segunda-feira, 20 de maio de 2019

Esplendor da Honra Capitulo 22

Porque andamos na fé, e não na visão
Segunda epístola aos Corintios, 5, 7
Demétria contou tudo para ele.
O relato de tudo que havia acontecido a Demétria levou quase dois dias. O querido sacerdote quis ouvir cada palavra, cada sentimento, cada acontecimento.
O padre Berton tinha chorado lágrimas de alegria quando Demétria entrou em sua pequena casa campestre. Ele admitiu que havia sentido falta dela terrivelmente, e durante a maior parte daquele primeiro dia não foi ser capaz de controlar suas emoções. Demétria, naturalmente, também derramou uma boa quantidade de lágrimas. Seu tio afirmou que aquela falta de disciplina não era reprovável, porque afinal eles estavam sozinhos, e ninguém poderia presenciar sua exibição emocional. Os companheiros do padre Berton tinham ido visitar outro velho amigo que havia adoecido subitamente.
Somente quando ela terminou de preparar o jantar e eles estiveram sentados um ao lado do outro em suas poltronas favoritas, foi que Demétria finalmente começou sua narrativa. Enquanto o sacerdote jantava, Demétria contou sua história. Pensou em fazer um breve resumo, mas tio Berton permitiria uma história acanhada.
O sacerdote parecia saborear cada detalhe, e não permitia que Demétria continuasse até que ele memorizasse cada palavra. Sua experiência como tradutor e guardião de antigas histórias foi a razão que Demétria acreditou para aquela peculiaridade tão familiar.
Assim que Demétria viu seu tio, preocupou-se com sua saúde. O padre Berton parecia estar perdendo as forças. Demétria viu que agora seus ombros estavam um pouco mais curvados que antes. Suas costas também pareciam um pouco mais dobrada, e não se movia pela casa com tanta rapidez. Mas seu olhar era igualmente direto, e seus comentários extremamente afiados. A cabeça do padre Berton estava tão aguçada como sempre. Quando ele confessou que seus companheiros não voltariam a viver seus últimos anos com ele, Demétria supôs que a solidão, e não a avançada idade de cinquenta verões, explicava as mudanças que tinha notado nele.
Demétria confiava que Joseph viria buscá-la, mas quando três dias se passaram, e não houve nenhum sinal de Joseph, sua confiança começou a evaporar.
Demétria admitiu seus temores para seu tio.
- Talvez tenha mudado de ideia assim que voltou a estar com lady Eleanor.
- Tudo isso que você está me dizendo são tolices - avisou o padre Berton -. Eu tenho tanta fé como você, criança, que o barão de Wexton sabia que Lawrence não era um sacerdote. Ele pensou ter-se casado com você, e para um homem a dar semelhante passo, tem que haver um autêntico compromisso em seu coração. Você me contou qual foi sua declaração de amor. Não tem fé na palavra dele?
- Oh, é obvio que tenho - respondeu Demétria -. Joseph me ama, padre. No fundo de meu coração eu sei que ele me ama, mas uma parte da minha mente continua me preocupando. Acordei durante a noite, e o primeiro pensamento que me veio à cabeça não pôde ser mais assustador. Perguntei a mim mesma o que eu faria se ele não viesse me buscar. E se ele tiver mudado de ideia?
- Então ele seria um estúpido - respondeu o padre Berton. Um súbito brilho apareceu nos olhos do sacerdote -. E agora conte outra vez a este velho, minha criança, quais foram as palavras que você disse a lady Eleanor, aquela de lindos cabelos vermelhos e porte de rainha.
Demétria sorriu da maneira como ele brincava com ela sobre sua própria descrição de Lady Eleanor.
- Disse que eu era o maior tesouro de Joseph. Não foi uma observação muito humilde, não?
- Disse a verdade, Demétria. Isso é algo que seu coração sabe muito bem, mas concordo que há uma pequena porção de sua mente que precisa de um pouco de confiança.
- Joseph não é nenhum estúpido - disse Demétria então, falando com uma convicção que deu nova firmeza a sua voz -. Ele não vai me esquecer.
Ela fechou os olhos e apoiou a cabeça na almofada que cobria o respaldo de seu assento. Tanta coisa aconteceu em tão pouco tempo! Agora, enquanto estava sentada ao lado de seu tio, parecia como se na verdade nada houvesse mudado.
Os antigos medos tentavam dominá-la. Se ela não ficasse em alerta contra eles, não demoraria a chorar e se auto-compadecer. Demétria resolveu descansar. Sim, era apenas por estar tão cansada que ela se inclinava às preocupações.
- Eu tenho valor - balbuciou -. Por que demorei tanto tempo para perceber?
- O tempo carece de importância - disse seu tio -. O que importa é que, por fim, você percebeu.
O rumor de um trovão atraiu a atenção de seu tio.
- Soa como se fôssemos ter uma boa tormenta em alguns minutos - ele observou, enquanto se levantava e começava a fechar a janela.
- Esse trovão soou perto o bastante levar o telhado - observou Demétria, com sua voz em um sussurro sonolento.
O padre Berton estava a ponto de concordar com o comentário de sua sobrinha quando chegou à janela e olhou para fora. O que seus olhos viram, deixou-o sobressaltado a tal ponto que precisou apoiar as mãos no parapeito da janela, ou de outra maneira teria perdido o equilíbrio e, com certeza, caído de joelhos.
Agora o trovão estava em silêncio. Mas o padre Berton pôde vê, o relâmpago, que entretanto não estava no céu. Não, estava no chão... tão longe quanto seus olhos podiam ver.
O sol se impôs à falsa aparência, desviando os estilhaços de prata que ricocheteavam de peitoral para peitoral.
Era uma legião, unida atrás de um só guerreiro, todos armados, quietos e esperando.
O padre Berton arregalou os olhos ante aquela magnífica visão. Deu uma rápida inclinação de cabeça ao homem que liderava aqueles soldados e virou-se para se sentar novamente em sua cadeira.
Um grande sorriso transformava o rosto do velho sacerdote. Quando ele novamente se sentou ao lado de Demétria, deixou seu sorriso de lado, atrevendo-se a fingir um tom de desgosto em sua voz, e disse:
- Acredito que aí fora tem alguém querendo lhe ver, Demétria. É melhor ver quem é, criança. Eu estou muito cansado para voltar a me levantar.
Demétria franziu o cenho pelo pedido do padre Berton. Não tinha ouvido ninguém bater à porta. Como meio de acalmá-lo, levantou-se disposta a fazer o que ele acabava de pedir. Ela falou sobre seu ombro, acreditando tratar-se de Marta, fazendo-lhes uma visita para trazer ovos frescos e velhas fofocas.
O padre realmente riu do hilário comentário de Demétria, que chegou ao extremo de dar uma palmada no joelho.
Ela achou uma reação bem estranha, tratando-se de um homem que acabava de alegar cansaço.
E então ela abriu a porta.
Demétria precisou de alguns minutos para compreender o que ela estava vendo. Ficou tão atônita que não podia se mexer. Ela simplesmente ficou ali, no meio da soleira, com as mãos apertadas ao seu lado, enquanto olhava para Joseph.
Ele não a tinha esquecido afinal. A compreensão foi entrando na mente de Demétria depois que o atordoamento inicial se dissipou.
Ele não estava sozinho. Não, porque havia mais de cem soldados alinhados atrás do lord deles. Todos estavam sobre suas montarias, todos usavam suas impressionantes armaduras de batalha, e cada um deles olhava para ela.
Um sinal silencioso percorreu a legião. Como se fosse um só homem, todos os soldados levantaram suas espadas em sinal de saudação. Era a exibição de lealdade mais magnífica que Demétria jamais havia presenciado.
Ela estava emocionada. Demétria nunca havia se sentido tão cuidada, tão amada, e tão, tão valiosa.
E então compreendeu qual a razão pela qual Joseph havia convocado tantos de seus soldados para fazer aquela viagem. Com isso ele mostrava quão importante Demétria era para ele. Sim, estava demonstrando seu valor.
Joseph não se mexeu. Durante um bom tempo não disse palavra alguma. Ele estava feliz por estar no lombo de Silenus, contemplando sua linda esposa. Joseph pôde sentir como a preocupação e a incerteza despareciam do coração de Demétria. Para falar a verdade, pensou que fosse o homem mais feliz do mundo.
Quando viu as lágrimas que desciam pelo rosto de Demétria, finalmente disse as palavras que ele acreditava que ela precisava ouvir.
- Eu vim a por você, Demétria.
Seria uma coincidência que Joseph estivesse repetindo as mesmas palavras que ele havia dito para ela na primeira vez? Demétria não acreditava nisso. A expressão refletida nos olhos de Joseph fizeram-na acreditar que ele não havia esquecido.
Demétria se afastou da porta, jogou-se seus cabelos em cima do ombro e depois, lenta e deliberadamente, apoiou as mãos no quadril.
- Já era hora, barão de Wexton. Levo uma eternidade esperando por você.
Demétria viu que sua arrogante observação agradou Joseph, mas não pôde ter certeza, porque Joseph se moveu muito depressa para que ela conseguisse ver sua face. Em um minuto ele estava imóvel sobre Silenus, e no minuto seguinte, ele a puxava para os seus braços.
Quando ele se inclinou para beijá-la, Demétria jogou os braços em seu pescoço. Ela se agarrou a ele, enquanto a boca de Joseph descia febrilmente sobre a dela com uma possessividade quase frenética. A língua de Joseph deslizou na boca de Demétria para reconquistar aquilo que lhe pertencia.
Demétria teve a sensação de estar sendo arrastada por uma súbita onda de excitação que percorria todo seu ser, e respondeu à exigência de Joseph, dando-lhe tudo aquilo que ela sabia dar. Demétria se mostrou igualmente selvagem em seu afã por devorá-lo. Ela estava tão faminta pelo toque de Joseph, quanto excitada.
Um ruído finalmente penetrou a mente de Joseph. A razão demorou bastante para retornar. Afastou seus lábios de Demétria só para voltar imediatamente a seus lábios machucados pela segunda vez.
Demétria também percebeu o ruído. Quando Joseph finalmente levantou sua cabeça da dela, ela compreendeu que os soldados estavam comemorando. Santo Deus, esqueceu-se por completo que estavam ali!
Ele percebeu que se ruborizava e não se importou. Joseph não nem um pouco incomodado, mas atrás da barba que havia crescido em uma semana, e do pó que cobria a sujeira que havia nele, custava-lhe muito saber qualquer reação dele.
Ele voltou a beijá-la, desta vez com um beijo rápido e cheio de paixão que avisou a Demétria que aquela plateia não o incomodava absolutamente. Os braços de Demétria rodearam sua cintura. Apoiou o rosto no peito de Joseph e o estreitou contra ela com todas suas forças.
Ele suspirou, feliz por seu entusiasmo.
Demétria se lembrou de suas obrigações, quando ouviu soar um discreto pigarro atrás dela. Deveria apresentar Joseph a seu tio. O problema é que não podia fazer com que as palavras saíssem de sua garganta. E quando Joseph se inclinou e sussurrou: «Amo você, Demétria», ela ficou bem preocupada em chorar e falar ao mesmo tempo.
Joseph indicou com um gesto que seus homens desmontassem e se virou para olhar por cima da cabeça de Demétria para o ancião que esperava a uma curta distância atrás dela. Ele atraiu Demétria para si, não permitindo que ela se afastasse dele, ainda que por apenas alguns minutos, e disse:
- Sou o barão de Wexton.
- Eu realimente espero que seja - respondeu o padre Berton. O sacerdote sorriu de sua própria piada e começou a inclinar-se diante ele, mas a mão do barão se apressou a colocar fim àquela amostra de respeito.
- Sou eu quem deveria me ajoelhar diante do senhor - disse ao sacerdote -. Sinto-me muito honrado em, por fim, poder conhecê-lo, padre.
As palavras do barão encheram o sacerdote de humildade.
- Ela é o seu maior tesouro, não é verdade, barão? - perguntou, voltando seu olhar para Demétria.
- Sim, ela é - admitiu Joseph -. Sempre estarei em dívida com o senhor - acrescentou - Por tê-la protegido para mim durante todos esses anos.
- Ela ainda não é sua - anunciou o padre Berton, sentindo-se muito contente pela surpresa que causava sua observação -. Sim, eu ainda devo entregá-la a você. Estou falando de um casamento, barão, de um autêntico casamento, e quanto mais rápido ele acontecer, melhor para a paz de espírito deste velho.
- Então, case-nos pela manhã - pediu Joseph.
O padre Berton tinha presenciado o apaixonado beijo que acabavam de trocar o barão e sua sobrinha, e não estava nada seguro de que a manhã seguinte fosse ser cedo o bastante.
- Então esta noite você não dormirá com Demétria - advertiu-lhe -. Eu continuarei guardando-a como é devido, barão de Wexton.
Joseph e o padre Berton trocaram um longo e intenso olhar. Então, Joseph sorriu. Pela primeira vez em muito tempo, tinha descoberto que não podia intimidar uma pessoa. Não, o sacerdote não ia recuar diante ele.
Assentiu.
- Esta noite.
Demétria presenciou aquela breve conversa. Sabia muito bem sobre o que os dois homens estavam falando, e pensou que devia ter ficado tão vermelha como o pôr do sol. Afinal de contas, saber que ela tinha dormido com o barão deveria ser bem constrangedor para seu tio Berton.
- Eu também eu gostaria de me casar com Joseph esta noite, mas eu não... - Demétria fez uma pausa em sua explicação, quando viu que Anthony estava ali e se detinha ao lado dela -. Padre Berton, este é o vassalo do qual falei - disse, sorrindo.
- Foi você que se colocou entre minha sobrinha e Sebastian quando ele tentou agredi-la outra vez? - perguntou o sacerdote, dando um passo à frente para estreitar a mão de Anthony.
- Sim, fui eu - admitiu Anthony.
- Outra vez? - gritou Joseph -. Você não estava sob o amparo do rei?
- Não foi nada! - protestou Demétria.
- Sebastian a teria matado - interveio o sacerdote.
- Sim, ele queria fazer muito mal a ela - disse Anthony. Demétria pôde sentir a tensão nos dedos de Joseph que seguravam sua cintura.
- Não foi nada - voltou a protestar -. Um mero bofetão...
- Ela ainda tem o arroxeado - avisou o padre Berton com uma vigorosa inclinação de cabeça.
Demétria deu uma boa franzida de cenho a seu tio. Será que ele não percebia que seus comentários deixavam Joseph fora de si?
Quando Joseph levantou seu rosto para poder ver a marca, Demétria voltou a sacudir cabeça.
- Sebastian nunca mais voltará a me tocar, Joseph. Isso é que importa. Seu leal vassalo me protegeu - acrescentou, antes de voltar a olhar novamente para seu tio -. Tio, por que alimenta a raiva de Joseph?
- Há marcas em seus ombros e em suas costas, barão - disse o padre Berton, fingindo que não havia ouvido a pergunta de Demétria.
- Tio!
- Não me disse nenhuma palavra sobre isso - disse Anthony a Demétria -. Eu deveria ter...
- Basta. Padre, eu o conheço bem. Qual o seu jogo agora? - quis saber Demétria.
- Você estava prestes a dizer ao barão de Wexton que gostaria de se casar com ele esta noite, criança, mas não chegou a terminar seu comentário, não? O certo, barão - disse o sacerdote, voltando-se para o Joseph - é que minha sobrinha tentará atrasar este casamento. Não é isso o que fará, Demétria? Verá, criança - acrescentou, dando a Demétria um terno sorriso -, eu sei o que passa em sua cabeça melhor do que você acredita que eu saiba.
- O que ele disse é verdade? - perguntou Joseph, franzindo o cenho -. Seus sentimentos não mudaram, não? - antes que Demétria pudesse responder, acrescentou -: Isso não me importa. Você me pertence, Demétria. Isso é um fato do qual você não pode dar as costas.
Demétria ficou atônita com o fato de Joseph sentir semelhante insegurança, e foi então que percebeu que os sentimentos dele eram tão vulneráveis como os dela. Parecia que Joseph precisava ouvir as palavras que expressavam o amor de Demétria tão frequentemente como ela precisava.
- Amo você, Joseph disse, falando em voz alta o bastante para que tanto Anthony como o padre Berton pudessem ouvi-la.
- Tenho certeza disso - replicou Joseph, voltando a soar orgulhoso. Mas a pressão com que a segurava diminuiu, e seu corpo relaxou ao lado dela.
- Há muito a ser visto - comentou Anthony -. Preciso falar com você em particular, barão. - O vassalo deu meia volta e começou a se afastar.
- E certamente vocês precisam comer alguma - acrescentou o sacerdote, virando-se para entrar em sua casa – Vou começar os preparativos imediatamente.
- Primeiro um banho - disse Joseph, dando um bom apertão em Demétria antes de soltá-la. Ele já estava seguindo o tio de Demétria, quando as palavras que saíram dos lábios dela o deixaram paralisado. Anthony e o padre Berton também se detiveram.
- Ainda não podemos nos casar, Joseph.
A expressão que apareceu no rosto dos três homens informou a Demétria que a nenhum deles tinha gostado do anúncio que ela acabava de fazer.
Demétria juntou as mãos. Ela falou bem depressa, porque queria que Joseph entendesse sua razão antes de começar gritar.
- Se pudéssemos esperar até que Liam se case com a Miley, então Sebastian não poderia usar o argumento de...
- Eu sabia - murmurou Anthony -. Ainda está tentando proteger o mundo. Esse é uma das coisas que preciso explicar, barão.
- Ela sempre está disposta a proteger quem ela acredita estar precisando - disse o sacerdote.
- Você não entende - disse Demétria, apressando-se a encarar Joseph -. Se nos casarmos agora, estará indo contra a vontade do seu rei. William dará Miley a Sebastian. Era isso que dizia a carta, Joseph.
Demétria teria prosseguido com seu argumento, se não fosse pela expressão que viu aparecer nos olhos de Joseph. Não pôde deixar de torcer suas mãos, mas foi capaz de fechar a boca.
Joseph a contemplou Demétria com um longo silêncio. Ela não sabia se agora ele estava contente ou furioso com ela.
- Só tenho uma pergunta a fazer, Demétria. Você tem fé em mim?
Demétria não precisou par. Sua resposta foi rápida e firme.
- Eu tenho.
Sua resposta o agradou. Joseph a abraçou, depositou um casto beijo sobre sua testa e se virou pela segunda vez.
- Vamos nos casar esta noite.
Ele se deteve, mas não se virou. Demétria já sabia o que Joseph esperava. Sim, ele esperava pela resposta dela.
- Sim, Joseph, vamos nos casar esta noite.
Era a resposta correta, claro está. Demétria soube sem lugar a dúvidas quando seu tio começou a rir suavemente, Anthony começou a assobiar, e Joseph se voltou, para lhe dirigir um firme assentimento de cabeça.
Ele não estava sorrindo. Mas isso não incomodou Demétria, por compreender que Joseph nunca havia duvidado dela. Sua resposta era apenas uma confirmação, nada mais.
A hora seguinte foi um torvelinho de atividade. Enquanto Joseph e Anthony sentavam à mesa naquela pequena casa e jantavam, o padre Berton foi explicar a situação ao seu anfitrião, o conde de Grinsteade.
O conde ainda se agarrava à vida, e embora não tivesse forças para assistir à cerimônia, Joseph iria lhe fazer uma visita formal depois que casamento acontecesse.
Joseph e seu vassalo foram ao lago que havia atrás da mansão do conde para tomarem banho e falarem em particular. Demétria usou esse tempo para trocar seu vestido. Escovou os cabelos até ficarem satisfatoriamente ondulados, e então decidiu esquecer a moda e deixá-lo solto. Sabia que Joseph gostava deles daquela maneira.
Voltava a usar as cores de Joseph, claro. Seus sapatos e seu vestido eram de um creme pálido, e ficavam parcialmente cobertos pela meia túnica de cor azul real costurada à mão. Demétria tinha passado quase um mês trabalhando no laço que rodeava o pescoço do vestido, dando-lhe diminutos pontos, todas elas da cor da creme, para criar o efeito que desejava conseguir com aquele motivo. No centro de sua obra estava a silhueta de seu lobo mágico.
Pensou que Joseph provavelmente nem sequer perceberia. Guerreiros de seu porte não tinham tempo para notar semelhantes coisas.
- Bem, na verdade, é melhor que seja assim - admitiu em voz alta -. Pensaria que eu estava imaginando coisas, e então certamente zombaria de mim.
- Quem zombaria de você? - perguntou Joseph, detendo-se na soleira.
Demétria se virou com um sorriso no rosto e olhou para seu guerreiro.
- Meu lobo - respondeu imediatamente -. Tem alguma coisa errada, Joseph. Você parece... perturbado.
- Você fica mais bonita a cada hora que passa - sussurrou Joseph, com a voz tão suave como uma carícia.
- E você mais atraente - disse Demétria. Sorriu, e depois se atreveu a zombar um pouco dele -. Mas estava me perguntando por que meu futuro esposo vai ao seu próprio casamento vestido de preto. É uma cor tão sombria... - afirmou -. É uma cor usada para o luto. Será que você já decidiu usar luto pelo seu destino, milord?
Os comentários de Demétria deixaram Joseph surpreso, e ele encolheu o ombro antes de responder.
- Está limpo, Demétria. Isso é tudo o que deve importar. Além disso, é a única roupa que trouxe comigo de Londres. - Deu um passo para ela, sua intenção era claramente visível em seu sombrio olhar -. Vou deixá-la aturdida o suficiente com beijos para que perceba a roupa que visto.
Demétria correu para o outro lado da mesa.
- Não pode me beijar até estarmos casados - disse, tentando não rir -. E por que você não fez a barba?
Joseph continuou a perseguir seu objetivo.
- Depois.
O que ele queria dizer com isso? Demétria fez uma pausa para franzir o cenho.
- Depois?
- Sim, Demétria, depois - respondeu Joseph, e seu olhar abrasador a deixou tão confusa como sua estranha observação
Ela titubeou deliberadamente por tempo suficiente para ser capturada. Joseph a atraiu para seus braços, e se preparava para tomar os lábios de Demétria, quando a porta se abriu. Um ruidoso pigarro ganhou sua atenção.
- Estamos esperando para começar - anunciou o padre Berton -. Porém, há um pequeno problema.
- O que houve? - perguntou Demétria, quando conseguiu sair dos braços de Joseph, ajeitando sua aparência.
- Eu gostaria de acompanhá-la ao altar, mas não posso estar em dois lugares ao mesmo tempo. E quem serão as testemunhas neste ato? - acrescentou, franzindo o cenho.
- Não pode ir até o altar acompanhando Demétria e então realizar a missa? - perguntou Joseph.
- E quando na qualidade de sacerdote eu perguntar quem dá esta mulher em santo casamento, deveria correr e ficar ao lado de Demétria para responder minha própria pergunta?
Joseph sorriu, imaginando-a cena.
- Vai ficar realmente estranho, mas acredito que poderia fazê-lo - anunciou o pai Berton.
- Todos os meus soldados serão testemunhas - disse Joseph -. Anthony ficará atrás de Demétria. Isso será o bastante para o senhor, padre?
- Que assim seja - decretou o padre Berton -. E agora, barão, vá e espere junto ao altar improvisado que preparei fora. Vou casá-los sob a lua e as estrelas. Esse é o autêntico palácio de Deus, segundo meu julgamento.
- Estou de acordo. Bem, então vamos terminar logo com isto.
Suas palavras não agradaram muito Demétria. Ela seguiu Joseph, puxando sua mão para ganhar sua atenção.
- Terminar logo com o quê? - perguntou com o cenho franzido.
Quando ele baixou o olhar para ela, Demétria notou que Joseph a provocava. E quando ele falou, e a expressão zangada de Demétria desapareceu por completo.
- Estivemos unidos um ao outro desde o momento em que nos conhecemos, Demétria. Deus sabia, eu sabia, e se você refletir sobre a verdade, você também vai admitir. Nós nos prometemos um ao outro, e ainda que Lawrence não fosse um sacerdote e não pudesse nos dar sua verdadeira bênção, nós continuamos casados.
- Desde o momento em que esquentei seus pés - murmurou Demétria, repetindo a explicação que ele havia dado no passado.
- Sim, desde aquele momento.
Demétria parecia estar a ponto de chorar. Que mulher tão emotiva sua delicada esposa havia se transformado! Embora a reação dela agradasse Joseph, sabia que Demétria não desejaria parecer indisciplinada na frente de seus homens, e ele imediatamente tratou de ajudá-la a recuperar o controle de si mesma.
- Deveria estar agradecida, sabe.
- Agradecida pelo quê, Joseph? - perguntou Demétria, secando o canto dos olhos.
- Que não era verão quando nos conhecemos.
A princípio Demétria não entendeu. E então ela deu uma alegre gargalhada que encheu de deleite o coração de Joseph.
- Então, foi a estação que deu você para mim. É assim que você pensa?
- Se estivéssemos no verão, então não teria razão para esquentar meus pés - disse, dando a Demétria uma rápida piscada.
Demétria pensou que agora ele parecia mais arrogante.
- Você teria encontrado alguma outra razão - disse.
Joseph teria respondido a esse comentário se o padre Berton não tivesse começado a empurrá-lo para a porta.
- Os homens estão esperando por você, barão.
Assim que Joseph saiu, o padre Berton se virou para Demétria e passou vários minutos, aconselhando-a a respeito de seus deveres como esposa. Quando terminou sua tarefa, o ancião falou do fundo de seu coração, dizendo quão orgulhoso ele se sentia em tê-la em sua família.
E depois ofereceu o braço à mulher que tinha batizado, visto crescer e educado, e a quem tinha amado como uma filha.
Foi uma cerimônia muito bonita, e quando terminou, Joseph apresentou sua esposa a seus vassalos. Os homens se ajoelharam diante de Demétria e ofereceram seu juramento de lealdade.
Joseph estava exausto e impaciente. Deixou sua esposa para fazer uma visita oficial ao conde de Grinsteade, e voltou para a casinha do padre Berton, quando ainda não haviam transcorrido nem vinte minutos desde sua partida.
O sacerdote já tinha ido dormir. Seu colchão estava no outro extremo do quarto. A cama de Demétria estava na parede em frente, com só uma cortina para proteger sua intimidade.
Joseph encontrou sua esposa sentada na beirada estreita cama. Usava o vestido com o qual havia se casado.
Depois tirar sua roupa, Joseph se deitou por cima do cobertor e atraiu Demétria para seu peito. Beijou-a apaixonadamente e então sugeriu que ela se preparasse para ir para cama.
Demétria levou um tempo em sua tarefa. Fazia pequenas pausas para espionar atrás da cortina e ver se seu tio estava dormido. Finalmente, se inclinou sobre Joseph para dizer que realmente acreditava que deveriam encontrar um lugar privado, lá fora, para dormir juntos. Afinal de contas, era sua noite de casamento, e havia-se passado muito tempo desde a última vez em que eles haviam se tocado. Sem dúvida ele poderia encontrar uma maneira para isso, não?, porque assim que ela começasse a beijá-lo, sabia que ia se mostrar terrivelmente apaixonada. Por Deus, ela sabia que ia fazer muito ruído. Ora, ela já estava a ponto de começar a gritar!
Joseph nem tentou fazer com que ela se calasse, e então Demétria notou que realmente não precisava se incomodar em dar qualquer explicação. Seu marido estava profundamente adormecido.
Frustrada, a noiva se aconchegou junto a seu marido, rangeu os dentes e tentou conciliar o sonho.
Os ruídos que fazia o padre Berton moviam-se pelo quarto, despertando Joseph. Em seguida ficou alerta, sentindo que alguma coisa estava errado, sem entender imediatamente o que era.
Começou a se levantar, agora com a mente voltando ao normal, só para ver que esteve a ponto de pisar em Demétria. Joseph sorriu daquele absurdo. Sua esposa estava dormindo no chão, com uma grossa manta como única coberta. Deus, ele havia dormido durante sua noite de núpcias! Joseph sentou do lado da cama e ficou contemplando a sua amada esposa até que ouviu como a porta se abria e depois se fechava atrás do sacerdote. Olhou pela janela que havia ao outro lado da cama a tempo de ver o padre Berton andando rumo ao castelo. O sacerdote havia vestido suas vestimentas eclesiásticas e levava com ele um pequeno cálice de prata.
Joseph se virou novamente para Demétria. Ajoelhou-se perto dela e tomou em seus braços. Depois a colocou sobre a cama. Demétria se deitou imediatamente sobre suas costas, afastando o cobertor com um chute.
Não usava sua camisola de dormir. A luz do amanhecer, entrando pela janela, pintou sua pele com um tom dourado. O sol nascente transformou a magnífica cabeleira de Demétria, dando-lhe a cor do fogo.
O desejo de Joseph se intensificou até que ele ficou dolorido de necessidade. Voltou a se sentar do lado da cama e começou a fazer amor com sua esposa.
Demétria despertou com um suspiro. Sentia-se maravilhosamente letárgica. As mãos de Joseph acariciavam seus seios, e seus mamilos se retesavam, pedindo por mais. Demétria gemeu e remexeu seu quadril sem descanso em um convite sonolento a seu marido.
Ela abriu os olhos e olhou para Joseph. Seu olhar quente fez com que ela estremecesse de desejo. Estendeu as mãos para ele, tentando aproximá-lo um pouco mais ao seu corpo, mas Joseph balançou a cabeça, negando-lhe o que ela pedia.
- Vou dar o que você quer - sussurrou-lhe -. E muito, muito mais - prometeu.
Antes que Demétria pudesse responder, Joseph se inclinou sobre ela e tomou um seio em sua boca. Ele sugava o mamilo enquanto suas mãos acariciavam a lisa suavidade da barriga de sua esposa.
Os gemidos de Demétria se tornaram mais intensos e desenfreados. Os sons que escapavam de sua garganta agradavam Joseph, embora nem tanto como o sabor de Demétria.
A mão dele se moveu entre as pernas dela. Joseph encontrou o tesouro que estava procurando, inseriu um dedo dentro dela e estava quase perdendo a razão diante da resposta apaixonada de Demétria.
Ele queria tudo aquilo.
Joseph rolou bruscamente para o lado até ficar deitado de lado. Demétria se virou para seu marido. O lado de seu rosto ficou apoiado na cálida coxa de Joseph.
A boca de Joseph a deixava enlouquecida. Demétria parecia não ser capaz de respirar, e seu estômago permanecia tensamente contraído, enquanto seu marido ia distribuindo beijos úmidos ao redor de seu umbigo. Os dedos de Joseph prosseguiam com sua doce tortura. Demétria gemeu quando ele separou suas coxas. Ela sabia o que ele queria fazer e ela mesma se abriu para ele, suplicando que ele a beijasse ali.
Joseph moveu-se vagarosamente até que se viu saboreando o calor de Demétria. Sua língua provocava, atormentava. E sua barba deixava louca. Os pelos eram excitantemente abrasivos em contato com a sensível pele da parte interior das coxas de sua esposa.
Demétria queria saborear Joseph. Todo ele.
Não houve nenhuma advertência nas intenções de Demétria, nenhum beijo carinhoso antecedeu sua busca. Demétria arqueou seu quadril contra Joseph quando ela o capturou e o levou a sua boca.
Agora ela estava gemendo. O contato de suas mãos e de sua boca era tão prazerosamente erótico como o de Joseph antes. E não ficou dúvida, porque ele demonstrou seu prazer movendo-se energicamente contra ela. E logo depois, ele se afastou subitamente de Demétria. Virou-se, colocou-se entre as coxas dela e a penetrou. Sua semente jorrou imediatamente, com um orgasmo que parecia não terminar nunca. A força de sua entrega deu a Demétria sua própria versão para o mesmo esplendor.
Demétria estava fraca demais para se mexer, não encontrando força nem mesmo para deixar de agarrar o ombro de seu marido.
Joseph não podia se sentir mais feliz. Pensou em beijar a sua esposa, para mostrar o quão satisfeito ele estava, mas ele foi incapaz de fazer tal esforço. Estava feliz demais para se mexer.
Permaneceram assim, imóveis como um só ser, durante longos e prazerosos minutos.
Demétria recobrou sua consciência antes de Joseph. De repente, se lembrou de onde estavam. Quando se retesou junto a Joseph, ele imaginou quais seriam os pensamentos dela.
- O padre Berton foi rezar a missa - murmurou. Demétria relaxou ao lado dele.
- É claro, você fez ruídos demais para que todo meu exército ouvisse você - acrescentou Joseph.
- Você fez tanto ruído quanto eu - sussurrou Demétria.
- Agora vou fazer mina barba - disse Joseph.
Demétria começou a rir.
- Agora eu entendo sobre o que você se referia quando disse que faria a barba depois, Joseph. Sabia que sua barba me deixaria louca.
Joseph se apoiou nos cotovelos e baixou o olhar para os olhos de Demétria.
- Você sabe o quanto você me dá prazer, esposa?
- Eu sei - sussurrou ela -. Eu amo você, Joseph, agora e sempre.
- Continuou me amando quando descobriu que Lawrence não era um autêntico sacerdote e que eu havia mentido?
- Sim, embora eu quisesse estrangular você por não ter me dito isso. Deus, eu fiquei furiosa!
- Bem - observou Joseph, sorrindo do susto que aquele comentário causou nele -. Fiquei preocupado que você pudesse pensar que também havia mentido a respeito de outras coisas - admitiu.
- Nunca duvidei do seu amor, Joseph - disse Demétria.
- Mas duvidava do seu valor - ele lembrou.
- Não mais - sussurrou Demétria. Ela o atraiu para outro beijo e então ordenou que ele fizesse amor com ela outra vez.
Na segunda vez, a união foi muito mais pausada mas igualmente satisfatória.
Quando o padre Berton retornou a sua casa, encontrou Demétria e Joseph vestidos. O barão estava sentado à mesa, e seu olhar não se afastava um só instante do corpo de sua esposa, enquanto esta estava concentrada no trabalho de preparar o café da manhã de ambos.
- Preciso de um sacerdote, padre - disse Joseph -. Gostaria do dever de cuidar de minha alma? Eu poderia solicitar sua presença imediatamente.
Demétria se sentiu tão feliz pela sugestão de Joseph que aplaudiu alegremente.
O padre Berton sorriu e então rechaçou seu pedido sacudindo a cabeça.
- O conde me deu um teto durante todos estes anos, Joseph. Não posso abandoná-lo agora. Depende de meu conselho. Não, não posso deixá-lo.
Demétria sabia que seu tio estava fazendo a coisa mais honrada, e assentiu.
- Eu sugiro que venha ficar conosco depois que o conde descansar, mas, por Deus, eu acho que ele vai sobreviver a todos nós.
- Demétria! Não diga semelhante maldade dele - ralhou o padre Berton.
Demétria se esforçou para parecer arrependida diante de seu tio.
- Não pretendia ser cruel, tio. E me envergonho por isso, porque compreendo o dever que tem para com o conde.
Joseph assentiu.
- Então viremos lhe visitar, e quando tiver terminado suas obrigações aqui, o senhor viverá conosco.
Joseph se mostrou muito mais diplomático que ela. Demétria viu como seu tio sorria e expressava seu acordo com uma rápida inclinação de cabeça.
- Quanto tempo ainda vamos ficar aqui? - perguntou então a seu marido.
- Devemos partir ainda hoje - anunciou Joseph.
- Poderíamos ficar aqui até que o verão terminasse - ela sugeriu, antes de conseguir parar.
- Partiremos hoje.
Demétria suspirou, Joseph tentava baixar o olhar, e ela percebeu
- Bem, então partiremos hoje - disse.
Então o padre Berton saiu da casa, fingindo a incumbência de pegar o pão nas mãos da cozinheira. Depois que a porta se fechou atrás dele, Demétria foi para seu marido.
- Você deve me permitir ter uma opinião, marido. Nem sempre irei me inclinar a suas ordens.
Joseph sorriu.
- Isso é algo que sei de sobra, Demétria. É minha esposa e governará ao meu lado. Mas seu argumento para ficarmos aqui é do mais...
- Desarrazoado - interrompeu Demétria com um suspiro. Sentou-se no colo de Joseph e rodeou seu pescoço com os braços -. Estou adiando o inevitável. Bem, Joseph, você deve saber toda a verdade a respeito de sua esposa. Algumas vezes, eu sou um pouco covarde.
Joseph achou que a confissão de sua esposa era engraçada. Ele riu, sem se importar que Demétria não parecesse estar contente com sua conduta. Quando recuperou o controle de si mesmo, disse:
- Você tem mais coragem que todos os meus homens juntos. Quem se atreveu a encarar a morte para liberar o inimigo de seu irmão?
- Bem, eu, mas...
- Quem se manteve firme atrás das costas de Nicholas, salvando-lhe a vida?
- Eu, Joseph, mas estava muito assustada e além disso...
- Quem se encarregou de cuidar de minha irmã? Quem conquistou Silenus para transformá-lo em ovelha? Quem...?
- Já sabe que fui eu - voltou a interrompê-lo Demétria. Colocou as mãos nas bochechas de Joseph e disse -: Mas ainda tem que entender. Cada vez que terminei uma dessas tarefas, que você acredita serem tão honoráveis, por dentro eu estava morta. Só de enfrentá-lo bastava para fazer com que me sentisse aterrorizada.
Joseph afastou suas mãos e se inclinou sobre ela para dar um longo beijo.
- O medo não significa que seja covarde, meu amor. Não, na minha maneira de ver as coisas, isso só significa que você é mortal. Só um estúpido coloca a prudência de lado.
Quando concluiu seu discurso, Joseph voltou a beijá-la.
- Você tem que me explicar o que eu tenho que fazer quando retornarmos à corte, Joseph. Não quero desagradá-lo ou dizer o que não devo em resposta às perguntas do rei. William vai me interrogar, não é, Joseph?
Seu marido percebeu o medo que havia em sua voz, e sacudiu sua cabeça.
- Demétria, nada do que faça poderá me desagradar. E você só deve responder às perguntas do rei com a verdade. É só isso que eu peço a você.
- Foi isso que Sebastian me disse - murmurou Demétria -. Ele acredita que minha verdade deixará você preso.
- Esta é minha batalha, Demétria. Você diz a verdade e deixe o resto comigo.
Demétria suspirou. Sabia que ele tinha razão.
Joseph tentou animá-la um pouco.
- Tenho que me barbear antes de partirmos para a corte - anunciou.
Demétria começou a ficar vermelha.
- Preferia que você nunca mais voltasse a se barbear. Cheguei a... apreciar sua barba, milord.
Joseph também soube apreciar a honestidade de sua esposa. Seu apaixonado beijo disse isso a ela.
Joseph e Demétria chegaram a Londres dois dias depois. Nicholas, Kevin e Liam foram recebê-los no portão. Todos mostravam expressões muito sombrias.
Depois de dar um abraço de boas vindas a Demétria, Kevin disse a Joseph que os outros barões já estavam instalados em seus aposentos.
Nicholas abraçou Demétria em seguida. Ele demorou um pouco com a boas vindas, e quando se virou para falar com Joseph, seu braço ainda estava rodeando a cintura de Demétria.
- Você vai ver o rei esta noite?
Joseph notou que Nicholas ainda não tinha superado do todo seu amor por Demétria, e puxou sua esposa para ele antes de responder.
- Irei agora.
- Sebastian pensa que Demétria está com seu tio. Provavelmente estará sabendo de sua volta neste mesmo instante, Joseph. Tenho que lembrar que Sebastian sabe que não estão casados - interveio Liam.
- Agora estamos casados, Liam - disse Joseph -. O padre Berton oficiou a celebração, com meus vassalos como testemunhas da cerimônia.
Liam não pôde evitar sorrir diante aquela notícia.
- O rei vai ficar furioso - previu Kevin com uma carranca -. Ter-se casado antes desta questão ficar resolvida pode ser considerado como um insulto pessoal.
Joseph se dispunha a responder o comentário de Kevin, quando sua atenção se viu subitamente desviada pela chegada dos soldados do rei. Mandados pelo irmão de William, Henry, os soldados marcharam unidos para terminar parando exatamente diante de Joseph.
Henry fez um sinal para que os soldados esperassem e depois disse a Joseph:
- Meu irmão envia seus guardas para escoltar lady Demétria aos aposentos dela.
- Eu vou me apresentar agora mesmo a William para relatar minha versão dos fatos, Henry - disse Joseph -. Eu não gosto de deixar Demétria em nenhum lugar sem que eu esteja por perto. A última vez que ela esteve sob o amparo do nosso rei ela foi maltratada - acrescentou sombriamente.
Henry não mostrou nenhuma reação ante a aspereza das palavras de Joseph.
- É duvidoso, porque o rei nem chegou a saber que ela esteve aqui, Joseph. Sebastian...
- Não permitirei que Demétria volte a correr perigo, Henry - arguiu Joseph.
- Então você deseja que esta querida dama fique presa no centro da luta que você trava com seu irmão? - perguntou Henry.
Antes mesmo que Joseph pudesse responder, Henry disse:
- Venha, ande comigo. Há algo que desejo lhe dizer.
Em deferência a sua posição, Joseph obedeceu à ordem imediatamente. Ele andou ao lado de Henry para uma parte mais resguardada do pátio.
Henry falou durante a maior parte do tempo. Demétria não tinha nem ideia do que ele estava dizendo, mas a expressão que viu aparecer no rosto de seu marido indicou que Joseph não se sentia muito satisfeito com aquela conversa.
Assim que Joseph e Henry voltaram ao grupo que os esperava, Joseph se voltou para sua esposa.
- Vá com Henry, Demétria - disse-lhe -. Ele vai acomodar você.
- Em seus aposentos, Joseph? - perguntou Demétria, tentando não parecer preocupada.
Henry respondeu a sua pergunta.
- Vocês terão seus próprios aposentos, minha querida, sob meu amparo. Até que este assunto tenha ficado resolvido, nem Sebastian nem Joseph poderão se aproximar de você. Não há dúvida de que meu irmão tem um temperamento muito forte, assim será melhor não jogar lenha na fogueira, por enquanto. Isso é algo que pode esperar até esta noite.
Demétria olhou para Joseph. Quando recebeu seu consentimento, inclinou-se ante Henry. Então Joseph a levou para o lado, inclinou-se sobre ela e murmurou algo em seu ouvido.
Todos mostraram curiosidade a respeito daquela conversa. Quando Demétria se voltou novamente para Henry, não podia estar mais radiante.
Nicholas viu Demétria segurar no braço de Henry e caminh6ar na direção da entrada.
- O que você disse a ela, Joseph? Em um minuto ela estava prestes a chorar e no minuto seguinte, ela estava sorrindo e parecendo bem contente.
- Eu simplesmente me limitei a lembrá-la o final de certa história - disse Joseph, encolhendo os ombros.
Era tudo que ele iria dizer sobre aquilo. Kevin sugeriu que ele cuidasse de sua aparência, e inclusive que dormisse algumas horas.
Embora parecesse ridículo que Kevin sugerisse que ele fosse se dormir, Joseph seguiu seu conselho quanto a trocar de túnica.
- Acredito que seguirei Demétria - comentou Kevin então -. Talvez eu encontre Anthony montando guarda diante de sua porta e ficarei com ele até esta noite.
Joseph assentiu.
- Não permita que Henry pense que você duvida da eficiência de sua guarda - advertiu-lhe.
Com essas palavras de despedida, ele foi embora.
Então, Nicholas se voltou para o barão Liam.
- Conseguimos evitar uma batalha. Joseph teria entrado nos aposentos do rei e teria exigido justiça imediata.
- Uma condição temporária - respondeu Liam -. A batalha ainda está por vir. Os outros barões visitarão Joseph esta tarde, e vão mantê-lo suficientemente ocupado. Henry intercedeu, e merece que o feito seja reconhecido. Um dia Joseph vai agradecê-lo por isso.
- Que razão Henry poderia ter para estar tão interessado neste assunto? - perguntou Nicholas.
- Ele quer a lealdade de Joseph - respondeu Liam -. Venha, Nicholas, ofereça-me uma bebida refrescante para brindarmos meu iminente casamento com sua irmã - afirmou satisfeito.
Nicholas pareceu satisfeito.
- Então ela aceitou?
- Ela aceitou. E vou me casar com ela antes que ela mude de ideia.
Nicholas deu uma gargalhada do comentário de Liam, e ele sorriu. Sentia-se satisfeito por ter conseguido afastar a atenção de Nicholas dos motivos de Henry. Liam entendia que Nicholas não precisava estar a par da reunião secreta que ele havia participado, nem sobre as estranhas perguntas de Henry sobre a lealdade de Joseph. As razões que tinha para isso eram muito fáceis de entender. Nicholas podia fazer perguntas aos barões errados, inadvertidamente, causando problemas que agora não eram necessários. Porque os irmãos Wexton já tinham problemas mais que suficientes.
- Depois que tivermos brindado seu casamento, acredito que irei atrás Kevin e ficarei com ele.
- O corredor vai estar muito concorrido diante dos aposentos de Demétria, Nicholas - comentou Liam - Eu me pergunto o que Sebastian vai fazer quando souber que sua irmã retornou à corte.
O barão que ele acabava de mencionar tinha ido caçar no bosque do rei. Sebastian não retornou ao ambiente do castelo até o final da tarde, e foi informado imediatamente da volta de Demétria.
Sebastian ficou furioso, naturalmente. Ele foi reivindicar sua irmã.
Anthony tinha ficado sozinho diante da porta de Demétria. Tanto Kevin como Nicholas tinham ido se trocar para o jantar e o confronto.
Quando o vassalo viu Sebastian se aproximar, apoiou-se na parede e lançou um olhar cheio de desgosto ao irmão de Demétria.
Sebastian ignorou o vassalo. Bateu à porta com o punho, pediu aos gritos que deixassem ele entrar.
Henry abriu a porta. Saudou Sebastian com cortesia e anunciou que ninguém tinha permissão para falar com Demétria.
Antes que Sebastian pudesse protestar, a porta foi bruscamente fechada em sua face.
Demétria presenciou a cena com olhos perplexos. Não sabia o que pensar da conduta de Henry. O irmão do rei não se afastou dela mais que uns minutos, quando Demétria entrou no quarto para trocar seu vestido, colocando o que usaria durante seu encontro com o rei.
- O rosto de seu irmão está tão vermelho como o do meu - anunciou Henry depois de ter fechado a porta, impedindo a entrada de Sebastian. Foi até Demétria, pegou sua mão e a levou até a janela, a uma considerável distância da porta.
- As paredes têm ouvidos - murmurou, e Demétria reparou em que sua voz era muito amável e suave.
Foi ali e nesse mesmo instante, que decidiu descartar os rumores que corriam a respeito do Henry. Não era um homem muito atraente, e era pequeno em estatura e largura se comparado a Joseph. Diziam que Henry era ávido por poder, assim como também era um manipulador. Diziam que tinha um grande apetite carnal, além disso, havia engendrado mais de quinze bastardos.
Como estava tendo consideração com ela, Demétria decidiu que não ia julgá-lo.
- Volto a agradecer por ter ajudado meu marido neste dia - disse quando viu que Henry continuava olhando para ela com expectativa.
- Há algo aguçando minha curiosidade a tarde toda - confessou Henry -. Se não for um assunto particular, eu gostaria que me contasse o que Joseph lhe disse antes de deixá-la. Você parecia muito feliz.
- Disse para eu me lembrar que Ulisses está em casa.
Ao ver que ela não prosseguia com a explicação, Henry ordenou que ela contasse toda a história.
A exigência soava arrogante demais, mas mesmo assim Demétria não se sentiu incomodada.
- Contei a meu marido uma história a respeito de um guerreiro chamado Ulisses. Passou muito tempo longe de sua esposa, e quando ao fim retornou, encontrou seu lar infestado de homens malvados, que tentavam fazer mal a sua esposa e roubar seu tesouro. Ulisses enviou para sua esposa a mensagem de que tinha voltado ao lar. Também limpou sua casa daqueles terríveis infiéis. Joseph estava me lembrando que ele cuidará de Sebastian.
- Então seu marido e você têm o mesmo caráter - afirmou Henry - Sim, o tempo de limpar sua casa chegou.
Demétria não entendeu.
- Receio que Joseph vá fazer alguma coisa que enfureça nosso rei - murmurou -. Já me disseram que William tem um temperamento muito forte.
- Há outra questão que quero falar com você - disse Henry, e sua voz se endureceu subitamente. Demétria tentou não parecer sobressaltada.
- Você é amigo de meu marido assim como seus aliados? - perguntou.
Henry assentiu.
- Então eu vou fazer o que puder para lhe ajudar - disse Demétria.
- Você é tão leal quanto Joseph - observou Henry, parecendo satisfeito com a observação de Demétria -. Se interceder a seu favor perante o rei, você vai fazer o que ficar decidido? Inclusive se isso significar seu exílio?
Demétria não soube como responder àquela pergunta.
- Você poderia estar salvando a vida de seu marido - disse Henry.
- Eu farei o que for necessário.
- Terá que confiar em mim tanto quanto confia em seu marido - advertiu Henry.
Demétria assentiu.
- Meu marido acredita que você é o mais inteligente dos três... - começou a dizer, e logo deixou escapar uma exclamação abafada quando reparou no que acabava de dizer.
Henry começou a rir.
- Assim Joseph sabe o meu valor, não é?
Demétria se ruborizou.
- Sim - disse -. Eu farei qualquer coisa para proteger meu marido. Se isso significar minha própria morte, então que assim seja.
- Está me dizendo que pensa em sacrificar a si mesma? - perguntou Henry. Sua era suave agora. Também estava sorrindo, confundindo Demétria -. Não posso imaginar Joseph estando de acordo com seu plano.
- Este assunto é terrivelmente complicado - murmurou Demétria.
- Você disse que confia em mim. Vou ajudar sua causa, minha querida.
Demétria assentiu. Resolveu fazer uma reverência, mas decidiu ajoelhar-se.
- Eu agradeço por sua ajuda.
- Levante-se, Demétria. Não sou seu rei.
- Eu queria que você fosse - confessou Demétria. Manteve a cabeça baixa, mas permitiu que ele a ajudasse a ficar de pé.
Henry não respondeu ao seu comentário traidor. Foi para a porta, e antes de abri-la e voltou-se novamente para Demétria.
- Desejos tornam-se realidade, Demétria.
Demétria franziu o cenho por aquele comentário tão entranho que Henry acabava de fazer.
- Não mostre lealdade a nenhum dos lados quando entrarmos no salão, Demétria. Deixe todos especularem até você ser chamada para falar. Eu permanecerei ao seu lado.
Depois de ter dito aquelas palavras, Henry saiu dos aposentos.
Passaram-se duas horas antes de o irmão do rei voltar e levá-la com ele. Demétria andou ao lado dele, mantendo as costas retas e com as mãos imóveis ao lado. Rezou para ter uma aparência serena, e pensou que morreria se não visse logo Joseph. Precisava saber que ele estava por perto.
Quando ela e Henry entraram no grande salão, Demétria viu que chegavam com bastante atraso. A maioria dos convidados já tinha terminado de jantar e os servos estavam esvaziando as mesas.
Pôde sentir como todos olhavam para ela. Demétria enfrentou aqueles olhares cheios de curiosidade com uma expressão tranquila. O fingimento era muito difícil de manter, e tudo porque quando percorreu lentamente o salão com o olhar não pôde encontrar Joseph entre a multidão.
Seu marido estava esperando contra a parede do fundo, com o Nicholas e Kevin imóveis ao lado dele. Joseph contemplou como sua esposa entrava na sala. Cheia de compostura, ela estava muito, muito bonita. Usava o vestido de quando se casaram. A lembrança daquele bendito acontecimento salvou Joseph de correr atrás dela.
- Tem o porte de uma rainha - sussurrou Nicholas.
- Agora ela não está nada desajeitada - queixou-se Kevin.
- Ela está aterrorizada.
Joseph fez aquele comentário, enquanto dava um passo adiante. Nicholas e Kevin reagiram imediatamente, interpondo-se em seu caminho.
- Demétria virá até você, Joseph. Dê tempo a Henry.
Sebastian estava falando com Demétria. Henry havia se virado para falar com um velho conhecido.
- Vou empurrar minha lâmina em suas costas, se você der um passo na direção do Barão de Wexton - ameaçou Sebastian -. E também darei a ordem de matar seu querido sacerdote.
- Diga-me uma coisa - murmurou Demétria, surpreendendo a seu irmão com a ira que havia em sua voz -. Também vai matar Joseph e a seus irmãos, e a todos seus aliados?
Sebastian não pôde se conter e agarrou com força o braço de Demétria.
- Não me ponha à prova, Demétria. Tenho mais poder que qualquer outro homem na Inglaterra.
- Mais poder que nosso rei? - disse Henry. Sebastian se sobressaltou visivelmente. Ele se virou para encarar Henry, torcendo o braço de Demétria no processo.
- Sou o humilde conselheiro de seu irmão, nada mais e nada menos.
Henry mostrou seu desagrado pela observação que Sebastian acabava de fazer. Agarrou a mão de Demétria, separando-a de Sebastian sem nenhum olhar. Em seguida, contemplou em silêncio os sinais avermelhados que haviam no braço de Demétria. Quando voltou a olhar para Sebastian, seus olhos refletiam o desgosto que sentia.
- Vou apresentar sua irmã a alguns de nossos leais amigos - falou com a voz desafiante e cheia de dureza.
Sebastian retrocedeu. Depois lançou outro olhar ameaçador a Demétria e dirigiu uma inclinação de cabeça a Henry.
- O que ele lhe disse? - quis saber Henry.
- Prometeu matar meu tio Berton se eu der um só passo na direção de Joseph.
- Ele blefa, Demétria. Agora Sebastian não pode fazer nada, ao menos diante de seus pares. E amanhã será muito tarde. Terá que confiar quando afirmo que sei muito bem do que estou falando.
Camille obviamente havia presenciado como Sebastian era desprezado por Henry, veio até eles para saudar Demétria.
- Eu ia mostrar a Demétria os impressionantes jardins de meu irmão - disse Henry para ela.
- Oh, também eu adoraria ver os jardins - afirmou Camille.
Era perfeitamente visível que seu plano consistia em manter-se perto de Demétria, mas Henry frustrou seus propósitos.
- Em outra ocasião, talvez? - disse.
Camille não foi capaz de esconder o ódio em seu olhar. Deu meia volta sem dizer uma palavra mais e se afastou.
Demétria andou com Henry para as portas que davam ao terraço.
- Quem é esse homem que está falando com Kevin? - perguntou então -. Aquele com os cabelos de uma cor tão viva. Parece estar bem preocupado por algo.
Henry localizou rapidamente o homem sobre quem Demétria falava.
- É o barão de Rhinehold.
- Ele é casado? Tem uma família? - perguntou Demétria, tentando não parecer muito curiosa.
- Ele nunca teve uma esposa - disse Henry -. Por que tanto interesse por Rhinehold?
- Ele conhecia minha mãe - respondeu Demétria. Ela continuou observando o barão de Rhinehold, esperando que ele voltasse o olhar em sua direção. Quando finalmente a olhou, Demétria sorriu para ele.
Embora soubesse que isso não era possível, desejou poder passar alguns minutos a sós com o barão. Segundo Camille, Rhinehold era o pai de Demétria, e a razão pela qual o marido de Dianna a odiou tanto.
Demétria era uma bastarda. A verdade não a envergonhava. Ninguém jamais chegaria a saber a verdade, exceto Joseph, naturalmente, e... Santo Deus, não tinha se lembrado de contar para ela.
- Joseph chama o barão de Rhinehold de amigo? - perguntou a Henry.
- Sim, ele o chama - respondeu Henry -. Por que me pergunta isso?
Demétria não sabia como lhe responder, por isso tentou mudar de assunto.
- Eu gostaria de poder falar com Joseph, ainda que fosse por um minuto. Acabo de me lembrar que preciso compartilhar um assunto com ele.
- A sorte está do seu lado, Demétria. Não acaba de ver Sebastian partir com seus amigos? Sem dúvida vai fazer uma última tentativa de influenciar nosso rei antes de que comece a reunião. Espere na terraço e enviarei Joseph.
Demétria não esperou muito tempo para seu marido chegar.
- Isso vai terminar logo, Demétria - disse Joseph como saudação. Depois a tomou em seus braços e a beijou meigamente -. Logo, amor, prometo isso. Tenha fé em mim, meu doce...
- Tenha fé em mim, Joseph - sussurrou Demétria -. Você tem, não é verdade, meu marido?
- Tenho - respondeu Joseph -. Venha, fique ao meu lado quando falarmos com o rei. William deve chegar a qualquer momento.
Demétria sacudiu a cabeça.
- Sebastian acredita que eu vou ajudar a prender você - disse-lhe -. Henry quer que meu irmão continue confiando em sua vitória até o último momento, e essa é a razão pela qual não posso estar perto de você. Não franza o cenho dessa maneira, Joseph. Logo tudo terá terminado. E tenho que lhe dar a notícia maravilhosa. De fato, há vários dias conheço a verdade, mas tantas coisas aconteceram que me esqueci por completo de lhe dizer isso, quando o vi pela primeira vez e...
- Demétria.
Então ela reparou que tinha começado a balbuciar atropeladamente.
- Sou ilegítima. O que acha dessa notícia, marido?
Joseph ficou surpreso.
- Sou uma bastarda, Joseph. Isso não lhe agrada? Juro por Deus que eu me sinto muito feliz, porque isso significa que não tenho nenhuma relação familiar com Sebastian.
- Quem chamou você de bastarda? - quis saber Joseph, sem que chegasse a levantar a voz, mas falando em um tom cheio de raiva.
- Ninguém. Ouvi quando Sebastian falava com Camille. Sempre me perguntei por que Sebastian e seu pai se voltaram contra minha mãe. Agora conheço a verdade. Minha mãe levava uma criatura em seu ventre quando se casou com o pai de Sebastian. Ela estava grávida de mim. - Joseph olhou fixamente para Demétria sem dizer nada, e ela pensou que provavelmente ele estivesse preocupado -. Importa-se por eu ser uma bastarda?
- Deixa de dizer essas coisas - ordenou Joseph. Sacudiu a cabeça. Estava sorrindo, e o coração de Demétria se encheu de amor -. Esposa, é a única mulher neste mundo que é capaz de se alegrar com semelhante notícia - acrescentou, tentando conter sua risada.
- Sebastian não dirá isso a ninguém - murmurou Demétria -. Ele me livrou e ele nem sequer sabe. Você se importa?
- Como pode me fazer semelhante pergunta?
- Porque eu amo você - disse DPorque andamos na fé, e não na visão
Segunda epístola aos Corintios, 5, 7
Demétria contou tudo para ele.
O relato de tudo que havia acontecido a Demétria levou quase dois dias. O querido sacerdote quis ouvir cada palavra, cada sentimento, cada acontecimento.
O padre Berton tinha chorado lágrimas de alegria quando Demétria entrou em sua pequena casa campestre. Ele admitiu que havia sentido falta dela terrivelmente, e durante a maior parte daquele primeiro dia não foi ser capaz de controlar suas emoções. Demétria, naturalmente, também derramou uma boa quantidade de lágrimas. Seu tio afirmou que aquela falta de disciplina não era reprovável, porque afinal eles estavam sozinhos, e ninguém poderia presenciar sua exibição emocional. Os companheiros do padre Berton tinham ido visitar outro velho amigo que havia adoecido subitamente.
Somente quando ela terminou de preparar o jantar e eles estiveram sentados um ao lado do outro em suas poltronas favoritas, foi que Demétria finalmente começou sua narrativa. Enquanto o sacerdote jantava, Demétria contou sua história. Pensou em fazer um breve resumo, mas tio Berton permitiria uma história acanhada.
O sacerdote parecia saborear cada detalhe, e não permitia que Demétria continuasse até que ele memorizasse cada palavra. Sua experiência como tradutor e guardião de antigas histórias foi a razão que Demétria acreditou para aquela peculiaridade tão familiar.
Assim que Demétria viu seu tio, preocupou-se com sua saúde. O padre Berton parecia estar perdendo as forças. Demétria viu que agora seus ombros estavam um pouco mais curvados que antes. Suas costas também pareciam um pouco mais dobrada, e não se movia pela casa com tanta rapidez. Mas seu olhar era igualmente direto, e seus comentários extremamente afiados. A cabeça do padre Berton estava tão aguçada como sempre. Quando ele confessou que seus companheiros não voltariam a viver seus últimos anos com ele, Demétria supôs que a solidão, e não a avançada idade de cinquenta verões, explicava as mudanças que tinha notado nele.
Demétria confiava que Joseph viria buscá-la, mas quando três dias se passaram, e não houve nenhum sinal de Joseph, sua confiança começou a evaporar.
Demétria admitiu seus temores para seu tio.
- Talvez tenha mudado de ideia assim que voltou a estar com lady Eleanor.
- Tudo isso que você está me dizendo são tolices - avisou o padre Berton -. Eu tenho tanta fé como você, criança, que o barão de Wexton sabia que Lawrence não era um sacerdote. Ele pensou ter-se casado com você, e para um homem a dar semelhante passo, tem que haver um autêntico compromisso em seu coração. Você me contou qual foi sua declaração de amor. Não tem fé na palavra dele?
- Oh, é obvio que tenho - respondeu Demétria -. Joseph me ama, padre. No fundo de meu coração eu sei que ele me ama, mas uma parte da minha mente continua me preocupando. Acordei durante a noite, e o primeiro pensamento que me veio à cabeça não pôde ser mais assustador. Perguntei a mim mesma o que eu faria se ele não viesse me buscar. E se ele tiver mudado de ideia?
- Então ele seria um estúpido - respondeu o padre Berton. Um súbito brilho apareceu nos olhos do sacerdote -. E agora conte outra vez a este velho, minha criança, quais foram as palavras que você disse a lady Eleanor, aquela de lindos cabelos vermelhos e porte de rainha.
Demétria sorriu da maneira como ele brincava com ela sobre sua própria descrição de Lady Eleanor.
- Disse que eu era o maior tesouro de Joseph. Não foi uma observação muito humilde, não?
- Disse a verdade, Demétria. Isso é algo que seu coração sabe muito bem, mas concordo que há uma pequena porção de sua mente que precisa de um pouco de confiança.
- Joseph não é nenhum estúpido - disse Demétria então, falando com uma convicção que deu nova firmeza a sua voz -. Ele não vai me esquecer.
Ela fechou os olhos e apoiou a cabeça na almofada que cobria o respaldo de seu assento. Tanta coisa aconteceu em tão pouco tempo! Agora, enquanto estava sentada ao lado de seu tio, parecia como se na verdade nada houvesse mudado.
Os antigos medos tentavam dominá-la. Se ela não ficasse em alerta contra eles, não demoraria a chorar e se auto-compadecer. Demétria resolveu descansar. Sim, era apenas por estar tão cansada que ela se inclinava às preocupações.
- Eu tenho valor - balbuciou -. Por que demorei tanto tempo para perceber?
- O tempo carece de importância - disse seu tio -. O que importa é que, por fim, você percebeu.
O rumor de um trovão atraiu a atenção de seu tio.
- Soa como se fôssemos ter uma boa tormenta em alguns minutos - ele observou, enquanto se levantava e começava a fechar a janela.
- Esse trovão soou perto o bastante levar o telhado - observou Demétria, com sua voz em um sussurro sonolento.
O padre Berton estava a ponto de concordar com o comentário de sua sobrinha quando chegou à janela e olhou para fora. O que seus olhos viram, deixou-o sobressaltado a tal ponto que precisou apoiar as mãos no parapeito da janela, ou de outra maneira teria perdido o equilíbrio e, com certeza, caído de joelhos.
Agora o trovão estava em silêncio. Mas o padre Berton pôde vê, o relâmpago, que entretanto não estava no céu. Não, estava no chão... tão longe quanto seus olhos podiam ver.
O sol se impôs à falsa aparência, desviando os estilhaços de prata que ricocheteavam de peitoral para peitoral.
Era uma legião, unida atrás de um só guerreiro, todos armados, quietos e esperando.
O padre Berton arregalou os olhos ante aquela magnífica visão. Deu uma rápida inclinação de cabeça ao homem que liderava aqueles soldados e virou-se para se sentar novamente em sua cadeira.
Um grande sorriso transformava o rosto do velho sacerdote. Quando ele novamente se sentou ao lado de Demétria, deixou seu sorriso de lado, atrevendo-se a fingir um tom de desgosto em sua voz, e disse:
- Acredito que aí fora tem alguém querendo lhe ver, Demétria. É melhor ver quem é, criança. Eu estou muito cansado para voltar a me levantar.
Demétria franziu o cenho pelo pedido do padre Berton. Não tinha ouvido ninguém bater à porta. Como meio de acalmá-lo, levantou-se disposta a fazer o que ele acabava de pedir. Ela falou sobre seu ombro, acreditando tratar-se de Marta, fazendo-lhes uma visita para trazer ovos frescos e velhas fofocas.
O padre realmente riu do hilário comentário de Demétria, que chegou ao extremo de dar uma palmada no joelho.
Ela achou uma reação bem estranha, tratando-se de um homem que acabava de alegar cansaço.
E então ela abriu a porta.
Demétria precisou de alguns minutos para compreender o que ela estava vendo. Ficou tão atônita que não podia se mexer. Ela simplesmente ficou ali, no meio da soleira, com as mãos apertadas ao seu lado, enquanto olhava para Joseph.
Ele não a tinha esquecido afinal. A compreensão foi entrando na mente de Demétria depois que o atordoamento inicial se dissipou.
Ele não estava sozinho. Não, porque havia mais de cem soldados alinhados atrás do lord deles. Todos estavam sobre suas montarias, todos usavam suas impressionantes armaduras de batalha, e cada um deles olhava para ela.
Um sinal silencioso percorreu a legião. Como se fosse um só homem, todos os soldados levantaram suas espadas em sinal de saudação. Era a exibição de lealdade mais magnífica que Demétria jamais havia presenciado.
Ela estava emocionada. Demétria nunca havia se sentido tão cuidada, tão amada, e tão, tão valiosa.
E então compreendeu qual a razão pela qual Joseph havia convocado tantos de seus soldados para fazer aquela viagem. Com isso ele mostrava quão importante Demétria era para ele. Sim, estava demonstrando seu valor.
Joseph não se mexeu. Durante um bom tempo não disse palavra alguma. Ele estava feliz por estar no lombo de Silenus, contemplando sua linda esposa. Joseph pôde sentir como a preocupação e a incerteza despareciam do coração de Demétria. Para falar a verdade, pensou que fosse o homem mais feliz do mundo.
Quando viu as lágrimas que desciam pelo rosto de Demétria, finalmente disse as palavras que ele acreditava que ela precisava ouvir.
- Eu vim a por você, Demétria.
Seria uma coincidência que Joseph estivesse repetindo as mesmas palavras que ele havia dito para ela na primeira vez? Demétria não acreditava nisso. A expressão refletida nos olhos de Joseph fizeram-na acreditar que ele não havia esquecido.
Demétria se afastou da porta, jogou-se seus cabelos em cima do ombro e depois, lenta e deliberadamente, apoiou as mãos no quadril.
- Já era hora, barão de Wexton. Levo uma eternidade esperando por você.
Demétria viu que sua arrogante observação agradou Joseph, mas não pôde ter certeza, porque Joseph se moveu muito depressa para que ela conseguisse ver sua face. Em um minuto ele estava imóvel sobre Silenus, e no minuto seguinte, ele a puxava para os seus braços.
Quando ele se inclinou para beijá-la, Demétria jogou os braços em seu pescoço. Ela se agarrou a ele, enquanto a boca de Joseph descia febrilmente sobre a dela com uma possessividade quase frenética. A língua de Joseph deslizou na boca de Demétria para reconquistar aquilo que lhe pertencia.
Demétria teve a sensação de estar sendo arrastada por uma súbita onda de excitação que percorria todo seu ser, e respondeu à exigência de Joseph, dando-lhe tudo aquilo que ela sabia dar. Demétria se mostrou igualmente selvagem em seu afã por devorá-lo. Ela estava tão faminta pelo toque de Joseph, quanto excitada.
Um ruído finalmente penetrou a mente de Joseph. A razão demorou bastante para retornar. Afastou seus lábios de Demétria só para voltar imediatamente a seus lábios machucados pela segunda vez.
Demétria também percebeu o ruído. Quando Joseph finalmente levantou sua cabeça da dela, ela compreendeu que os soldados estavam comemorando. Santo Deus, esqueceu-se por completo que estavam ali!
Ele percebeu que se ruborizava e não se importou. Joseph não nem um pouco incomodado, mas atrás da barba que havia crescido em uma semana, e do pó que cobria a sujeira que havia nele, custava-lhe muito saber qualquer reação dele.
Ele voltou a beijá-la, desta vez com um beijo rápido e cheio de paixão que avisou a Demétria que aquela plateia não o incomodava absolutamente. Os braços de Demétria rodearam sua cintura. Apoiou o rosto no peito de Joseph e o estreitou contra ela com todas suas forças.
Ele suspirou, feliz por seu entusiasmo.
Demétria se lembrou de suas obrigações, quando ouviu soar um discreto pigarro atrás dela. Deveria apresentar Joseph a seu tio. O problema é que não podia fazer com que as palavras saíssem de sua garganta. E quando Joseph se inclinou e sussurrou: «Amo você, Demétria», ela ficou bem preocupada em chorar e falar ao mesmo tempo.
Joseph indicou com um gesto que seus homens desmontassem e se virou para olhar por cima da cabeça de Demétria para o ancião que esperava a uma curta distância atrás dela. Ele atraiu Demétria para si, não permitindo que ela se afastasse dele, ainda que por apenas alguns minutos, e disse:
- Sou o barão de Wexton.
- Eu realimente espero que seja - respondeu o padre Berton. O sacerdote sorriu de sua própria piada e começou a inclinar-se diante ele, mas a mão do barão se apressou a colocar fim àquela amostra de respeito.
- Sou eu quem deveria me ajoelhar diante do senhor - disse ao sacerdote -. Sinto-me muito honrado em, por fim, poder conhecê-lo, padre.
As palavras do barão encheram o sacerdote de humildade.
- Ela é o seu maior tesouro, não é verdade, barão? - perguntou, voltando seu olhar para Demétria.
- Sim, ela é - admitiu Joseph -. Sempre estarei em dívida com o senhor - acrescentou - Por tê-la protegido para mim durante todos esses anos.
- Ela ainda não é sua - anunciou o padre Berton, sentindo-se muito contente pela surpresa que causava sua observação -. Sim, eu ainda devo entregá-la a você. Estou falando de um casamento, barão, de um autêntico casamento, e quanto mais rápido ele acontecer, melhor para a paz de espírito deste velho.
- Então, case-nos pela manhã - pediu Joseph.
O padre Berton tinha presenciado o apaixonado beijo que acabavam de trocar o barão e sua sobrinha, e não estava nada seguro de que a manhã seguinte fosse ser cedo o bastante.
- Então esta noite você não dormirá com Demétria - advertiu-lhe -. Eu continuarei guardando-a como é devido, barão de Wexton.
Joseph e o padre Berton trocaram um longo e intenso olhar. Então, Joseph sorriu. Pela primeira vez em muito tempo, tinha descoberto que não podia intimidar uma pessoa. Não, o sacerdote não ia recuar diante ele.
Assentiu.
- Esta noite.
Demétria presenciou aquela breve conversa. Sabia muito bem sobre o que os dois homens estavam falando, e pensou que devia ter ficado tão vermelha como o pôr do sol. Afinal de contas, saber que ela tinha dormido com o barão deveria ser bem constrangedor para seu tio Berton.
- Eu também eu gostaria de me casar com Joseph esta noite, mas eu não... - Demétria fez uma pausa em sua explicação, quando viu que Anthony estava ali e se detinha ao lado dela -. Padre Berton, este é o vassalo do qual falei - disse, sorrindo.
- Foi você que se colocou entre minha sobrinha e Sebastian quando ele tentou agredi-la outra vez? - perguntou o sacerdote, dando um passo à frente para estreitar a mão de Anthony.
- Sim, fui eu - admitiu Anthony.
- Outra vez? - gritou Joseph -. Você não estava sob o amparo do rei?
- Não foi nada! - protestou Demétria.
- Sebastian a teria matado - interveio o sacerdote.
- Sim, ele queria fazer muito mal a ela - disse Anthony. Demétria pôde sentir a tensão nos dedos de Joseph que seguravam sua cintura.
- Não foi nada - voltou a protestar -. Um mero bofetão...
- Ela ainda tem o arroxeado - avisou o padre Berton com uma vigorosa inclinação de cabeça.
Demétria deu uma boa franzida de cenho a seu tio. Será que ele não percebia que seus comentários deixavam Joseph fora de si?
Quando Joseph levantou seu rosto para poder ver a marca, Demétria voltou a sacudir cabeça.
- Sebastian nunca mais voltará a me tocar, Joseph. Isso é que importa. Seu leal vassalo me protegeu - acrescentou, antes de voltar a olhar novamente para seu tio -. Tio, por que alimenta a raiva de Joseph?
- Há marcas em seus ombros e em suas costas, barão - disse o padre Berton, fingindo que não havia ouvido a pergunta de Demétria.
- Tio!
- Não me disse nenhuma palavra sobre isso - disse Anthony a Demétria -. Eu deveria ter...
- Basta. Padre, eu o conheço bem. Qual o seu jogo agora? - quis saber Demétria.
- Você estava prestes a dizer ao barão de Wexton que gostaria de se casar com ele esta noite, criança, mas não chegou a terminar seu comentário, não? O certo, barão - disse o sacerdote, voltando-se para o Joseph - é que minha sobrinha tentará atrasar este casamento. Não é isso o que fará, Demétria? Verá, criança - acrescentou, dando a Demétria um terno sorriso -, eu sei o que passa em sua cabeça melhor do que você acredita que eu saiba.
- O que ele disse é verdade? - perguntou Joseph, franzindo o cenho -. Seus sentimentos não mudaram, não? - antes que Demétria pudesse responder, acrescentou -: Isso não me importa. Você me pertence, Demétria. Isso é um fato do qual você não pode dar as costas.
Demétria ficou atônita com o fato de Joseph sentir semelhante insegurança, e foi então que percebeu que os sentimentos dele eram tão vulneráveis como os dela. Parecia que Joseph precisava ouvir as palavras que expressavam o amor de Demétria tão frequentemente como ela precisava.
- Amo você, Joseph disse, falando em voz alta o bastante para que tanto Anthony como o padre Berton pudessem ouvi-la.
- Tenho certeza disso - replicou Joseph, voltando a soar orgulhoso. Mas a pressão com que a segurava diminuiu, e seu corpo relaxou ao lado dela.
- Há muito a ser visto - comentou Anthony -. Preciso falar com você em particular, barão. - O vassalo deu meia volta e começou a se afastar.
- E certamente vocês precisam comer alguma - acrescentou o sacerdote, virando-se para entrar em sua casa – Vou começar os preparativos imediatamente.
- Primeiro um banho - disse Joseph, dando um bom apertão em Demétria antes de soltá-la. Ele já estava seguindo o tio de Demétria, quando as palavras que saíram dos lábios dela o deixaram paralisado. Anthony e o padre Berton também se detiveram.
- Ainda não podemos nos casar, Joseph.
A expressão que apareceu no rosto dos três homens informou a Demétria que a nenhum deles tinha gostado do anúncio que ela acabava de fazer.
Demétria juntou as mãos. Ela falou bem depressa, porque queria que Joseph entendesse sua razão antes de começar gritar.
- Se pudéssemos esperar até que Liam se case com a Miley, então Sebastian não poderia usar o argumento de...
- Eu sabia - murmurou Anthony -. Ainda está tentando proteger o mundo. Esse é uma das coisas que preciso explicar, barão.
- Ela sempre está disposta a proteger quem ela acredita estar precisando - disse o sacerdote.
- Você não entende - disse Demétria, apressando-se a encarar Joseph -. Se nos casarmos agora, estará indo contra a vontade do seu rei. William dará Miley a Sebastian. Era isso que dizia a carta, Joseph.
Demétria teria prosseguido com seu argumento, se não fosse pela expressão que viu aparecer nos olhos de Joseph. Não pôde deixar de torcer suas mãos, mas foi capaz de fechar a boca.
Joseph a contemplou Demétria com um longo silêncio. Ela não sabia se agora ele estava contente ou furioso com ela.
- Só tenho uma pergunta a fazer, Demétria. Você tem fé em mim?
Demétria não precisou par. Sua resposta foi rápida e firme.
- Eu tenho.
Sua resposta o agradou. Joseph a abraçou, depositou um casto beijo sobre sua testa e se virou pela segunda vez.
- Vamos nos casar esta noite.
Ele se deteve, mas não se virou. Demétria já sabia o que Joseph esperava. Sim, ele esperava pela resposta dela.
- Sim, Joseph, vamos nos casar esta noite.
Era a resposta correta, claro está. Demétria soube sem lugar a dúvidas quando seu tio começou a rir suavemente, Anthony começou a assobiar, e Joseph se voltou, para lhe dirigir um firme assentimento de cabeça.
Ele não estava sorrindo. Mas isso não incomodou Demétria, por compreender que Joseph nunca havia duvidado dela. Sua resposta era apenas uma confirmação, nada mais.
A hora seguinte foi um torvelinho de atividade. Enquanto Joseph e Anthony sentavam à mesa naquela pequena casa e jantavam, o padre Berton foi explicar a situação ao seu anfitrião, o conde de Grinsteade.
O conde ainda se agarrava à vida, e embora não tivesse forças para assistir à cerimônia, Joseph iria lhe fazer uma visita formal depois que casamento acontecesse.
Joseph e seu vassalo foram ao lago que havia atrás da mansão do conde para tomarem banho e falarem em particular. Demétria usou esse tempo para trocar seu vestido. Escovou os cabelos até ficarem satisfatoriamente ondulados, e então decidiu esquecer a moda e deixá-lo solto. Sabia que Joseph gostava deles daquela maneira.
Voltava a usar as cores de Joseph, claro. Seus sapatos e seu vestido eram de um creme pálido, e ficavam parcialmente cobertos pela meia túnica de cor azul real costurada à mão. Demétria tinha passado quase um mês trabalhando no laço que rodeava o pescoço do vestido, dando-lhe diminutos pontos, todas elas da cor da creme, para criar o efeito que desejava conseguir com aquele motivo. No centro de sua obra estava a silhueta de seu lobo mágico.
Pensou que Joseph provavelmente nem sequer perceberia. Guerreiros de seu porte não tinham tempo para notar semelhantes coisas.
- Bem, na verdade, é melhor que seja assim - admitiu em voz alta -. Pensaria que eu estava imaginando coisas, e então certamente zombaria de mim.
- Quem zombaria de você? - perguntou Joseph, detendo-se na soleira.
Demétria se virou com um sorriso no rosto e olhou para seu guerreiro.
- Meu lobo - respondeu imediatamente -. Tem alguma coisa errada, Joseph. Você parece... perturbado.
- Você fica mais bonita a cada hora que passa - sussurrou Joseph, com a voz tão suave como uma carícia.
- E você mais atraente - disse Demétria. Sorriu, e depois se atreveu a zombar um pouco dele -. Mas estava me perguntando por que meu futuro esposo vai ao seu próprio casamento vestido de preto. É uma cor tão sombria... - afirmou -. É uma cor usada para o luto. Será que você já decidiu usar luto pelo seu destino, milord?
Os comentários de Demétria deixaram Joseph surpreso, e ele encolheu o ombro antes de responder.
- Está limpo, Demétria. Isso é tudo o que deve importar. Além disso, é a única roupa que trouxe comigo de Londres. - Deu um passo para ela, sua intenção era claramente visível em seu sombrio olhar -. Vou deixá-la aturdida o suficiente com beijos para que perceba a roupa que visto.
Demétria correu para o outro lado da mesa.
- Não pode me beijar até estarmos casados - disse, tentando não rir -. E por que você não fez a barba?
Joseph continuou a perseguir seu objetivo.
- Depois.
O que ele queria dizer com isso? Demétria fez uma pausa para franzir o cenho.
- Depois?
- Sim, Demétria, depois - respondeu Joseph, e seu olhar abrasador a deixou tão confusa como sua estranha observação
Ela titubeou deliberadamente por tempo suficiente para ser capturada. Joseph a atraiu para seus braços, e se preparava para tomar os lábios de Demétria, quando a porta se abriu. Um ruidoso pigarro ganhou sua atenção.
- Estamos esperando para começar - anunciou o padre Berton -. Porém, há um pequeno problema.
- O que houve? - perguntou Demétria, quando conseguiu sair dos braços de Joseph, ajeitando sua aparência.
- Eu gostaria de acompanhá-la ao altar, mas não posso estar em dois lugares ao mesmo tempo. E quem serão as testemunhas neste ato? - acrescentou, franzindo o cenho.
- Não pode ir até o altar acompanhando Demétria e então realizar a missa? - perguntou Joseph.
- E quando na qualidade de sacerdote eu perguntar quem dá esta mulher em santo casamento, deveria correr e ficar ao lado de Demétria para responder minha própria pergunta?
Joseph sorriu, imaginando-a cena.
- Vai ficar realmente estranho, mas acredito que poderia fazê-lo - anunciou o pai Berton.
- Todos os meus soldados serão testemunhas - disse Joseph -. Anthony ficará atrás de Demétria. Isso será o bastante para o senhor, padre?
- Que assim seja - decretou o padre Berton -. E agora, barão, vá e espere junto ao altar improvisado que preparei fora. Vou casá-los sob a lua e as estrelas. Esse é o autêntico palácio de Deus, segundo meu julgamento.
- Estou de acordo. Bem, então vamos terminar logo com isto.
Suas palavras não agradaram muito Demétria. Ela seguiu Joseph, puxando sua mão para ganhar sua atenção.
- Terminar logo com o quê? - perguntou com o cenho franzido.
Quando ele baixou o olhar para ela, Demétria notou que Joseph a provocava. E quando ele falou, e a expressão zangada de Demétria desapareceu por completo.
- Estivemos unidos um ao outro desde o momento em que nos conhecemos, Demétria. Deus sabia, eu sabia, e se você refletir sobre a verdade, você também vai admitir. Nós nos prometemos um ao outro, e ainda que Lawrence não fosse um sacerdote e não pudesse nos dar sua verdadeira bênção, nós continuamos casados.
- Desde o momento em que esquentei seus pés - murmurou Demétria, repetindo a explicação que ele havia dado no passado.
- Sim, desde aquele momento.
Demétria parecia estar a ponto de chorar. Que mulher tão emotiva sua delicada esposa havia se transformado! Embora a reação dela agradasse Joseph, sabia que Demétria não desejaria parecer indisciplinada na frente de seus homens, e ele imediatamente tratou de ajudá-la a recuperar o controle de si mesma.
- Deveria estar agradecida, sabe.
- Agradecida pelo quê, Joseph? - perguntou Demétria, secando o canto dos olhos.
- Que não era verão quando nos conhecemos.
A princípio Demétria não entendeu. E então ela deu uma alegre gargalhada que encheu de deleite o coração de Joseph.
- Então, foi a estação que deu você para mim. É assim que você pensa?
- Se estivéssemos no verão, então não teria razão para esquentar meus pés - disse, dando a Demétria uma rápida piscada.
Demétria pensou que agora ele parecia mais arrogante.
- Você teria encontrado alguma outra razão - disse.
Joseph teria respondido a esse comentário se o padre Berton não tivesse começado a empurrá-lo para a porta.
- Os homens estão esperando por você, barão.
Assim que Joseph saiu, o padre Berton se virou para Demétria e passou vários minutos, aconselhando-a a respeito de seus deveres como esposa. Quando terminou sua tarefa, o ancião falou do fundo de seu coração, dizendo quão orgulhoso ele se sentia em tê-la em sua família.
E depois ofereceu o braço à mulher que tinha batizado, visto crescer e educado, e a quem tinha amado como uma filha.
Foi uma cerimônia muito bonita, e quando terminou, Joseph apresentou sua esposa a seus vassalos. Os homens se ajoelharam diante de Demétria e ofereceram seu juramento de lealdade.
Joseph estava exausto e impaciente. Deixou sua esposa para fazer uma visita oficial ao conde de Grinsteade, e voltou para a casinha do padre Berton, quando ainda não haviam transcorrido nem vinte minutos desde sua partida.
O sacerdote já tinha ido dormir. Seu colchão estava no outro extremo do quarto. A cama de Demétria estava na parede em frente, com só uma cortina para proteger sua intimidade.
Joseph encontrou sua esposa sentada na beirada estreita cama. Usava o vestido com o qual havia se casado.
Depois tirar sua roupa, Joseph se deitou por cima do cobertor e atraiu Demétria para seu peito. Beijou-a apaixonadamente e então sugeriu que ela se preparasse para ir para cama.
Demétria levou um tempo em sua tarefa. Fazia pequenas pausas para espionar atrás da cortina e ver se seu tio estava dormido. Finalmente, se inclinou sobre Joseph para dizer que realmente acreditava que deveriam encontrar um lugar privado, lá fora, para dormir juntos. Afinal de contas, era sua noite de casamento, e havia-se passado muito tempo desde a última vez em que eles haviam se tocado. Sem dúvida ele poderia encontrar uma maneira para isso, não?, porque assim que ela começasse a beijá-lo, sabia que ia se mostrar terrivelmente apaixonada. Por Deus, ela sabia que ia fazer muito ruído. Ora, ela já estava a ponto de começar a gritar!
Joseph nem tentou fazer com que ela se calasse, e então Demétria notou que realmente não precisava se incomodar em dar qualquer explicação. Seu marido estava profundamente adormecido.
Frustrada, a noiva se aconchegou junto a seu marido, rangeu os dentes e tentou conciliar o sonho.
Os ruídos que fazia o padre Berton moviam-se pelo quarto, despertando Joseph. Em seguida ficou alerta, sentindo que alguma coisa estava errado, sem entender imediatamente o que era.
Começou a se levantar, agora com a mente voltando ao normal, só para ver que esteve a ponto de pisar em Demétria. Joseph sorriu daquele absurdo. Sua esposa estava dormindo no chão, com uma grossa manta como única coberta. Deus, ele havia dormido durante sua noite de núpcias! Joseph sentou do lado da cama e ficou contemplando a sua amada esposa até que ouviu como a porta se abria e depois se fechava atrás do sacerdote. Olhou pela janela que havia ao outro lado da cama a tempo de ver o padre Berton andando rumo ao castelo. O sacerdote havia vestido suas vestimentas eclesiásticas e levava com ele um pequeno cálice de prata.
Joseph se virou novamente para Demétria. Ajoelhou-se perto dela e tomou em seus braços. Depois a colocou sobre a cama. Demétria se deitou imediatamente sobre suas costas, afastando o cobertor com um chute.
Não usava sua camisola de dormir. A luz do amanhecer, entrando pela janela, pintou sua pele com um tom dourado. O sol nascente transformou a magnífica cabeleira de Demétria, dando-lhe a cor do fogo.
O desejo de Joseph se intensificou até que ele ficou dolorido de necessidade. Voltou a se sentar do lado da cama e começou a fazer amor com sua esposa.
Demétria despertou com um suspiro. Sentia-se maravilhosamente letárgica. As mãos de Joseph acariciavam seus seios, e seus mamilos se retesavam, pedindo por mais. Demétria gemeu e remexeu seu quadril sem descanso em um convite sonolento a seu marido.
Ela abriu os olhos e olhou para Joseph. Seu olhar quente fez com que ela estremecesse de desejo. Estendeu as mãos para ele, tentando aproximá-lo um pouco mais ao seu corpo, mas Joseph balançou a cabeça, negando-lhe o que ela pedia.
- Vou dar o que você quer - sussurrou-lhe -. E muito, muito mais - prometeu.
Antes que Demétria pudesse responder, Joseph se inclinou sobre ela e tomou um seio em sua boca. Ele sugava o mamilo enquanto suas mãos acariciavam a lisa suavidade da barriga de sua esposa.
Os gemidos de Demétria se tornaram mais intensos e desenfreados. Os sons que escapavam de sua garganta agradavam Joseph, embora nem tanto como o sabor de Demétria.
A mão dele se moveu entre as pernas dela. Joseph encontrou o tesouro que estava procurando, inseriu um dedo dentro dela e estava quase perdendo a razão diante da resposta apaixonada de Demétria.
Ele queria tudo aquilo.
Joseph rolou bruscamente para o lado até ficar deitado de lado. Demétria se virou para seu marido. O lado de seu rosto ficou apoiado na cálida coxa de Joseph.
A boca de Joseph a deixava enlouquecida. Demétria parecia não ser capaz de respirar, e seu estômago permanecia tensamente contraído, enquanto seu marido ia distribuindo beijos úmidos ao redor de seu umbigo. Os dedos de Joseph prosseguiam com sua doce tortura. Demétria gemeu quando ele separou suas coxas. Ela sabia o que ele queria fazer e ela mesma se abriu para ele, suplicando que ele a beijasse ali.
Joseph moveu-se vagarosamente até que se viu saboreando o calor de Demétria. Sua língua provocava, atormentava. E sua barba deixava louca. Os pelos eram excitantemente abrasivos em contato com a sensível pele da parte interior das coxas de sua esposa.
Demétria queria saborear Joseph. Todo ele.
Não houve nenhuma advertência nas intenções de Demétria, nenhum beijo carinhoso antecedeu sua busca. Demétria arqueou seu quadril contra Joseph quando ela o capturou e o levou a sua boca.
Agora ela estava gemendo. O contato de suas mãos e de sua boca era tão prazerosamente erótico como o de Joseph antes. E não ficou dúvida, porque ele demonstrou seu prazer movendo-se energicamente contra ela. E logo depois, ele se afastou subitamente de Demétria. Virou-se, colocou-se entre as coxas dela e a penetrou. Sua semente jorrou imediatamente, com um orgasmo que parecia não terminar nunca. A força de sua entrega deu a Demétria sua própria versão para o mesmo esplendor.
Demétria estava fraca demais para se mexer, não encontrando força nem mesmo para deixar de agarrar o ombro de seu marido.
Joseph não podia se sentir mais feliz. Pensou em beijar a sua esposa, para mostrar o quão satisfeito ele estava, mas ele foi incapaz de fazer tal esforço. Estava feliz demais para se mexer.
Permaneceram assim, imóveis como um só ser, durante longos e prazerosos minutos.
Demétria recobrou sua consciência antes de Joseph. De repente, se lembrou de onde estavam. Quando se retesou junto a Joseph, ele imaginou quais seriam os pensamentos dela.
- O padre Berton foi rezar a missa - murmurou. Demétria relaxou ao lado dele.
- É claro, você fez ruídos demais para que todo meu exército ouvisse você - acrescentou Joseph.
- Você fez tanto ruído quanto eu - sussurrou Demétria.
- Agora vou fazer mina barba - disse Joseph.
Demétria começou a rir.
- Agora eu entendo sobre o que você se referia quando disse que faria a barba depois, Joseph. Sabia que sua barba me deixaria louca.
Joseph se apoiou nos cotovelos e baixou o olhar para os olhos de Demétria.
- Você sabe o quanto você me dá prazer, esposa?
- Eu sei - sussurrou ela -. Eu amo você, Joseph, agora e sempre.
- Continuou me amando quando descobriu que Lawrence não era um autêntico sacerdote e que eu havia mentido?
- Sim, embora eu quisesse estrangular você por não ter me dito isso. Deus, eu fiquei furiosa!
- Bem - observou Joseph, sorrindo do susto que aquele comentário causou nele -. Fiquei preocupado que você pudesse pensar que também havia mentido a respeito de outras coisas - admitiu.
- Nunca duvidei do seu amor, Joseph - disse Demétria.
- Mas duvidava do seu valor - ele lembrou.
- Não mais - sussurrou Demétria. Ela o atraiu para outro beijo e então ordenou que ele fizesse amor com ela outra vez.
Na segunda vez, a união foi muito mais pausada mas igualmente satisfatória.
Quando o padre Berton retornou a sua casa, encontrou Demétria e Joseph vestidos. O barão estava sentado à mesa, e seu olhar não se afastava um só instante do corpo de sua esposa, enquanto esta estava concentrada no trabalho de preparar o café da manhã de ambos.
- Preciso de um sacerdote, padre - disse Joseph -. Gostaria do dever de cuidar de minha alma? Eu poderia solicitar sua presença imediatamente.
Demétria se sentiu tão feliz pela sugestão de Joseph que aplaudiu alegremente.
O padre Berton sorriu e então rechaçou seu pedido sacudindo a cabeça.
- O conde me deu um teto durante todos estes anos, Joseph. Não posso abandoná-lo agora. Depende de meu conselho. Não, não posso deixá-lo.
Demétria sabia que seu tio estava fazendo a coisa mais honrada, e assentiu.
- Eu sugiro que venha ficar conosco depois que o conde descansar, mas, por Deus, eu acho que ele vai sobreviver a todos nós.
- Demétria! Não diga semelhante maldade dele - ralhou o padre Berton.
Demétria se esforçou para parecer arrependida diante de seu tio.
- Não pretendia ser cruel, tio. E me envergonho por isso, porque compreendo o dever que tem para com o conde.
Joseph assentiu.
- Então viremos lhe visitar, e quando tiver terminado suas obrigações aqui, o senhor viverá conosco.
Joseph se mostrou muito mais diplomático que ela. Demétria viu como seu tio sorria e expressava seu acordo com uma rápida inclinação de cabeça.
- Quanto tempo ainda vamos ficar aqui? - perguntou então a seu marido.
- Devemos partir ainda hoje - anunciou Joseph.
- Poderíamos ficar aqui até que o verão terminasse - ela sugeriu, antes de conseguir parar.
- Partiremos hoje.
Demétria suspirou, Joseph tentava baixar o olhar, e ela percebeu
- Bem, então partiremos hoje - disse.
Então o padre Berton saiu da casa, fingindo a incumbência de pegar o pão nas mãos da cozinheira. Depois que a porta se fechou atrás dele, Demétria foi para seu marido.
- Você deve me permitir ter uma opinião, marido. Nem sempre irei me inclinar a suas ordens.
Joseph sorriu.
- Isso é algo que sei de sobra, Demétria. É minha esposa e governará ao meu lado. Mas seu argumento para ficarmos aqui é do mais...
- Desarrazoado - interrompeu Demétria com um suspiro. Sentou-se no colo de Joseph e rodeou seu pescoço com os braços -. Estou adiando o inevitável. Bem, Joseph, você deve saber toda a verdade a respeito de sua esposa. Algumas vezes, eu sou um pouco covarde.
Joseph achou que a confissão de sua esposa era engraçada. Ele riu, sem se importar que Demétria não parecesse estar contente com sua conduta. Quando recuperou o controle de si mesmo, disse:
- Você tem mais coragem que todos os meus homens juntos. Quem se atreveu a encarar a morte para liberar o inimigo de seu irmão?
- Bem, eu, mas...
- Quem se manteve firme atrás das costas de Nicholas, salvando-lhe a vida?
- Eu, Joseph, mas estava muito assustada e além disso...
- Quem se encarregou de cuidar de minha irmã? Quem conquistou Silenus para transformá-lo em ovelha? Quem...?
- Já sabe que fui eu - voltou a interrompê-lo Demétria. Colocou as mãos nas bochechas de Joseph e disse -: Mas ainda tem que entender. Cada vez que terminei uma dessas tarefas, que você acredita serem tão honoráveis, por dentro eu estava morta. Só de enfrentá-lo bastava para fazer com que me sentisse aterrorizada.
Joseph afastou suas mãos e se inclinou sobre ela para dar um longo beijo.
- O medo não significa que seja covarde, meu amor. Não, na minha maneira de ver as coisas, isso só significa que você é mortal. Só um estúpido coloca a prudência de lado.
Quando concluiu seu discurso, Joseph voltou a beijá-la.
- Você tem que me explicar o que eu tenho que fazer quando retornarmos à corte, Joseph. Não quero desagradá-lo ou dizer o que não devo em resposta às perguntas do rei. William vai me interrogar, não é, Joseph?
Seu marido percebeu o medo que havia em sua voz, e sacudiu sua cabeça.
- Demétria, nada do que faça poderá me desagradar. E você só deve responder às perguntas do rei com a verdade. É só isso que eu peço a você.
- Foi isso que Sebastian me disse - murmurou Demétria -. Ele acredita que minha verdade deixará você preso.
- Esta é minha batalha, Demétria. Você diz a verdade e deixe o resto comigo.
Demétria suspirou. Sabia que ele tinha razão.
Joseph tentou animá-la um pouco.
- Tenho que me barbear antes de partirmos para a corte - anunciou.
Demétria começou a ficar vermelha.
- Preferia que você nunca mais voltasse a se barbear. Cheguei a... apreciar sua barba, milord.
Joseph também soube apreciar a honestidade de sua esposa. Seu apaixonado beijo disse isso a ela.
Joseph e Demétria chegaram a Londres dois dias depois. Nicholas, Kevin e Liam foram recebê-los no portão. Todos mostravam expressões muito sombrias.
Depois de dar um abraço de boas vindas a Demétria, Kevin disse a Joseph que os outros barões já estavam instalados em seus aposentos.
Nicholas abraçou Demétria em seguida. Ele demorou um pouco com a boas vindas, e quando se virou para falar com Joseph, seu braço ainda estava rodeando a cintura de Demétria.
- Você vai ver o rei esta noite?
Joseph notou que Nicholas ainda não tinha superado do todo seu amor por Demétria, e puxou sua esposa para ele antes de responder.
- Irei agora.
- Sebastian pensa que Demétria está com seu tio. Provavelmente estará sabendo de sua volta neste mesmo instante, Joseph. Tenho que lembrar que Sebastian sabe que não estão casados - interveio Liam.
- Agora estamos casados, Liam - disse Joseph -. O padre Berton oficiou a celebração, com meus vassalos como testemunhas da cerimônia.
Liam não pôde evitar sorrir diante aquela notícia.
- O rei vai ficar furioso - previu Kevin com uma carranca -. Ter-se casado antes desta questão ficar resolvida pode ser considerado como um insulto pessoal.
Joseph se dispunha a responder o comentário de Kevin, quando sua atenção se viu subitamente desviada pela chegada dos soldados do rei. Mandados pelo irmão de William, Henry, os soldados marcharam unidos para terminar parando exatamente diante de Joseph.
Henry fez um sinal para que os soldados esperassem e depois disse a Joseph:
- Meu irmão envia seus guardas para escoltar lady Demétria aos aposentos dela.
- Eu vou me apresentar agora mesmo a William para relatar minha versão dos fatos, Henry - disse Joseph -. Eu não gosto de deixar Demétria em nenhum lugar sem que eu esteja por perto. A última vez que ela esteve sob o amparo do nosso rei ela foi maltratada - acrescentou sombriamente.
Henry não mostrou nenhuma reação ante a aspereza das palavras de Joseph.
- É duvidoso, porque o rei nem chegou a saber que ela esteve aqui, Joseph. Sebastian...
- Não permitirei que Demétria volte a correr perigo, Henry - arguiu Joseph.
- Então você deseja que esta querida dama fique presa no centro da luta que você trava com seu irmão? - perguntou Henry.
Antes mesmo que Joseph pudesse responder, Henry disse:
- Venha, ande comigo. Há algo que desejo lhe dizer.
Em deferência a sua posição, Joseph obedeceu à ordem imediatamente. Ele andou ao lado de Henry para uma parte mais resguardada do pátio.
Henry falou durante a maior parte do tempo. Demétria não tinha nem ideia do que ele estava dizendo, mas a expressão que viu aparecer no rosto de seu marido indicou que Joseph não se sentia muito satisfeito com aquela conversa.
Assim que Joseph e Henry voltaram ao grupo que os esperava, Joseph se voltou para sua esposa.
- Vá com Henry, Demétria - disse-lhe -. Ele vai acomodar você.
- Em seus aposentos, Joseph? - perguntou Demétria, tentando não parecer preocupada.
Henry respondeu a sua pergunta.
- Vocês terão seus próprios aposentos, minha querida, sob meu amparo. Até que este assunto tenha ficado resolvido, nem Sebastian nem Joseph poderão se aproximar de você. Não há dúvida de que meu irmão tem um temperamento muito forte, assim será melhor não jogar lenha na fogueira, por enquanto. Isso é algo que pode esperar até esta noite.
Demétria olhou para Joseph. Quando recebeu seu consentimento, inclinou-se ante Henry. Então Joseph a levou para o lado, inclinou-se sobre ela e murmurou algo em seu ouvido.
Todos mostraram curiosidade a respeito daquela conversa. Quando Demétria se voltou novamente para Henry, não podia estar mais radiante.
Nicholas viu Demétria segurar no braço de Henry e caminh6ar na direção da entrada.
- O que você disse a ela, Joseph? Em um minuto ela estava prestes a chorar e no minuto seguinte, ela estava sorrindo e parecendo bem contente.
- Eu simplesmente me limitei a lembrá-la o final de certa história - disse Joseph, encolhendo os ombros.
Era tudo que ele iria dizer sobre aquilo. Kevin sugeriu que ele cuidasse de sua aparência, e inclusive que dormisse algumas horas.
Embora parecesse ridículo que Kevin sugerisse que ele fosse se dormir, Joseph seguiu seu conselho quanto a trocar de túnica.
- Acredito que seguirei Demétria - comentou Kevin então -. Talvez eu encontre Anthony montando guarda diante de sua porta e ficarei com ele até esta noite.
Joseph assentiu.
- Não permita que Henry pense que você duvida da eficiência de sua guarda - advertiu-lhe.
Com essas palavras de despedida, ele foi embora.
Então, Nicholas se voltou para o barão Liam.
- Conseguimos evitar uma batalha. Joseph teria entrado nos aposentos do rei e teria exigido justiça imediata.
- Uma condição temporária - respondeu Liam -. A batalha ainda está por vir. Os outros barões visitarão Joseph esta tarde, e vão mantê-lo suficientemente ocupado. Henry intercedeu, e merece que o feito seja reconhecido. Um dia Joseph vai agradecê-lo por isso.
- Que razão Henry poderia ter para estar tão interessado neste assunto? - perguntou Nicholas.
- Ele quer a lealdade de Joseph - respondeu Liam -. Venha, Nicholas, ofereça-me uma bebida refrescante para brindarmos meu iminente casamento com sua irmã - afirmou satisfeito.
Nicholas pareceu satisfeito.
- Então ela aceitou?
- Ela aceitou. E vou me casar com ela antes que ela mude de ideia.
Nicholas deu uma gargalhada do comentário de Liam, e ele sorriu. Sentia-se satisfeito por ter conseguido afastar a atenção de Nicholas dos motivos de Henry. Liam entendia que Nicholas não precisava estar a par da reunião secreta que ele havia participado, nem sobre as estranhas perguntas de Henry sobre a lealdade de Joseph. As razões que tinha para isso eram muito fáceis de entender. Nicholas podia fazer perguntas aos barões errados, inadvertidamente, causando problemas que agora não eram necessários. Porque os irmãos Wexton já tinham problemas mais que suficientes.
- Depois que tivermos brindado seu casamento, acredito que irei atrás Kevin e ficarei com ele.
- O corredor vai estar muito concorrido diante dos aposentos de Demétria, Nicholas - comentou Liam - Eu me pergunto o que Sebastian vai fazer quando souber que sua irmã retornou à corte.
O barão que ele acabava de mencionar tinha ido caçar no bosque do rei. Sebastian não retornou ao ambiente do castelo até o final da tarde, e foi informado imediatamente da volta de Demétria.
Sebastian ficou furioso, naturalmente. Ele foi reivindicar sua irmã.
Anthony tinha ficado sozinho diante da porta de Demétria. Tanto Kevin como Nicholas tinham ido se trocar para o jantar e o confronto.
Quando o vassalo viu Sebastian se aproximar, apoiou-se na parede e lançou um olhar cheio de desgosto ao irmão de Demétria.
Sebastian ignorou o vassalo. Bateu à porta com o punho, pediu aos gritos que deixassem ele entrar.
Henry abriu a porta. Saudou Sebastian com cortesia e anunciou que ninguém tinha permissão para falar com Demétria.
Antes que Sebastian pudesse protestar, a porta foi bruscamente fechada em sua face.
Demétria presenciou a cena com olhos perplexos. Não sabia o que pensar da conduta de Henry. O irmão do rei não se afastou dela mais que uns minutos, quando Demétria entrou no quarto para trocar seu vestido, colocando o que usaria durante seu encontro com o rei.
- O rosto de seu irmão está tão vermelho como o do meu - anunciou Henry depois de ter fechado a porta, impedindo a entrada de Sebastian. Foi até Demétria, pegou sua mão e a levou até a janela, a uma considerável distância da porta.
- As paredes têm ouvidos - murmurou, e Demétria reparou em que sua voz era muito amável e suave.
Foi ali e nesse mesmo instante, que decidiu descartar os rumores que corriam a respeito do Henry. Não era um homem muito atraente, e era pequeno em estatura e largura se comparado a Joseph. Diziam que Henry era ávido por poder, assim como também era um manipulador. Diziam que tinha um grande apetite carnal, além disso, havia engendrado mais de quinze bastardos.
Como estava tendo consideração com ela, Demétria decidiu que não ia julgá-lo.
- Volto a agradecer por ter ajudado meu marido neste dia - disse quando viu que Henry continuava olhando para ela com expectativa.
- Há algo aguçando minha curiosidade a tarde toda - confessou Henry -. Se não for um assunto particular, eu gostaria que me contasse o que Joseph lhe disse antes de deixá-la. Você parecia muito feliz.
- Disse para eu me lembrar que Ulisses está em casa.
Ao ver que ela não prosseguia com a explicação, Henry ordenou que ela contasse toda a história.
A exigência soava arrogante demais, mas mesmo assim Demétria não se sentiu incomodada.
- Contei a meu marido uma história a respeito de um guerreiro chamado Ulisses. Passou muito tempo longe de sua esposa, e quando ao fim retornou, encontrou seu lar infestado de homens malvados, que tentavam fazer mal a sua esposa e roubar seu tesouro. Ulisses enviou para sua esposa a mensagem de que tinha voltado ao lar. Também limpou sua casa daqueles terríveis infiéis. Joseph estava me lembrando que ele cuidará de Sebastian.
- Então seu marido e você têm o mesmo caráter - afirmou Henry - Sim, o tempo de limpar sua casa chegou.
Demétria não entendeu.
- Receio que Joseph vá fazer alguma coisa que enfureça nosso rei - murmurou -. Já me disseram que William tem um temperamento muito forte.
- Há outra questão que quero falar com você - disse Henry, e sua voz se endureceu subitamente. Demétria tentou não parecer sobressaltada.
- Você é amigo de meu marido assim como seus aliados? - perguntou.
Henry assentiu.
- Então eu vou fazer o que puder para lhe ajudar - disse Demétria.
- Você é tão leal quanto Joseph - observou Henry, parecendo satisfeito com a observação de Demétria -. Se interceder a seu favor perante o rei, você vai fazer o que ficar decidido? Inclusive se isso significar seu exílio?
Demétria não soube como responder àquela pergunta.
- Você poderia estar salvando a vida de seu marido - disse Henry.
- Eu farei o que for necessário.
- Terá que confiar em mim tanto quanto confia em seu marido - advertiu Henry.
Demétria assentiu.
- Meu marido acredita que você é o mais inteligente dos três... - começou a dizer, e logo deixou escapar uma exclamação abafada quando reparou no que acabava de dizer.
Henry começou a rir.
- Assim Joseph sabe o meu valor, não é?
Demétria se ruborizou.
- Sim - disse -. Eu farei qualquer coisa para proteger meu marido. Se isso significar minha própria morte, então que assim seja.
- Está me dizendo que pensa em sacrificar a si mesma? - perguntou Henry. Sua era suave agora. Também estava sorrindo, confundindo Demétria -. Não posso imaginar Joseph estando de acordo com seu plano.
- Este assunto é terrivelmente complicado - murmurou Demétria.
- Você disse que confia em mim. Vou ajudar sua causa, minha querida.
Demétria assentiu. Resolveu fazer uma reverência, mas decidiu ajoelhar-se.
- Eu agradeço por sua ajuda.
- Levante-se, Demétria. Não sou seu rei.
- Eu queria que você fosse - confessou Demétria. Manteve a cabeça baixa, mas permitiu que ele a ajudasse a ficar de pé.
Henry não respondeu ao seu comentário traidor. Foi para a porta, e antes de abri-la e voltou-se novamente para Demétria.
- Desejos tornam-se realidade, Demétria.
Demétria franziu o cenho por aquele comentário tão entranho que Henry acabava de fazer.
- Não mostre lealdade a nenhum dos lados quando entrarmos no salão, Demétria. Deixe todos especularem até você ser chamada para falar. Eu permanecerei ao seu lado.
Depois de ter dito aquelas palavras, Henry saiu dos aposentos.
Passaram-se duas horas antes de o irmão do rei voltar e levá-la com ele. Demétria andou ao lado dele, mantendo as costas retas e com as mãos imóveis ao lado. Rezou para ter uma aparência serena, e pensou que morreria se não visse logo Joseph. Precisava saber que ele estava por perto.
Quando ela e Henry entraram no grande salão, Demétria viu que chegavam com bastante atraso. A maioria dos convidados já tinha terminado de jantar e os servos estavam esvaziando as mesas.
Pôde sentir como todos olhavam para ela. Demétria enfrentou aqueles olhares cheios de curiosidade com uma expressão tranquila. O fingimento era muito difícil de manter, e tudo porque quando percorreu lentamente o salão com o olhar não pôde encontrar Joseph entre a multidão.
Seu marido estava esperando contra a parede do fundo, com o Nicholas e Kevin imóveis ao lado dele. Joseph contemplou como sua esposa entrava na sala. Cheia de compostura, ela estava muito, muito bonita. Usava o vestido de quando se casaram. A lembrança daquele bendito acontecimento salvou Joseph de correr atrás dela.
- Tem o porte de uma rainha - sussurrou Nicholas.
- Agora ela não está nada desajeitada - queixou-se Kevin.
- Ela está aterrorizada.
Joseph fez aquele comentário, enquanto dava um passo adiante. Nicholas e Kevin reagiram imediatamente, interpondo-se em seu caminho.
- Demétria virá até você, Joseph. Dê tempo a Henry.
Sebastian estava falando com Demétria. Henry havia se virado para falar com um velho conhecido.
- Vou empurrar minha lâmina em suas costas, se você der um passo na direção do Barão de Wexton - ameaçou Sebastian -. E também darei a ordem de matar seu querido sacerdote.
- Diga-me uma coisa - murmurou Demétria, surpreendendo a seu irmão com a ira que havia em sua voz -. Também vai matar Joseph e a seus irmãos, e a todos seus aliados?
Sebastian não pôde se conter e agarrou com força o braço de Demétria.
- Não me ponha à prova, Demétria. Tenho mais poder que qualquer outro homem na Inglaterra.
- Mais poder que nosso rei? - disse Henry. Sebastian se sobressaltou visivelmente. Ele se virou para encarar Henry, torcendo o braço de Demétria no processo.
- Sou o humilde conselheiro de seu irmão, nada mais e nada menos.
Henry mostrou seu desagrado pela observação que Sebastian acabava de fazer. Agarrou a mão de Demétria, separando-a de Sebastian sem nenhum olhar. Em seguida, contemplou em silêncio os sinais avermelhados que haviam no braço de Demétria. Quando voltou a olhar para Sebastian, seus olhos refletiam o desgosto que sentia.
- Vou apresentar sua irmã a alguns de nossos leais amigos - falou com a voz desafiante e cheia de dureza.
Sebastian retrocedeu. Depois lançou outro olhar ameaçador a Demétria e dirigiu uma inclinação de cabeça a Henry.
- O que ele lhe disse? - quis saber Henry.
- Prometeu matar meu tio Berton se eu der um só passo na direção de Joseph.
- Ele blefa, Demétria. Agora Sebastian não pode fazer nada, ao menos diante de seus pares. E amanhã será muito tarde. Terá que confiar quando afirmo que sei muito bem do que estou falando.
Camille obviamente havia presenciado como Sebastian era desprezado por Henry, veio até eles para saudar Demétria.
- Eu ia mostrar a Demétria os impressionantes jardins de meu irmão - disse Henry para ela.
- Oh, também eu adoraria ver os jardins - afirmou Camille.
Era perfeitamente visível que seu plano consistia em manter-se perto de Demétria, mas Henry frustrou seus propósitos.
- Em outra ocasião, talvez? - disse.
Camille não foi capaz de esconder o ódio em seu olhar. Deu meia volta sem dizer uma palavra mais e se afastou.
Demétria andou com Henry para as portas que davam ao terraço.
- Quem é esse homem que está falando com Kevin? - perguntou então -. Aquele com os cabelos de uma cor tão viva. Parece estar bem preocupado por algo.
Henry localizou rapidamente o homem sobre quem Demétria falava.
- É o barão de Rhinehold.
- Ele é casado? Tem uma família? - perguntou Demétria, tentando não parecer muito curiosa.
- Ele nunca teve uma esposa - disse Henry -. Por que tanto interesse por Rhinehold?
- Ele conhecia minha mãe - respondeu Demétria. Ela continuou observando o barão de Rhinehold, esperando que ele voltasse o olhar em sua direção. Quando finalmente a olhou, Demétria sorriu para ele.
Embora soubesse que isso não era possível, desejou poder passar alguns minutos a sós com o barão. Segundo Camille, Rhinehold era o pai de Demétria, e a razão pela qual o marido de Dianna a odiou tanto.
Demétria era uma bastarda. A verdade não a envergonhava. Ninguém jamais chegaria a saber a verdade, exceto Joseph, naturalmente, e... Santo Deus, não tinha se lembrado de contar para ela.
- Joseph chama o barão de Rhinehold de amigo? - perguntou a Henry.
- Sim, ele o chama - respondeu Henry -. Por que me pergunta isso?
Demétria não sabia como lhe responder, por isso tentou mudar de assunto.
- Eu gostaria de poder falar com Joseph, ainda que fosse por um minuto. Acabo de me lembrar que preciso compartilhar um assunto com ele.
- A sorte está do seu lado, Demétria. Não acaba de ver Sebastian partir com seus amigos? Sem dúvida vai fazer uma última tentativa de influenciar nosso rei antes de que comece a reunião. Espere na terraço e enviarei Joseph.
Demétria não esperou muito tempo para seu marido chegar.
- Isso vai terminar logo, Demétria - disse Joseph como saudação. Depois a tomou em seus braços e a beijou meigamente -. Logo, amor, prometo isso. Tenha fé em mim, meu doce...
- Tenha fé em mim, Joseph - sussurrou Demétria -. Você tem, não é verdade, meu marido?
- Tenho - respondeu Joseph -. Venha, fique ao meu lado quando falarmos com o rei. William deve chegar a qualquer momento.
Demétria sacudiu a cabeça.
- Sebastian acredita que eu vou ajudar a prender você - disse-lhe -. Henry quer que meu irmão continue confiando em sua vitória até o último momento, e essa é a razão pela qual não posso estar perto de você. Não franza o cenho dessa maneira, Joseph. Logo tudo terá terminado. E tenho que lhe dar a notícia maravilhosa. De fato, há vários dias conheço a verdade, mas tantas coisas aconteceram que me esqueci por completo de lhe dizer isso, quando o vi pela primeira vez e...
- Demétria.
Então ela reparou que tinha começado a balbuciar atropeladamente.
- Sou ilegítima. O que acha dessa notícia, marido?
Joseph ficou surpreso.
- Sou uma bastarda, Joseph. Isso não lhe agrada? Juro por Deus que eu me sinto muito feliz, porque isso significa que não tenho nenhuma relação familiar com Sebastian.
- Quem chamou você de bastarda? - quis saber Joseph, sem que chegasse a levantar a voz, mas falando em um tom cheio de raiva.
- Ninguém. Ouvi quando Sebastian falava com Camille. Sempre me perguntei por que Sebastian e seu pai se voltaram contra minha mãe. Agora conheço a verdade. Minha mãe levava uma criatura em seu ventre quando se casou com o pai de Sebastian. Ela estava grávida de mim. - Joseph olhou fixamente para Demétria sem dizer nada, e ela pensou que provavelmente ele estivesse preocupado -. Importa-se por eu ser uma bastarda?
- Deixa de dizer essas coisas - ordenou Joseph. Sacudiu a cabeça. Estava sorrindo, e o coração de Demétria se encheu de amor -. Esposa, é a única mulher neste mundo que é capaz de se alegrar com semelhante notícia - acrescentou, tentando conter sua risada.
- Sebastian não dirá isso a ninguém - murmurou Demétria -. Ele me livrou e ele nem sequer sabe. Você se importa?
- Como pode me fazer semelhante pergunta?
- Porque eu amo você - disse Demétria, fingindo suspirar -. E tanto faz se você está aborrecido ou não. Tem que me amar sempre, marido. Deu-me sua palavra.
- Sim, Demétria - respondeu Joseph - Amarei você para sempre.
Então os trompetes soaram atrás deles, no exato momento em que Joseph se inclinava sobre sua esposa para voltar a beijá-la.
- Por acaso você sabe quem é seu pai? - ele perguntou, quando viu que o medo voltava a estar presente nos olhos de Demétria.
- Rhinehold - informou Demétria, assentindo vigorosamente quando Joseph sorriu -. Isso deixa você feliz - disse depois -. Posso ver que você está.
- Sinto-me muito feliz - murmurou Joseph -. Rhinehold é um bom homem.
Henry os interrompeu.
- Chegou o momento - anunciou -. E agora venha comigo, Demétria. O rei espera.
Joseph pôde senti-la tremer e a apertou suavemente antes de soltá-la. Quando a viu se afastar, sua mente se esforçou desesperadamente para encontrar algo, alguma coisa que aliviasse a preocupação que sua esposa estava sentindo.
Demétria acabava de chegar à porta quando Joseph a chamou.
- Rhinehold tem os cabelos vermelhos, esposa. Tão vermelhos como o fogo.
Ela não se virou.
- Esta cor é mais castanha que vermelha, Joseph - disse-lhe -. Sem dúvida até você é capaz de perceber.
E então o som da risada de Demétria chegou até ele e Joseph soube que todo iria bememétria, fingindo suspirar -. E tanto faz se você está aborrecido ou não. Tem que me amar sempre, marido. Deu-me sua palavra.
- Sim, Demétria - respondeu Joseph - Amarei você para sempre.
Então os trompetes soaram atrás deles, no exato momento em que Joseph se inclinava sobre sua esposa para voltar a beijá-la.
- Por acaso você sabe quem é seu pai? - ele perguntou, quando viu que o medo voltava a estar presente nos olhos de Demétria.
- Rhinehold - informou Demétria, assentindo vigorosamente quando Joseph sorriu -. Isso deixa você feliz - disse depois -. Posso ver que você está.
- Sinto-me muito feliz - murmurou Joseph -. Rhinehold é um bom homem.
Henry os interrompeu.
- Chegou o momento - anunciou -. E agora venha comigo, Demétria. O rei espera.
Joseph pôde senti-la tremer e a apertou suavemente antes de soltá-la. Quando a viu se afastar, sua mente se esforçou desesperadamente para encontrar algo, alguma coisa que aliviasse a preocupação que sua esposa estava sentindo.
Demétria acabava de chegar à porta quando Joseph a chamou.
- Rhinehold tem os cabelos vermelhos, esposa. Tão vermelhos como o fogo.
Ela não se virou.
- Esta cor é mais castanha que vermelha, Joseph - disse-lhe -. Sem dúvida até você é capaz de perceber.
E então o som da risada de Demétria chegou até ele e Joseph soube que todo iria bem.




Gigante ne
desculpem nao postar esse fds. esqueci