—Demetria, está certa
de que se encontra bem? — Perguntou Selena quando Adam mandou chamar um
servente. — Está muito estranha.
—Faz que venha sua
mãe — grasnou Demetria. — Agora.
—É...?
Demetria assentiu com
a cabeça.
—OH, Meu Deus! —
Disse Selena engolindo saliva. — É o momento.
—Que momento? —
Perguntou Adam com irritação. Então espionou a expressão aterrorizada de Demetria.
— Por todos os Santos! Esse momento.
Cruzou com longos
passos a sala e pegou a esposa nos braços, inconsciente do modo em que suas
saias empapadas manchavam a fina malha de sua jaqueta.
Demetria se agarrou
ao poderoso corpo, esquecendo todos seus votos de permanecer indiferente diante
dele. Sepultou seu rosto na curva de seu pescoço, permitindo que sua força se
filtrasse nela. Ia necessitá‐la nas horas vindouras.
—Pequena tola —
murmurou. — Quanto tempo você está aí sentada com dores?
Decidiu não
responder, sabendo que a verdade só lhe proporcionaria uma reprimenda.
Adam a levou para um
quarto de convidados que havia sido preparado para o parto. No momento em que a
deitou na cama, Lady Rudland se precipitou dentro.
—Muito obrigada, Adam
— disse rapidamente. — Mande chamar o médico.
— Brearley já se
encarregou disso — respondeu, olhando para baixo, Demetria com expressão
ansiosa.
—Bem, então, vá se
mantiver ocupado. Tome uma taça.
—Não tenho sede.
Lady Rudland
suspirou.
—Tenho que lhe
explicar isso mais detalhadamente, filho? Vai!
—Por quê? —Adam
parecia incrédulo.
—Não há lugar para os
homens em um parto.
—Certamente houve
suficiente lugar para mim antes — resmungou.
Demetria ruborizou
com um profundo carmesim.
—Adam, por favor —
rogou.
Ele a olhou.
—Quer que eu vá?
—Sim. Não. Não sei.
Ele colocou as mãos
nos quadris e confrontou a mãe.
—Acho que deveria
ficar. Também é meu filho.
—OH, muito bem. Só se
aproxime daquele canto e fique fora do caminho. —
Lady Rudland agitou
seus braços, espantando‐o.
Outra contração pegou
Demetria.
—Eeeengh — gemeu.
—O que foi isso? — Adam
saiu disparado para o lado dela de um salto. — Isto é normal? Se ela estiver...
—Adam, cale‐se!
— Disse Lady Rudland. — Vai preocupá‐la. — Inclinou‐se para
Demetria e pressionou um pano úmido em sua testa. — Não de ouvidos, querida.
É absolutamente
normal.
—Eu sei. Eu... — Fez
uma pausa para tomar fôlego. — Poderia tirar este vestido?
—OH, Meu Deus! É
obvio. Sinto tanto. Esqueci por completo. Deve estar tão incômoda. Adam venha
aqui e me dê uma mão.
—Não! — Exclamou Demetria
bruscamente.
Ele parou em seco e
seu rosto ficou frio.
—Quero dizer, ou faz
você ou ele — disse Demetria a sogra. — Mas não ambos.
—É o parto o que fala
— disse Lady Rudland docemente. — Não está pensando com claridade.
—Não! Ele pode fazê‐lo,
se você quiser, por que... Viu‐me antes. Ou você pode fazê‐lo porque é uma mulher. Mas
não quero que me olhe enquanto ele me vê. Não entende? — Demetria agarrou o
braço da mulher mais velha com uma força inusitada.
Atrás, no canto, Adam
reprimiu um sorriso.
—Deixarei que faça as
honras, mãe — disse mantendo a voz inexpressiva para assim não começar a rir.
Com uma brusca inclinação de cabeça, deixou o recinto.
Obrigou‐se a
andar até a metade do corredor antes de deixar‐se levar pela risada. Que
pequena coleção de escrúpulos tão graciosos tinha sua esposa.
De volta ao quarto, Demetria
estava apertando os dentes ante outra contração quando Lady Rudland lhe tirou o
vestido estragado.
—Ele foi? —
Perguntou. Não confiava em que ele não desse uma olhadinha.
Sua sogra assentiu
com a cabeça.
—Não nos incomodará.
—Não é um incomodo —
disse Demetria, antes que pudesse pensar bem nisso.
—É obvio que é. Os
homens não têm lugar durante o parto. É sujo e doloroso, e nenhum deles sabe o
que fazer para ser útil. O melhor, é deixar que se sente do lado de fora e que
reflitam todos os modos em que eles deveriam nos recompensar pelo árduo
trabalho.
—Comprou‐me
um livro — sussurrou Demetria.
—Ele? Estava pensando
em diamantes.
—Também seria
agradável — disse Demetria fracamente.
—Deixarei cair uma
indireta em seu ouvido. —Lady Rudland terminou de colocar Demetria na camisola
e afofou os travesseiros atrás dela. — Pronto. Está cômoda?
Outra dor agarrou seu
ventre.
—Não. Realmente —
apertou entre dentes.
—Foi outra? —
Perguntou Lady Rudland. — Meu Deus! Vêm muito seguidas.
Este pode ser um
nascimento extraordinariamente rápido. Espero que o Doutor Winters chegue logo.
Demetria conteve o
fôlego quando remontou outra onda de dor, assentindo com a cabeça seu acordo.
Lady Rudland tomou
sua mão e a apertou com seu rosto enrugado com empatia.
—Se a faz sentir‐se
um pouco melhor — disse, — isto é muito pior com gêmeos.
—Não o faz — ofegou Demetria.
—A faz se sentir um
pouco melhor?
—Não.
Lady Rudland
suspirou.
—Não pensei que o
faria realmente. Mas não se preocupe — acrescentou animando‐se
um pouco. — Tudo acabará logo.
Vinte e duas horas
mais tarde, Demetria queria uma nova definição da palavra logo. Seu corpo
inteiro estava sacudido pela dor, sua respiração vinha em estertores irregulares
e sentia como se verdadeiramente não pudesse abastecer de suficiente ar a seu
corpo. E as contrações continuavam vindas cada uma pior que a última.
—Sinto que vem uma —
gemeu.
Lady Rudland
imediatamente esfregou sua testa com um pano frio.
—Só empurra, amor.
—Não posso... Estou
muito... Droga! — gritou usando o epíteto favorito de seu marido.
No corredor, Adam
ficou rígido quando a escutou gritar. Depois de conseguir que Demetria mudasse
o vestido manchado, sua mãe o levou para fora do alcance do ouvido e o
convenceu de que seria melhor para todos se ficasse no corredor. Selena havia
trazido duas cadeiras de uma sala próxima e diligentemente lhe fazia companhia,
tentando não estremecer quando Demetria gritava de dor.
—Isso soou mal —
disse nervosamente, tentando conversar.
Ele a fulminou com o
olhar. Que palavras mais inoportunas!
—Estou segura que
tudo terminará logo — disse Selena com mais esperança que certeza. — Não
acredito que isto possa piorar muito.
Demetria gritou outra
vez, claramente em agonia.
—Ao menos não acho
que tanto — acrescentou Selena fracamente.
Adam enterrou o rosto
nas mãos.
—Não vou voltar a
tocá‐la jamais — gemeu ele.
—Não vai voltar a me
tocar jamais! — Ouviram o rugido da Demetria.
—Bom, não parece que
terá muita discussão com sua esposa sobre esse assunto — gorjeou Selena. Deu
uma tapinha no queixo com os nódulos. — Anime‐se, irmão mais velho. Está a
ponto de se converter em pai.
—Logo, espero —
resmungou. — Não acho que posso suportar isto muito mais.
—Se você pensar que é
ruim pense em como Demetria deve sentir‐se.
Cravou um penetrante
olhar letal nela. De novo palavras inoportunas. Selena fechou a boca.
No quarto do parto, Demetria
sustentava a mão de sua sogra em um apertão firme.
—Faça que pare —
gemeu. — Por favor, faça parar.
—Terminará logo, lhe
garanto.
Demetria puxou‐a
para baixo até que estiveram quase cara a cara.
—Disse isso ontem!
—Desculpe Lady
Rudland?
Era o Doutor Winters,
que tinha chegado uma hora depois de as dores tivessem começado.
—Poderia falar com
você?
—Sim, sim, é obvio —
disse Lady Rudland, resgatando com cuidado sua mão da
Demetria. — Voltarei.
Prometo.
Demetria assentiu
sacudindo a cabeça e se aferrou aos lençóis, necessitava algo que apertar
quando a dor alcançava seu corpo. Sua cabeça caiu de um lado ao outro enquanto
tentava respirar fundo. Onde estava Adam? Será que ele não se dava conta de que
precisava dele? Necessitava seu calor, seu sorriso, mas sobre tudo, necessitava
sua força porque não achava que teria bastante por ela mesma para passar por
esta dura prova.
Mas era obstinada e
tinha seu orgulho, e não se sentia com ânimo para perguntar à Lady Rudland onde
ele estava. Em lugar disso apertou os dentes e tentou não gritar de dor.
—Demetria? — Lady
Rudland estava olhando‐a com um gesto de preocupação.
—Demetria, querida, o
Doutor diz que tem que empurrar mais forte. O bebe precisa de um pouco de ajuda
para sair.
—Estou muito cansada
— gemeu. — Não posso fazê‐lo mais. —Preciso do
Adam. Mas ela não
sabia como dizer as palavras.
—Sim, pode. Se
empurrar só um pouco mais forte agora, acabará muito mais rapidamente.
—Não posso... Não
posso... Ohhhh!
—Isso, Lady Adam —
disse o Doutor Winters energicamente. — Impulso agora.
—Eu... Oh, isto dói.
Dói.
—Impulso. Posso ver a
cabeça.
—Pode? — Demetria
tentou levantar a cabeça.
—Shhh, não estire o
pescoço — disse Lady Rudland. — De todos os modos não será capaz de ver nada.
Confia em mim.
—Continue empurrando
— disse o Doutor.
—Estou tentando.
Estou tentando. — Demetria sujeitou fortemente seus dentes juntos e apertou. —
É... Você pode... — Tomou umas baforadas gigantescas de ar. —
Qual o sexo?
—Não posso dizer
ainda. — Respondeu o Doutor Winters. — Espere. Espere um minuto... Aqui
estamos. — Uma vez que a cabeça surgiu, o corpo pequeno deslizou rapidamente. —
É uma menina.
—É? — Demetria
respirou e suspirou cansadamente. — É obvio que é. Adam sempre consegue o que
quer.
Lady Rudland abriu a
porta e colocou a cabeça ao corredor enquanto o Doutor olhava o bebê.
—Adam?
Elevou a vista com o
rosto gasto.
—Terminou Adam. É uma
menina. Tem uma filha.
—Uma menina? —
Repetiu Adam. A longa espera no corredor tinha consumido‐o, e
depois de quase um dia inteiro escutando a esposa gritar de dor, não podia
acreditar totalmente que havia terminado, era pai.
—É linda — disse sua
mãe. — Perfeita em todos os sentidos.
—Uma menina — disse
ele outra vez, sacudindo a cabeça maravilhado. Virou se para a irmã, que
permaneceu ao seu lado ao longo da noite. — Uma menina. Selena eu tenho uma
menina! — E logo, surpreendendo ambos, jogou os braços a seu redor e a abraçou.
—Eu sei, eu sei. —
Inclusive Selena tinha problemas para conter as lágrimas nos olhos.
Adam lhe deu um
último apertão, então voltou o olhar a mãe.
—De que cor tem os
olhos? São marrons?
Um divertido sorriso
se estendeu pelo rosto de Lady Rudland.
—Não sei querido. Não
cheguei a olhá‐la. Mas os olhos dos bebês frequentemente mudam de cor quando são
pequenos. Provavelmente não saberemos com certeza até dentro de algum tempo.
—Serão marrons —
disse Adam com firmeza.
Os olhos de Selena
aumentaram ante o repentino conhecimento.
—Você a ama.
—Hmm? O que disse
pirralha?
—A ama. Ama Demetria.
Maravilha, mas aquele
aperto na garganta que sempre sentia ante a menção da palavra havia
desaparecido.
—Eu... — Adam parou
em seco, sua boca abriu ligeiramente em assombrada surpresa.
—A ama — repetiu Selena.
—Acho que sim — disse
perplexo. — A amo. Amo Demetria.
—Já era hora que se
dessa conta — disse sua mãe descaradamente.
Adam se sentou com a
boca aberta, assombrado pela facilidade que sentia tudo nesse momento. Por que
levou tanto tempo para dar‐se conta? Deveria ter sido claro como o dia. Amava Demetria. Amava
tudo dela, desde as sobrancelhas delicadamente arqueadas até as habituais
brincadeiras sarcásticas e a forma que inclinava a cabeça quando sentia
curiosidade. Amava seu engenho, a calidez, a lealdade. Inclusive gostava da
forma que seus olhos ficavam levemente unidos. E agora havia lhe dado uma
filha. Tinha jazido naquela cama e parido durante horas sob uma tremenda dor,
tudo para lhe dar uma filha. As lágrimas brotaram de seus olhos.
—Quero vê‐la.
— Quase se afogou com as palavras.
—O doutor terá a
menina pronta em um momento — disse sua mãe.
—Não. Quero ver Demetria.
—OH. Bom, não vejo
nada de mau. Espere só um segundo. Doutor Winters?
Ouviram uma maldição
em voz muito baixa, e então deixaram o bebê nos braços da avó.
Adam abriu de repente
a porta.
—O que houve?
—Está perdendo muito
sangue — disse o Doutor com voz grave.
Adam olhou a esposa e
quase tropeçou pela dor. Havia sangue por todos os lados; parecia sair dela e
tinha o rosto mortalmente pálido.
—OH, Deus — disse com
voz estrangulada. — OH, Demetria.
Dei
a luz hoje. Ainda não sei seu nome. Não me deixaram segurá‐la. Achava que poderia te
colocar o nome de minha mãe. Era uma mulher encantadora e sempre me abraçava
com força na hora de dormir. Seu nome era Caroline. Espero que Adam goste.
Nunca falamos de nomes.
Estou
dormindo? Posso ouvir todo mundo ao meu redor, mas parece que não posso dizer
nada. Tento lembrar estas palavras em minha cabeça para assim poder escrevê‐las logo.
Acho
que estou dormindo.
e esta terminando a fic.....o que sera que ira acontecer? hmmmm