sábado, 3 de agosto de 2019

VIDA DE PRINCESA CAPITULO 3


Demetria ouviu a porta bater sem acreditar e sentou-se na beirada da cama, com as pernas trêmulas.
Ele nunca havia verbalizado o quanto ela significava pouco para ele, mas sua partida quis dizer muita coisa. Ele não tinha tempo para ela, a menos que ela desempenhasse o papel de princesa à perfeição ou o de concubina em sua cama.
Lágrimas marcavam um caminho na face de Demetria.
Ela não tinha um casamento. Tinha uma parceria comercial em que era a sócia minoritária. E o sócio principal não tinha o menor interesse ou desejo de renegociar os termos. Ela cumpriria seus deveres, senão... Só que senão nesse caso era permanente e doloroso. E o que mais doía era que ela pensava que ele não se importaria.
Ele simplesmente passaria para outro casamento comercial depois de destruir o coração dela sem sequer se dar conta disso.
— Vossa Alteza, gostaria que eu pedisse comida? — perguntou um dos rapazes da segurança.
Ela escondeu o rosto para que ele não visse as lágrimas e respondeu.
— Não, obrigada. Pode fechar a porta?
A resposta foi o ruído da porta se fechando. Ela perdeu o controle quando a porta foi fechada e liberou suas emoções. Passara muito tempo se segurando, esforçando-se para omitir palavras de amor que queria expressar, escondendo sua irritação diante das frequentes separações impostas por Joseph em função de sua agenda e, no último mês, fingindo que as horríveis dores provocadas pela endometriose não existiam.
Inicialmente, ela havia se convencido de que era apenas uma cólica mais forte provocada pela interrupção das pílulas. Mas depois, quando Joseph viajou a negócios, ela sentiu muita dor e, ao se ver sobre uma poça de sangue no banheiro pela manhã, percebeu que havia algo errado.
Ela foi ver seu médico nos Estados Unidos, um costume que desenvolveu cedo no casamento, a fim de proteger sua privacidade. Era fácil para ela justificar viagens internacionais e esconder o verdadeiro objetivo de suas idas a Miami.
O prognóstico inicial do médico fora bastante perturbador. Ele pensou que ela sofria de endometriose, mas a única forma de saber realmente era fazer uma laparoscopia. Ela imaginou que poderia lidar bem com isso e aceitou uma prescrição para os remédios para dor até o mês seguinte, quando marcaria uma cirurgia.
Ela recebera o resultado no dia anterior, juntamente com um grande balde de água fria em sua esperança de que seria uma das sortudas que não sofrem tanto o impacto da doença. Aparentemente, sofria da doença há algum tempo, mas as pílulas haviam amenizado o efeito. Havia muito tecido ao redor dos seus dois ovários, e mesmo com a cirurgia para removê-lo, suas chances de engravidar naturalmente seriam inferiores a dez por cento. Mesmo que fizesse fertilização in vitro, não havia garantias.
Esses não eram o tipo de obstáculos com que o príncipe coroado Joseph contava quando a obrigara a fazer os testes de fertilidade antes de anunciar seu noivado. Um futuro rei tinha responsabilidades para com seu trono e uma das mais importantes era fornecer um herdeiro para dar seguimento à linhagem. Ele esperava que ela fosse capaz de fazer isso com cem por cento de sucesso e ela acabara se descobrindo estéril.
Depois de ver a forma como a imprensa e a família Scorsolini haviam reagido diante da suposta esterilidade de Nicholas, Demetria sabia que não havia chance de seu orgulhoso marido querer sofrer o mesmo pelo bem dela. E ela não esperava isso dele.
Se ele a amasse, seria diferente, mas muita coisa seria diferente também. Amor não era uma emoção fácil de fingir, nem podia ser substituída pelo senso de dever.
Joseph podia oferecer a continuidade do casamento, mas seu coração não estaria ali e ela não poderia viver com a sensação de que era um fardo para ele... uma fonte de humilhação ao seu orgulho real.
Um soluço escapou de dentro de sua garganta e ela teve de levar a mão aos lábios para impedir que ele fosse ouvido no quarto ao lado. Sentindo-se como uma mulher velha, ela se forçou a ficar de pé.
Tomaria um banho... pelo menos no banheiro teria privacidade para chorar.
Depois de fechar a porta e ligar o chuveiro, ela pôde chorar bastante. Ela enterrava a perda do seu casamento, a perda de suas esperanças de ser mãe e parava de lutar contra a dor decorrente de amar um homem que não a amava nem nunca amaria.
Ela reprimiu cruelmente qualquer esperança de que tudo fosse ficar bem. No fundo do seu coração, sabia que não ficaria. Depois da reação de Joseph à sua repentina alteração da programação, não tinha mais a menor esperança de que seu casamento sobrevivesse a este revés.
E isso a destruía. Além de tudo, ela havia nutrido a tola esperança de que estivesse errada, de que, de alguma maneira, eles poderiam resistir ao tratamento de sua doença e dos problemas que ela traria. Ela não admitiu para si mesma porque teria doído muito, mas agora que estava diante do fim do seu casamento, não tinha escolha a não ser reconhecer que a chama da esperança havia se apagado.
Joseph não poderia ter deixado mais claro que não a amava. Todas as suas ações apontavam para as funções cuidadosamente definidas dela em sua vida, nenhuma delas ligada às suas necessidades emocionais. A menos que ele contasse com sexo e, ainda assim... ela não importava para ele.
Demetria tinha muitas esperanças quando eles se casaram. Eles formariam uma família e ela conheceria o amor que nunca conheceu dos seus pais com os filhos que viriam. Também esperava que Joseph eventualmente viesse a amá-la. Ela sempre quis isso, e agora não havia nada além das cinzas de um fogo que a havia consumido por três anos.
Ela queria ser mãe. Queria muito. Por que ele quis esperar? Por quê? Não era justo. Se tivesse engravidado logo no começo, talvez a endometriose não tivesse se manifestado. Mas os "e se" eram inúteis.
Ela havia aprendido que eles tinham muitas limitações. Ela queria dar à luz um herdeiro Scorsolini e educá-lo sabendo que o amor iluminava o caminho, e não os deveres, que havia mais na vida do que sua posição. Ela queria retificar os erros que seus pais haviam cometido com ela. Queria uma chance de amar, sabendo que as crianças a amariam, mesmo que seu pai nunca conseguisse fazê-lo.
Caindo de joelhos, ela chorou.
— Meu Deus, isso não é justo! — As palavras ecoaram no box e não havia ninguém para responder... ou, se Ele tivesse respondido, ela não ouvia a voz que vinha do paraíso.
Ela cobriu o rosto e chorou, mas, em algum momento, as lágrimas teriam de cessar. Ela chorou até secar. Desligou o chuveiro, com a garganta dolorida e os olhos quase embaçados. Não havia possibilidade de alguém olhar para ela sem perceber como havia passado a última hora, mas ela não se importava. Joseph não voltaria tão cedo e, quando chegasse, ela planejava estar dormindo. Estava cansada demais, esgotada emocionalmente.
Ela não havia notado o quanto era exaustivo fingir contentamento até permitir que tudo fosse embora. Com os membros doloridos, ela vestiu uma camisola e se deitou, sem se importar com o horário — apenas sete da noite.
Sem pensar, sua mão automaticamente procurou o outro lado da cama, mas é claro que estava vazio. Como havia ficado em tantas noites durante o casamento e ficaria todas as noites quando ela saísse de Nova
York. Um soluço seco parou em sua garganta e ela o engoliu novamente, mas ensopou o travesseiro com lágrimas silenciosas antes de cair no sono. Ela pensou que as lágrimas jamais fossem acabar...
Ela acordou mais tarde, com o som do chuveiro e a luz vinda pela porta entreaberta do quarto. Eram nove horas. Ela piscou, tentando imaginar o que aquilo significava. Era mais cedo do que ela supunha que ele voltaria, mas não tão cedo para ela pensar que ele havia voltado por causa dela.
O chuveiro foi desligado e, um minuto depois, Joseph entrou no quarto totalmente nu e secando os cabelos. Ele se inclinou para acender o abajur do seu lado, iluminando seu corpo bronzeado com a meia-luz.
Ela sentiu a boca seca ao perceber desejo e necessidade emocional apertarem em sua barriga. Não havia mais lugar para desgaste dentro dela, mas, ainda assim, ele crescia, como se seu coração já não estivesse dizimado.
Ele jogou a toalha para o lado e olhou para ela. E então parou ao perceber o olhar dela.
— Está acordada.
— Você voltou.
— É claro.
Ela estremeceu diante do sarcasmo.
— Como foi a reunião?
Ela não se importava, mas nada mais veio à sua mente e o silêncio absoluto não funcionaria. Além disso, ela não tinha dúvidas de que a reunião fora exatamente como ele havia previsto. Ele era esse tipo de homem. Era necessário um forte desejo como a inteligência de Sócrates e Einstein combinadas para derrubar os planos de Joseph.
"Ou um sistema reprodutivo rebelde de uma mulher", zombava uma voz em sua mente. Ele não poderia lutar contra isso, independentemente do quanto fosse teimoso e inteligente, poderia? E mesmo que pudesse, não iria querer. Ela teria de fazer tratamentos que poderiam ou não ser bem-sucedidos para gravidez, e a imprensa aproveitaria tudo isso.
Ela não podia suportar o pensamento do que isso significava e sabia que ele não toleraria tamanha intrusão em sua vida.
— Foi como eu esperava. Roberto falou que você não jantou.
— Comi no avião.
— Uma xícara de café com dois biscoitos não é jantar.
— Foi o que eu quis.
— Está doente? — ele perguntou de uma forma tão direta, sem o menor traço de compaixão e preocupação, que ela estremeceu novamente. —
Se está, não deveria estar viajando.
— Não se preocupe, não vou passar gripe nem nada para você. Não estou doente.
— Esperava que estivesse acordada quando eu voltasse, mas não estava.
— Eu não tinha como saber a que horas você voltaria.
— Passa um pouco das nove horas — ele afirmou isso como se não pudesse acreditar que ela fosse para cama tão cedo.
Se ele soubesse que ela tinha ido se deitar por volta das sete horas, teria certeza de que estava doente. Ela não via razão para esclarecer nada.
— Estava cansada.
— Está grávida? — ele perguntou com a mesma falta de emoção que empregou para saber se ela estava doente.
As palavras a apunhalaram. E não havia nenhum sentimento de antecipação nos traços dele, nenhum aviso diante da possibilidade, o que a magoava tanto quanto todo o resto.
— Não. Não estou grávida — ela forçou-se a dizer.
— Tem certeza?
Demetria tinha certeza.
— Sim.
— Então esse comportamento estranho é resultado da tensão pré-menstrual?
Sem dúvida, grande parte do que ela sentia era causada pela influência do desequilíbrio hormonal.
— Se isso o deixa contente, sim.
Guiada ou não pelos hormônios, a certeza de que seu casamento chegara ao fim era real. A falta de amor dele era um fato. O imprevisível sistema reprodutor de Demetria não era semelhante ao dos sonhos dela, e a dor que sentia por dentro era física, o que dificultava sua respiração.
Ele fez um movimento impaciente.
— Nada nessa situação me deixa contente.
— Sinto muito.
— Não quero desculpas. Quero uma explicação. Você falou que tinha algumas coisas para conversar comigo, mas volto para o quarto e a encontro dormindo.
— Isso é crime?
— Não, mas não está fazendo sentido algum para mim agora.
__Deus me perdoe se não sou mais adequada ao papel que atribuiu a mim em sua vida.
— Não fiz nada para merecer o seu sarcasmo.
— Exceto recusar-se a me ouvir.
— No seu cronograma. Estou aqui agora. Pronto para ouvir. — Ele espalhou as mãos em um gesto expansivo que também serviu para chamar a atenção dela para a beleza do seu corpo nu.
Ela sentiu as lágrimas queimarem a parte de trás de seus olhos. Sentiria tanta falta dele, e sequer ficava constrangida em admitir que parte dessa saudade seria pela necessidade física que deixaria de ser correspondida. Porque, para ela, o desejo era parte do amor, e ela sentiria saudade dele das duas formas.
Ela suspirou, tentando respirar e vivenciando um tipo diferente de dor do que a vinha consumindo seu corpo há alguns meses.
— Percebi que fui uma idiota vindo até aqui para conversar com você. Esperar três dias não vai mudar nada. Não tenho nem certeza se há necessidade de falarmos sobre o que eu queria.
Na realidade, ela apenas queria contar a ele sobre a sua doença e deixar que ele agilizasse os papéis da separação. Mas depois do holocausto emocional no chuveiro, ela não tinha condições de discutir com ele. Suas reservas emocionais haviam se esgotado e ela simplesmente não podia enfrentar o fato de contar a ele que falhara como mulher, como esposa, especialmente diante da óbvia hostilidade dele.
— Por que isso? — ele perguntou com um tom perigosamente macio na voz que ela estava muito exaurida para compreender. Ele não deveria ficar aliviado por ela não querer demonstrar seu lado emocional a ele?
— Algumas coisas não podem mudar — independentemente do quanto desejasse.
— E que coisas são essas?
— Prefiro não falar sobre isso agora — ela admitiu, com uma voz evasiva demais até para si própria.
Em um movimento que ela não esperava, ele veio para o seu lado na cama a uma velocidade incrível e a levantou.
— Que pena, porque eu quero.
Ela engasgou e abraçou o pescoço dele para impedir-se de cair.
— Nem sempre as coisas são do seu jeito.
— Este não é um conceito que eu reconheça.
— Então já é hora de reconhecer. Ele apertou-a num abraço.
— Pare de jogar e me fale o que está fazendo com que aja de forma tão diferente do seu caráter.
A fúria que sua voz carregava dizia que sua paciência havia acabado. E seu olhar duro dizia que não desistiria enquanto ela não falasse. Independentemente do que ela quisesse e do quanto fosse duro para ela, ele
não sossegaria sem ouvir o que queria.
Ela sabia disso e finalmente aceitou. Havia começado isso tudo e agora tinha de acabar, mesmo querendo adiar a revelação. Mesmo tendo se arrependido de sua impulsiva decisão de ter ido a Nova York. Ela sentiu lágrimas presas na sua garganta e sabia que não poderia contar a ele sobre a sua deficiência sem que se emocionasse. Só havia uma coisa a dizer.
E ela não sabia como fazer isso.
Sentindo-se pressionada pela resistência de seu estado emocional atual e maravilhada pela simples sensação de ser mantida presa nos braços dele, com a certeza de que seria a última vez, ela acabou explodindo:
— Temos que nos divorciar.
Com os olhos tomados de uma raiva hostil, ele a largou em um ato de intenso repúdio, provocando um nó no seu estômago, para somar-se a todas as demais dores que sentia. Se ela não tivesse se agarrado a ele para obter apoio, cairia direto no chão.
Mas ele se afastou do toque dela com grande desdém.
— Sua cretina!
Ela nunca o vira tão irritado, e isso a assustava.
— Eu... eu tenho que contar...
— Só vai se divorciar de mim por cima do meu cadáver — ele interrompeu com uma voz mortal.
Ela ficou boquiaberta, mas não conseguiu falar nada. Ela tentou, mas as palavras não saíam. Tudo aquilo era muito doloroso. Nunca acreditou que teria de dizer essas palavras a ele. Teria feito qualquer coisa, dado qualquer valor em dinheiro... até mesmo anos de sua vida para não ter de dizer isso. E, diante da péssima resposta dele ao seu pedido de divórcio, ela não conseguia falar a verdade sobre a sua total falha como mulher.
Ele a magoara muito e não sobrara nenhuma esperança dentro dela para que pudesse compartilhar com ele suas emoções.
E a dureza da reação dele a confundia... dificultava seu raciocínio, enfrentar o que devia ser dito. Ela simplesmente não esperava que ele reagisse com tamanha irritação. Afinal de contas, eles estavam discutindo a dissolução do que ele considerava um contrato comercial. Nada mais.
Para ele. Para ela, era o fim de tudo de lindo em sua vida.
A menos que... talvez o casamento fosse mais importante para ele do que ela pensava. Seria verdade? Será que a reação dele significava que, no fundo, ele se importava? O coração dela dava saltos no peito... Será que ela o havia interpretado mal desde o começo? Todas as evidências que compilou no pensamento diziam que ela não era importante para ele no plano pessoal, não por quem era, a pessoa interior que ansiava ardentemente por seu amor.
Mas será que ela havia entendido tudo errado? Não conseguia ver como. Ela sacudiu a cabeça. Simplesmente não era possível. Talvez ela tivesse interpretado mal algumas palavras aqui e ali, mas não todo um estilo de vida que continuamente demonstrava o quanto ela representava pouco na vida dele. E nada poderia ser mais convincente do que saber como um homem Scorsolini reagia ao amor, pois ela observava os irmãos mais novos de Joseph.
Porém, ele reagia como se o fim do casamento realmente importasse.
— Por que está tão irritado? — ela perguntou quase em um sussurro, tentando não criar esperanças novamente.
Ele olhou para ela com uma incrédula fúria.
— Acabou de me dizer que quer o divórcio e me pergunta isso?
— Sim — a resposta dele significava muita coisa, e ela tremia de medo e antecipação do que poderia ser.
— Eu tinha certas exigências quando procurei uma mulher, você sabia disso — ele falou entre os dentes.
— S-sim — não parecia promissor.
— Uma dessas exigências era que minha mulher compreendesse e aceitasse a importância dos deveres e sacrifícios na felicidade pessoal pelo que fosse melhor para Isole dei Re.
— Você estava sacrificando sua felicidade pessoal ao se casar comigo? — ela perguntou dolorosamente.
Ela sempre imaginava. E se ele desejava uma mulher diferente? Uma que fosse mais animada e empolgante? Uma mulher que não necessariamente fosse uma princesa ideal, mas que correspondesse à feroz paixão que borbulhava sob a sólida superfície do dever dele?
— A felicidade nunca vem, de uma forma ou de outra.
Sofrendo, ela falou:
— Para mim, vem. Fiquei feliz por me casar com você. Eu o queria mais do que poderia imaginar.
Por alguma razão, as palavras dela fizeram com que ele vacilasse.
— Mas agora você quer o divórcio. Seu desejo por mim, essa felicidade que você menciona, tiveram vida curta. Não duraram nem três anos completos. E o que foi que eu deixei de oferecer a você que tenha prometido?
— Nada — ele não se esquivara de nada, a não ser do seu amor, e isso nunca fora parte da oferta da barganha.
— Então, concorda que não deixei de cumprir à minha parte em nosso acordo de casamento?
— Sim, concordo.
— Também sabe que se casou comigo ciente de que seria para a vida toda?
— Sim, claro.
Ele parou imponente diante dela, com sua fúria ainda mais poderosa, pois estava maravilhosamente nu e nem um pouco envergonhado por isso.
— Então, também deve aceitar que não vou permitir que renegue o compromisso que firmou comigo.
— Às vezes, acontecem coisas que impedem que o acordo dê certo.
— Não no nosso casamento, elas não acontecem.
— Acontecem. Aconteceram. Eu... — a garganta dela fechou. Tinha que dizer, mas doía mais do que podia imaginar.
— Não fale — ele gritou. — Nunca vou deixá-la ir.
Ela o encarou.
— Não quer dizer isso — ela desabafou.
Ele se esquivou dela, todo o seu corpo vibrando com uma ira palpável que ela ainda não conseguia entender.
— Não vai se esquivar do nosso casamento e me tornar o segundo soberano da família Scorsoiini a experimentar o divórcio. Entendeu? — ele gritou com uma voz dura e fria. — Não vou deixar que faça de mim motivo de chacota.
Finalmente, ela compreendeu. Não era o coração dele que sofria; era seu orgulho. Ele não precisava dela, somente do casamento, pois não queria passar por idiota. Ela sentia raiva dentro da alma. E agonizara diante da possibilidade de perdê-lo, mas ele apenas se importava com sua imagem na comunidade internacional.
— É isso o que conta para você? Que as pessoas o comparem com seu pai?
Ele virou para encará-la, com uma máscara de pedra no rosto.
— Meu pai quebrou seus votos de casamento. Eu não quebrei os meus. Não vou deixar que se divorcie de mim simplesmente porque quer quebrar os seus... ou já o fez?
A ênfase que ele deu à última frase causou calafrios em Demetria e ela teve de respirar fundo para conseguir falar.
— Não tenho alternativa.
Ele pronunciou uma frase que a deixou paralisada.
— Sempre temos alternativas, você está escolhendo a opção errada. Você me prometeu um herdeiro para me suceder no trono. E agora? — ele perguntou completamente decidido.
Ela quase sufocou diante da dor gerada por essas palavras. Não
podia dar a ele esse herdeiro e as palavras dele reiteravam o único fato que se mostrava requisito fundamental para ela como mulher dele.
— Eu não queria que fosse assim. Por favor, acredite em mim.
Mas ele parecia mais capaz de estrangulá-la do que de compreendê-la. Mesmo sabendo que nunca o faria, que nunca a machucaria fisicamente, ela se pegou recuando diante dele.
Ele cerrou ainda mais os dentes.
Bateram à porta e ela se assustou.
— Vá embora — gritou Joseph.
Ela nunca o ouvira usar esse tom e sabia que, se estivesse do outro lado da porta, teria atendido, mas depois de um breve momento, a batida se repetiu.
— Vossa Alteza, é extremamente urgente. Joseph reclamou em italiano. Então, colocou o robe preto e abriu a porta.
— O que foi?
Ela não conseguiu entender o que o rapaz da segurança falou, mas ouviu os xingamentos vindos da boca do marido, enquanto seu corpo estremecia como se tivesse recebido um soco.
— Joseph... o que foi? — ela perguntou.
Mas ele apenas sacudiu a cabeça e abriu toda a porta, obviamente planejando sair do quarto. Ele parou na saída e olhou por cima do ombro com uma expressão furiosa.
— Isso não acabou.
O segurança olhou para Joseph preocupado e olhou para Demetria curioso, antes de acompanhar o patrão ao outro quarto. Demetria não sabia como agir em relação a outro confronto com Joseph ou àquilo que acabara de interrompê-los.
E, pela segunda vez na noite, ela ficou sem ação no meio do quarto, lidando com fortes emoções depois que ele a deixava. Ela não podia imaginar o que seria mais importante que o fim do casamento deles, mas poderia ser qualquer coisa, ela notou tristemente. No entanto, ela reconheceu que devia ser algo muito importante, para a segurança ter interrompido mesmo depois de uma represália de Joseph.
Ela caminhou pelo quarto, sentindo-se na Terceira Guerra Mundial, sem saber exatamente se era uma sobrevivente ou não. Embora nem ela nem Joseph tivessem levantado as vozes um para o outro. Porém, mesmo com o tom baixo, ninguém duvidaria do quanto estava furioso com ela, do quanto estava determinado a manter o casamento pelas aparências.
Ela esfregou os olhos sentindo-se cansada, apesar de ter sido acordada depois de um longo cochilo e de ainda não ser tão tarde. Foi tão estúpida em pensar que poderia significar algo para Joseph em um nível
pessoal. A principal razão para ele querer manter-se casado com ela era o fato de não querer ser o segundo Scorsolini da história a ser deixado pela mulher.
Sob a perspectiva dele, ela não tinha o direito ou razão para humilhá-lo dessa forma. Ele lutara para se casar com uma mulher que cumprisse seus deveres à risca. Ela se lembrou de quando ele lhe contou sobre o divórcio da madrasta com o pai.
Demetria ficou impressionada com o fato de a mulher ter ido até as últimas consequências. Ela cresceu cercada por casais que se mantiveram casados em circunstâncias similares pelo bem da união política. Agora, ela percebia por que Joseph apreciava tanto essa atitude. Embora fosse totalmente comprometido com a fidelidade, ele gostava de saber que ela fora treinada para acreditar que os votos do casamento deveriam durar por toda a vida, apesar das diferenças pessoais. O dever em primeiro lugar, sempre.
E essa foi exatamente a razão de Demetria pedir o divórcio, mas ele não sabia disso. Quando soubesse, ele ansiaria por um fim no casamento e buscaria divórcio por conta própria.
Demetria, lentamente, sentou-se em uma das poltronas, tomada pelo cansaço.
Ela não poderia ter agido de forma pior em um confronto com ele. Em vez de ter contado sobre a sua doença e quase certa infertilidade, falou que eles teriam de se divorciar. Embora aquilo devesse ser verdade, não era a primeira coisa que devia ter dito a ele.
Ele pensou que ela queria o divórcio, o que não podia ser mais distante da realidade, mas o dever dizia que ela deveria abandonar o homem que amava pelo bem dele e do país. As palavras finais dele antes de terem sido interrompidos diziam isso. Ele precisava de herdeiros. Ela não podia garanti-los. A probabilidade de concepção não era suficiente para um futuro rei.
Esses fatos deixaram seus sonhos em pedaços. Por que a vida era tão dura? O que havia feito de errado para provocar essa tristeza a si mesma? O médico dela falou que não era pessoal, a endometriose ocorria em milhares de mulheres, mas ela sentia que era algo pessoal.
Especialmente quando os resultados da doença estavam destruindo sua vida em um caminho de dor e sofrimento.
E essa foi sua única desculpa para a forma como lidou com as notícias. Estava sofrendo muito, sua usual diplomacia a castigava tanto... Seu pai teria ficado bastante envergonhado, embora nunca tivesse se importado muito com ela.
Os psicólogos sempre dizem que as mulheres se casam com
homens parecidos com seus pais e ela estava determinada a não agir assim. Sempre acreditou que tinha sido bem-sucedida ao se casar com um homem bem diferente, mas agora percebia ter feito exatamente o oposto. Casou-se com um homem tão pouco interessado nela quanto seu pai.
Olhando para trás, para os quase três anos de casamento, ela via que Joseph empregava meios sutis de demonstrar que ela ocupava um lugar insignificante na sua vida também. Ela simplesmente não via os sinais porque queria desesperadamente que eles dissessem algo diferente. Como ele precisava dela das formas mais básicas — sexualmente e como uma aliada à sua posição —, ela acreditava que ele tinha mais sentimentos por ela que seu pai.
Não podia sequer culpá-lo por tê-la decepcionado. A desilusão fora consumada por si só. Mas reconhecer isso não causava menos sofrimento.
Falando sobre ser uma idiota, Demetria assumira muito bem esse papel, admitindo que doía quase tanto quanto a rejeição de Joseph.
E a atitude dele não fora menos que isso. Ele queria manter o casamento intacto, mas apenas por causa do seu orgulho e pelo bebê que ele esperava que ela lhe desse. Não porque quisesse mantê-la como esposa. Não porque ela significasse alguma coisa.
Ela estremeceu, todo o seu corpo tremia violentamente e acabou se dando conta de que estava muito fria. Era um frio que vinha lá de dentro, mas, mesmo assim, ela se levantou e se cobriu com o cobertor da cama. Não adiantou.
Sentir-se tão sozinha enquanto esperava não era uma opção, e ela sentou na poltrona... e esperou.
Joseph falou que não tinham acabado e, por mais que não quisesse dar continuidade à briga, ela não tinha dúvidas de que era o que aconteceria quando ele voltasse. E, mesmo que doesse muito, que as respostas dele fossem tomadas de orgulho... ela lhe devia uma explicação.
Não saberia dizer quanto tempo ficou ali, com os pensamentos divagando no cérebro. Podem ter sido alguns minutos ou uma hora, mas em algum momento ele voltou para o quarto com uma expressão que ela jamais vira antes e disse:
— Vista-se.


NAO XINGUEM O JOSEPH, AINDA!
ele ta sofrendo muito por que nao sabe da missa a metade, aguardem os proximos capitulos pra o xingar

2 comentários:

  1. Ah adoro, adoro, adoro!!!
    Não tenho comentado, mas tenho lido as suas histórias praticamente assim que as publica :)
    Estou encantada com esta nova história, não pare ;)

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  2. Tô com raiva do Joseph, mas essa menina tinha que inventar de pedir divórcio invés de contar da doença. A burrice meu pai. E agora o que aconteceu também pra ele mandar ela se vestir?

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