Tendo terminado uma
vela e depois de três copos de brandy, Adam se encontrava sentado na penumbra
do estúdio de seu pai, olhando através da janela, escutando o rangido das
folhas de uma árvore próxima que, açoitadas pelo vento, golpeavam o vidro.
Aborrecido, talvez,
mas justo nesse momento se apegava ao aborrecimento.
Um pouco aborrecido
era precisamente o que desejava depois de um dia como o que teve.
Primeiro foi Selena,
acusando‐o de desejar Demetria. Em seguida foi Demetria, e ele havia...
Deus querido tinha
desejado‐a.
Sabia o momento exato
que compreendeu. Não foi quando se chocou contra ele. Não foi quando lhe rodeou
com as mãos a parte superior dos braços para estabilizá‐la.
Havia se sentido bem, sim, mas não levou em conta. Não dessa forma.
O momento... O
momento que muito provavelmente foi sua perdição ocorreu meio segundo mais
tarde, quando ela levantou a cabeça.
Foram os olhos dela.
Sempre foram seus olhos. Simplesmente tinha sido muito estúpido para dar‐se
conta disso.
E enquanto
permaneciam ali, durante o que pareceu uma eternidade, sentiu como mudava.
Sentiu que seu corpo se enrolava e que sua respiração cessava tudo ao mesmo
tempo, e logo apertou os dedos e os olhos dela... Aumentaram mais ainda.
E a desejou. Desejou‐a
como nunca pôde imaginar de uma forma que não era nem apropriada nem boa.
Nunca ficou tão
zangado consigo mesmo.
Não a amava. Não
podia amá‐la. Estava bastante seguro que não poderia amar ninguém, não
depois da morte que Camille tinha gravado em seu coração. Era luxúria, pura e
simples, e era luxúria pela mulher que provavelmente seria a menos conveniente
de toda a Inglaterra.
Serviu‐se
outro gole. Diziam que o que não matava um homem o fortalecia, mas isto...
Isto ia matá‐lo.
E então, quando
estava ali sentado, pensando em sua própria debilidade, a viu.
Era uma prova. Só
podia tratar‐se de uma prova. Alguém em algum lugar estava decidido a provar
seu temperamento como cavalheiro, e ele ia falhar. Tentaria, se conteria tanto
tempo quanto fosse possível, mas muito profundamente em seu interior, em um
pequeno canto de sua alma que não tinha um interesse particular em examinar,
sabia. Falharia.
Movia‐se
como um fantasma, quase brilhando vestida com algum tipo de ondulante camisola
branca. Era lisa e de algodão e estava seguro que era recatada, apropriada e
perfeitamente virginal.
Fez que se
desesperasse por ela.
Agarrou os lados da
poltrona e se sustentou com todas suas forças.
Quando Demetria entrou
no estúdio de Lorde Rudland, sentia‐se um pouco intranquila, mas
não tinha encontrado o que estava procurando no salão rosa, e sabia que havia
uma garrafa em uma prateleira próxima à porta. Em menos de um minuto poderia
entrar e sair; com certeza que alguns meros segundos não constituíam uma invasão
à privacidade.
—Então, onde estão
esses copos? — murmurou, deixando a vela na mesa. —
Aqui estão. —
Encontrou a garrafa de xerez e se serviu um pouco.
—Espero que não
esteja habituando‐se a isto — disse uma voz pausada.
O copo se deslizou de
seus dedos e aterrissou no chão com um forte estrépito.
—Tsk, tsk, tsk.
Seguiu a voz até que
o viu, sentado em uma poltrona, com as mãos estranhamente agarradas aos braços
da mesma. A luz era tênue, mas ainda assim, podia ver a expressão de seu rosto,
sarcástica e seca.
—Adam? — sussurrou
tolamente, como se fosse possível que se tratasse de outra pessoa.
—O próprio.
—Mas, o que está...
Por que está aqui? —Avançou um passo. — Ai! —Uma lasca de cristal perfurou a
pele da sola do pé.
—Pequena tola. Desceu
descalça. — levantou‐se da poltrona e atravessou o aposento a grandes passos.
—Não tinha planejado
quebrar um copo — respondeu Demetria à defensiva, se inclinando e tirando a
lasca.
—Não importa. Pegará
um resfriado de morte brincando de correr por aí dessa forma. — Levantou‐a
nos braços e a separou dos vidros quebrados.
Nesse momento cruzou
pela mente de Demetria que estava mais perto do céu do que jamais esteve em sua
curta vida. O corpo dele era quente e podia sentir o calor fluindo através da
camisola. Fazia‐lhe cócegas a pele por sua proximidade e o fôlego começou a sair
em pequenos e anômalos ofegos.
Era o aroma dele.
Devia ser isso. Nunca antes ficou tão perto dele, nunca o suficientemente perto
para cheirar sua essência extraordinariamente masculina.
Cheirava como madeira
quente e brandy, e um pouco de algo mais, algo que não podia precisar
exatamente. Algo que era simplesmente Adam. Agarrando o pescoço dele, permitiu‐se
aproximar a cabeça ao seu peito só o suficiente para poder inalar profundamente
seu aroma uma vez mais.
E então, quando
estava convencida de que a vida era a mais perfeita que se podia pedir, a jogou
bruscamente no sofá.
—Por que fez isso?
—Perguntou, lutando para sentar‐se reta.
—O que está fazendo
aqui?
—O que você está
fazendo aqui?
Sentou‐se
em uma mesa baixa na frente dela.
—Eu perguntei
primeiro.
—Parecemos um par de
crianças — disse, sentando‐se sobre as pernas. Mas não obstante, respondeu. Parecia absurdo
discutir sobre semelhante assunto. — Não podia dormir. Pensei que um copo de
xerez poderia me ajudar a conseguir.
—Porque chegou madura
e anciã idade de vinte anos — disse ele de brincadeira.
Mas ela não mordeu o
anzol. Só inclinou a cabeça com um gracioso movimento de reconhecimento e
disse:
—Exatamente.
Ele riu.
—Pois, não faltaria
mais, me permita assisti‐la em sua queda. —Ficou de pé e caminhou para o próximo móvel. —
Mas se for beber, então, Por Deus, faça‐o adequadamente. Um brandy é
o que necessita, preferentemente do francês que se obtém de contrabando.
Demetria o observou
enquanto pegava duas taças da prateleira e as punha sobre a mesa. Suas mãos
eram firmes e... As mãos podiam ser bonitas? Ao servir duas consideráveis
medidas.
—Quando era pequena,
minha mãe, ocasionalmente, me dava brandy. Quando pegava chuva — explicou. — Só
um golinho para me esquentar.
Adam se virou a olhá‐la,
embora estivesse escuro sentia que seus olhos a perfuravam.
—Tem frio agora?
—Não. Por quê?
—Está tremendo.
Demetria desceu a
vista a seus braços traidores. Estava tremendo, mas não era o frio o que o
causava. Abraçou a si mesma, com a esperança de que não seguisse com o tema.
Ele voltou para seu
lado e lhe entregou o brandy, seu corpo imbuído de uma enxuta elegância
masculina.
—Não o vire de um
gole.
Antes de tomar um
gole, Demetria lhe lançou um olhar extremamente irritado pelo tom de
condescendência que havia em sua voz.
—Por que está aqui? —
Perguntou.
Sentou‐se
na frente dela e preguiçosamente apoiou um tornozelo sobre o joelho oposto.
—Tinha que discutir
uns assuntos da fazenda com meu pai, assim convidei a mim mesmo a compartilhar
um gole com ele depois da refeição. E não fui embora.
—E esteve aqui
sentado sozinho na escuridão?
—Eu gosto da
escuridão.
—Ninguém gosta da
escuridão.
Riu com vontade, fazendo‐a
sentir terrivelmente imatura e jovem.
—Ah, Demetria —
disse, ainda rindo. — Obrigado por isso.
Ela semicerrou os
olhos.
—Quanto bebeu?
—Uma pergunta muito
impertinente.
—Há, por isso deve
ter bebido muito.
Ele se inclinou para
frente.
—Parece que estou
bêbado?
Ela se afastou
involuntariamente, não estando preparada para a intensidade de seu olhar.
—Não — disse
lentamente. — Mas você é muito mais experiente que eu, e imagino que sabe como
beber. Provavelmente possa beber oito vezes mais que eu sem que pareça
absolutamente que bebeu.
Adam riu asperamente.
—Muito certo tudo o
que disse. E você, querida menina, deveria aprender a permanecer afastada de
homens que são "muito mais experimentes" que você.
Demetria tomou outro
gole de sua bebida, resistindo apenas o impulso de engoli uma vez. Mas a
queimaria, e certamente engasgaria, e logo ele começaria a rir.
E ela quereria morrer
de vergonha.
Tinha estado de mau
humor toda a noite. Cortante e zombador quando estavam a sós, e silencioso e
desanimado quando não estavam. Amaldiçoou seu traiçoeiro coração por amá‐lo
tanto; teria sido muito mais fácil adorar Mikey, cujo sorriso era alegre e
aberto, e que se mostrou encantador com ela toda a noite.
Mas não, desejava
ele. Adam, cujos humores eram como o mercúrio e em um instante estava rindo e
brincando com ela, e no seguinte a tratava como se a odiasse.
O amor era para os
idiotas. Os tolos. E ela era a maior tola de todos.
—Em que está
pensando? — demandou ele.
—Em seu irmão —
disse, só para ser perversa. De todas as formas, era um pouco verdade.
—Ah — disse ele,
acrescentando mais brandy a sua taça. — Mikey. Boa pessoa.
—Sim — respondeu. —
Um pouco desafiante.
—Alegre.
—Encantador.
—Jovem.
Ela deu um encolher
de ombros.
—Eu também sou.
Talvez sejamos um bom par.
Não disse nada. Ela
terminou sua bebida.
—Não está de acordo?
—perguntou.
Ele continuou sem
falar.
—A respeito do Mikey
— pressionou. — É seu irmão. Quer que seja feliz, não é? Pensa que seria boa
para ele? Pensa que poderia fazê‐lo feliz?
—Por que está me
perguntando isso? — perguntou ele, com a voz baixa e quase alheia no silêncio
da noite.
Demetria deu um
encolher de ombros, logo deslizou o dedo dentro da taça para recolher as
últimas gotas. Depois de lamber a pele, levantou a vista.
—Ao seu serviço — murmurou
ele, e lhe serviu dois dedos mais de brandy na taça.
Demetria assentiu em
forma de agradecimento e logo respondeu sua pergunta.
—Quero saber —disse
simplesmente, — e não sei a quem mais perguntar.
Selena está tão
ansiosa de me ver casada com Mikey, que dirá qualquer coisa que pense que me
levará mais rapidamente ao altar.
Esperou, contando os
segundos até que ele falou. Um, dois, três... E logo tomou fôlego
entrecortadamente.
Foi quase como uma
rendição.
—Não sei Demetria. —
Soava cansado, aflito. — Não vejo razão para que não o faça feliz. Faria feliz
a qualquer homem.
Até você? Demetria
morria por dizer essas palavras, mas em troca perguntou.
—Pensa que ele me
fará feliz?
Tomou ainda mais
tempo responder essa pergunta. E logo finalmente, em um tom lento e moderado
disse:
—Não estou seguro.
—Por que não? Que tem
que errado com ele?
—Não tem nada de
errado. É simplesmente que não estou seguro de que vá te fazer feliz.
—Mas, por quê? —
Estava sendo impertinente, sabia, mas se pudesse fazer que Adam lhe dissesse
por que Mikey não a faria feliz, talvez se dessa conta de que ele sim
conseguiria.
—Não sei Demetria. —
Passou a mão pelo cabelo até que as mechas douradas ficaram em um ângulo
desajeitado. — É necessário que tenhamos esta conversa?
—Sim — disse ela com
intensidade. — Sim.
—Muito bem. — Ele se
inclinou para frente, entrecerrando os olhos para prepará‐la
para lhe dar notícias desagradáveis. — Não entra nos modelos de beleza que a
sociedade estima atualmente para ser considerada bela, é muito sarcástica para não
dizer mais e não gosta particularmente de sustentar uma conversa educada.
—Francamente, Demetria
eu não posso imaginá‐la desejando um típico casamento social.
Ela engoliu com
força.
—E?
Ele afastou a vista
por um longo minuto antes de voltar finalmente a olhá‐la
de frente.
—E a maioria dos
homens não a apreciariam. Se seu marido tratar de moldá‐la a
algo que não é, será espetacularmente infeliz.
Houve uma corrente
elétrica no ar, e Demetria foi bastante incapaz de tirar os olhos de cima dele.
—E você acha que aí
fora haverá alguém capaz de me apreciar? —Sussurrou.
A pergunta‐a
pendurou pesadamente no ar, hipnotizando os dois até que Adam finalmente
respondeu.
—Sim.
Mas seus olhos
desceram para a taça, e logo acabou o resto do brandy. Seu olhar era o de um
homem satisfeito pela bebida, não o de um homem concentrado no amor e o
romance.
Ela afastou a vista.
O momento se alguma vez houve um, se não foi só produto de sua imaginação tinha
passado, e o silêncio que seguiu não foi um silêncio cômodo.
Era embaraçoso e
torpe, e ela se sentiu envergonhada e torpe, e assim, ansiosa por encher a
distância entre eles, balbuciou a primeira coisa corriqueira que lhe passou pela
mente.
—Pensa assistir ao
baile dos Worthington na próxima semana?
Ele se virou uma de
suas sobrancelhas arqueada a modo de interrogação pela inesperada pergunta.
—É provável.
—Eu gostaria que o
fizesse. Sempre tem a amabilidade de dançar comigo duas vezes. Se não fosse
assim me faltariam muitos pares. —Estava balbuciando, mas não estava segura de
que importasse. Em qualquer caso, não parecia capaz de deter‐se.
—
Se Mikey pudesse ir,
não o necessitaria, mas ele teria que retornar a Oxford pela manhã.
Adam a olhou
estranhamente. Não era um verdadeiro sorriso, e não era uma brincadeira, e nem
sequer era um gesto irônico. Demetria odiava que fosse tão inescrutável; não
lhe dava absolutamente nenhum sinal de como proceder. Mas de todas as formas
continuou. A essas alturas, o que tinha a perder?
—Irá? —Perguntou. —
Apreciaria muito.
Olhou‐a
por um momento, e logo disse:
—Lá estarei.
—Obrigada. Fico muito
agradecida.
—É um prazer ser de
utilidade — disse ele com secura.
Ela assentiu seus
movimentos guiados mais por uma energia nervosa que por qualquer outra coisa.
—Só deve dançar comigo
uma vez, se isso for tudo o que pode tolerar. Mas se o fizesse a princípio,
apreciaria. Os outros homens parecem seguir seu exemplo.
—Estranho como posso
parecer — murmurou ele.
—Não é tão estranho —
disse Demetria lhe dedicando o encolhimento de um só ombro. Estava começando a
sentir os efeitos do álcool. Ainda não estava desequilibrada, mas se sentia
bastante quente, talvez um pouco atrevida. — Você é bastante bonito.
Adam pareceu não
saber o que responder. Demetria se felicitou. Era muito estranho engenhar para
desconcertá‐lo.
O sentimento foi
impetuoso, assim tomou outro gole de seu brandy, e desta vez tomou cuidado de
deixá‐lo deslizar‐se lentamente pela garganta, e disse:
—É bastante parecido
ao Mikey.
—Desculpe‐me.
Seu tom foi
escarpado, e provavelmente ela deveria ter tomado como uma advertência, mas
parecia não ser capaz de sair do poço que estava cavando rapidamente a seu
redor.
—Bom ambos têm olhos
azuis e cabelo loiro, embora suponha que o dele é um pouco mais claro. E também
sua postura é similar, embora...
—É suficiente, Demetria.
—Oh, mas...
—Disse que é
suficiente.
Calou‐se
ante o tom cáustico, logo murmurou:
—Não há necessidade
de sentir‐se ofendido.
—Bebeu muito.
—Não seja tolo. Não
estou nada bêbada. Estou segura que você tomou dez vezes mais que eu.
Ele a olhou com um
enganoso olhar indolente.
—Isso não é de tudo
certo, mas como disse antes, tenho muita mais experiência que você.
—Eu disse isso,
verdade? Acredito que tinha razão. Não acho que esteja nem um pouquinho bêbado.
Ele inclinou a cabeça
e disse com suavidade.
—Bêbado não. Só um
pouquinho atordoado.
—Atordoado, hein?
—Murmurou ela, provando a palavra na língua. — Que descrição mais interessante.
Acredito que eu também estou atordoada.
—Certamente deve
estar, ou teria ido de volta para o andar de cima no momento que me viu.
—E não deveria tê‐lo
comparado com Mikey.
Seus olhos brilharam
com uma cor azul resistente.
—Definitivamente não
deveria ter feito isso.
—Não o incomoda, não
é?
Houve um longo e
mortal silêncio, e por um momento Demetria pensou que tinha ido muito longe.
Como podia ter sido tão tola, tão presunçosa para pensar que ele poderia desejá‐la?
Por que em nome de Deus importaria a ele que ela o comparasse com seu irmão
menor? Para ele, não era mais que uma menina, a pequena menina rústica com a
qual tinha feito amizade porque sentia pena. Nunca deveria ter sonhado que
talvez algum dia chegasse a afeiçoar‐se a ela.
—Desculpe‐me —
murmurou, ficando desajeitadamente de pé — passei dos limites. —E logo, como
ainda estava ali, terminou o resto do brandy e saiu correndo para a porta.
—Aaaah!
—Que demônios? —Adam
ficou de pé de um salto.
—Esqueci dos vidros —
choramingou. — Os vidros quebrados.
—OH, Cristo, Demetria,
não chore. —Caminhou rapidamente atravessando o aposento e pela segunda vez
essa noite a levantou nos braços.
—Sou tão estúpida.
Tão condenadamente estúpida — disse com um soluço.
As lágrimas se deviam
mais à perda da dignidade que à dor, e por essa razão eram mais difíceis de
controlar.
—Não amaldiçoe. Nunca
a escutei amaldiçoar antes. Terei que lavar sua boca com sabão — brincou,
levando‐a de volta para o sofá.
Seu tom gentil a
afetou mais do que as palavras severas poderiam fazer jamais, e tomou dois
profundos fôlegos, tratando de controlar os soluços que se abatiam em algum
lugar no fundo de sua garganta.
Deixou‐a
suavemente de volta no sofá.
—Agora me deixe ver
esse pé, o que acha?
Ela negou com a
cabeça.
— Posso arrumar isso
sozinha.
—Não seja tola. Está
tremendo como uma folha. — Foi para a prateleira onde estavam os licores e
recolheu a vela que ela tinha deixado antes.
Demetria o observou
enquanto cruzava o aposento para retornar a seu lado e deixar a vela no extremo
da mesa.
—Bem, aqui temos um
pouco de luz. Deixe‐me ver o pé.
Relutantemente,
deixou que ele segurasse seu pé e colocá‐lo sobre o colo.
—Sou tão estúpida.
—Quer deixar de dizer
isso? É a mulher menos estúpida que conheço.
—Obrigada. Eu... Ai!
—Fique quieta e deixe
de se retorcer.
—Quero ver o que está
fazendo.
—Bom, a não ser que
seja contorcionista, não tem como, assim terá que confiar em mim.
—Falta pouco?
—Pouco. — Colocou o
dedo ao redor de outra lasca de vidro e atirou.
Ela se esticou pela
dor.
—Ficam só uma ou
duas.
—O que acontece se
não tira todas?
—Farei.
—E se não?
—Bom Deus, mulher,
alguma vez lhe disse que é muito insistente?
Ela quase sorriu.
—Sim.
Ele quase devolveu o
sorriso.
—Se deixar uma,
provavelmente sairá sozinho em poucos dias. As lascas geralmente são assim.
—Não seria lindo que
a vida fosse tão simples como uma lasca? — disse ela tristemente.
Adam elevou a vista.
—Encontrando seu
próprio caminho em poucos dias?
Assentiu.
Sustentou‐lhe
o olhar outro instante, e logo voltou para seu trabalho, arrancando uma última
lasca de vidro de sua pele.
—Aí tem. Estará como
nova em pouco tempo.
Mas não fez nenhum
movimento para retirar o pé de seu colo.
—Sinto ter sido tão
desajeitada.
—Não sinta. Foi um
acidente.
Era sua imaginação ou
ele estava sussurrando? E seus olhos se viam tão tenros.
Demetria se retorceu
e se dobrou para poder sentar‐se mais perto dele.
—Adam?
—Não diga nada —
disse ele roucamente.
—Mas eu...
—Por favor!
Demetria não entendia
a urgência de sua voz, não reconhecia o desejo entrelaçado em suas palavras. Só
sabia que estava perto, que podia senti‐lo, que podia cheirá‐lo...
E que desejava saboreá‐lo.
—Adam, eu...
—Não diga mais —
disse asperamente e a atraiu para ele, esmagando os seios contra seu firme e
musculoso torso. Seus olhos brilhavam com ferocidade, e subitamente se deu conta,
subitamente soube, que nada ia impedir a lenta descida de seus lábios para os
dela.
E então a beijou,
sentia seus lábios quentes e famintos contra a boca. Seu desejo era intenso,
cru e devorador. Desejava‐a. Não podia acreditar, mal conseguia reunir a presença de ânimo
para pensar, mas sabia. A desejava.
Fez sentir‐se
atrevida. A fez sentir feminina. Resgatou algum tipo de conhecimento secreto
que tinha estado enterrado nela, talvez desde antes de nascer, e lhe devolveu o
beijo, movendo os lábios com ingênua incerteza, a língua disparando para provar
o quente sabor salgado de sua pele.
As mãos do Adam lhe
pressionaram as costas, aprisionando‐a contra ele, e então já não
puderam permanecer erguidos e se afundaram nas almofadas, Adam cobrindo o corpo
de Demetria com o dele.
Tornou‐se
selvagem. Estava enlouquecido. Essa era a única explicação, mas parecia que não
se saciava dela. Suas mãos vagaram por todos os lados, provando, apalpando,
apertando, e em tudo o que podia pensar — quando era capaz de pensar— era em
que a desejava. Desejava‐a de todas as maneiras possíveis. Desejava devorá‐la.
Desejava adorá‐la.
Desejava perder‐se
dentro dela.
Sussurrou seu nome,
gemeu contra sua pele. E quando ela respondeu sussurrando o dele sentiu que
suas mãos se moviam por vontade própria para os pequenos botões da gola da
camisola. Cada um parecia derreter‐se debaixo da ponta dos
dedos até que abriram todos, e tudo o que faltava era que deslizasse o tecido sobre
sua pele. Podia sentir o inchaço de seus seios debaixo da camisola, mas
desejava mais.
Desejava seu calor,
seu aroma, seu sabor.
Percorreu‐lhe
a garganta para baixo com os lábios, seguindo a elegante curva da clavícula,
justo onde a borda da camisola se encontrava com a pele. Correu a borda para
baixo, saboreando uma nova polegada dela, explorando a suave e salgada doçura, e
estremecendo‐se de prazer quando a lisa parte do colo deu lugar à suave
turgidez de seu seio. Deus querido desejava‐a.
Cavou a mão sobre ela
através da roupa, pressionando‐a para cima, aproximando‐a de sua boca. Ela gemeu, e
ele mal pôde conter‐se, quase não pôde forçar seu desejo a avançar lentamente.
Aproximou a boca, aproximando‐se para o prêmio mais cobiçado, ao mesmo tempo em que deslizava a
mão por debaixo da ponta da camisola, deslizando‐a sobre a sedosa pele da
panturrilha.
Quando sua mão
alcançou a coxa, ela quase lançou um grito.
—Shhh — cantarolou,
silenciando‐a com um beijo. — Despertará os vizinhos.
Despertará
meus...Pais.
Foi como se lhe
jogassem um, balde de água fria.
—OH, Deus.
—O que acontece, Adam?
—Sua respiração saía em ofegos entrecortados.
—OH, Deus. Demetria.
—Disse o nome com toda a agitação que lhe alagava a mente. Foi como se tivesse
estado adormecido, sonhando e tivesse despertado e...
—Adam, eu...
—Silêncio — sussurrou
ele bruscamente, e rodou para sair de em cima dela com tanta força que
aterrissou no tapete a seu lado. — OH, Deus querido — disse. E logo outra vez,
porque merecia ser repetido. — OH. Deus. Querido.
—Adam?
—Levante‐se.
Tem que levantar‐se.
—Mas...
Baixou a vista para
ela, o que foi um grande engano. A camisola ainda estava enrolada perto dos
quadris e as pernas dela — Deus querido, quem teria pensado que seriam tão
adoráveis e longas — e ele só desejava...
Não.
Estremeceu com a
força de sua própria negativa.
—Agora, Demetria —
grunhiu.
—Mas eu não...
Deu‐lhe
um puxão e a pôs de pé. Não tinha nenhum desejo de tomar a mão; francamente,
não confiava em si mesmo para tocá‐la, por muito pouco
romântico que fosse o puxão. Mas tinha que pô‐la em movimento. Deveria
tirá‐la dali.
—Vai — ordenou. —
Pelo amor de Deus, se tiver um pouco de sentido comum, vai.
Mas ela simplesmente
ficou ali de pé, olhando‐o atordoada, com o cabelo desordenado, os lábios inchados e ele
desejando‐a.
Deus querido, ainda a
desejava.
—Isto não voltará a
ocorrer — disse, com a voz tensa.
Ela não disse nada.
Observou‐o com cautela. Por favor, por favor, não permita que comece a
chorar.
Manteve‐se
ferozmente imóvel. Movia‐se, era provável que a tocasse. Não seria capaz de evitar.
—Será melhor que suba
— disse em voz baixa
Ela assentiu com uma
sacudida de cabeça e fugiu para seu quarto.
Adam ficou olhando
fixamente a porta. Maldito inferno sagrado. O que ia fazer?
12
de Junho de 1819
Estou
sem palavras. Absolutamente.
Eita que isso Adam !!
ResponderExcluirEsses dois meu Deus se resolvam!!!
POSTA LOGO
Jesus amado!!!! Quero mais, que isso Adam kk
ResponderExcluirPosta logo , tomara que eles se resolvam logo