Demi
tinha apenas uma vaga ideia do que se passava ao seu redor. Após aquele
primeiro mergulho no esquecimento, percebeu estar sendo carregada para dentro
de um carro. Ouviu a voz preocupada de Joseph murmurando-lhe palavras ao
ouvido, mas se fechou em seu íntimo para tudo que vinha daquele homem.
Quando
despertou outra vez, se encontrava deitada em uma cama. Olhando ao redor, reconheceu
onde estava e, com isso, foi invadida por uma nova onda de agonia, quente como uma
lava, que lhe percorreu todo o corpo e lhe tirou o ar.
Joseph
não seria capaz. Certamente não poderia ser tão cruel a ponto de trazê-la para
o lugar em que viveram e do qual a expulsara.
Esperou
pelas lágrimas, mas curiosamente tudo que sentia era um estranho distanciamento,
um vácuo sem fundo, com a necessidade de sair daquele lugar.
Quando
se sentou, o olhar se fixou em uma cadeira, próxima à janela, onde Joseph estava
adormecido. Encontrava-se tombado sobre o braço da cadeira, com a roupa amarfanhada
e a barba de um dia lhe escurecendo a mandíbula.
Demi
esperou pelo acesso de raiva, de fúria, porém mais uma vez, tudo que sentiu foi
um entorpecimento sufocante e a necessidade de escapar.
Levantou-se
da cama, sem perceber as próprias roupas amassadas. Ocorreu-lhe que deveria trocá-las,
mas não poderia arriscar acordar Joseph. Não. Precisava sair dali. Não poderia encará-lo
sabendo que ele lhe fizera tão terríveis acusações e depois a deixara à mercê
dos sequestradores.
O
polegar roçou a argola fina do anel de noivado e ela o retirou com um movimento
brusco.
O
metal era frio contra a palma de sua mão. Com um movimento suave, ela o pousou
sobre o criado mudo, girou e saiu.
Com
os pés descalços, se encaminhou ao elevador. Sentia o estômago revirar enquanto
revivia a noite em que entrara naquele elevador, com o mundo desmoronando ao
seu redor e as acusações de Joseph reverberando em seus ouvidos. Como ele fora
capaz? Aquele era o único pensamento que espiralava em sua mente até fazê-la
ter vontade de gritar para dispersá-lo.
Quando
alcançou o saguão, estacou, percebendo que não só o pessoal da segurança de
Joseph
estaria guardando a entrada da frente como o porteiro também não a deixaria
sair naquelas condições.
Demi
girou e se encaminhou, apressada, à entrada dos fundos. Para seu
desapontamento, um dos homens que ela reconheceu como pertencente ao
destacamento de Joseph se encontrava a postos. Rapidamente, desviou para a
entrada de serviço e cruzou o corredor que levava à lavanderia e à sala de
manutenção. Minutos depois, Demi abriu uma porta e saiu para a luz pálida que
prenunciava o amanhecer.
Joseph
acordou com a sensação de um monstro grudado em seu pescoço e mudou deposição
na cadeira pequena para aliviar o desconforto. Quisera passar a noite com Demi
em seus braços, mas mesmo entorpecida, ela resistira a cada toque seu, se
mostrando incomodada até que não lhe restasse outra alternativa, a não ser
deixá-la sozinha na cama.
Acatara
o conselho do médico que estava no hotel e telefonara para uma terapeuta assim que
retornara para o apartamento com Demi. Marcara uma sessão para aquela manhã.
Esperava
apenas que ela estivesse em condições para iniciar a terapia.
Quando
o olhar de Joseph se fixou na cama e a viu vazia, se levantou da cadeira de um salto.
Começou a se precipitar para fora do quarto, mas o brilho de algo sobre o
criado mudo lhe atraiu a atenção. Quando constatou que se tratava do anel de
noivado, a garra do medo lhe apertou o peito. Sem esperar mais nada, disparou
pelo apartamento, procurando de cômodo em cômodo, com pânico crescente. Demi não
se encontrava em lugar algum.
Enquanto
entrava no elevador, retirou o celular do bolso e começou a discar. Quando chegou
ao saguão, correu em disparada, quase colidindo com Stavros.
Joseph
segurou o homem pelo colarinho e o puxou para perto.
–
Onde ela está?
O
segurança pestanejou várias vezes surpreso.
–
Nós não a vimos, senhor. Nenhum de nós. Ela estava com o senhor.
Joseph
o empurrou para o lado com um xingamento violento.
–
Ela fugiu. Chame todos os seus homens. Quero que a encontrem imediatamente – dizendo
isso, se encaminhou à entrada para questionar o porteiro, mas o homem parecia
tão perplexo quanto os seguranças.
Quando
girou, Joseph se deparou com vários membros da equipe de sua escolta reunidos
no saguão, sendo questionados por um Stavros furioso.
Theos!
Para onde ela poderia ter ido? Demi não estava em condições de vagar por Nova York
e as pessoas que a sequestraram ainda estavam soltas.
A
preocupação lhe comprimia o peito como um trator. Girou, decidido a sair para
procurá-la pessoalmente, quando viu Kevin entrar.
–
Joseph – disse ele em saudação. – Estava subindo para visitá-lo. Como está Demi?
–
Ela fugiu – respondeu Joseph com semblante austero.
Kevin
ergueu uma das sobrancelhas.
–
Fugiu? Mas como?
–
Não sei – retrucou Joseph frustrado. – Desapareceu. Tenho de encontrá-la.
Kevin
colocou a mão no ombro de Joseph e o segurou firme.
–
Nós a encontraremos.
–
Há algo estranho nesta situação – disse Joseph com voz fraca. – Algo que não
faz sentido. Não consegui ver nenhum sentimento de culpa estampado no rosto de Demi
quando ela recuperou a memória. Apenas uma completa devastação, como se tivesse
sido ela a ser traída. Ficou tão perturbada que teve de ser sedada e, mesmo em
seu torpor, se mostrava extremamente irritada. Demi não está em seu normal.
Tenho medo do destino que ela tenha tomado. Seu estado mental está alterado.
–
Eu o ajudarei – Kevin afirmou em tom de voz tranquilizador. – Não se preocupe.
Nós a encontraremos.
Demi
estremeceu quando se sentou no banco de pedra frio e abraçou o corpo trêmulo.
Baixou
o olhar aos próprios pés, mas não conseguia se repreender por ter saído no frio
sem sapatos ou casaco. Seu único pensamento era se afastar o mais rápido
possível. Não poderia encarar Joseph naquele momento.
Agora
sabia por que fora atraída para aquele lugar. Seu ponto de reflexão. Horas
antes daquela noite fatídica, havia se sentado ali, temendo a reação de Joseph à
sua gravidez. E tinha razão em temer. Ele não acreditava nela. Não a amava.
Abandonara-a à própria sorte com os sequestradores.
Demi
se recusava a permitir que as lembranças lhe voltassem à mente. Eram muito dolorosas.
Ao menos agora percebia por que escolhera esquecer. Todas aquelas semanas convivendo
com o medo enquanto seus sequestradores esperavam que lhes atendessem as exigências
haviam empalidecido comparadas à traição de Joseph recusando-se a atendê-las.
Como
alguém podia ser tão frio? Não seria capaz de pagar uma quantia ínfima em dinheiro
para soltar qualquer pessoa? Até mesmo um completo estranho? Nunca imaginara
que ele fosse tão desalmado.
Entretanto
aquele homem a mantivera à margem de sua vida, sem um mínimo de consideração.
Fora apenas amante dele. Alguém com quem ele saciava sua luxúria e nada mais.
Tola fora ela em se apaixonar por Joseph. Não uma, mas duas vezes.
Um
gemido fraco lhe escapou dos lábios e Demi fechou os olhos quando a dor a
assolou mais uma vez. Nunca se sentira tão ferida, tão completamente perdida.
As
mãos se fecharam em torno do abdômen abaulado e lágrimas que ela julgara
congeladas começaram a lhe rolar pelo rosto.
Como
Joseph fora capaz de uma farsa tão desprezível? Deveria saber que em algum momento
ela recuperaria a memória e, ainda assim, passara semanas a cortejando, fazendo
com que se apaixonasse por ele outra vez. Fingindo lhe ter afeição. E paixão. A
pergunta era: por quê?
Teria
sido aquilo uma teia milimetricamente urdida para puni-la? Para fazê-la sofrer
ainda mais? Nunca imaginara que Joseph pudesse ser tão cruel, mas aquilo
provava apenas o pouco que conhecia do homem a quem se entregara.
Demi
permaneceu lá, balançando-se para a frente e para trás. Os braços envolvendo o abdômen
em um gesto protetor. O vento se tornou mais intenso, fazendo um arrepio lhe percorrer
a espinha, mas ela ignorou o desconforto.
–
Demi?
O
nome foi dito com certa cautela e soou distante. Quando ela ergueu o olhar, um
homem se encontrava parado a alguns metros de distância, com olhar preocupado. Demi
o reconheceu.
Kevin.
Não era de se admirar que ele tivesse sido tão resistente à ideia de Joseph se casar
com ela. Julgava-a uma ladra, assim como o irmão. Aquilo era mais do que podia suportar.
Demi
abraçou o próprio corpo com mais força ainda e baixou o olhar, determinada a esconder
as lágrimas.
Kevin
se agachou diante dela e pousou uma das mãos em seu punho.
–
Preciso levá-la de volta, pedhaki mou. Não é seguro para você ficar aqui fora –
disse ele com voz suave.
Demi
se encolheu diante do tratamento carinhoso. Aquele era o apelido que Joseph usava
para se referir a ela e não queria mais escutá-lo. Ela negou com um gesto de
cabeça e ergueu a mão como se estivesse se protegendo.
Kevin
baixou o olhar aos pés descalços de Demi e xingou baixo.
–
Está frio e não deveria ter saído descalça. Deixe-me levá-la de volta para
casa.
Demi
se encolheu com um movimento brusco.
–Não
– disse, balançando a cabeça vigorosamente. – Não quero voltar para lá
–acrescentou, deslizando pelo banco de pedra. A superfície áspera atritando com
o tecido da roupa.
Kevin
esticou a mão para impedir que ela escapasse.
–
Pense no bebê. Deixe-me levá-la de volta. Você está fria.
–
Não voltarei para aquele apartamento – disse ela desesperada, levantando-se,
pronta para sair em disparada.
Kevin
a encarou com olhar tristonho.
–
Não posso permitir que fuja. Você está obviamente perturbada e não está
agasalhada.
Os
olhos azuis se encheram de lágrimas.
–
Por que se importa? Eu o roubei, lembra-se? Sou apenas a vagabunda que armou
uma cilada para o seu irmão e tentou destruir sua empresa – disse ela
amargurada.
O
olhar de Kevin suavizou.
–
Se eu prometer não a levar de volta ao apartamento, virá comigo? Não posso
deixá-la aqui desse jeito.
Demi
oscilou e ele a segurou quando seus joelhos cederam. Kevin a ergueu nos braços
e se afastou dali.
Demi
sentiu o corpo todo tenso.
–
Por favor, deixe-me em paz – suplicou.
–
Não posso fazer isso, irmãzinha.
–
Sou apenas a prostituta do seu irmão – disse ela, permitindo que uma nova onda
de angústia a invadisse.
Kevin
a segurou ainda mais firme.
–
Theos! Nunca mais repita isso.
Demi
girou o rosto, recostando-o ao ombro largo, enquanto grossas lágrimas lhe banhavam
os olhos. Ela os fechou e se permitiu flutuar mais uma vez para a
inconsciência. Era tão fácil fugir da realidade quando havia tanto do que
queria escapar. Amaldiçoou o momento em que recobrou a memória. Aquilo a havia
destruído.
desculpem demora, hoje nao estou muito legal (leia-se doente), mas ai esta.
e agora o que sera que vai acontecer com esses dois?
bom é isso bjemi
Eita Jeová tadinha da Demi
ResponderExcluirJoseph super escroto e Kevin to com raiva dele também, mas ela realmente precisa de ajuda agora entoa a gente alivia
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