—Esta é sua mamãe —
sussurrou. — Está muito cansada. Custou grande esforço te fazer sair. Não sei
por que. Não é muito grande. —Para demonstrar seu argumento, tocou um de seus
pequenos dedos. — Não acho que tenha te visto ainda. Sei que gostaria. A
sustentaria abraçaria e te beijaria. Sabe por quê? —enxugou uma lágrima com
estupidez. — Porque te ama, essa é a razão. Apostaria que te ama mais do que me
ama. E acho que deve me amar bastante porque nem sempre agi como deveria.
Lançou um furtivo
olhar a Demetria para garantir que não havia acordado antes de acrescentar.
—Os homens podem ser
idiotas. Somos tolos e estúpidos e raramente abrimos os olhos o suficiente para
ver as benções que temos na frente de nossas caras. Mas eu te vejo — acrescentou
sorridente a filha. — E vejo sua mãe, e espero que seu coração seja o bastante
forte para me perdoar pela aquela última vez. Entretanto, acho que sim o é. Sua
mamãe tem um grande coração.
O bebê gorjeou,
fazendo Adam sorrir de prazer.
—Vejo que está de
acordo comigo. É muito inteligente para ter só um dia. Mas claro, não vejo por
que teria que me surpreender. Sua mamãe também é muito inteligente.
O bebê fez gorjeios.
—Adula‐me,
princesa. Mas desta vez, deixarei que pense que eu também sou inteligente. —
Olhou Demetria e sussurrou. — Só um de nós precisa saber quão idiota fui.
O bebê fez outro som,
levando Adam a acreditar que a filha deveria ser a menina mais inteligente de
todas as Ilhas Britânicas.
—Quer conhecer sua
mãe, princesa? Bom, por que não a apresentamos. —Seus movimentos eram torpes,
pois nunca antes tinha sustentado um bebê, mas de algum jeito conseguiu colocar
a filha na curva do braço de Demetria. — Aqui vamos. Mmm está quentinha aí,
hein? Eu gostaria de mudar meu lugar contigo. Sua mamãe tem uma pele realmente
suave. — Alargou a mão e tocou a bochecha do bebê. — Embora não tão suave como
a tua. Você, pequena, é assombrosamente perfeita.
O bebê começou a
remover‐se e depois de um momento deixou sair um forte pranto.
—OH, querida —
murmurou Adam, completamente perdido. Recolheu‐a e a embalou contra o
ombro, tomando grande cuidado em segurar a cabeça como viu sua mãe fazer. —
Calma; calma. Shhh. Calma. Está bem.
Era óbvio que suas
súplicas não estavam sortindo efeito porque a pequena bramou em seu ouvido.
Bateram na porta e
Lady Rudland olhou dentro.
—Quer que a segure, Adam?
Negou com a cabeça,
pouco disposto a separar‐se da filha.
—Acho que tem fome. A
ama de leite está no quarto do lado.
—OH. Claro. — Pareceu
vagamente envergonhando enquanto entregava o bebê a sua mãe. — Aqui está.
Estava a sós de novo
com Demetria. Ela não se moveu para nada durante toda sua vigília, exceto pelo
leve movimento de ascensão e descida do peito.
—É de amanhã, Demetria
— disse, tomando suas mãos entre as dele novamente e tratando de fazê‐la
voltar a si. — É hora de acordar. Fará? Se não o fizer por você, então faça por
mim. Estou terrivelmente cansado, mas você sabe que não posso ir dormir até que
você acorde.
Mas não se moveu. Não
virou em seu sono e não roncou, estava aterrando‐o.
—Demetria — disse,
ouvindo o pânico em sua voz. — É suficiente. Ouviu? É suficiente. Necessita...
Derrubou‐se,
incapaz de seguir em frente por mais tempo. Apertou a mão dela e afastou o
olhar. As lágrimas nublaram sua visão. Como seguiria em frente sem ela?
Como ele criaria a
filha, sozinho? Como saberia que nome lhe pôr? E o pior de tudo, como poderia
viver com ele mesmo sabendo que morreu sem ter escutado o quanto a amava?
Com clara
determinação, secou as lágrimas e se virou para ela.
—Amo você, Demetria —
disse forte, esperando poder penetrar em sua bruma, inclusive embora nunca
despertasse. Sua voz soou premente. — Amo você. Você. Não pelo que faz por mim
nem pelo que me faz sentir. Simplesmente te amo.
Um leve som saiu dos
lábios dela, foi tão suave que a princípio Adam pensou que tivesse imaginado.
—Disse algo? — Seus
olhos inspecionaram freneticamente seu rosto, procurando algum sinal de
movimento. Os lábios dela tremeram de novo e o coração dele saltou de emoção. —
O que foi Demetria? Por favor, só diga outra vez. Não a ouvi da primeira vez.
Aproximou a orelha a
seus lábios.
Sua voz era frágil,
mas a palavra soou forte e clara.
—Bom.
Adam começou a rir.
Não pôde evitar. Como podia Demetria ser tão sábia enquanto se supunha estar em
seu leito de morte?
—Ficará bem, não?
O queixo dela só se
moveu um milímetro, mas era definitivamente um assentimento.
Dando rédea solta a
sua alegria e a seu alívio, correu para a porta e gritou as boas notícias para
que o resto da casa as ouvisse. Como era lógico sua mãe, Selena e muitos dos
serventes vieram correndo até o corredor.
—Ela está bem —
ofegou, sem ter em conta que seu rosto estava úmido pelas lágrimas. — Está bem.
—Adam. — A palavra
veio como um grasnido da cama.
—O que foi meu amor?
Ficou ao seu lado.
—Caroline — disse
brandamente, usando toda sua força para curvar os lábios em um sorriso. — Chame‐a
Caroline.
Ele levantou a mão
dela com as suas e depositou um cortês beijo.
—Caroline será. Deu‐me
uma menina perfeita.
—Sempre consegue o
que quer — sussurrou ela.
Olhou‐a
com carinho, dando‐se conta de repente da extensão do milagre que a trouxe de volta
da morte.
—Sim — disse
roucamente. — Parece que sempre consigo.
*****
Dias depois, Demetria
já se sentia melhor. Tal e como pediu, foi levada à cama que ela e Adam
compartilharam durante o primeiro mês de casamento. Os arredores a
reconfortavam e queria mostrar ao marido que queria um verdadeiro casamento.
Deviam estar unidos.
Era simples assim.
Ainda estava de cama,
mas havia recuperado grande parte da força e suas bochechas estavam tingidas
com um saudável rubor rosado. Embora isso pudesse ser porque estava apaixonada.
Demetria nunca havia se sentido daquela forma antes.
Adam parecia não
poder dizer duas frases sem mencionar isso e Caroline tirou tanto amor de
ambos, que era indescritível.
Selena e Lady Rudland
a mimaram em excesso, muito, mas Adam tratava de não deixá‐las
se intrometer muito, querendo a esposa completamente para ele. Estava sentado
ao seu lado um dia quando ela despertou de uma sesta.
—Boa tarde —
murmurou.
—Tarde de verdade? —
Ela deixou escapar um bocejo.
—Passa do meio‐dia,
ao menos.
—Meu Deus. Nunca
antes me senti tão descansada.
—Merece isso —
assegurou os olhos azuis brilharam com intenso amor. Cada um dos minutos.
—Como está o bebê?
Adam sorriu, ela
conseguia fazer essa pergunta dentro do primeiro minuto de qualquer conversa.
—Muito bem. Tem muito
bons pulmões, devo dizer.
—É muito doce, não?
Ele assentiu.
—Igual á mãe.
—OH, não sou tão
doce.
Ele deu um pequeno
beijo no nariz dela.
—Sob esse grande
temperamento que tem, é muito doce. Acredite em mim. Eu a saboreei.
Ela ruborizou.
—É incorrigível.
—Sou feliz — corrigiu‐a —
verdadeiramente e realmente feliz.
—Adam?
Olhou‐a
atentamente, escutando a excitação na voz dela.
—O que meu amor?
—O que aconteceu?
—Não estou seguro de
entender o que quer dizer.
Ela abriu a boca e
logo a fechou, obviamente tentando encontrar as palavras certas.
—Por que... De
repente se deu conta...?
—De que a amo?
Ela assentiu em
silêncio.
—Não sei. Acho que
esteve dentro de mim todo este tempo. Só que estava muito cego para ver.
Ela engoliu
nervosamente.
—Foi quando quase
morri?
Não sabia por que.
Mas a ideia de que ele não pudesse dar‐se conta
de que a amava antes que fosse separada dele não lhe caiu bem.
Ele negou com a
cabeça.
—Foi quando teve
Caroline, eu a senti chorar e o som foi tão... Tão... Não posso descrever, mas
a amei imediatamente... Oh Demetria, a paternidade é a coisa mais incrível.
Quando a tenho em meus braços... Desejaria que pudesse sentir o que significa
para mim.
—Creio que seja como
a maternidade. — Disse ela inteligentemente. Tocou‐lhe
os lábios com seu dedo indicador.
—Espera um momento.
Deixe‐me terminar minha história. Tenho amigos que têm crianças e eles
disseram quão extraordinários era ter uma nova vida que formasse parte de nós,
de sua própria carne e sangue. Mas eu... – Clareou a garganta. — Dei‐me conta
de que não a amava porque era parte de mim, mas sim a amava porque era parte de
você.
Os olhos de Demetria
se encheram de lágrimas.
—OH, Adam.
—Não, me deixe
terminar. Não sei o que fiz ou disse para te merecer, Demetria, mas agora que a
tenho, não vou deixá‐la ir. Amo muito você — engoliu saliva, afogando‐se
com as palavras — Muito.
—OH, Adam, eu também
te amo. Sabe disso, não?
Ele assentiu.
—Agradeço por isso. É
o presente mais maravilhoso que pude receber.
—Seremos
verdadeiramente felizes, não é?
Ele sorriu vacilante.
—Além do imaginável,
amor, além do imaginável.
—E teremos mais
filhos?
A expressão dele se
tornou severa.
—Só com a condição de
que não volte a me dar outro susto como este. Além disso, o melhor caminho para
evitar os filhos é a abstinência e não acho que possa ser capaz de conseguir
isso.
Ela ruborizou, mas
também disse:
—Bom.
Aproximou‐se
dela e lhe deu um beijo tão apaixonado quanto provocador.
—Devo deixá‐la
descansar — disse a contra gosto afastando‐se
dela.
—Não, não. Por favor,
não vá. Não estou cansada.
—Está segura?
Que maravilhoso era
ter alguém cuidando dela.
—Sim, estou segura.
Mas queria que me trouxesse algo. Se não importar?
—Claro que não. O que
é?
Ela assinalou com o
dedo.
—Há uma caixa coberta
de seda em minha escrivaninha na sala de estar.
Dentro há uma chave.
Adam levantou as
sobrancelhas interrogativamente, mas seguiu as instruções.
—A caixa verde? —
Perguntou.
—Sim.
—Aqui está — disse
enquanto voltava para o quarto trazendo a chave.
—Bem. Agora se voltar
para minha escrivaninha, encontrará uma grande caixa de madeira na parte
traseira da gaveta.
Ele voltou para a
sala de estar.
—Aqui tem. Deus, como
pesa. O que tem aqui? Pedras?
—Livros.
—Livros? Que tipo de
livros é tão apreciado para tê‐los sob chave?
—São meus diários.
Reapareceu,
carregando a caixa com ambas as mãos.
—Seus diários? Nunca
soube.
—Foi sua sugestão.
Ele se virou.
—Não foi.
—Sim foi. Quando nos
conhecemos. Falei a respeito de Fiona Bennet e de quão horrível era e me disse
que escrevesse um diário.
—Fiz?
—Mmm‐mmm.
E lembro exatamente tudo o que me disse. E te perguntei por que devia ter um
diário e me disse: "porque algum dia crescerá interiormente e será tão
bela como agora é inteligente. E então poderá voltar a olhar seu diário e se
dar conta de quão tolas são as meninas pequenas como Fiona Bennet. E rirá quando
recordar que sua mãe dizia que suas pernas começavam dos ombros. E talvez
reserve algum sorriso para mim quando lembrar o bonito bate‐papo
que tivemos hoje".
Ele a olhou
impressionado, feixes de lembranças vieram a ele.
—E você disse que
guardaria um grande sorriso para mim.
Ela assentiu.
—Memorizei palavra
por palavra. Foi à coisa mais doce que ouvi de alguém.
—Meu Deus, Demetria —
respirou reverente. — De verdade me ama, não é assim?
Ela assentiu.
—Desde aquele dia.
Traga a caixa aqui.
Deixou a caixa sobre
a cama e lhe deu a chave. Ela abriu a caixa e tirou alguns livros. Alguns deles
eram de pele de couro e alguns outros estavam encapados com um tecido floral de
menina, mas ela pegou o mais simples de todo um pequeno caderno parecido aos
que ele costumava usar quando era estudante.
—Este foi o primeiro
— disse ela, passando os dedos na capa de modo reverente. — De verdade te amei
todo este tempo. Veja.
Ele olhou a primeira
página.
2 DE
MARÇO DE 1810.
Hoje
me apaixonei.
Uma lágrima brotou
dos olhos dele.
—Eu também, meu amor,
eu também.
FIM
Nossa que final lindo demais, adorei. Não vejo a hora de ver qual é a próxima fic
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