quinta-feira, 5 de julho de 2018

O Diário Secreto da Senhorita Demetria Cheever Capitulo 10


Dois dias mais tarde, Adam parecia continuar um pouco aturdido.
Demetria não tinha tentado falar com ele, nem sequer se aproximou, mas de vez em quando o pegava olhandoa com expressão insondável. Sabia que o deixou agitado uma vez que ele nem sequer tinha a presença de ânimo de afastar o olhar quando seus olhos se encontravam. Só ficava olhando fixamente durante um longo tempo, então piscava e se afastava.
Demetria continuava esperando que em algum momento assentisse.
Não obstante, deu um jeito de não estar no mesmo lugar ao mesmo tempo durante a maior parte do fim de semana. Se Adam saía para cavalgar, Demetria explorava a estufa. Se Demetria dava um passeio pelos jardins, Adam jogava cartas.
Realmente civilizados. Muito adultos.
E, pensava mais de uma vez, totalmente dilacerador.
Não se viam nas refeições. Lady Chester se orgulhava de suas habilidades como casamenteira, e posto que fosse impensável que Adam e Demetria se envolvessem romanticamente, não os colocava perto. Sempre estava rodeado por um grupo de jovens e preciosas jovenzinhas, e Demetria a maioria das vezes se via relegada a fazer companhia a viúvas da terceira idade. Imaginava que Lady Chester não tinha muito boa opinião sobre sua habilidade para apanhar um marido desejável. Em troca, Selena estava sempre sentada com três homens extremamente atraentes e ricos, um a direita, outro a esquerda e outro do outro lado da mesa.
Demetria aprendeu bastante sobre remédios caseiros para a gota.
Lady Chester, entretanto, deixou os casais ao azar para um de seus planejados eventos, e aquele era a busca anual do tesouro. Os convidados deveriam procurar em equipes de dois. E já que o objetivo de cada convidado era casar ou embarcar em uma aventura (dependendo, é obvio do status marital de cada um), cada equipe seria formada por um homem e uma mulher. Lady Chester escreveu os nomes dos convidados em pedacinhos de papel e colocou todas as damas em uma bolsa e os cavalheiros em outra.
Naquele momento estava colocando a mão em uma daquelas bolsas. Demetria sentiu desejos de vomitar.
—Sir Anthony Waldove e... — Lady Chester introduziu a mão na outra bolsa.
— Lady Rudland.
Demetria soltou o ar, sem se dar conta de que até esse momento esteve contendo o fôlego. Faria qualquer coisa para ser par do Adam e tudo para evitar.
—Pobre mamãe — sussurrou Selena em seu ouvido. — Sir Anthony Waldove é bastante lerdo. Ela que terá que fazer todo o trabalho.
Demetria levou um dedo aos lábios.
—Pode nos ouvir.
—O senhor William Fitzhugh e... a senhorita Charlotte Gladdish.
—Com quem deseja formar par? — perguntou Selena.
Demetria deu um encolher de ombros. Se não fosse atribuída a Adam, realmente não importava.
—Lorde Adam e... — o coração de Demetria deixou de pulsar... — Lady Selena
Bevelstoke. Não é doce? Levamos fazendo isto cinco anos e esta é nossa primeira equipe irmão e irmã.
Demetria começou a respirar outra vez, sem estar segura de se estava decepcionada ou aliviada.
Selena, entretanto, não tinha dúvidas de seus sentimentos.
—Que desastre! — murmurou, em seu tipicamente assassinado francês. Todos esses cavalheiros, e me coloca com meu irmão. Quando terei outra oportunidade que me permita vagar por aí sozinha com um cavalheiro? É uma pena, digolhe isso, uma pena.
—Poderia ser pior — disse Demetria pragmática. — Nem todos os cavalheiros que estão aí são, é..., Cavalheiros. Ao menos sabe que Adam não tentará te violar.
—É pouco consolo, lhe garanto.
—Livvy...
—Shhh, acabam de nomear lorde Westholme.
—E quanto às damas... —Lady Chester estava emocionada. — A senhorita Demetria Cheever!
Selena lhe deu uma cotovelada.
—Que sorte!
Demetria só deu um encolher de ombros.
—OH, não aja como uma tola — repreendeu Selena. — Não acha que é divino?
Daria meu pé esquerdo por estar em seu lugar. Digame, por que não trocamos de lugar? Não há regras contra isso. E depois de tudo, você gosta do Adam.
Só que muito, pensou Demetria com tristeza.
—E então? Fará? A menos que também esteja de olho em lorde Westholme?
—Não — respondeu Demetria, tentando não soar consternada. — Não, claro que não.
—Então vamos trocar — disse Selena excitada.
Demetria não sabia se devia aproveitar a oportunidade ou correr para o quarto e esconderse no armário. De qualquer forma, não tinha nenhuma boa desculpa para negar à petição de Selena. Livvy certamente iria querer saber por que não queria ficar a sós com Adam. E então o que diria? É apenas que disse a seu irmão que o amava e receio que ele me odeie? Não posso ficar a sós com Adam porque receio que tente me violar? Não posso ficar a sós com ele porque tenho medo de tentar violálo?
O pensamento a fez querer rir. Ou chorar.
Mas Selena estava olhandoa espectadora, daquela maneira que Selena havia aperfeiçoado à idade de, oh, três anos, e Demetria se deu conta de que na realidade não importava o que dissesse ou fizesse, terminaria sendo o par de Adam.
Não é que Selena fosse uma mimada, embora possivelmente fosse um pouco.
Era só que qualquer tentativa por parte de Demetria para evitar o assunto se encontraria com uma pergunta tão precisa e tão persistente que era provável que terminasse revelando tudo.
Caso no qual teria que fugir do país. Ou ao menos, encontrar uma cama onde esconderse. Durante uma semana.
Assim suspirou. E assentiu. E pensou na parte boa e em dias melhores, e deduziu que nenhum era visível.
Selena lhe agarrou a mão e deu um apertão.
—OH, Demetria, obrigada!
—Espero que Adam não se importe — disse Demetria com cautela.
—Oh, não se importará. Provavelmente ficará de joelhos e agradecerá por não ter que passar a tarde inteira comigo. Acha que sou infantil.
—Não é verdade.
—Sim é. Frequentemente me diz que deveria ser mais como você.
Demetria se virou surpreendida.
—Sério?
—Sim. —Mas a atenção de Selena tinha retornado à Lady Chester, quem estava completando a tarefa de unir homens e mulheres. Quando finalizou, os homens se levantaram para procurar suas companheiras.
—Demetria e eu trocamos de lugares! —exclamou Selena quando Adam se aproximou. — Não se importa, não é?
—Claro que não — disse.
Mas Demetria não teria apostado sequer um quarto de penny a que estava dizendo a verdade. Depois de tudo, o que outra coisa podia dizer?
Lorde Westholme chegou pouco depois, e embora fosse o suficientemente educado para tentar ocultar, parecia encantado com a mudança.
Adam não disse nada.
Selena lançou a Demetria um perplexo cenho, o qual Demetria ignorou.
—Aqui está sua primeira pista! — gritou Lady Chester. — Poderiam os cavalheiros, por favor, aproximaremse e pagar seus envelopes?
Adam e Lorde Westholme caminharam até o centro do aposento e retornaram alguns segundos depois com envelopes brancos.
—Vamos abrir o nosso lá fora — disse Selena a lorde Westholme, lançando um breve e malicioso sorriso a Adam e Demetria. — Eu não gostaria que ninguém nos espiasse enquanto discutimos nossa estratégia.
Aparentemente, o resto de competidores teve a mesma ideia, porque um instante depois, Adam e Demetria se encontraram em total solidão.
Ele respirou fundo e plantou as mãos nos quadris.
—Eu não pedi a ela que trocasse — disse Demetria com rapidez. — Selena pediu que eu trocasse com ela. — Ele elevou uma sobrancelha. —Não fui eu! — protestou.
— Livvy está interessada em Lorde Westholme e acha que você pensa que ela é uma criança.
—É uma criança.
Naquele instante Demetria não se sentiu particularmente inclinada a dissentir, mas ainda assim disse:
—Dificilmente poderia saber o que fazia quando nos juntou.
—Poderia ter se negado a trocar — disse ele sem rodeios.
—Oh? Argumentando o que? — exigiu Demetria irritada. Ele não tinha por que estar tão aborrecido porque acabaram como companheiros. — Como sugere que explique a ela que não podemos passar a tarde juntos?
Adam não respondeu por que não tinha resposta, supôs. Simplesmente deu meia volta sobre os calcanhares e saiu com passo irado do recinto.
Demetria o observou um momento, e então, quando se fez aparente que não tinha intenções de esperála, deixou escapar um pequeno ofego e se apressou atrás dele.
—Adam, não corra tanto!
Ele parou em seco, os movimentos de seu corpo mostravam claramente sua impaciência para ela.
Quando Demetria chegou a seu lado, o rosto dele sustentava uma aborrecida e incomoda expressão.
—Sim? — disse alargando a palavra.
Demetria fez o que pôde para controlarse.
—Podemos ao menos ser civilizado um com o outro?
—Não estou zangado contigo, Demetria.
—Bom, certamente finge muito bem.
—Estou frustrado — disse de uma forma que ela estava totalmente segura de que ia destinar a chocála. E logo se queixou. — De muitas formas que poderia imaginar.
Demetria podia imaginar, fazia isso frequentemente e ruborizou.
—Abra o envelope, sim? — murmurou.
Ele o estendeu, e ela o rasgou.
—Encontrem sua seguinte pista sob um sol em miniatura — leu.
Ela o olhou. Ele nem sequer estava olhandoa. Não é que não estivesse olhandoa em particular, era só que estava olhando ao vazio, parecendo como se estivesse em outra parte.
—A estufa de laranjas — declarou ela, quase sem se importar se ele ia participar ou não. — Sempre pensei nas laranjas como pequenas peças de sol.
Ele assentiu bruscamente e fez um gesto com o braço para que ela fosse em frente. Mas havia algo bastante descortês e condescendente em seus movimentos, Demetria sentiu uma entristecedora urgência de apertar os dentes e grunhir enquanto se adiantava com passo irado.
Sem dizer uma palavra, saiu da casa para a estufa. Realmente ele não podia esperar que acabasse de uma vez com aquela maldita busca do tesouro, verdade?
Bom, ela ficaria feliz de satisfazêlo. Era o suficientemente inteligente; aquelas pistas não deveriam ser muito difíceis de decifrar. Poderiam estar de volta em seus respectivos aposentos em uma hora.
Em efeito, encontraram uma pilha de envelopes sob uma laranjeira. Sem uma palavra, Adam se inclinou para pegar um e o estendeu.
Com igual silêncio, Demetria rasgou o envelope. Leu a pista e logo passou ao
Adam.
OS ROMANOS PODERÃO TE AJUDAR A ENCONTRAR A SEGUINTE PISTA.
Se estava ficando irritado por seu silencioso comportamento, não demonstrou.
Só dobrou o pedaço de papel e a olhou com expressão de aborrecida espera.
—Está sob um arco — disse ela em tom prático. — Os romanos foram os primeiros em usálos como arquitetura. Há vários no jardim.
Assim foi. Dez minutos depois, recolheu outro envelope.
—Sabe quantas pistas temos que conseguir antes de finalizar? — perguntou Adam.
Era a primeira frase desde que havia começando, e concernia a quando se livraria dela. Demetria apertou os dentes ante o insulto, negou com a cabeça e abriu o envelope. Tinha que permanecer serena. Se o deixasse fazer sequer uma brecha em sua fachada, romperia completamente em pedaços. Dominando seus traços para permanecer impassíveis, tirou a parte de papel e leu:
—Precisarão caçar para a próxima prova.
—Algo relacionado com a caça, supõe — disse Adam.
Ela elevou as sobrancelhas.
—Decidiu participar?
—Não seja mesquinha, Demetria.
Ela deixou sair o ar, irritada e decidiu ignorálo.
—Há um pequeno pavilhão de caça ao Leste. Levará a menos quinze minutos caminhar até lá.
—E como descobriu esse pavilhão?
—Estive caminhando um pouco.
—Sempre que estou dentro de casa, suponho.
Demetria não viu razão para negar aquela declaração. Adam semicerrou os olhos para o horizonte.
—Acha que Lady Chester nos enviaria tão longe da casa principal?
—Até agora não me equivoquei — replicou Demetria.
—É verdade — disse com um aborrecido encolhimento de ombros. — Vamos.
Caminharam penosamente entre as árvores durante dez minutos quando
Adam lançou um duvidoso olhar ao céu escurecido.
—Parece que vai chover — disse laconicamente.
Demetria levantou o olhar. Estava certo.
—O que quer fazer?
—Agora?
—Não, na próxima semana. É obvio que agora, imbecil.
—Imbecil? — Sorriu seus brancos dentes quase a cegaram. — Me fere.
Demetria semicerrou os olhos.
—Por que de repente está sendo tão agradável comigo?
—Estava? — murmurou, e ela se sentiu mortificada. — OH, Demetria, talvez eu goste de ser agradável contigo — continuou, com um condescendente suspiro.
—Talvez não.
—Talvez sim — disse. — E talvez às vezes, você simplesmente torna as coisas difíceis.
—Talvez — disse com igual arrogância, — chova, e deveríamos nos mover.
Um trovão abafou sua última palavra.
—Talvez tenha razão — respondeu Adam, fazendo uma careta ao céu. —
Estamos mais perto do pavilhão ou da casa?
—Do pavilhão.
—Então vamos andar depressa. Eu não gostaria de ser apanhado em uma tempestade com relâmpago no meio do bosque.
Demetria não pôde discordar, apesar de sua preocupação pela propriedade, assim começou a caminhar mais rápido para o pavilhão de caça. Mal andaram dez metros quando caíram as primeiras gotas de chuva. Outros dez metros e era um aguaceiro torrencial.
Adam a agarrou pela mão e começou a correr, arrastandoa pelo caminho.
Demetria ia tropeçando atrás dele, perguntandose se servia de algo, posto que já estivessem encharcados até os ossos.
Poucos minutos depois se encontraram frente ao pavilhão de caça de dois aposentos. Adam segurou a maçaneta e virou, mas a porta não se moveu.
—Que droga! — murmurou.
—Está fechada? — perguntou Demetria batendo os dentes.
Ele assentiu bruscamente com a cabeça.
—O que vamos fazer?
Ele respondeu batendo o ombro contra a porta.
Demetria mordeu o lábio. Isso tinha que doer. Tentou uma janela. Fechada.
Adam voltou a empurrar a porta.
Demetria caminhou pelo lado da casa e tentou outra janela. Com um pequeno esforço a deslizou para cima. Ao mesmo tempo, ouviu Adam cair do outro lado da porta. Por um momento Demetria considerou engatinhar através da janela de todas as maneiras, mas em seguida decidiu ser magnânima e a desceu. Ele teve por um montão de problemas para derrubar a porta. O mínimo que ela podia fazer era deixálo acreditar que era seu cavalheiro da brilhante armadura.
—Demetria!
Ela voltou correndo para frente.
—Estou aqui. — Apressouse para o interior da casa e fechou a porta atrás dela.
—Que diabo, estava fazendo lá fora?
—Sendo uma pessoa muito mais amável do que poderia imaginar — murmurou, desejando nesse momento ter cruzado a janela.
—Hein?
—Só estava dando uma olhada — disse. — Estragou a porta?
—Não muito. Embora o ferrolho de segurança esteja quebrado.
Ela fez uma careta de dor.
—Machucou o ombro?
—Estou bem. —Tirou o empapado casaco e o pendurou em um gancho que havia na parede. — Tire isso... — Com um gesto indicou o leve casaco. — Seja lá como chama isso.
Demetria colocou os braços ao redor do corpo e negou com a cabeça.
Ele lhe dirigiu um olhar impaciente.
—É um pouco tarde para modéstias de donzela.
—Poderia entrar alguém a qualquer momento.
—Duvido — disse. — Imagino que todos estão a salvo e quentes no estúdio de
Lorde Chester, observando as cabeças que estão penduradas na parede.
Demetria tentou ignorar o nó que acabava de se formar na garganta. Tinha esquecido que Lorde Chester era um ávido caçador. Inspecionou rapidamente o aposento. Adam estava certo. Não havia nenhum a vista. Não era provável que alguém tropeçasse com eles logo, e pelo que se via lá fora, a chuva não tinha intenção de amainar.
—Por favor, me diga que não é uma dessas damas que escolhem a modéstia acima da saúde.
—Não, claro que não. — Demetria tirou o casaco e o pendurou no gancho próximo ao dele. — Sabe como acender o fogo? —perguntou.
—Sempre que tivermos lenha seca.
—OH, mas deve haver alguma por aqui. Depois de tudo, é um pavilhão de caça
— levantou a cabeça e olhou Adam com olhos esperançados. — A maioria dos homens não gosta de estar aquecidos enquanto caçam?
—Depois que caçam — corrigiu distraidamente enquanto procurava lenha. — E a maioria dos homens, incluindo Lorde Chester, crê ser preguiçosa o suficientemente para preferir a curta viagem de volta à casa principal do que esforçarse em acender um fogo aqui.
—OH — Demetria permaneceu quieta por um momento, observando como ele se movia pelo recinto. Então disse. — Vou ao outro cômodo para ver se há roupa seca que possamos usar.
—Boa ideia. —Adam observou suas costas enquanto ela desaparecia de sua vista. A chuva havia colocado a camisa ao corpo dela e pôde ver os quentes e rosados tons da pele através do tecido úmido. Suas partes baixas, que estavam incrivelmente geladas devido à chuva, ficaram quentes e duras com notável velocidade. Amaldiçoou e em seguida começou a levantar a tampa de uma arca de madeira para procurar madeira.
Deus misericordioso, o que fez para merecer aquilo? Se lhe dessem uma pluma
e papel e ordenassem que escrevesse a tortura perfeita, nunca teria imaginado aquilo.
E isso porque tinha uma imaginação ativa.
—Encontrei madeira aqui!
Adam seguiu a voz de Demetria até o cômodo seguinte.
—Está aqui — indicou uma pilha de lenha perto de uma lareira. — Acredito que
Lorde Chester prefere usar esta lareira quando está aqui.
Adam olhou a larga cama com o suave edredom e travesseiros macios. Tinha uma verdadeiramente boa ideia de por que Lorde Chester preferia aquele aposento e não incluía à corpulenta Lady Chester. Imediatamente pôs lenha na lareira.
—Não acha que deveríamos usar o outro cômodo? — Perguntou Demetria.
Ela também tinha visto a larga cama.
—É óbvio que esta parece mais usada. É perigoso usar uma lareira suja.
Poderia estar entupida.
Demetria assentiu lentamente, e ele pôde ver que estava tentando com todas suas forças não parecer incomodada. Continuou procurando roupa seca enquanto
Adam se encarregava do fogo, mas tudo o que encontrou foram umas velhas mantas com áspera aparência. Adam a olhou enquanto colocava uma sobre os ombros.
—Casimira? — Disse ele alargando a palavra.
Demetria arregalou os olhos. Ele se deu conta de que ela não havia percebido de que a estava olhando. Sorriu, ou na realidade, foi bem mais mostrar os dentes. Talvez se sentisse incomodada, mas maldita fosse, ele também. Achava que era fácil para ele?
Havia dito que o amava pelo amor de Deus. Por que demônio fez tal coisa? Será que não sabia nada dos homens? Era possível que não entendesse que essa era a única coisa garantida para aterrorizálo?
Ele não queria que ela lhe confiasse seu coração. Não queria essa responsabilidade. Já foi casado. Teve seu próprio coração espremido, chutado e jogado em um montão de lixo queimado. A última coisa que queria era custodiar o de outra pessoa, especialmente o de Demetria.
—Usa o edredom da cama — disse com um encolher de ombros. Tinha que ser mais cômodo do que o que ela encontrou.
Mas ela negou com a cabeça.
—Não quero enrugálo. Não quero que ninguém saiba que estivemos aqui.
—Mmm, sim — disse ele com crueldade. — Então teria que me casar contigo, não é assim?
Pareceu tão afligida que ele murmurou uma desculpa. Bom Deus estava tornandose alguém que particularmente não gostava. Não queria ferila. Só queria...
Droga, não sabia o que queria. Nem sequer podia pensar no futuro além de dez minutos, justo nesse momento, não podia concentrarse em outra coisa que não fosse manter as mãos quietas.
Mantevese ocupado com o fogo, deixando sair um grunhido satisfeito quando uma pequena chama amarela por fim se curvou sobre uma lenha.
—Tranquila — murmurou, colocando com cuidado um pequeno ramo perto da chama. — Aí vamos, aí vamos... E... Sim!
—Adam?
—Acendi o fogo — resmungou, sentindose um pouco tolo por sua emoção.
Endireitouse e se virou. Ela ainda estava sujeitando a puída manta ao redor dos ombros.
—Não te fará bem se ficar molhada graças a camisa – comentouo.
—Não tenho muito que escolher, não é?
—Isso depende de você, suponho. Quanto a mim, vou me secar. —Seus dedos foram para os botões da camisa.
—Talvez devesse ir a outro cômodo — sussurrou ela.
Adam notou que não se moveu nem um centímetro. Deu um encolher de ombros, e em seguida tirou a camisa.
—Deveria ir — sussurrou de novo.
—Então vá — disse ele. Mas seus lábios se curvaram.
Ela abriu a boca como se fosse dizer algo, mas a fechou.
—Eu... —interrompeuse, um olhar de horror cruzou suas feições.
—Você o que?
—Devo ir. —E desta vez o fez, deixou o quarto com prontidão.
Adam sacudiu a cabeça quando se foi. Mulheres. Alguém as entendia?
Primeiro dizia que o amava. Logo dizia que queria seduzilo. E mais tarde o evitava durante dois dias. Agora parecia aterrada.
Voltou a menear a cabeça, desta vez mais rápida, seu cabelo jogou água pelo quarto. Envolvendo uma das mantas ao redor dos ombros, parou em frente ao fogo e se secou. Entretanto, sentia as pernas condenadamente incômodas. Olhou de soslaio a porta. Demetria a tinha fechado quando se foi, e dado seu presente estado de virginal vergonha, duvidava que entrasse sem bater.
Tirou a calça com rapidez. O fogo começou a esquentálo imediatamente.
Voltou a dar uma olhada à porta. Só por via das dúvidas, baixou a manta e a enrolou ao redor da cintura. De fato, parecia bastante a um kilt.
Voltou a pensar de novo na expressão do rosto dela antes que saísse correndo do quarto. Vergonha virginal e algo mais. Era fascinação? Desejo?
E o que esteve a ponto de dizer? Não foi "deveria ir” que foi o que na realidade disse.
Se houvesse se aproximando, tivesse pegado seu rosto entre suas mãos e sussurrado, "Diga", o que ela teria dito?
3 DE JULHO DE 1819.
Quase volto a dizer. E acho que ele soube. Acho que ele sabia o que eu ia dizer.


Demorei eu sei, poderia dar um monte de desculpas sobre isso, mas a verdade é que esqueci do blog mesmo
foi mals ae





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