Joseph
Bevelstoke, mais conhecido como Adam por todo aquele que se preocupava em
tentar agradá‐lo, sabia muitas coisas. Sabia ler latim e grego, e sabia como
seduzir uma mulher em francês e italiano. Sabia atirar em um objetivo em movimento
do alto de um cavalo em movimento, e sabia exatamente quanto podia beber antes
de perder a dignidade.
Podia
dar um soco ou defender‐se como um perito, e podia fazer ambos enquanto recitava
Shakespeare ou Donne.
Resumindo,
sabia tudo o que um cavalheiro tinha que saber, e, conforme se dizia,
sobressaía‐se em todas as áreas.
As
pessoas o olhavam.
As
pessoas elevavam os olhos para observá‐lo.
Mas
nada nem um segundo de sua proeminente e privilegiada vida o preparou para
aquele momento. E nunca sentiu tanto o peso de um olhar como agora, enquanto dava
um passo à frente e jogava um pouco de terra sobre o caixão de sua esposa.
Sinto
tanto, seguia dizendo as pessoas. Sinto muito. Sentimos muito.
E
enquanto isso, Adam não podia evitar pensar se Deus o castigaria, porque tudo
no que podia pensar era: Eu não.
Ah, Camille.
Tinha tanto que agradecer a ela. Vejamos. Por onde começar? É obvio, estava a
perda de sua reputação. Só o demônio sabia quantas pessoas eram conscientes de
que lhe pôs chifres. Várias vezes. Em seguida estava a perda de sua inocência.
Era difícil recordar nesse momento, mas uma vez tinha dado à humanidade o
benefício da dúvida. Em geral, acreditou no melhor das pessoas, que se
tratassem os outros com honra e respeito, eles fariam o mesmo com relação a
ele.
E
logo havia a perda de sua alma.
Porque
enquanto retrocedia, juntando as mãos rigidamente atrás dele enquanto escutava
o sacerdote enviar o corpo de Camille ao chão, não podia escapar do fato de que
desejou aquilo. Quis livrar‐se dela.
E
não choraria sua morte.
—É
uma pena — sussurrou alguém a suas costas.
A
mandíbula de Adam se contraiu. Aquilo não era uma pena. Era uma farsa. E agora
passaria o próximo ano vestindo‐se de preto por uma mulher que chegou a ele levando o filho de
outro homem. Tinha enfeitiçado‐o, atormentado até que não pode pensar em outra coisa que não
fosse possuí‐la. Disse que o queria, e sorriu com suave inocência e deleite
quando ele declarou sua devoção e prometeu sua alma.
Ela
tinha sido seu sonho.
E
mais tarde seu pesadelo.
Perdeu
o bebê, que apressou o matrimônio. O pai era um conde italiano, ou ao menos era
o que Camille dizia. Estava casado, ou eram pouco convenientes ou talvez ambas
as coisas. Adam esteve preparado para perdoá‐la; todos cometiam erros, e
não quis ele também seduzi‐la antes da noite de núpcias?
Mas Camille
não quis seu amor. Não sabia que demônio queria, poder, talvez, a embriagadora
sensação de satisfação quando outro homem caía sob seu feitiço.
Adam
se perguntava se Camille havia sentido isso quando ele sucumbiu. Ou talvez
tenha sido simplesmente alívio. Estava grávida de três meses quando se casaram.
Não tinha tempo que perder.
E
agora aqui estava ela. Ou bem, ali estava ela. Adam não estava muito seguro de
que pronome de lugar era mais adequado para um corpo sem vida.
O
que fosse. Só lamentava que ela passasse a eternidade em seu solo, descansando
entre os Bevelstoke passados. Sua lápide levaria o nome dele, e em umas centenas
de anos, alguém olharia a gravura no granito e pensaria que foi uma boa mulher,
e que era uma tragédia que tivesse morrido tão jovem.
Adam
elevou a vista para o sacerdote. Era um tipo jovem, novo na paróquia e pelo que
se dizia ainda convencido de que poderia fazer do mundo um lugar melhor.
—Cinzas
as cinzas — disse o sacerdote, e elevou os olhos para o homem que se supunha
ser o aflito viúvo.
OH
sim, pensou Adam mordaz, esse seria eu.
—Pó
ao pó.
Atrás
dele até alguém sorveu com ruído.
E o
sacerdote, seus brilhantes olhos azuis com aquele horrível e imerecido brilho
de simpatia, seguiu falando:
—Confiando
na ressurreição...
Bom
Deus.
—Á
vida eterna.
O
sacerdote olhou Adam e de fato estremeceu. Adam se perguntou o que era exatamente
o que viu em seu rosto. Nada bom isso estava claro.
Houve
um coro de améns, e nesse momento terminou o serviço. Todos olharam o
sacerdote, e olharam Adam e em seguida todos observaram o sacerdote segurar as
mãos de Adam nas suas e dizer:
—Sentimos
muito.
—Eu
—disse Adam entre os dentes apertados — não.
Não
posso acreditar que disse isso.
****
Demetria
baixou a vista às palavras que acaba de escrever. Naquele momento, estava na
página quarenta e dois de seu décimo terceiro diário, mas aquela era a primeira
vez, a primeira desde aquele fatídico dia, nove anos antes, que não tinha nem ideia
do que escrever. Inclusive quando os dias eram aborrecidos, e estavam acostumados
a ser, conseguia escrever apressadamente uma anotação.
Em
Maio, quando tinha quatorze anos...
Despertei.
Vesti‐me.
Tomei
o café da manhã: torradas, ovos, bacon.
Li Razão
e sensibilidade, autor, dama desconhecida.
Escondi
Razão e sensibilidade do meu pai.
Comi:
frango, pão, queijo.
Conjuguei
verbos franceses.
Escrevi
uma carta à vovó.
Jantei:
bife, sopa, pudim.
Li
mais de Razão e sensibilidade, a identidade da autora ainda
desconhecida.
Retirei‐me.
Dormi.
Sonhei
com ele.
Este
não devia confundir‐se com a anotação de 12 de Novembro do mesmo ano...
Despertei.
Tomei
o café da manhã: ovos, torradas, presunto.
Fiz
um grande alarde de leitura da tragédia grega. Em vão.
Passei
a maior parte do tempo olhando pela janela.
Almocei:
peixe, pão, ervilhas.
Conjuguei
os verbos em Latim.
Escrevi
uma carta à vovó.
Jantei:
assado, batatas, pudim.
Levei
a tragédia à mesa (o livro, não o evento)
Papai
não se deu conta.
Retirei‐me.
Dormi.
Sonhei
com ele.
Mas
agora, agora que algo enorme e transcendental ocorreu, o que nunca havia
acontecido, não tinha nada a dizer, exceto...
Não
posso acreditar que disse isso.
—Bem,
Demetria — murmurou, observando a tinta seca na ponta da pluma — não será
famosa como novelista.
—O
que disse?
Demetria
fechou de repente o diário. Não se deu conta de que Selena havia entrado no
quarto.
—Nada
— disse com rapidez.
Selena
caminhou pelo tapete e se deixou cair sobre a cama.
—Que
dia tão horrível.
Demetria
assentiu, girando no assento para poder estar de cara com a amiga.
—Alegra‐me
que esteja aqui — disse Selena com um suspiro. — Obrigada por ficar o resto da
noite.
—É
obvio — replicou Demetria.
Não
houve perguntas, não quando Selena disse que precisava dela.
—O
que escreve?
Demetria
olhou o diário, só para dar‐se conta de que suas mãos descansavam protetoras sobre ele.
—Nada
— disse.
Selena
tinha estado com os olhos fixos no teto, mas ante isso moveu a cabeça em
direção a Demetria.
—Isso
não pode ser verdade.
—Tristemente,
é.
—Por
que é triste?
Demetria
piscou. Selena estava acostumada fazer as perguntas mais óbvias, e as que
tinham respostas menos óbvias.
—Bom
— disse Demetria, não precisamente para ganhar tempo, já que na realidade, era
mais porque estava tentando pensar enquanto o fazia. Moveu as mãos e olhou o
diário como se a resposta correta estivesse magicamente inscrita na capa.
—Isto
é tudo o que tenho. É o que sou.
Selena
a olhou duvidosa.
—É
um livro.
—É
minha vida.
—Por
que será —opinou Selena— que as pessoas me chamam de dramática?
—Não
digo que seja minha vida — disse Demetria com um tom de impaciência,
— só
que a contém. Tudo. Tenho escrito tudo. Desde que tinha dez anos.
—Tudo?
Demetria
pensou nos muitos dias em que registrou obedientemente o que comeu e pouco
mais.
—Tudo.
—Eu
nunca poderia ter um diário.
—Não.
Selena
virou e ficou de lado, escorando a cabeça com uma mão.
—Não
tem por que estar de acordo comigo com tanta rapidez.
Demetria
simplesmente sorriu.
Selena
se deixou cair para trás.
—Creio
que vai escrever que tenho um curto lapso de atenção.
—Já
escrevi.
Silêncio,
então:
—Sério?
—Acredito
que disse que se aborrecia com facilidade.
—Bom
— replicou sua amiga, com um único momento de reflexão — é bastante certo.
Demetria
voltou a baixar o olhar à escrivaninha. A vela derramava brilhos de luz sobre o
secante, e se sentiu repentinamente cansada. Cansada, mas felizmente, não sonolenta.
Esgotada,
talvez. Intranquila.
—Estou
exausta — declarou Selena, deslizando para fora da cama.
A
criada havia deixado a roupa de dormir sobre as mantas e Demetria virou cabeça respeitosamente
enquanto Selena se trocava.
—Quanto
tempo acha que Adam ficará aqui? —perguntou Demetria, tentando não morder a
língua. Odiava ficar ainda tão desesperada por vê‐lo embora fosse fugazmente,
mas assim foi durante anos. Inclusive quando ele se casou e ela se sentou em um
banco da igreja durante o casamento e o observou, quer dizer, o viu olhar a noiva
com todo o amor e a devoção que ardiam em seu próprio coração...
Ainda
o olhava. Ainda o queria. Sempre o faria. Era o homem que a fez acreditar em si
mesma. Ele não tinha nem ideia do que lhe fez — o que fez por ela— e provavelmente
não saberia nunca. Mas Demetria ainda suspirava por ele. E provavelmente
suspiraria sempre.
Selena
engatinhou para cama.
—Ficará
acordada por muito tempo? —perguntou, a voz pesada pelo inicio do torpor.
—Não
muito. —Assegurou Demetria.
Selena
não podia dormir com uma vela acesa tão perto.
Demetria
não podia entender, já que o fogo da lareira não parecia incomodá‐la, mas
viu Selena se mexer e virar com seus próprios olhos, e por isso, quando se deu conta
de que sua mente estava ainda funcionando e que "não muito" tinha
sido um pouco mentiroso. Inclinou‐se para frente e soprou a
vela.
—Levarei
isto a outro lugar — disse Demetria, colocando o diário sob o braço.
—Obrigada
— murmurou Selena, e no momento em que Demetria lhe pôs uma coberta e chegou ao
corredor, já estava dormindo.
Demetria
segurou o diário sob o queixo e o encaixou contra o esterno para liberar as
mãos e poder amarrar o roupão à cintura. Era uma convidada noturna frequente em
Haverbreaks, mas ainda assim, não era questão de vagar pelos corredores da casa
de outra pessoa com nada mais que uma camisola.
Era
uma noite escura, como única guia tinha a luz da lua que se filtrava através das
janelas, mas Demetria poderia ter feito o caminho do quarto de Selena até a biblioteca
com os olhos fechados. Selena sempre dormia antes que ela — tinha muitos pensamentos
na cabeça, dizia Selena— e por isso Demetria estava acostumada a levar o diário
a outro aposento para guardar seus pensamentos. Supunha que poderia ter pedido
um quarto para ela, mas a mãe de Selena não acreditava em extravagâncias desnecessárias
e não via razão para esquentar dois quartos quando com um era suficiente.
Demetria
não se importava. De fato, agradecia a companhia. Sua própria casa estava muito
silenciosa aqueles dias. Sua querida mãe tinha morrido fazia quase um ano e Demetria
ficou sozinha com o pai. Devido à dor, seu pai se trancou com os preciosos
manuscritos, deixando que a filha se arrumasse por conta própria. Demetria foi
aos Bevelstoke em busca de amor e amizade, e eles a acolheram com os braços abertos.
Selena inclusive se vestiu de negro durante três semanas em honra à Lady Cheever.
—Se
uma de minhas primas morresse me veria obrigada a fazer o mesmo — disse Selena
no funeral— E de verdade, gostava da sua mãe muito mais que a qualquer de
minhas primas.
—Selena!
—Demetria estava comovida, mas ainda assim, pensou que deveria estar
surpreendida.
Selena
revirou os olhos.
—Conheceu
minhas primas?
E Demetria
riu. No funeral de sua própria mãe, riu. Mais tarde se deu conta de que era o
presente mais precioso que sua amiga poderia ter lhe devotado.
—Amo
você, Livvy — disse.
Selena
segurou a mão dela.
—Sei
que sim — disse brandamente. — E eu a você. – Em seguida ajeitou os ombros e
assumido sua postura usual. — Seria bastante incorrigível sem você, sabe?
Minha
mãe costuma‐me dizer que é a única razão pela qual não cometi alguma ofensa irredimível.
Era
provavelmente por essa razão, refletiu Demetria, que Lady Rudland se ofereceu
para ser sua madrinha durante a temporada em Londres. Ao receber o convite, seu
pai suspirou com alívio e adiantou com rapidez os recursos necessários. Sir Rupert
Cheever não era um homem excepcionalmente rico, mas possuía o suficiente para
cobrir uma temporada em Londres para sua única filha. O que não possuía era a paciência
necessária — ou para ser franca, o interesse — para levá‐la
ele mesmo.
A
estreia de Demetria e Selena se atrasou um ano. Demetria não pôde ir durante o período
de luto de sua mãe, e Lady Rudland decidiu permitir a Selena esperar também.
Com
vinte anos o fariam tão bem como com dezenove, declarou. E era verdade; ninguém
estava preocupado se Selena conseguiria um grande partido. Com sua incrível
beleza, vivaz personalidade, e, como Selena assinalava ironicamente, o enorme
dote, estavam seguros de que teria êxito.
Mas
a morte da Camille, além de ter sido trágica, foi particularmente inoportuna;
agora teriam que guardar outro período de luto. Entretanto, a Selena bastaria
apenas seis semanas, já que Camille não era irmã de sangue.
Chegariam
só um pouco tarde para a temporada. Não podia evitar.
Secretamente,
Demetria estava contente. Pensar em um baile em Londres a atemorizava
completamente. Não porque fosse tímida precisamente, porque não achava que
fosse. Era só que não gostava de grandes multidões e pensar em tantas pessoas
olhando‐a e julgando‐a horrível.
Não
se pode evitar, pensou enquanto descia as escadas. E em todo caso, seria ainda
pior ficar presa em Ambleside, sem Selena como companhia.
Demetria
fez uma pausa ao pé das escadas, decidindo aonde ir. O salão ao oeste tinha a
melhor escrivaninha, mas a biblioteca tendia a estar quente e fazia um pouco de
frio aquela noite. Por outro lado...
—
Hmmm... O que foi isso?
Inclinou‐se
para um lado, esquadrinhando o salão. Alguém estava com o fogo aceso no estúdio
de Lorde Rudland. Demetria não podia imaginar que alguém estivesse ainda
levantado e por aí, os Bevelstoke sempre se retiravam cedo.
Moveu‐se
em silencio pelo tapete do corredor até que chegou à porta.
—OH!
Adam
elevou a vista da cadeira do pai.
—Senhorita
Demetria — disse alargando as palavras, sem reajustar nem um músculo de sua
preguiçosa postura. — Quelle surprise.
Adam
não estava seguro de por que não estava surpreso de ver a senhorita Demetria Cheever
de pé na entrada do estúdio de seu pai. Quando ouviu os passos no vestíbulo, de
algum jeito soube que era ela. É verdade que sua família tinha tendência a
dormir como troncos, e era quase inconcebível que um deles pudesse estar
acordado e por aí, perambulando pelos corredores em busca de um aperitivo ou um
pouco de leitura.
Mas
foi algo mais que o processo de eliminação o que o conduziu até Demetria como a
escolha óbvia. Ela era uma observadora, sempre ali, sempre observando a cena com
aqueles olhos de coruja. Não podia recordar quando a viu pela primeira vez, provavelmente
antes que a mocinha deixasse de usar laços. Na realidade era um elemento fixo,
de alguma forma sempre ali, inclusive em momentos como esse, que deveria ter
sido só familiar.
—Irei
— disse ela.
—Não
— respondeu ele, por que... Por quê?
Porque
se sentia como se estivesse fazendo uma travessura?
Porque
tinha bebido muito?
Porque
não queria ficar sozinho?
—Fique
— disse, fazendo amplos gestos com a mão. Certamente havia algum lugar mais
onde sentar‐se ali. — Tome algo.
Ela
arregalou os olhos.
—Não
acredito que pudessem ficar maiores — murmurou ele.
—Não
posso beber — disse ela.
—Não?
—Não
deveria — corrigiu‐se, e ele acreditou ver como juntava as sobrancelhas.
Deus,
a irritou. Era bom saber que ainda podia provocar uma mulher, inclusive uma
ignorante como ela.
—Está
aqui — disse ele com um encolhimento de ombros. — Bem poderia tomar um brandy.
Ficou
quieta por um momento, e ele pôde jurar que podia ouvir como lhe dava voltas o
cérebro. Finalmente, deixou o pequeno livro em uma mesa perto da porta e se adiantou.
—Só
um — disse.
Ele
sorriu.
—Porque
conhece seu limite?
Os
olhos de ambos se encontraram.
—Porque
não conheço meu limite.
—Que
sabedoria em alguém tão jovem — murmurou ele.
—Tenho
dezenove — disse ela, não desafiante, mas sim como estabelecendo um fato.
Ele
elevou uma sobrancelha.
—Como
dizia...
—Quando
você tinha dezenove...
Sorriu
sarcástico, notando que ela não tinha terminado a frase.
—Quando
eu tinha dezenove — repetiu por ela, estendendo uma generosa porção de brandy —
era um idiota.
Olhou
o próprio copo, igual em volume que o de Demetria. Apurou‐o em
um longo e satisfatório gole.
O
copo aterrissou sobre a mesa com um som surdo e Adam se reclinou para trás,
deixando descansar a cabeça contra as palmas de suas mãos, os cotovelos dobrados
para fora.
—Como
todas as crianças de dezenove anos, deveria acrescentar — terminou.
Olhou‐a.
Ela não havia nem tocado na bebida. Nem sequer havia se sentado ainda.
—A
presente companhia talvez pudesse ser excluída — emendou.
—Achava
que o brandy deveria ser servido em copos para conhaque — disse ela.
Ele
a observou enquanto se sentava cuidadosamente. Não estava perto dele, mas
tampouco estava na outra ponta. Seus olhos nunca deixavam os dele e não pôde evitar
perguntar‐se o que pensava que poderia fazer a ela. Equilibrar‐se
sobre ela?
—O
brandy — anunciou como se estivesse falando com um público de mais de uma
pessoa— é mais bem servido no que se tem à mão. Neste caso... — Elevou o copo e
o olhou, observando como a luz da lareira dançava em sua superfície.
Não
se incomodou em terminar a frase. Não parecia necessário, e, além disso, estava
ocupado servindo‐se de outro gole.
—Saúde.
—E bebeu.
Olhou‐a.
Ainda estava sentada ali, observando‐o. Não podia dizer se o desaprovava;
sua expressão era muito inescrutável para isso. Mas desejou que dissesse algo.
Qualquer coisa, na realidade, inclusive mais tolices sobre taças, seria suficiente
para tirar sua mente do fato de que ainda eram onze e meia e de que restavam
trinta minutos para que pudesse declarar terminado aquele miserável dia.
—Assim
me diga Senhorita Demetria, desfrutou do serviço? —perguntou, desafiando‐a
com o olhar a que dissesse algo além do que costumava a dizer em situações
assim.
A
surpresa se registrou no rosto dela, a primeira emoção da noite que Adam era
claramente capaz de discernir.
—Refere‐se
ao funeral?
—O
único serviço do dia — disse ele, com considerável desenvoltura.
—Foi...
Er... Interessante.
—OH,
vamos, Senhorita Cheever, pode fazê‐lo melhor.
Ela
capturou o lábio inferior entre os dentes. Camille costumava fazer aquilo, o recordou.
Quando ainda pretendia ser inocente. Deixou de fazer quando o anel ficou a salvo
em seu dedo.
Bebeu
outro gole.
—Não
acred...?
—Não
— disse ele energicamente.
Não
havia suficiente brandy no mundo para uma noite como aquela.
E
nesse momento elevou a mão, pegou o copo e tomou um gole.
—Acredito
que foi esplêndido.
Maldita
fosse. Tossiu e balbuciou, como se fosse ele o inocente, tomando seu primeiro gole
de vinho.
—Perdão?
Ela
sorriu placidamente.
—Pode
ser que ajude se tomar goles menores.
Fulminou‐a
com o olhar.
—É
estranho que alguém fale honestamente de um morto — disse ela. — Não estou
segura de que seria o lugar mais apropriado, mas... Bom... Não era uma pessoa muito
agradável, não é verdade?
Parecia
tão serena, tão inocente, mas seus olhos... Eram perspicazes.
—Ora,
Senhorita Cheever — murmurou ele. — Acredito que na realidade sim tenha uma
veia vingativa.
Deu
um encolher de ombros e tomou outro gole de sua bebida, um pequeno, o notou.
—Que
nada — disse, embora ele estivesse seguro de que acreditava. — Mas sou uma boa
observadora.
Ele
riu entre dentes.
—Totalmente
de acordo.
Ficou
rígida.
—Desculpe?
Tinha
alterado‐a. Não sabia por que achou tão satisfatório, mas não pôde evitar sentir
prazer com isso. Passou muito tempo desde que não fazia nada que lhe desse prazer.
Inclinou‐se para frente, só para ver se podia envergonhá‐la.
—Estive
observando‐a.
Ela
empalideceu. Ele pôde ver inclusive à luz da lareira.
—Sabe
o que vi? —murmurou ele.
Os
lábios dela se entreabriram e negou com a cabeça.
—Você
esteve me observando.
Ela
se levantou o repentino do movimento quase jogou a cadeira ao chão.
—Devo
ir — disse. — Isto é totalmente pouco ortodoxo e está tarde, e...
—OH,
venha, Senhorita Cheever — disse ele, ficando em pé. — Não se preocupe. Você
observa todo mundo. Acha que não me dei conta?
Alargou
a mão e a segurou pelo braço. Ela paralisou. Mas não virou.
Os
dedos dele apertaram mais. Só um toque. Só o suficiente para evitar que se fosse,
porque não queria que o fizesse. Não queria ficar sozinho. Restavam vinte minutos
mais, e queria que ela se zangasse como ele estava zangado, como esteve durante
anos.
—Me
diga, Senhorita Cheever — sussurrou, colocando dois dedos na parte inferior do
queixo dela. — Alguma vez a beijaram?
MAS GENTEEEEEEE ESSE ADAM É ATIRADO HEIN... ou sera que é a dor pela recente morte? nao seiiii
bjemi
Wow adorei o capítulo
ResponderExcluirEle vai beija-la????
POSTA LOGO PLEASE
Ui essa história já começou intensa , posta logo!!!!
ResponderExcluir