Miley veio
correndo até Demetria quando ela e Joseph chegaram à porta que dava para a sala
de espera.
Ela olhou para
Demetria e a abraçou forte.
— Vai ficar
tudo bem. Ele precisa de um marca-passo, como você sabe, mas é um homem forte.
Vai ficar bem.
Demetria deixou
a cunhada abraçá-la, agradecida por um contato humano que não era motivado pela
necessidade de fazer fachada para a imprensa.
— Não sei o que
farei se ele morrer — ela sussurrou.
Ela não queria falar aquilo e ficou impressionada com as
próprias palavras. Estava acostumada a proteger seus sentimentos, mas suas
emoções estavam muito à flor da pele para serem totalmente escondidas.
— Ele não vai
morrer, querida. Não fale assim. — Miley confortou Demetria e ela sentiu
lágrimas nos olhos.
Ela não
conseguia se lembrar da última vez em que alguém reconhecera que ela era dotada
de sentimentos. Que a tocara para confortá-la. Certamente, Joseph não. Ele agia
como se seu coração fosse feito de ferro e duas vezes mais duro do que deveria
ser.
Os pais de
Demetria nunca a haviam confortado quando ela era criança. Ela devia esconder
todos os medos e jamais admitir a dor.
— Podemos
vê-lo?
— Liam está com
ele agora. Ele está dormindo, mas pode vê-lo. Ele está pálido, mas está bem.
Demetria aquiesceu e foi para o quarto do rei Paul sem esperar para ver se
Joseph a seguira. Ele e sua forte presença ao lado dela foi logo percebe-la.
Havia uma ligação entre ambos que ela duvidava que o divórcio pudesse cortar...
pelo menos da para ela.
Ela abriu a
porta e entrou silenciosamente. Havia uma meia-luz por trás da cama do rei, que
estava imóvel, dormindo. Sua normalmente cor bronzeada dava lugar a uma palidez
que ressaltava os círculos pretos sob os seus olhos.
— Ele parece
tão fraco — a voz de Joseph estava nada de emoção.
— Sim, mas vai
ficar bem — falou Liam.
E Demetria se
pegou rezando: "Por favor, Senhor, permita que ele fique bem." Liam
se aproximou do irmão e sussurrou:
— Eles marcaram
a cirurgia para amanhã de manhã.
— Nicholas e
Selena já terão chegado?
— Sim. E Denise
também.
— Ela vem?
— Sim.
— Selena ficará
bem num voo tão longo? Liam deu um meio-sorriso.
— De acordo com
Nicholas, ela insiste que está lívida, e não doente. Miley diz o mesmo.
— Miley está
certamente doente com a gravidez. Estou surpreso por tê-la deixado vir.
Liam suspirou.
— Não havia
como impedi-la, mas quero levá-la para o palácio para descansar assim que
possível.
— Sim — Joseph
se aproximou da cama do pai e tocou seu braço. — Que bom que o enjoo de Selena
não está tão forte!
Demetria foi pega de surpresa diante dessas palavras e
sentiu um nó na garganta.
— Ele vai ficar
bem. Acredite, Joseph — falou Liam, mostrando que também não fora enganado pelo
comentário do irmão.
Joseph não
falou nada. Sua atenção estava toda concentrada no pai, imóvel na cama.
Liam apertou o
ombro do irmão e saiu do quarto.
Demetria se
moveu para ficar ao lado de Joseph e colocou a mão na face do rei Paul. Estava
quente, e isso a confortava. Eles ficaram assim por alguns minutos, os dois
tocando o rei, sem se tocarem.
Então Demetria
foi para o outro lado do quarto rezar, com uma fé incerta. Liam voltou e
sussurrou algo no ouvido de Joseph. Joseph assentiu e falou alguma coisa, e
Liam saiu.
Ele a encarou.
— Liam e Miley
vão voltar para o palácio. Ela quer que ele descanse e não irá sem ele.
— Que bom que
ele vai, então.
— Falei que
você iria também.
— Prefiro
ficar.
— Este é meu
lugar.
— Meu também.
— Não depois de
hoje à noite.
Ela sentiu como
se tivesse apanhado dele.
— Eu amo o rei
Paul. Você sabe disso. Quero ficar aqui com você.
— Precisa
descansar — respondeu Joseph, tão duro quanto uma rocha.
— Não vou
dormir. Não poderia.
— Não seja
boba, menina. Vá para casa e volte pela manhã — a voz rouca veio da cama e os
joelhos de Demetria bambearam quando ela ouviu.
Ela cruzou o
quarto correndo e pegou a mão dele.
— Rei Paul...
— Quantas
vezes... — ele fez uma pausa, respirando ofegante. — Falei para você me chamar
de papai.
— Eu...
— Certamente
não é pedir demais — Joseph comentou com a voz controlada que ela sabia que
escondia raiva.
Ela nunca se
sentiu confortável em chamar o rei de papai, mas agora ainda mais... seria
muito errado. Ela logo sairia totalmente da família.
Sim, como ela
poderia negar a ele um pedido tão simples? A resposta era: não podia.
— Desculpe, papai, mas quero ficar com você.
— Precisa
descansar.
— Preciso ficar
com você.
— Não discuta,
ele está doente.
— Eu sei, mas
também sei que só está falando isso para fazer as coisas a seu modo — ela
acusou o teimoso marido.
O rei Paul riu
sem forças, expressando cansaço nos olhos azuis.
— Essa é minha
nora. É perfeita para o meu filho.
As palavras
doíam, porque, de acordo com Joseph, ela não era nada perfeita, mas Demetria
esboçou um sorriso.
— Por favor,
deixe-me ficar.
— Preciso falar
sobre alguns assuntos com meu filho. Caso aconteça algo. Não vou sossegar se
não souber que você não descansou.
— Não fale como
se fosse morrer, por favor.
— Todos temos
que enfrentar a morte, cedo ou tarde, filha.
— Mas quero que
seja mais tarde. Liam falou que você ficará bem. Os médicos falaram.
O rei deu de
ombros.
— A cirurgia
costuma ser bem-sucedida, mas sempre existem riscos em situações assim. Será a
vontade de Deus.
— Não acredito
que seja a sua hora.
— Eu também
não, cara, mas eu seria negligente se não conversasse alguns assuntos de última
hora com meu herdeiro.
Demetria olhou
para Joseph. Não sabia por quê. Ele não era mais o seu defensor... se é que um
dia foi. Certamente não podia esperar nenhum tipo de conforto daquela direção,
mas estava acostumada a contar com ele.
Os olhares
deles se cruzaram e os olhos sombrios dele não expressavam nada. Ela piscou e
virou a cabeça, incapaz de lidar com aquilo, como se tivesse percebido que seu
casamento podia não ter sido perfeito, mas que sempre tivera intimidade. Agora,
reconhecia que ela havia acabado.
Sempre que os
olhares deles se cruzavam antes, ela via o reconhecimento de si mesma e seu
lugar na vida e nos olhos dele. Não ver nada disso agora fazia com que ela
percebesse que talvez o casamento deles fosse mais do que ela imaginava, mas,
de qualquer forma, havia acabado agora.
— Vá para casa
e descanse. É o que quero — falou o rei Paul, conseguindo parecer arrogante e
no controle da situação, mesmo debilitado.
— Eu vou sair —
ela falou, sabendo que ele entenderia isso como obediência. Ela havia convivido
muito tempo com políticos para saber como aparentar uma promessa sem que ela
significasse nada.
Ela sairia... do quarto do hospital.
— Bom.
Ela se inclinou
e beijou a face do rei.
— Fique bem,
papai. Por todos nós.
— Farei o
possível. Ela forçou outro sorriso.
— Tenho certeza
disso.
Ela não
conseguiu encarar Joseph novamente.
— Nos vemos
depois — ela falou, saindo do quarto. Ela foi direto para a sala de espera,
onde sabia que encontraria os outros, e despachou Liam e Miley.
Demetria se
acomodou na sala de espera. Aninhou-se no sofá e assistia à televisão como se
ela criasse um ruído branco no pano de fundo dos seus pensamentos infelizes.
Ela acordou ao
som de vozes.
Demetria
sentou-se. Um paletó que havia sido colocado sobre ela caiu de seus ombros. Ela
estava tomada pelo cheiro de Joseph e pelo calor de seu paletó, que a confortou
naquela hora. Ele deve tê-la encontrado mais cedo e a cobriu.
Ele virou para
olhar para ela, mesmo sem que Demetria tivesse feito nenhum ruído. Seu rosto
era uma máscara impenetrável.
— Você não
voltou para o palácio.
— Eu nunca
disse que voltaria.
— Falou que ia
sair.
— E saí — ela
olhou para longe dele, sem conseguir lidar com esse Joseph distante. — Do
quarto do hospital.
— Mas não do
hospital.
— Não.
— Por que não?
— Queria estar
aqui, caso acontecesse algo.
— Você viu
papai e supus que tinha ido embora com Liam.
Ela deu de
ombros, deixando o paletó cair mais um pouco.
— Não sou
responsável por suposições de dois homens levados pela crença arrogante de que
o resto do mundo vai mudar de planos simplesmente porque eles ditam.
Denise
gargalhou.
— Isso,
Demetria. Não deixe esse meu filho mandão achar que manda totalmente em você.
— Sem chances,
mamãe.
Demetria tinha
quase certeza de que fora a única a ouvir o tom rouco de Joseph, mas, para os
seus ouvidos, fora tão alto que era como se ele tivesse gritado o quanto não
gostava dela.
— Fico contente em ouvir isso. Você parece muito com seu
pai, achando que controla o mundo e todas as pessoas. A vida não funciona assim
e, certamente, pela primeira vez na vida, talvez Paul esteja percebendo isso.
— Ele está mais
do que ciente disso. Posso assegurar — falou Joseph, com a voz firme.
— E você, meu
filho?
— Fique
contente em saber que ele e eu estamos conscientes de que nossos desejos não
mudam o mundo.
O rosto de
Denise demonstrou suave preocupação.
— Sinto muito,
Joseph. Momentos assim são difíceis, mas Paul ficará bem. Acredite.
— Espero que
esteja certa.
— Sempre estou
certa, mas às vezes os homens da família levam algum tempo para entender.
Demetria só não
gargalhou porque sabia que Denise estava errada em um aspecto.
Assim como o
rei Paul, ela sempre acreditou que Demetria e Joseph formavam um par perfeito,
e sempre verbalizava isso. Quando a saúde do pai melhorasse, Joseph se
asseguraria de que todos soubessem o quanto seus pais estavam equivocados.
Denise falou:
— Gostaria de
ver Paul.
— Sim, claro —
respondeu Joseph. — Está dormindo agora, mas pode acordar novamente.
Nicholas
assentiu.
— Ficarei
também.
— Nesse caso,
devo levar nossas mulheres para o palácio. Parece que essa será a única forma
de eu garantir que Demetria descanse.
— Para que
horas está programada a cirurgia? — perguntou Demetria, ignorando a ironia e
conseguindo evitar o olhar dele enquanto aparentava olhar em sua direção.
— Daqui a cinco
horas.
— Quero estar
aqui.
— Então vamos
para o palácio comigo agora e tire pelo menos um cochilo antes.
— Não precisa
me dizer o que fazer.
— Prefiro ficar
com Nicholas e Denise — respondeu Selena antes de Joseph responder.
Nicholas
colocou gentilmente o braço em torno da cintura dela e a puxou para perto,
beijando sua testa.
— Está grávida, cara mia, precisa descansar pelo seu bem
e pelo bem do bebê. Por favor, volte para o palácio com meu irmão.
Demetria
refletiu se Joseph seria alguma vez carinhoso com ela... mesmo se estivesse
grávida. Uma discreta voz dentro de seu coração dizia que não faria diferença.
Ela teria seus sonhos com ou sem a ternura extra. Ver seu desejo mais profundo
realizado no corpo de outra mulher provocou uma dor que não tinha nada a ver
com inveja.
Demetria
adorava Selena e queria o melhor para ela, mas não podia mais sufocar o desejo
urgente de ter um bebê, assim como não podia fingir que Joseph a amava.
Demetria não
conseguiu deixar de evitar a comparação entre as formas de interação de Selena
e Nicholas e ela e Joseph. Ela nunca ousaria beijá-lo num lugar público como um
corredor de hospital. Nunca sequer o havia beijado na frente dos familiares,
nos apartamentos privativos do palácio.
Olhando para
trás, ela percebia que, durante três anos, podia contar nos dedos quantas vezes
o beijara quando não estavam fazendo amor. Ela nunca sentiu a confiança de
instigar uma transa, mas sempre respondia... com mais paixão do que julgava
possível.
Ele se
orgulhava dela por isso, mas agora ela pensava que talvez tenha sido muito
entusiasmada. Ele ficou entediado com ela... por que fora fácil demais?
E, mesmo antes
de ele ter confessado seu tédio, ela sabia que ele não sentia tanto carinho por
ela quanto seus irmãos por suas esposas.
Ela olhou para
Nicholas e Selena, tão próximos que certamente eram a metade um do outro, e seu
coração se encheu de dor, pois sabia que não deixaria de amar Joseph, mesmo
agora, que o detestava quase tanto quanto o amava.
Seu futuro se
mostrava como uma terra perdida e solitária à sua frente.
O que havia de
errado por não inspirar amor nas pessoas que deveriam ter afeição por ela? Seus
pais só a viam como um meio para um fim ou um doloroso desapontamento, e Joseph
dera a ela apenas um papel remotamente mais importante na sua vida. O de amante
e ajudante, mas estava feliz demais para jogar isso fora.
Ela se
levantou, precisando sair dali, e o paletó caiu. Ela se abaixou para pegá-lo e
o estendeu na direção de Joseph.
— Toma.
Ele pegou, com
os dedos roçando os dela e ela puxou a mão, batendo no sofá, quando retraiu
também o corpo em reflexo.
— Demetria,
está bem, filha? — Denise perguntou, preocupada.
— Sim. A-apenas cansada. — Demetria estava sufocada com
lágrimas que queimavam seus olhos, mas apenas parte delas eram pelo homem
acamado no hospital. — Vou esperar no carro.
E, ignorando a
etiqueta pela primeira vez na vida adulta, ela saiu do corredor sem se despedir
de ninguém.
Demetria estava
como um fantasma quieto, sentada ao lado de Selena no carro. Felizmente, a
família já tinha decidido que ela estava muito preocupada com a doença do pai
dele, e ele não achava que o comportamento dela fosse gerar suspeitas na
cunhada.
Ela se recusara
a fitar Joseph nas últimas horas. Ele não sabia o que ela havia sentido quando
seus olhares se cruzaram no quarto do hospital. Ele tinha certeza de que havia
conseguido controlar a raiva que sentia dela, pois não queria chatear o pai.
Porém, algo que ela viu nos olhos dele a chateou a ponto de ela desviar o olhar
com uma expressão no rosto que fez com que ele tivesse vontade de agarrá-la e
abraçá-la, mesmo que esse desejo fizesse dele um idiota.
Depois disso,
ela não olhou mais para ele...
Se a
perspectiva do divórcio era tão ruim, por que ela o desejava? Ou seria a
realidade de sua traição vindo à tona?
Ela era adorada
pelos pais dele, e ele sabia que ficariam profundamente magoados se houvesse um
divórcio. Especialmente se eles descobrissem que Demetria havia traído os votos
do casamento. Ela adorava o pai e a mãe dele e não desejaria magoá-los com suas
ações.
Será que ela
finalmente estava começando a perceber quais seriam os resultados de suas
ações?
Que pena não
ter considerado isso antes de se envolver com outro homem. Só de pensar nela
com outra pessoa, ele ficava furioso, e tinha de esconder perguntas raivosas na
frente de Selena. Será que Demetria estava arrependida agora? Estaria avaliando
o custo, agora que era tarde demais, desejando não ter pedido o divórcio? Ou
ele estaria apenas envolvido em um pensamento esperançoso?
Talvez fosse
uma simples preocupação por seu pai, mas Joseph nunca a vira perdendo o
controle como ocorrera no hospital. E ainda havia o fato de ela não olhar para
ele.
O paletó dele
tinha o cheiro dela... um cheiro suave e floral que tinha o poder de deixá-lo
doente de desejo.
Seus músculos
estavam rígidos por causa do desejo de pegá-la em seus braços. Não que ele o
fizesse nessas circunstâncias, mesmo se ela não tivesse pedido o divórcio e
confirmasse suas piores suspeitas. Ele não demonstrava afeição publicamente.
Sua dignidade como futuro soberano do trono Scorsolini exigia que fosse
circunspecto ao lidar com a esposa.
Mas ver seu irmão mais novo beijar a mulher sem se
importar com quem os estivesse observando despertou em Joseph uma estranha
pontada na região do coração.
E ele tinha
quase certeza de que Demetria também ficara abalada. Se ele não julgasse
impossível, diante dos acontecimentos daquela noite, acreditaria que ela se
ressentia por ele não agir da mesma forma com ela. Ele percebeu que, nos
últimos meses, ela vinha olhando estranhamente para os seus cunhados e as
esposas, e refletia sobre isso.
Será que ela
buscara afeição com um homem mais expansivo? A ideia esfolava seu ego e seu
senso de confiança masculina. Não ser tudo que aquela mulher queria era uma
perspectiva difícil para qualquer homem. Mas como um homem que tinha de
esconder a relação com ela poderia fazer demonstrações públicas de carinho?
E a relação era
muito bem escondida. Até ela pedir o divórcio, Joseph sempre esteve quase certo
de que suas suspeitas não passavam de tolices de um cérebro masculino. Porque
ele nunca havia visto nenhuma impropriedade no comportamento da esposa.
Ele passou o
tempo no avião pensando no passado, tentando analisar quando a havia perdido,
mas, quando começou a pensar muito, forçou seu cérebro hiperativo a parar de
dissecar as memórias.
Isso não estava
lhe fazendo bem e ele estava enlouquecendo. Joseph deixaria Hawke fazer seu
trabalho e enfrentaria a verdade de cabeça erguida. Como um homem.
Da mesma forma
que enfrentava a possibilidade de perder o pai... sem lamentos, sem se recusar
a aceitar o que tal fato traria para a sua vida. Desde criança, fora ensinado a
enfrentar a vida com a perspectiva de um direito de nascença. A dele trazia
mais responsabilidades, e elas permeavam todos os aspectos, inclusive seu
casamento.
Sempre soube
que um dia reinaria em Isole dei Re. Aceitou esse dever e tudo que envolvia
todas as etapas da jornada de sua vida. Nunca se rebelou contra o que seu
direito de nascença pregava. Ele não precisava fazer promessas ao pai de que
cumpriria com seus deveres se o impensável acontecesse e ele não resistisse à
cirurgia.
Os dois homens
eram totalmente confiantes na adequabilidade de Joseph à função. Ele nascera e
crescera para isso, sabendo o que significava. Era um príncipe coroado,
destinado a ser o rei. Mas eles conversaram e seu pai falou a Demetria que eles
deviam falar... sobre aspectos políticos, circunstâncias familiares e problemas
pessoais.
Seu pai
demonstrou uma forma de pensar que impressionou Joseph, mas nada mais
impressionante que o fato de ainda estar apaixonado por Denise.
Toda aquela loucura da maldição dos Scorsolini que seu
pai contou resumia-se a isso. Todas as amantes depois do divórcio do rei Paul
tinham sido uma tentativa do pai de esquecer o amor de uma mulher viva. E não
de uma morta.
Intensos
sentimentos de culpa misturados a um luto que ele nunca se permitiria retirar
em público caíram sobre Paul nos primeiros anos do casamento. Ele achava
impossível pronunciar as palavras de amor necessárias para Denise, pois não
conseguia admitir esse amor nem mesmo para si mesmo.
Mas os
sentimentos cresceram dentro dele até ficar desesperado para encontrar uma
forma de negá-los. Finalmente, em estado de total pesar pelo que perdera e pela
forma como estava seu atual casamento, ele traiu sua promessa de fidelidade.
Denise descobriu e, embora tenha aceitado um casamento de amor unilateral,
recusou-se a tolerar infidelidade.
Sem se
comprometer, o rei Paul não fez nada para evitar. Ele criou a ficção da
maldição dos Scorsolini para abrandar sua dolorosa consciência e seu dilacerado
orgulho logo depois do divórcio.
Ele chegou a
acreditar nisso até a realidade do casamento de Liam. Eles estavam caminhando
pela praia com as crianças. Paul olhou longamente para a mulher que dera à luz
seu terceiro filho enquanto ela conversava com os netos.
Por alguma
razão que ele ainda não entendia — mas confessou a Joseph que pensou que podia
ser uma premonição do que estava por vir —, tudo se encaixava depois de mais de
duas décadas de idiotice, como ele denominou.
Joseph não
sabia o que fazer com as revelações do pai, ou entender por que o pai havia
feito aquele desabafo. Mas sabia que o pai finalmente havia aceitado seu amor
por Denise e estava preparado para lutar por esse amor. Se Joseph conhecia o
pai como achava, os dias de solteira de sua madrasta estavam contados.
Desde que o rei
Paul sobrevivesse à cirurgia.
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