sábado, 20 de outubro de 2018

O Diário Secreto da Senhorita Demetria Cheever Capitulo 19 (PENULTIMO)


As seguintes semanas foram horríveis. Adam começou a pedir que enviassem sua comida ao estúdio, ficar sentado do outro lado de Demetria durante uma hora cada tarde era mais do que podia suportar. Desta vez a tinha perdido, era uma agonia olhar dentro de seus olhos e vêlos tão vazios e carentes de emoção.
Se Demetria já não era capaz de sentir nada mais, nesse momento Adam sentia muito. Sentiase furioso com ela por colocálo em uma situação crítica e que tentasse forçálo a reconhecer emoções que não estava certo de sentir.
Estava furioso já que ela havia decidido abandonar o matrimônio depois de determinar que ele não passasse em algum tipo de prova que dispôs para ele.
Sentiase culpado de fazêla tão miserável. Estava confuso a respeito de como tratála e aterrorizado de não poder reconquistála jamais.
Estava zangado consigo mesmo por sua incapacidade para dizer simplesmente que a amava e a considerava, de algum jeito, inadequado não saber como fazer até determinar se estava apaixonado.
Mas sobre tudo, sentiase sozinho. Estava sozinho e triste pela esposa. Sentia falta dela e de todos seus pequenos comentários graciosos e expressões estranhas. De vez em quando cruzava com ela no corredor e se obrigava a examinar seu rosto, tratando de vislumbrar a mulher com a qual se casou. Mas ela se foi. Demetria havia se convertido em uma mulher diferente. Parecia que já não se preocupava. Por nada.
Sua mãe, que veio para ficar até que o menino nascesse, o procurou para lhe dizer que Demetria mal se encostava à comida. Ela deveria darse conta de que era mau para sua saúde. Mas não se sentia com coragem suficiente para procurála e lhe inculcar um pouco de sentido comum. Simplesmente deu instruções a alguns dos criados para que mantivessem um olho vigilante sobre ela.
Davam informações diariamente, geralmente, no começo da tarde, quando se sentava em seu estúdio, considerando o álcool e os efeitos amnésicos deste. Esta noite não era diferente; ia por seu terceiro brandy quando ouviu um brusco golpe na porta.
—Entre.
Para grande surpresa dele, sua mãe entrou.
Saudoua com a cabeça cortesmente.
—Veio me repreender, imagino.
Lady Rudland cruzou os braços.
—E exatamente por que pensa que necessita ser repreendido?
Seu sorriso careceu de todo humor.
—Por que não me diz você? Estou seguro que tem uma extensa lista.
—Viu sua esposa ao longo da semana passada? — Exigiu.
—Não, não acredito que... Ah!... Ah! Espera um minuto. —Tomou um gole do
brandy. — Cruzei com ela no corredor faz alguns dias. Acho que foi na terçafeira.
—Está de mais de oito meses de gravidez, Joseph.
—Asseguro que sou consciente disso.
—É um canalha por deixála sozinha em um momento de necessidade.
Ele tomou outro gole.
—Só para esclarecer as coisas, ela me deixou sozinho, não ao contrário. E não me chame de Joseph.
—Chamarei como malditamente me agrade.
Adam elevou as sobrancelhas ante o uso da primeira blasfêmia que em toda sua vida ouviu escapar dos lábios de sua mãe.
—Felicidade se rebaixou a meu nível.
—Me dê isso! — Equilibrouse para frente e agarrou o copo de sua mão. O líquido âmbar salpicou sobre a escrivaninha. — Está me deixando horrorizada Joseph. É tão malvado como quando estava com Camille. É odioso, grosseiro... —ficou sem acabar quando a mão dele se envolveu ao redor de seu pulso.
—Nunca cometa o engano de comparar Demetria com Camille — disse ele com voz ameaçadora.
—Não o fiz! — Seus olhos se abriram de par em par pela surpresa. — Jamais me ocorreria.
—Bem. — Soltoua de repente e caminhou para a janela. A paisagem era tão rude como seu humor.
Sua mãe permaneceu silenciosa um momento, mas então perguntou:
—Como fará para tentar salvar seu casamento, Adam?
Ele soltou um desalentado suspiro.
—Por que está tão segura de que sou eu quem precisa fazer algo por salválo?
—Pelo amor de Deus, só olhe à moça. Está claramente apaixonada por você.
Seus dedos agarraram o batente até que os nódulos ficaram brancos.
—Não vi nenhuma indicação disso ultimamente.
—Como poderia? Não a viu em semanas. Por seu bem, espero que não tenha matado o que fosse que ela sentia por você.
Adam não disse nada. Só queria que a conversa terminasse.
—Não é a mesma mulher que era faz alguns meses — seguiu sua mãe. — Era tão feliz. Faria tudo por você.
—As coisas mudaram mãe — disse concisamente.
—E podem voltar a mudar — disse Lady Rudland com voz suave embora insistente. — Venha jantar conosco esta noite. É terrivelmente incômodo sem você.
—Será muito mais incômodo comigo, eu garanto.
—Me deixe ser o juiz nisto.
Adam ficou de pé erguido, fez uma longa e tremula inalação. Sua mãe estava certa? Poderiam ele e Demetria resolver suas diferenças?
—Camille ainda está nesta casa — disse sua mãe brandamente. — Deixea ir.
Deixe que Demetria te cure. Ela faria isso e você sabe se somente lhe desse a chance.
Sentiu a mão de sua mãe em seu ombro, mas não se virou, ele era muito orgulhoso para deixála ver sua dor.
A primeira dor apertou seu ventre aproximadamente uma hora antes de descer para jantar. Assustada, Demetria colocou a mão sobre o abdômen. O doutor havia dito que muito provavelmente daria a luz em duas semanas.
—Sim, parece que vai adiantar — disse suavemente. — Só fique aí dentro para o jantar, está bem? Realmente estou faminta. Não estive durante semanas, já sabe, e necessito um pouco de alimento.
O bebê chutou em resposta.
—Então será desse modo, não é? — Sussurrou Demetria com um sorriso mudando seus traços pela primeira vez em semanas. — Farei um trato contigo. Você me deixa passar o jantar em paz e prometo não te pôr um nome como Iphigenia.
Sentiu outro chute.
—Se for uma garota, é obvio. Se for um menino, então eu prometo não te chamar... Joseph! — Riu o som pouco familiar e... Agradável. — Prometo não te chamar de Joseph.
O bebê ficou quieto.
—Bom. Agora, vamos nos vestir, vamos?
Demetria chamou a criada e uma hora mais tarde, descia a escada para a sala de jantar, segurando fortemente o corrimão em toda a descida. Não estava segura de por que não queria dizer a ninguém que o bebê estava a caminho, talvez só fosse sua natural aversão a armar alvoroço. Além disso, salvo por uma dor a cada dez minutos mais ou menos, sentiase bem. Certamente não tinha nenhum desejo de ser confinada na cama ainda. Só esperava que o bebê pudesse conseguir refrearse durante a refeição. Havia algo vagamente abafadiço a respeito do parto, e ela não tinha nenhum desejo de inteirar do por que diretamente na mesa da sala de jantar.
—Ah, aí está, Demetria — gritou Selena. — Estávamos justamente bebendo no salão rosado. Se junta a nós?
Demetria assentiu com a cabeça e seguiu a amiga.
—Parece um pouco estranha, Demetria — continuou Selena. — Sentese bem?
—Só grande obrigada.
—Bom, encolherá logo.
Mais logo do que qualquer um se daria conta, pensou Demetria ironicamente.
Lady Rudland lhe deu um copo de limonada.
—Obrigada — disse Demetria. — De repente tenho muita sede. — Desatendendo as boas maneiras, Demetria bebeu de um gole. Lady Rudland não disse uma palavra enquanto enchia o copo novamente. Demetria bebeu aquele quase igualmente rápido. — Acha que o jantar estar pronto? — Perguntou. — Estou terrivelmente faminta. — Esta era, na realidade, só a metade da história. Daria a luz ao bebê na mesa da sala de jantar se atrasassem muito mais tempo.
—Certamente — respondeu Lady Rudland levemente desconcertada pela impaciência de Demetria. — Vá à frente. Depois de tudo, esta é sua casa, Demetria.
—Assim é. — Curvou a cabeça bruscamente e sujeitou o abdômen como se isto pudesse contêlo e saiu ao corredor.
Caminhou diretamente para Adam.
—Boa noite, Demetria.
Sua voz era rica e rouca, e ela sentiu que algo revoava profundamente em seu coração.
—Confio que esteja bem — disse.
Assentiu com a cabeça, tentando não olhálo. Tinha passado o mês anterior treinando para não derreter em um atoleiro de paixão e desejo cada vez que o visse.
Tinha aprendido a educar seus traços em uma máscara impassível. Todos sabiam que ele havia destroçadoa; não precisava que todo mundo notasse cada vez que ele entrava em um recinto.
—Me desculpe — murmurou, passando por diante dele para a sala de jantar.
Adam agarrou seu braço.
—Me permita que a escolte, princesa.
O lábio inferior de Demetria começou a tremer. O que ele estava fazendo? Se estivesse sentindose menos confusa — ou menos grávida — provavelmente teria feito uma tentativa de se soltar dele, mas tal como estava, consentiu e permitiu que ele a conduzisse a mesa.
Adam não disse nada durante os primeiros pratos, o que foi melhor assim para Demetria, que estava contente de evitar toda conversa em favor de sua refeição. Lady
Rudland e Selena tratou de envolvêla na conversa, mas Demetria sempre conseguia ter a boca cheia. Salvouse de responder mastigando, engolindo e depois murmurando:
—Realmente estou muito faminta.
Isto funcionou para os três primeiros pratos, até que o bebê deixou de cooperar. Pensou que estivesse conseguindo muito bem não reagir ante as dores, mas deve ter se estremecido, porque Adam olhou bruscamente em sua direção e perguntou:
—Há algo errado?
Sorriu palidamente, mastigou, engoliu e murmurou:
—Absolutamente. Mas realmente estou muito faminta.
—Já percebemos — disse Selena secamente, ganhando um reprovador olhar de sua mãe.
Demetria tomou outro bocado do frango com amêndoas e logo estremeceu de novo. Desta vez Adam estava seguro de ter visto.
—Fez um ruído — disse firmemente. — Ouvi. O que está acontecendo?
Ela mastigou e engoliu.
—Nada. Embora esteja muito faminta.
—Talvez esteja comendo muito depressa — sugeriu Selena.
Demetria se lançou sobre a desculpa.
—Sim, sim, deve ser isso. Irei mais devagar. — Por sorte, a conversa mudou de direção quando Lady Rudland fez Adam entrar em um debate sobre o projeto de lei que ele tinha apoiado recentemente no Parlamento. Demetria estava agradecida de que sua atenção estivesse ocupada em outra parte; esteve olhandoa muito atentamente, e lhe era difícil manter o rosto sereno quando sentia uma contração.
Seu ventre se apertou de novo, e desta vez perdeu a paciência.
—Pare — sussurrou olhando para baixo, a cintura. — Ou com certeza será Iphigenia.
—Disse algo, Demetria? — Perguntou Selena.
—OH, não, acho que não.
Passaram outros poucos minutos, e sentiu outro apertão.
—Pare Joseph — sussurrou. — Tínhamos um acordo.
—Estou certa de que disse algo — disse Selena bruscamente.
—Chamoume precisamente de Joseph? — Perguntou Adam.
Gracioso, pensou Demetria, como ao chamálo de Joseph parecia transtornálo mais do que sua partida da cama de casamento.
—É obvio que não. Está imaginando coisas. Mas juro que estou cansada. Acho que irei me retirar, se nenhum de vocês se importarem. — Começou a levantar, então sentiu uma corrente de líquido entre suas pernas. Voltou a sentarse. — Talvez espere à sobremesa.
Lady Rudland se desculpou, afirmando que estava fazendo um regime e que não podia suportar vêlos comer o pudim. Sua partida tornou mais difícil para Demetria evitar a conversa, mas fez todo o possível, pretendia ficar concentrada na refeição e esperou que ninguém lhe fizesse uma pergunta. Finalmente, o jantar terminou. Adam ficou de pé e caminhou para seu lado, lhe oferecendo o braço.
—Não, acho que ficarei sentada aqui durante um momento. Estou um pouco cansada, já sabe. — Podia sentir um rubor subindo ao longo de seu pescoço.
Céus! Ninguém tinha escrito alguma vez um livro de boas maneiras concernente ao que fazer quando o bebê de alguém queria nascer em uma sala de jantar formal. Demetria estava completamente mortificada, e tão assustada que parecia impossível levantarse da cadeira.
—Quer outra porção? — O tom de Adam foi seco.
—Sim, por favor — respondeu ela com voz gasta.



CONTINUA....

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