domingo, 17 de fevereiro de 2019

Esplendor da Honra Capiitulo 11


O melhor sempre é aquele que treina na
mais severa das disciplinas.
Rei Arquídamo da Esparta
Demétria não queria que ninguém a surpreendesse chorando. Quando deixou Miley, realmente não tinha nenhum destino certo em mente. Apenas queria encontrar um lugar tranquilo onde colocar um pouco de ordem em suas emoções.
Sua primeira escolha foi a sala, mas quando se aproximava da entrada ouviu que Nicholas estava falando com alguém. Continuou andando, desceu o seguinte lance de degraus, agarrou sua capa de inverno do cabide que havia junto ao recinto dos soldados, e lutou com as pesadas portas até que conseguiu abri-las o suficiente para poder deslizar entre elas.
O ar estava bastante frio e poderia fazer um urso tremer. Demétria envolveu seus ombros com a capa e apertou o passo. A lua dava luz suficiente para que pudesse ver por onde ia e assim que rodeou a choça do açougueiro, apoiou-se no muro de pedra da fortaleza e começou a chorar como uma criança. Ela chorava alto, indisciplinada, e infeliz também, porque depois de ter feito tudo isso, continuava a se sentir tão mal quanto antes. Sua cabeça doía e suas bochechas ardiam, e estava consumida pelo soluço.
A raiva não ia embora.
Uma vez que Miley começou sua história, ela contou até a última consequência dela. Demétria não tinha mostrado nenhuma reação visível sobre aquele horror, mas sentia que seu coração estava a ponto de arrebentar de dor. Morcar! O bastardo era tão culpado do ocorrido como Sebastian, e no entanto, ninguém jamais chegaria a saber que ele tinha participado daquilo.
- O que você está fazendo aqui fora?
Demétria deixou escapar uma exclamação abafada. Joseph tinha-lhe dado um susto de morte, saindo de um nada para plantar-se junto dela.
Demétria tratou de dar-lhe as costas, mas Joseph não permitiu. Ele a pegou pelo queixo e a obrigou a levantar o olhar para ele.
Teria que estar cego para não perceber que ela estava chorando. Demétria pensou em dar uma breve desculpa, mas então começou a chorar outra vez assim que ele a tocou.
Joseph a puxou para seus braços, e parecia contente em mantê-la ali até que Demétria recuperasse o controle de si mesma. Era evidente que ele acabava de nadar no lago,
já que ele pingava da cabeça até a cintura. Demétria também não o ajudava em secar-se, porque chorava, ofegava e soluçava sobre o macio pelo que cobria o peito de Joseph.
- Você vai congelar até a morte, andando por aí meio nu - disse entre soluços -. E desta vez eu não vou esquentar seus pés.
Se Joseph lhe respondeu, ela não pôde ouvir. Seu rosto estava pressionado no ombro dele. Ela também acariciava seu peito. Joseph imaginou que Demétria nem sequer percebia o que estava fazendo, ou entendia o efeito que suas ações tinham sobre ele.
Demétria de repente tentou se afastar de Joseph. Sua cabeça se chocou com o queixo dele, murmurou uma desculpa, e depois cometeu o erro de levantar o olhar para ele. Sua boca estava realmente muito próxima. Demétria não podia deixar de olhar para ela, enquanto se lembrava com bastante clareza como tinha se sentido quando o beijou tão descaradamente aquela noite na tenda.
Queria voltar a beijá-lo.
Joseph teve que ter lido suas intenções, porque sua boca foi baixando lentamente para a boca de Demétria.
Ele só pretendia lhe dar um beijo suave e delicado. Sim, sua intenção era consolá-la, mas então os braços de Demétria deslizaram ao redor de seu pescoço e sua boca se abriu imediatamente para receber a dele. A língua de Joseph soube tirar vantagem daquele beijo e colou-se com a boca de Demétria.
Deus, ela era maravilhosa! Ela poderia fazê-lo arder em poucos minutos. E tampouco ia permitir que ele fosse suave e delicado. Os sons que ela fazia, no mais profundo de sua garganta, fizeram-no deixar de lado todo pensamento de consolá-la.
Joseph a sentiu estremecer junto dele, e só então se lembrou de onde eles estavam. Separou-se a contragosto de Demétria, tolamente esperando que houvesse um protesto por parte dela. Ele teria que beijá-la novamente, ele decidiu, e, em seguida, foi em frente e fez exatamente isso antes que sua suave e sensual mulher tivesse a chance de pedir.
Joseph fazia com que todo o corpo de Demétria ardesse de desejo. Ela pensou que não teria a força necessária para deter-se, até que de repente a mão dele roçou em seu seio. A sensação foi maravilhosa, e quando ela percebeu o quanto ela desejava mais daquilo, ela se afastou dele.
- Será melhor que você vá para dentro antes que vire uma pedra de gelo - Demétria disse, e sua voz soou em um tom bastante seco.
Joseph suspirou. Demétria estava fazendo aquilo outra vez, tentando afastar-se dele. Ele a pegou em seus braços, ignorando seus protestos, e começou a andar para o castelo.
- Miley falou com você a respeito do que aconteceu com ela? - perguntou Joseph quando sua mente conseguiu encontrar o foco outra vez.
- Ela falou - respondeu Demétria -. Mas não repetirei uma única palavra do que ela me disse, não importa o quão insistente você possa ser. Se desejar pode me torturar, mas mesmo assim eu....
- Demétria... – seu suspiro prolongado a deteve.
- Prometi a Miley que não diria nada a ninguém, especialmente a você. Sua irmã tem muito medo de você, Joseph. É uma situação realmente lamentável, certamente - concluiu.
Demétria tinha pensado que seu aviso encheria Joseph de fúria, e ficou surpresa quando o viu assentir.
- É assim que deveria ser - disse, encolhendo os ombros -. Sou seu lord além de seu irmão, e o primeiro deve ter preferência sobre o segundo.
- Não é assim como deveria ser - argumentou Demétria -. Uma família deveria estar unida. Todos deveriam comer juntos e nunca brigar entre eles. Deveriam....
- Como demônios você vai saber o que uma família deveria ou não deveria fazer? Você viveu com seu tio - afirmou Joseph, sacudindo a cabeça com exasperação.
- Bom, pois mesmo assim continuo sabendo como deveriam agir as famílias -protestou Demétria.
- Não questione meus métodos, Demétria - disse Joseph com um grunhido -. Por que você estava chorando? - perguntou depois, mudando rapidamente de assunto.
- Pelo que meu irmão fez com Miley - sussurrou Demétria. Apoiou o rosto no ombro de Joseph -. Meu irmão arderá no inferno durante toda a eternidade.
- Sim - respondeu Joseph.
- Sebastian é um homem com desejo assassino. Não condeno você por querer matá-lo, Joseph.
Joseph sacudiu a cabeça.
- E o fato de não me condenar faz com que você se sinta melhor? - perguntou.
Demétria acreditou ter ouvido uma ponta de diversão em sua voz.
- Eu mudei minha opinião sobre matar. Eu estava chorando por causa dessa perda - murmurou -. E pelo que eu tenho que fazer.
Joseph esperou que Demétria se explicasse. Chegaram às portas do castelo. Joseph abriu uma delas sem incomodá-la por isso, e a força que havia nele voltou a assombrá-la. Custou-lhe toda sua determinação, assim como ambas as mãos, também, para manter uma dessas portas abertas o suficiente para escapulir entre elas, sem que pegassem seu traseiro e, no entanto, Joseph não tinha mostrado o menor esforço.
- O que você tem que fazer? - perguntou Joseph, incapaz de conter sua curiosidade.
- Tenho que matar um homem.
A porta foi fechada com um golpe seco no mesmo instante em que Demétria murmurava sua confissão. Joseph não estava muito certo de tê-la ouvido corretamente. Ele decidiu que teria paciência suficiente para esperar até que tivessem chegado a seu quarto, antes de lhe fazer mais pergunta a esse respeito.
Ele carregou Demétria escada acima, ignorando seus protestos de que podia andar e quando chegaram ao nível do salão não se deteve, mas sim continuou subindo até chegar ao seguinte nível. Demétria acreditava que ele a levava aos aposentos da torre. Quando chegaram à entrada da estrutura circular, Joseph virou na direção oposta e continuou andando por um corredor escuro. Estava muito escuro para que ela pudesse ver aonde ele a levava.
Demétria estava bem curiosa, porque até aquele momento nem sequer tinha percebido naquela estreita entrada. Chegaram ao final do corredor, e Joseph abriu uma porta e carregou Demétria para dentro. Obviamente aquele era o quarto em que ele dormia, compreendeu Demétria, enquanto pensava que era muito amável por parte de Joseph ceder seus aposentos por aquela noite.
O quarto estava quente e era muito acolhedor. Um grande fogo ardia dentro da lareira, dando calor e um brilho suave ao resto dos aposentos. Uma única janela ocupava o centro da parede em frente, coberta por uma pele de animal no lugar das portinholas. Uma grande cama ocupava a maior parte da parede de pedra junto à lareira, com uma arca perto dela.
A cama e a arca eram os únicos móveis daquele quarto. Mas estava limpa, quase impecável. Aquele fato fez Demétria sorrir. Não sabia por que aquilo a agradava, mas se alegrava em saber que Joseph não gostava de desordem assim como ela.
E então por que permitia que o salão principal estivesse sempre tão abandonado? Agora que tinha visto seus aposentos, aquilo não tinha sentido para Demétria. Decidiu perguntar-lhe logo quando ainda estava de bom humor. Então Demétria voltou a sorrir, porque acabava de perceber que era bem provável que ela se tornasse uma anciã, antes que Joseph conseguisse alcançar uma mudança tão notável em sua maneira de ser.
Joseph não parecia ter absolutamente nenhuma pressa em soltá-la. Foi até a lareira, apoiou os ombros contra a borda do manto espesso, e começou a esfregar de frente e para trás, obviamente aliviando uma súbita coceira. Demétria se agarrou a ele tão desesperadamente como se nisso estivesse sua vida. Deus, ela desejou que ele estivesse usando uma camisa! Aquilo não era decente, disse a si mesma, porque gostava de muito tocar sua pele. Joseph era como um deus de bronze. Sua pele era quente ao tato, e com as palmas de suas mãos descansando sobre seus ombros, ela podia sentir como seus músculos moviam-se debaixo das pontas de seus dedos a cada ondulação.
Demétria desejou poder entender a maneira que reagia em relação a ele. Ora, seu coração estava voltando a bater desenfreadamente! Atreveu-se a lançar um rápido olhar para cima, e ao fazê-lo descobriu que Joseph a contemplava com muita atenção. Ele era muito atraente, e Demétria desejou que ele fosse feio.
- Você vai me segurar pelo resto da noite? - perguntou, conseguindo que sua voz soasse ridiculamente desgostada.
Joseph encolheu os ombros, o que quase fez com que Demétria caísse. Voltou a se segurar nele, e quando Joseph sorriu, compreendeu que era bem provável que ele estivesse se sacudindo daquela maneira só para fazer com que ela se unisse a ele.
- Primeiro responda minha pergunta e então eu vou soltá-la - Joseph decidiu.
- Vou responder sua pergunta - disse ela.
- Você me disse que estava pensando em matar um homem?
- Sim, eu disse - ela olhava para o queixo dele, enquanto lhe respondia.
Demétria esperou por um interminável minuto até que Joseph comentasse sua afirmação. Ela pensou que provavelmente ele daria um sermão sobre sua lamentável debilidade na tarefa de matar alguém.
Mesmo assim, não estava preparada para a gargalhada de Joseph. Ela começou como um surdo rumor dentro de seu peito, mas foi adquirindo volume rapidamente até que ele estava quase sufocando em verdadeira alegria.
Ele a ouviu perfeitamente bem, afinal. Demétria havia dito que ia matar um homem. A princípio aquela declaração pareceu tão assombrosa que Joseph acreditou que ela estivesse brincando. Mas a expressão tão solene que havia em seu rosto indicava que ela realmente falava a sério.
A reação dele não a agradou muito. Deus o ajudasse, ele não conseguia parar de rir. Ele deixou Demétria escorregar de seu abraço, mas manteve suas mãos segurando os ombros dela, assim ela não poderia fugir.
- E quem é o infeliz homem que você planeja matar? - ele finalmente conseguiu perguntar -. Seria um de nós, Wexton, por ventura?
Demétria se afastou dele.
- É obvio que não se trata de um Wexton embora, para ser bem honesta, e no caso de eu ter uma alma malvada, você seria o primeiro em minha preparada para aqueles que eu liquidaria, milord.
- Ah - disse Joseph, ainda sorrindo -. Se não é um de nós, minha doce e delicada lady, então quem você deseja liquidar? - ele perguntou, utilizando a ridícula expressão que Demétria empregou ao se referir ao ato de matar.
- Sim, Joseph, é verdade. Sou uma doce e delicada donzela, e já é hora de você entender isso - respondeu Demétria, cuja voz agora não soava particularmente doce.
Demétria foi até a cama e se sentou na beirada. Depois dedicou um bom tempo alisando as saias de seu vestido e finalmente colocou as mãos no colo. O fato de falar com tanta facilidade em tirar a vida de outra pessoa a deixava realmente assustada. Mas afinal de contas, o homem que ela pensava em matar certamente precisava que o matassem, não?
- Não conseguirá seu nome de mim, Joseph. Isto é um assunto meu, não seu.
Joseph não estava de acordo, mas decidiu esperar um pouco antes de arrancar a verdade.
- E quando matar esse homem, Demétria, voltará a despejar a comida que leva no estômago?
Demétria não respondeu. Joseph pensou que provavelmente estivesse percebendo quão insensato era seu plano.
- E também vai chorar? - ele perguntou, repetindo com sua pergunta a reação de Demétria depois de ter matado o soldado que atacou Nicholas.
- Vou me lembrar de não comer nada antes de matá-lo, Joseph, de maneira que não vomitarei. E se eu chorar depois de matá-lo, então eu vou encontrar algum lugar privado de maneira que ninguém vai me ver chorar. Essa explicação é suficiente para você?
Demétria respirou fundo, fazendo um esforço tremendo para manter a expressão a mais tranquila possível. Deus, já se sentia como uma pecadora!
- A morte não é algo que se possa fazer com bom ânimo - disse depois -. Mas a justiça também não deve ser enganada.
Joseph voltou a rir. Aquilo enfureceu Demétria.
- Eu gostaria de dormir agora, por isso, por favor, vá embora.
- Você acredita que pode me dizer para deixar meu próprio quarto? - perguntou Joseph.
Agora ele não estava rindo, e Demétria não teve coragem de olhar para ele.
- Eu acreditava que sim - admitiu -. Se eu estou sendo pouco respeitosa, lamento por isso. Mas você sabe que eu não minto. É muito amável ao me ceder sua cama por uma noite. Eu realmente aprecio sua gentileza, Joseph. E amanhã retornarei à torre depois que os aposentos de Miley forem devidamente limpos.
Ela ficou sem fôlego quando terminou sua explicação.
- Sua honestidade é muito refrescante.
- Sim, mas de vez em quando me leva a fazer coisas que não deveria.
Demétria suspirou. Continuava olhando para suas mãos, desejando que Joseph se apressasse e que fosse de uma vez. Então ouviu um golpe surdo. Aquele ruído atraiu sua atenção e quando levantou o olhar, o fez bem a tempo de ver como Joseph tirava sua segunda bota e a deixava cair no chão.
- Ficar na minha frente sem usar a camisa é uma indecência - declarou Demétria -. E agora está tirando o resto de suas roupas antes de partir? Você fica na presença de lady Eleanor desta maneira?
Demétria pôde sentir como se ruborizava. Estava decidida a ignorar Joseph. Se ele quisesse desfilar por aí seminu, então, ela teria que fechar seus olhos. E Joseph não teria uma única palavra de despedida da parte dela.
Demorou um pouco para perceber quais eram as intenções de Joseph. Demétria o observava pela extremidade do olho, e viu como Joseph se ajoelhava diante do fogo e acrescentava outro grosso tronco. Demétria quase agradeceu por aquela cortesia, até que se lembrou que estava decidida em ignorá-lo. Deus, Joseph sempre a fazia perder a linha de raciocínio, não era assim?
Joseph se levantou e foi para a porta. Antes que Demétria soubesse o que ele estava prestes a fazer, ele deslizou a grossa tábua de madeira pelos dos aros de metal.
Seus olhos se abriram de espanto. Ela estava trancada dentro do quarto, mas o verdadeiro problema, tal como ela via, era o fato de Joseph estar no lado errado da porta. E nem sequer uma doce e delicada lady de nobre berço podia interpretar mal o significado daquela ação.
Demétria deixou escapar um suspiro de indignação, saltou da cama e correu para a porta. Em sua mente só havia uma intenção: ia sair daquele quarto e se afastar de Joseph.
Ele a observou lutar com o fecho por um instante. Quando ficou convencido de que Demétria nunca conseguiria saber como funcionava o insólito ferrolho que havia debaixo da barra, foi para a cama. Ele decidiu ficar de calças em deferência aos sentimentos de Demétria, que parecia estar a ponto de perder o controle.
- Venha para cama, Demétria - Joseph pediu enquanto se deitava em cima dos cobertores.
- Não dormirei perto de você - Demétria gaguejou.
- Já dormimos juntos...
- Só uma vez dentro daquela tenda, Joseph, e isso foi por necessidade. Cada um compartilhou o calor do outro.
- Não, Demétria, porque eu dormi perto de você cada noite depois disso - informou Joseph.
Demétria se virou para olhá-lo fixamente.
- Você não fez isso!
- Sim, eu fiz.
Joseph sorria para ela.
- Como pode mentir com tanta facilidade? - quis saber Demétria.
Ela não lhe deu tempo para responder, mas se virou novamente para a porta e recomeçou seu trabalho sobre o ferrolho.
A recompensa por seus esforços consistiu em uma lasca debaixo da delicada pele de seu polegar. Demétria soltou um chiado de raiva.
- E agora tenho a uma parte desta maldita madeira debaixo de minha pele, graças a você - murmurou enquanto baixava a cabeça para examinar o machucado.
Joseph suspirou. Demétria ouviu do outro extremo do quarto o exagerado som que saiu de seus lábios, mas não ouviu quando Joseph se moveu e quando ele agarrou subitamente sua mão, ela saltou para trás, atingindo o topo de sua cabeça com a extremidade do queixo de Joseph.
- Você se move como um lobo - ela falou enquanto permitia que Joseph a levasse para luz do fogo -. Não estou fazendo nenhum elogio, Joseph, por isso pode deixar de sorrir.
Ele ignorou seus murmúrios. Ele estendeu a mão sobre o manto e pegou um punhal muito afiado cuja ponta era quase tão fina como a de uma agulha. Demétria fechou os olhos até que sentiu a primeira espetada. Então teve que abri-los, porque se não observasse Joseph, ele provavelmente cortaria seu polegar. Demétria se inclinou para baixo até que, inadvertidamente, bloqueou seu polegar dos olhos de Joseph.
Ele puxou a mão de Demétria para cima, deixando-a melhor iluminada e inclinou sua cabeça sobre ela para terminar sua tarefa. A testa de Demétria tocou a de Joseph. Ela não se separou, e ele tampouco o fez.
Joseph cheirava muito bem.
Demétria voltava a cheirar a rosas.
A lasca foi extraída. Demétria não disse uma única palavra a Joseph, mas ela estava olhando para ele com uma expressão tão confiante em seu rosto. Joseph franziu o cenho em uma careta de frustração. Quando Demétria o olhava daquela maneira, ele só podia pensar em tomá-la em seus braços e beijá-la. Demônios, admitiu com desgosto, tudo o que ela tinha a fazer era olhar para ele e ele já queria deitar com ela!
Joseph jogou a adaga de volta no manto e, em seguida, voltou para a cama. Não havia soltado a mão de Demétria, e agora ele a arrastava atrás dele.
- Pensa em matar um homem quando nem sequer pode tirar uma lasca - ele murmurou.
- Não vou dormir com você - declarou Demétria em um tom que não podia ser mais enfático enquanto se detinha junto à cama, decidida a vencer -. Você é o homem mais arrogante e teimoso, que já conheci. Minha paciência está se esgotando, Joseph. Eu não vou aguentar muito mais.
Demétria percebeu que seu erro estava em aproximar-se muito de Joseph, quando gritou sua ameaça. Joseph estendeu os braços para ela e, literalmente, a levou para cima dele. Demétria aterrissou sobre seu colo com um golpe surdo. Joseph a tirou de cima dele para deixá-la a seu lado, com sua mão ainda fechada sobre o punho de Demétria.
Ele fechou os olhos, em uma óbvia tentativa de esquecer da presença dela. Demétria o encarou.
- Você me odeia demais para dormir perto de mim. Você mentiu, não foi, Joseph? Não estivemos dormindo juntos. Eu me lembraria.
- Você é capaz de dormir durante uma batalha - observou Joseph. Seus olhos estavam fechados, mas agora ele sorria -. E não odeio você, Demétria.
- Você com certeza me odeia - replicou Demétria -. Não se atreva a mudar de ideia agora.
Ela esperou um longo momento para que Joseph lhe respondesse. Quando ele não disse uma palavra, Demétria começou tudo de novo.
- A ação que nos uniu não teve nada de nobre. Eu salvei sua vida. E como você me pagou por isso? Pois bem, você me arrastou até este lugar esquecido por Deus, e poderia acrescentar que constantemente abusando de minha doce natureza. Eu acredito que convenientemente você esqueceu que também salvei a vida de Nicholas.
Deus, como desejou que Joseph abrisse os olhos para que ela pudesse ver sua reação!
- Agora eu cuidei de Miley. Mas me pergunto se você não terá planejado isso desde o primeiro momento. - Esse pensamento lhe fez franzir o cenho e continuou falando -: A esta altura, você deveria admitir que eu sou a inocente em todo esse seu plano. Sou eu que estou sendo tratada injustamente. Ora, quando penso em tudo o que tive que suportar...
O ronco de Joseph a fez calar. De repente Demétria ficou tão furiosa que desejou ter coragem para gritar na orelha dele.
- Sou eu quem deveria odiar você - murmurou para si mesma. Ela ajeitou seu vestido e se deitou sobre suas costas -. Se eu não tivesse meus próprios e satisfatórios planos, estaria muito zangada por tudo o que você fez para arruinar meu bom nome, Joseph. Agora nem sequer posso fazer um casamento adequado. Disso já não há nenhuma dúvida, mas admito que o perdedor será Sebastian e não eu. Meu irmão ia vender me ao melhor lance. Ao menos isso foi o que ele disse que ia fazer. Agora ele só vai me matar se conseguir se aproximar o suficiente - murmurou -. E tudo isso por sua causa - acrescentou com veemência.
Quando terminou suas reclamações, Demétria estava esgotada.
- Como vou conseguir que você me prometa alguma coisa? E eu já dei minha palavra à pobre Miley - acrescentou com um bocejo cheio de cansaço.
Então Joseph se moveu. Demétria foi pega totalmente despreparada, e só teve tempo de abrir os olhos antes que Joseph se inclinasse sobre ela. O rosto de Joseph estava muito perto do dela, e seu hálito era como uma cálida e doce carícia sobre as bochechas de Demétria. Uma das pesadas coxas de Joseph a deixou presa.
Santo Deus, e além disso ela estava deitada de barriga para cima!
- Se você se aproveitar de mim, encontrarei alguma maneira de contar a lady Eleanor - conseguiu balbuciar.
Joseph virou seus olhos para o céu.
- Demétria, sua mente está consumida pela obsessão de que eu vou...
Ela colocou bruscamente a mão em cima da boca de Joseph e a manteve ali.
- Não se atreva a dizê-lo - replicou -. E por que outra razão você estaria estendido em cima de mim como a uma manta se não quisesse...?
Demétria igualava sua visão com a de Joseph.
- Você está tentando me enlouquecer - ela o acusou.
- Você já está - anunciou Joseph.
- Saia de em cima de mim. Você pesa mais que as portas da sua casa.
Joseph deslocou seu peso até que sua massa ficou sustentada pelos cotovelos. Sua pélvis repousava sobre a de Demétria. Joseph podia sentir o calor que havia dentro dela.
- Que promessa você quer de mim?
A pergunta pareceu deixar Demétria bastante confusa.
- Miley - recordou Joseph.
- Oh - disse Demétria, quase sem fôlego -. Eu pensei em esperar até manhã para falar com você a respeito de Miley, mas não tinha percebido que você me obrigaria a dormir com você. E esperava pegar você de melhor humor...
- Demétria...
A última sílaba de seu nome foi articulada mediante um longo e cuidadosamente controlado gemido, e a maneira com que Joseph apertava seu queixo fez com que Demétria soubesse que havia esgotado sua paciência.
- Desejo que me dê sua palavra de que Miley poderá viver aqui com vocês durante todo o tempo que ela quiser, e que não vai obriga-la a se casar sob nenhuma circunstância. Pronto. Ficou claro o bastante para você?
Joseph franziu o cenho.
- Amanhã falarei com Miley - declarou depois.
- Sua irmã está muito assustada para falar abertamente com você, mas se eu puder lhe dizer que você deu sua palavra, então acredito que você perceberá uma mudança bastante considerável nela. Miley está muito preocupada, Joseph, e se pudermos aliviar a carga que pesa sobre ela, então ela se sentirá muito melhor.
Joseph teve vontade de sorrir. Demétria tinha adotado o papel de mãe de Miley, tal como ele suspeitava que ela faria. Sentiu-se imensamente satisfeito em ver que seu plano tinha funcionado.
- Muito bem. Diga a Miley que dei minha palavra. Terei que falar com o Liam - acrescentou, quase como uma ideia de último momento.
- Liam terá que encontrar alguém mais para se casar. E de qualquer maneira, Miley acredita que agora o contrato já não é mais obrigatório. Além disso Liam vai querer uma mulher que não tenha sofrido mácula alguma e isso faz com que eu desgoste dele imensamente.
- Nem sequer conhece esse homem - disse Joseph com exasperação -. Como pode julgá-lo tão facilmente?
Demétria franziu o cenho. Joseph tinha razão, embora quase lhe doesse ter que concordar com aquela afirmativa.
- Liam sabe o que aconteceu a Miley? - perguntou.
- A esta altura toda a Inglaterra sabe. Sebastian está se assegurado disso.
- Meu irmão é um homem muito perverso.
- Seu tio Berton é da mesma opinião a respeito de Sebastian? - perguntou Joseph
- Como sabe o nome de meu tio? -perguntou Demétria.
- Você me disse - respondeu Joseph, sorrindo ao ver como ela abria seus olhos.
- Quando? Tenho uma memória excelente e não me lembro de ter mencionado.
- Quando estava doente, contou-me a respeito de seu tio.
- Pois se falei não me lembro. Foi muito grosseiro de sua parte escutar o que eu disse.
- Não havia como deixar de ouvir sua voz - disse Joseph, sorrindo ante a lembrança -. Você gritava tudo que você falava.
Ele exagerava só para provocar a reação de Demétria. Quando ela não estava na defensiva, suas expressões eram inocentemente refrescantes de se ver.
- Conte-me que mais eu disse - exigiu Demétria em um tom carregado de suspeita.
- A lista é muito longa. Basta dizer que você me contou tudo isso.
- Tudo? - exclamou Demétria, que agora parecia horrorizada.
Deus, aquilo era terrivelmente constrangedor. E se ela havia chegado a dizer o quanto gostava de beijá-lo?
Um suave brilho iluminou os olhos de Joseph. Provavelmente ele estaria apenas zombando dela. Isso não estava nada bem, e Demétria decidiu que faria desaparecer aquele sorriso.
- Então eu lhe disse os nomes de todos os homens que levei para minha cama, não é? Bom, suponho que o jogo terminou - concluiu com um suspiro.
- Seu jogo terminou no momento em que nos encontramos - disse Joseph suavemente.
Demétria sentiu como se acabasse de ser acariciada, e não soube como reagir.
- E o que isso significa exatamente? - perguntou.
Joseph sorriu.
- Você fala demais - ele disse -. Esse é outro defeito que você deveria tentar corrigir.
- Isso é ridículo! - replicou Demétria -. Eu falei suficientemente pouco com você durante toda a semana e você me ignorou por completo. Como pode dizer que falo demais? - perguntou, atrevendo-se a cravar um dedo em seu ombro.
- Não estou sugerindo nada. Limito-me a expor os fatos - respondeu Joseph, observando-a com muita atenção e vendo a labareda que iluminou seus olhos azuis.
Fazer com que Demétria mordesse a isca era muito fácil. Joseph sabia que deveria parar, mas na verdade estava desfrutando muito da maneira com que ela reagia. Não havia nenhum mal nisso, e agora Demétria estava tão furiosa como uma gata selvagem.
- Desagrada-lhe que eu diga o que penso?
Joseph assentiu.
Demétria achou que agora ela era um verdadeiro patife. Uma mecha de escuros cabelos tinha caído para frente e repousava sobre sua testa. Ele também estava sorrindo. Oh, aquilo teria levado um santo a cair em tentação!
- Então deixarei de falar com você. Juro que nunca mais voltarei a falar com você. Isso agradaria você?
Ele voltou a assentir, embora desta vez tenha feito muito mais devagar que antes. Demétria respirou fundo enquanto se preparava para lhe dizer o que pensava a respeito de sua indelicadeza, mas Joseph a silenciou. Baixou a cabeça e roçou os lábios de Demétria com os seus, deixando-a bem surpresa para reduzi-la a uma submissão temporária.
Sem que houvesse nenhum treinamento, Demétria abriu a boca para a insistente língua de Joseph e então ele começou a fazer amor lentamente com sua língua. Deus, podia sentir o fogo que ardia dentro dela! Suas mãos se estenderam junto aos lados do rosto de Demétria e seus dedos se enredaram em seu magnífico cabelo.
Como a desejava! O beijo passou rapidamente de uma delicada carícia para se transformar em uma amostra de paixão selvagem. Suas línguas duelaram uma e outra vez até que Joseph quase perdeu a razão de tanto querer mais. Sabia que deveria se deter, e já se preparava para se separar dela quando sentiu que as mãos de Demétria tocavam suas costas. A carícia era muito suave e hesitante, e a princípio se mostrou tão leve como uma mariposa, mas assim que Joseph soltou um grunhido e voltou a se envolver na doçura da boca de Demétria, sua carícia passou a adquirir uma nova pressão. Suas bocas se tornaram ardentes e úmidas, e se agarravam a uma à outra.
Joseph sentiu como um súbito estremecimento percorria o corpo de Demétria e ouviu o gemido entrecortado que escapou de seus lábios quando, de muito má vontade, foi se afastando dela.
Os olhos de Demétria estavam nublados pela paixão e seus lábios, vermelhos e inchados, chamavam-no pedindo que ele voltasse a saboreá-la. Joseph sabia que não deveria ter iniciado aquilo que não podia terminar. Todo seu corpo palpitava de desejo, e precisou de um supremo ato de vontade para afastar-se dela.
Com outro gemido de frustração, Joseph se virou até ficar de lado. Depois, envolveu a cintura de Demétria com seu braço e a atraiu para ele.
Demétria queria chorar. Não podia entender o porquê em permitir, uma e outra vez, que Joseph a beijasse. Ainda mais importante, ela não conseguia impedir que ela mesma evitasse beijá-lo. Estava sendo tão lasciva como uma prostituta qualquer.
Tudo que Joseph precisava fazer era tocá-la para que ela se desmanchasse pedaços. Seu coração batia a toda velocidade, as palmas de suas mãos esquentaram, e ela se via invadida por um infinito desejo de que houvesse algo mais.
Ouviu Joseph bocejar, e concluiu que aquele beijo não tinha significado grande coisa para ele depois apesar de tudo.
Aquele homem a irritava tanto como uma brotoeja. Demétria decidiu que manteria uma distância considerável a respeito dele, no mesmo instante em que contrariava sua decisão fazendo com que seu corpo se moldasse à curva do corpo de Joseph. Quando ela já havia quase conseguido se acomodar de maneira inteiramente satisfatória, Joseph deixou escapar um áspero gemido. Suas mãos foram para os quadris de Demétria e a seguraram firmemente.
Aquele homem sempre tentava contrariá-la em tudo! Por acaso não percebia quão incômodo era dormir vestindo o mesmo traje que usava para passear? Demétria voltou a se mexer, e sentiu Joseph estremecer perto dela, e então pensou que ele poderia estar preparando para gritar com ela.
Demétria estava muito cansada para se preocupar com o mau humor de Joseph. Com um bocejo próprio, adormeceu.
Foi, sem dúvida, o desafio mais difícil que Joseph enfrentou. E se Demétria voltasse a mover seu traseiro ainda que só mais uma vez, Joseph sabia que não conseguiria superar aquela provação.
Nunca tinha desejado uma mulher da maneira com que estava desejava Demétria. Joseph fechou os olhos e deu uma profunda e trêmula inspiração. Demétria se moveu suavemente junto dele e Joseph começou a contar até dez, prometendo-se que quando chegasse a esse número mágico, iria se sentir um pouco mais dono de si mesmo.
A inocente aninhada contra ele não tinha, absolutamente, nenhuma ideia do perigo que corria. Seu traseiro levava toda a semana distraindo Joseph. Imaginou a maneira que Demétria andava, e de repente voltou a ver o delicado balançar de seus quadris, quando passeava ao redor da fortaleza dos Wexton.
Demétria afetaria os outros da mesma maneira que ela o afetava? Joseph franziu o cenho ante aquela pergunta e terminou admitindo que sem dúvida ela afetaria. Sim, porque ele já tinha visto os olhares que seus homens lançavam para ela quando a atenção de Demétria estava dirigida para outro lugar. Inclusive o fiel Anthony, o vassalo em quem Joseph mais confiava e seu melhor amigo, tinha mudado sua atitude inicial para com Demétria. No começo da semana Anthony sempre estava muito calado e era comum franzir o cenho, mas quando a semana chegou ao fim Joseph percebeu que normalmente quem falava era seu vassalo.
E agora Anthony também não seguia Demétria, porque caminhava ao lado dela.
Exatamente onde Joseph queria estar.
Não podia culpar Anthony pela debilidade em sucumbir aos encantos de Demétria.
Nicholas, entretanto, já era outra questão. O irmão mais novo parecia ter-se encantado por Demétria, e aquilo podia chegar a ser um problema.
Demétria começou a se mover novamente. Joseph sentiu como se acabassem de marcá-lo com ferro, e de repente um doloroso desejo reclamou toda sua atenção. Com um grunhido de frustração, separou os cobertores e se levantou da cama. Embora Demétria tivesse sido sacudida por aquele súbito movimento, não despertou.
- Dorme como a uma criança inocente - murmurou Joseph para si mesmo, enquanto ia para a porta.
Retornaria a seu lago e enquanto sacudia a cabeça, Joseph compreendeu que encontraria autêntico prazer naquele segundo mergulho.
Joseph não era um homem paciente, mas queria que todas as questões estivessem resolvidas antes de reclamar Demétria para si. Resignou-se ao fato de que provavelmente agora nadaria mais frequentemente em seu lago. Não era um desafio que o jogava para fora agora, mas um a necessidade de encontrar algum tipo de liberação para o fogo que ardia em suas vísceras.
Com um murmúrio de desgosto, Joseph fechou a porta.

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