As seguintes semanas
foram horríveis. Adam começou a pedir que enviassem sua comida ao estúdio,
ficar sentado do outro lado de Demetria durante uma hora cada tarde era mais do
que podia suportar. Desta vez a tinha perdido, era uma agonia olhar dentro de
seus olhos e vê‐los tão vazios e carentes de emoção.
Se Demetria já não
era capaz de sentir nada mais, nesse momento Adam sentia muito. Sentia‐se
furioso com ela por colocá‐lo em uma situação crítica e que tentasse forçá‐lo a
reconhecer emoções que não estava certo de sentir.
Estava furioso já que
ela havia decidido abandonar o matrimônio depois de determinar que ele não
passasse em algum tipo de prova que dispôs para ele.
Sentia‐se
culpado de fazê‐la tão miserável. Estava confuso a respeito de como tratá‐la e
aterrorizado de não poder reconquistá‐la jamais.
Estava zangado
consigo mesmo por sua incapacidade para dizer simplesmente que a amava e a
considerava, de algum jeito, inadequado não saber como fazer até determinar se
estava apaixonado.
Mas sobre tudo,
sentia‐se sozinho. Estava sozinho e triste pela esposa. Sentia falta dela
e de todos seus pequenos comentários graciosos e expressões estranhas. De vez
em quando cruzava com ela no corredor e se obrigava a examinar seu rosto, tratando
de vislumbrar a mulher com a qual se casou. Mas ela se foi. Demetria havia se convertido
em uma mulher diferente. Parecia que já não se preocupava. Por nada.
Sua mãe, que veio
para ficar até que o menino nascesse, o procurou para lhe dizer que Demetria
mal se encostava à comida. Ela deveria dar‐se conta de que era mau para
sua saúde. Mas não se sentia com coragem suficiente para procurá‐la e
lhe inculcar um pouco de sentido comum. Simplesmente deu instruções a alguns
dos criados para que mantivessem um olho vigilante sobre ela.
Davam informações
diariamente, geralmente, no começo da tarde, quando se sentava em seu estúdio,
considerando o álcool e os efeitos amnésicos deste. Esta noite não era
diferente; ia por seu terceiro brandy quando ouviu um brusco golpe na porta.
—Entre.
Para grande surpresa
dele, sua mãe entrou.
Saudou‐a
com a cabeça cortesmente.
—Veio me repreender,
imagino.
Lady Rudland cruzou
os braços.
—E exatamente por que
pensa que necessita ser repreendido?
Seu sorriso careceu
de todo humor.
—Por que não me diz
você? Estou seguro que tem uma extensa lista.
—Viu sua esposa ao
longo da semana passada? — Exigiu.
—Não, não acredito
que... Ah!... Ah! Espera um minuto. —Tomou um gole do
brandy. — Cruzei com
ela no corredor faz alguns dias. Acho que foi na terça‐feira.
—Está de mais de oito
meses de gravidez, Joseph.
—Asseguro que sou
consciente disso.
—É um canalha por
deixá‐la sozinha em um momento de necessidade.
Ele tomou outro gole.
—Só para esclarecer
as coisas, ela me deixou sozinho, não ao contrário. E não me chame de Joseph.
—Chamarei como
malditamente me agrade.
Adam elevou as
sobrancelhas ante o uso da primeira blasfêmia que em toda sua vida ouviu
escapar dos lábios de sua mãe.
—Felicidade se
rebaixou a meu nível.
—Me dê isso! —
Equilibrou‐se para frente e agarrou o copo de sua mão. O líquido âmbar
salpicou sobre a escrivaninha. — Está me deixando horrorizada Joseph. É tão
malvado como quando estava com Camille. É odioso, grosseiro... —ficou sem acabar
quando a mão dele se envolveu ao redor de seu pulso.
—Nunca cometa o
engano de comparar Demetria com Camille — disse ele com voz ameaçadora.
—Não o fiz! — Seus
olhos se abriram de par em par pela surpresa. — Jamais me ocorreria.
—Bem. — Soltou‐a de
repente e caminhou para a janela. A paisagem era tão rude como seu humor.
Sua mãe permaneceu
silenciosa um momento, mas então perguntou:
—Como fará para
tentar salvar seu casamento, Adam?
Ele soltou um
desalentado suspiro.
—Por que está tão
segura de que sou eu quem precisa fazer algo por salvá‐lo?
—Pelo amor de Deus,
só olhe à moça. Está claramente apaixonada por você.
Seus dedos agarraram
o batente até que os nódulos ficaram brancos.
—Não vi nenhuma
indicação disso ultimamente.
—Como poderia? Não a
viu em semanas. Por seu bem, espero que não tenha matado o que fosse que ela
sentia por você.
Adam não disse nada.
Só queria que a conversa terminasse.
—Não é a mesma mulher
que era faz alguns meses — seguiu sua mãe. — Era tão feliz. Faria tudo por
você.
—As coisas mudaram
mãe — disse concisamente.
—E podem voltar a
mudar — disse Lady Rudland com voz suave embora insistente. — Venha jantar
conosco esta noite. É terrivelmente incômodo sem você.
—Será muito mais
incômodo comigo, eu garanto.
—Me deixe ser o juiz
nisto.
Adam ficou de pé
erguido, fez uma longa e tremula inalação. Sua mãe estava certa? Poderiam ele e
Demetria resolver suas diferenças?
—Camille ainda está
nesta casa — disse sua mãe brandamente. — Deixe‐a ir.
Deixe que Demetria te
cure. Ela faria isso e você sabe se somente lhe desse a chance.
Sentiu a mão de sua
mãe em seu ombro, mas não se virou, ele era muito orgulhoso para deixá‐la
ver sua dor.
A primeira dor
apertou seu ventre aproximadamente uma hora antes de descer para jantar.
Assustada, Demetria colocou a mão sobre o abdômen. O doutor havia dito que
muito provavelmente daria a luz em duas semanas.
—Sim, parece que vai
adiantar — disse suavemente. — Só fique aí dentro para o jantar, está bem?
Realmente estou faminta. Não estive durante semanas, já sabe, e necessito um
pouco de alimento.
O bebê chutou em
resposta.
—Então será desse
modo, não é? — Sussurrou Demetria com um sorriso mudando seus traços pela
primeira vez em semanas. — Farei um trato contigo. Você me deixa passar o
jantar em paz e prometo não te pôr um nome como Iphigenia.
Sentiu outro chute.
—Se for uma garota, é
obvio. Se for um menino, então eu prometo não te chamar... Joseph! — Riu o som
pouco familiar e... Agradável. — Prometo não te chamar de Joseph.
O bebê ficou quieto.
—Bom. Agora, vamos
nos vestir, vamos?
Demetria chamou a
criada e uma hora mais tarde, descia a escada para a sala de jantar, segurando
fortemente o corrimão em toda a descida. Não estava segura de por que não
queria dizer a ninguém que o bebê estava a caminho, talvez só fosse sua natural
aversão a armar alvoroço. Além disso, salvo por uma dor a cada dez minutos mais
ou menos, sentia‐se bem. Certamente não tinha nenhum desejo de ser confinada na
cama ainda. Só esperava que o bebê pudesse conseguir refrear‐se
durante a refeição. Havia algo vagamente abafadiço a respeito do parto, e ela
não tinha nenhum desejo de inteirar do por que diretamente na mesa da sala de
jantar.
—Ah, aí está, Demetria
— gritou Selena. — Estávamos justamente bebendo no salão rosado. Se junta a
nós?
Demetria assentiu com
a cabeça e seguiu a amiga.
—Parece um pouco
estranha, Demetria — continuou Selena. — Sente‐se bem?
—Só grande obrigada.
—Bom, encolherá logo.
Mais logo do que
qualquer um se daria conta, pensou Demetria ironicamente.
Lady Rudland lhe deu
um copo de limonada.
—Obrigada — disse Demetria.
— De repente tenho muita sede. — Desatendendo as boas maneiras, Demetria bebeu
de um gole. Lady Rudland não disse uma palavra enquanto enchia o copo
novamente. Demetria bebeu aquele quase igualmente rápido. — Acha que o jantar
estar pronto? — Perguntou. — Estou terrivelmente faminta. — Esta era, na
realidade, só a metade da história. Daria a luz ao bebê na mesa da sala de
jantar se atrasassem muito mais tempo.
—Certamente —
respondeu Lady Rudland levemente desconcertada pela impaciência de Demetria. —
Vá à frente. Depois de tudo, esta é sua casa, Demetria.
—Assim é. — Curvou a
cabeça bruscamente e sujeitou o abdômen como se isto pudesse contê‐lo e
saiu ao corredor.
Caminhou diretamente
para Adam.
—Boa noite, Demetria.
Sua voz era rica e
rouca, e ela sentiu que algo revoava profundamente em seu coração.
—Confio que esteja
bem — disse.
Assentiu com a
cabeça, tentando não olhá‐lo. Tinha passado o mês anterior treinando para não derreter em um
atoleiro de paixão e desejo cada vez que o visse.
Tinha aprendido a
educar seus traços em uma máscara impassível. Todos sabiam que ele havia
destroçado‐a; não precisava que todo mundo notasse cada vez que ele entrava
em um recinto.
—Me desculpe —
murmurou, passando por diante dele para a sala de jantar.
Adam agarrou seu
braço.
—Me permita que a
escolte, princesa.
O lábio inferior de Demetria
começou a tremer. O que ele estava fazendo? Se estivesse sentindo‐se
menos confusa — ou menos grávida — provavelmente teria feito uma tentativa de
se soltar dele, mas tal como estava, consentiu e permitiu que ele a conduzisse
a mesa.
Adam não disse nada
durante os primeiros pratos, o que foi melhor assim para Demetria, que estava
contente de evitar toda conversa em favor de sua refeição. Lady
Rudland e Selena
tratou de envolvê‐la na conversa, mas Demetria sempre conseguia ter a boca cheia.
Salvou‐se de responder mastigando, engolindo e depois murmurando:
—Realmente estou
muito faminta.
Isto funcionou para
os três primeiros pratos, até que o bebê deixou de cooperar. Pensou que
estivesse conseguindo muito bem não reagir ante as dores, mas deve ter se
estremecido, porque Adam olhou bruscamente em sua direção e perguntou:
—Há algo errado?
Sorriu palidamente,
mastigou, engoliu e murmurou:
—Absolutamente. Mas
realmente estou muito faminta.
—Já percebemos —
disse Selena secamente, ganhando um reprovador olhar de sua mãe.
Demetria tomou outro
bocado do frango com amêndoas e logo estremeceu de novo. Desta vez Adam estava
seguro de ter visto.
—Fez um ruído — disse
firmemente. — Ouvi. O que está acontecendo?
Ela mastigou e
engoliu.
—Nada. Embora esteja
muito faminta.
—Talvez esteja
comendo muito depressa — sugeriu Selena.
Demetria se lançou
sobre a desculpa.
—Sim, sim, deve ser
isso. Irei mais devagar. — Por sorte, a conversa mudou de direção quando Lady
Rudland fez Adam entrar em um debate sobre o projeto de lei que ele tinha
apoiado recentemente no Parlamento. Demetria estava agradecida de que sua
atenção estivesse ocupada em outra parte; esteve olhando‐a
muito atentamente, e lhe era difícil manter o rosto sereno quando sentia uma
contração.
Seu ventre se apertou
de novo, e desta vez perdeu a paciência.
—Pare — sussurrou
olhando para baixo, a cintura. — Ou com certeza será Iphigenia.
—Disse algo, Demetria?
— Perguntou Selena.
—OH, não, acho que
não.
Passaram outros
poucos minutos, e sentiu outro apertão.
—Pare Joseph —
sussurrou. — Tínhamos um acordo.
—Estou certa de que
disse algo — disse Selena bruscamente.
—Chamou‐me
precisamente de Joseph? — Perguntou Adam.
Gracioso, pensou Demetria,
como ao chamá‐lo de Joseph parecia transtorná‐lo mais do que sua partida
da cama de casamento.
—É obvio que não.
Está imaginando coisas. Mas juro que estou cansada. Acho que irei me retirar,
se nenhum de vocês se importarem. — Começou a levantar, então sentiu uma
corrente de líquido entre suas pernas. Voltou a sentar‐se.
— Talvez espere à sobremesa.
Lady Rudland se
desculpou, afirmando que estava fazendo um regime e que não podia suportar vê‐los
comer o pudim. Sua partida tornou mais difícil para Demetria evitar a conversa,
mas fez todo o possível, pretendia ficar concentrada na refeição e esperou que
ninguém lhe fizesse uma pergunta. Finalmente, o jantar terminou. Adam ficou de
pé e caminhou para seu lado, lhe oferecendo o braço.
—Não, acho que
ficarei sentada aqui durante um momento. Estou um pouco cansada, já sabe. —
Podia sentir um rubor subindo ao longo de seu pescoço.
Céus! Ninguém tinha
escrito alguma vez um livro de boas maneiras concernente ao que fazer quando o
bebê de alguém queria nascer em uma sala de jantar formal. Demetria estava
completamente mortificada, e tão assustada que parecia impossível levantar‐se
da cadeira.
—Quer outra porção? —
O tom de Adam foi seco.
—Sim, por favor —
respondeu ela com voz gasta.
CONTINUA....
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