Porque andamos na fé, e
não na visão
Segunda epístola aos
Corintios, 5, 7
Demétria
contou tudo para ele.
O
relato de tudo que havia acontecido a Demétria levou quase dois dias. O querido
sacerdote quis ouvir cada palavra, cada sentimento, cada acontecimento.
O
padre Berton tinha chorado lágrimas de alegria quando Demétria entrou em sua
pequena casa campestre. Ele admitiu que havia sentido falta dela terrivelmente,
e durante a maior parte daquele primeiro dia não foi ser capaz de controlar
suas emoções. Demétria, naturalmente, também derramou uma boa quantidade de
lágrimas. Seu tio afirmou que aquela falta de disciplina não era reprovável,
porque afinal eles estavam sozinhos, e ninguém poderia presenciar sua exibição
emocional. Os companheiros do padre Berton tinham ido visitar outro velho amigo
que havia adoecido subitamente.
Somente
quando ela terminou de preparar o jantar e eles estiveram sentados um ao lado
do outro em suas poltronas favoritas, foi que Demétria finalmente começou sua
narrativa. Enquanto o sacerdote jantava, Demétria contou sua história. Pensou
em fazer um breve resumo, mas tio Berton permitiria uma história acanhada.
O
sacerdote parecia saborear cada detalhe, e não permitia que Demétria
continuasse até que ele memorizasse cada palavra. Sua experiência como tradutor
e guardião de antigas histórias foi a razão que Demétria acreditou para aquela
peculiaridade tão familiar.
Assim
que Demétria viu seu tio, preocupou-se com sua saúde. O padre Berton parecia
estar perdendo as forças. Demétria viu que agora seus ombros estavam um pouco
mais curvados que antes. Suas costas também pareciam um pouco mais dobrada, e
não se movia pela casa com tanta rapidez. Mas seu olhar era igualmente direto,
e seus comentários extremamente afiados. A cabeça do padre Berton estava tão
aguçada como sempre. Quando ele confessou que seus companheiros não voltariam a
viver seus últimos anos com ele, Demétria supôs que a solidão, e não a avançada
idade de cinquenta verões, explicava as mudanças que tinha notado nele.
Demétria
confiava que Joseph viria buscá-la, mas quando três dias se passaram, e não
houve nenhum sinal de Joseph, sua confiança começou a evaporar.
Demétria
admitiu seus temores para seu tio.
-
Talvez tenha mudado de ideia assim que voltou a estar com lady Eleanor.
-
Tudo isso que você está me dizendo são tolices - avisou o padre Berton -. Eu
tenho tanta fé como você, criança, que o barão de Wexton sabia que Lawrence não
era um sacerdote. Ele pensou ter-se casado com você, e para um homem a dar
semelhante passo, tem que haver um autêntico compromisso em seu coração. Você
me contou qual foi sua declaração de amor. Não tem fé na palavra dele?
-
Oh, é obvio que tenho - respondeu Demétria -. Joseph me ama, padre. No fundo de
meu coração eu sei que ele me ama, mas uma parte da minha mente continua me
preocupando. Acordei durante a noite, e o primeiro pensamento que me veio à
cabeça não pôde ser mais assustador. Perguntei a mim mesma o que eu faria se
ele não viesse me buscar. E se ele tiver mudado de ideia?
-
Então ele seria um estúpido - respondeu o padre Berton. Um súbito brilho
apareceu nos olhos do sacerdote -. E agora conte outra vez a este velho, minha
criança, quais foram as palavras que você disse a lady Eleanor, aquela de
lindos cabelos vermelhos e porte de rainha.
Demétria
sorriu da maneira como ele brincava com ela sobre sua própria descrição de Lady
Eleanor.
-
Disse que eu era o maior tesouro de Joseph. Não foi uma observação muito
humilde, não?
-
Disse a verdade, Demétria. Isso é algo que seu coração sabe muito bem, mas
concordo que há uma pequena porção de sua mente que precisa de um pouco de
confiança.
-
Joseph não é nenhum estúpido - disse Demétria então, falando com uma convicção
que deu nova firmeza a sua voz -. Ele não vai me esquecer.
Ela
fechou os olhos e apoiou a cabeça na almofada que cobria o respaldo de seu
assento. Tanta coisa aconteceu em tão pouco tempo! Agora, enquanto estava
sentada ao lado de seu tio, parecia como se na verdade nada houvesse mudado.
Os
antigos medos tentavam dominá-la. Se ela não ficasse em alerta contra eles, não
demoraria a chorar e se auto-compadecer. Demétria resolveu descansar. Sim, era
apenas por estar tão cansada que ela se inclinava às preocupações.
-
Eu tenho valor - balbuciou -. Por que demorei tanto tempo para perceber?
-
O tempo carece de importância - disse seu tio -. O que importa é que, por fim,
você percebeu.
O
rumor de um trovão atraiu a atenção de seu tio.
-
Soa como se fôssemos ter uma boa tormenta em alguns minutos - ele observou,
enquanto se levantava e começava a fechar a janela.
-
Esse trovão soou perto o bastante levar o telhado - observou Demétria, com sua
voz em um sussurro sonolento.
O
padre Berton estava a ponto de concordar com o comentário de sua sobrinha
quando chegou à janela e olhou para fora. O que seus olhos viram, deixou-o
sobressaltado a tal ponto que precisou apoiar as mãos no parapeito da janela,
ou de outra maneira teria perdido o equilíbrio e, com certeza, caído de
joelhos.
Agora
o trovão estava em silêncio. Mas o padre Berton pôde vê, o relâmpago, que
entretanto não estava no céu. Não, estava no chão... tão longe quanto seus
olhos podiam ver.
O
sol se impôs à falsa aparência, desviando os estilhaços de prata que
ricocheteavam de peitoral para peitoral.
Era
uma legião, unida atrás de um só guerreiro, todos armados, quietos e esperando.
O
padre Berton arregalou os olhos ante aquela magnífica visão. Deu uma rápida
inclinação de cabeça ao homem que liderava aqueles soldados e virou-se para se
sentar novamente em sua cadeira.
Um
grande sorriso transformava o rosto do velho sacerdote. Quando ele novamente se
sentou ao lado de Demétria, deixou seu sorriso de lado, atrevendo-se a fingir
um tom de desgosto em sua voz, e disse:
-
Acredito que aí fora tem alguém querendo lhe ver, Demétria. É melhor ver quem
é, criança. Eu estou muito cansado para voltar a me levantar.
Demétria
franziu o cenho pelo pedido do padre Berton. Não tinha ouvido ninguém bater à
porta. Como meio de acalmá-lo, levantou-se disposta a fazer o que ele acabava
de pedir. Ela falou sobre seu ombro, acreditando tratar-se de Marta,
fazendo-lhes uma visita para trazer ovos frescos e velhas fofocas.
O
padre realmente riu do hilário comentário de Demétria, que chegou ao extremo de
dar uma palmada no joelho.
Ela
achou uma reação bem estranha, tratando-se de um homem que acabava de alegar
cansaço.
E
então ela abriu a porta.
Demétria
precisou de alguns minutos para compreender o que ela estava vendo. Ficou tão
atônita que não podia se mexer. Ela simplesmente ficou ali, no meio da soleira,
com as mãos apertadas ao seu lado, enquanto olhava para Joseph.
Ele
não a tinha esquecido afinal. A compreensão foi entrando na mente de Demétria
depois que o atordoamento inicial se dissipou.
Ele
não estava sozinho. Não, porque havia mais de cem soldados alinhados atrás do
lord deles. Todos estavam sobre suas montarias, todos usavam suas
impressionantes armaduras de batalha, e cada um deles olhava para ela.
Um
sinal silencioso percorreu a legião. Como se fosse um só homem, todos os
soldados levantaram suas espadas em sinal de saudação. Era a exibição de
lealdade mais magnífica que Demétria jamais havia presenciado.
Ela
estava emocionada. Demétria nunca havia se sentido tão cuidada, tão amada, e
tão, tão valiosa.
E
então compreendeu qual a razão pela qual Joseph havia convocado tantos de seus
soldados para fazer aquela viagem. Com isso ele mostrava quão importante
Demétria era para ele. Sim, estava demonstrando seu valor.
Joseph
não se mexeu. Durante um bom tempo não disse palavra alguma. Ele estava feliz
por estar no lombo de Silenus, contemplando sua linda esposa. Joseph pôde
sentir como a preocupação e a incerteza despareciam do coração de Demétria.
Para falar a verdade, pensou que fosse o homem mais feliz do mundo.
Quando
viu as lágrimas que desciam pelo rosto de Demétria, finalmente disse as
palavras que ele acreditava que ela precisava ouvir.
-
Eu vim a por você, Demétria.
Seria
uma coincidência que Joseph estivesse repetindo as mesmas palavras que ele
havia dito para ela na primeira vez? Demétria não acreditava nisso. A expressão
refletida nos olhos de Joseph fizeram-na acreditar que ele não havia esquecido.
Demétria
se afastou da porta, jogou-se seus cabelos em cima do ombro e depois, lenta e
deliberadamente, apoiou as mãos no quadril.
-
Já era hora, barão de Wexton. Levo uma eternidade esperando por você.
Demétria
viu que sua arrogante observação agradou Joseph, mas não pôde ter certeza,
porque Joseph se moveu muito depressa para que ela conseguisse ver sua face. Em
um minuto ele estava imóvel sobre Silenus, e no minuto seguinte, ele a puxava
para os seus braços.
Quando
ele se inclinou para beijá-la, Demétria jogou os braços em seu pescoço. Ela se
agarrou a ele, enquanto a boca de Joseph descia febrilmente sobre a dela com
uma possessividade quase frenética. A língua de Joseph deslizou na boca de
Demétria para reconquistar aquilo que lhe pertencia.
Demétria
teve a sensação de estar sendo arrastada por uma súbita onda de excitação que
percorria todo seu ser, e respondeu à exigência de Joseph, dando-lhe tudo
aquilo que ela sabia dar. Demétria se mostrou igualmente selvagem em seu afã
por devorá-lo. Ela estava tão faminta pelo toque de Joseph, quanto excitada.
Um
ruído finalmente penetrou a mente de Joseph. A razão demorou bastante para
retornar. Afastou seus lábios de Demétria só para voltar imediatamente a seus
lábios machucados pela segunda vez.
Demétria
também percebeu o ruído. Quando Joseph finalmente levantou sua cabeça da dela,
ela compreendeu que os soldados estavam comemorando. Santo Deus, esqueceu-se
por completo que estavam ali!
Ele
percebeu que se ruborizava e não se importou. Joseph não nem um pouco
incomodado, mas atrás da barba que havia crescido em uma semana, e do pó que
cobria a sujeira que havia nele, custava-lhe muito saber qualquer reação dele.
Ele
voltou a beijá-la, desta vez com um beijo rápido e cheio de paixão que avisou a
Demétria que aquela plateia não o incomodava absolutamente. Os braços de
Demétria rodearam sua cintura. Apoiou o rosto no peito de Joseph e o estreitou
contra ela com todas suas forças.
Ele
suspirou, feliz por seu entusiasmo.
Demétria
se lembrou de suas obrigações, quando ouviu soar um discreto pigarro atrás
dela. Deveria apresentar Joseph a seu tio. O problema é que não podia fazer com
que as palavras saíssem de sua garganta. E quando Joseph se inclinou e
sussurrou: «Amo você, Demétria», ela ficou bem preocupada em chorar e falar ao
mesmo tempo.
Joseph
indicou com um gesto que seus homens desmontassem e se virou para olhar por
cima da cabeça de Demétria para o ancião que esperava a uma curta distância
atrás dela. Ele atraiu Demétria para si, não permitindo que ela se afastasse dele,
ainda que por apenas alguns minutos, e disse:
-
Sou o barão de Wexton.
-
Eu realimente espero que seja - respondeu o padre Berton. O sacerdote sorriu de
sua própria piada e começou a inclinar-se diante ele, mas a mão do barão se
apressou a colocar fim àquela amostra de respeito.
-
Sou eu quem deveria me ajoelhar diante do senhor - disse ao sacerdote -.
Sinto-me muito honrado em, por fim, poder conhecê-lo, padre.
As
palavras do barão encheram o sacerdote de humildade.
-
Ela é o seu maior tesouro, não é verdade, barão? - perguntou, voltando seu
olhar para Demétria.
-
Sim, ela é - admitiu Joseph -. Sempre estarei em dívida com o senhor -
acrescentou - Por tê-la protegido para mim durante todos esses anos.
-
Ela ainda não é sua - anunciou o padre Berton, sentindo-se muito contente pela
surpresa que causava sua observação -. Sim, eu ainda devo entregá-la a você.
Estou falando de um casamento, barão, de um autêntico casamento, e quanto mais
rápido ele acontecer, melhor para a paz de espírito deste velho.
-
Então, case-nos pela manhã - pediu Joseph.
O
padre Berton tinha presenciado o apaixonado beijo que acabavam de trocar o
barão e sua sobrinha, e não estava nada seguro de que a manhã seguinte fosse
ser cedo o bastante.
-
Então esta noite você não dormirá com Demétria - advertiu-lhe -. Eu continuarei
guardando-a como é devido, barão de Wexton.
Joseph
e o padre Berton trocaram um longo e intenso olhar. Então, Joseph sorriu. Pela
primeira vez em muito tempo, tinha descoberto que não podia intimidar uma pessoa.
Não, o sacerdote não ia recuar diante ele.
Assentiu.
-
Esta noite.
Demétria
presenciou aquela breve conversa. Sabia muito bem sobre o que os dois homens
estavam falando, e pensou que devia ter ficado tão vermelha como o pôr do sol.
Afinal de contas, saber que ela tinha dormido com o barão deveria ser bem
constrangedor para seu tio Berton.
-
Eu também eu gostaria de me casar com Joseph esta noite, mas eu não... -
Demétria fez uma pausa em sua explicação, quando viu que Anthony estava ali e
se detinha ao lado dela -. Padre Berton, este é o vassalo do qual falei -
disse, sorrindo.
-
Foi você que se colocou entre minha sobrinha e Sebastian quando ele tentou
agredi-la outra vez? - perguntou o sacerdote, dando um passo à frente para
estreitar a mão de Anthony.
-
Sim, fui eu - admitiu Anthony.
-
Outra vez? - gritou Joseph -. Você não estava sob o amparo do rei?
-
Não foi nada! - protestou Demétria.
-
Sebastian a teria matado - interveio o sacerdote.
-
Sim, ele queria fazer muito mal a ela - disse Anthony. Demétria pôde sentir a
tensão nos dedos de Joseph que seguravam sua cintura.
-
Não foi nada - voltou a protestar -. Um mero bofetão...
-
Ela ainda tem o arroxeado - avisou o padre Berton com uma vigorosa inclinação
de cabeça.
Demétria
deu uma boa franzida de cenho a seu tio. Será que ele não percebia que seus
comentários deixavam Joseph fora de si?
Quando
Joseph levantou seu rosto para poder ver a marca, Demétria voltou a sacudir
cabeça.
-
Sebastian nunca mais voltará a me tocar, Joseph. Isso é que importa. Seu leal
vassalo me protegeu - acrescentou, antes de voltar a olhar novamente para seu
tio -. Tio, por que alimenta a raiva de Joseph?
-
Há marcas em seus ombros e em suas costas, barão - disse o padre Berton,
fingindo que não havia ouvido a pergunta de Demétria.
-
Tio!
-
Não me disse nenhuma palavra sobre isso - disse Anthony a Demétria -. Eu
deveria ter...
-
Basta. Padre, eu o conheço bem. Qual o seu jogo agora? - quis saber Demétria.
-
Você estava prestes a dizer ao barão de Wexton que gostaria de se casar com ele
esta noite, criança, mas não chegou a terminar seu comentário, não? O certo,
barão - disse o sacerdote, voltando-se para o Joseph - é que minha sobrinha
tentará atrasar este casamento. Não é isso o que fará, Demétria? Verá, criança
- acrescentou, dando a Demétria um terno sorriso -, eu sei o que passa em sua cabeça
melhor do que você acredita que eu saiba.
-
O que ele disse é verdade? - perguntou Joseph, franzindo o cenho -. Seus
sentimentos não mudaram, não? - antes que Demétria pudesse responder,
acrescentou -: Isso não me importa. Você me pertence, Demétria. Isso é um fato
do qual você não pode dar as costas.
Demétria
ficou atônita com o fato de Joseph sentir semelhante insegurança, e foi então
que percebeu que os sentimentos dele eram tão vulneráveis como os dela. Parecia
que Joseph precisava ouvir as palavras que expressavam o amor de Demétria tão
frequentemente como ela precisava.
-
Amo você, Joseph disse, falando em voz alta o bastante para que tanto Anthony
como o padre Berton pudessem ouvi-la.
-
Tenho certeza disso - replicou Joseph, voltando a soar orgulhoso. Mas a pressão
com que a segurava diminuiu, e seu corpo relaxou ao lado dela.
-
Há muito a ser visto - comentou Anthony -. Preciso falar com você em
particular, barão. - O vassalo deu meia volta e começou a se afastar.
-
E certamente vocês precisam comer alguma - acrescentou o sacerdote, virando-se
para entrar em sua casa – Vou começar os preparativos imediatamente.
-
Primeiro um banho - disse Joseph, dando um bom apertão em Demétria antes de
soltá-la. Ele já estava seguindo o tio de Demétria, quando as palavras que
saíram dos lábios dela o deixaram paralisado. Anthony e o padre Berton também
se detiveram.
-
Ainda não podemos nos casar, Joseph.
A
expressão que apareceu no rosto dos três homens informou a Demétria que a
nenhum deles tinha gostado do anúncio que ela acabava de fazer.
Demétria
juntou as mãos. Ela falou bem depressa, porque queria que Joseph entendesse sua
razão antes de começar gritar.
-
Se pudéssemos esperar até que Liam se case com a Miley, então Sebastian não
poderia usar o argumento de...
-
Eu sabia - murmurou Anthony -. Ainda está tentando proteger o mundo. Esse é uma
das coisas que preciso explicar, barão.
-
Ela sempre está disposta a proteger quem ela acredita estar precisando - disse
o sacerdote.
-
Você não entende - disse Demétria, apressando-se a encarar Joseph -. Se nos
casarmos agora, estará indo contra a vontade do seu rei. William dará Miley a
Sebastian. Era isso que dizia a carta, Joseph.
Demétria
teria prosseguido com seu argumento, se não fosse pela expressão que viu
aparecer nos olhos de Joseph. Não pôde deixar de torcer suas mãos, mas foi
capaz de fechar a boca.
Joseph
a contemplou Demétria com um longo silêncio. Ela não sabia se agora ele estava
contente ou furioso com ela.
-
Só tenho uma pergunta a fazer, Demétria. Você tem fé em mim?
Demétria
não precisou par. Sua resposta foi rápida e firme.
-
Eu tenho.
Sua
resposta o agradou. Joseph a abraçou, depositou um casto beijo sobre sua testa
e se virou pela segunda vez.
-
Vamos nos casar esta noite.
Ele
se deteve, mas não se virou. Demétria já sabia o que Joseph esperava. Sim, ele
esperava pela resposta dela.
-
Sim, Joseph, vamos nos casar esta noite.
Era
a resposta correta, claro está. Demétria soube sem lugar a dúvidas quando seu tio
começou a rir suavemente, Anthony começou a assobiar, e Joseph se voltou, para
lhe dirigir um firme assentimento de cabeça.
Ele
não estava sorrindo. Mas isso não incomodou Demétria, por compreender que
Joseph nunca havia duvidado dela. Sua resposta era apenas uma confirmação, nada
mais.
A
hora seguinte foi um torvelinho de atividade. Enquanto Joseph e Anthony
sentavam à mesa naquela pequena casa e jantavam, o padre Berton foi explicar a
situação ao seu anfitrião, o conde de Grinsteade.
O
conde ainda se agarrava à vida, e embora não tivesse forças para assistir à
cerimônia, Joseph iria lhe fazer uma visita formal depois que casamento
acontecesse.
Joseph
e seu vassalo foram ao lago que havia atrás da mansão do conde para tomarem
banho e falarem em particular. Demétria usou esse tempo para trocar seu
vestido. Escovou os cabelos até ficarem satisfatoriamente ondulados, e então
decidiu esquecer a moda e deixá-lo solto. Sabia que Joseph gostava deles
daquela maneira.
Voltava
a usar as cores de Joseph, claro. Seus sapatos e seu vestido eram de um creme
pálido, e ficavam parcialmente cobertos pela meia túnica de cor azul real
costurada à mão. Demétria tinha passado quase um mês trabalhando no laço que
rodeava o pescoço do vestido, dando-lhe diminutos pontos, todas elas da cor da
creme, para criar o efeito que desejava conseguir com aquele motivo. No centro
de sua obra estava a silhueta de seu lobo mágico.
Pensou
que Joseph provavelmente nem sequer perceberia. Guerreiros de seu porte não
tinham tempo para notar semelhantes coisas.
-
Bem, na verdade, é melhor que seja assim - admitiu em voz alta -. Pensaria que
eu estava imaginando coisas, e então certamente zombaria de mim.
-
Quem zombaria de você? - perguntou Joseph, detendo-se na soleira.
Demétria
se virou com um sorriso no rosto e olhou para seu guerreiro.
-
Meu lobo - respondeu imediatamente -. Tem alguma coisa errada, Joseph. Você
parece... perturbado.
-
Você fica mais bonita a cada hora que passa - sussurrou Joseph, com a voz tão
suave como uma carícia.
-
E você mais atraente - disse Demétria. Sorriu, e depois se atreveu a zombar um
pouco dele -. Mas estava me perguntando por que meu futuro esposo vai ao seu
próprio casamento vestido de preto. É uma cor tão sombria... - afirmou -. É uma
cor usada para o luto. Será que você já decidiu usar luto pelo seu destino,
milord?
Os
comentários de Demétria deixaram Joseph surpreso, e ele encolheu o ombro antes
de responder.
-
Está limpo, Demétria. Isso é tudo o que deve importar. Além disso, é a única
roupa que trouxe comigo de Londres. - Deu um passo para ela, sua intenção era
claramente visível em seu sombrio olhar -. Vou deixá-la aturdida o suficiente
com beijos para que perceba a roupa que visto.
Demétria
correu para o outro lado da mesa.
-
Não pode me beijar até estarmos casados - disse, tentando não rir -. E por que
você não fez a barba?
Joseph
continuou a perseguir seu objetivo.
-
Depois.
O
que ele queria dizer com isso? Demétria fez uma pausa para franzir o cenho.
-
Depois?
-
Sim, Demétria, depois - respondeu Joseph, e seu olhar abrasador a deixou tão
confusa como sua estranha observação
Ela
titubeou deliberadamente por tempo suficiente para ser capturada. Joseph a
atraiu para seus braços, e se preparava para tomar os lábios de Demétria,
quando a porta se abriu. Um ruidoso pigarro ganhou sua atenção.
-
Estamos esperando para começar - anunciou o padre Berton -. Porém, há um
pequeno problema.
-
O que houve? - perguntou Demétria, quando conseguiu sair dos braços de Joseph,
ajeitando sua aparência.
-
Eu gostaria de acompanhá-la ao altar, mas não posso estar em dois lugares ao
mesmo tempo. E quem serão as testemunhas neste ato? - acrescentou, franzindo o
cenho.
-
Não pode ir até o altar acompanhando Demétria e então realizar a missa? -
perguntou Joseph.
-
E quando na qualidade de sacerdote eu perguntar quem dá esta mulher em santo
casamento, deveria correr e ficar ao lado de Demétria para responder minha
própria pergunta?
Joseph
sorriu, imaginando-a cena.
-
Vai ficar realmente estranho, mas acredito que poderia fazê-lo - anunciou o pai
Berton.
-
Todos os meus soldados serão testemunhas - disse Joseph -. Anthony ficará atrás
de Demétria. Isso será o bastante para o senhor, padre?
-
Que assim seja - decretou o padre Berton -. E agora, barão, vá e espere junto
ao altar improvisado que preparei fora. Vou casá-los sob a lua e as estrelas.
Esse é o autêntico palácio de Deus, segundo meu julgamento.
-
Estou de acordo. Bem, então vamos terminar logo com isto.
Suas
palavras não agradaram muito Demétria. Ela seguiu Joseph, puxando sua mão para
ganhar sua atenção.
-
Terminar logo com o quê? - perguntou com o cenho franzido.
Quando
ele baixou o olhar para ela, Demétria notou que Joseph a provocava. E quando
ele falou, e a expressão zangada de Demétria desapareceu por completo.
-
Estivemos unidos um ao outro desde o momento em que nos conhecemos, Demétria.
Deus sabia, eu sabia, e se você refletir sobre a verdade, você também vai
admitir. Nós nos prometemos um ao outro, e ainda que Lawrence não fosse um
sacerdote e não pudesse nos dar sua verdadeira bênção, nós continuamos casados.
-
Desde o momento em que esquentei seus pés - murmurou Demétria, repetindo a
explicação que ele havia dado no passado.
-
Sim, desde aquele momento.
Demétria
parecia estar a ponto de chorar. Que mulher tão emotiva sua delicada esposa
havia se transformado! Embora a reação dela agradasse Joseph, sabia que
Demétria não desejaria parecer indisciplinada na frente de seus homens, e ele
imediatamente tratou de ajudá-la a recuperar o controle de si mesma.
-
Deveria estar agradecida, sabe.
-
Agradecida pelo quê, Joseph? - perguntou Demétria, secando o canto dos olhos.
-
Que não era verão quando nos conhecemos.
A
princípio Demétria não entendeu. E então ela deu uma alegre gargalhada que
encheu de deleite o coração de Joseph.
-
Então, foi a estação que deu você para mim. É assim que você pensa?
-
Se estivéssemos no verão, então não teria razão para esquentar meus pés -
disse, dando a Demétria uma rápida piscada.
Demétria
pensou que agora ele parecia mais arrogante.
-
Você teria encontrado alguma outra razão - disse.
Joseph
teria respondido a esse comentário se o padre Berton não tivesse começado a
empurrá-lo para a porta.
-
Os homens estão esperando por você, barão.
Assim
que Joseph saiu, o padre Berton se virou para Demétria e passou vários minutos,
aconselhando-a a respeito de seus deveres como esposa. Quando terminou sua
tarefa, o ancião falou do fundo de seu coração, dizendo quão orgulhoso ele se
sentia em tê-la em sua família.
E
depois ofereceu o braço à mulher que tinha batizado, visto crescer e educado, e
a quem tinha amado como uma filha.
Foi
uma cerimônia muito bonita, e quando terminou, Joseph apresentou sua esposa a
seus vassalos. Os homens se ajoelharam diante de Demétria e ofereceram seu
juramento de lealdade.
Joseph
estava exausto e impaciente. Deixou sua esposa para fazer uma visita oficial ao
conde de Grinsteade, e voltou para a casinha do padre Berton, quando ainda não
haviam transcorrido nem vinte minutos desde sua partida.
O
sacerdote já tinha ido dormir. Seu colchão estava no outro extremo do quarto. A
cama de Demétria estava na parede em frente, com só uma cortina para proteger
sua intimidade.
Joseph
encontrou sua esposa sentada na beirada estreita cama. Usava o vestido com o
qual havia se casado.
Depois
tirar sua roupa, Joseph se deitou por cima do cobertor e atraiu Demétria para
seu peito. Beijou-a apaixonadamente e então sugeriu que ela se preparasse para
ir para cama.
Demétria
levou um tempo em sua tarefa. Fazia pequenas pausas para espionar atrás da
cortina e ver se seu tio estava dormido. Finalmente, se inclinou sobre Joseph
para dizer que realmente acreditava que deveriam encontrar um lugar privado, lá
fora, para dormir juntos. Afinal de contas, era sua noite de casamento, e
havia-se passado muito tempo desde a última vez em que eles haviam se tocado.
Sem dúvida ele poderia encontrar uma maneira para isso, não?, porque assim que
ela começasse a beijá-lo, sabia que ia se mostrar terrivelmente apaixonada. Por
Deus, ela sabia que ia fazer muito ruído. Ora, ela já estava a ponto de começar
a gritar!
Joseph
nem tentou fazer com que ela se calasse, e então Demétria notou que realmente
não precisava se incomodar em dar qualquer explicação. Seu marido estava
profundamente adormecido.
Frustrada,
a noiva se aconchegou junto a seu marido, rangeu os dentes e tentou conciliar o
sonho.
Os
ruídos que fazia o padre Berton moviam-se pelo quarto, despertando Joseph. Em
seguida ficou alerta, sentindo que alguma coisa estava errado, sem entender
imediatamente o que era.
Começou
a se levantar, agora com a mente voltando ao normal, só para ver que esteve a
ponto de pisar em Demétria. Joseph sorriu daquele absurdo. Sua esposa estava
dormindo no chão, com uma grossa manta como única coberta. Deus, ele havia
dormido durante sua noite de núpcias! Joseph sentou do lado da cama e ficou
contemplando a sua amada esposa até que ouviu como a porta se abria e depois se
fechava atrás do sacerdote. Olhou pela janela que havia ao outro lado da cama a
tempo de ver o padre Berton andando rumo ao castelo. O sacerdote havia vestido
suas vestimentas eclesiásticas e levava com ele um pequeno cálice de prata.
Joseph
se virou novamente para Demétria. Ajoelhou-se perto dela e tomou em seus
braços. Depois a colocou sobre a cama. Demétria se deitou imediatamente sobre
suas costas, afastando o cobertor com um chute.
Não
usava sua camisola de dormir. A luz do amanhecer, entrando pela janela, pintou
sua pele com um tom dourado. O sol nascente transformou a magnífica cabeleira
de Demétria, dando-lhe a cor do fogo.
O
desejo de Joseph se intensificou até que ele ficou dolorido de necessidade.
Voltou a se sentar do lado da cama e começou a fazer amor com sua esposa.
Demétria
despertou com um suspiro. Sentia-se maravilhosamente letárgica. As mãos de
Joseph acariciavam seus seios, e seus mamilos se retesavam, pedindo por mais.
Demétria gemeu e remexeu seu quadril sem descanso em um convite sonolento a seu
marido.
Ela
abriu os olhos e olhou para Joseph. Seu olhar quente fez com que ela
estremecesse de desejo. Estendeu as mãos para ele, tentando aproximá-lo um
pouco mais ao seu corpo, mas Joseph balançou a cabeça, negando-lhe o que ela
pedia.
-
Vou dar o que você quer - sussurrou-lhe -. E muito, muito mais - prometeu.
Antes
que Demétria pudesse responder, Joseph se inclinou sobre ela e tomou um seio em
sua boca. Ele sugava o mamilo enquanto suas mãos acariciavam a lisa suavidade
da barriga de sua esposa.
Os
gemidos de Demétria se tornaram mais intensos e desenfreados. Os sons que
escapavam de sua garganta agradavam Joseph, embora nem tanto como o sabor de
Demétria.
A
mão dele se moveu entre as pernas dela. Joseph encontrou o tesouro que estava
procurando, inseriu um dedo dentro dela e estava quase perdendo a razão diante
da resposta apaixonada de Demétria.
Ele
queria tudo aquilo.
Joseph
rolou bruscamente para o lado até ficar deitado de lado. Demétria se virou para
seu marido. O lado de seu rosto ficou apoiado na cálida coxa de Joseph.
A
boca de Joseph a deixava enlouquecida. Demétria parecia não ser capaz de
respirar, e seu estômago permanecia tensamente contraído, enquanto seu marido
ia distribuindo beijos úmidos ao redor de seu umbigo. Os dedos de Joseph
prosseguiam com sua doce tortura. Demétria gemeu quando ele separou suas coxas.
Ela sabia o que ele queria fazer e ela mesma se abriu para ele, suplicando que
ele a beijasse ali.
Joseph
moveu-se vagarosamente até que se viu saboreando o calor de Demétria. Sua
língua provocava, atormentava. E sua barba deixava louca. Os pelos eram
excitantemente abrasivos em contato com a sensível pele da parte interior das
coxas de sua esposa.
Demétria
queria saborear Joseph. Todo ele.
Não
houve nenhuma advertência nas intenções de Demétria, nenhum beijo carinhoso
antecedeu sua busca. Demétria arqueou seu quadril contra Joseph quando ela o
capturou e o levou a sua boca.
Agora
ela estava gemendo. O contato de suas mãos e de sua boca era tão prazerosamente
erótico como o de Joseph antes. E não ficou dúvida, porque ele demonstrou seu
prazer movendo-se energicamente contra ela. E logo depois, ele se afastou
subitamente de Demétria. Virou-se, colocou-se entre as coxas dela e a penetrou.
Sua semente jorrou imediatamente, com um orgasmo que parecia não terminar
nunca. A força de sua entrega deu a Demétria sua própria versão para o mesmo
esplendor.
Demétria
estava fraca demais para se mexer, não encontrando força nem mesmo para deixar
de agarrar o ombro de seu marido.
Joseph
não podia se sentir mais feliz. Pensou em beijar a sua esposa, para mostrar o
quão satisfeito ele estava, mas ele foi incapaz de fazer tal esforço. Estava
feliz demais para se mexer.
Permaneceram
assim, imóveis como um só ser, durante longos e prazerosos minutos.
Demétria
recobrou sua consciência antes de Joseph. De repente, se lembrou de onde
estavam. Quando se retesou junto a Joseph, ele imaginou quais seriam os
pensamentos dela.
-
O padre Berton foi rezar a missa - murmurou. Demétria relaxou ao lado dele.
-
É claro, você fez ruídos demais para que todo meu exército ouvisse você -
acrescentou Joseph.
-
Você fez tanto ruído quanto eu - sussurrou Demétria.
-
Agora vou fazer mina barba - disse Joseph.
Demétria
começou a rir.
-
Agora eu entendo sobre o que você se referia quando disse que faria a barba
depois, Joseph. Sabia que sua barba me deixaria louca.
Joseph
se apoiou nos cotovelos e baixou o olhar para os olhos de Demétria.
-
Você sabe o quanto você me dá prazer, esposa?
-
Eu sei - sussurrou ela -. Eu amo você, Joseph, agora e sempre.
-
Continuou me amando quando descobriu que Lawrence não era um autêntico
sacerdote e que eu havia mentido?
-
Sim, embora eu quisesse estrangular você por não ter me dito isso. Deus, eu
fiquei furiosa!
-
Bem - observou Joseph, sorrindo do susto que aquele comentário causou nele -.
Fiquei preocupado que você pudesse pensar que também havia mentido a respeito
de outras coisas - admitiu.
-
Nunca duvidei do seu amor, Joseph - disse Demétria.
-
Mas duvidava do seu valor - ele lembrou.
-
Não mais - sussurrou Demétria. Ela o atraiu para outro beijo e então ordenou
que ele fizesse amor com ela outra vez.
Na
segunda vez, a união foi muito mais pausada mas igualmente satisfatória.
Quando
o padre Berton retornou a sua casa, encontrou Demétria e Joseph vestidos. O
barão estava sentado à mesa, e seu olhar não se afastava um só instante do
corpo de sua esposa, enquanto esta estava concentrada no trabalho de preparar o
café da manhã de ambos.
-
Preciso de um sacerdote, padre - disse Joseph -. Gostaria do dever de cuidar de
minha alma? Eu poderia solicitar sua presença imediatamente.
Demétria
se sentiu tão feliz pela sugestão de Joseph que aplaudiu alegremente.
O
padre Berton sorriu e então rechaçou seu pedido sacudindo a cabeça.
-
O conde me deu um teto durante todos estes anos, Joseph. Não posso abandoná-lo
agora. Depende de meu conselho. Não, não posso deixá-lo.
Demétria
sabia que seu tio estava fazendo a coisa mais honrada, e assentiu.
-
Eu sugiro que venha ficar conosco depois que o conde descansar, mas, por Deus,
eu acho que ele vai sobreviver a todos nós.
-
Demétria! Não diga semelhante maldade dele - ralhou o padre Berton.
Demétria
se esforçou para parecer arrependida diante de seu tio.
-
Não pretendia ser cruel, tio. E me envergonho por isso, porque compreendo o
dever que tem para com o conde.
Joseph
assentiu.
-
Então viremos lhe visitar, e quando tiver terminado suas obrigações aqui, o
senhor viverá conosco.
Joseph
se mostrou muito mais diplomático que ela. Demétria viu como seu tio sorria e
expressava seu acordo com uma rápida inclinação de cabeça.
-
Quanto tempo ainda vamos ficar aqui? - perguntou então a seu marido.
-
Devemos partir ainda hoje - anunciou Joseph.
-
Poderíamos ficar aqui até que o verão terminasse - ela sugeriu, antes de
conseguir parar.
-
Partiremos hoje.
Demétria
suspirou, Joseph tentava baixar o olhar, e ela percebeu
-
Bem, então partiremos hoje - disse.
Então
o padre Berton saiu da casa, fingindo a incumbência de pegar o pão nas mãos da
cozinheira. Depois que a porta se fechou atrás dele, Demétria foi para seu
marido.
-
Você deve me permitir ter uma opinião, marido. Nem sempre irei me inclinar a
suas ordens.
Joseph
sorriu.
-
Isso é algo que sei de sobra, Demétria. É minha esposa e governará ao meu lado.
Mas seu argumento para ficarmos aqui é do mais...
-
Desarrazoado - interrompeu Demétria com um suspiro. Sentou-se no colo de Joseph
e rodeou seu pescoço com os braços -. Estou adiando o inevitável. Bem, Joseph,
você deve saber toda a verdade a respeito de sua esposa. Algumas vezes, eu sou
um pouco covarde.
Joseph
achou que a confissão de sua esposa era engraçada. Ele riu, sem se importar que
Demétria não parecesse estar contente com sua conduta. Quando recuperou o
controle de si mesmo, disse:
-
Você tem mais coragem que todos os meus homens juntos. Quem se atreveu a
encarar a morte para liberar o inimigo de seu irmão?
-
Bem, eu, mas...
-
Quem se manteve firme atrás das costas de Nicholas, salvando-lhe a vida?
-
Eu, Joseph, mas estava muito assustada e além disso...
-
Quem se encarregou de cuidar de minha irmã? Quem conquistou Silenus para
transformá-lo em ovelha? Quem...?
-
Já sabe que fui eu - voltou a interrompê-lo Demétria. Colocou as mãos nas
bochechas de Joseph e disse -: Mas ainda tem que entender. Cada vez que
terminei uma dessas tarefas, que você acredita serem tão honoráveis, por dentro
eu estava morta. Só de enfrentá-lo bastava para fazer com que me sentisse
aterrorizada.
Joseph
afastou suas mãos e se inclinou sobre ela para dar um longo beijo.
-
O medo não significa que seja covarde, meu amor. Não, na minha maneira de ver
as coisas, isso só significa que você é mortal. Só um estúpido coloca a
prudência de lado.
Quando
concluiu seu discurso, Joseph voltou a beijá-la.
-
Você tem que me explicar o que eu tenho que fazer quando retornarmos à corte,
Joseph. Não quero desagradá-lo ou dizer o que não devo em resposta às perguntas
do rei. William vai me interrogar, não é, Joseph?
Seu
marido percebeu o medo que havia em sua voz, e sacudiu sua cabeça.
-
Demétria, nada do que faça poderá me desagradar. E você só deve responder às
perguntas do rei com a verdade. É só isso que eu peço a você.
-
Foi isso que Sebastian me disse - murmurou Demétria -. Ele acredita que minha
verdade deixará você preso.
-
Esta é minha batalha, Demétria. Você diz a verdade e deixe o resto comigo.
Demétria
suspirou. Sabia que ele tinha razão.
Joseph
tentou animá-la um pouco.
-
Tenho que me barbear antes de partirmos para a corte - anunciou.
Demétria
começou a ficar vermelha.
-
Preferia que você nunca mais voltasse a se barbear. Cheguei a... apreciar sua
barba, milord.
Joseph
também soube apreciar a honestidade de sua esposa. Seu apaixonado beijo disse
isso a ela.
Joseph
e Demétria chegaram a Londres dois dias depois. Nicholas, Kevin e Liam foram
recebê-los no portão. Todos mostravam expressões muito sombrias.
Depois
de dar um abraço de boas vindas a Demétria, Kevin disse a Joseph que os outros
barões já estavam instalados em seus aposentos.
Nicholas
abraçou Demétria em seguida. Ele demorou um pouco com a boas vindas, e quando
se virou para falar com Joseph, seu braço ainda estava rodeando a cintura de
Demétria.
-
Você vai ver o rei esta noite?
Joseph
notou que Nicholas ainda não tinha superado do todo seu amor por Demétria, e
puxou sua esposa para ele antes de responder.
-
Irei agora.
-
Sebastian pensa que Demétria está com seu tio. Provavelmente estará sabendo de
sua volta neste mesmo instante, Joseph. Tenho que lembrar que Sebastian sabe
que não estão casados - interveio Liam.
-
Agora estamos casados, Liam - disse Joseph -. O padre Berton oficiou a
celebração, com meus vassalos como testemunhas da cerimônia.
Liam
não pôde evitar sorrir diante aquela notícia.
-
O rei vai ficar furioso - previu Kevin com uma carranca -. Ter-se casado antes
desta questão ficar resolvida pode ser considerado como um insulto pessoal.
Joseph
se dispunha a responder o comentário de Kevin, quando sua atenção se viu subitamente
desviada pela chegada dos soldados do rei. Mandados pelo irmão de William,
Henry, os soldados marcharam unidos para terminar parando exatamente diante de
Joseph.
Henry
fez um sinal para que os soldados esperassem e depois disse a Joseph:
-
Meu irmão envia seus guardas para escoltar lady Demétria aos aposentos dela.
-
Eu vou me apresentar agora mesmo a William para relatar minha versão dos fatos,
Henry - disse Joseph -. Eu não gosto de deixar Demétria em nenhum lugar sem que
eu esteja por perto. A última vez que ela esteve sob o amparo do nosso rei ela
foi maltratada - acrescentou sombriamente.
Henry
não mostrou nenhuma reação ante a aspereza das palavras de Joseph.
-
É duvidoso, porque o rei nem chegou a saber que ela esteve aqui, Joseph.
Sebastian...
-
Não permitirei que Demétria volte a correr perigo, Henry - arguiu Joseph.
-
Então você deseja que esta querida dama fique presa no centro da luta que você
trava com seu irmão? - perguntou Henry.
Antes
mesmo que Joseph pudesse responder, Henry disse:
-
Venha, ande comigo. Há algo que desejo lhe dizer.
Em
deferência a sua posição, Joseph obedeceu à ordem imediatamente. Ele andou ao
lado de Henry para uma parte mais resguardada do pátio.
Henry
falou durante a maior parte do tempo. Demétria não tinha nem ideia do que ele
estava dizendo, mas a expressão que viu aparecer no rosto de seu marido indicou
que Joseph não se sentia muito satisfeito com aquela conversa.
Assim
que Joseph e Henry voltaram ao grupo que os esperava, Joseph se voltou para sua
esposa.
-
Vá com Henry, Demétria - disse-lhe -. Ele vai acomodar você.
-
Em seus aposentos, Joseph? - perguntou Demétria, tentando não parecer
preocupada.
Henry
respondeu a sua pergunta.
-
Vocês terão seus próprios aposentos, minha querida, sob meu amparo. Até que
este assunto tenha ficado resolvido, nem Sebastian nem Joseph poderão se
aproximar de você. Não há dúvida de que meu irmão tem um temperamento muito
forte, assim será melhor não jogar lenha na fogueira, por enquanto. Isso é algo
que pode esperar até esta noite.
Demétria
olhou para Joseph. Quando recebeu seu consentimento, inclinou-se ante Henry.
Então Joseph a levou para o lado, inclinou-se sobre ela e murmurou algo em seu
ouvido.
Todos
mostraram curiosidade a respeito daquela conversa. Quando Demétria se voltou
novamente para Henry, não podia estar mais radiante.
Nicholas
viu Demétria segurar no braço de Henry e caminh6ar na direção da entrada.
-
O que você disse a ela, Joseph? Em um minuto ela estava prestes a chorar e no
minuto seguinte, ela estava sorrindo e parecendo bem contente.
-
Eu simplesmente me limitei a lembrá-la o final de certa história - disse
Joseph, encolhendo os ombros.
Era
tudo que ele iria dizer sobre aquilo. Kevin sugeriu que ele cuidasse de sua
aparência, e inclusive que dormisse algumas horas.
Embora
parecesse ridículo que Kevin sugerisse que ele fosse se dormir, Joseph seguiu
seu conselho quanto a trocar de túnica.
-
Acredito que seguirei Demétria - comentou Kevin então -. Talvez eu encontre
Anthony montando guarda diante de sua porta e ficarei com ele até esta noite.
Joseph
assentiu.
-
Não permita que Henry pense que você duvida da eficiência de sua guarda -
advertiu-lhe.
Com
essas palavras de despedida, ele foi embora.
Então,
Nicholas se voltou para o barão Liam.
-
Conseguimos evitar uma batalha. Joseph teria entrado nos aposentos do rei e
teria exigido justiça imediata.
-
Uma condição temporária - respondeu Liam -. A batalha ainda está por vir. Os
outros barões visitarão Joseph esta tarde, e vão mantê-lo suficientemente
ocupado. Henry intercedeu, e merece que o feito seja reconhecido. Um dia Joseph
vai agradecê-lo por isso.
-
Que razão Henry poderia ter para estar tão interessado neste assunto? -
perguntou Nicholas.
-
Ele quer a lealdade de Joseph - respondeu Liam -. Venha, Nicholas, ofereça-me
uma bebida refrescante para brindarmos meu iminente casamento com sua irmã -
afirmou satisfeito.
Nicholas
pareceu satisfeito.
-
Então ela aceitou?
-
Ela aceitou. E vou me casar com ela antes que ela mude de ideia.
Nicholas
deu uma gargalhada do comentário de Liam, e ele sorriu. Sentia-se satisfeito
por ter conseguido afastar a atenção de Nicholas dos motivos de Henry. Liam
entendia que Nicholas não precisava estar a par da reunião secreta que ele
havia participado, nem sobre as estranhas perguntas de Henry sobre a lealdade
de Joseph. As razões que tinha para isso eram muito fáceis de entender.
Nicholas podia fazer perguntas aos barões errados, inadvertidamente, causando
problemas que agora não eram necessários. Porque os irmãos Wexton já tinham
problemas mais que suficientes.
-
Depois que tivermos brindado seu casamento, acredito que irei atrás Kevin e
ficarei com ele.
-
O corredor vai estar muito concorrido diante dos aposentos de Demétria,
Nicholas - comentou Liam - Eu me pergunto o que Sebastian vai fazer quando
souber que sua irmã retornou à corte.
O
barão que ele acabava de mencionar tinha ido caçar no bosque do rei. Sebastian
não retornou ao ambiente do castelo até o final da tarde, e foi informado
imediatamente da volta de Demétria.
Sebastian
ficou furioso, naturalmente. Ele foi reivindicar sua irmã.
Anthony
tinha ficado sozinho diante da porta de Demétria. Tanto Kevin como Nicholas
tinham ido se trocar para o jantar e o confronto.
Quando
o vassalo viu Sebastian se aproximar, apoiou-se na parede e lançou um olhar
cheio de desgosto ao irmão de Demétria.
Sebastian
ignorou o vassalo. Bateu à porta com o punho, pediu aos gritos que deixassem
ele entrar.
Henry
abriu a porta. Saudou Sebastian com cortesia e anunciou que ninguém tinha
permissão para falar com Demétria.
Antes
que Sebastian pudesse protestar, a porta foi bruscamente fechada em sua face.
Demétria
presenciou a cena com olhos perplexos. Não sabia o que pensar da conduta de
Henry. O irmão do rei não se afastou dela mais que uns minutos, quando Demétria
entrou no quarto para trocar seu vestido, colocando o que usaria durante seu
encontro com o rei.
-
O rosto de seu irmão está tão vermelho como o do meu - anunciou Henry depois de
ter fechado a porta, impedindo a entrada de Sebastian. Foi até Demétria, pegou
sua mão e a levou até a janela, a uma considerável distância da porta.
-
As paredes têm ouvidos - murmurou, e Demétria reparou em que sua voz era muito
amável e suave.
Foi
ali e nesse mesmo instante, que decidiu descartar os rumores que corriam a
respeito do Henry. Não era um homem muito atraente, e era pequeno em estatura e
largura se comparado a Joseph. Diziam que Henry era ávido por poder, assim como
também era um manipulador. Diziam que tinha um grande apetite carnal, além
disso, havia engendrado mais de quinze bastardos.
Como
estava tendo consideração com ela, Demétria decidiu que não ia julgá-lo.
-
Volto a agradecer por ter ajudado meu marido neste dia - disse quando viu que
Henry continuava olhando para ela com expectativa.
-
Há algo aguçando minha curiosidade a tarde toda - confessou Henry -. Se não for
um assunto particular, eu gostaria que me contasse o que Joseph lhe disse antes
de deixá-la. Você parecia muito feliz.
-
Disse para eu me lembrar que Ulisses está em casa.
Ao
ver que ela não prosseguia com a explicação, Henry ordenou que ela contasse
toda a história.
A
exigência soava arrogante demais, mas mesmo assim Demétria não se sentiu
incomodada.
-
Contei a meu marido uma história a respeito de um guerreiro chamado Ulisses.
Passou muito tempo longe de sua esposa, e quando ao fim retornou, encontrou seu
lar infestado de homens malvados, que tentavam fazer mal a sua esposa e roubar
seu tesouro. Ulisses enviou para sua esposa a mensagem de que tinha voltado ao
lar. Também limpou sua casa daqueles terríveis infiéis. Joseph estava me
lembrando que ele cuidará de Sebastian.
-
Então seu marido e você têm o mesmo caráter - afirmou Henry - Sim, o tempo de
limpar sua casa chegou.
Demétria
não entendeu.
-
Receio que Joseph vá fazer alguma coisa que enfureça nosso rei - murmurou -. Já
me disseram que William tem um temperamento muito forte.
-
Há outra questão que quero falar com você - disse Henry, e sua voz se endureceu
subitamente. Demétria tentou não parecer sobressaltada.
-
Você é amigo de meu marido assim como seus aliados? - perguntou.
Henry
assentiu.
-
Então eu vou fazer o que puder para lhe ajudar - disse Demétria.
-
Você é tão leal quanto Joseph - observou Henry, parecendo satisfeito com a
observação de Demétria -. Se interceder a seu favor perante o rei, você vai
fazer o que ficar decidido? Inclusive se isso significar seu exílio?
Demétria
não soube como responder àquela pergunta.
-
Você poderia estar salvando a vida de seu marido - disse Henry.
-
Eu farei o que for necessário.
-
Terá que confiar em mim tanto quanto confia em seu marido - advertiu Henry.
Demétria
assentiu.
-
Meu marido acredita que você é o mais inteligente dos três... - começou a
dizer, e logo deixou escapar uma exclamação abafada quando reparou no que
acabava de dizer.
Henry
começou a rir.
-
Assim Joseph sabe o meu valor, não é?
Demétria
se ruborizou.
-
Sim - disse -. Eu farei qualquer coisa para proteger meu marido. Se isso
significar minha própria morte, então que assim seja.
-
Está me dizendo que pensa em sacrificar a si mesma? - perguntou Henry. Sua era
suave agora. Também estava sorrindo, confundindo Demétria -. Não posso imaginar
Joseph estando de acordo com seu plano.
-
Este assunto é terrivelmente complicado - murmurou Demétria.
-
Você disse que confia em mim. Vou ajudar sua causa, minha querida.
Demétria
assentiu. Resolveu fazer uma reverência, mas decidiu ajoelhar-se.
-
Eu agradeço por sua ajuda.
-
Levante-se, Demétria. Não sou seu rei.
-
Eu queria que você fosse - confessou Demétria. Manteve a cabeça baixa, mas
permitiu que ele a ajudasse a ficar de pé.
Henry
não respondeu ao seu comentário traidor. Foi para a porta, e antes de abri-la e
voltou-se novamente para Demétria.
-
Desejos tornam-se realidade, Demétria.
Demétria
franziu o cenho por aquele comentário tão entranho que Henry acabava de fazer.
-
Não mostre lealdade a nenhum dos lados quando entrarmos no salão, Demétria.
Deixe todos especularem até você ser chamada para falar. Eu permanecerei ao seu
lado.
Depois
de ter dito aquelas palavras, Henry saiu dos aposentos.
Passaram-se
duas horas antes de o irmão do rei voltar e levá-la com ele. Demétria andou ao
lado dele, mantendo as costas retas e com as mãos imóveis ao lado. Rezou para
ter uma aparência serena, e pensou que morreria se não visse logo Joseph.
Precisava saber que ele estava por perto.
Quando
ela e Henry entraram no grande salão, Demétria viu que chegavam com bastante
atraso. A maioria dos convidados já tinha terminado de jantar e os servos
estavam esvaziando as mesas.
Pôde
sentir como todos olhavam para ela. Demétria enfrentou aqueles olhares cheios
de curiosidade com uma expressão tranquila. O fingimento era muito difícil de
manter, e tudo porque quando percorreu lentamente o salão com o olhar não pôde
encontrar Joseph entre a multidão.
Seu
marido estava esperando contra a parede do fundo, com o Nicholas e Kevin
imóveis ao lado dele. Joseph contemplou como sua esposa entrava na sala. Cheia
de compostura, ela estava muito, muito bonita. Usava o vestido de quando se
casaram. A lembrança daquele bendito acontecimento salvou Joseph de correr
atrás dela.
-
Tem o porte de uma rainha - sussurrou Nicholas.
-
Agora ela não está nada desajeitada - queixou-se Kevin.
-
Ela está aterrorizada.
Joseph
fez aquele comentário, enquanto dava um passo adiante. Nicholas e Kevin
reagiram imediatamente, interpondo-se em seu caminho.
-
Demétria virá até você, Joseph. Dê tempo a Henry.
Sebastian
estava falando com Demétria. Henry havia se virado para falar com um velho
conhecido.
-
Vou empurrar minha lâmina em suas costas, se você der um passo na direção do
Barão de Wexton - ameaçou Sebastian -. E também darei a ordem de matar seu
querido sacerdote.
-
Diga-me uma coisa - murmurou Demétria, surpreendendo a seu irmão com a ira que
havia em sua voz -. Também vai matar Joseph e a seus irmãos, e a todos seus aliados?
Sebastian
não pôde se conter e agarrou com força o braço de Demétria.
-
Não me ponha à prova, Demétria. Tenho mais poder que qualquer outro homem na
Inglaterra.
-
Mais poder que nosso rei? - disse Henry. Sebastian se sobressaltou
visivelmente. Ele se virou para encarar Henry, torcendo o braço de Demétria no
processo.
-
Sou o humilde conselheiro de seu irmão, nada mais e nada menos.
Henry
mostrou seu desagrado pela observação que Sebastian acabava de fazer. Agarrou a
mão de Demétria, separando-a de Sebastian sem nenhum olhar. Em seguida,
contemplou em silêncio os sinais avermelhados que haviam no braço de Demétria.
Quando voltou a olhar para Sebastian, seus olhos refletiam o desgosto que
sentia.
-
Vou apresentar sua irmã a alguns de nossos leais amigos - falou com a voz
desafiante e cheia de dureza.
Sebastian
retrocedeu. Depois lançou outro olhar ameaçador a Demétria e dirigiu uma
inclinação de cabeça a Henry.
-
O que ele lhe disse? - quis saber Henry.
-
Prometeu matar meu tio Berton se eu der um só passo na direção de Joseph.
-
Ele blefa, Demétria. Agora Sebastian não pode fazer nada, ao menos diante de
seus pares. E amanhã será muito tarde. Terá que confiar quando afirmo que sei
muito bem do que estou falando.
Camille
obviamente havia presenciado como Sebastian era desprezado por Henry, veio até
eles para saudar Demétria.
-
Eu ia mostrar a Demétria os impressionantes jardins de meu irmão - disse Henry
para ela.
-
Oh, também eu adoraria ver os jardins - afirmou Camille.
Era
perfeitamente visível que seu plano consistia em manter-se perto de Demétria,
mas Henry frustrou seus propósitos.
-
Em outra ocasião, talvez? - disse.
Camille
não foi capaz de esconder o ódio em seu olhar. Deu meia volta sem dizer uma
palavra mais e se afastou.
Demétria
andou com Henry para as portas que davam ao terraço.
-
Quem é esse homem que está falando com Kevin? - perguntou então -. Aquele com
os cabelos de uma cor tão viva. Parece estar bem preocupado por algo.
Henry
localizou rapidamente o homem sobre quem Demétria falava.
-
É o barão de Rhinehold.
-
Ele é casado? Tem uma família? - perguntou Demétria, tentando não parecer muito
curiosa.
-
Ele nunca teve uma esposa - disse Henry -. Por que tanto interesse por
Rhinehold?
-
Ele conhecia minha mãe - respondeu Demétria. Ela continuou observando o barão
de Rhinehold, esperando que ele voltasse o olhar em sua direção. Quando
finalmente a olhou, Demétria sorriu para ele.
Embora
soubesse que isso não era possível, desejou poder passar alguns minutos a sós
com o barão. Segundo Camille, Rhinehold era o pai de Demétria, e a razão pela
qual o marido de Dianna a odiou tanto.
Demétria
era uma bastarda. A verdade não a envergonhava. Ninguém jamais chegaria a saber
a verdade, exceto Joseph, naturalmente, e... Santo Deus, não tinha se lembrado
de contar para ela.
-
Joseph chama o barão de Rhinehold de amigo? - perguntou a Henry.
-
Sim, ele o chama - respondeu Henry -. Por que me pergunta isso?
Demétria
não sabia como lhe responder, por isso tentou mudar de assunto.
-
Eu gostaria de poder falar com Joseph, ainda que fosse por um minuto. Acabo de
me lembrar que preciso compartilhar um assunto com ele.
-
A sorte está do seu lado, Demétria. Não acaba de ver Sebastian partir com seus
amigos? Sem dúvida vai fazer uma última tentativa de influenciar nosso rei
antes de que comece a reunião. Espere na terraço e enviarei Joseph.
Demétria
não esperou muito tempo para seu marido chegar.
-
Isso vai terminar logo, Demétria - disse Joseph como saudação. Depois a tomou
em seus braços e a beijou meigamente -. Logo, amor, prometo isso. Tenha fé em
mim, meu doce...
-
Tenha fé em mim, Joseph - sussurrou Demétria -. Você tem, não é verdade, meu
marido?
-
Tenho - respondeu Joseph -. Venha, fique ao meu lado quando falarmos com o rei.
William deve chegar a qualquer momento.
Demétria
sacudiu a cabeça.
-
Sebastian acredita que eu vou ajudar a prender você - disse-lhe -. Henry quer
que meu irmão continue confiando em sua vitória até o último momento, e essa é
a razão pela qual não posso estar perto de você. Não franza o cenho dessa
maneira, Joseph. Logo tudo terá terminado. E tenho que lhe dar a notícia
maravilhosa. De fato, há vários dias conheço a verdade, mas tantas coisas
aconteceram que me esqueci por completo de lhe dizer isso, quando o vi pela
primeira vez e...
-
Demétria.
Então
ela reparou que tinha começado a balbuciar atropeladamente.
-
Sou ilegítima. O que acha dessa notícia, marido?
Joseph
ficou surpreso.
-
Sou uma bastarda, Joseph. Isso não lhe agrada? Juro por Deus que eu me sinto
muito feliz, porque isso significa que não tenho nenhuma relação familiar com
Sebastian.
-
Quem chamou você de bastarda? - quis saber Joseph, sem que chegasse a levantar
a voz, mas falando em um tom cheio de raiva.
-
Ninguém. Ouvi quando Sebastian falava com Camille. Sempre me perguntei por que
Sebastian e seu pai se voltaram contra minha mãe. Agora conheço a verdade.
Minha mãe levava uma criatura em seu ventre quando se casou com o pai de
Sebastian. Ela estava grávida de mim. - Joseph olhou fixamente para Demétria
sem dizer nada, e ela pensou que provavelmente ele estivesse preocupado -.
Importa-se por eu ser uma bastarda?
-
Deixa de dizer essas coisas - ordenou Joseph. Sacudiu a cabeça. Estava sorrindo,
e o coração de Demétria se encheu de amor -. Esposa, é a única mulher neste
mundo que é capaz de se alegrar com semelhante notícia - acrescentou, tentando
conter sua risada.
-
Sebastian não dirá isso a ninguém - murmurou Demétria -. Ele me livrou e ele
nem sequer sabe. Você se importa?
-
Como pode me fazer semelhante pergunta?
-
Porque eu amo você - disse DPorque andamos na fé, e
não na visão
Segunda epístola aos
Corintios, 5, 7
Demétria
contou tudo para ele.
O
relato de tudo que havia acontecido a Demétria levou quase dois dias. O querido
sacerdote quis ouvir cada palavra, cada sentimento, cada acontecimento.
O
padre Berton tinha chorado lágrimas de alegria quando Demétria entrou em sua
pequena casa campestre. Ele admitiu que havia sentido falta dela terrivelmente,
e durante a maior parte daquele primeiro dia não foi ser capaz de controlar
suas emoções. Demétria, naturalmente, também derramou uma boa quantidade de
lágrimas. Seu tio afirmou que aquela falta de disciplina não era reprovável,
porque afinal eles estavam sozinhos, e ninguém poderia presenciar sua exibição
emocional. Os companheiros do padre Berton tinham ido visitar outro velho amigo
que havia adoecido subitamente.
Somente
quando ela terminou de preparar o jantar e eles estiveram sentados um ao lado
do outro em suas poltronas favoritas, foi que Demétria finalmente começou sua
narrativa. Enquanto o sacerdote jantava, Demétria contou sua história. Pensou
em fazer um breve resumo, mas tio Berton permitiria uma história acanhada.
O
sacerdote parecia saborear cada detalhe, e não permitia que Demétria
continuasse até que ele memorizasse cada palavra. Sua experiência como tradutor
e guardião de antigas histórias foi a razão que Demétria acreditou para aquela
peculiaridade tão familiar.
Assim
que Demétria viu seu tio, preocupou-se com sua saúde. O padre Berton parecia
estar perdendo as forças. Demétria viu que agora seus ombros estavam um pouco
mais curvados que antes. Suas costas também pareciam um pouco mais dobrada, e
não se movia pela casa com tanta rapidez. Mas seu olhar era igualmente direto,
e seus comentários extremamente afiados. A cabeça do padre Berton estava tão
aguçada como sempre. Quando ele confessou que seus companheiros não voltariam a
viver seus últimos anos com ele, Demétria supôs que a solidão, e não a avançada
idade de cinquenta verões, explicava as mudanças que tinha notado nele.
Demétria
confiava que Joseph viria buscá-la, mas quando três dias se passaram, e não
houve nenhum sinal de Joseph, sua confiança começou a evaporar.
Demétria
admitiu seus temores para seu tio.
-
Talvez tenha mudado de ideia assim que voltou a estar com lady Eleanor.
-
Tudo isso que você está me dizendo são tolices - avisou o padre Berton -. Eu
tenho tanta fé como você, criança, que o barão de Wexton sabia que Lawrence não
era um sacerdote. Ele pensou ter-se casado com você, e para um homem a dar
semelhante passo, tem que haver um autêntico compromisso em seu coração. Você
me contou qual foi sua declaração de amor. Não tem fé na palavra dele?
-
Oh, é obvio que tenho - respondeu Demétria -. Joseph me ama, padre. No fundo de
meu coração eu sei que ele me ama, mas uma parte da minha mente continua me
preocupando. Acordei durante a noite, e o primeiro pensamento que me veio à
cabeça não pôde ser mais assustador. Perguntei a mim mesma o que eu faria se
ele não viesse me buscar. E se ele tiver mudado de ideia?
-
Então ele seria um estúpido - respondeu o padre Berton. Um súbito brilho
apareceu nos olhos do sacerdote -. E agora conte outra vez a este velho, minha
criança, quais foram as palavras que você disse a lady Eleanor, aquela de
lindos cabelos vermelhos e porte de rainha.
Demétria
sorriu da maneira como ele brincava com ela sobre sua própria descrição de Lady
Eleanor.
-
Disse que eu era o maior tesouro de Joseph. Não foi uma observação muito
humilde, não?
-
Disse a verdade, Demétria. Isso é algo que seu coração sabe muito bem, mas
concordo que há uma pequena porção de sua mente que precisa de um pouco de
confiança.
-
Joseph não é nenhum estúpido - disse Demétria então, falando com uma convicção
que deu nova firmeza a sua voz -. Ele não vai me esquecer.
Ela
fechou os olhos e apoiou a cabeça na almofada que cobria o respaldo de seu
assento. Tanta coisa aconteceu em tão pouco tempo! Agora, enquanto estava
sentada ao lado de seu tio, parecia como se na verdade nada houvesse mudado.
Os
antigos medos tentavam dominá-la. Se ela não ficasse em alerta contra eles, não
demoraria a chorar e se auto-compadecer. Demétria resolveu descansar. Sim, era
apenas por estar tão cansada que ela se inclinava às preocupações.
-
Eu tenho valor - balbuciou -. Por que demorei tanto tempo para perceber?
-
O tempo carece de importância - disse seu tio -. O que importa é que, por fim,
você percebeu.
O
rumor de um trovão atraiu a atenção de seu tio.
-
Soa como se fôssemos ter uma boa tormenta em alguns minutos - ele observou,
enquanto se levantava e começava a fechar a janela.
-
Esse trovão soou perto o bastante levar o telhado - observou Demétria, com sua
voz em um sussurro sonolento.
O
padre Berton estava a ponto de concordar com o comentário de sua sobrinha
quando chegou à janela e olhou para fora. O que seus olhos viram, deixou-o
sobressaltado a tal ponto que precisou apoiar as mãos no parapeito da janela,
ou de outra maneira teria perdido o equilíbrio e, com certeza, caído de
joelhos.
Agora
o trovão estava em silêncio. Mas o padre Berton pôde vê, o relâmpago, que
entretanto não estava no céu. Não, estava no chão... tão longe quanto seus
olhos podiam ver.
O
sol se impôs à falsa aparência, desviando os estilhaços de prata que
ricocheteavam de peitoral para peitoral.
Era
uma legião, unida atrás de um só guerreiro, todos armados, quietos e esperando.
O
padre Berton arregalou os olhos ante aquela magnífica visão. Deu uma rápida
inclinação de cabeça ao homem que liderava aqueles soldados e virou-se para se
sentar novamente em sua cadeira.
Um
grande sorriso transformava o rosto do velho sacerdote. Quando ele novamente se
sentou ao lado de Demétria, deixou seu sorriso de lado, atrevendo-se a fingir
um tom de desgosto em sua voz, e disse:
-
Acredito que aí fora tem alguém querendo lhe ver, Demétria. É melhor ver quem
é, criança. Eu estou muito cansado para voltar a me levantar.
Demétria
franziu o cenho pelo pedido do padre Berton. Não tinha ouvido ninguém bater à
porta. Como meio de acalmá-lo, levantou-se disposta a fazer o que ele acabava
de pedir. Ela falou sobre seu ombro, acreditando tratar-se de Marta,
fazendo-lhes uma visita para trazer ovos frescos e velhas fofocas.
O
padre realmente riu do hilário comentário de Demétria, que chegou ao extremo de
dar uma palmada no joelho.
Ela
achou uma reação bem estranha, tratando-se de um homem que acabava de alegar
cansaço.
E
então ela abriu a porta.
Demétria
precisou de alguns minutos para compreender o que ela estava vendo. Ficou tão
atônita que não podia se mexer. Ela simplesmente ficou ali, no meio da soleira,
com as mãos apertadas ao seu lado, enquanto olhava para Joseph.
Ele
não a tinha esquecido afinal. A compreensão foi entrando na mente de Demétria
depois que o atordoamento inicial se dissipou.
Ele
não estava sozinho. Não, porque havia mais de cem soldados alinhados atrás do
lord deles. Todos estavam sobre suas montarias, todos usavam suas
impressionantes armaduras de batalha, e cada um deles olhava para ela.
Um
sinal silencioso percorreu a legião. Como se fosse um só homem, todos os
soldados levantaram suas espadas em sinal de saudação. Era a exibição de
lealdade mais magnífica que Demétria jamais havia presenciado.
Ela
estava emocionada. Demétria nunca havia se sentido tão cuidada, tão amada, e
tão, tão valiosa.
E
então compreendeu qual a razão pela qual Joseph havia convocado tantos de seus
soldados para fazer aquela viagem. Com isso ele mostrava quão importante
Demétria era para ele. Sim, estava demonstrando seu valor.
Joseph
não se mexeu. Durante um bom tempo não disse palavra alguma. Ele estava feliz
por estar no lombo de Silenus, contemplando sua linda esposa. Joseph pôde
sentir como a preocupação e a incerteza despareciam do coração de Demétria.
Para falar a verdade, pensou que fosse o homem mais feliz do mundo.
Quando
viu as lágrimas que desciam pelo rosto de Demétria, finalmente disse as
palavras que ele acreditava que ela precisava ouvir.
-
Eu vim a por você, Demétria.
Seria
uma coincidência que Joseph estivesse repetindo as mesmas palavras que ele
havia dito para ela na primeira vez? Demétria não acreditava nisso. A expressão
refletida nos olhos de Joseph fizeram-na acreditar que ele não havia esquecido.
Demétria
se afastou da porta, jogou-se seus cabelos em cima do ombro e depois, lenta e
deliberadamente, apoiou as mãos no quadril.
-
Já era hora, barão de Wexton. Levo uma eternidade esperando por você.
Demétria
viu que sua arrogante observação agradou Joseph, mas não pôde ter certeza,
porque Joseph se moveu muito depressa para que ela conseguisse ver sua face. Em
um minuto ele estava imóvel sobre Silenus, e no minuto seguinte, ele a puxava
para os seus braços.
Quando
ele se inclinou para beijá-la, Demétria jogou os braços em seu pescoço. Ela se
agarrou a ele, enquanto a boca de Joseph descia febrilmente sobre a dela com
uma possessividade quase frenética. A língua de Joseph deslizou na boca de
Demétria para reconquistar aquilo que lhe pertencia.
Demétria
teve a sensação de estar sendo arrastada por uma súbita onda de excitação que
percorria todo seu ser, e respondeu à exigência de Joseph, dando-lhe tudo
aquilo que ela sabia dar. Demétria se mostrou igualmente selvagem em seu afã
por devorá-lo. Ela estava tão faminta pelo toque de Joseph, quanto excitada.
Um
ruído finalmente penetrou a mente de Joseph. A razão demorou bastante para
retornar. Afastou seus lábios de Demétria só para voltar imediatamente a seus
lábios machucados pela segunda vez.
Demétria
também percebeu o ruído. Quando Joseph finalmente levantou sua cabeça da dela,
ela compreendeu que os soldados estavam comemorando. Santo Deus, esqueceu-se
por completo que estavam ali!
Ele
percebeu que se ruborizava e não se importou. Joseph não nem um pouco
incomodado, mas atrás da barba que havia crescido em uma semana, e do pó que
cobria a sujeira que havia nele, custava-lhe muito saber qualquer reação dele.
Ele
voltou a beijá-la, desta vez com um beijo rápido e cheio de paixão que avisou a
Demétria que aquela plateia não o incomodava absolutamente. Os braços de
Demétria rodearam sua cintura. Apoiou o rosto no peito de Joseph e o estreitou
contra ela com todas suas forças.
Ele
suspirou, feliz por seu entusiasmo.
Demétria
se lembrou de suas obrigações, quando ouviu soar um discreto pigarro atrás
dela. Deveria apresentar Joseph a seu tio. O problema é que não podia fazer com
que as palavras saíssem de sua garganta. E quando Joseph se inclinou e
sussurrou: «Amo você, Demétria», ela ficou bem preocupada em chorar e falar ao
mesmo tempo.
Joseph
indicou com um gesto que seus homens desmontassem e se virou para olhar por
cima da cabeça de Demétria para o ancião que esperava a uma curta distância
atrás dela. Ele atraiu Demétria para si, não permitindo que ela se afastasse dele,
ainda que por apenas alguns minutos, e disse:
-
Sou o barão de Wexton.
-
Eu realimente espero que seja - respondeu o padre Berton. O sacerdote sorriu de
sua própria piada e começou a inclinar-se diante ele, mas a mão do barão se
apressou a colocar fim àquela amostra de respeito.
-
Sou eu quem deveria me ajoelhar diante do senhor - disse ao sacerdote -.
Sinto-me muito honrado em, por fim, poder conhecê-lo, padre.
As
palavras do barão encheram o sacerdote de humildade.
-
Ela é o seu maior tesouro, não é verdade, barão? - perguntou, voltando seu
olhar para Demétria.
-
Sim, ela é - admitiu Joseph -. Sempre estarei em dívida com o senhor -
acrescentou - Por tê-la protegido para mim durante todos esses anos.
-
Ela ainda não é sua - anunciou o padre Berton, sentindo-se muito contente pela
surpresa que causava sua observação -. Sim, eu ainda devo entregá-la a você.
Estou falando de um casamento, barão, de um autêntico casamento, e quanto mais
rápido ele acontecer, melhor para a paz de espírito deste velho.
-
Então, case-nos pela manhã - pediu Joseph.
O
padre Berton tinha presenciado o apaixonado beijo que acabavam de trocar o
barão e sua sobrinha, e não estava nada seguro de que a manhã seguinte fosse
ser cedo o bastante.
-
Então esta noite você não dormirá com Demétria - advertiu-lhe -. Eu continuarei
guardando-a como é devido, barão de Wexton.
Joseph
e o padre Berton trocaram um longo e intenso olhar. Então, Joseph sorriu. Pela
primeira vez em muito tempo, tinha descoberto que não podia intimidar uma pessoa.
Não, o sacerdote não ia recuar diante ele.
Assentiu.
-
Esta noite.
Demétria
presenciou aquela breve conversa. Sabia muito bem sobre o que os dois homens
estavam falando, e pensou que devia ter ficado tão vermelha como o pôr do sol.
Afinal de contas, saber que ela tinha dormido com o barão deveria ser bem
constrangedor para seu tio Berton.
-
Eu também eu gostaria de me casar com Joseph esta noite, mas eu não... -
Demétria fez uma pausa em sua explicação, quando viu que Anthony estava ali e
se detinha ao lado dela -. Padre Berton, este é o vassalo do qual falei -
disse, sorrindo.
-
Foi você que se colocou entre minha sobrinha e Sebastian quando ele tentou
agredi-la outra vez? - perguntou o sacerdote, dando um passo à frente para
estreitar a mão de Anthony.
-
Sim, fui eu - admitiu Anthony.
-
Outra vez? - gritou Joseph -. Você não estava sob o amparo do rei?
-
Não foi nada! - protestou Demétria.
-
Sebastian a teria matado - interveio o sacerdote.
-
Sim, ele queria fazer muito mal a ela - disse Anthony. Demétria pôde sentir a
tensão nos dedos de Joseph que seguravam sua cintura.
-
Não foi nada - voltou a protestar -. Um mero bofetão...
-
Ela ainda tem o arroxeado - avisou o padre Berton com uma vigorosa inclinação
de cabeça.
Demétria
deu uma boa franzida de cenho a seu tio. Será que ele não percebia que seus
comentários deixavam Joseph fora de si?
Quando
Joseph levantou seu rosto para poder ver a marca, Demétria voltou a sacudir
cabeça.
-
Sebastian nunca mais voltará a me tocar, Joseph. Isso é que importa. Seu leal
vassalo me protegeu - acrescentou, antes de voltar a olhar novamente para seu
tio -. Tio, por que alimenta a raiva de Joseph?
-
Há marcas em seus ombros e em suas costas, barão - disse o padre Berton,
fingindo que não havia ouvido a pergunta de Demétria.
-
Tio!
-
Não me disse nenhuma palavra sobre isso - disse Anthony a Demétria -. Eu
deveria ter...
-
Basta. Padre, eu o conheço bem. Qual o seu jogo agora? - quis saber Demétria.
-
Você estava prestes a dizer ao barão de Wexton que gostaria de se casar com ele
esta noite, criança, mas não chegou a terminar seu comentário, não? O certo,
barão - disse o sacerdote, voltando-se para o Joseph - é que minha sobrinha
tentará atrasar este casamento. Não é isso o que fará, Demétria? Verá, criança
- acrescentou, dando a Demétria um terno sorriso -, eu sei o que passa em sua cabeça
melhor do que você acredita que eu saiba.
-
O que ele disse é verdade? - perguntou Joseph, franzindo o cenho -. Seus
sentimentos não mudaram, não? - antes que Demétria pudesse responder,
acrescentou -: Isso não me importa. Você me pertence, Demétria. Isso é um fato
do qual você não pode dar as costas.
Demétria
ficou atônita com o fato de Joseph sentir semelhante insegurança, e foi então
que percebeu que os sentimentos dele eram tão vulneráveis como os dela. Parecia
que Joseph precisava ouvir as palavras que expressavam o amor de Demétria tão
frequentemente como ela precisava.
-
Amo você, Joseph disse, falando em voz alta o bastante para que tanto Anthony
como o padre Berton pudessem ouvi-la.
-
Tenho certeza disso - replicou Joseph, voltando a soar orgulhoso. Mas a pressão
com que a segurava diminuiu, e seu corpo relaxou ao lado dela.
-
Há muito a ser visto - comentou Anthony -. Preciso falar com você em
particular, barão. - O vassalo deu meia volta e começou a se afastar.
-
E certamente vocês precisam comer alguma - acrescentou o sacerdote, virando-se
para entrar em sua casa – Vou começar os preparativos imediatamente.
-
Primeiro um banho - disse Joseph, dando um bom apertão em Demétria antes de
soltá-la. Ele já estava seguindo o tio de Demétria, quando as palavras que
saíram dos lábios dela o deixaram paralisado. Anthony e o padre Berton também
se detiveram.
-
Ainda não podemos nos casar, Joseph.
A
expressão que apareceu no rosto dos três homens informou a Demétria que a
nenhum deles tinha gostado do anúncio que ela acabava de fazer.
Demétria
juntou as mãos. Ela falou bem depressa, porque queria que Joseph entendesse sua
razão antes de começar gritar.
-
Se pudéssemos esperar até que Liam se case com a Miley, então Sebastian não
poderia usar o argumento de...
-
Eu sabia - murmurou Anthony -. Ainda está tentando proteger o mundo. Esse é uma
das coisas que preciso explicar, barão.
-
Ela sempre está disposta a proteger quem ela acredita estar precisando - disse
o sacerdote.
-
Você não entende - disse Demétria, apressando-se a encarar Joseph -. Se nos
casarmos agora, estará indo contra a vontade do seu rei. William dará Miley a
Sebastian. Era isso que dizia a carta, Joseph.
Demétria
teria prosseguido com seu argumento, se não fosse pela expressão que viu
aparecer nos olhos de Joseph. Não pôde deixar de torcer suas mãos, mas foi
capaz de fechar a boca.
Joseph
a contemplou Demétria com um longo silêncio. Ela não sabia se agora ele estava
contente ou furioso com ela.
-
Só tenho uma pergunta a fazer, Demétria. Você tem fé em mim?
Demétria
não precisou par. Sua resposta foi rápida e firme.
-
Eu tenho.
Sua
resposta o agradou. Joseph a abraçou, depositou um casto beijo sobre sua testa
e se virou pela segunda vez.
-
Vamos nos casar esta noite.
Ele
se deteve, mas não se virou. Demétria já sabia o que Joseph esperava. Sim, ele
esperava pela resposta dela.
-
Sim, Joseph, vamos nos casar esta noite.
Era
a resposta correta, claro está. Demétria soube sem lugar a dúvidas quando seu tio
começou a rir suavemente, Anthony começou a assobiar, e Joseph se voltou, para
lhe dirigir um firme assentimento de cabeça.
Ele
não estava sorrindo. Mas isso não incomodou Demétria, por compreender que
Joseph nunca havia duvidado dela. Sua resposta era apenas uma confirmação, nada
mais.
A
hora seguinte foi um torvelinho de atividade. Enquanto Joseph e Anthony
sentavam à mesa naquela pequena casa e jantavam, o padre Berton foi explicar a
situação ao seu anfitrião, o conde de Grinsteade.
O
conde ainda se agarrava à vida, e embora não tivesse forças para assistir à
cerimônia, Joseph iria lhe fazer uma visita formal depois que casamento
acontecesse.
Joseph
e seu vassalo foram ao lago que havia atrás da mansão do conde para tomarem
banho e falarem em particular. Demétria usou esse tempo para trocar seu
vestido. Escovou os cabelos até ficarem satisfatoriamente ondulados, e então
decidiu esquecer a moda e deixá-lo solto. Sabia que Joseph gostava deles
daquela maneira.
Voltava
a usar as cores de Joseph, claro. Seus sapatos e seu vestido eram de um creme
pálido, e ficavam parcialmente cobertos pela meia túnica de cor azul real
costurada à mão. Demétria tinha passado quase um mês trabalhando no laço que
rodeava o pescoço do vestido, dando-lhe diminutos pontos, todas elas da cor da
creme, para criar o efeito que desejava conseguir com aquele motivo. No centro
de sua obra estava a silhueta de seu lobo mágico.
Pensou
que Joseph provavelmente nem sequer perceberia. Guerreiros de seu porte não
tinham tempo para notar semelhantes coisas.
-
Bem, na verdade, é melhor que seja assim - admitiu em voz alta -. Pensaria que
eu estava imaginando coisas, e então certamente zombaria de mim.
-
Quem zombaria de você? - perguntou Joseph, detendo-se na soleira.
Demétria
se virou com um sorriso no rosto e olhou para seu guerreiro.
-
Meu lobo - respondeu imediatamente -. Tem alguma coisa errada, Joseph. Você
parece... perturbado.
-
Você fica mais bonita a cada hora que passa - sussurrou Joseph, com a voz tão
suave como uma carícia.
-
E você mais atraente - disse Demétria. Sorriu, e depois se atreveu a zombar um
pouco dele -. Mas estava me perguntando por que meu futuro esposo vai ao seu
próprio casamento vestido de preto. É uma cor tão sombria... - afirmou -. É uma
cor usada para o luto. Será que você já decidiu usar luto pelo seu destino,
milord?
Os
comentários de Demétria deixaram Joseph surpreso, e ele encolheu o ombro antes
de responder.
-
Está limpo, Demétria. Isso é tudo o que deve importar. Além disso, é a única
roupa que trouxe comigo de Londres. - Deu um passo para ela, sua intenção era
claramente visível em seu sombrio olhar -. Vou deixá-la aturdida o suficiente
com beijos para que perceba a roupa que visto.
Demétria
correu para o outro lado da mesa.
-
Não pode me beijar até estarmos casados - disse, tentando não rir -. E por que
você não fez a barba?
Joseph
continuou a perseguir seu objetivo.
-
Depois.
O
que ele queria dizer com isso? Demétria fez uma pausa para franzir o cenho.
-
Depois?
-
Sim, Demétria, depois - respondeu Joseph, e seu olhar abrasador a deixou tão
confusa como sua estranha observação
Ela
titubeou deliberadamente por tempo suficiente para ser capturada. Joseph a
atraiu para seus braços, e se preparava para tomar os lábios de Demétria,
quando a porta se abriu. Um ruidoso pigarro ganhou sua atenção.
-
Estamos esperando para começar - anunciou o padre Berton -. Porém, há um
pequeno problema.
-
O que houve? - perguntou Demétria, quando conseguiu sair dos braços de Joseph,
ajeitando sua aparência.
-
Eu gostaria de acompanhá-la ao altar, mas não posso estar em dois lugares ao
mesmo tempo. E quem serão as testemunhas neste ato? - acrescentou, franzindo o
cenho.
-
Não pode ir até o altar acompanhando Demétria e então realizar a missa? -
perguntou Joseph.
-
E quando na qualidade de sacerdote eu perguntar quem dá esta mulher em santo
casamento, deveria correr e ficar ao lado de Demétria para responder minha
própria pergunta?
Joseph
sorriu, imaginando-a cena.
-
Vai ficar realmente estranho, mas acredito que poderia fazê-lo - anunciou o pai
Berton.
-
Todos os meus soldados serão testemunhas - disse Joseph -. Anthony ficará atrás
de Demétria. Isso será o bastante para o senhor, padre?
-
Que assim seja - decretou o padre Berton -. E agora, barão, vá e espere junto
ao altar improvisado que preparei fora. Vou casá-los sob a lua e as estrelas.
Esse é o autêntico palácio de Deus, segundo meu julgamento.
-
Estou de acordo. Bem, então vamos terminar logo com isto.
Suas
palavras não agradaram muito Demétria. Ela seguiu Joseph, puxando sua mão para
ganhar sua atenção.
-
Terminar logo com o quê? - perguntou com o cenho franzido.
Quando
ele baixou o olhar para ela, Demétria notou que Joseph a provocava. E quando
ele falou, e a expressão zangada de Demétria desapareceu por completo.
-
Estivemos unidos um ao outro desde o momento em que nos conhecemos, Demétria.
Deus sabia, eu sabia, e se você refletir sobre a verdade, você também vai
admitir. Nós nos prometemos um ao outro, e ainda que Lawrence não fosse um
sacerdote e não pudesse nos dar sua verdadeira bênção, nós continuamos casados.
-
Desde o momento em que esquentei seus pés - murmurou Demétria, repetindo a
explicação que ele havia dado no passado.
-
Sim, desde aquele momento.
Demétria
parecia estar a ponto de chorar. Que mulher tão emotiva sua delicada esposa
havia se transformado! Embora a reação dela agradasse Joseph, sabia que
Demétria não desejaria parecer indisciplinada na frente de seus homens, e ele
imediatamente tratou de ajudá-la a recuperar o controle de si mesma.
-
Deveria estar agradecida, sabe.
-
Agradecida pelo quê, Joseph? - perguntou Demétria, secando o canto dos olhos.
-
Que não era verão quando nos conhecemos.
A
princípio Demétria não entendeu. E então ela deu uma alegre gargalhada que
encheu de deleite o coração de Joseph.
-
Então, foi a estação que deu você para mim. É assim que você pensa?
-
Se estivéssemos no verão, então não teria razão para esquentar meus pés -
disse, dando a Demétria uma rápida piscada.
Demétria
pensou que agora ele parecia mais arrogante.
-
Você teria encontrado alguma outra razão - disse.
Joseph
teria respondido a esse comentário se o padre Berton não tivesse começado a
empurrá-lo para a porta.
-
Os homens estão esperando por você, barão.
Assim
que Joseph saiu, o padre Berton se virou para Demétria e passou vários minutos,
aconselhando-a a respeito de seus deveres como esposa. Quando terminou sua
tarefa, o ancião falou do fundo de seu coração, dizendo quão orgulhoso ele se
sentia em tê-la em sua família.
E
depois ofereceu o braço à mulher que tinha batizado, visto crescer e educado, e
a quem tinha amado como uma filha.
Foi
uma cerimônia muito bonita, e quando terminou, Joseph apresentou sua esposa a
seus vassalos. Os homens se ajoelharam diante de Demétria e ofereceram seu
juramento de lealdade.
Joseph
estava exausto e impaciente. Deixou sua esposa para fazer uma visita oficial ao
conde de Grinsteade, e voltou para a casinha do padre Berton, quando ainda não
haviam transcorrido nem vinte minutos desde sua partida.
O
sacerdote já tinha ido dormir. Seu colchão estava no outro extremo do quarto. A
cama de Demétria estava na parede em frente, com só uma cortina para proteger
sua intimidade.
Joseph
encontrou sua esposa sentada na beirada estreita cama. Usava o vestido com o
qual havia se casado.
Depois
tirar sua roupa, Joseph se deitou por cima do cobertor e atraiu Demétria para
seu peito. Beijou-a apaixonadamente e então sugeriu que ela se preparasse para
ir para cama.
Demétria
levou um tempo em sua tarefa. Fazia pequenas pausas para espionar atrás da
cortina e ver se seu tio estava dormido. Finalmente, se inclinou sobre Joseph
para dizer que realmente acreditava que deveriam encontrar um lugar privado, lá
fora, para dormir juntos. Afinal de contas, era sua noite de casamento, e
havia-se passado muito tempo desde a última vez em que eles haviam se tocado.
Sem dúvida ele poderia encontrar uma maneira para isso, não?, porque assim que
ela começasse a beijá-lo, sabia que ia se mostrar terrivelmente apaixonada. Por
Deus, ela sabia que ia fazer muito ruído. Ora, ela já estava a ponto de começar
a gritar!
Joseph
nem tentou fazer com que ela se calasse, e então Demétria notou que realmente
não precisava se incomodar em dar qualquer explicação. Seu marido estava
profundamente adormecido.
Frustrada,
a noiva se aconchegou junto a seu marido, rangeu os dentes e tentou conciliar o
sonho.
Os
ruídos que fazia o padre Berton moviam-se pelo quarto, despertando Joseph. Em
seguida ficou alerta, sentindo que alguma coisa estava errado, sem entender
imediatamente o que era.
Começou
a se levantar, agora com a mente voltando ao normal, só para ver que esteve a
ponto de pisar em Demétria. Joseph sorriu daquele absurdo. Sua esposa estava
dormindo no chão, com uma grossa manta como única coberta. Deus, ele havia
dormido durante sua noite de núpcias! Joseph sentou do lado da cama e ficou
contemplando a sua amada esposa até que ouviu como a porta se abria e depois se
fechava atrás do sacerdote. Olhou pela janela que havia ao outro lado da cama a
tempo de ver o padre Berton andando rumo ao castelo. O sacerdote havia vestido
suas vestimentas eclesiásticas e levava com ele um pequeno cálice de prata.
Joseph
se virou novamente para Demétria. Ajoelhou-se perto dela e tomou em seus
braços. Depois a colocou sobre a cama. Demétria se deitou imediatamente sobre
suas costas, afastando o cobertor com um chute.
Não
usava sua camisola de dormir. A luz do amanhecer, entrando pela janela, pintou
sua pele com um tom dourado. O sol nascente transformou a magnífica cabeleira
de Demétria, dando-lhe a cor do fogo.
O
desejo de Joseph se intensificou até que ele ficou dolorido de necessidade.
Voltou a se sentar do lado da cama e começou a fazer amor com sua esposa.
Demétria
despertou com um suspiro. Sentia-se maravilhosamente letárgica. As mãos de
Joseph acariciavam seus seios, e seus mamilos se retesavam, pedindo por mais.
Demétria gemeu e remexeu seu quadril sem descanso em um convite sonolento a seu
marido.
Ela
abriu os olhos e olhou para Joseph. Seu olhar quente fez com que ela
estremecesse de desejo. Estendeu as mãos para ele, tentando aproximá-lo um
pouco mais ao seu corpo, mas Joseph balançou a cabeça, negando-lhe o que ela
pedia.
-
Vou dar o que você quer - sussurrou-lhe -. E muito, muito mais - prometeu.
Antes
que Demétria pudesse responder, Joseph se inclinou sobre ela e tomou um seio em
sua boca. Ele sugava o mamilo enquanto suas mãos acariciavam a lisa suavidade
da barriga de sua esposa.
Os
gemidos de Demétria se tornaram mais intensos e desenfreados. Os sons que
escapavam de sua garganta agradavam Joseph, embora nem tanto como o sabor de
Demétria.
A
mão dele se moveu entre as pernas dela. Joseph encontrou o tesouro que estava
procurando, inseriu um dedo dentro dela e estava quase perdendo a razão diante
da resposta apaixonada de Demétria.
Ele
queria tudo aquilo.
Joseph
rolou bruscamente para o lado até ficar deitado de lado. Demétria se virou para
seu marido. O lado de seu rosto ficou apoiado na cálida coxa de Joseph.
A
boca de Joseph a deixava enlouquecida. Demétria parecia não ser capaz de
respirar, e seu estômago permanecia tensamente contraído, enquanto seu marido
ia distribuindo beijos úmidos ao redor de seu umbigo. Os dedos de Joseph
prosseguiam com sua doce tortura. Demétria gemeu quando ele separou suas coxas.
Ela sabia o que ele queria fazer e ela mesma se abriu para ele, suplicando que
ele a beijasse ali.
Joseph
moveu-se vagarosamente até que se viu saboreando o calor de Demétria. Sua
língua provocava, atormentava. E sua barba deixava louca. Os pelos eram
excitantemente abrasivos em contato com a sensível pele da parte interior das
coxas de sua esposa.
Demétria
queria saborear Joseph. Todo ele.
Não
houve nenhuma advertência nas intenções de Demétria, nenhum beijo carinhoso
antecedeu sua busca. Demétria arqueou seu quadril contra Joseph quando ela o
capturou e o levou a sua boca.
Agora
ela estava gemendo. O contato de suas mãos e de sua boca era tão prazerosamente
erótico como o de Joseph antes. E não ficou dúvida, porque ele demonstrou seu
prazer movendo-se energicamente contra ela. E logo depois, ele se afastou
subitamente de Demétria. Virou-se, colocou-se entre as coxas dela e a penetrou.
Sua semente jorrou imediatamente, com um orgasmo que parecia não terminar
nunca. A força de sua entrega deu a Demétria sua própria versão para o mesmo
esplendor.
Demétria
estava fraca demais para se mexer, não encontrando força nem mesmo para deixar
de agarrar o ombro de seu marido.
Joseph
não podia se sentir mais feliz. Pensou em beijar a sua esposa, para mostrar o
quão satisfeito ele estava, mas ele foi incapaz de fazer tal esforço. Estava
feliz demais para se mexer.
Permaneceram
assim, imóveis como um só ser, durante longos e prazerosos minutos.
Demétria
recobrou sua consciência antes de Joseph. De repente, se lembrou de onde
estavam. Quando se retesou junto a Joseph, ele imaginou quais seriam os
pensamentos dela.
-
O padre Berton foi rezar a missa - murmurou. Demétria relaxou ao lado dele.
-
É claro, você fez ruídos demais para que todo meu exército ouvisse você -
acrescentou Joseph.
-
Você fez tanto ruído quanto eu - sussurrou Demétria.
-
Agora vou fazer mina barba - disse Joseph.
Demétria
começou a rir.
-
Agora eu entendo sobre o que você se referia quando disse que faria a barba
depois, Joseph. Sabia que sua barba me deixaria louca.
Joseph
se apoiou nos cotovelos e baixou o olhar para os olhos de Demétria.
-
Você sabe o quanto você me dá prazer, esposa?
-
Eu sei - sussurrou ela -. Eu amo você, Joseph, agora e sempre.
-
Continuou me amando quando descobriu que Lawrence não era um autêntico
sacerdote e que eu havia mentido?
-
Sim, embora eu quisesse estrangular você por não ter me dito isso. Deus, eu
fiquei furiosa!
-
Bem - observou Joseph, sorrindo do susto que aquele comentário causou nele -.
Fiquei preocupado que você pudesse pensar que também havia mentido a respeito
de outras coisas - admitiu.
-
Nunca duvidei do seu amor, Joseph - disse Demétria.
-
Mas duvidava do seu valor - ele lembrou.
-
Não mais - sussurrou Demétria. Ela o atraiu para outro beijo e então ordenou
que ele fizesse amor com ela outra vez.
Na
segunda vez, a união foi muito mais pausada mas igualmente satisfatória.
Quando
o padre Berton retornou a sua casa, encontrou Demétria e Joseph vestidos. O
barão estava sentado à mesa, e seu olhar não se afastava um só instante do
corpo de sua esposa, enquanto esta estava concentrada no trabalho de preparar o
café da manhã de ambos.
-
Preciso de um sacerdote, padre - disse Joseph -. Gostaria do dever de cuidar de
minha alma? Eu poderia solicitar sua presença imediatamente.
Demétria
se sentiu tão feliz pela sugestão de Joseph que aplaudiu alegremente.
O
padre Berton sorriu e então rechaçou seu pedido sacudindo a cabeça.
-
O conde me deu um teto durante todos estes anos, Joseph. Não posso abandoná-lo
agora. Depende de meu conselho. Não, não posso deixá-lo.
Demétria
sabia que seu tio estava fazendo a coisa mais honrada, e assentiu.
-
Eu sugiro que venha ficar conosco depois que o conde descansar, mas, por Deus,
eu acho que ele vai sobreviver a todos nós.
-
Demétria! Não diga semelhante maldade dele - ralhou o padre Berton.
Demétria
se esforçou para parecer arrependida diante de seu tio.
-
Não pretendia ser cruel, tio. E me envergonho por isso, porque compreendo o
dever que tem para com o conde.
Joseph
assentiu.
-
Então viremos lhe visitar, e quando tiver terminado suas obrigações aqui, o
senhor viverá conosco.
Joseph
se mostrou muito mais diplomático que ela. Demétria viu como seu tio sorria e
expressava seu acordo com uma rápida inclinação de cabeça.
-
Quanto tempo ainda vamos ficar aqui? - perguntou então a seu marido.
-
Devemos partir ainda hoje - anunciou Joseph.
-
Poderíamos ficar aqui até que o verão terminasse - ela sugeriu, antes de
conseguir parar.
-
Partiremos hoje.
Demétria
suspirou, Joseph tentava baixar o olhar, e ela percebeu
-
Bem, então partiremos hoje - disse.
Então
o padre Berton saiu da casa, fingindo a incumbência de pegar o pão nas mãos da
cozinheira. Depois que a porta se fechou atrás dele, Demétria foi para seu
marido.
-
Você deve me permitir ter uma opinião, marido. Nem sempre irei me inclinar a
suas ordens.
Joseph
sorriu.
-
Isso é algo que sei de sobra, Demétria. É minha esposa e governará ao meu lado.
Mas seu argumento para ficarmos aqui é do mais...
-
Desarrazoado - interrompeu Demétria com um suspiro. Sentou-se no colo de Joseph
e rodeou seu pescoço com os braços -. Estou adiando o inevitável. Bem, Joseph,
você deve saber toda a verdade a respeito de sua esposa. Algumas vezes, eu sou
um pouco covarde.
Joseph
achou que a confissão de sua esposa era engraçada. Ele riu, sem se importar que
Demétria não parecesse estar contente com sua conduta. Quando recuperou o
controle de si mesmo, disse:
-
Você tem mais coragem que todos os meus homens juntos. Quem se atreveu a
encarar a morte para liberar o inimigo de seu irmão?
-
Bem, eu, mas...
-
Quem se manteve firme atrás das costas de Nicholas, salvando-lhe a vida?
-
Eu, Joseph, mas estava muito assustada e além disso...
-
Quem se encarregou de cuidar de minha irmã? Quem conquistou Silenus para
transformá-lo em ovelha? Quem...?
-
Já sabe que fui eu - voltou a interrompê-lo Demétria. Colocou as mãos nas
bochechas de Joseph e disse -: Mas ainda tem que entender. Cada vez que
terminei uma dessas tarefas, que você acredita serem tão honoráveis, por dentro
eu estava morta. Só de enfrentá-lo bastava para fazer com que me sentisse
aterrorizada.
Joseph
afastou suas mãos e se inclinou sobre ela para dar um longo beijo.
-
O medo não significa que seja covarde, meu amor. Não, na minha maneira de ver
as coisas, isso só significa que você é mortal. Só um estúpido coloca a
prudência de lado.
Quando
concluiu seu discurso, Joseph voltou a beijá-la.
-
Você tem que me explicar o que eu tenho que fazer quando retornarmos à corte,
Joseph. Não quero desagradá-lo ou dizer o que não devo em resposta às perguntas
do rei. William vai me interrogar, não é, Joseph?
Seu
marido percebeu o medo que havia em sua voz, e sacudiu sua cabeça.
-
Demétria, nada do que faça poderá me desagradar. E você só deve responder às
perguntas do rei com a verdade. É só isso que eu peço a você.
-
Foi isso que Sebastian me disse - murmurou Demétria -. Ele acredita que minha
verdade deixará você preso.
-
Esta é minha batalha, Demétria. Você diz a verdade e deixe o resto comigo.
Demétria
suspirou. Sabia que ele tinha razão.
Joseph
tentou animá-la um pouco.
-
Tenho que me barbear antes de partirmos para a corte - anunciou.
Demétria
começou a ficar vermelha.
-
Preferia que você nunca mais voltasse a se barbear. Cheguei a... apreciar sua
barba, milord.
Joseph
também soube apreciar a honestidade de sua esposa. Seu apaixonado beijo disse
isso a ela.
Joseph
e Demétria chegaram a Londres dois dias depois. Nicholas, Kevin e Liam foram
recebê-los no portão. Todos mostravam expressões muito sombrias.
Depois
de dar um abraço de boas vindas a Demétria, Kevin disse a Joseph que os outros
barões já estavam instalados em seus aposentos.
Nicholas
abraçou Demétria em seguida. Ele demorou um pouco com a boas vindas, e quando
se virou para falar com Joseph, seu braço ainda estava rodeando a cintura de
Demétria.
-
Você vai ver o rei esta noite?
Joseph
notou que Nicholas ainda não tinha superado do todo seu amor por Demétria, e
puxou sua esposa para ele antes de responder.
-
Irei agora.
-
Sebastian pensa que Demétria está com seu tio. Provavelmente estará sabendo de
sua volta neste mesmo instante, Joseph. Tenho que lembrar que Sebastian sabe
que não estão casados - interveio Liam.
-
Agora estamos casados, Liam - disse Joseph -. O padre Berton oficiou a
celebração, com meus vassalos como testemunhas da cerimônia.
Liam
não pôde evitar sorrir diante aquela notícia.
-
O rei vai ficar furioso - previu Kevin com uma carranca -. Ter-se casado antes
desta questão ficar resolvida pode ser considerado como um insulto pessoal.
Joseph
se dispunha a responder o comentário de Kevin, quando sua atenção se viu subitamente
desviada pela chegada dos soldados do rei. Mandados pelo irmão de William,
Henry, os soldados marcharam unidos para terminar parando exatamente diante de
Joseph.
Henry
fez um sinal para que os soldados esperassem e depois disse a Joseph:
-
Meu irmão envia seus guardas para escoltar lady Demétria aos aposentos dela.
-
Eu vou me apresentar agora mesmo a William para relatar minha versão dos fatos,
Henry - disse Joseph -. Eu não gosto de deixar Demétria em nenhum lugar sem que
eu esteja por perto. A última vez que ela esteve sob o amparo do nosso rei ela
foi maltratada - acrescentou sombriamente.
Henry
não mostrou nenhuma reação ante a aspereza das palavras de Joseph.
-
É duvidoso, porque o rei nem chegou a saber que ela esteve aqui, Joseph.
Sebastian...
-
Não permitirei que Demétria volte a correr perigo, Henry - arguiu Joseph.
-
Então você deseja que esta querida dama fique presa no centro da luta que você
trava com seu irmão? - perguntou Henry.
Antes
mesmo que Joseph pudesse responder, Henry disse:
-
Venha, ande comigo. Há algo que desejo lhe dizer.
Em
deferência a sua posição, Joseph obedeceu à ordem imediatamente. Ele andou ao
lado de Henry para uma parte mais resguardada do pátio.
Henry
falou durante a maior parte do tempo. Demétria não tinha nem ideia do que ele
estava dizendo, mas a expressão que viu aparecer no rosto de seu marido indicou
que Joseph não se sentia muito satisfeito com aquela conversa.
Assim
que Joseph e Henry voltaram ao grupo que os esperava, Joseph se voltou para sua
esposa.
-
Vá com Henry, Demétria - disse-lhe -. Ele vai acomodar você.
-
Em seus aposentos, Joseph? - perguntou Demétria, tentando não parecer
preocupada.
Henry
respondeu a sua pergunta.
-
Vocês terão seus próprios aposentos, minha querida, sob meu amparo. Até que
este assunto tenha ficado resolvido, nem Sebastian nem Joseph poderão se
aproximar de você. Não há dúvida de que meu irmão tem um temperamento muito
forte, assim será melhor não jogar lenha na fogueira, por enquanto. Isso é algo
que pode esperar até esta noite.
Demétria
olhou para Joseph. Quando recebeu seu consentimento, inclinou-se ante Henry.
Então Joseph a levou para o lado, inclinou-se sobre ela e murmurou algo em seu
ouvido.
Todos
mostraram curiosidade a respeito daquela conversa. Quando Demétria se voltou
novamente para Henry, não podia estar mais radiante.
Nicholas
viu Demétria segurar no braço de Henry e caminh6ar na direção da entrada.
-
O que você disse a ela, Joseph? Em um minuto ela estava prestes a chorar e no
minuto seguinte, ela estava sorrindo e parecendo bem contente.
-
Eu simplesmente me limitei a lembrá-la o final de certa história - disse
Joseph, encolhendo os ombros.
Era
tudo que ele iria dizer sobre aquilo. Kevin sugeriu que ele cuidasse de sua
aparência, e inclusive que dormisse algumas horas.
Embora
parecesse ridículo que Kevin sugerisse que ele fosse se dormir, Joseph seguiu
seu conselho quanto a trocar de túnica.
-
Acredito que seguirei Demétria - comentou Kevin então -. Talvez eu encontre
Anthony montando guarda diante de sua porta e ficarei com ele até esta noite.
Joseph
assentiu.
-
Não permita que Henry pense que você duvida da eficiência de sua guarda -
advertiu-lhe.
Com
essas palavras de despedida, ele foi embora.
Então,
Nicholas se voltou para o barão Liam.
-
Conseguimos evitar uma batalha. Joseph teria entrado nos aposentos do rei e
teria exigido justiça imediata.
-
Uma condição temporária - respondeu Liam -. A batalha ainda está por vir. Os
outros barões visitarão Joseph esta tarde, e vão mantê-lo suficientemente
ocupado. Henry intercedeu, e merece que o feito seja reconhecido. Um dia Joseph
vai agradecê-lo por isso.
-
Que razão Henry poderia ter para estar tão interessado neste assunto? -
perguntou Nicholas.
-
Ele quer a lealdade de Joseph - respondeu Liam -. Venha, Nicholas, ofereça-me
uma bebida refrescante para brindarmos meu iminente casamento com sua irmã -
afirmou satisfeito.
Nicholas
pareceu satisfeito.
-
Então ela aceitou?
-
Ela aceitou. E vou me casar com ela antes que ela mude de ideia.
Nicholas
deu uma gargalhada do comentário de Liam, e ele sorriu. Sentia-se satisfeito
por ter conseguido afastar a atenção de Nicholas dos motivos de Henry. Liam
entendia que Nicholas não precisava estar a par da reunião secreta que ele
havia participado, nem sobre as estranhas perguntas de Henry sobre a lealdade
de Joseph. As razões que tinha para isso eram muito fáceis de entender.
Nicholas podia fazer perguntas aos barões errados, inadvertidamente, causando
problemas que agora não eram necessários. Porque os irmãos Wexton já tinham
problemas mais que suficientes.
-
Depois que tivermos brindado seu casamento, acredito que irei atrás Kevin e
ficarei com ele.
-
O corredor vai estar muito concorrido diante dos aposentos de Demétria,
Nicholas - comentou Liam - Eu me pergunto o que Sebastian vai fazer quando
souber que sua irmã retornou à corte.
O
barão que ele acabava de mencionar tinha ido caçar no bosque do rei. Sebastian
não retornou ao ambiente do castelo até o final da tarde, e foi informado
imediatamente da volta de Demétria.
Sebastian
ficou furioso, naturalmente. Ele foi reivindicar sua irmã.
Anthony
tinha ficado sozinho diante da porta de Demétria. Tanto Kevin como Nicholas
tinham ido se trocar para o jantar e o confronto.
Quando
o vassalo viu Sebastian se aproximar, apoiou-se na parede e lançou um olhar
cheio de desgosto ao irmão de Demétria.
Sebastian
ignorou o vassalo. Bateu à porta com o punho, pediu aos gritos que deixassem
ele entrar.
Henry
abriu a porta. Saudou Sebastian com cortesia e anunciou que ninguém tinha
permissão para falar com Demétria.
Antes
que Sebastian pudesse protestar, a porta foi bruscamente fechada em sua face.
Demétria
presenciou a cena com olhos perplexos. Não sabia o que pensar da conduta de
Henry. O irmão do rei não se afastou dela mais que uns minutos, quando Demétria
entrou no quarto para trocar seu vestido, colocando o que usaria durante seu
encontro com o rei.
-
O rosto de seu irmão está tão vermelho como o do meu - anunciou Henry depois de
ter fechado a porta, impedindo a entrada de Sebastian. Foi até Demétria, pegou
sua mão e a levou até a janela, a uma considerável distância da porta.
-
As paredes têm ouvidos - murmurou, e Demétria reparou em que sua voz era muito
amável e suave.
Foi
ali e nesse mesmo instante, que decidiu descartar os rumores que corriam a
respeito do Henry. Não era um homem muito atraente, e era pequeno em estatura e
largura se comparado a Joseph. Diziam que Henry era ávido por poder, assim como
também era um manipulador. Diziam que tinha um grande apetite carnal, além
disso, havia engendrado mais de quinze bastardos.
Como
estava tendo consideração com ela, Demétria decidiu que não ia julgá-lo.
-
Volto a agradecer por ter ajudado meu marido neste dia - disse quando viu que
Henry continuava olhando para ela com expectativa.
-
Há algo aguçando minha curiosidade a tarde toda - confessou Henry -. Se não for
um assunto particular, eu gostaria que me contasse o que Joseph lhe disse antes
de deixá-la. Você parecia muito feliz.
-
Disse para eu me lembrar que Ulisses está em casa.
Ao
ver que ela não prosseguia com a explicação, Henry ordenou que ela contasse
toda a história.
A
exigência soava arrogante demais, mas mesmo assim Demétria não se sentiu
incomodada.
-
Contei a meu marido uma história a respeito de um guerreiro chamado Ulisses.
Passou muito tempo longe de sua esposa, e quando ao fim retornou, encontrou seu
lar infestado de homens malvados, que tentavam fazer mal a sua esposa e roubar
seu tesouro. Ulisses enviou para sua esposa a mensagem de que tinha voltado ao
lar. Também limpou sua casa daqueles terríveis infiéis. Joseph estava me
lembrando que ele cuidará de Sebastian.
-
Então seu marido e você têm o mesmo caráter - afirmou Henry - Sim, o tempo de
limpar sua casa chegou.
Demétria
não entendeu.
-
Receio que Joseph vá fazer alguma coisa que enfureça nosso rei - murmurou -. Já
me disseram que William tem um temperamento muito forte.
-
Há outra questão que quero falar com você - disse Henry, e sua voz se endureceu
subitamente. Demétria tentou não parecer sobressaltada.
-
Você é amigo de meu marido assim como seus aliados? - perguntou.
Henry
assentiu.
-
Então eu vou fazer o que puder para lhe ajudar - disse Demétria.
-
Você é tão leal quanto Joseph - observou Henry, parecendo satisfeito com a
observação de Demétria -. Se interceder a seu favor perante o rei, você vai
fazer o que ficar decidido? Inclusive se isso significar seu exílio?
Demétria
não soube como responder àquela pergunta.
-
Você poderia estar salvando a vida de seu marido - disse Henry.
-
Eu farei o que for necessário.
-
Terá que confiar em mim tanto quanto confia em seu marido - advertiu Henry.
Demétria
assentiu.
-
Meu marido acredita que você é o mais inteligente dos três... - começou a
dizer, e logo deixou escapar uma exclamação abafada quando reparou no que
acabava de dizer.
Henry
começou a rir.
-
Assim Joseph sabe o meu valor, não é?
Demétria
se ruborizou.
-
Sim - disse -. Eu farei qualquer coisa para proteger meu marido. Se isso
significar minha própria morte, então que assim seja.
-
Está me dizendo que pensa em sacrificar a si mesma? - perguntou Henry. Sua era
suave agora. Também estava sorrindo, confundindo Demétria -. Não posso imaginar
Joseph estando de acordo com seu plano.
-
Este assunto é terrivelmente complicado - murmurou Demétria.
-
Você disse que confia em mim. Vou ajudar sua causa, minha querida.
Demétria
assentiu. Resolveu fazer uma reverência, mas decidiu ajoelhar-se.
-
Eu agradeço por sua ajuda.
-
Levante-se, Demétria. Não sou seu rei.
-
Eu queria que você fosse - confessou Demétria. Manteve a cabeça baixa, mas
permitiu que ele a ajudasse a ficar de pé.
Henry
não respondeu ao seu comentário traidor. Foi para a porta, e antes de abri-la e
voltou-se novamente para Demétria.
-
Desejos tornam-se realidade, Demétria.
Demétria
franziu o cenho por aquele comentário tão entranho que Henry acabava de fazer.
-
Não mostre lealdade a nenhum dos lados quando entrarmos no salão, Demétria.
Deixe todos especularem até você ser chamada para falar. Eu permanecerei ao seu
lado.
Depois
de ter dito aquelas palavras, Henry saiu dos aposentos.
Passaram-se
duas horas antes de o irmão do rei voltar e levá-la com ele. Demétria andou ao
lado dele, mantendo as costas retas e com as mãos imóveis ao lado. Rezou para
ter uma aparência serena, e pensou que morreria se não visse logo Joseph.
Precisava saber que ele estava por perto.
Quando
ela e Henry entraram no grande salão, Demétria viu que chegavam com bastante
atraso. A maioria dos convidados já tinha terminado de jantar e os servos
estavam esvaziando as mesas.
Pôde
sentir como todos olhavam para ela. Demétria enfrentou aqueles olhares cheios
de curiosidade com uma expressão tranquila. O fingimento era muito difícil de
manter, e tudo porque quando percorreu lentamente o salão com o olhar não pôde
encontrar Joseph entre a multidão.
Seu
marido estava esperando contra a parede do fundo, com o Nicholas e Kevin
imóveis ao lado dele. Joseph contemplou como sua esposa entrava na sala. Cheia
de compostura, ela estava muito, muito bonita. Usava o vestido de quando se
casaram. A lembrança daquele bendito acontecimento salvou Joseph de correr
atrás dela.
-
Tem o porte de uma rainha - sussurrou Nicholas.
-
Agora ela não está nada desajeitada - queixou-se Kevin.
-
Ela está aterrorizada.
Joseph
fez aquele comentário, enquanto dava um passo adiante. Nicholas e Kevin
reagiram imediatamente, interpondo-se em seu caminho.
-
Demétria virá até você, Joseph. Dê tempo a Henry.
Sebastian
estava falando com Demétria. Henry havia se virado para falar com um velho
conhecido.
-
Vou empurrar minha lâmina em suas costas, se você der um passo na direção do
Barão de Wexton - ameaçou Sebastian -. E também darei a ordem de matar seu
querido sacerdote.
-
Diga-me uma coisa - murmurou Demétria, surpreendendo a seu irmão com a ira que
havia em sua voz -. Também vai matar Joseph e a seus irmãos, e a todos seus aliados?
Sebastian
não pôde se conter e agarrou com força o braço de Demétria.
-
Não me ponha à prova, Demétria. Tenho mais poder que qualquer outro homem na
Inglaterra.
-
Mais poder que nosso rei? - disse Henry. Sebastian se sobressaltou
visivelmente. Ele se virou para encarar Henry, torcendo o braço de Demétria no
processo.
-
Sou o humilde conselheiro de seu irmão, nada mais e nada menos.
Henry
mostrou seu desagrado pela observação que Sebastian acabava de fazer. Agarrou a
mão de Demétria, separando-a de Sebastian sem nenhum olhar. Em seguida,
contemplou em silêncio os sinais avermelhados que haviam no braço de Demétria.
Quando voltou a olhar para Sebastian, seus olhos refletiam o desgosto que
sentia.
-
Vou apresentar sua irmã a alguns de nossos leais amigos - falou com a voz
desafiante e cheia de dureza.
Sebastian
retrocedeu. Depois lançou outro olhar ameaçador a Demétria e dirigiu uma
inclinação de cabeça a Henry.
-
O que ele lhe disse? - quis saber Henry.
-
Prometeu matar meu tio Berton se eu der um só passo na direção de Joseph.
-
Ele blefa, Demétria. Agora Sebastian não pode fazer nada, ao menos diante de
seus pares. E amanhã será muito tarde. Terá que confiar quando afirmo que sei
muito bem do que estou falando.
Camille
obviamente havia presenciado como Sebastian era desprezado por Henry, veio até
eles para saudar Demétria.
-
Eu ia mostrar a Demétria os impressionantes jardins de meu irmão - disse Henry
para ela.
-
Oh, também eu adoraria ver os jardins - afirmou Camille.
Era
perfeitamente visível que seu plano consistia em manter-se perto de Demétria,
mas Henry frustrou seus propósitos.
-
Em outra ocasião, talvez? - disse.
Camille
não foi capaz de esconder o ódio em seu olhar. Deu meia volta sem dizer uma
palavra mais e se afastou.
Demétria
andou com Henry para as portas que davam ao terraço.
-
Quem é esse homem que está falando com Kevin? - perguntou então -. Aquele com
os cabelos de uma cor tão viva. Parece estar bem preocupado por algo.
Henry
localizou rapidamente o homem sobre quem Demétria falava.
-
É o barão de Rhinehold.
-
Ele é casado? Tem uma família? - perguntou Demétria, tentando não parecer muito
curiosa.
-
Ele nunca teve uma esposa - disse Henry -. Por que tanto interesse por
Rhinehold?
-
Ele conhecia minha mãe - respondeu Demétria. Ela continuou observando o barão
de Rhinehold, esperando que ele voltasse o olhar em sua direção. Quando
finalmente a olhou, Demétria sorriu para ele.
Embora
soubesse que isso não era possível, desejou poder passar alguns minutos a sós
com o barão. Segundo Camille, Rhinehold era o pai de Demétria, e a razão pela
qual o marido de Dianna a odiou tanto.
Demétria
era uma bastarda. A verdade não a envergonhava. Ninguém jamais chegaria a saber
a verdade, exceto Joseph, naturalmente, e... Santo Deus, não tinha se lembrado
de contar para ela.
-
Joseph chama o barão de Rhinehold de amigo? - perguntou a Henry.
-
Sim, ele o chama - respondeu Henry -. Por que me pergunta isso?
Demétria
não sabia como lhe responder, por isso tentou mudar de assunto.
-
Eu gostaria de poder falar com Joseph, ainda que fosse por um minuto. Acabo de
me lembrar que preciso compartilhar um assunto com ele.
-
A sorte está do seu lado, Demétria. Não acaba de ver Sebastian partir com seus
amigos? Sem dúvida vai fazer uma última tentativa de influenciar nosso rei
antes de que comece a reunião. Espere na terraço e enviarei Joseph.
Demétria
não esperou muito tempo para seu marido chegar.
-
Isso vai terminar logo, Demétria - disse Joseph como saudação. Depois a tomou
em seus braços e a beijou meigamente -. Logo, amor, prometo isso. Tenha fé em
mim, meu doce...
-
Tenha fé em mim, Joseph - sussurrou Demétria -. Você tem, não é verdade, meu
marido?
-
Tenho - respondeu Joseph -. Venha, fique ao meu lado quando falarmos com o rei.
William deve chegar a qualquer momento.
Demétria
sacudiu a cabeça.
-
Sebastian acredita que eu vou ajudar a prender você - disse-lhe -. Henry quer
que meu irmão continue confiando em sua vitória até o último momento, e essa é
a razão pela qual não posso estar perto de você. Não franza o cenho dessa
maneira, Joseph. Logo tudo terá terminado. E tenho que lhe dar a notícia
maravilhosa. De fato, há vários dias conheço a verdade, mas tantas coisas
aconteceram que me esqueci por completo de lhe dizer isso, quando o vi pela
primeira vez e...
-
Demétria.
Então
ela reparou que tinha começado a balbuciar atropeladamente.
-
Sou ilegítima. O que acha dessa notícia, marido?
Joseph
ficou surpreso.
-
Sou uma bastarda, Joseph. Isso não lhe agrada? Juro por Deus que eu me sinto
muito feliz, porque isso significa que não tenho nenhuma relação familiar com
Sebastian.
-
Quem chamou você de bastarda? - quis saber Joseph, sem que chegasse a levantar
a voz, mas falando em um tom cheio de raiva.
-
Ninguém. Ouvi quando Sebastian falava com Camille. Sempre me perguntei por que
Sebastian e seu pai se voltaram contra minha mãe. Agora conheço a verdade.
Minha mãe levava uma criatura em seu ventre quando se casou com o pai de
Sebastian. Ela estava grávida de mim. - Joseph olhou fixamente para Demétria
sem dizer nada, e ela pensou que provavelmente ele estivesse preocupado -.
Importa-se por eu ser uma bastarda?
-
Deixa de dizer essas coisas - ordenou Joseph. Sacudiu a cabeça. Estava sorrindo,
e o coração de Demétria se encheu de amor -. Esposa, é a única mulher neste
mundo que é capaz de se alegrar com semelhante notícia - acrescentou, tentando
conter sua risada.
-
Sebastian não dirá isso a ninguém - murmurou Demétria -. Ele me livrou e ele
nem sequer sabe. Você se importa?
-
Como pode me fazer semelhante pergunta?
-
Porque eu amo você - disse Demétria, fingindo suspirar -. E tanto faz se você
está aborrecido ou não. Tem que me amar sempre, marido. Deu-me sua palavra.
-
Sim, Demétria - respondeu Joseph - Amarei você para sempre.
Então
os trompetes soaram atrás deles, no exato momento em que Joseph se inclinava
sobre sua esposa para voltar a beijá-la.
-
Por acaso você sabe quem é seu pai? - ele perguntou, quando viu que o medo
voltava a estar presente nos olhos de Demétria.
-
Rhinehold - informou Demétria, assentindo vigorosamente quando Joseph sorriu -.
Isso deixa você feliz - disse depois -. Posso ver que você está.
-
Sinto-me muito feliz - murmurou Joseph -. Rhinehold é um bom homem.
Henry
os interrompeu.
-
Chegou o momento - anunciou -. E agora venha comigo, Demétria. O rei espera.
Joseph
pôde senti-la tremer e a apertou suavemente antes de soltá-la. Quando a viu se
afastar, sua mente se esforçou desesperadamente para encontrar algo, alguma
coisa que aliviasse a preocupação que sua esposa estava sentindo.
Demétria
acabava de chegar à porta quando Joseph a chamou.
-
Rhinehold tem os cabelos vermelhos, esposa. Tão vermelhos como o fogo.
Ela
não se virou.
-
Esta cor é mais castanha que vermelha, Joseph - disse-lhe -. Sem dúvida até
você é capaz de perceber.
E então o som da
risada de Demétria chegou até ele e Joseph soube que todo iria bememétria, fingindo suspirar -. E tanto faz se você
está aborrecido ou não. Tem que me amar sempre, marido. Deu-me sua palavra.
-
Sim, Demétria - respondeu Joseph - Amarei você para sempre.
Então
os trompetes soaram atrás deles, no exato momento em que Joseph se inclinava
sobre sua esposa para voltar a beijá-la.
-
Por acaso você sabe quem é seu pai? - ele perguntou, quando viu que o medo
voltava a estar presente nos olhos de Demétria.
-
Rhinehold - informou Demétria, assentindo vigorosamente quando Joseph sorriu -.
Isso deixa você feliz - disse depois -. Posso ver que você está.
-
Sinto-me muito feliz - murmurou Joseph -. Rhinehold é um bom homem.
Henry
os interrompeu.
-
Chegou o momento - anunciou -. E agora venha comigo, Demétria. O rei espera.
Joseph
pôde senti-la tremer e a apertou suavemente antes de soltá-la. Quando a viu se
afastar, sua mente se esforçou desesperadamente para encontrar algo, alguma
coisa que aliviasse a preocupação que sua esposa estava sentindo.
Demétria
acabava de chegar à porta quando Joseph a chamou.
-
Rhinehold tem os cabelos vermelhos, esposa. Tão vermelhos como o fogo.
Ela
não se virou.
-
Esta cor é mais castanha que vermelha, Joseph - disse-lhe -. Sem dúvida até
você é capaz de perceber.
E então o som da
risada de Demétria chegou até ele e Joseph soube que todo iria bem.Gigante ne
desculpem nao postar esse fds. esqueci