sexta-feira, 17 de novembro de 2017

O Amor é Cego Capitulo II

Demetria observou o movimento turvo do salão de baile e suspirou. Transcorrera apenas uma semana do baile dos Morrisey, onde conhecera o conde de Mowbray. Parecia meses. A vida voltara à rotina de sua semi-escuridão e da entediante atenção de Prudhomme.
Aparentemente, apesar do pequeno incidente, ele continuava a cortejá-la.
Naquele instante, Demetria agradecia o fato de ele, como o anfitrião do baile, estar muitíssimo ocupado para lhe dedicar qualquer atenção, mas estava bastante entediada. Entediada às lágrimas. Na verdade, estava um pouco obcecada pela noite em que conhecera Mowbray. E, apesar da proibição da madrasta, ansiava por reencontrá-lo.
Observava então os vultos das pessoas que passavam, prestando atenção a suas vozes e risadas.
Como se atraída por seu pensamento, aquela voz grave, suave, repentinamente sussurrou em seu ouvido:
— Esses eventos são maçantes, não são?
Voltando-se sobressaltada, Demetria viu o vulto escuro ao seu lado e piscou incrédula.
— Lorde Mowbray! — exclamou radiante, no mesmo minuto temendo ter se mostrado muito ansiosa. Perguntou então: — Maçantes por quê? Estou com cara de entediada?
Demetria pôde perceber o riso na voz dele ao comentar:
—Não pude evitar de vê-la bocejar quando me sentava.
— É... Talvez eu esteja mesmo um pouco entediada. — Demetria ficou rubra por ter sido pega bocejando. — Estou em Londres há quase cinco semanas e a noite em que o conheci foi a única coisa interessante que me aconteceu.
— Não achou interessante incendiar Prudhomme? — Joseph a provocou, fazendo-a corar mais ainda.
— Não me referia a esse tipo de coisa. Tão somente que eu me diverti em sua companhia.
— Você está me bajulando — comentou Joseph, com a voz enrouquecida.
— De forma alguma — Demetria assegurou, com sinceridade. — É a verdade. Me fez muito bem dançar com você, sem pisões ou tropeços.
— Então vamos dançar novamente — ele sugeriu, pegando-lhe a mão para fazê-la levantar.
— Oh, não! — Demetria exclamou, tirando a mão. Depois, desculpou-se com um sorriso. — Sinto muito, mas minha madrasta deve estar por perto e se nos vir juntos irá... Bem, ela não vai gostar. Espero que não se sinta ofendido com minhas palavras.
— Não, de forma alguma — disse Joseph em tom seco.
Demetria mordeu os lábios, sentindo-se infeliz. Sabia que ele tinha razão de se sentir insultado, mas não sabia de que outra forma poderia ter lhe dito.
Joseph deve ter entendido como se sentia, pois tomou sua mão e apertou-a com delicadeza.
— Não se preocupe. Sou forte. Além disso, não é a primeira vez que ouço esse tipo de comentário nesta temporada.
As palavras dele foram ditas de maneira meio casual e, até onde sua pouca visão conseguia perceber, ele parecia estar olhando ao redor agora. Talvez estivesse procurando uma desculpa para deixá-la, pensou, quando se voltou de maneira inesperada e apressou-a a levantar-se.
— Creio que não vejo sua madrasta e nenhuma das amigas dela por aqui neste momento. Se nos apressarmos, acho que podemos escapar para o terraço sem sermos notados.
— Ao terraço? — Demetria repetiu confusa, acompanhando-o pela mão. As portas do terraço ficavam bem ao lado do lugar onde estava sentada. — Não me parece prudente.
— Quero dançar com você.
— Dançar? — surpreendeu-se, ao perceber que ele fechava as portas do salão após passarem, cortando todo o burburinho dos convidados, o som da música e da conversação. — Mas, e se minha madrasta voltar e não me encontrar? Ela certamente virá me procurar aqui.
— É verdade — Joseph murmurou. — É melhor sairmos daqui então. Venha. Vamos ao jardim onde ela não poderá nos encontrar. Assim poderemos dançar.
Joseph, ao mesmo tempo em que falava, conduzia Demetria aos tropeços para poder acompanhar o passo dele. Nervosa, ela tentou lhe explicar:
— Não, milorde, creio que você não entendeu o que eu disse. Se ela der pela minha falta, vou estar em apuros quando voltar.
— Isso é fácil de resolver, basta dizer que necessidades urgentes a obrigaram a procurar um toalete.
— Milorde! — Espantou-se, não acreditando que ele ousasse mencionar uma coisa daquelas de forma tão crua. Isso não se fazia.
— Desculpe, eu só estava tentando... — Interrompendo o que ia dizer, exclamou: — Diacho, alguém está se aproximando!
Demetria esqueceu no mesmo instante a falta de boas maneiras dele; seu coração disparou de ansiedade.
— Será Taylor?
— Não sei, não dá para ver, mas ouço passos. Venha.
Puxando-a para um dos lados da trilha do jardim em que havia um pequeno bosque, os dois infiltraram-se entre os arbustos. Instintivamente, ficaram em silêncio, mantendo-se à espreita.
Um minuto depois, puderam visualizar duas figuras caminhando na direção em que estavam. Pura falta de sorte, em vez de seguir adiante, as duas pessoas pararam exatamente em frente ao local onde estavam escondidos e se abraçaram.
— Oh, Henry! — a mulher sussurrou.
— Hazel querida — fez-se ouvir uma voz trêmula.
Demetria franziu o cenho, reconhecendo de imediato a voz de Prudhomme.
— Diga-me que não é verdade que você tem intenção de se casar com aquela bobinha desastrada? — choramingou a voz feminina. — O que será de nós? Como irá ficar nossa grande paixão?
— Eu amo você, Hazel — assegurou Prudhomme. — E meu amor será seu até que eu morra, mas preciso ter um herdeiro. Minha mãe insiste nesse ponto.
Demetria riu internamente. Era Prudhomme, tinha mesmo certeza, e a única Hazel que conhecia era lady Achard!
— Sim, mas...
— Quietinha, meu amor. — Prudhomme procurou acalmá-la. — Deixe-me apenas abraçá-la e fingir que meus sonhos de todas as noites estão se realizando. Que você é minha e que não precisamos ficar nos ocultando.
Houve então um ruge-ruge de seda e um breve silêncio. Demetria sabia que estavam se abraçando, mas pouco depois ouviu o som de beijos estalados. Curiosa, procurou ficar na ponta dos pés para tentar ver alguma coisa entre os arbustos, mas tudo o que conseguia enxergar eram imagens nebulosas do colorido traje de lady Achard e o vulto mais escuro e esguio de seu acompanhante.
Estavam tão colados um no outro que seus rostos pareciam um grande borrão sob uma única peruca branca.
Como se beijavam! Demetria ficou consternada, pensando em lorde Achard. Não tinha dúvida de que era Hazel Achard. Ela fazia parte do círculo de amigas da madrasta. Com frequência suas atitudes em relação à Demetria eram bastante críticas e frias. Agora entendia a razão. Era ciúme pela corte que Prudhomme lhe fazia.
— Oh, Henry, vamos fazer amor — sugeriu Hazel, arfando.
— Mas acabamos de fazer, meu bem — Prudhomme protestou. — Sou apenas um. Não consigo ter um novo desempenho tão rápido. Preciso me recuperar do fogo que você acende em mim.
— Ah! Houve um longo suspiro de desapontamento, e então: — Se fôssemos casados...
— Se fôssemos casados, poderia tê-la em meus braços, como a tenho agora, todas as noites — Prudhomme proclamou baixinho e depois praguejou: — Dane-se seu marido por ter tão boa saúde!
— Sim, que se dane — Hazel concordou. — Queria que ele...
— Shhh! — Prudhomme interrompeu-a.
— O que foi? — perguntou, soando ansiosa.
— Acho que ouço alguém se aproximando.
O casal se separou imediatamente; pouco depois surgiu uma outra mulher e parou aparentemente surpresa ao vê-los.
— Ora, lorde Prudhomme. Lady Achard.
Reconhecendo a voz de Alice Havard, uma outra amiga da madrasta, Demetria se encolheu ainda mais entre os arbustos.
— Lady Havard! — o casal exclamou em uníssono, como se não estivessem em fervoroso idílio uns minutos antes.
— Tomando um pouco de ar fresco, Alice? — Hazel perguntou meio desconfiada.
— Estou, sim. Está bastante quente lá dentro — lady Havard confirmou, acrescentando com uma certa ironia: — De fato, foi o que acabei de comentar com lorde Achard um minuto atrás.
— Arthur está aqui? — Não passou despercebido o tom de alarme na voz de Hazel. — Mas ele disse que não estava com disposição de vir hoje.
— Hum, acho que ele mudou de ideia — murmurou lady Havard satisfeita. — A propósito, ele me perguntou se eu sabia onde você estava, e eu lhe disse que achava que você tivesse se dirigido à mesa para jantar.
— Oh! — Houve uma certa hesitação e depois o vulto de Hazel voltou-se para Prudhomme. — Muito obrigada, milorde. Foi muita gentileza sua dispor de seu tempo para me mostrar o jardim. Devo entrar agora. — Ela hesitou por um momento, depois perguntou com muita astúcia: — Me acompanha, lady Havard?
— Não, acho que gostaria de ver a nova fonte de lorde Prudhomme. Isso se você não se importar de me mostrar, Henry?
— Sim, sim, vamos — respondeu Prudhomme imediatamente. — Será um prazer.
— Então vou indo — disse Hazei, obviamente relutante, e seu vulto se afastou.
Demetria esperava que Prudhomme e lady Havard saíssem logo dali e então ela e Joseph poderiam livrar-se do esconderijo e voltar à festa. Quase suspirou de alívio. Mas estava enganada.
Assim que Hazel se foi, lady Havard voltou-se para Prudhomme e, com a voz embargada de ciúme, perguntou:
— O que ela queria?
— Hazel disse que precisava de um pouco de ar fresco e me pediu que lhe mostrasse as novidades do jardim, o que eu não poderia recusar — explicou Prudhomme em tom inocente, fazendo Demetria revirar os olhos de indignação.
Deus meu, o homem é um mentiroso compulsivo.
— Ah! — exclamou lady Havard parecendo aliviada, resmungando depois: — Quando os vi saindo, pensei...
— Quietinha, meu amor. — Prudhomme tomou-a nos braços. — Saiba que não há mais ninguém para mim. Eu a amo, Alice, e amarei até morrer.
— Verdade, Henry? — Ela suspirou ao ser beijada ao longo do pescoço. — É que ando tão enciumada ultimamente.
— Não há razão alguma para que você tenha ciúme, meu bem.
Demetria apertou mais os olhos e se esgueirou um pouco ao perceber que Prudhomme dera um passo para trás.
Santo Deus! O homem acabava de despir os seios de lady Havard ali mesmo no jardim, Demetria concluiu chocada ao perceber a movimentação das manchas e o ruidoso estalo de beijos.
Lady Havard arfou, depois encheu as mãos com a cabeça emperucada de Prudhomme, levantando-a do peito.
— E quanto àquela menina?
— Demetria? — A voz de Prudhomme soou cheia de desprezo ao pronunciar o nome. — É apenas uma criança. O que sabe ela de uma paixão como a nossa?
— Então é amor mesmo o que sente por mim? — ela insistiu.
— Claro! — ele a tranquilizou.
Seus vultos se juntaram novamente, e pôde se ouvir a reafirmação dele:
— À noite sonho com você, que você é minha e não precisamos mais de encontros furtivos, e acordo com seu nome em meus lábios.
Como sonha esse homem, pensou Demetria, e como encontrará tempo para enganar as duas damas?
— Oh, Henry — lady Havard não se conteve —, já pensou se eu fosse sua e pudéssemos nos abraçar assim todas as noites?
— Nem fale — concordou Prudhomme, em tom apaixonado. — Dane-se seu marido por ter tão boa saúde.
Demetria precisou se controlar para não soltar uma exclamação ao ouvir o mesmo refrão.
— Agora deixe-me aproveitar esses poucos momentos que a tenho. — Prudhomme, ajoelhou-se subitamente, desaparecendo sob a saia esverdeada de lady Havard.
Sem enxergar direito, mas percebendo pelos vultos o que havia acontecido, Demetria começou a perguntar, meio sem pensar:
— Que diabo ele...
Mowbray tapou-lhe a boca com a mão e, já tendo conseguido se localizar, imediatamente puxou-a com delicadeza, conduzindo-a entre os arbustos, para que cruzassem o pequeno bosque.
Agarrando-se no braço dele para não perder o equilíbrio, Demetria se voltou para olhar mais uma vez para os vultos de Prudhomme e lady Havard. Como queria estar de óculos! Embora não tivesse ideia do que ele estava fazendo sob a saia dela, os gemidos que a mulher emitia eram muito sugestivos.
Eles finalmente conseguiram chegar ao outro lado do jardim, e Joseph apressou-a a afastar-se dali.
— Céus o que eles estavam fazendo? — ela perguntou curiosa e arfante quando Joseph a fez parar em uma outra pequena clareira.
Mowbray ficou um tanto desconcertado e fitou-a enternecido. — Vou lhe explicar um dia, milady. Não é hora ainda.
— Por quê? — ela insistiu.
— Porque você é ainda inocente demais para entender certas coisas. Ficaria muito constrangida. E porque acho que devemos voltar para o baile — concluiu Joseph, soando aliviado por encontrar outra desculpa.
— Nem tivemos uma chance de dançar — Demetria protestou, refletindo que, se era para se meter em apuros, poderia pelo menos ter dançado um pouco.
— Fica para uma outra vez — Joseph gentilmente prometeu, sorrindo.
— Temo que não haverá uma outra vez, milorde. Taylor tem evitado estar onde você possa aparecer. Só estamos aqui porque ela pensou que você não aceitaria o convite de Prudhomme.
— Então é por isso que não consegui encontrá-la em nenhum outro baile esta semana — Joseph disse baixinho, completando secamente: — Sua madrasta estava certa, normalmente eu não viria a este baile.
— Então por que veio? — Demetria sustou a respiração depois de fazer a pergunta.
— Porque sei que Prudhomme é seu pretendente e imaginei que você viria.
— De verdade? — ela perguntou com um sorriso.
— Sim, de verdade.
Demetria sentiu que Joseph sorria também. Ele então passou delicadamente os dedos sobre seus olhos, para que parasse de apertá-los e disse:
— Eu também gostei muito de nossa conversa no baile de Morrisey e, desde então, estava ansioso por reencontrá-la.
Um largo sorriso iluminou o rosto de Demetria, expressando todo o prazer que sentia diante de tais palavras.
— Só queria...
— Me diga, o que você quer? — Joseph apressou-se a perguntar ao vê-la hesitar.
Demetria encolheu os ombros, entristecida.
— Queria que Taylor não antipatizasse tanto com você.
Ambos aproximaram-se do salão, pensativos e calados.
Joseph parou e fez com que ela se voltasse para ele.
— Talvez haja uma maneira de contornarmos isso.
— Que maneira? — indagou Demetria, em um misto de curiosidade e esperança.
Joseph fitou-a em silêncio, meneando depois a cabeça em assentimento, como se concordasse com a ideia que tivera. Ele apertou a mão que segurava o braço dela e disse:
— Demetria, se meu primo for procurá-la nos próximos dias e se oferecer para levá-la a um passeio, tente envolver sua madrasta na conversação.
— Seu primo? — ela perguntou, indecisa.
— Mikey Greville — Joseph esclareceu. — Vou pedir a ele que a pegue. Sua madrasta vai aprovar. Ele sairá com você, e eu os encontrarei no parque.
Demetria franziu o cenho, reconhecendo o nome.
— Acho que já nos conhecemos e é pouco provável que ele concorde em me buscar, milorde.
— Ele me contou sobre o encontro de vocês.
— Contou? — ela perguntou, ficando sem-graça.
— Contou, sim, mas não se preocupe, conversei com Mikey a respeito de sua visão. Ele terá prazer em nos ajudar.
— Talvez tenha — murmurou Demetria em dúvida. Depois, mordendo o lábio e olhando para o rosto borrado dele, perguntou em tom ansioso: — Ele não é um mundano, é?
Ao sentir a hesitação de Joseph, ela se apressou em explicar:
— Pois essa é a razão de Taylor se opor a você. Apesar de que, no seu caso, tenho certeza de que ela está enganada, mas se Mikey for um...
— Vai dar tudo certo.
Demetria sentiu o coração acelerar, desejando acreditar nele, ao mesmo tempo não acreditando que algo tão maravilhoso pudesse acontecer em sua vida.
Tivera muito poucas alegrias nos dez últimos anos. Primeiro a doença da mãe e o terrível caso com o capitão Fielding... Depois a mãe morreu e enquanto ela ainda vivenciava o luto, o pai casou-se com a horrível Taylor. Desde então a vida no campo havia sido um verdadeiro martírio, com Taylor fazendo questão de lembrá-la de sua vergonhosa experiência sempre que podia. Era frequente acusá-la de ter precipitado a morte da mãe com o escândalo que impusera a toda a família.
Demetria sabia do ressentimento que Taylor sentia por ela e que a culpava pelo pai evitar ir a Londres. Infelizmente, tinha de concordar que Taylor tinha razão.
A madrasta a detestava por isso, pois havia perdido várias temporadas em Londres e não fazia segredo de que não via a hora de livrar-se dela.
Demetria também sabia que, no que dependesse de Taylor, ela tudo faria para que estivesse amarrada ao odioso Prudhomme pelo resto da vida. E devia saber muito bem que horror o homenzinho era. Desconfiava que por algum tempo os dois tivessem sido mais do que amigos como as atuais circunstâncias mostravam. Ela se perguntava se Prudhomme eventualmente não teria também jurado amor eterno a Taylor e praguejado contra a boa saúde de seu pai. Não iria surpreendê-la nem um pouco.
— Demetria!... Demetria!
A voz de Taylor cortando a noite quase a fez gritar de susto. Embora próximos do salão, ainda estavam na trilha que circundava o bosque e puderam uma vez mais infiltrar-se entre os arbustos.
— Psiu... — Joseph sussurrou baixinho quando ela abriu a boca para despedir-se dele enquanto ainda dava tempo. — Vá! Ela não me viu. Não mencione meu nome. Diga simplesmente que você saiu para tomar um pouco de ar fresco.
— Está bem — Demetria sussurrou.
— E não se esqueça do acordo com meu primo. Mikey Greville vai procurá-la amanhã.
Sussurrando um boa-noite para Joseph, ela reapareceu na trilha e começou a dar alguns passos hesitantes em direção à voz da madrasta.
Joseph aguardou até que Taylor e Demetria entrassem na casa para sair do bosque. Não quis mais voltar ao salão. Seguiu pela lateral da casa até chegar ao pátio da frente e solicitou sua carruagem.
Já no veículo, instruiu o motorista para levá-lo a uma das casas de jogatina de pior reputação na cidade, na certeza de que encontraria Mikey por lá.
Como esperado, Joseph encontrou o primo jogando e achou graça do choque que ele levou ao vê-lo.
— Joseph! — reagiu Mikey surpreso, ao sentir um tapinha no ombro e se voltar para ver quem era. — Pensei que nunca mais o veria por aqui. Desde que você voltou da guerra, parece que abdicou desse tipo de divertimento. Junte-se a nós, sente-se aqui — ele propôs, visivelmente contente de ter o antigo parceiro de volta.
Joseph hesitou, depois sentou-se, pouco à vontade para falar sobre a razão de estar ali na frente de todos. Sabia, porém, que se ousasse tirar Mikey do jogo, dificilmente teria a ajuda pretendida. Conformado em passar algumas horas naquele ambiente enfumaçado e vicioso, teve ainda de ignorar os olhares curiosos para sua cicatriz e ficou repassando mentalmente os argumentos que usaria para convencer o primo tão logo saíssem dali.
— Você deve estar louco! — Mikey exclamou.
À saída daquele antro infernal, Joseph havia convidado o primo para um drinque e, finalmente, fez o pedido ao levá-lo em sua carruagem para casa duas horas mais tarde.
Joseph estranhou a reação de Mikey. Não era a que esperava. Após ter explicado suas razões, estava certo de que ele entenderia e seria mais colaborador.
— Por que louco?
— Porque é uma loucura achar que eu de bom grado me exporia a esse perigo — Mikey disse rindo, ao entrarem na casa e dirigir-se à biblioteca. — O que será de meus herdeiros, se é que vou tê-los, caso a desastrada provoque novamente um acidente?
Joseph balançou a cabeça em desaprovação enquanto Mikey jogava-se em uma das poltronas de couro ao lado da lareira. Joseph encaminhou-se para uma mesinha giratória onde havia copos e uma garrafa de uísque.
— Estamos falando de uma moça frágil, não de uma batalha do exército francês.
— Na verdade Demetria consegue fazer mais estragos do que todo o exército francês junto — Mikey retorquiu.
Joseph apertou os lábios e permaneceu calado, refletindo sobre um argumento mais convincente enquanto servia um copo de uísque para cada um. Ao terminar, recolocou a tampa na garrafa, pegou os copos e cruzou a sala, dizendo antes de servir o primo:
— Eu só queria que você a buscasse e a levasse de volta. Você ficaria muito pouco tempo com ela, Reggy.
— Eu sei, mas.
— Eu agradeceria muito — Joseph acrescentou, entregando o copo para ele.
Depois de alguns minutos de silêncio, em que ficaram se olhando, Mikey pegou seu drinque e deu um suspiro.
— Está bem — resmungou, caçoando do primo: — Tudo em nome do amor e do romance... Mas espero que você se lembre disso quando eu precisar de ajuda.
— Lembrarei — Joseph assegurou aliviado e sentou-se na poltrona oposta à do primo.
— Bravo, meu velho. Então pego lady Demetria amanhã e a levo para onde?
Joseph hesitou para responder, sabendo que essa seria a parte mais delicada.
— Podemos pensar a respeito em um minuto, mas antes preciso lhe falar sobre um pequeno detalhe.
De sobreaviso pelo tom de voz do primo, Mikey arqueou a sobrancelha.
— E qual é ele?
— É difícil abordar o assunto, mas a madrasta de Demetria não gosta de... homens mundanos. — Observando a reação do primo, Joseph extravasou seu desconforto mexendo-se na poltrona. — Pensei que talvez você possa usar com lady Lovato a mesma tática de abordagem que usou com lady Strummond para convencê-la a deixar que saísse com a filha.
— Que é isso, Mowbray, com efeito!
Joseph esmoreceu diante da expressão do primo:
— Bem, funcionou com lady Strummond.
— Sim, funcionou, mas...
— Poderá funcionar novamente — insistiu. — Tenho certeza. Só você tem talento para isso.
— Primo — disse Mikey de cara amarrada —, uma coisa é bancar o almofadinha para se conquistar alguém para si mesmo, e outra bem diferente é para...
— Por favor — Joseph interrompeu.
Mikey arregalou os olhos, incrédulo. Joseph Jonas, conde de Mowbray, nunca dizia “por favor”. Jamais. Sentindo-se sem saída, voltou os olhos, com ar pensativo, para as cinzas da lareira e suspirou resignado.
— Está bem.
— Um tal de lorde Greville está à porta e quer saber se as ladies Lovato estão em casa, para visitá-las.
Demetria ergueu a cabeça do encosto do sofá em que estava sentada e, piscando várias vezes, tentou ver por cima da figura do mordomo quem estava à porta.
— Quem você disse que está aí, Foulkes? — perguntou Taylor.
— Lorde Greville — o mordomo repetiu, com ar entediado.
Demetria mordeu os lábios e se controlou para não parecer eufórica demais. Mowbray estava cumprindo o que prometera. O primo viera em seu lugar. De dedos cruzados, ela começou, intimamente, a rezar para que a madrasta não o dispensasse e estragasse tudo. Pela voz, Taylor parecia estar confusa:
— Pensei que você conhecesse lorde Greville.
Demetria entendeu a intenção. Se ela já tivera um primeiro encontro com ele, por que cargas d’água ele a procuraria novamente?
— Conheço. Ele é um homem muito agradável.
— Sei! — Taylor não pareceu muito convencida. — Poderia jurar que ouvi dizer que ele...
Assim que fez uma pausa, lady Havard que fora tomar chá com elas e acabara ficando para bisbilhotar um pouco, aparteou:
— Também ouvi comentários de que ele é meio farrista, Taylor, mas acho que é pura maldade. Inveja, muito provavelmente. Ele provém de ótima família e é bastante amigo do rei.
Demetria entendia muito bem a razão de lady Havard encorajar Taylor a permitir as atenções de Greville. Não havia dúvida de que era por causa do ciúme que sentia de Prudhomme. Mas para ela isso pouco importava. Só podia agradecer a interferência da amiga da madrasta e, de respiração suspensa, ficou aguardando o veredicto.
— Muito bem, Foulkes, faça-o entrar.
— Pois não, milady — Foulkes murmurou, retirando-se da sala.
Demetria aguardava com impaciência, torcendo para que o truque desse certo e pudesse logo estar com Mowbray novamente. Fez-se um súbito silêncio na sala, à espera de que Foulkes abrisse a porta e confirmasse que as senhoras estavam.
— Ora viva! Deixe-me entrar então! — Uma voz alegre reverberou.
O visitante continuou expressando, aparentemente, sua satisfação de que estivessem na residência, sem que Demetria conseguisse entender o que dizia.
— Ah, ladies! — As duas palavras foram pronunciadas calorosamente.
Demetria endireitou o corpo que mantivera erguido, tentando ouvir o que o visitante dizia.
Taylor, demonstrando-se encantada, levantou-se para recebê-lo.
— Lorde Greville, que gentileza sua vir nos visitar.
— Ah, que nada, que nada. O prazer é todo meu. — Cruzando a sala, ele se encaminhou para a anfitriã e curvou-se para cumprimentá-la com um beija-mão. Depois, voltou-se para o lado em que Demetria estava sentada. — Ah, lady Demetria, sempre encantadora. Muito encantadora. — Tomando-lhe a mão, levou-a também aos lábios e a beijou, dirigindo-se então a lady Havard. — Que prazer em vê-la, lady Havard! Que homem de sorte eu sou. Três lindas mulheres em uma única sala.
— Lisonja sua, milorde — Taylor derreteu-se, — Gostaria de tomar um chá?
— Certamente, certamente. Muito amável.
— Sente-se.
— Obrigado.
Houve um momento de silêncio, quando todos se acomodaram em suas poltronas, com exceção de Demetria que não havia se mexido do lugar, e depois uma troca geral de sorrisos.
— Que surpresa, milorde. A que devemos sua visita? — Taylor perguntou, servindo-lhe o chá.
— Dever? — perguntou ele, mostrando-se espantado. — Não me devem nada. Nunca cobro pela minha presença, por mais prazerosa que seja.
Ele gargalhou de maneira quase feminina, fazendo com que Demetria arregalasse os olhos horrorizada.
Deus do céu! Ela era quase cega; mas não surda. Esse homem tinha o mesmo tom grave de voz do primo. Suas palavras tinham sido adequadas. Não era o mesmo lorde Greville que conhecera, disse a si mesma ao ouvir a reação alegre da madrasta e sua amiga à brincadeira dele.
Mas quem seria então, perguntou-se. Com certeza, se aquele não fosse o verdadeiro Greville, Taylor e lady Havard, que tinham excelente visão, reconheceriam um intruso, mas nenhuma das duas se mostrou alarmada. Tudo o que Demetria podia pensar é que se tratasse mesmo de lorde Greville, fazendo uma encenação, embora não conseguisse entender o porquê de estar se comportando daquela maneira. Francamente, ele mais parecia um almofadinha afeminado.
Só quando isso lhe ocorreu, Demetria se lembrou de ter perguntado a Mowbray se o primo não era um mundano e tê-lo avisado de que, se fosse, a madrasta jamais permitiria que saísse com ele. Estava claro que os dois haviam decidido sossegar os temores de Taylor com um verdadeiro desempenho de ator.
Demetria  maravilhou-se com a habilidade teatral de Greville falando em tom confidencial:
— Na realidade, estou estreando minha nova casaca e meu novo chapéu, e estava curioso de saber que efeito causariam nas mais encantadoras damas de Londres. — Após dar a explicação, Mikey levantou-se com uma pirueta, para melhor exibir seu traje.
Taylor e lady Havard riram como duas meninas diante do galanteio e da exibição.
— O que você acha? — ele perguntou, postando-se na frente de Demetria. — Belo corte, não?
Ela forçou os olhos, tentando captar algum detalhe da roupa, mas tudo o que via era um borrão verde-amarelado. Foi Taylor quem quebrou o silêncio para salvá-la do constrangimento.
— Muito elegante, milorde. Gostaria de ter o nome de seu alfaiate para dar a meu marido.
— É notável — lady Havard concordou.
Aparentemente satisfeito com os elogios, Greville voltou a sentar-se com um suspiro de satisfação.
— Tento estar sempre na moda. Gostaria também de combinar a camisa com as calças, o que as senhoras acham?
— Soa perfeito — Taylor murmurou indecisa, sendo endossada por lady Havard na mesma entonação de voz de quem não sabe bem o que dizer.
Demetria, porém, não conteve a curiosidade:
— De que maneira, milorde?
Greville explicou pacientemente, e Demetria ergueu as sobrancelhas ao imaginá-lo usando camisa e calças verde-amareladas, combinando com a casaca da mesma cor.
Ele obviamente notou a expressão surpresa dela e, mal disfarçando a voz de quem estava se divertindo com a situação, tratou de esclarecer:
— Mas achei que combinar tudo talvez fosse um pouco de exagero, por isso optei pela camisa branca. Não gosto de jogar dinheiro fora.
— Naturalmente. Ficou muito bem assim, milorde — Taylor disse como se estivesse muito a par das tendências.
Demetria começou a se preocupar que depois daquela conversa fútil, Taylor não permitiria que saísse com Greville, apesar dos esforços dele. Naquele instante, porém, ele tirou o relógio de bolso e endireitou o corpo na poltrona.
— Ora, ora, meu relógio diz que é hora de ir — Greville anunciou, e Demetria pensou que ele próprio talvez começasse a achar que estava exagerando.
— Já vai? Mas você mal chegou. — Apesar do comentário, Taylor parecia aliviada.
— Está na hora. Na verdade, não pretendia mesmo ficar muito. Minha intenção era perguntar se lady Demetria poderia me acompanhar em um passeio pelo parque. Quero exibir meu novo figurino em público, mas não gostaria de cavalgar sozinho, não fica bem.
— Bem... — Taylor hesitou por um momento e olhou para lady Havard.
Demetria quase podia ouvir os pensamentos da madrasta. Não havia dúvida de que estava confrontando os boatos sobre o comportamento mundano de Greville com o cavalheiro sentado em sua sala.
— Taylor, deixe-os ir — lady Havard interferiu, carinhosa. — Lorde Greville saberá cuidar muito bem dos dois.
Aparentemente a encenação de Mikey convencera a madrasta de que nada havia a temer, pois, de outro modo, mesmo a interferência de lady Havard não teria surtido efeito.
— Muito bem — ela concordou, balançando a cabeça. — Mas não se esqueçam das máscaras e tenham cuidado e não...
Eufórica ante a perspectiva de rever Mowbray, Demetria aceitou e colocou a máscara que Taylor lhe entregara enquanto repassava a ladainha de sempre. Não tocar em nada, não andar sem ser de mãos dadas com lorde Greville para que ele a guiasse, e assim por diante. Demetria já tinha ouvido tantas vezes essas recomendações que sabia do cor. A cada uma, ela balançava a cabeça em assentimento.
Lady Havard os acompanhou até a porta e depois se apressou em também ir abrir a porta da carruagem, estacionada na rua em frente à residência dos Lovato, e Demetria foi alçada ao banco por Greville.
— Nossa, graças a Deus que acabou!
Demetria ouviu o comentário aliviado de Greville ao pegar as rédeas dos cavalos. O inesperado tom grave e muito mais masculino de sua voz agiu como um catalisador, liberando seu riso diante de toda aquela situação. Uma gargalhada espontânea brotou de seus lábios e seu rosto ficou corado.
— Sinto muito, milorde — Demetria disse então em um só fôlego. — Você deve estar me achando terrivelmente mal-agradecida, e longe de mim isso. Mas é que estava imaginando a consternação de minha madrasta por tentar acompanhar a conversa e não conseguir. Ela odeia parecer ignorante.
— Essa é que é a maior estupidez — Mikey retrucou de imediato.
Demetria refletia sobre o que tinha ouvido quando ele acrescentou:
— Trate Joseph com carinho. Ele tem muitas cicatrizes e nem todas são visíveis.
Demetria ia perguntar o que significavam aquelas palavras enigmáticas quando a carruagem parou. No mesmo instante, uma outra carruagem emparelhou com a deles. Era uma carruagem fechada. Observou ansiosa a porta ser aberta e um vulto saltar.
— Vejo que tudo deu certo.
Demetria reconheceu de imediato a voz de Mowbray e não se importou de adiar a pergunta que gostaria de ter feito a Greville. Ela sorriu quando Joseph se aproximou e com a respiração suspensa foi tirada da carruagem e colocada no chão.
— Você está em dívida comigo, primo — murmurou Greville da carruagem.
— Sei disso — Mowbray concordou, e Demetria sentiu o riso em sua voz. — Vamos ficar por perto, Reggy, assim você nos encontrará facilmente na hora de levar Demetria para casa.
— Combinado — Greville respondeu, sacudindo as rédeas para fazer a carruagem andar.
Assim que a carruagem desapareceu ao longo do parque, Joseph propôs que caminhassem um pouco.
— Acho preferível a desfilar de carruagem e ficar olhando para outros nobres, mesmo porque me desfiz de minha carruagem aberta e agora só teria uma fechada — ele justificou-se.
Demetria hesitou por um momento e, esboçando um sorriso tímido, concordou:
— Você acertou. Não estou nem um pouco interessada em “olhar” para outros nobres, como parece ser a moda; de qualquer forma, não conseguiria enxergá-los mesmo. Além disso, acho que não seria nada prudente sermos vistos na carruagem, pois se minha madrasta viesse a saber...
— Mas estamos usando máscaras — Joseph mais do que depressa interrompeu-a. — ninguém nos reconheceria.
Demetria inconscientemente levou a mão à máscara que madrasta insistira que usasse antes de sair. Estava na moda, naquela temporada, cavalgar usando máscara, e o que quer que estivesse na moda Taylor a obrigava a usar.
— Será que minha falta de visão não vai nos causar algum embaraço?
Joseph pegou a mão dela e a colocou em seu braço.
— Fique tranquila, lady Demetria, não permitirei que seja desastrada.
Demetria relaxou no mesmo instante diante da atitude dele e sentiu-se feliz ao caminharem por uma alameda, aparentemente linda, cujas árvores e flores lamentavelmente não conseguia enxergar direito. Aguçando os ouvidos, depois de algum tempo, ela interrompeu o silêncio que já começava a incomodá-la.
— É o barulho de água que ouço, milorde?
Joseph olhou ao redor
— Não me parece — começou a dizer e fez uma pausa. — Já faz um bom tempo que não venho aqui, por isso não me lembro bem se esses jardins têm cascatas ou fontes. — No mesmo instante, porém, voltou-se para ela e disse sorrindo: — Você tem excelente ouvido, milady. Embora eu mesmo não consiga ouvir, lembrei-me de que há uma fonte próxima daqui. Vamos tentar encontrá-la!
Poucos minutos depois, ele viu a fonte e conduziu Demetria até ela. Permaneceram ali por algum tempo, ambos sentindo-se estranhamente desconfortáveis um com o outro.
Demetria fingiu estar contemplando a água a sua frente, mas sua mente estava toda concentrada no homem a seu lado. Era uma agonia estar tão consciente da presença dele, e agonia maior ainda, o silêncio que pairava entre os dois como uma barreira. Eles pareciam ter se entendido tão bem no baile em que se conheceram e agora que estavam sozinhos nada tinham a dizer. Era muito desconcertante. Ela buscava, desesperada, na mente algo para dizer quando Joseph deu uma pequena gargalhada.
— O que foi? — ela perguntou, levantando curiosa o rosto para ele.
— Nada... — disse Joseph, acrescentando depois: — Estava apenas pensando que sou um idiota, parado aqui quase em pânico, procurando desesperadamente algum tópico para conversarmos, mas parece que perdi toda a capacidade de falar. — Antes de qualquer protesto, Joseph acrescentou: — Ao menos perto de você, lady Demetria , fico nervoso como um adolescente.
— Me sinto assim também — Demetria admitiu tranquilamente. — E acho estranho. Não houve qualquer problema nas duas vezes em que estivemos juntos e não entendo a razão disso agora.
— Nem eu — Joseph concordou. — Mas, felizmente, não sou tão bobo assim, por isso trouxe algo para nos distrairmos.
Delicadamente, ele voltou a colocar a mão de Demetria sobre seu braço e começaram a se afastar da fonte. Observando a expressão curiosa de sua acompanhante, ele enfiou a mão no bolso e tirou um objeto escuro, colocando a mão dela sobre o mesmo.
— Um livro? — Demetria perguntou surpresa.
— Sim, um livro. Vou ler para você.
— Vai ler para mim?
— Lembro-me de você ter me dito que, entre todas as coisas, o que mais sentia falta por não ter os óculos era de poder ler. Então pensei em ler para você. Sei que não a mesma coisa que ler para si mesma, mas espero poder distraí-la um pouco.
— Nossa, tenho certeza de que vou adorar — Demetria apressou-se em dizer, não somente comovida pela atenção dele, como também agradecida de que tivesse encontrado um meio de compensar a falta de assunto. — E onde se dará essa leitura? — quis saber.
— Veja logo ali há um pequeno caramanchão onde poderemos usufruir da sombra enquanto leio para você.
— Que livro você escolheu? — perguntou curiosa, assim que Joseph escolheu um banco para se sentarem.
— Trouxe O Rapto da Madeixa de...
— Alexandre Pope.
— Isso — ele confirmou, obviamente surpreso por ela conhecer. — Você gosta dele?
Demetria sorriu e assentiu com a cabeça.
— Bem, então vou começar. 

2 comentários:

  1. Estou a adorar a história, posta mais quando puderes, estarei sempre aqui para a ler :)
    Beijinhos

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  2. Aaaaaaa estou amamdo essa historia
    Posta logo!

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