E naqueles tempos havia
gigantes sobre a face da terra.
Gênese, 6,4
Demétria
jurou a si mesma que ainda que chegasse a viver até a avançada idade de trinta
anos, jamais esqueceria a semana que seguiu sua decisão de ajudar Miley.
Foi
uma semana como nenhuma outra, salvo provavelmente a semana da invasão do duque
William, mas naturalmente, naquele tempo Demétria ainda não tinha nascido para
presenciar tal acontecimento, assim ela imaginou que esta não contasse. Aquela
semana quase chegou a destruir sua natureza doce e carinhosa e sua prudência.
Mas Demétria não estava muito segura de qual das duas coisas cobiçava mais e,
por conseguinte resolveu conservar ambas.
De
fato, a tensão teria bastado para fazer bater os dentes de um santo. A única
razão de todo isso, é claro, era a família Wexton.
Demétria
teve completa liberdade para percorrer todos os cantos do castelo, com apenas
um soldado andando atrás como uma longa sombra. Inclusive tinha obtido a
permissão por parte de Joseph para utilizar os restos dos alimentos para
alimentar os animais. E como o soldado também pode escutar o pedido de
Demétria, ele, na verdade, chegou a argumentar em seu favor com os homens
encarregados da ponte levadiça. Demétria foi até o alto da colina, que se
elevava fora dos muros da fortaleza, com os braços carregados com um saco de
pano que continha carne, aves e grãos. E como ela não sabia o que seu cão
selvagem iria comer, carregou uma seleção certa para seduzi-lo.
Sua
sombra, um simpático soldado chamado Anthony, resmungou sobre a distância. Ele
tinha sugerido que fossem até ali a cavalo, mas Demétria se mostrou contra o
plano e, ao fazê-lo, obrigou ao soldado que andasse junto dela. Demétria disse
que a caminhada faria bem a eles, quando na verdade ela esperava esconder sua
falta de habilidade em cavalgar.
Joseph
estava esperando por Demétria quando ela retornou de sua jornada. Não parecia
muito feliz.
-
Não dei permissão para que saísse além dos muros - declarou enfaticamente.
Anthony
veio em sua defesa.
-
Você deu permissão para ela alimentar os animais - lembrou ao seu lord.
-
Sim, você permitiu – concordou Demétria, e o fez com um sorriso tão doce e uma
voz tão suave que teve certeza que ele perceberia sua tranquilidade.
Joseph
assentiu.
A
expressão que havia em seu rosto era realmente aterradora. Demétria pensou que
Joseph desejava se ver livre dela, mas agora ele já nem sequer gritava com ela.
Para falar a verdade, rara vez levantava a voz. Não precisava fazê-lo. A
estatura de Joseph ganhava sua atenção imediatamente, e sua expressão, quando
ficava tão aborrecido como estava agora, parecia ser tão efetiva como qualquer
alarido.
Demétria
já não tinha mais medo dele. Infelizmente, precisava se lembrar daquele fato
várias vezes ao dia. E ainda não tinha coragem suficiente para perguntar o que
ele queria dizer quando disse que agora ela lhe pertencia. Continuava adiando
aquele confronto, mas a verdadeira razão disso era que temia pela resposta de
Joseph.
Além
disso, dizia a si mesma, que teria tempo de sobra para descobrir qual seria seu
próprio destino, depois que Miley estivesse um pouco melhor. Por enquanto,
Demétria atacaria cada batalha que aparecesse.
-
Só fui até o alto da colina - respondeu finalmente -. Fica preocupado de que
possa andar até chegar a Londres?
-
Que propósito tinha esta caminhada? - perguntou Joseph, ignorando aquele
comentário que Demétria acabava de fazer sobre escapar, porque parecia muito
ridículo respondê-lo.
-
Alimentar meu lobo.
A
reação de Joseph foi a mais agradável possível. Pela primeira vez ele não foi
capaz de controlar sua expressão. Agora ele a olhava com surpresa. Demétria
sorriu.
-
Se quiser pode rir, mas vi que era ou um cão muito grande ou um lobo selvagem,
e me pareceu que era meu dever alimentá-lo, só até que o tempo melhore um pouco
e possa voltar a caçar. Naturalmente, isso significa que terei todo um inverno
pela frente para me ocupar com sua comida, mas assim que a próxima primavera
chegar, com a primeira brisa cálida, tenho certeza de que meu lobo será capaz
de arranjar-se sozinho.
Joseph
deu-lhe as costas e se afastou.
Demétria
sentiu vontade de voltar a rir. Joseph não negou a ela o direito de sair da
fortaleza, e isso já era uma vitória mais que suficiente para regozijar.
Na
verdade, Demétria não acreditava que o cão selvagem ainda estivesse pelos
arredores. Desde a primeira vez que avistou o animal e a cada noite, ela olhava
por sua janela, mas ele nunca estava ali. O cão se foi e, às vezes, tarde da
noite quando estava aconchegada debaixo dos cobertores, Demétria se perguntava
se realmente tinha visto o animal ou se este só tinha sido produto de sua
imaginação hiperativa.
Demétria
nunca admitiria isso para Joseph, porém, tinha um perverso prazer a cada vez
que ela atravessava a ponte levadiça. A comida que deixava no dia anterior
sempre desaparecia quando ela chegava ali, o que indicava que havia animais se
alimentando durante a noite. Demétria se alegrava em saber que a comida não era
desperdiçada, e ainda a alegrava ainda mais o fato de poder atormentar Joseph.
Sim,
ela fazia isso apenas para irritá-lo. E a julgar pela maneira com que Joseph a
evitava, Demétria acreditava ter conseguido.
Os
dias seriam muito agradáveis se Demétria não tivesse que se preocupar tanto
pela hora de jantar. Aquilo colocava um peso sobre seus ombros e submetia sua
delicada natureza a uma terrível tensão.
Demétria
sempre passava a maior quantidade de tempo possível fora da fortaleza, sem se
importar com o frio e a chuva. Gerty tinha lhe dado umas roupas velhas que
tinham pertencido a Catherine, a irmã mais velha de Joseph. As roupas eram
grandes demais, mas Demétria usou agulha e linha neles, e terminou obtendo um
resultado mais que adequado para as suas necessidades. O fato de não estar na
moda não lhe importava absolutamente. As peças estavam desbotadas, mas estavam
limpas, e seu toque sobre a pele era muito suave. E, o que era ainda mais
importante, mantinham-na aquecida.
Toda
tarde Demétria ia aos estábulos com um torrão de açúcar para dar ao cavalo de
Joseph, aquela preciosidade branca que ela chamava de Silenus. Demétria e o
cavalo desenvolveram uma espécie de laço. O cavalo armava um terrível barulho a
cada uma de suas visitas e fingia tentar derrubar a coices, sempre que via
Demétria se aproximar. Mas tão logo ela conversava com ele, Silenus se
acalmava. Demétria entendia a necessidade que tinha o animal tinha de exibir-se
diante dela, e sempre elogiava sua bravura antes de dar a guloseima.
Apesar
de seu tamanho, Silenus estava começando a se mostrar afetuoso com Demétria.
Empurrava sua mão quando ela o acariciava, e quando Demétria ficava quieta e
colocava a mão em cima do corrimão, um truque para obter sua reação, Silenus
empurrava a mão dela imediatamente para sua cabeça.
O
encarregado dos estábulos não gostava da visita de Demétria, e expressou sua
opinião em voz alta para que ela a ouvisse. Ele também era da opinião de que
Demétria estava estragando o cavalo de Joseph e até ameaçou contar ao seu lord
o que ela estava fazendo. Mas aquilo não era mais que um blefe. Na verdade, o
encarregado dos estábulos estava bastante impressionado com habilidade com que
Demétria tratava o cavalo. Ele ainda ficava um pouco nervoso cada vez que
selava o cavalo de Joseph, mas aquela jovenzinha não parecia ter o menor medo.
Na
terceira tarde, o encarregado dos estábulos dirigiu a palavra a Demétria, e no
final daquela semana já eram grandes amigos.
Demétria
soube que ele se chamava James e era casado com Maude. Seu filho William ainda
era muito grudado à saia de sua mamãe, mas James esperava pacientemente o
momento em que o moço seria grande o bastante para se converter em aprendiz sob
seu comando. A criança seguiria a tradição, explicou James dando um certo ar de
importância.
-
Silenus deixará que você o monte sem sela - anunciou James depois de ter dado a
Demétria um passeio em seus domínios.
Demétria
sorriu. James tinha aceitado o nome que ela tinha escolhido para a montaria de
Joseph.
-
Nunca montei sem sela - disse -. Para falar a verdade, James, eu nunca havia
montado.
-
Quando não estiver chovendo tanto, talvez possa aprender qual é a maneira
apropriada de montar - sugeriu James com um amável sorriso.
Demétria
assentiu.
-
Mas se você nunca soube montar, então eu me pergunto como você ia de um lugar a
outro - admitiu James.
-
Eu caminhava - disse Demétria, e riu ao ver a expressão de surpresa em seu
rosto -. O que estou confessando não é nenhum pecado.
-
Eu tenho uma égua muito mansa com a qual poderia começar a praticar - sugeriu
James.
-
Não, não acredito que seja uma boa ideia - respondeu Demétria -. Silenus não
gostaria muito disso. Acredito que poderia ferir seus sentimentos e não podemos
permitir que isso aconteça, não é?
-
Não podemos? - James parecia confuso.
-
Acredito que eu me sairia melhor com Silenus.
-
Minha senhora, esse cavalo que quer montar é o cavalo do lord! –balbuciou
James, que parecia ter-se engasgado de repente.
-
Sei a quem pertence - replicou Demétria -. Não se preocupe pelo tamanho do
animal - acrescentou, tentando fazer desaparecer a incredulidade do rosto de
James -. Já montei em Silenus antes.
-
Mas, têm a permissão do lord?
-
Eu a terei, James.
Demétria
voltou a sorrir, e todos os argumentos lógicos saíram voando subitamente da
mente do encarregado dos estábulos. Sim, disse a si mesmo, apoiando-se naquele
olhar de olhos tão azuis e no jeito que ela sorria para ele com tanta
confiança, e assim, de repente, James percebeu que estava completamente de
acordo com ela.
Quando
Demétria saiu do estábulo, o guarda começou a andar atrás dela. Sua presença
era um aviso constante, tanto para ela como para todos outros, de que Demétria
não era uma hóspede convidada. Contudo, a atitude de Anthony para com ela se
suavizava imensamente. Agora ele já estava bem menos irritado pelo dever que
lhe tinham atribuído.
A
maneira com que Anthony era saudado pelos outros soldados fez que Demétria
concluísse que todos o tinham em bom conceito. Anthony tinha um sorriso
atraente, um sorriso de menino que não se correspondia a sua idade e altura.
Ela não entendia a razão pela qual tinham-lhe ordenado que a vigiasse, porque
imaginava que alguém de menor estatura, como por exemplo Ansel, o escudeiro,
seria mais apropriado para aquele plácido dever.
Sua
curiosidade aumentou, até que finalmente decidiu interrogá-lo.
-
Fez algo que desagradasse seu lord? - perguntou um dia.
Anthony
pareceu não entender sua pergunta.
-
Posso ver a inveja com que olha os outros soldados, quando retornam depois de
ter completo com seus deveres, Anthony. Você preferiria estar treinando com
eles em vez de andar às voltas comigo.
-
Isso não é nenhum problema - protestou Anthony.
-
Mesmo assim, não entendo por que lhe atribuíram esta tarefa. A menos que tenha
aborrecido Joseph de algum jeito.
-
Tenho uma ferida que ainda precisa de algum tempo para curar completamente -
explicou Anthony. Sua voz hesitou, e Demétria percebeu o rubor que ia subindo
pouco a pouco por seu pescoço.
Demétria
achou estranho que ele tivesse vergonha e, com a única intenção de aliviar seu
desconforto, disse:
-
Eu também sofri uma lesão e não precisamente das mais leves, posso lhe
assegurar isso. - Fez soar como exibicionismo, mas o objetivo de Demétria era
fazer com que Anthony não tivesse nada com que se envergonhar -. Quase acabou
comigo, Anthony, mas Kevin cuidou de mim. Agora tenho uma horrível cicatriz ao
longo de minha coxa.
Anthony
parecia continuar incomodado com o tema de conversa que ela tinha escolhido.
-
Será que os soldados não consideram nobre quando são feridos em batalha? -
perguntou Demétria.
-
É obvio que sim - respondeu Anthony, entrelaçando as mãos atrás das costas e
apertando o passo.
De
repente Demétria percebeu que Anthony poderia estar constrangido talvez pelo
lugar em que tenha sofrido sua ferida. Seus braços e suas pernas pareciam estar
perfeitos, e então só restava seu peito e seu...
-
Não vamos falar mais nisso - Demétria balbuciou. Ela sentia seu rosto
enrubescer. Quando Anthony, de imediato, diminuiu o passo, Demétria soube que
estava certa. A ferida era em um lugar pouco apropriado.
Embora
ela nunca perguntasse a Anthony sobre isso, Demétria achava curioso que os
soldados treinassem durante tantas horas todos os dias. Acreditava que defender
seu lord era uma tarefa difícil, sobre tudo considerando o fato de que seu
líder tinha muitos inimigos. Tampouco acreditava estar chegando a conclusões
muito apressadas. Joseph não era um homem fácil de agradar, e certamente não
mostrava muito tato ou diplomacia. De fato, na corte de William II
provavelmente acumulou mais inimigos que amigos.
Infelizmente,
Demétria tinha muito tempo para pensar em Joseph. Não estava acostumada a ter
tanto tempo disponível em suas mãos. Quando não estava fora passeando com
Anthony, Demétria sugeria a Gerty e Maude como fazer para que o lar de Joseph
fosse mais agradável.
Maude
não era tão reservada como Gerty. Sempre estava disposta a deixar de lado suas
tarefas para ir com Demétria. O pequeno Willie, o filho de quatro anos de
Maude, demonstrou ser tão falador como sua mãe uma vez que Demétria conseguiu
tirar seu polegar da boca.
Entretanto,
quando a luz do dia começava a desvanecer, o estômago de Demétria dava um nó e
sua cabeça começava a latejar. Era de admirar, disse a si mesma, quando se
considerou que as noites passadas com a família Wexton eram ensaios de
resistência e que Ulisses teria dado as costas.
Mas
Demétria não se permitia dar as costas. Ela já tinha tentado de tudo, exceto
ficar de joelhos e suplicar para que a deixassem jantar em seus aposentos, mas
Joseph não permitia. Não, Joseph tinha exigido que Demétria participasse do
jantar familiar, e além disso, teve a ousadia de se retirar da provação nojenta
que ele impunha a ela. O barão de Wexton sempre comia sozinho, e fazia uma
breve aparição apenas depois que a mesa tivesse sido limpa dos restos que seus
homens ainda não tinham atirado ao chão.
Miley
se encarregava de proporcionar uma estimulante conversa. Enquanto os homens iam
lançando ossos por cima de seus ombros, a irmã de Joseph lançava uma grosseria
atrás da outra a Demétria.
Demétria
não acreditava que pudesse suportar essa tortura durante muito tempo. Sentia
seu sorriso tão frágil e quebradiço como se fosse um pergaminho ressecado.
Na
sétima noite, a compostura de Demétria finalmente se rachou, e o fez com tão
violenta energia que quem presenciou o acontecimento ficou bem assustado para
chegar a intervir.
Joseph
acabava de lhe dar permissão para sair da sala. Demétria se levantou,
desculpou-se e começou a ir para a entrada.
Sua
cabeça latejava, e ela só pensava em manter distância de Miley. Demétria não se
sentia em condições de suportar outra rodada de gritos. A irmã de Joseph
caminhava em sua direção.
Demétria
olhou com cautela por sobre Miley e viu o pequeno Willie espreitando fora da
porta de entrada da cozinha. O pequeno sorriu para ela, e Demétria se deteve
imediatamente para falar com ele.
A
criança respondeu ao sorriso de Demétria. Passou como uma flecha na frente de
Miley no mesmo instante em que a irmã estendia a mão, em um dos grandes gestos
que ela sempre fazia quando estava prestes a começar novos insultos contra
Demétria. O dorso da mão de Miley se chocou contra a bochecha de Willie. O
pequeno caiu no chão.
Willie
começou a choramingar, Nicholas gritou e Demétria deixou escapar um grito
ensurdecedor. O grito de raiva que ela deu deixou atônitos a todos aqueles que
estavam na sala, inclusive Miley, que de fato chegou a dar um passo para trás,
a primeira autêntica retirada que ela efetivamente fez diante de Demétria.
Nicholas
já estava se levantando quando Joseph o agarrou pelo braço. O mais jovem dos
irmãos se dispôs a protestar ao sentir-se retido, mas a expressão que havia nos
olhos de Joseph o deteve.
Demétria
correu para o pequeno, tranquilizou-o com uma palavra amável e um carinhoso
beijo no alto da cabeça, e logo lhe disse que fosse com sua mãe. Ao ouvir os
gemidos de seu filho, Maude apareceu no vão da porta com Gerty ao lado dela.
Então
Demétria se virou para encarar Miley. Provavelmente ela teria sido capaz de
controlar sua raiva, se a irmã de Joseph tivesse mostrado qualquer sinal de
remorso. Miley, entretanto, não parecia lamentar sua conduta nem um pouco. E
quando murmurou que aquela criança era um incômodo, Demétria perdeu o controle.
Miley
chamou Willie de pirralho uma fração de segundo antes de Demétria se lançar
sobre ela e a esbofetear, ali onde ela entendia que Miley mais merecia, batendo
em sua boca. O ataque deixou Miley tão perplexa que ela perdeu o equilíbrio e
caiu de joelhos. Sem perceber, ela acabava de proporcionar uma grande vantagem
a Demétria.
Demétria
a agarrou pelo cabelo antes que Miley pudesse se levantar e torceu toda a massa
de cabelos atrás de sua cabeça, tornando a irmã vulnerável e incapaz de
contra-atacar. Ela forçou a cabeça de Miley para trás.
-
Você pronunciou sua última palavra imunda, Miley. Você está me entendendo?
Todo
mundo olhou para as duas mulheres. Kevin foi o primeiro a sair de seu estupor.
-
Tire as mãos de cima dela, Demétria! - gritou.
Sem
desviar sua atenção de Miley, Demétria gritou de volta para Kevin:
-
Não se meta nisto, Kevin! Você me considera responsável pelo que ocorreu a sua
irmã, e decidi que já é hora de colocar mãos à obra para arrumar toda esta
bagunça. A começar por agora mesmo.
Joseph
não disse uma única palavra.
-
Não lhe considero responsável! - gritou Kevin -. Solte-a. Sua mente está....
-
Sua mente necessita uma boa limpeza, Kevin.
Demétria
viu que tanto Maude como Gerty estavam olhando pelo vão da porta, e segurou
Miley com firmeza quando se virou para falar com elas.
-
Parece que vamos precisar de duas banheiras para eliminar a sujeira que cobre a
esta pobre criatura. Providencie isto, Gerty. Maude, encontre roupa limpa para
sua senhora.
-
Vai tomar um banho agora, milady? - perguntou Gerty.
-
Miley é quem vai tomar banho agora - anunciou Demétria. Ela se virou para
encarar Miley e disse -: E cada vez que você me disser uma palavra imprópria
para uma dama, haverá sabão dentro de sua boca.
Demétria
soltou o cabelo de Miley e a ajudou a ficar de pé. A irmã de Joseph tentou se
afastar, mas Demétria não estava disposta a permitir que isso acontecesse. Sua
ira lhe deu a força de Hércules.
-
É mais alta que eu, mas eu sou mais forte, e neste momento muito mais perigosa
do que você possa imaginar, Miley. Se tiver que lhe chutar durante todo o
trajeto torre acima, estou mais que apta para este desafio. - Puxou o braço de
Miley, arrastando-a para a entrada enquanto continuava resmungando em um tom,
suficientemente alto, para que os três irmãos pudessem ouvi-la -. E se quiser
que lhe diga a verdade, já estou sorrindo só de pensar em lhe dar uns chutes.
Miley
começou a chorar, mas Demétria se mostrou implacável. A irmã de Joseph não ia
obter nenhuma simpatia dela. Kevin e Nicholas já lhe tinham dado em excesso.
Sem que percebessem, os irmãos tinham machucado sua irmã com aquela piedade e
compaixão que demonstravam. E agora era preciso pulso firme. E Demétria era
firme o bastante. O mais curioso era que agora sua cabeça não doía mais.
-
Chore tudo o que quiser, Miley. Isso não ajudará em nada sua causa. Atreveu-se
a chamar de pirralho o pequeno Willie, quando isso é um nome que pertence única
e exclusivamente a você. Sim, você é a pirralha. Mas agora tudo isso vai mudar.
Eu estou lhe prometendo isso.
Demétria
não deixou de falar nem um só instante, enquanto iam para os aposentos. Não
teve que dar um único chute em Miley.
Quando
as banheiras de madeira estavam cheias, até transbordar, de água fumegante,
Miley ficou sem energia para lutar. Gerty e Maude ficaram com Demétria para dar
uma mão no trabalho de tirar a roupa de Miley.
-
Queime-as - ordenou Demétria depois de entregar aquelas peças imundas a Gerty.
Quando
Miley foi empurrada para dentro da primeira banheira, Demétria pensou que
estava imitando a esposa de Lot. A irmã de Joseph ficou tão imóvel como um
pedaço de pedra esculpida e cravou o olhar na distância. Mas a expressão que
havia em seus olhos contava outra história. Sim, saltava à vista que por dentro
Miley estava fervendo de raiva.
-
Por que havia necessidade de duas banheiras? - perguntou Maude enquanto torcia
as mãos com preocupação.
Miley
por sua vez, tinha mudado de tática e acabava de puxar o cabelo de lady
Demétria. Parecia que tinha a intenção de arrancar os formosos cachos de
Demétria de seu couro cabeludo.
Em
retaliação, a lady que Maude passou ver como uma mulher doce, suave, empurrou o
rosto de Miley sob a água. Será que ela pensava em afogar a irmã do barão?
-
Não acredito que lady Miley possa respirar aí embaixo - disse Maude.
-
Certo, e tampouco pode me cuspir - respondeu Demétria, enfatizando cada
palavra.
-
Bom, eu nunca... - Gerty ofegou um protesto antes de dar meia volta. Maude viu
como sua amiga saía correndo daquele quarto.
Maude
sabia que Gerty sempre procurava espalhar as notícias antes que alguém mais pudesse
ter ocasião de fazê-lo. Então, o barão de Wexton provavelmente gostaria de
saber o que estaria acontecendo.
Maude
desejou poder correr atrás de Gerty. Agora lady Demétria a assustava, porque
nunca a tinha visto exibir um temperamento tão feroz. Mesmo assim, Maude teve
que admitir que ela havia ficado do lado do pequeno Willie, e que por essa
razão ficaria e daria uma mão, enquanto lady Demétria assim demandasse.
-
Precisamos de duas banheiras, porque Miley está tão suja que vai necessitar de
dois banhos.
Maude
teve dificuldade para ouvir o que lady Demétria estava dizendo. Miley tinha
começado a arranhar e chutar. Deus, havia água por toda parte, especialmente em
cima de lady Demétria.
-
Passe-me o sabão, por favor - pediu Demétria.
A
hora seguinte foi uma prova incrível e digna de ser contada até a próxima
primavera. Gerty não parava de mostrar a cabeça pelo vão da porta para
inteirar-se dos acontecimentos. Depois, ela corria escada abaixo para informar
a Kevin e Nicholas.
Quando
a comoção chegou ao fim, Gerty se sentiu um pouco decepcionada. Lady Miley
estava tranquilamente sentada diante do fogo, enquanto lady Demétria penteava
seus cabelos. A irmã do barão já não tinha vontade de continuar lutando, e as
emoções terminaram.
Maude
e Gerty saíram da torre depois que as banheiras foram esvaziadas e retiradas
dos aposentos.
Nem
Miley nem Demétria haviam trocado uma única palavra educada entre si. Maude
voltou a aparecer repentinamente no vão da porta e balbuciou:
-
Ainda tenho que lhe agradecer por ter ajudado meu menino.
Demétria
estava prestes a responder quando Maude continuou falando.
-
Veja bem, eu não estou contra lady Miley. Ela não pode evitar ser como é. Mas
você saiu do rumo para consolar Willie, e sou muito agradecida por isso.
-
Não pretendia bater nele.
A
afirmação veio de Miley. Era a primeira frase decente que ela havia
pronunciado. Maude e Demétria compartilharam um sorriso.
Assim
que a porta se fechou atrás de Maude, Demétria pegou uma cadeira e se sentou na
frente de Miley.
Miley
recusava-se a olhar para Demétria. Suas mãos estavam cruzadas em seu colo e ela
olhava fixamente para elas.
Demétria
gastou algum tempo, estudando a irmã de Joseph. De fato, Miley era muito
bonita. Tinha uns grandes olhos castanhos e o cabelo de uma cor castanha
dourada. Aquilo era uma surpresa, mas uma vez que a sujeira estava eliminada,
as mechas loiras eram claramente visíveis.
Não
se parecia muito com Joseph, mas não havia dúvida de que compartilhava a mesma
teimosia dele. Demétria se obrigou a ser paciente.
Transcorreu
ao menos uma hora antes que Miley finalmente olhasse para Demétria.
-
O que quer de mim? – ela perguntou.
-
Quero que me conte o que aconteceu.
O
rosto de Miley imediatamente enrubesceu.
-
Quer todos os detalhes, Demétria? Isso vai lhe dar prazer? - perguntou Miley,
começando a torcer a manga da camisola de dormir recém-lavada que estava
vestindo.
-
Não, não me dará nenhum prazer - respondeu Demétria com voz cheia de tristeza
-. Mas você tem necessidade de contar. Há muito veneno dentro de você, Miley, e
precisa se libertar dele. Você se sentirá melhor depois disso, prometo a você.
E então você não terá que continuar representando seu drama infantil diante de
seus irmãos.
Miley
arregalou os olhos.
-
Como sabe que...?- começou a dizer, e de repente percebeu que estava se
denunciando.
Demétria
sorriu.
-
É evidente até para o mais lerdo que você não me odeia. Nossos caminhos se
cruzaram a cada dia, e você nunca gritou comigo. Não, Miley, seu ódio foi muito
deliberado.
-
Eu realmente odeio você.
-
Não me odeia - afirmou Demétria -. Não tem razão alguma me odiar. Eu não fiz
nada para prejudicá-la. Nós duas somos inocentes e nós duas estamos presas
nesta guerra entre nossos irmãos. Sim, nós duas somos inocentes.
-
Eu já não sou inocente - respondeu Miley -. E Joseph foi para sua cama a cada
noite, assim duvido muito de que você continue a ser inocente.
Demétria
ficou estarrecida com as palavras de Miley. Por que ela pensava que Joseph
tinha passado suas noites com ela? Ela estava enganada, naturalmente, mas
Demétria se obrigou a se concentrar no problema de Miley. Ela poderia
questionar sua inocência mais tarde.
-
Eu mataria seu irmão, se tivesse a oportunidade de fazê-lo - avisou Miley -.
Por que você simplesmente não me deixa em paz? Quero morrer em paz.
-
Esses pensamentos tão pecaminosos nunca deveriam sair de seus lábios -
contestou Demétria -. Miley, como vou poder ajudá-la se você ...?
-
Por quê? Por que você iria querer me ajudar? Você é a irmã de Sebastian.
-
Não guardo nenhuma lealdade a meu irmão. Ele destruiu esse sentimento já faz
muito tempo. Quando conheceu Sebastian? – ela perguntou em um tom bem
despreocupado, como se realmente aquilo não tivesse nenhuma importância.
-
Eu o conheci em Londres - respondeu Miley -. E isso é tudo o que vou lhe dizer.
-
Vamos falar sobre isso sem importar quão doloroso possa ser. Nós só temos uma à
outra, Miley. Eu manterei seus segredos a salvo.
-
Segredos? Não há segredos, Demétria. Todo mundo sabe o que me aconteceu.
-
Ouvirei a verdade de sua boca - anunciou Demétria -. Ainda que tenhamos que
permanecer sentadas aqui nos olhando durante toda a noite, porque eu lhe
asseguro que estou mais que disposta a isso.
Miley
contemplou Demétria em silêncio durante um bom tempo, obviamente tratando de se
decidir. Sentia-se prestes a estourar em mil pedaços. Deus, estava muito
cansada daquela decepção, além de se sentir muito só.
-
E contará até a última palavra a Sebastian quando voltar com ele? - perguntou,
embora agora sua voz se convertesse em um sussurro enrouquecido.
-
Nunca voltarei com ele - disse Demétria, e sua voz refletia a ira que sentia -.
Tenho um plano para ir morar com minha prima. Eu ainda não sei como vou fazer
isso, mas chegarei a Escócia ainda que tenha que ir andando.
-
Eu acredito em você quando diz que não o contará nada a Sebastian. Mas, e
quanto a Joseph? Vai contar para ele?
-
Não contarei a ninguém a menos que você me dê permissão para fazê-lo -
respondeu Demétria.
-
Conheci seu irmão quando eu estava na corte - murmurou Miley -. Sebastian é um
homem muito atraente - ela acrescentou -. Disse que me amava, e se comprometeu
comigo.
Miley
começou a chorar, e vários minutos se passaram antes que ela pudesse recuperar
seu controle.
-
Eu já estava noiva do barão Liam. O compromisso foi acertado quando eu só tinha
dez anos, e me senti muito feliz até que conheci Sebastian. Eu não voltei a ver
Liam desde que era uma criança. Juro por Deus que nem sequer estou certa de
reconhecê-lo agora. Joseph me deu permissão para que fosse a corte acompanhada
por Kevin e Nicholas, acreditava-se que Liam estaria a ali, e que os votos do
casamento seriam trocados no verão seguinte. Meus irmãos pensaram que seria uma
boa ideia que eu começasse a conhecer um pouco meu futuro marido. Joseph
acreditava que, naquela época, Sebastian estivesse na Normandia com o rei,
porque de outra maneira jamais teria permitido que eu me aproximasse da corte.
Miley
respirou fundo e então continuou falando.
-
Liam não estava ali. Tinha razões de sobra para não estar presente -
acrescentou -, porque uma das residências de um de seus vassalos tinha sido
atacada e ele tinha que revidar de alguma maneira. Mesmo assim, fiquei muito
aborrecida e desapontada.
Então
ela encolheu os ombros. Demétria se inclinou e pegou suas mãos.
-
Eu também ficaria muito decepcionada - disse, tratando de consolá-la.
-
Tudo aconteceu tão depressa, Demétria. Nós estávamos em Londres só há duas semanas.
Eu já sabia o quanto Joseph desprezava Sebastian, mas não sabia a razão.
Mantivemos nossos encontros em segredo. Ele sempre se mostrava muito carinhoso
e atencioso comigo, e eu adorava toda aquela atenção. Os encontros também eram
muito fáceis de organizar, porque Joseph não estava presente.
-
Sebastian sempre encontra uma maneira - disse Demétria -. Eu acredito que ele a
tenha usado para machucar seu irmão. É muito bonita, Miley, mas não acredito
que Sebastian a quisesse. Ele não é capaz de querer ninguém além de si mesmo.
Eu sei disso agora.
-
Sebastian não chegou a me tocar.
A
declaração caiu entre elas. Demétria ficou atordoada. Obrigou-se a manter o
rosto impassível e então disse:
-
Continue, por favor.
-
Combinamos em nos encontrar em um aposento que Sebastian tinha encontrado vazio
no dia anterior. O quarto ficava bastante afastado do resto dos convidados, e
estava muito isolado. Eu sabia muito bem o que estava fazendo, Demétria. Eu
concordei com aquele encontro. Eu estava convencida de que amava seu irmão.
Sabia que aquilo era errado, mas não podia evitar o que estava sentindo. Meu
Deus, Sebastian era tão atraente... Santo céu, Joseph me mataria se chegasse a
saber a verdade.
-
Não se atormente, Miley. Ele não saberá nada disso, a menos que você o diga.
-
Sebastian veio a meu encontro tal como tínhamos combinado - disse Miley -. Mas
não estava sozinho. Um amigo dele o acompanhava e foi ele quem... ele me
violou.
O
tempo que Demétria passou aprendendo a esconder seus sentimentos foi o que a
salvou naquele momento, porque lhe permitiu não mostrar nenhum sinal exterior
ante a surpreendente admissão de Miley.
A
irmã de Joseph contemplou Demétria, esperando ver sua repulsa.
-
Isso não lhe faz...?
-
Termine - sussurrou Demétria.
Toda
a sórdida história finalmente saía à luz, primeiro de forma entrecortada e
titubeante e depois com uma crescente rapidez; e quando Miley por fim terminou
de falar, Demétria lhe deu alguns minutos para que pudesse se acalmar.
-
Quem era o homem que estava com Sebastian? Diga-me seu nome.
-
Morcar.
-
Eu conheço esse bastardo - repôs Demétria, sem poder evitar que a raiva
aparecesse em sua voz. Miley parecia assustada com aquela explosão. Demétria
tentou deixar sua raiva de lado -. Por que não contou a Joseph sobre isso? Não
me refiro à parte de concordar em se encontrar com Sebastian, é claro, mas
sobre o fato de Morcar estar envolvido?
-
Não podia fazê-lo - respondeu Miley -. Sentia-me tão envergonhada... E recebi
uma surra que realmente pensei que fosse morrer. Sebastian foi tão responsável
quanto Morcar... Oh, não sei, mas quando eu mencionei o nome de Sebastian a
Nicholas e Kevin, eles não quiseram ouvir nada mais.
Miley
estava soluçando, mas Demétria rapidamente a deteve.
-
Muito bem - disse, falando no tom mais tranquilo e despreocupado que era capaz
-. Agora você vai me escutar. Seu único pecado foi se apaixonar pelo homem
errado.
Eu
gostaria que você contasse a Joseph sobre Morcar, mas essa decisão é sua, e não
minha. Juro que guardarei seu segredo pelo tempo que você quiser que eu o faça.
-
Confio em você - respondeu Miley -. Eu estive observando você a semana inteira.
Não pode ser mais diferente que seu irmão. Nem sequer se parece com ele.
-
Agradeço a Deus por isso - murmurou Demétria, falando de forma tão cheio de
veemente que Miley sorriu,
-
Mais uma pergunta, Miley, por favor. - Demétria perguntou -: Por que você
estava se comportando de uma maneira tão enlouquecida? Fazia todo isto em
benefício de seus irmãos?
Miley
assentiu.
-
Por quê? - perguntou Demétria, confusa.
-
Quando cheguei em casa, compreendi que não iria morrer. E então comecei a me
preocupar que pudesse levar o filho de Morcar. Nesse caso Joseph me obrigaria a
casar, e...
-
Você não pode acreditar que Joseph uniria você a Sebastian? - Demétria a
interrompeu.
-
Não, não - disse Miley -. Mas ele encontraria alguém. Sua única preocupação
seria me ajudar.
-
E você está com uma criança? - perguntou Demétria, sentindo que revolvia seu
estômago diante da possibilidade.
-
Eu não sei. Meu período não veio, mas não sinto nenhuma diferença e meus fluxos
nunca foram muito regulares - disse Miley, ruborizando-se depois de ter feito
aquela confissão.
-
Talvez ainda seja muito cedo para saber – Demétria avisou -. Mas se você estiver,
como pensa em esconder isso de Joseph? Ele pode ser teimoso, Miley, mas com
certeza ele não é cego.
-
Pensei em ficar em meu quarto até que já seja muito tarde, eu suponho. Soa tão
tolo agora. Ultimamente não consigo pensar com muita clareza. Eu só sei que eu
me matarei antes de ser obrigada a me casar com qualquer um.
-
E quanto ao barão Liam? - perguntou Demétria.
-
Agora o contrato ficou desfeito - disse Miley -. Já não sou mais virgem.
Demétria
suspirou.
-
O barão avisou sobre isso?
-
Não - respondeu Miley -, mas Joseph diz que agora Liam já não terá que honrar
sua palavra.
Demétria
assentiu.
-
E sua principal preocupação é que Joseph force um casamento?
-
Isso mesmo.
-
Então a primeira coisa que faremos será enfrentar essa preocupação. Vamos
traçar um plano para livrá-la desta preocupação.
-
Vamos?
Demétria
ouviu a ansiedade que havia na voz de Miley, e também viu o brilho de esperança
que iluminou seus olhos. Aquilo fez com que se sentisse ainda mais decidida.
Incapaz de permanecer sentada um minuto a mais, Demétria se levantou e começou
a andar em um lento círculo ao redor das cadeiras.
-
Não acredito, nem por um instante, que seu irmão seja cruel o bastante para exigir
que você se casasse com qualquer um. - Ela levantou a mão quando percebeu que
Miley ia interrompê-la, e continuou falando -. Todavia, o que eu acredito não é
importante. E se eu conseguisse arrancar de Joseph a promessa de que você
poderá viver aqui durante todo o tempo que quiser, sem importar quais sejam as
circunstâncias? Isso aliviaria seus temores, Miley?
-
Você teria que dizer a ele que possivelmente eu carrego um filho comigo?
Demétria
não respondeu imediatamente. Continuou fazendo seu círculo, perguntando-se como
em nome de Deus ia conseguir que Joseph lhe prometesse alguma coisa.
-
É obvio que não - respondeu. Ela se deteve quando estava exatamente na frente
de Miley e sorriu para a moça -. Antes obterei sua promessa. Ele não vai
demorar a descobrir o resto, não é?
Miley
sorriu.
-
Tem uma mente muito desleal, Demétria. Agora entendo seu plano. Uma vez que
Joseph tenha concordado, não voltará atrás e honrará sua palavra. Mas ficará
furioso comigo por tê-lo enganado - acrescentou, enquanto seu sorriso murchava
diante daquela nova preocupação.
-
Joseph sempre está furioso comigo - respondeu Demétria, encolhendo os ombros -.
Não tenho medo de seu irmão, Miley. Sua raiva é como um vendaval, mas estou
certa de que debaixo de tudo isso há um ponto de brandura - acrescentou,
rezando para si mesma para que não estivesse equivocada -. E agora, prometa-me
que não continuará preocupada a respeito da possibilidade de carregar um filho.
Você passou por uma prova muito dura, e essa poder ser a razão pela qual seu
período ainda não veio - advertiu -. Sei tudo a respeito destas coisas porque,
como pode ver, é o caso de Frieda, a mulher do lenhador, que sofreu um terrível
aborrecimento quando seu filho caiu dentro do poço e demoraram muito tempo para
tirá-lo de lá. O menino não sofreu nenhum mal, e agradeço a Deus por isso, mas
ouvi que Frieda dizia a outra criada que não estava tendo o período há dois
meses. A outra criada lhe explicou que essa era uma condição bastante natural,
levando-se em conta todo o medo que tinha passado. Não me lembro como se
chamava aquela mulher tão sábia, porque de outro modo compartilharia seu nome
com você, mas acabou que ela tinha razão. Sim, porque no mês seguinte Frieda
voltou a ter seu fluxo normalmente.
Miley
assentiu.
-
E se estiver com um bebê - continuou dizendo Demétria -, então nós duas
cuidaremos dele, não é? Você não vai odiar esta criança, não é, Miley? –
Demétria não conseguia manter a preocupação totalmente afastada de sua voz -. O
bebê seria tão inocente como você, Miley.
-
Teria uma alma tão negra como seu pai - disse Miley -. Compartilhariam o mesmo
sangue.
-
Pois se é assim que realmente funcionam as coisas, então eu estou tão condenada
a ir ao inferno como Sebastian está, não é?
-
Não, você não se parece em nada com seu irmão - protestou Miley.
-
E seu filho também não será como Morcar. Você garantirá isso - disse Demétria.
-
Como?
-
Você vai amar o bebê e vai ajudá-lo a fazer as escolhas certas quando for
grande o suficiente para entender.
Demétria
suspirou e sacudiu a cabeça.
-
Você pode não estar grávida de qualquer maneira, por isso, vamos deixar o
assunto de lado por agora. Posso ver quão cansada você está. Antes que você
possa dormir no seu quarto, terá que limpá-lo, por isso esta noite ficará em minha
cama. Eu encontrarei outra.
Miley
seguiu a sua nova amiga até a cama e a olhou enquanto Demétria puxava a roupa
de cama.
-
Quando pedirá essa promessa a Joseph?
Demétria
esperou até que Miley estivesse na cama para responder.
-
Amanhã falarei com ele. Vejo que isto tem muita importância para você. Não me
esquecerei disso.
-
Não quero que nenhum homem jamais volte a tocar em mim - disse Miley.
Sua
voz tinha um tom tão áspero que Demétria temeu que voltasse a ficar novamente
triste.
-
Silêncio, agora - Demétria a tranquilizou enquanto arrumava os cobertores ao
redor de Miley -. E agora descanse. Tudo vai ficar bem.
Miley
sorriu ao ver como Demétria a mimava.
-
Demétria? - murmurou -. Sinto muito pela maneira com que estive tratando você.
Se eu soubesse que iria ajudar, pediria a Kevin que falasse com Joseph a
respeito de leva-la até a Escócia.
Demétria
percebeu que Miley pensava em falar com Kevin e não ir diretamente a Joseph.
Aquele comentário reforçou sua crença de que Miley tinha um medo terrível de
seu irmão mais velho.
Miley
suspirou e depois disse:
-
A verdade é que ainda não quero que você vá a lugar nenhum. Estive tão só
que... É egoísmo de minha parte admitir isso?
-
Não, isso é apenas sinceridade - replicou Demétria -. Um traço de caráter que
admiro muito - acrescentou -. É por isso que eu nunca disse uma mentira em toda
minha vida! - vangloriou-se.
-
Nunca?
Demétria
ouviu a risadinha de Miley e sorriu ao escutá-la.
-
Não que eu possa me lembrar - disse -. E prometo ficar aqui durante todo o
tempo que você precisar. Não sinto nenhuma vontade de viajar com um tempo tão
frio.
-
Você também foi desonrada, Demétria. Todo mundo pensa que...
-
Está dizendo tolices - interrompeu Demétria -. Nenhuma de nós é responsável
pelo que nos aconteceu, e nós duas somos honradas demais dentro de nossos
corações. Isso é tudo o que me importa.
-
Você tem ideias bem incomuns - disse Miley -. Eu pensei que você odiasse todos
os membros da família Wexton.
-
Bom, não resta dúvida de que seus irmãos são homens nada fáceis de se gostar -
admitiu Demétria -. Mas não os odeio. Você sabia que me sinto segura aqui? É
realmente impressionante, não? Ser uma prisioneira e sentir-se segura e a salvo
ao mesmo tempo... essa sim é uma verdade que vale a pena refletir.
Demétria
franziu o cenho enquanto aquela assombrosa verdade enchia sua cabeça.
-
Bem - disse a si mesma -, terei que pensar sobre isso um pouquinho mais.
Aplaudiu
o braço de Miley e se virou para ir até a porta.
-
Não fará nenhuma tolice a respeito de Morcar, não é, Demétria?
-
Por que você me pergunta sobre tal coisa? - quis saber Demétria.
-
Pela expressão que apareceu em seu rosto quando eu disse seu nome -respondeu
Miley -. Não fará nada, não é?
Miley
voltava a ficar assustada
-
Você tem uma imaginação muito ativa - disse Demétria -. Isso nos dá outra coisa
em comum - acrescentou, evitando sabiamente o tema Morcar.
Sua
mutreta funcionou, porque Miley voltava a sorrir.
-
Parece que esta noite não vou ter pesadelos. Estou muito cansada. Você precisa
se deitar logo, Demétria. Vai precisar estar descansada para sua conversa com
Joseph.
-
Você acredita que Joseph me deixará sem forças? - perguntou Demétria.
-
Não você - respondeu Miley -. Você é capaz de conseguir que Joseph lhe prometa
qualquer coisa.
Deus,
a irmã tinha tanta confiança nela que Demétria sentiu como se seus ombros se
curvassem.
-
Vejo a maneira com que Joseph olha para você. E você salvou a vida de Nicholas.
Ouvi como ele contava a história a Kevin. Lembre isso a Joseph e ele não será
capaz de negar nada a você.
-
Durma, Miley.
Demétria
já se estava quase fechando a porta quando as palavras de Miley fizeram com que
se detivesse.
-
Joseph nunca olhava para lady Eleanor da maneira que olha para você.
Demétria
não pôde resistir.
-
Quem é lady Eleanor? - perguntou, tentando não parecer muito interessada.
Virou-se e olhou para Miley, e pela maneira com que a irmã sorria para ela,
Demétria pensou que provavelmente não tivesse conseguido enganá-la.
-
A mulher com quem Joseph está pensando em casar-se.
Demétria
não mostrou nenhuma reação visível. Assentiu, indicando que tinha ouvido Miley.
-
Pois nesse caso sinto muito por ela - disse -. Lady Eleanor vai ter as mãos
muito ocupadas vivendo com seu irmão. Não se ofenda, Miley, mas acredito que
seu irmão é muito arrogante.
-
Disse apenas que Joseph estava pensando em se casar com ela, Demétria. Mas ele
não o fará.
Demétria
não respondeu. Fechou a porta detrás dela e cruzou o patamar antes de começar a
chorar.
Posta logo por favor.......
ResponderExcluir😶😞
Finalmente botaram juízo na Miley
ResponderExcluir