segunda-feira, 21 de maio de 2018

O Diário Secreto da Senhorita Demetria Cheever Capitulo 5

Uma semana ou mais depois, o sol brilhava tão deslumbrantemente que Demetria e Selena, tendo saudades suas habituais estadias no campo, decidiram passar a manhã explorando Londres. Ante a insistência de Selena, começaram pelo bairro comercial.
—Na realidade não necessito outro vestido — disse Demetria quando passeavam rua abaixo, suas criadas seguindoas a uma distância respeitosa.
—Nem eu, mas sempre é muito divertido olhar, e por outra parte, talvez encontremos algumas quinquilharias ou algo do estilo para comprar com nosso dinheiro para gastos menores. Seu aniversário chegará antes que nos demos conta.
— Deve comprar um presente.
—Talvez o faça.
Ambas perambularam por lojas de roupas, chapelaria, joalherias e confeitarias antes que Demetria encontrasse o que sem saber tinha estado procurando.
—Olhe isso, Selena — suspirou. — Não é magnífico?
—O que não é magnífico? —replicou Selena, examinado a vitrine elegantemente decorada da livraria.
—Isso. —Demetria assinalou com o dedo a uma cópia requintadamente encadernada de A Morte D'Arthur do Sir Thomas Malory. Parecia caro e precioso, e Demetria não desejava nada mais que inclinarse através da janela e inalar o ar que flutuava ao redor deste.
Pela primeira vez em sua vida, viu algo que simplesmente devia possuir. Esquecendose de sua economia. Esquecendose de seu espírito prático.
Suspirou profunda, expressiva e urgentemente, logo disse:
—Acredito que finalmente compreendo seus sentimentos para os sapatos.
—Sapatos? —Repetiu Selena, olhando os pés. — Sapatos?
Demetria não se incomodou em explicar mais. Estava muito ocupada em inclinar a cabeça para poder admirar o pão de ouro que decorava as páginas.
—Já lemos este — insistiu Selena. — Acho que foi há dois anos, quando a Senhorita Lacey foi contratada como nossa tutora. Não recorda? Estava consternada porque ainda não tínhamos lido.
—Não me importa se já lemos — disse Demetria, aproximandose muito mais do vidro. — Não é o objeto mais belo que viu?
Selena observou a amiga com uma expressão vacilante.
—Hein... Não.
Demetria sacudiu a cabeça ligeiramente e levantou o olhar para Selena.
—Suponho que isto é o que converte à arte em algo importante. O que pode fazer que uma pessoa entre em êxtase ou pode falhar em comovêlo.
—Demetria, é um livro.
—Esse livro — Demetria determinou com firmeza — é uma obra de arte.
—Parece muito antigo.
—Eu sei. —Suspirou felizmente Demetria.
—Comprará?
—Se tiver o dinheiro suficiente.
—Achei que poderia. Não gastou seu dinheiro para gastos menores em anos.
Sempre o guardou naquele vaso de porcelana que Adam enviou por seu aniversário faz cinco anos.
—Seis.
Selena piscou.
—Seis o, que?
—Foi há seis anos.
—Faz cinco ou seis anos, qual é a diferença? —exclamou Selena, parecendo bastante exasperada pela exatidão de Demetria. — A questão é que tem dinheiro suficiente guardado, e se deseja sinceramente esse livro, deve comprálo para celebrar seu vigésimo aniversário. Nunca compra nada para você mesma.
Demetria virou para a tentação que a chamava na janela. O livro tinha sido colocado em um pedestal e estava aberto em uma página do centro. Com brilhantes cores uma ilustração retratava Arthur e Guinevere.
—Deve ser caro — disse ela infeliz.
Selena lhe deu um pequeno empurrão e disse:
—Nunca saberá se não entrar e perguntas.
—Tem razão. Farei! — Demetria lhe brindou um sorriso que oscilava entre o entusiasmo e o nervosismo, logo se dirigiu à loja. A confortável livraria estava decorada em tons ricos e masculinos, abarrotada com cadeiras de couro colocadas em lugares estratégicos para aqueles que possivelmente quisessem sentar e folhear um volume.
—Não vejo o proprietário — cochichou Selena na orelha de Demetria.
—Justo ali. —Demetria fez gestos com a cabeça para um homem magro e parcialmente calvo próximo à idade de seus pais. — Olhe, está ajudando aquele homem a encontrar um livro. Esperarei até que esteja desocupado. Não desejo incomodar.
As duas damas esperaram pacientemente durante uns poucos minutos enquanto o livreiro estava ocupado. De vez em quando, dirigialhes um olhar carrancudo, que desconcertou muito Demetria, tanto ela como Selena se vestiam apropriadamente e obviamente podiam permitir comprar a maior parte da mercadoria. Finalmente, ele terminou sua tarefa e se dirigiu apressadamente para elas.
—Perguntavame, senhor... — começou a dizer Demetria.
—Esta é uma livraria para cavalheiros — disse ele com voz hostil.
—Ah. —Demetria retrocedeu um pouco intimidada pela atitude. Mas como desejava desesperadamente o livro do Malory, engoliu seu orgulho, sorriu docemente, e continuou. — Desculpeme. Não me dei conta disto. Mas esperava que...
—Já disse que esta é uma loja de cavalheiros. —Os pequenos e brilhosos olhos se estreitaram. — Rogo que parta.
Rogar? Ela o olhou fixamente, os lábios abertos com assombro. Rogar? Com esse tipo de tom?
—Vamos, Demetria — disse Selena, agarrando pela manga. — Devemos ir.
Demetria apertou os dentes e não se moveu.
—Queria comprar um livro.
—Estou seguro que assim é — disse o livreiro. — E a livraria para damas fica tão somente um quarto de milha.
—A livraria para damas não tem o que desejo.
Ele sorriu zombeteiramente.
—Então estou seguro que você não deveria lêlo.
—Não acredito que esteja em posição de emitir esse julgamento, senhor — disse Demetria friamente.
—Demetria — murmurou Selena, com olhos abertos.
—Só um momento — respondeu ela, sem afastar os olhos do pequeno e repulsivo homem. — Senhor pode assegurar que possuo amplos recursos. E se você só me permitisse revisar A Morte D'Arthur, talvez possa persuadilo a separarse deste.
Ele cruzou os braços.
—Não vendo livros a mulheres.
Na verdade, isso tinha chegado muito longe.
—Desculpe?
—Vá embora — grunhiu, — ou terei necessariamente que expulsálas.
—Isso seria um engano, senhor — contradisse Demetria bruscamente. — Sabe quem somos nós? —Não lhe era habitual aproveitar seu nível superior, mas não se opunha a fazêlo se a ocasião pedisse.
O livreiro não estava impressionado.
—Certamente eu não me importo.
—Demetria — suplicou Selena, extremamente incômoda.
—Sou a Senhorita Demetria Cheever, filha do Sir Rupert Cheever, e esta — disse Demetria com um floreio, — é Lady Selena Bevelstoke, filha do Conde de Rudland. Sugiro que volte a considerar sua política.
Ele igualou seu altivo olhar.
—Não me interessa se você for à maldita Princesa Carlota. Saia de minha loja.
Demetria semicerrou os olhos antes de moverse para sair. Era o suficiente mau que ele a tivesse insultado. Mas tamanha afronta à memória da princesa, estava além dos limites.
—Você não escutou o final desta conversa, senhor.
—Fora!
Ela tomou o braço de Selena e deixou o local em um arranque de fúria, fazendo que a porta desse um bom golpe.
—Pode acreditar? — disse uma vez que estavam seguras do lado de fora. Isso foi horroroso. Criminal. Foi...
—Uma livraria para cavalheiros — interrompeu Selena, olhandoa como se de repente tivesse brotado uma cabeça a mais.
—E?
Selena se esticou ante seu tom quase agressivo.
—Há livrarias para cavalheiros e livrarias para damas. É a maneira habitual.
Demetria fechou com força os punhos.
—É uma maldita e estúpida maneira, se me perguntar isso.
—Demetria! —ofegou Selena de forma audível. — O que acaba de dizer?
Demetria teve a graça de ruborizar ante sua linguagem vulgar.
—Observa quanto fez para me transtornar? Jamais antes me ouviu amaldiçoar em voz alta.
—Não, e não estou segura de querer saber quantas maldições tem em mente.
—É absurdo — fumegou Demetria. — Absolutamente absurdo. Ele tem algo que desejo comprar, e eu tenho o dinheiro para pagar por isso. Deveria ter sido um assunto simples.
Selena olhou furtivamente ao caminho.
—Por que simplesmente não vamos à livraria para damas?
—Não há nada que desejaria em circunstâncias mais ou menos normais.
—Preferiria não frequentar essa espantosa loja para homens. Mas duvido que tenham uma cópia similar de A Morte D'Arthur, Livvy. Estou segura que é um artigo singular. E o pior... —Demetria elevou a voz quando a injustiça de tudo aquilo a embargou mais firmemente. — E o pior...
—Há algo pior?
Demetria a fulminou com um olhar cheio de irritação, mas, entretanto, respondeu:
—Sim. Há. O pior é que se inclusive houvesse duas cópias, o que estou segura não há, a livraria para damas provavelmente não teria uma, de todos os modos, porque ninguém pensaria que uma dama desejaria um livro semelhante!
—Não o fariam?
—Não. Provavelmente esteja repleta de Byron e novelas da senhora Radcliffe.
—Eu gosto de Byron e as novelas da senhora Radcliffe — disse Selena, soando vagamente ofendida.
—Eu também — assegurou Demetria, — mas também desfruto de outro tipo de literatura. E com segurança não acredito que esse homem esteja em posição — assinalou enojadamente com um dedo para a vitrine da livraria — de decidir o que posso ou não posso ler.
Selena a olhou fixamente por um momento, então cortesmente perguntou:
—Desejao muito?
Demetria alisou suas saias e sorveu pelo nariz.
—Muito.
Selena virou para a livraria, e logo lhe dirigiu um olhar de lastima sobre o ombro antes de colocar uma mão consoladora no braço de Demetria.
—Conseguiremos que papai o compre para você. Ou Adam.
—Essa não é a questão. Não acredito que compreenda quanto isto me afeta.
Selena suspirou.
—Quando se converteu em uma guerreira, Demetria? Achava que era eu a desinibida do dueto.
A mandíbula de Demetria começou a doer de tanto apertála.
—Suponho — quase grunhiu — que nunca desejei tanto algo antes deste contratempo.
A cabeça de Selena foi levemente para trás.
—Me lembre de tomar precauções para evitar alterála no futuro.
—Conseguirei esse livro.
—Excelente, faremos que...
—E ele saberá que o obtive. —Demetria deu à livraria um último e agressivo olhar, logo deu longos passos para casa.
—É obvio que comprarei o livro para você, Demetria — disse Adam com condescendência.
Tinha desfrutado de uma tarde bastante tranquila, lendo o jornal e ponderando a vida como um cavalheiro sem compromissos, quando sua irmã entrou como uma explosão na sala, anunciando que Demetria necessitava desesperadamente um favor.
Tudo isto era muito entretido, realmente, especialmente o olhar mortal que Demetria tinha dado a Selena ao usar a palavra desesperada.
—Não quero que você o compre para mim — particularizou Demetria. — Quero que você o compre comigo.
Adam se recostou na cômoda cadeira.
—Há alguma uma diferença?
—Um mundo de diferença.
—Um mundo — confirmou Selena, só que ela sorria, e ele suspeitou que não visse nenhuma diferença.
Demetria lançou outro olhar encolerizado e desta vez Selena realmente retrocedeu e exclamou.
—O que? Estou te apoiando!
—Não acredita que é um equívoco — Demetria continuou ferozmente, retornando a sua diatribe e dirigindose a ele — que não possa fazer compras em certa loja simplesmente porque sou uma mulher?
Ele sorriu preguiçosamente.
—Demetria, há certos lugares onde as mulheres não podem ir.
—Não pretendo entrar em um de seus preciosos clubes. Somente desejo comprar um livro. Não há nada remotamente inapropriado nisso. É uma antiguidade, por Deus Santo.
—Demetria, se esse cavalheiro for o proprietário dessa loja, pode decidir a quem venderá e a quem não.
Ela cruzou os braços.
—Bem, talvez não devesse ser mimado. Possivelmente deveria existir uma lei que diga que os livreiros não podem impedir a entrada das mulheres em seus estabelecimentos.
Ele levantou uma irônica sobrancelha.
—Você não esteve lendo a essa Mary Wollstonecraft, ou sim?
—Mary quem? —perguntou Demetria com uma voz distraída.
—Bem.
—Não mude de assunto, por favor, Adam. Concorda ou não que devo comprar esse livro?
Adam suspirou bastante esgotado ante sua inesperada teimosia. E tudo por um livro.
—Demetria, por que deveriam lhe permitir a entrada em uma livraria de cavalheiros? Você nem sequer pode votar.
Sua explosão de indignação foi colossal.
—E isso é outro ponto...
Adam se deu conta rapidamente que tinha cometido um engano tático.
—Esqueça que mencionei o direito ao voto. Por favor. Irei com você comprar o livro.
—Irá? —Seus olhos se iluminaram com um suave brilho marrom. — Obrigada.
—Está bem na sextafeira? Não acredito ter nenhum compromisso nessa tarde.
—Ah, eu também quero ir — interrompeu Selena.
—Absolutamente não — disse Adam firmemente. — Uma de vocês é tudo o que posso dirigir. Meus nervos, já sabe.
—Seus nervos?
Deulhe um olhar.
—Vocês os põem a prova.
—Adam! —exclamou Selena. Ela virou para Demetria. — Demetria!
Mas Demetria ainda estava concentrada em Adam.
—Poderíamos ir agora? —perguntou ela, dando a impressão de não ter ouvido uma palavra de sua briga. — Não quero que esse livreiro se esqueça de mim.
—Julgando pelo relato de Selena de sua aventura — disse Adam ironicamente — duvido que isso aconteça.
—Mas, por favor, poderíamos ir hoje? Por favor. Por favor.
—Dáse conta de que está suplicando?
—Não me importa — disse ela imediatamente.
Ele refletiu sobre isso.
—Ocorre que poderia utilizar esta situação a meu favor.
Demetria o olhou entreabrindo os olhos.
—O que é o que quer dizer?
—Ah, não sei. A gente nunca sabe quando talvez necessite um favor.
—Já que não tenho nada que você possa desejar, o aconselho a esquecer de seus inócuos planos e simplesmente me acompanhar à livraria.
—Muito bem. Façamos.
Ele acreditou que ela talvez saltasse de felicidade. Deus bendito.
—Não fica longe — dizia ela. — Podemos ir andando.
—Está seguro de que não posso ir com vocês? —perguntou Selena, seguindoos ao vestíbulo.
—Fique — ordenou Adam benignamente quando observou que Demetria cruzava a porta. — Alguém precisará chamar a guarda quando não retornarmos.
Dez minutos depois, Demetria se detinha frente à livraria da qual tinha sido expulsa mais cedo nesse dia.
—Calma Demetria — escutou Adam murmurar a seu lado. — Parece um pouco atemorizante.
—Bem — respondeu ela sucintamente e deu um passo para frente.
Adam colocou uma mão tranquilizadora no braço dela.
—Me permita entrar antes de você — sugeriu com um brilho de diversão no olhar. — A mera visão de você pode ocasionar ao pobre homem uma apoplexia.
Demetria franziu o cenho, mas permitiu que ele passasse. Não havia maneira de que o livreiro ganhasse desta vez. Vinha acompanhada com um verdadeiro cavalheiro e uma sã dose de raiva. O livro era quase dela.
Uma campainha tilintou quando Adam entrou na loja. Demetria o seguia de perto, quase pisando seus calcanhares.
—Posso ajudar senhor? — perguntou o livreiro, todo com aduladora cortesia.
—Sim, estou interessado em... — Suas palavras se desvaneceram enquanto ela jogava um olhar pela loja.
—Esse livro — disse Demetria firmemente, assinalando para o mostrador na vitrine.
—Sim, esse. —Adam ofereceu ao livreiro um amável sorriso.
—Você! —balbuciou o livreiro, seu rosto ruborizou com a ira. — Fora! Saia de minha loja! —Agarrou o braço de Demetria e tratou de arrastála a porta.
—Pare! Disse para parar! —Demetria não permitiria ser maltratada por um homem que considerava um idiota, agarrou sua bolsa e o golpeou na cabeça.
Adam gemeu.
—Simmons! —gritou o livreiro, chamando o ajudante. — Chame a polícia. Esta senhorita é desequilibrada.
—Não sou desequilibrada, sua grande cabra!
Adam avaliou suas opções. Realmente, não podia haver um bom resultado.
—Sou um cliente que vai pagar — continuou Demetria acaloradamente. — E quero comprar A Morte D'Arthur!
—Morrerei antes que chegue a suas mãos, sua rameira mal educada!
Rameira? Isso era realmente muito para Demetria, uma senhorita cuja suscetibilidade era usualmente mais modesta que a dela possivelmente adotasse a sua atual conduta.
—Você vil... Vil homem — vaiou. Ela levantou sua bolsa outra vez.
Rameira? Adam suspirou. Era um insulto que realmente não podia deixar passar. Além disso, não podia permitir que Demetria atacasse o pobre homem. Agarrou a bolsa de sua mão. O fulminou com o olhar devido á interferência. Semicerrou os olhos e lhe deu um olhar de advertência.
Ele clareou a garganta e se virou para o livreiro.
—Senhor eu devo insistir em que se desculpe com a dama.
O livreiro cruzou os braços desafiadoramente.
Adam olhou Demetria. Seus braços estavam cruzados da mesma maneira.
Olhou para o homem mais velho e disse, um pouco mais fortemente:
—Se desculpará com a dama.
—Ela é uma ameaça — disse o livreiro amargamente.
—Porque você... —Demetria teria se jogado contra ele se Adam não tivesse agarrado rapidamente a parte traseira de seu vestido. O ancião apertou os punhos e assumiu uma postura ameaçadora que era bastante díspar com sua aparência livresca.
—Fique calada — vaiou Adam a ela, sentindo retalhos de fúria desatandose no peito.
O livreiro a fulminou com um olhar triunfante.
—Ah, isso foi um engano — disse Adam. Santo Deus, não tinha o homem sentido comum? Demetria se equilibrou para frente, o que significou que Adam tinha que sustentar o vestido ainda mais firmemente. O que fez que o livreiro assumisse um sorriso mais afetado o que significava essa merda de farsa daria voltas em espiral até converterse em um furacão a grande escala se Adam não solucionasse o assunto imediatamente.
Brindou o livreiro seu mais frio e mais aristocrático olhar.
— Se desculpará com a dama, ou farei que se arrependa muito, de verdade.
Mas o livreiro era claramente um idiota delirante, porque não aceitou a oferta que Adam lhe dava, em sua estimativa, muito generosamente. Em vez disso, jogou para frente à mandíbula agressivamente e anunciou:
—Não tenho nada do que me desculpar. Essa mulher veio a minha loja...
—Ah, demônios — murmurou Adam. Agora não havia forma de evitar a desgraça.
—... Perturbou a meus clientes, insultoume...
Adam apertou a mão em um punho e a dirigiu diretamente ao nariz do livreiro.
—Ah, Deus Bendito — suspirou Demetria. — Acredito que quebrou o nariz dele.
Adam a fulminou com um olhar mordaz antes de baixar o olhar para o livreiro no chão.
—Acredito que não. Não sangra o suficiente.
—É uma pena — murmurou Demetria.
Adam a agarrou pelo braço e a arrastou para ele. A sanguinária e pequena donzela ia conseguir que a matasse.
—Nenhuma outra palavra até que saiamos daqui.
Os olhos de Demetria se alargaram, mas fechou sabiamente a boca e lhe permitiu tirála da loja. Quando passaram pela vitrine, entretanto, ela vislumbrou A Morte D'Arthur e exclamou:
—Meu livro!
Isso foi o cúmulo. Adam se deteve intempestivamente.
—Não quero ouvir outra palavra a respeito de seu condenado livro, você me ouviu?
A boca de Demetria se abriu.
—Entende o que acaba de acontecer? Bati em um homem.
—Mas, por acaso não concorda que ele necessitava que o golpeassem?
—Não tanto como você necessita que a estrangulem!
Ela retrocedeu claramente ofendida.
—Ao contrário do que for que você pensa de mim — exclamou ele, — não passo meus dias refletindo sobre quando e onde aplacarei minha agressividade.
—Mas...
—Mas nada, Demetria. Você insultou o homem...
—Ele me insultou!
—Estava solucionando o assunto — disse entre dentes. — Por isso me trouxe aqui, para solucionar tudo. Não é assim?
Demetria franziu o cenho e moveu o queixo com um brusco e resistente movimento.
—Que demônios, o problema era com você? Que se esse homem tivesse tido menos restrição? Que se...
—Pensou que mostrava restrição? —perguntou ela, atônita.
—Ao menos tanto como você teve! —Agarroua pelos ombros e quase a começou a sacudir. — Bendito Deus, Demetria, dáse conta de que há muitos homens que não piscariam antes de golpear uma mulher? Ou algo pior — adicionouo de maneira significativa.
Esperou sua resposta, mas ela o olhava fixamente, seus olhos imensos e impassíveis. E teve o maior pressentimento de que via algo que ele não via. Algo nele.
—Perdão, Adam — disse ela então.
—Devido ao que? —perguntou ele menos que amavelmente. — Por fazer uma cena em meio de uma tranquila livraria? Por não se calar quando devia fazêlo?
— Por... Por transtornálo — disse baixinho. — Sinto muito. Não está bem o que fiz.
Suas suaves palavras cortaram limpamente sua irritação, e ele suspirou.
—Simplesmente não faça outra vez, promete?
—Prometo.
—Bem. —deuse conta de que ainda a sustentava pelos ombros e afrouxou o aperto. Então se deu conta de que gostou do toque dos ombros dela. Surpreso, soltou de uma vez.
Ela inclinou a cabeça a um lado quando uma expressão preocupada cruzou seu rosto.
—Pelo menos acredito que prometo. Na verdade tratarei de não fazer nada que o altere como nesta ocasião.
Adam teve uma repentina visão de Demetria tentando não transtornálo. A visão o contrariou.
—O que aconteceu? Dependemos de sua sensatez. Só Deus sabe que salvou Selena mais de uma vez de um problema.
Ela apertou fortemente os lábios, e logo disse:
—Não confunda sensatez com mansidão, Adam. Não é a mesma coisa. E com certeza não sou submissa.
Notou que ela não era desafiante, simplesmente indicava um fato, um que suspeitou sua família havia inadvertido por anos.
—Não se preocupe — disse com cansaço — se alguma vez tive a noção que você era submissa, tenha a segurança de que me desenganou disso esta tarde.
Mas que Deus o ajudasse, ela não estava convencida.
—Se vir algo que é obviamente uma injustiça — disse seriamente — não posso me sentar e não fazer nada.
Ia matálo. Estava seguro disso.
—Só tente afastarse do obviamente errado. Poderia fazêlo por mim?
—Mas não acredito que isto seja algo particularmente errado. E fiz...
Ele elevou a mão.
—Nada mais. Nem outra palavra sobre o assunto. Tirará dez anos de vida falar sobre isto. – Pegoua pelo braço e se dirigiu para casa.
Querido Deus, o que estava errado nele? Seu pulso ainda estava acelerado, e ela nem sequer esteve em perigo. Não realmente. Duvidava que o livreiro pudesse dar um bom soco. E, além disso, por que diabo estava tão preocupado com Demetria? É obvio que se interessava por seu bemestar. Era como uma irmã pequena para ele.
Mas então tratou de imaginar Selena no lugar dela. Tudo o que podia sentir era uma aprazível diversão. Algo estava muito errado se Demetria podia deixálo furioso assim.


taengsic

Um comentário:

  1. Adorei. Momento Demi feminista kkkk
    Quero mais, posta mais um , faz maratona

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