—
Que droga, primo! Onde vocês se meteram?
Demetria
estremeceu de surpresa ao ouvir o comentário irritado de Greville, sobrepondo-se
à voz suave de Joseph, que parou abruptamente de ler, à chegada da figura
verde-amarelada.
—
Então estavam aí! Deus do céu, faz quinze minutos que estou rodando a procura
de vocês. Estamos atrasados. Fiquei de levar Demetria de volta depois de uma
hora.
—
Não acredito que já tenha passado uma hora — disse ela, desapontada. — Estava
adorando a leitura de Joseph.
—
A permissão foi só de uma hora? — Joseph perguntou com um sorriso amarelo,
fechando o livro. — Por que tão pouco tempo?
—
Quanto você acha que Taylor permitiria se, supostamente, só íamos dar um
passeio de carruagem? — perguntou bravo Mikey, enquanto Joseph pegava a mão de
Demetria para ajudá-la a se levantar.
—
É, você tem razão — ele concordou, suspirando.
—
Que livro é esse? — Mikey perguntou, mudando de assunto. — É um Pope?
—
Isso mesmo. Demetria não consegue ler por causa da falta dos óculos, por isso
resolvi ler para ela — respondeu Joseph meio constrangido.
Greville
não podia acreditar que tal gesto partisse de seu primo Joseph, mas não teceu
comentário algum para não deixá-los embaraçados. Em vez disso, dando-lhes às
costas, apressou-os:
—
Vamos, a carruagem está à nossa espera e não vejo hora de chegar em casa e
trocar essa casaca ridícula.
Joseph
passou a mão de Demetria sobre seu braço e seguiram o primo.
—
Obrigada, Joseph. Você tem uma linda voz e a escolha do livro não poderia ter
sido mais perfeita. Adorei sua leitura.
—
Obrigado, mas minha intenção era ler um pouco e depois conversarmos. Achei que
ficaríamos juntos por mais tempo.
Joseph
parou de falar para ajudá-la a contornar um obstáculo, que pareceu a Demetria ser
o tronco de uma árvore antiga, depois prosseguiu:
—
A que festa você vai hoje à noite?
—
Na dos Devereaux.
—
Vou fazer o possível de vê-la lá então.
—
Na verdade — Demetria ponderou —, é melhor você desistir dessa idéia. Taylor já
disse que se você aparecer em outra festa que estivermos, não me deixará ficar
sozinha nem por um minuto. Creio que ela desconfiou que estivemos juntos nos
jardins de Prudhomme. Lamento muito.
—
Não precisa se lamentar, nem se desculpar. Vou dar um jeito.
Antes
que Demetria pudesse dizer qualquer outra palavra, eles já haviam chegado junto
à carruagem e Joseph gentilmente a ajudou a subir.
—
Até a noite.
—
Lady Lovato. Que prazer o nosso em recebê-la!
Demetria
acordou do tédio em que se encontrava e viu de forma embaçada, como sempre, os
vultos azul-claro e pêssego que estavam à porta. Seria maldoso dizer que, com
exceção de lady Havard e lady Achard, alguém mais se dirigisse à madrasta de
maneira gentil. Pois, de um modo geral, eram as únicas pessoas que falavam com
Taylor, daí sua estranheza em ouvir a anfitriã alegar prazer em vê-la.
A
própria Taylor parecia surpresa, observou Demetria diante da dificuldade da
madrasta em retribuir o cumprimento.
—
Lady Devereaux e lady Mowbray. Boa noite. Muito obrigada pelo convite. Estamos
muito contentes de estar aqui, muito contentes mesmo, não é, Demetria?
Demetria
murmurou um assentimento, mas sua atenção estava voltada para o vulto azul, que
só poderia ser lady Mowbray, a mãe de Joseph, uma vez que quem dera as
boas-vindas fora a anfitriã, que usava pêssego,
—
Então você é a encantadora Demetria — cumprimentou-a lady Mowbray, com um largo
sorriso. — Falaram muito a seu respeito, minha querida, tanto meu filho, como
meu sobrinho Mikey.
—
Mikey Greville é seu sobrinho? — perguntou Taylor interessada, sem fazer qualquer
comentário sobre Joseph.
Mesmo
que não quisesse Demetria envolvida com Mowbray, a madrasta não era tola de
esnobá-lo. Os Montfort eram muito influentes na sociedade, principalmente
Isabel Montfort, lady Mowbray. Dessa maneira, em vez de exigir que Joseph se
mantivesse longe dela, seu objetivo passou a ser o de tentar evitar qualquer lugar
em que ele pudesse estar presente.
—
Sim, ele é meu sobrinho — lady Mowbray confirmou, não ignorando a falta de
comentário sobre Joseph. Pelo menos, foi o que Demetria imaginou diante de sua
resposta sucinta.
—
Ele é um jovem encantador — Taylor elogiou sorridente. — Ele saiu com Demetria para
um passeio no parque hoje cedo.
—
É, eu soube — respondeu lady Mowbray, em um tom de voz divertido.
Demetria
teve a nítida impressão de que ela sabia do esquema que havia sido montado, mas
foi pega de surpresa por suas palavras seguintes:
—
Na verdade, Mikey tanto falou de Demetria que minha sobrinha, a irmã dele, quer
conhecê-la.
—
Ora, que gentil! Demetria bem que precisa fazer amigas aqui em Londres. Será
muito bom para ela.
Demetria
mordeu o lábio, sabendo que a madrasta imaginava que essa amizade poderia
significar ascensão ao círculo social dos Mowbray. Mary Greville era
considerada um diamante de primeira água. Conviver com ela só poderia elevar
qualquer pessoa.
—
Muito bom — disse lady Mowbray. — Então não vai se importar que eu a roube por
algum tempo enquanto ajuda lady Devereaux.
—
Vai roubá-la? — Taylor alarmou-se, receando que Demetria pudesse tropeçar ou
trombar em qualquer coisa, arriscando-se a perder essa “oportunidade”.
—
Se me der licença... Mary torceu o tornozelo hoje e é obrigada a ficar em
repouso, com o pé para cima, por isso não pode vir até Demetria. Então vou
levá-la até a sala em que ela está. Não se preocupe, tenho certeza de que as
meninas vão se dar muito bem enquanto você ajuda lady Devereaux.
Aparentemente,
Taylor não havia se dado conta do comentário feito pela primeira vez,
perguntando em tom de incerteza:
—
Lady Devereaux precisa de ajuda?
—
Preciso, sim — lady Devereaux confirmou. — Disseram-me que você tem um gosto incrível...
Demetria
não conseguiu ouvir o resto. Lady Mowbray apressou-se em afastá-la dali e
conduziu-a até um hall. Ela a acompanhou em silêncio, sem saber o que dizer.
Não conhecia lady Mowbray, nem tinha a mínima idéia do que estava acontecendo.
Safar-se das garras de Taylor não era tarefa fácil, especialmente depois de ser
pega no jardim de Prudhomme. Mas tudo aquilo havia sido muito bem armado.
—
Chegamos — anunciou alegre a mãe de Joseph, abrindo a porta de um salão e
fazendo-a entrar. — Demetria, apresento-lhe Mary — disse lady Mowbray ao fechar
a porta. — Mary, esta é lady Demetria Lovato.
Demetria
procurou ambientar os olhos ao novo ambiente, fixando-os no vulto rosa que
estava sentado próximo à lareira, e sorriu ao ser apresentada.
—
Olá, Demetria. É muito bom conhecê-la.
Demetria
sorriu novamente, confusa ao constatar que o propósito de lady Mowbray era de
fato apresentá-la à irmã de Mikey. Procurando disfarçar o desapontamento, ela
disse:
—
Sinto muito o que aconteceu com seu tornozelo.
—
Oh, não se preocupe, está tudo bem com ele — Mary retrucou alegre. — Preciso
fingir que está torcido somente por esta noite. Amanhã de manhã ele estará
milagrosamente curado.
Demetria
arregalou os olhos e não conseguiu disfarçar cara de espanto, preocupando-se
com a impressão que estaria causando.
Pelo
riso espontâneo de lady Mowbray, ela, sem dúvida, achara graça e, postando-se a
seu lado, esclareceu:
—
O problema de Mary foi inventado um pouco antes de virmos para o baile, quando
Joseph me pediu ajuda para afastá-la de sua madrasta. Ele achou que Taylor
dificultaria que vocês se vissem.
—
E a senhora concordou em ajudá-lo? — Demetria perguntou, incrédula.
Já amei a mãe do Joseph ajudando eles!!!
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