposa adequada poderia lhe dar um filho. Eu não poderei e, se fizer a cirurgia aqui, todo mundo ficará sabendo. Você será considerado sem coração e egoísta quando nos separarmos.
Em um movimento totalmente inesperado, ele a agarrou pela cintura, colocou-a no colo e segurou-lhe o seu rosto, de forma que não tivesse escolha, a não ser encará-lo.
— Não haverá separação e, se tentar me deixar, serei rotulado como coisa pior que isso.
— O que quer dizer? — ela perguntou, constrangida pela fraqueza de sua voz.
— Não vai me deixar, Demetria.
— Não está falando em sequestro... não pode estar. — Mas, pelo olhar dele, ela podia dizer que ele estava pensando nisso. — Isso é ridículo, Joseph. Não é um dos seus ancestrais saqueadores.
— Quem disse que meus ancestrais eram saqueadores?
— Eram piratas, pura e simplesmente. Usaram sua recompensa obtida de forma ilícita para estabelecer um país, mas não foram os pilares da sociedade descendente.
— Está dizendo que sou um pirata sob a minha camada de civilidade? — ele perguntou, soando horrivelmente dessa forma.
— Não... estou tentando lembrá-lo que é um desses descendentes civilizados e racionais — ela olhou dentro dos olhos dele e o que viu lhe causou arrepios.
— Eu teria concordado com você... antes, mas, nas últimas semanas, eu descobri uma até então desconhecida veia de primitiva possessão relacionada a você que remonta efetivamente a meus ancestrais.
— Então percebe que está aí...
— Sim. E você deve perceber também, o que quer dizer que deve notar o quanto seria estúpido me deixar.
Ela olhou para a complacente certeza dele.
— Se eu decidir, eu vou.
Ela queria dizer isso mesmo. Talvez não fosse descendente de piratas sicilianos, mas tinha o sangue dos romanos nas veias, bem como uma boa dose da segurança americana.




como prometido, os 2 capitulos que citei no face

VIDA DE PRINCESA Capitulo 9


Demetria estava se vestindo quando Joseph entrou no quarto. Ela olhou rapidamente para ele e desviou o olhar. Ele tinha uma expressão
contra a qual ela não queria brigar no momento. As olheiras de seu rosto demonstravam cansaço, más seu olhar expressava eloquente determinação.
Ele havia tomado alguma decisão. E por que ela tinha tanta certeza de que brigaria com ele por causa disso? Ela não sabia, mas seus instintos a avisavam para ficar apostos.
Ele colocou a mão sobre o ombro dela e ela teve de brigar contra uma ação retaguarda que seria a resposta natural do seu corpo ao toque dele. Queria encostar-se nele, roçar sua extensão, mas sabia que só podia contar com a própria força.
O polegar dele roçou a curva do pescoço dela.
— Como está se sentindo, cara? Afastando-se do toque insidioso, ela sorriu diante da pergunta que já ouvira inúmeras vezes naquele dia.
— Bem.
Ele suspirou e se moveu para o outro lado do quarto.
— Por que não acredito em você? — ele perguntou, enquanto começava a tirar o terno.
— Porque suspeita de tudo — ela debochou, sem olhar para ele. O contato visual com sua forma espetacular não fazia bem para o autocontrole dela. Mesmo quando a possibilidade de fazer amor estivesse tão fora dos limites.
— Talvez isso seja justificável — ele respondeu, com um tom baixo de que ela não gostava.
Ela olhou para ele, mas ele não a estava olhando, pois retirava a camisa. O coração dela acelerou quando viu aquele lindo corpo desnudado. Uma forte onda de possessão tomou conta dela, e tudo o que não podia fazer era cruzar aquele quarto e tocar aquela pele nua para declará-la sua.
O lado primitivo dela não compreendia a necessidade de encerrar o casamento.
— O que quer dizer? — ela perguntou com o tom de voz um pouco elevado.
Joseph virou para olhar bem na hora em que ela devorava seu corpo com o olhar, mas não percebeu.
Ele abotoou a camisa enquanto a desafiava com os olhos.
— Você escondeu muita coisa de mim nos últimos meses. Uma dor que devia ter me revelado. Uma hemorragia que poderia ter sido perigosa. Posso ser perdoado por não acreditar que você esteja bem agora.
O julgamento complacente dele a irritou. Ela o estava protegendo, droga.
— Quer saber a verdade? — ela perguntou repentinamente, fulminando-o com os olhos. —Estou com tanta cólica que quero me deitar e morrer, mas não vou fazer isso, e falar para você não vai mudar nada.
Ele empalideceu diante daquelas palavras, mas não deu sinais de que recuaria.
— Não posso consertar o que desconheço.
Tipicamente um macho Scorsolini, achando que tinha controle sobre tudo o que conhecia no universo.
— Você não pode consertar isso mesmo. E por isso ela agradecia. Ela se virou para sair e quase esbarrou nele.
Ele a segurou com as mãos em seus ombros, com uma expressão sorridente.
— Talvez não possa livrá-la dessa doença, mas posso pedir que tragam uma bandeja para que coma na cama.
Era tão tentador, mas não podia se entregar à endometriose agora.
— Não.
Ele franziu o cenho, apertando os olhos em desaprovação.
— Por que não?
— Não quero que sua família fique especulando sobre a minha saúde. Eles já estão sob muita tensão e preocupação.
— E você também.
— É minha escolha, Joseph.
— E se eu tirar essa escolha de você? Não fora um comentário vazio. Ela podia ver nos olhos dele. Ele continuaria a provocação.
— Não me ameace. Ele murmurou algo em tom de desgosto.
— Não estou a ameaçando. Estou tentando cuidar de você como deveria ter feito nos últimos meses.
Oh, não... Um homem Scorsolini no modo culpado era terrível.
— Isso nunca foi sua função, Joseph. Não preciso que cuide de mim. Não sou criança.
— Como pode dizer que não é minha função? É minha esposa. Minha responsabilidade.
— Um príncipe não pode ter essa visão da vida.
— Este príncipe tem.
Ele não tinha ideia do quanto ela desejara ouvir isso antes, mas já havia aprendido que uma princesa não podia contar com mimos quando estava doente. Pelo menos não do marido. Nem de ninguém, se tivesse deveres a cumprir.
— Isso é novidade.
— Talvez — ele reconheceu, sem se desculpar. — Mas ainda é o certo a ser feito.
— Não, não é. Isso significa que você se preocupa com tudo e ainda me inclui na sua lista de fardos, mas não vou deixar. Ouviu? Você já
tem preocupações demais.
— Não vou ignorá-la porque tenho outras coisas que exigem minha atenção também.
— Por que não? Já fez isso antes.
A boca dele se acomodou em um traço firme.
— Isso não é verdade. Ela se afastou.
— Você tem muita percepção.
— Houve vezes em que tive de colocá-la em segundo lugar, sim, mas fui forçado pelas circunstâncias. Nunca a esqueci ou ignorei nos meus pensamentos e na minha consideração.
Ele soava como se fosse importante que ela acreditasse nele, mas ela não estava pronta para outra discussão sobre o casamento agora. Ela não exagerou quando disse que estava com dor, e a discussão não estava ajudando.
— Precisamos nos apressar ou vamos nos atrasar para o jantar.
— Prefiro que fique aqui e descanse.
— Não.
Ele suspirou novamente.
— Não quer que minha família se preocupe com você, mas tudo bem se eu me preocupar por você não se cuidar direito.
— Não estou fazendo nada para arriscar minha saúde — ela falou com exasperação.
— Está sentindo dor, não devia se esforçar tanto.
— Jantar com a sua família não é algo que considero esforço.
— Por que está acostumada a colocar os deveres em primeiro lugar?
— Não foi o que disse em Nova York.
— Foi exatamente o que eu disse, se você se lembra. Por isso seu comportamento me assustou e preocupou tanto.
— Não agiu como se estivesse preocupado, mas irritado. Na realidade, furioso.
— Estava com raiva. Acreditei que tivesse razões diferentes da sua doença para fazer aquilo.
Ela parou com a mão na maçaneta, curiosa. Que motivações ele teria atribuído ao comportamento dela que o haviam deixado tão furioso por ter ido a Nova York?
— Que razões?
— Nada que eu queira falar agora.
De alguma forma, ela sabia que ele estava escondendo algo... talvez importante.
— Mas eu quero discutir isso. — Então o alarme do jantar soou no
interfone e ela franziu a testa. — Vamos falar sobre isso depois do jantar.
— Não há necessidade. Não é importante.
— Para mim é — mas talvez ela fosse tomar os remédios para dor antes.
Ele deu o braço a ela.
— Vamos?
Ela pegou o braço dele, incapaz de esconder a eletricidade provocada pelo toque.
— Sem mais discussões sobre eu estar fora da cama?
— Estou poupando energia — ele abriu a porta.
— Para quê?
— Para a nossa discussão depois do jantar.
— Mas você falou que não queria discutir aquele assunto — ela não acreditava que ele estava cedendo tão facilmente a uma conversa que lhe era tão desagradável.
Era tão atípico. Ela tinha toda intenção de pedir para ele esclarecer, mas daria muito trabalho.
— Não quero, mas temos outros itens na agenda.
— Como?
— Como o fato de que não haverá divórcio. Não havia como responder, pois eles encontraram
Miley e Liam no corredor e caminharam juntos. Nicholas e Selena aguardavam quando eles chegaram.
Ele sorriu ao ver Joseph com Demetria.
— Fico contente por ter decidido fazer uma refeição decente para variar.
— Eu tenho comido — falou Joseph.
— Com muito estresse, no ambiente de trabalho ou na sua mesa. O tempo com a família é mais relaxante.
Joseph sorriu, fazendo com que o coração de Demetria revirasse no peito.
— Tem certeza?
Sua afeição pelos irmãos era bastante forte. Tudo o que queria era que isso saísse facilmente dela, mas nunca conseguiu, e agora tinha essa ideia estapafúrdia de que continuariam casados. Mas ela sabia que seria pelas razões mais erradas... razões que nunca poderia aceitar.
A culpa dos Scorsolini estava agindo. Mas isso não era suficiente para carregar um casamento que enfrentaria os desafios que o deles enfrentaria. Não por muito tempo.
— Mas é claro — falou Nicholas. — Você negaria?
— Não — respondeu Joseph seriamente. — A semana foi muito
agitada.
Nicholas e Liam aquiesceram. Liam falou:
— Gostaria de poder fazer mais pelos deveres do papai.
— Mas não pode — Joseph sorriu. — Eu sou o herdeiro. Sozinho, devo fechar várias lacunas deixadas pela estada dele no hospital.
— Eu esqueço da pressão a que todos vocês são submetidos quando estou com Nicholas na Itália. O mundo parece tão normal lá. Mas no momento em que chegamos aqui, o fardo que todos vocês carregam fica aparente — Selena sacudiu a cabeça. — Rezo sempre para ser mais fácil para os nossos filhos.
— Acho que será — falou Liam.
— Sim — Nicholas acrescentou. — Precisa lembrar disso, amante, que nosso filho tem apenas um príncipe, e não um rei como pai.
— Isso é verdade — comentou Liam —, mas mesmo os filhos de Joseph terão a vantagem de uma família mais extensa para ajudar na divisão dos deveres.
— Mas os filhos de Joseph ainda terão que enfrentar momentos mais difíceis que os nossos.
Liam concordou com um suspiro.
— Eu me sinto egoísta com a minha gratidão, mas agradeço por meu filho não ter que crescer para ser o rei de Isole dei Re um dia.
— Será estranho saber que nossos filhos escolherão os próprios caminhos, enquanto os primos terão o futuro mais determinado pelo nascimento — falou Miley, preocupada.
— Você se incomodava, quando criança, de ver que não tinha alternativa a não ser tornar-se o rei? — perguntou Selena a Joseph, enquanto todos iam para a sala de jantar.
Joseph aguardou até acomodar Demetria à mesa para responder. Então olhou para Selena.
— Nunca me rebelei contra o meu destino. Lembro-me desde cedo de saber que um dia eu seria o rei e que essa função trazia sérias responsabilidades. Muitas vezes, isso quis dizer que eu tinha de colocar minha vida particular em segundo plano.
Demetria sentiu que havia uma mensagem para ela nessas palavras.
— Não invejo a posição de Demetria — falou Miley com um sorriso para a cunhada. — Deve ser muito difícil dividir o marido assim com todo o país.
Demetria não podia negar as palavras, mas havia algo de muito errado nelas também. Se Joseph a amasse, ela não achava que compartilhá-lo com o povo de Isole dei Rei seria ruim.
— É uma função difícil, mas minha esposa sempre esteve à altura
— falou Joseph, demonstrando aprovação por ela com a voz.
Ela virou para olhar para ele e, por vários segundos, os demais ocupantes da mesa pareciam ter desaparecido. Havia apenas ela e Joseph, e uma mensagem estava sendo trocada entre eles sem palavras.
Por uma razão que ela desconhecia, lágrimas começaram a queimar seus olhos.
— Não posso me arrepender de ter me casado com você.
— Não quero que se arrependa — então ele se inclinou para frente e fez algo que jamais fez.
Ele a beijou suavemente no meio dos lábios na frente da família. Depois, ele se levantou e começou a conversar com os irmãos como se nada de extraordinário tivesse acontecido.
Mas Demetria sentiu o mundo girar.
O jantar foi festivo, mas à medida que o tempo passava, ficava mais difícil para Demetria segurar a dor. A cólica estava ficando muito forte novamente, quase debilitadora. Provavelmente porque não havia tomado nenhum remédio o dia todo para não ficar muito tonta a ponto não conseguir dar conta das obrigações.
Talvez devesse ter tomado antes do jantar, mas detestava divagar no meio das conversas. E suas cunhadas eram muito astutas. Teriam percebido algo ... diferente de Joseph.
Tentando encontrar uma posição mais confortável, ela se revirou na cadeira pela terceira vez em dez minutos. Em vez de amenizar a dor, o movimento a piorou e ela teve de segurar um engasgo. Mas não conseguiu esconder o estremecimento.
Joseph se levantou de repente.
- Acho que Demetria e eu vamos nos recolher mais cedo.
Liam franziu a testa.
- Mas ainda não serviram a sobremesa.
- Estamos cansados e precisamos descansar.
Ele deu o braço a Demetria com a expressão de um falcão sobre a sua presa.
Ela sabia que não tinha alternativa e não discutiu. Joseph esperou que saíssem da sala para atacar.
Ele a pegou no colo contra o seu peito e isso a fez sentir-se segura e cuidada como falou que não precisava.
Mentirosa. Era exatamente o que queria.
- Coloque-me no chão -:- ela protestou, apesar disso. - Posso andar - mas não seria tão bom se o fizesse. - E se um dos seus irmãos ou dos empregados vir você me carregando assim? Haverá especulações.
- Nunca soube que você tivesse tanto medo de fofoca.
-Não tenho.
- Então me explique por que todas as suas consultas foram nos Estados Unidos.
- Estava tentando evitar um ataque da mídia. Não queria que viesse à tona antes do divórcio. Você ficaria mal aos olhos do público. As pessoas comuns não entendem o que é ser da realeza.
- Como não haverá mais divórcio, sua preocupação é infundada.
- Está sendo um teimoso e não me importo com o que diz. Não quero que sua família se preocupe com bobagem.
- Sua doença não é uma bobagem. E pare de se agitar. Calma. Qualquer empregado ou irmão que me veja carregando você assim vai achar que estou com pressa de ir para o mau caminho com você.
- Isso está fora de cogitação - não que ela não o desejasse ... sempre desejava, mas a dor era um forte impeditivo para fazer amor.
Ele parou na escada e olhou para ela.
- Realmente acha que eu a seduziria nessas condições?
Ele parecia extremamente chateado com ela. Ela sorriu.
- Não, claro que não. Não sei por que falei isso. Ela realmente não queria. Ela estava certa de que ele nunca faria nada para machucá-la fisicamente. Ela se lembrou da dor de quando ele tirou sua virgindade e sentiu uma familiar emoção. Era um homem tão bom e a última coisa que queria fazer era deixá-Io.
Passou meses criando defesas contra ele, enumerando seus defeitos para que não ficasse tentada a brigar pelo casamento, mas todas essas defesas estavam ruindo. Doeria muito deixar o homem que tanto amava.
— Ótimo, porque apenas um canalha ignoraria o desconforto de sua menstruação e sua dor para tentar algo assim.
— Nunca falei coisas assim de você.
— Talvez não com tantas palavras... — Ele aquiesceu mas deixou claro que ela o convencera de que pensava assim.
Ela olhou perplexa para a expressão dura dele.
— Nunca sugeri que via você assim.
— Como você acha então considerar o divórcio como a única opção depois que descobriu que tinha endometriose?
— Prática. Chamo isso de praticidade — a única solução que fazia sentido. Particularmente agora, que ela sabia que ele estava entediado com ela. Isso veio ao encontro da realidade de que seu valor para ele era unicamente sexual. Mas, mesmo sabendo que era verdade, parte dela se rebelava.
Parte dela... a parte muito tola... simplesmente se recusava a
acreditar.
Ele não falou nada, mas sua expressão não era agradável.
Quando eles chegaram a seus aposentos, ele a levou direto para o quarto.
— Vou pegar seus remédios.
Ele a deitou na cama e pegou os remédios e ela os tomou, como na noite anterior.
— Essa é a sua versão para mimo?
— Está se sentindo mimada? Independentemente da dor, ela sorriu.
— Sim.
— Então, sim.
— Obrigada.
— Não me agradeça. É seu direito.
— Então está sendo tão cuidadoso comigo por dever?
— Diga-me uma coisa, cara.
— Sim?
— Até os últimos meses, sua resposta na cama e sua generosidade com seu corpo eram tudo que um homem poderia desejar.
— Foi o que você disse — ele a valorizava por isso.
— Isso era resultado do seu dever?
— Não, claro que não. Como pode me perguntar isso?
— Com tanta facilidade quanto você me pergunta se o que faço por você agora é puramente obrigação.
— Você não me ama, Joseph.
— Eu me importo com você. Sempre me importei.
— Eu também achava isso... no começo.
— O que mudou?
— Não sei. Talvez nada.
— Mas, ainda assim, você se convenceu de que não me importo.
— Você falou que estava entediado.
— Estava irritado. Era mentira.
Ela não acreditava nele, mas se inclinou diante de mais um ataque de dor antes de falar. Ele a deitou mais.
— Demetria?
O aperto no abdome relaxou um pouco e ela conseguiu se ajeitar, respirando ofegante para suportar a dor.
— Está muito ruim? — ele perguntou.
— Sim.
— Que tal ir para o hospital?
— Não.
— Não está sendo razoável.
— Discutir não ajuda. Ele cerrou os dentes.
— Não devíamos ter ido jantar.
— Se eu me lembro, você propôs que eu jantasse aqui, e não você.
— Mas, naturalmente, eu teria ficado com você. Não havia nada de natural nisso. Na realidade, todo esse paparico era atípico na relação deles.
— Por quê?
— Está doente.
— E você tem obrigações com a família.
— Que eu fiquei contente em ignorar em favor das minhas obrigações no escritório, na semana passada. Fiquei no palácio por você.
— Não entendo por quê.
— É minha esposa — ele falava isso como se explicasse tudo.
— Eu era sua esposa há dois anos também, quando fiquei gripada, e você não ficou comigo. Na realidade, você me pediu para ir para outro quarto a fim de me recuperar e não haver risco de contaminá-lo. Era a sua esposa ano passado, quando fiquei resfriada e você me deixou aos cuidados dos empregados para ir para a Itália a trabalho.
Ele olhou para ela como se não entendesse a correlação.
— As circunstâncias eram diferentes.
— Como?
— Você não estava morrendo de dor e sabíamos que o mal-estar logo acabaria.
— E os deveres foram mais importantes do que qualquer gesto que expressasse carinho e ternura...
— Queria que eu me tornasse seu enfermeiro? Não vi esse desejo em você na época. É uma pessoa muito independente quando está doente. Mas acho que é assim de uma forma geral, extremamente independente, sem contar com a teimosia.
— Obrigada. E não sou independente.
— Ah, é. Tão independente que resolveu tomar decisões por conta própria sobre o nosso casamento sem consultar o outro principal interessado antes.
— Foi para isso que fui para Nova York... para consultar.
— Um pedido de divórcio não é uma consulta.
— Eu não ia começar dessa forma, mas você me colocou de uma forma defensiva pelo fato de ter ido para lá.
— Eu havia chegado a uma conclusão equivocada e me deixei levar por ela, desculpe. — Ele falou como se estivesse constrangido, e ela se lembrou do comentário antes do jantar.
— Que conclusão falsa?
— Prefiro não falar sobre isso.
— Que péssimo... só de imaginar o que faria você sentir-se tão desconfortável está me fazendo esquecer a cólica.
Ele falou algo que ela não entendeu, mas ele não conseguiu esconder a irritação quando se encostou na cabeceira da cama.
Diante do olhar inquisitório dela, ele deu de ombros:
— Se vai me detonar, quero estar em uma posição confortável.
Ela escondeu um sorriso inesperado. Ele pareceu bem carrancudo.
— Conte sobre suas falsas conclusões.