Uma semana ou mais
depois, o sol brilhava tão deslumbrantemente que Demetria e Selena,
tendo saudades suas habituais estadias no campo, decidiram passar a manhã
explorando Londres. Ante a insistência de Selena, começaram pelo bairro comercial.
—Na realidade não
necessito outro vestido — disse Demetria quando passeavam rua abaixo, suas
criadas seguindo‐as a uma distância respeitosa.
—Nem eu, mas sempre é
muito divertido olhar, e por outra parte, talvez encontremos algumas
quinquilharias ou algo do estilo para comprar com nosso dinheiro para gastos
menores. Seu aniversário chegará antes que nos demos conta.
— Deve comprar um
presente.
—Talvez o faça.
Ambas perambularam
por lojas de roupas, chapelaria, joalherias e confeitarias antes que Demetria
encontrasse o que sem saber tinha estado procurando.
—Olhe isso, Selena —
suspirou. — Não é magnífico?
—O que não é
magnífico? —replicou Selena, examinado a vitrine elegantemente decorada da
livraria.
—Isso. —Demetria
assinalou com o dedo a uma cópia requintadamente encadernada de A Morte
D'Arthur do Sir Thomas Malory. Parecia caro e precioso, e Demetria não
desejava nada mais que inclinar‐se através da janela e inalar o ar que flutuava ao redor deste.
Pela primeira vez em
sua vida, viu algo que simplesmente devia possuir. Esquecendo‐se
de sua economia. Esquecendo‐se de seu espírito prático.
Suspirou profunda,
expressiva e urgentemente, logo disse:
—Acredito que
finalmente compreendo seus sentimentos para os sapatos.
—Sapatos? —Repetiu Selena,
olhando os pés. — Sapatos?
Demetria não se
incomodou em explicar mais. Estava muito ocupada em inclinar a cabeça para
poder admirar o pão de ouro que decorava as páginas.
—Já lemos este —
insistiu Selena. — Acho que foi há dois anos, quando a Senhorita Lacey foi
contratada como nossa tutora. Não recorda? Estava consternada porque ainda não
tínhamos lido.
—Não me importa se já
lemos — disse Demetria, aproximando‐se muito mais do vidro. —
Não é o objeto mais belo que viu?
Selena observou a
amiga com uma expressão vacilante.
—Hein... Não.
Demetria sacudiu a
cabeça ligeiramente e levantou o olhar para Selena.
—Suponho que isto é o
que converte à arte em algo importante. O que pode fazer que uma pessoa entre
em êxtase ou pode falhar em comovê‐lo.
—Demetria, é um
livro.
—Esse livro — Demetria
determinou com firmeza — é uma obra de arte.
—Parece muito antigo.
—Eu sei. —Suspirou
felizmente Demetria.
—Comprará?
—Se tiver o dinheiro
suficiente.
—Achei que poderia.
Não gastou seu dinheiro para gastos menores em anos.
Sempre o guardou
naquele vaso de porcelana que Adam enviou por seu aniversário faz cinco anos.
—Seis.
Selena piscou.
—Seis o, que?
—Foi há seis anos.
—Faz cinco ou seis
anos, qual é a diferença? —exclamou Selena, parecendo bastante exasperada pela
exatidão de Demetria. — A questão é que tem dinheiro suficiente guardado, e se
deseja sinceramente esse livro, deve comprá‐lo para celebrar seu
vigésimo aniversário. Nunca compra nada para você mesma.
Demetria virou para a
tentação que a chamava na janela. O livro tinha sido colocado em um pedestal e
estava aberto em uma página do centro. Com brilhantes cores uma ilustração
retratava Arthur e Guinevere.
—Deve ser caro —
disse ela infeliz.
Selena lhe deu um
pequeno empurrão e disse:
—Nunca saberá se não
entrar e perguntas.
—Tem razão. Farei! — Demetria
lhe brindou um sorriso que oscilava entre o entusiasmo e o nervosismo, logo se
dirigiu à loja. A confortável livraria estava decorada em tons ricos e
masculinos, abarrotada com cadeiras de couro colocadas em lugares estratégicos
para aqueles que possivelmente quisessem sentar e folhear um volume.
—Não vejo o
proprietário — cochichou Selena na orelha de Demetria.
—Justo ali. —Demetria
fez gestos com a cabeça para um homem magro e parcialmente calvo próximo à
idade de seus pais. — Olhe, está ajudando aquele homem a encontrar um livro.
Esperarei até que esteja desocupado. Não desejo incomodar.
As duas damas
esperaram pacientemente durante uns poucos minutos enquanto o livreiro estava ocupado. De vez em quando, dirigia‐lhes um olhar carrancudo,
que desconcertou muito Demetria, tanto ela como Selena se vestiam apropriadamente
e obviamente podiam permitir comprar a maior parte da mercadoria. Finalmente,
ele terminou sua tarefa e se dirigiu apressadamente para elas.
—Perguntava‐me,
senhor... — começou a dizer Demetria.
—Esta é uma livraria
para cavalheiros — disse ele com voz hostil.
—Ah. —Demetria
retrocedeu um pouco intimidada pela atitude. Mas como desejava desesperadamente
o livro do Malory, engoliu seu orgulho, sorriu docemente, e continuou. —
Desculpe‐me. Não me dei conta disto. Mas esperava que...
—Já disse que esta é
uma loja de cavalheiros. —Os pequenos e brilhosos olhos se estreitaram. — Rogo
que parta.
Rogar? Ela o olhou
fixamente, os lábios abertos com assombro. Rogar? Com esse tipo de tom?
—Vamos, Demetria —
disse Selena, agarrando pela manga. — Devemos ir.
Demetria apertou os
dentes e não se moveu.
—Queria comprar um
livro.
—Estou seguro que
assim é — disse o livreiro. — E a livraria para damas fica tão somente um quarto
de milha.
—A livraria para
damas não tem o que desejo.
Ele sorriu
zombeteiramente.
—Então estou seguro
que você não deveria lê‐lo.
—Não acredito que
esteja em posição de emitir esse julgamento, senhor — disse Demetria friamente.
—Demetria — murmurou Selena,
com olhos abertos.
—Só um momento —
respondeu ela, sem afastar os olhos do pequeno e repulsivo homem. — Senhor pode
assegurar que possuo amplos recursos. E se você só me permitisse revisar A
Morte D'Arthur, talvez possa persuadi‐lo a separar‐se
deste.
Ele cruzou os braços.
—Não vendo livros a
mulheres.
Na verdade, isso
tinha chegado muito longe.
—Desculpe?
—Vá embora — grunhiu,
— ou terei necessariamente que expulsá‐las.
—Isso seria um
engano, senhor — contradisse Demetria bruscamente. — Sabe quem somos nós? —Não
lhe era habitual aproveitar seu nível superior, mas não se opunha a fazê‐lo
se a ocasião pedisse.
O livreiro não estava
impressionado.
—Certamente eu não me
importo.
—Demetria — suplicou Selena,
extremamente incômoda.
—Sou a Senhorita Demetria
Cheever, filha do Sir Rupert Cheever, e esta — disse Demetria com um
floreio, — é Lady Selena Bevelstoke, filha do Conde de Rudland. Sugiro que
volte a considerar sua política.
Ele igualou seu
altivo olhar.
—Não me interessa se
você for à maldita Princesa Carlota. Saia de minha loja.
Demetria semicerrou
os olhos antes de mover‐se para sair. Era o suficiente mau que ele a tivesse insultado.
Mas tamanha afronta à memória da princesa, estava além dos limites.
—Você não escutou o
final desta conversa, senhor.
—Fora!
Ela tomou o braço de Selena
e deixou o local em um arranque de fúria, fazendo que a porta desse um bom
golpe.
—Pode acreditar? —
disse uma vez que estavam seguras do lado de fora. Isso foi horroroso. Criminal. Foi...
—Uma livraria para
cavalheiros — interrompeu Selena, olhando‐a como se de repente tivesse
brotado uma cabeça a mais.
—E?
Selena se esticou
ante seu tom quase agressivo.
—Há livrarias para
cavalheiros e livrarias para damas. É a maneira habitual.
Demetria fechou com
força os punhos.
—É uma maldita e
estúpida maneira, se me perguntar isso.
—Demetria! —ofegou Selena
de forma audível. — O que acaba de dizer?
Demetria teve a graça
de ruborizar ante sua linguagem vulgar.
—Observa quanto fez
para me transtornar? Jamais antes me ouviu amaldiçoar em voz alta.
—Não, e não estou
segura de querer saber quantas maldições tem em mente.
—É absurdo — fumegou Demetria.
— Absolutamente absurdo. Ele tem algo que desejo comprar, e eu tenho o dinheiro
para pagar por isso. Deveria ter sido um assunto simples.
Selena olhou
furtivamente ao caminho.
—Por que simplesmente
não vamos à livraria para damas?
—Não há nada que
desejaria em circunstâncias mais ou menos normais.
—Preferiria não frequentar
essa espantosa loja para homens. Mas duvido que tenham uma cópia similar de A
Morte D'Arthur, Livvy. Estou segura que é um artigo singular. E o
pior... —Demetria elevou a voz quando a injustiça de tudo aquilo a embargou
mais firmemente. — E o pior...
—Há algo pior?
Demetria a fulminou
com um olhar cheio de irritação, mas, entretanto, respondeu:
—Sim. Há. O pior é
que se inclusive houvesse duas cópias, o que estou segura não há, a livraria
para damas provavelmente não teria uma, de todos os modos, porque ninguém
pensaria que uma dama desejaria um livro semelhante!
—Não o fariam?
—Não. Provavelmente
esteja repleta de Byron e novelas da senhora Radcliffe.
—Eu gosto de Byron e
as novelas da senhora Radcliffe — disse Selena, soando vagamente ofendida.
—Eu também —
assegurou Demetria, — mas também desfruto de outro tipo de literatura. E com
segurança não acredito que esse homem esteja em posição — assinalou
enojadamente com um dedo para a vitrine da livraria — de decidir o que posso ou
não posso ler.
Selena a olhou
fixamente por um momento, então cortesmente perguntou:
—Deseja‐o
muito?
Demetria alisou suas
saias e sorveu pelo nariz.
—Muito.
Selena virou para a
livraria, e logo lhe dirigiu um olhar de lastima sobre o ombro antes de colocar
uma mão consoladora no braço de Demetria.
—Conseguiremos que
papai o compre para você. Ou Adam.
—Essa não é a
questão. Não acredito que compreenda quanto isto me afeta.
Selena suspirou.
—Quando se converteu
em uma guerreira, Demetria? Achava que era eu a desinibida do dueto.
A mandíbula de Demetria
começou a doer de tanto apertá‐la.
—Suponho — quase
grunhiu — que nunca desejei tanto algo antes deste contratempo.
A cabeça de Selena
foi levemente para trás.
—Me lembre de tomar
precauções para evitar alterá‐la no futuro.
—Conseguirei esse
livro.
—Excelente, faremos
que...
—E ele saberá que o
obtive. —Demetria deu à livraria um último e agressivo olhar, logo deu longos
passos para casa.
—É obvio que
comprarei o livro para você, Demetria — disse Adam com condescendência.
Tinha desfrutado de
uma tarde bastante tranquila, lendo o jornal e ponderando a vida como um
cavalheiro sem compromissos, quando sua irmã entrou como uma explosão na sala,
anunciando que Demetria necessitava desesperadamente um favor.
Tudo isto era muito
entretido, realmente, especialmente o olhar mortal que Demetria tinha dado a Selena
ao usar a palavra desesperada.
—Não quero que você o
compre para mim — particularizou Demetria. — Quero que você o compre comigo.
Adam se recostou na
cômoda cadeira.
—Há alguma uma
diferença?
—Um mundo de diferença.
—Um mundo — confirmou
Selena, só que ela sorria, e ele suspeitou que não visse nenhuma diferença.
Demetria lançou outro
olhar encolerizado e desta vez Selena realmente retrocedeu e exclamou.
—O que? Estou te
apoiando!
—Não acredita que é
um equívoco — Demetria continuou ferozmente, retornando a sua diatribe e
dirigindo‐se a ele — que não possa fazer compras em certa loja simplesmente
porque sou uma mulher?
Ele sorriu
preguiçosamente.
—Demetria, há certos
lugares onde as mulheres não podem ir.
—Não pretendo entrar
em um de seus preciosos clubes. Somente desejo comprar um livro. Não há nada
remotamente inapropriado nisso. É uma antiguidade, por Deus Santo.
—Demetria, se esse
cavalheiro for o proprietário dessa loja, pode decidir a quem venderá e a quem
não.
Ela cruzou os braços.
—Bem, talvez não
devesse ser mimado. Possivelmente deveria existir uma lei que diga que os
livreiros não podem impedir a entrada das mulheres em seus estabelecimentos.
Ele levantou uma
irônica sobrancelha.
—Você não esteve lendo
a essa Mary Wollstonecraft, ou sim?
—Mary quem?
—perguntou Demetria com uma voz distraída.
—Bem.
—Não mude de assunto,
por favor, Adam. Concorda ou não que devo comprar esse livro?
Adam suspirou
bastante esgotado ante sua inesperada teimosia. E tudo por um livro.
—Demetria, por que
deveriam lhe permitir a entrada em uma livraria de cavalheiros? Você nem sequer
pode votar.
Sua explosão de
indignação foi colossal.
—E isso é outro
ponto...
Adam se deu conta
rapidamente que tinha cometido um engano tático.
—Esqueça que
mencionei o direito ao voto. Por favor. Irei com você comprar o livro.
—Irá? —Seus olhos se
iluminaram com um suave brilho marrom. — Obrigada.
—Está bem na sexta‐feira?
Não acredito ter nenhum compromisso nessa tarde.
—Ah, eu também quero
ir — interrompeu Selena.
—Absolutamente não —
disse Adam firmemente. — Uma de vocês é tudo o que posso dirigir. Meus nervos,
já sabe.
—Seus nervos?
Deu‐lhe
um olhar.
—Vocês os põem a
prova.
—Adam! —exclamou Selena.
Ela virou para Demetria. — Demetria!
Mas Demetria ainda
estava concentrada em Adam.
—Poderíamos ir agora?
—perguntou ela, dando a impressão de não ter ouvido uma palavra de sua briga. —
Não quero que esse livreiro se esqueça de mim.
—Julgando pelo relato
de Selena de sua aventura — disse Adam ironicamente — duvido que isso aconteça.
—Mas, por favor,
poderíamos ir hoje? Por favor. Por favor.
—Dá‐se
conta de que está suplicando?
—Não me importa —
disse ela imediatamente.
Ele refletiu sobre
isso.
—Ocorre que poderia
utilizar esta situação a meu favor.
Demetria o olhou
entreabrindo os olhos.
—O que é o que quer
dizer?
—Ah, não sei. A gente
nunca sabe quando talvez necessite um favor.
—Já que não tenho
nada que você possa desejar, o aconselho a esquecer de seus inócuos planos e
simplesmente me acompanhar à livraria.
—Muito bem. Façamos.
Ele acreditou que ela
talvez saltasse de felicidade. Deus bendito.
—Não fica longe —
dizia ela. — Podemos ir andando.
—Está seguro de que
não posso ir com vocês? —perguntou Selena, seguindo‐os ao
vestíbulo.
—Fique — ordenou Adam
benignamente quando observou que Demetria cruzava a porta. — Alguém precisará
chamar a guarda quando não retornarmos.
Dez minutos depois, Demetria
se detinha frente à livraria da qual tinha sido expulsa mais cedo nesse dia.
—Calma Demetria —
escutou Adam murmurar a seu lado. — Parece um pouco atemorizante.
—Bem — respondeu ela
sucintamente e deu um passo para frente.
Adam colocou uma mão tranquilizadora
no braço dela.
—Me permita entrar
antes de você — sugeriu com um brilho de diversão no olhar. — A mera visão de
você pode ocasionar ao pobre homem uma apoplexia.
Demetria franziu o
cenho, mas permitiu que ele passasse. Não havia maneira de que o livreiro
ganhasse desta vez. Vinha acompanhada com um verdadeiro cavalheiro e uma sã
dose de raiva. O livro era quase dela.
Uma campainha
tilintou quando Adam entrou na loja. Demetria o seguia de perto, quase pisando
seus calcanhares.
—Posso ajudar senhor?
— perguntou o livreiro, todo com aduladora cortesia.
—Sim, estou
interessado em... — Suas palavras se desvaneceram enquanto ela jogava um olhar
pela loja.
—Esse livro — disse Demetria
firmemente, assinalando para o mostrador na vitrine.
—Sim, esse. —Adam
ofereceu ao livreiro um amável sorriso.
—Você! —balbuciou o
livreiro, seu rosto ruborizou com a ira. — Fora! Saia de minha loja! —Agarrou o
braço de Demetria e tratou de arrastá‐la a porta.
—Pare! Disse para
parar! —Demetria não permitiria ser maltratada por um homem que considerava um
idiota, agarrou sua bolsa e o golpeou na cabeça.
Adam gemeu.
—Simmons! —gritou o
livreiro, chamando o ajudante. — Chame a polícia. Esta senhorita é
desequilibrada.
—Não sou
desequilibrada, sua grande cabra!
Adam avaliou suas
opções. Realmente, não podia haver um bom resultado.
—Sou um cliente que
vai pagar — continuou Demetria acaloradamente. — E quero comprar A Morte
D'Arthur!
—Morrerei antes que
chegue a suas mãos, sua rameira mal educada!
Rameira? Isso era
realmente muito para Demetria, uma senhorita cuja suscetibilidade era
usualmente mais modesta que a dela possivelmente adotasse a sua atual conduta.
—Você vil... Vil
homem — vaiou. Ela levantou sua bolsa outra vez.
Rameira? Adam
suspirou. Era um insulto que realmente não podia deixar passar. Além disso, não
podia permitir que Demetria atacasse o pobre homem. Agarrou a bolsa de sua mão.
O fulminou com o olhar devido á interferência. Semicerrou os olhos e lhe deu um
olhar de advertência.
Ele clareou a
garganta e se virou para o livreiro.
—Senhor eu devo
insistir em que se desculpe com a dama.
O livreiro cruzou os
braços desafiadoramente.
Adam olhou Demetria.
Seus braços estavam cruzados da mesma maneira.
Olhou para o homem
mais velho e disse, um pouco mais fortemente:
—Se desculpará com a
dama.
—Ela é uma ameaça —
disse o livreiro amargamente.
—Porque você... —Demetria
teria se jogado contra ele se Adam não tivesse agarrado rapidamente a parte
traseira de seu vestido. O ancião apertou os punhos e assumiu uma postura
ameaçadora que era bastante díspar com sua aparência livresca.
—Fique calada — vaiou
Adam a ela, sentindo retalhos de fúria desatando‐se no peito.
O livreiro a fulminou
com um olhar triunfante.
—Ah, isso foi um
engano — disse Adam. Santo Deus, não tinha o homem sentido comum? Demetria se
equilibrou para frente, o que significou que Adam tinha que sustentar o vestido
ainda mais firmemente. O que fez que o livreiro assumisse um sorriso mais
afetado o que significava essa merda de farsa daria voltas em espiral até converter‐se
em um furacão a grande escala se Adam não solucionasse o assunto imediatamente.
Brindou o livreiro
seu mais frio e mais aristocrático olhar.
— Se desculpará com a
dama, ou farei que se arrependa muito, de verdade.
Mas o livreiro era
claramente um idiota delirante, porque não aceitou a oferta que Adam lhe dava,
em sua estimativa, muito generosamente. Em vez disso, jogou para frente à
mandíbula agressivamente e anunciou:
—Não tenho nada do
que me desculpar. Essa mulher veio a minha loja...
—Ah, demônios —
murmurou Adam. Agora não havia forma de evitar a desgraça.
—... Perturbou a meus
clientes, insultou‐me...
Adam apertou a mão em
um punho e a dirigiu diretamente ao nariz do livreiro.
—Ah, Deus Bendito —
suspirou Demetria. — Acredito que quebrou o nariz dele.
Adam a fulminou com
um olhar mordaz antes de baixar o olhar para o livreiro no chão.
—Acredito que não.
Não sangra o suficiente.
—É uma pena —
murmurou Demetria.
Adam a agarrou pelo
braço e a arrastou para ele. A sanguinária e pequena donzela ia conseguir que a
matasse.
—Nenhuma outra
palavra até que saiamos daqui.
Os olhos de Demetria
se alargaram, mas fechou sabiamente a boca e lhe permitiu tirá‐la
da loja. Quando passaram pela vitrine, entretanto, ela vislumbrou A Morte
D'Arthur e exclamou:
—Meu livro!
Isso foi o cúmulo. Adam
se deteve intempestivamente.
—Não quero ouvir
outra palavra a respeito de seu condenado livro, você me ouviu?
A boca de Demetria se
abriu.
—Entende o que acaba
de acontecer? Bati em um homem.
—Mas, por acaso não
concorda que ele necessitava que o golpeassem?
—Não tanto como você
necessita que a estrangulem!
Ela retrocedeu claramente
ofendida.
—Ao contrário do que
for que você pensa de mim — exclamou ele, — não passo meus dias refletindo
sobre quando e onde aplacarei minha agressividade.
—Mas...
—Mas nada, Demetria.
Você insultou o homem...
—Ele me insultou!
—Estava solucionando
o assunto — disse entre dentes. — Por isso me trouxe aqui, para solucionar
tudo. Não é assim?
Demetria franziu o
cenho e moveu o queixo com um brusco e resistente movimento.
—Que demônios, o
problema era com você? Que se esse homem tivesse tido menos restrição? Que
se...
—Pensou que mostrava
restrição? —perguntou ela, atônita.
—Ao menos tanto como
você teve! —Agarrou‐a pelos ombros e quase a começou a sacudir. — Bendito Deus, Demetria,
dá‐se conta de que há muitos homens que não piscariam antes de
golpear uma mulher? Ou algo pior — adicionou‐o de maneira significativa.
Esperou sua resposta,
mas ela o olhava fixamente, seus olhos imensos e impassíveis. E teve o maior
pressentimento de que via algo que ele não via. Algo nele.
—Perdão, Adam — disse
ela então.
—Devido ao que?
—perguntou ele menos que amavelmente. — Por fazer uma cena em meio de uma tranquila
livraria? Por não se calar quando devia fazê‐lo?
— Por... Por
transtorná‐lo — disse baixinho. — Sinto muito. Não está bem o que fiz.
Suas suaves palavras cortaram
limpamente sua irritação, e ele suspirou.
—Simplesmente não
faça outra vez, promete?
—Prometo.
—Bem. —deu‐se
conta de que ainda a sustentava pelos ombros e afrouxou o aperto. Então se deu
conta de que gostou do toque dos ombros dela. Surpreso, soltou de uma vez.
Ela inclinou a cabeça
a um lado quando uma expressão preocupada cruzou seu rosto.
—Pelo menos acredito
que prometo. Na verdade tratarei de não fazer nada que o altere como nesta
ocasião.
Adam teve uma
repentina visão de Demetria tentando não transtorná‐lo.
A visão o contrariou.
—O que aconteceu?
Dependemos de sua sensatez. Só Deus sabe que salvou Selena mais de uma vez de
um problema.
Ela apertou
fortemente os lábios, e logo disse:
—Não confunda
sensatez com mansidão, Adam. Não é a mesma coisa. E com certeza não sou
submissa.
Notou que ela não era
desafiante, simplesmente indicava um fato, um que suspeitou sua família havia
inadvertido por anos.
—Não se preocupe —
disse com cansaço — se alguma vez tive a noção que você era submissa, tenha a segurança
de que me desenganou disso esta tarde.
Mas que Deus o
ajudasse, ela não estava convencida.
—Se vir algo que é
obviamente uma injustiça — disse seriamente — não posso me sentar e não fazer
nada.
Ia matá‐lo.
Estava seguro disso.
—Só tente afastar‐se
do obviamente errado. Poderia fazê‐lo por mim?
—Mas não acredito que
isto seja algo particularmente errado. E fiz...
Ele elevou a mão.
—Nada mais. Nem outra
palavra sobre o assunto. Tirará dez anos de vida falar sobre isto. – Pegou‐a
pelo braço e se dirigiu para casa.
Querido Deus, o que
estava errado nele? Seu pulso ainda estava acelerado, e ela nem sequer esteve
em perigo. Não realmente. Duvidava que o livreiro pudesse dar um bom soco. E,
além disso, por que diabo estava tão preocupado com Demetria? É obvio que se
interessava por seu bem‐estar. Era como uma irmã pequena para ele.
Mas
então tratou de imaginar Selena no lugar dela. Tudo o que podia sentir era uma
aprazível diversão. Algo estava muito errado se Demetria podia deixá‐lo furioso assim.
Adorei. Momento Demi feminista kkkk
ResponderExcluirQuero mais, posta mais um , faz maratona