domingo, 3 de junho de 2018

O Diário Secreto da Senhorita Demetria Cheever Capitulo 7


Tendo terminado uma vela e depois de três copos de brandy, Adam se encontrava sentado na penumbra do estúdio de seu pai, olhando através da janela, escutando o rangido das folhas de uma árvore próxima que, açoitadas pelo vento, golpeavam o vidro.
Aborrecido, talvez, mas justo nesse momento se apegava ao aborrecimento.
Um pouco aborrecido era precisamente o que desejava depois de um dia como o que teve.
Primeiro foi Selena, acusandoo de desejar Demetria. Em seguida foi Demetria, e ele havia...
Deus querido tinha desejadoa.
Sabia o momento exato que compreendeu. Não foi quando se chocou contra ele. Não foi quando lhe rodeou com as mãos a parte superior dos braços para estabilizála. Havia se sentido bem, sim, mas não levou em conta. Não dessa forma.
O momento... O momento que muito provavelmente foi sua perdição ocorreu meio segundo mais tarde, quando ela levantou a cabeça.
Foram os olhos dela. Sempre foram seus olhos. Simplesmente tinha sido muito estúpido para darse conta disso.
E enquanto permaneciam ali, durante o que pareceu uma eternidade, sentiu como mudava. Sentiu que seu corpo se enrolava e que sua respiração cessava tudo ao mesmo tempo, e logo apertou os dedos e os olhos dela... Aumentaram mais ainda.
E a desejou. Desejoua como nunca pôde imaginar de uma forma que não era nem apropriada nem boa.
Nunca ficou tão zangado consigo mesmo.
Não a amava. Não podia amála. Estava bastante seguro que não poderia amar ninguém, não depois da morte que Camille tinha gravado em seu coração. Era luxúria, pura e simples, e era luxúria pela mulher que provavelmente seria a menos conveniente de toda a Inglaterra.
Serviuse outro gole. Diziam que o que não matava um homem o fortalecia, mas isto...
Isto ia matálo.
E então, quando estava ali sentado, pensando em sua própria debilidade, a viu.
Era uma prova. Só podia tratarse de uma prova. Alguém em algum lugar estava decidido a provar seu temperamento como cavalheiro, e ele ia falhar. Tentaria, se conteria tanto tempo quanto fosse possível, mas muito profundamente em seu interior, em um pequeno canto de sua alma que não tinha um interesse particular em examinar, sabia. Falharia.
Moviase como um fantasma, quase brilhando vestida com algum tipo de ondulante camisola branca. Era lisa e de algodão e estava seguro que era recatada, apropriada e perfeitamente virginal.
Fez que se desesperasse por ela.
Agarrou os lados da poltrona e se sustentou com todas suas forças.
Quando Demetria entrou no estúdio de Lorde Rudland, sentiase um pouco intranquila, mas não tinha encontrado o que estava procurando no salão rosa, e sabia que havia uma garrafa em uma prateleira próxima à porta. Em menos de um minuto poderia entrar e sair; com certeza que alguns meros segundos não constituíam uma invasão à privacidade.
—Então, onde estão esses copos? — murmurou, deixando a vela na mesa. —
Aqui estão. — Encontrou a garrafa de xerez e se serviu um pouco.
—Espero que não esteja habituandose a isto — disse uma voz pausada.
O copo se deslizou de seus dedos e aterrissou no chão com um forte estrépito.
—Tsk, tsk, tsk.
Seguiu a voz até que o viu, sentado em uma poltrona, com as mãos estranhamente agarradas aos braços da mesma. A luz era tênue, mas ainda assim, podia ver a expressão de seu rosto, sarcástica e seca.
—Adam? — sussurrou tolamente, como se fosse possível que se tratasse de outra pessoa.
—O próprio.
—Mas, o que está... Por que está aqui? —Avançou um passo. — Ai! —Uma lasca de cristal perfurou a pele da sola do pé.
—Pequena tola. Desceu descalça. — levantouse da poltrona e atravessou o aposento a grandes passos.
—Não tinha planejado quebrar um copo — respondeu Demetria à defensiva, se inclinando e tirando a lasca.
—Não importa. Pegará um resfriado de morte brincando de correr por aí dessa forma. — Levantoua nos braços e a separou dos vidros quebrados.
Nesse momento cruzou pela mente de Demetria que estava mais perto do céu do que jamais esteve em sua curta vida. O corpo dele era quente e podia sentir o calor fluindo através da camisola. Fazialhe cócegas a pele por sua proximidade e o fôlego começou a sair em pequenos e anômalos ofegos.
Era o aroma dele. Devia ser isso. Nunca antes ficou tão perto dele, nunca o suficientemente perto para cheirar sua essência extraordinariamente masculina.
Cheirava como madeira quente e brandy, e um pouco de algo mais, algo que não podia precisar exatamente. Algo que era simplesmente Adam. Agarrando o pescoço dele, permitiuse aproximar a cabeça ao seu peito só o suficiente para poder inalar profundamente seu aroma uma vez mais.
E então, quando estava convencida de que a vida era a mais perfeita que se podia pedir, a jogou bruscamente no sofá.
—Por que fez isso? —Perguntou, lutando para sentarse reta.
—O que está fazendo aqui?
—O que você está fazendo aqui?
Sentouse em uma mesa baixa na frente dela.
—Eu perguntei primeiro.
—Parecemos um par de crianças — disse, sentandose sobre as pernas. Mas não obstante, respondeu. Parecia absurdo discutir sobre semelhante assunto. — Não podia dormir. Pensei que um copo de xerez poderia me ajudar a conseguir.
—Porque chegou madura e anciã idade de vinte anos — disse ele de brincadeira.
Mas ela não mordeu o anzol. Só inclinou a cabeça com um gracioso movimento de reconhecimento e disse:
—Exatamente.
Ele riu.
—Pois, não faltaria mais, me permita assistila em sua queda. —Ficou de pé e caminhou para o próximo móvel. — Mas se for beber, então, Por Deus, façao adequadamente. Um brandy é o que necessita, preferentemente do francês que se obtém de contrabando.
Demetria o observou enquanto pegava duas taças da prateleira e as punha sobre a mesa. Suas mãos eram firmes e... As mãos podiam ser bonitas? Ao servir duas consideráveis medidas.
—Quando era pequena, minha mãe, ocasionalmente, me dava brandy. Quando pegava chuva — explicou. — Só um golinho para me esquentar.
Adam se virou a olhála, embora estivesse escuro sentia que seus olhos a perfuravam.
—Tem frio agora?
—Não. Por quê?
—Está tremendo.
Demetria desceu a vista a seus braços traidores. Estava tremendo, mas não era o frio o que o causava. Abraçou a si mesma, com a esperança de que não seguisse com o tema.
Ele voltou para seu lado e lhe entregou o brandy, seu corpo imbuído de uma enxuta elegância masculina.
—Não o vire de um gole.
Antes de tomar um gole, Demetria lhe lançou um olhar extremamente irritado pelo tom de condescendência que havia em sua voz.
—Por que está aqui? — Perguntou.
Sentouse na frente dela e preguiçosamente apoiou um tornozelo sobre o joelho oposto.
—Tinha que discutir uns assuntos da fazenda com meu pai, assim convidei a mim mesmo a compartilhar um gole com ele depois da refeição. E não fui embora.
—E esteve aqui sentado sozinho na escuridão?
—Eu gosto da escuridão.
—Ninguém gosta da escuridão.
Riu com vontade, fazendoa sentir terrivelmente imatura e jovem.
—Ah, Demetria — disse, ainda rindo. — Obrigado por isso.
Ela semicerrou os olhos.
—Quanto bebeu?
—Uma pergunta muito impertinente.
—Há, por isso deve ter bebido muito.
Ele se inclinou para frente.
—Parece que estou bêbado?
Ela se afastou involuntariamente, não estando preparada para a intensidade de seu olhar.
—Não — disse lentamente. — Mas você é muito mais experiente que eu, e imagino que sabe como beber. Provavelmente possa beber oito vezes mais que eu sem que pareça absolutamente que bebeu.
Adam riu asperamente.
—Muito certo tudo o que disse. E você, querida menina, deveria aprender a permanecer afastada de homens que são "muito mais experimentes" que você.
Demetria tomou outro gole de sua bebida, resistindo apenas o impulso de engoli uma vez. Mas a queimaria, e certamente engasgaria, e logo ele começaria a rir.
E ela quereria morrer de vergonha.
Tinha estado de mau humor toda a noite. Cortante e zombador quando estavam a sós, e silencioso e desanimado quando não estavam. Amaldiçoou seu traiçoeiro coração por amálo tanto; teria sido muito mais fácil adorar Mikey, cujo sorriso era alegre e aberto, e que se mostrou encantador com ela toda a noite.
Mas não, desejava ele. Adam, cujos humores eram como o mercúrio e em um instante estava rindo e brincando com ela, e no seguinte a tratava como se a odiasse.
O amor era para os idiotas. Os tolos. E ela era a maior tola de todos.
—Em que está pensando? — demandou ele.
—Em seu irmão — disse, só para ser perversa. De todas as formas, era um pouco verdade.
—Ah — disse ele, acrescentando mais brandy a sua taça. — Mikey. Boa pessoa.
—Sim — respondeu. — Um pouco desafiante.
—Alegre.
—Encantador.
—Jovem.
Ela deu um encolher de ombros.
—Eu também sou. Talvez sejamos um bom par.
Não disse nada. Ela terminou sua bebida.
—Não está de acordo? —perguntou.
Ele continuou sem falar.
—A respeito do Mikey — pressionou. — É seu irmão. Quer que seja feliz, não é? Pensa que seria boa para ele? Pensa que poderia fazêlo feliz?
—Por que está me perguntando isso? — perguntou ele, com a voz baixa e quase alheia no silêncio da noite.
Demetria deu um encolher de ombros, logo deslizou o dedo dentro da taça para recolher as últimas gotas. Depois de lamber a pele, levantou a vista.
—Ao seu serviço — murmurou ele, e lhe serviu dois dedos mais de brandy na taça.
Demetria assentiu em forma de agradecimento e logo respondeu sua pergunta.
—Quero saber —disse simplesmente, — e não sei a quem mais perguntar.
Selena está tão ansiosa de me ver casada com Mikey, que dirá qualquer coisa que pense que me levará mais rapidamente ao altar.
Esperou, contando os segundos até que ele falou. Um, dois, três... E logo tomou fôlego entrecortadamente.
Foi quase como uma rendição.
—Não sei Demetria. — Soava cansado, aflito. — Não vejo razão para que não o faça feliz. Faria feliz a qualquer homem.
Até você? Demetria morria por dizer essas palavras, mas em troca perguntou.
—Pensa que ele me fará feliz?
Tomou ainda mais tempo responder essa pergunta. E logo finalmente, em um tom lento e moderado disse:
—Não estou seguro.
—Por que não? Que tem que errado com ele?
—Não tem nada de errado. É simplesmente que não estou seguro de que vá te fazer feliz.
—Mas, por quê? — Estava sendo impertinente, sabia, mas se pudesse fazer que Adam lhe dissesse por que Mikey não a faria feliz, talvez se dessa conta de que ele sim conseguiria.
—Não sei Demetria. — Passou a mão pelo cabelo até que as mechas douradas ficaram em um ângulo desajeitado. — É necessário que tenhamos esta conversa?
—Sim — disse ela com intensidade. — Sim.
—Muito bem. — Ele se inclinou para frente, entrecerrando os olhos para preparála para lhe dar notícias desagradáveis. — Não entra nos modelos de beleza que a sociedade estima atualmente para ser considerada bela, é muito sarcástica para não dizer mais e não gosta particularmente de sustentar uma conversa educada.
—Francamente, Demetria eu não posso imaginála desejando um típico casamento social.
Ela engoliu com força.
—E?
Ele afastou a vista por um longo minuto antes de voltar finalmente a olhála de frente.
—E a maioria dos homens não a apreciariam. Se seu marido tratar de moldála a algo que não é, será espetacularmente infeliz.
Houve uma corrente elétrica no ar, e Demetria foi bastante incapaz de tirar os olhos de cima dele.
—E você acha que aí fora haverá alguém capaz de me apreciar? —Sussurrou.
A perguntaa pendurou pesadamente no ar, hipnotizando os dois até que Adam finalmente respondeu.
—Sim.
Mas seus olhos desceram para a taça, e logo acabou o resto do brandy. Seu olhar era o de um homem satisfeito pela bebida, não o de um homem concentrado no amor e o romance.
Ela afastou a vista. O momento se alguma vez houve um, se não foi só produto de sua imaginação tinha passado, e o silêncio que seguiu não foi um silêncio cômodo.
Era embaraçoso e torpe, e ela se sentiu envergonhada e torpe, e assim, ansiosa por encher a distância entre eles, balbuciou a primeira coisa corriqueira que lhe passou pela mente.
—Pensa assistir ao baile dos Worthington na próxima semana?
Ele se virou uma de suas sobrancelhas arqueada a modo de interrogação pela inesperada pergunta.
—É provável.
—Eu gostaria que o fizesse. Sempre tem a amabilidade de dançar comigo duas vezes. Se não fosse assim me faltariam muitos pares. —Estava balbuciando, mas não estava segura de que importasse. Em qualquer caso, não parecia capaz de deterse. —
Se Mikey pudesse ir, não o necessitaria, mas ele teria que retornar a Oxford pela manhã.
Adam a olhou estranhamente. Não era um verdadeiro sorriso, e não era uma brincadeira, e nem sequer era um gesto irônico. Demetria odiava que fosse tão inescrutável; não lhe dava absolutamente nenhum sinal de como proceder. Mas de todas as formas continuou. A essas alturas, o que tinha a perder?
—Irá? —Perguntou. — Apreciaria muito.
Olhoua por um momento, e logo disse:
—Lá estarei.
—Obrigada. Fico muito agradecida.
—É um prazer ser de utilidade — disse ele com secura.
Ela assentiu seus movimentos guiados mais por uma energia nervosa que por qualquer outra coisa.
—Só deve dançar comigo uma vez, se isso for tudo o que pode tolerar. Mas se o fizesse a princípio, apreciaria. Os outros homens parecem seguir seu exemplo.
—Estranho como posso parecer — murmurou ele.
—Não é tão estranho — disse Demetria lhe dedicando o encolhimento de um só ombro. Estava começando a sentir os efeitos do álcool. Ainda não estava desequilibrada, mas se sentia bastante quente, talvez um pouco atrevida. — Você é bastante bonito.
Adam pareceu não saber o que responder. Demetria se felicitou. Era muito estranho engenhar para desconcertálo.
O sentimento foi impetuoso, assim tomou outro gole de seu brandy, e desta vez tomou cuidado de deixálo deslizarse lentamente pela garganta, e disse:
—É bastante parecido ao Mikey.
—Desculpeme.
Seu tom foi escarpado, e provavelmente ela deveria ter tomado como uma advertência, mas parecia não ser capaz de sair do poço que estava cavando rapidamente a seu redor.
—Bom ambos têm olhos azuis e cabelo loiro, embora suponha que o dele é um pouco mais claro. E também sua postura é similar, embora...
—É suficiente, Demetria.
—Oh, mas...
—Disse que é suficiente.
Calouse ante o tom cáustico, logo murmurou:
—Não há necessidade de sentirse ofendido.
—Bebeu muito.
—Não seja tolo. Não estou nada bêbada. Estou segura que você tomou dez vezes mais que eu.
Ele a olhou com um enganoso olhar indolente.
—Isso não é de tudo certo, mas como disse antes, tenho muita mais experiência que você.
—Eu disse isso, verdade? Acredito que tinha razão. Não acho que esteja nem um pouquinho bêbado.
Ele inclinou a cabeça e disse com suavidade.
—Bêbado não. Só um pouquinho atordoado.
—Atordoado, hein? —Murmurou ela, provando a palavra na língua. — Que descrição mais interessante. Acredito que eu também estou atordoada.
—Certamente deve estar, ou teria ido de volta para o andar de cima no momento que me viu.
—E não deveria têlo comparado com Mikey.
Seus olhos brilharam com uma cor azul resistente.
—Definitivamente não deveria ter feito isso.
—Não o incomoda, não é?
Houve um longo e mortal silêncio, e por um momento Demetria pensou que tinha ido muito longe. Como podia ter sido tão tola, tão presunçosa para pensar que ele poderia desejála? Por que em nome de Deus importaria a ele que ela o comparasse com seu irmão menor? Para ele, não era mais que uma menina, a pequena menina rústica com a qual tinha feito amizade porque sentia pena. Nunca deveria ter sonhado que talvez algum dia chegasse a afeiçoarse a ela.
—Desculpeme — murmurou, ficando desajeitadamente de pé — passei dos limites. —E logo, como ainda estava ali, terminou o resto do brandy e saiu correndo para a porta.
—Aaaah!
—Que demônios? —Adam ficou de pé de um salto.
—Esqueci dos vidros — choramingou. — Os vidros quebrados.
—OH, Cristo, Demetria, não chore. —Caminhou rapidamente atravessando o aposento e pela segunda vez essa noite a levantou nos braços.
—Sou tão estúpida. Tão condenadamente estúpida — disse com um soluço.
As lágrimas se deviam mais à perda da dignidade que à dor, e por essa razão eram mais difíceis de controlar.
—Não amaldiçoe. Nunca a escutei amaldiçoar antes. Terei que lavar sua boca com sabão — brincou, levandoa de volta para o sofá.
Seu tom gentil a afetou mais do que as palavras severas poderiam fazer jamais, e tomou dois profundos fôlegos, tratando de controlar os soluços que se abatiam em algum lugar no fundo de sua garganta.
Deixoua suavemente de volta no sofá.
—Agora me deixe ver esse pé, o que acha?
Ela negou com a cabeça.
— Posso arrumar isso sozinha.
—Não seja tola. Está tremendo como uma folha. — Foi para a prateleira onde estavam os licores e recolheu a vela que ela tinha deixado antes.
Demetria o observou enquanto cruzava o aposento para retornar a seu lado e deixar a vela no extremo da mesa.
—Bem, aqui temos um pouco de luz. Deixeme ver o pé.
Relutantemente, deixou que ele segurasse seu pé e colocálo sobre o colo.
—Sou tão estúpida.
—Quer deixar de dizer isso? É a mulher menos estúpida que conheço.
—Obrigada. Eu... Ai!
—Fique quieta e deixe de se retorcer.
—Quero ver o que está fazendo.
—Bom, a não ser que seja contorcionista, não tem como, assim terá que confiar em mim.
—Falta pouco?
—Pouco. — Colocou o dedo ao redor de outra lasca de vidro e atirou.
Ela se esticou pela dor.
—Ficam só uma ou duas.
—O que acontece se não tira todas?
—Farei.
—E se não?
—Bom Deus, mulher, alguma vez lhe disse que é muito insistente?
Ela quase sorriu.
—Sim.
Ele quase devolveu o sorriso.
—Se deixar uma, provavelmente sairá sozinho em poucos dias. As lascas geralmente são assim.
—Não seria lindo que a vida fosse tão simples como uma lasca? — disse ela tristemente.
Adam elevou a vista.
—Encontrando seu próprio caminho em poucos dias?
Assentiu.
Sustentoulhe o olhar outro instante, e logo voltou para seu trabalho, arrancando uma última lasca de vidro de sua pele.
—Aí tem. Estará como nova em pouco tempo.
Mas não fez nenhum movimento para retirar o pé de seu colo.
—Sinto ter sido tão desajeitada.
—Não sinta. Foi um acidente.
Era sua imaginação ou ele estava sussurrando? E seus olhos se viam tão tenros.
Demetria se retorceu e se dobrou para poder sentarse mais perto dele.
—Adam?
—Não diga nada — disse ele roucamente.
—Mas eu...
—Por favor!
Demetria não entendia a urgência de sua voz, não reconhecia o desejo entrelaçado em suas palavras. Só sabia que estava perto, que podia sentilo, que podia cheirálo... E que desejava saboreálo.
—Adam, eu...
—Não diga mais — disse asperamente e a atraiu para ele, esmagando os seios contra seu firme e musculoso torso. Seus olhos brilhavam com ferocidade, e subitamente se deu conta, subitamente soube, que nada ia impedir a lenta descida de seus lábios para os dela.
E então a beijou, sentia seus lábios quentes e famintos contra a boca. Seu desejo era intenso, cru e devorador. Desejavaa. Não podia acreditar, mal conseguia reunir a presença de ânimo para pensar, mas sabia. A desejava.
Fez sentirse atrevida. A fez sentir feminina. Resgatou algum tipo de conhecimento secreto que tinha estado enterrado nela, talvez desde antes de nascer, e lhe devolveu o beijo, movendo os lábios com ingênua incerteza, a língua disparando para provar o quente sabor salgado de sua pele.
As mãos do Adam lhe pressionaram as costas, aprisionandoa contra ele, e então já não puderam permanecer erguidos e se afundaram nas almofadas, Adam cobrindo o corpo de Demetria com o dele.
Tornouse selvagem. Estava enlouquecido. Essa era a única explicação, mas parecia que não se saciava dela. Suas mãos vagaram por todos os lados, provando, apalpando, apertando, e em tudo o que podia pensar — quando era capaz de pensar— era em que a desejava. Desejavaa de todas as maneiras possíveis. Desejava devorála.
Desejava adorála.
Desejava perderse dentro dela.
Sussurrou seu nome, gemeu contra sua pele. E quando ela respondeu sussurrando o dele sentiu que suas mãos se moviam por vontade própria para os pequenos botões da gola da camisola. Cada um parecia derreterse debaixo da ponta dos dedos até que abriram todos, e tudo o que faltava era que deslizasse o tecido sobre sua pele. Podia sentir o inchaço de seus seios debaixo da camisola, mas desejava mais.
Desejava seu calor, seu aroma, seu sabor.
Percorreulhe a garganta para baixo com os lábios, seguindo a elegante curva da clavícula, justo onde a borda da camisola se encontrava com a pele. Correu a borda para baixo, saboreando uma nova polegada dela, explorando a suave e salgada doçura, e estremecendose de prazer quando a lisa parte do colo deu lugar à suave turgidez de seu seio. Deus querido desejavaa.
Cavou a mão sobre ela através da roupa, pressionandoa para cima, aproximandoa de sua boca. Ela gemeu, e ele mal pôde conterse, quase não pôde forçar seu desejo a avançar lentamente. Aproximou a boca, aproximandose para o prêmio mais cobiçado, ao mesmo tempo em que deslizava a mão por debaixo da ponta da camisola, deslizandoa sobre a sedosa pele da panturrilha.
Quando sua mão alcançou a coxa, ela quase lançou um grito.
—Shhh — cantarolou, silenciandoa com um beijo. — Despertará os vizinhos.
Despertará meus...Pais.
Foi como se lhe jogassem um, balde de água fria.
—OH, Deus.
—O que acontece, Adam? —Sua respiração saía em ofegos entrecortados.
—OH, Deus. Demetria. —Disse o nome com toda a agitação que lhe alagava a mente. Foi como se tivesse estado adormecido, sonhando e tivesse despertado e...
—Adam, eu...
—Silêncio — sussurrou ele bruscamente, e rodou para sair de em cima dela com tanta força que aterrissou no tapete a seu lado. — OH, Deus querido — disse. E logo outra vez, porque merecia ser repetido. — OH. Deus. Querido.
—Adam?
—Levantese. Tem que levantarse.
—Mas...
Baixou a vista para ela, o que foi um grande engano. A camisola ainda estava enrolada perto dos quadris e as pernas dela — Deus querido, quem teria pensado que seriam tão adoráveis e longas — e ele só desejava...
Não.
Estremeceu com a força de sua própria negativa.
—Agora, Demetria — grunhiu.
—Mas eu não...
Deulhe um puxão e a pôs de pé. Não tinha nenhum desejo de tomar a mão; francamente, não confiava em si mesmo para tocála, por muito pouco romântico que fosse o puxão. Mas tinha que pôla em movimento. Deveria tirála dali.
—Vai — ordenou. — Pelo amor de Deus, se tiver um pouco de sentido comum, vai.
Mas ela simplesmente ficou ali de pé, olhandoo atordoada, com o cabelo desordenado, os lábios inchados e ele desejandoa.
Deus querido, ainda a desejava.
—Isto não voltará a ocorrer — disse, com a voz tensa.
Ela não disse nada. Observouo com cautela. Por favor, por favor, não permita que comece a chorar.
Mantevese ferozmente imóvel. Moviase, era provável que a tocasse. Não seria capaz de evitar.
—Será melhor que suba — disse em voz baixa
Ela assentiu com uma sacudida de cabeça e fugiu para seu quarto.
Adam ficou olhando fixamente a porta. Maldito inferno sagrado. O que ia fazer?
12 de Junho de 1819
Estou sem palavras. Absolutamente.

2 comentários:

  1. Eita que isso Adam !!

    Esses dois meu Deus se resolvam!!!

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  2. Jesus amado!!!! Quero mais, que isso Adam kk
    Posta logo , tomara que eles se resolvam logo

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