Demetria
sonhava com Joseph. Eles estavam em um pequeno barco, que deslizava por um lago
plácido, e Joseph recitava poemas para ela. Ao contrário do poema lido por Prudhomme,
esse era lindo, falava de paixões infindas e de amor eterno. Parando de recitar
de repente, ele a fitou e estranhamente começou a chamá-la:
—
Demetria? Cadê você? Ai! Droga! Demetria?
O
chamado parecia tão verdadeiro que ela acordou sobressaltada. Piscando os
olhos, franziu a testa ao dar-se conta de que continuava ouvindo a voz de
Joseph, apesar de não estar mais sonhando.
—
Demetria? Diga alguma coisa. Não enxergo nada nessa escuridão...
—
Joseph? — murmurou ela, sonolenta.
—
Demetria? — A voz dele não passava de um sussurro, vindo de algum ponto próximo
ao pé de sua cama.
Já
desperta, embora ainda confusa, Demetria sacudiu a cabeça. Só poderia ser sonho.
Como era possível Joseph estar em seu quarto àquela hora da noite?
—
Ai.
Deus
do céu, não é que ele estava mesmo! Demetria rapidamente sentou-se na cama.
—
Joseph?
—
Sim, sou eu, mas não enxergo nada. Continue falando para que eu siga sua voz.
Ai! Que droga, por que tanto móvel no meio do quarto?
A
cama sacudiu um pouco quando Joseph se chocou contra ela, e Demetria, forçando
os olhos na escuridão, sussurrou incrédula:
—
O que você está fazendo aqui?
—
Preciso falar com você, mas como não conseguimos nos encontrar da maneira
convencional, eu... O que é isso?
—
Meu pé — disse mexendo os dedos. Em seguida, estendeu os braços para tentar
alcançá-lo. Se não era fácil só ver borrões, a escuridão total era muito pior.
Finalmente pareceu tocar no peito dele. Então Joseph tocou na mão dela e ela
pôde puxá-lo em direção à cabeceira da cama.
—
Está tão escuro aqui. Onde está a vela?
Demetria
não conseguiu segurar a risada, cobrindo a boca com a mão.
—
Mas se é noite!
—
Eu sei, é que...
—
Se acendermos a vela poderá chamar a atenção de algum criado. Sente-se aqui e
me diga o que há de tão importante que o tenha feito invadir o meu quarto.
Demetria
ajeitou-se, deixando espaço a seu lado para que ele pudesse se sentar.
Joseph
deu um suspiro e, ao sentar-se, a cama balançou um pouco com seu peso. Limpando
a garganta, ele comentou:
—
Sei que não é nada apropriado estar aqui.
—
Quase tudo o que fazemos parece não ser — Demetria ressaltou, em tom divertido.
—
Me parece que não — Joseph concordou, sorrindo, mas sua voz tornou-se novamente
séria.
—
Queria saber mais sobre o recado que você disse que eu lhe mandei.
—
Sim, claro. Desculpe por não termos conversado. O que havia de importante nele?
—
Não fui eu que enviei o bilhete.
—
Não? — Demetria ficou lívida. — Mas estava assinado J.J.
—
Mas não fui eu que mandei — Joseph repetiu com firmeza. — E, quero que você
tenha em mente para o futuro que nunca assino J.J.
Demetria
refletiu por um momento. Não sabia o que pensar, nem o que dizer.
—
Quem o teria enviado então? E por quê?
—
É isso o que me preocupa, Demetria. — O tom de voz era de apreensão. — Fico
pensando se o acidente de hoje foi mesmo um acidente. Aliás, todos os seus
outros acidentes também me intrigam. Me diga como foi a queda da escada.
Demetria
ergueu as sobrancelhas.
—
Acho que já lhe disse que o combinado é que sempre tenha uma criada para me
acompanhar, mas naquela manhã eu estava muito impaciente. Às vezes me aborrece
essa história de precisar ter alguém me acompanhando, então resolvi descer
sozinha. Não tive problema algum para deixar o quarto e caminhar pelo corredor.
Quando cheguei na escada, porém, tropecei em alguma coisa e rolei escada
abaixo.
—
Mas em que você tropeçou?
—
Não sei dizer. Torci o tornozelo e perdi o equilíbrio. Joan e Foulkes fizeram
um estardalhaço. Não me ocorreu na hora pedir a eles que verificassem em que eu
havia tropeçado.
—
E ninguém mencionou se havia alguma coisa na escada?
Demetria
sacudiu a cabeça em negativa.
—
E como foi que você quase foi atropelada por uma carruagem?
—
Ah — Demetria soltou um suspiro à lembrança —, eu estava entediada e ouvi a
cozinheira dizer que ia ao mercado. Resolvi ir com ela para comprar umas
frutas. Ela me pegou pelo braço e paramos em uma barraca de verduras na
extremidade do mercado. Ela me largou por um minuto somente, não mais do que
isso. No mesmo instante, alguém trombou comigo. Como foi inesperado, meu pé
dobrou no cascalho e caí para a frente de joelhos. Percebendo uma grande
comoção, levantei a cabeça e vi um borrão enorme vindo em minha direção. Era
uma carruagem, mas o condutor conseguiu parar a uns passos de mim,
aparentemente com os cavalos empinando. Acho que tenho tido sorte.
—
Quem trombou em você? — Joseph quis saber.
—
Não sei. A cozinheira veio correndo me perguntar se eu estava bem, se pôs a
gritar com o condutor porque ele estava gritando comigo e, em seguida, me
trouxe para casa para que Joan me ajudasse a trocar de roupa.
Joseph
permaneceu calado por um momento, depois perguntou:
—
Demetria, você realmente viu o bilhete que supostamente lhe mandei?
Demetria
podia sentir a respiração dele em seu ouvido e estremeceu. Engolindo em seco,
respondeu:
—
Claro que vi. O menino insistiu em entregá-lo para mim. Joan até teve de me
tirar do baile para recebê-lo.
—
Você leu o bilhete?
—
Não; tentei, mas não consegui. Joan leu para mim.
Joseph
pensou um pouquinho e perguntou:
—
Você guardou o suposto bilhete?
—
Suposto? Você fica repetindo isso, Joseph, mas eu vi o bilhete.
—
Sim, você viu, mas não leu.
—
Por Deus, o que você está imaginando?
—
Não sei — Joseph confessou, suspirando. — Foulkes e Joan estavam por perto e foram
os primeiros a se aproximar de você quando caiu e a cozinheira estava com você
no mercado. Mas ninguém se preocupou de verificar por que você tropeçou ou quem
a empurrou na rua.
—
Alguém trombou comigo. Não fui empurrada — contestou Demetria. — E ambas as
vezes as pessoas estavam ocupadas demais comigo para se preocupar com essas
coisas. Eu tampouco me preocupei. E, céus, sei que a criadagem me odeia por
todos os acidentes que já causei, mas daí a pensar que todo o pessoal que
trabalha com meu pai me queira ver morta?
—
Não, claro que não — Joseph concluiu mais que depressa. — Dá para você acender
a vela e achar o bilhete?
Demetria
hesitou e não conteve o riso:
—
Como se a luz pudesse me ajudar!
Balançando
a cabeça, ela saiu da cama e, com os braços estendidos, se dirigiu com cuidado
até a penteadeira. Ainda assim, bateu com o pé em uma das pernas da peça. Dando
um passo para trás, praguejou e abaixou as mãos para localizar o tampo. Tinha
uma vaga lembrança de Joan ter colocado o bilhete ali quando entraram no
quarto.
—
Deve estar por aqui — Demetria percorreu as mãos pelo tampo e esbarrou nele.
Pegou então o pequeno pedaço de papel e virou-se para voltar para a cama
quando, repentinamente, a luz iluminou o quarto.
Demetria
congelou a meio caminho da cama, piscando muito por causa da luz repentina.
Joseph
tinha encontrado a vela ao lado da cama e a acendera. Demetria entregou-lhe o
bilhete e aguardou que ele o lesse.
—
E então? — perguntou, depois de algum tempo.
—
Está escrito o que você disse, mas a letra não é minha.
—
Quem mandou então? — ela perguntou com ar apreensivo. — As únicas pessoas que
sabem a nosso respeito são seu primo e minha criada e... Prudhomme.
—
Prudhomme sabe? Você tem certeza?
—
Tenho. Ele e Taylor estavam passeando no jardim da casa dele na noite de nosso
piquenique, e eles viram quando nos beijamos à porta do salão — Demetria
explicou e acrescentou: — Assim, Taylor também sabe.
—
Desconfiava que ele soubesse — Joseph murmurou, depois levantou a cabeça e Demetria
sentiu o olhar dele.
De
repente, ela teve plena consciência de estar ali usando somente uma camisola.
Podia perceber agora o olhar de Joseph percorrendo seu corpo e teve um
estremecimento. Instintivamente, cruzou os braços sobre o peito.
Fez-se
um longo silêncio entre eles. Então Joseph anunciou com voz enrouquecida:
—
Demetria, estou louco para beijá-la.
Ela
prendeu a respiração, sentindo de imediato a excitação tomar conta de seu
corpo, esmorecendo no minuto seguinte quando ele vacilou:
—
Não, é melhor não beijá-la.
—
Não vai me beijar? — Demetria perguntou tornada de desapontamento.
—
Seria inapropriado.
—
Mas eu gostaria que você me beijasse — Demetria admitiu com franqueza.
—
Oh, por favor, não diga isso — Joseph quase gemeu. — Estou tentando ser
cavalheiro.
—
E cavalheiros não beijam damas? — ela perguntou com um pequeno sorriso,
lembrando-o depois: — Você me beijou no baile dos Devereaux.
—
Beijei, mas a situação era muito diferente.
—
Diferente, por quê?
—
Você não estava semidespida e em seu quarto.
—
Posso me vestir.
Uma
leve risada escapou dos lábios de Joseph e ele se abaixou para beijá-la. Demetria
não disse uma palavra, seu coração parou de bater por um momento, entregando-se
por completo ao beijo. Agora podia constatar que o calor e excitação que tomara
conta dela na noite do baile dos Devereaux nada tinham a ver com o vinho.
O
corpo de Demetria parecia saber exatamente o que fazer e se moldou
perfeitamente ao de Joseph. Suas mãos envolveram o pescoço dele para ficarem
ainda mais juntos e então ele introduziu a língua em sua boca, como havia feito
no primeiro beijo. Desta vez não ficara nem um pouco surpresa, nem sentira o
corpo enrijecer-se. Pelo contrário, sentiu os joelhos enfraquecerem e
escorregaria até o chão se não tivesse os braços de Joseph envolvendo-a bem
firme.
Demetria
suspirou e deixou-se beijar, gemendo de prazer às carícias eróticas de Joseph.
Em dado momento, ela soltou uma pequena exclamação de surpresa. Ele a afastou e
sentou-se na beirada da cama.
—
Está errado — sussurrou, beijando-a no rosto e escorregando os lábios até o
ouvido dela. — Não devíamos estar fazendo isso.
hey people, estao gostando da historia?
sorry demora, mas estou em um trabalhinho e chego um caco em casa, mas aqui estou postando por que....é porque postei hehe
bjemi
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