Joseph
desligou o telefone com uma carranca e se inclinou para trás na cadeira de couro.
Tinha
de retornar a Nova York. Nick lhe telefonara com aquela notícia minutos atrás,
e
Joseph
a recebeu com um incômodo que lhe era incomum. Pior, tivera de informar Nick e Kevin
que outro projeto deles havia sido roubado.
Os
dois se mostraram furiosos com Demi, o que era compreensível. Como reagiriam quando
soubessem que ele estava resolvido a se casar com ela o mais rápido possível?
Joseph
se encontrava dividido entre o desejo que Demi o acompanhasse e a vontade de
mantê-la protegida naquela ilha. Distante de qualquer chance de ela recuperar a
memória.
Alheia
às críticas e à animosidade dos irmãos.
O
prenúncio de uma dor de cabeça o atormentava enquanto considerava o egoísmo
daquele pensamento. Porém, sabia que quando Demi recuperasse a memória, fato
que os médicos o asseguraram de que aconteceria, tudo mudaria entre os dois.
Ainda
deveria estar furioso com Demi e se esforçando para manter a distância entre os
dois, mas ela lhe minara a resistência durante aquele tempo que passaram na
ilha. Por mais que aquilo o envergonhasse, não importava mais se Demi mentira e
roubara a empresa.
Queria
que tudo permanecesse como estava, e, se ela recobrasse a memória, seriam
forçados a encarar os fatos do passado.
E
provavelmente a perderia.
Aquilo
o incomodava mais do que deveria. Demi estava esperando um filho seu, disse a
si mesmo, e aquela devia ser razão suficiente para não desejar que as coisas
azedassem entre os dois.
O
tempo que passara ali com Demi o remetera aos momentos que desfrutavam, juntos,
antes da noite em que descobrira sua traição. Naquela época tinha como certa a
presença de
Demi
em sua vida e por isso não parava para avaliar a importância dela, mas agora
sabia o quanto gostaria de encontrá-la em casa quando retornasse de um dia de
trabalho.
Demi
era divertida e descontraída. Terna e amorosa. Todas as características que desejara
para a mãe de seus filhos.
Entretanto
ela o traíra. E tudo sempre voltava a esse ponto, não importava o quanto
quisesse esquecer.
–
Joseph?
O
chamado suave o fez erguer o olhar para se deparar com Demi parada à porta, com
a mão sobre o batente, enquanto espiava lá dentro. No mesmo instante, ele
varreu os pensamentos sombrios da mente, esperando aparentar menos macambúzio
do que se sentia. O clima entre eles ficara tenso e pesado desde a visita de Taylor
à ilha. Algo que ele lamentava, mas que nada podia fazer para remediar quando
ainda tinha dúvidas e inseguranças em relação a Demi.
–
O que é, pedhaki mou?
–
Você está bem? – Ela deixou a mão pender e entrou no escritório com passos
hesitantes.
Joseph
concluiu que não soubera disfarçar e expressão desgostosa.
–
Venha cá. – Estendeu a mão e a puxou para sentá-la no colo. – Tenho de retornar
a Nova York.
Uma
sombra escureceu o semblante de Demi.
–
Quando?
–
Pela manhã. Meu irmão telefonou com a notícia de que uma pessoa influente que
estamos cortejando para o projeto de um novo hotel estará em uma recepção
oferecida em nosso hotel de Nova York. Nick e Kevin pensaram em resolver o
assunto, mas o homem quer se reunir com os três. É algo que não posso faltar.
Demi
parecia desapontada e, apesar da insatisfação de vê-la de volta a Nova York que
ainda persistia em sua mente, descobriu-se dizendo:
–
Poderia me acompanhar.
O
olhar de Demi se iluminou.
–
Não seria um estorvo?
Joseph
franziu a testa.
–
Você nunca é um estorvo, agape mou. Acho que será bom. Poderíamos anunciar
nossos planos de casamento. Meus irmãos vão querer conhecê-la – disse ele, mais
animado. –Poderíamos até mesmo nos casar em Nova York com minha família
presente e depois retornar para cá. – Na mente de Joseph quanto mais cedo se
casassem, melhor. – Providenciarei para que o Dr. Karounis retorne a Atenas.
Acho que não precisamos mais dele.
O
sorriso de Demi se alargou.
–
E Patrice? Não que eu não goste dela, mas me parece que Patrice e o Dr.
Karounis parecem estar se dando muito bem. Talvez ela queira fazer uma viagem
até Atenas.
–
Estenderei o convite a ela. – Joseph concordou com um sorriso.
–
Então, sim, adoraria ir. – Demi envolveu o pescoço largo com os braços e se
apossou dos lábios sensuais com um beijo ousado. Porém, antes que Joseph
pudesse aprofundar o beijo, ela se ergueu. – Tenho de fazer a mala!
Joseph
soltou uma risada baixa e lhe segurou a mão.
–
Tem muito tempo para isso.
Ainda
assim, saiu apressada, e Joseph se deteve a observá-la, muito tempo depois de ela
desparecer pela porta. Devia estar se sentindo aliviado pelo fato de que, em
breve, estariam casados, e Demi estaria unida a ele, mas não conseguia se
livrar da sensação incômoda que o assombrava.
O
jato de Joseph tocou o solo de Nova York no fim da tarde e uma limusine os aguardava
esperando quando saíram do avião. Um homem alto, de aparência estonteante,
parado ao lado do carro e, à medida que se aproximaram, Demi percebeu a semelhança
entre ele e Joseph.
–
Kevin. – Joseph chamou. – Não esperava encontrá-lo aqui. Que surpresa!
Kevin
exibiu um meio sorriso.
–
Não posso recepcionar meu irmão?
Joseph
envolveu a cintura de Demi com um dos braços e a impulsionou para a frente.
–
Kevin, esta é Demi. Demi este é meu irmão mais novo, Kevin.
–
Prazer em conhecê-lo – disse ela com um sorriso nos lábios.
O
olhar do homem pousou impassível sobre ela, mas ele não lhe retribuiu o
sorriso.
Lentamente
a expressão de Demi se fechou ao perceber o olhar nada amistoso de Kevin e, em
um gesto instintivo, se encolheu contra Joseph.
Em
seguida, o irmão baixou o olhar ao anel de noivado que ela ostentava no dedo e
franziu a testa. Voltou a encarar Joseph com a mandíbula contraída.
–
Seja cortês – disse Joseph em um tom de voz muito baixo, embora ela conseguisse
captar a aspereza que permeava aquelas palavras.
–
Prazer em conhecê-la – Kevin retrucou em um tom tenso, embora sua linguagem
corporal dissesse o contrário. Em seguida, girou nos calcanhares e caminhou na
direção de outro carro que se encontrava estacionado a uma curta distância.
Demi
ergueu o olhar para Joseph atordoada.
–
O que significou aquilo?
–
Não foi nada, pedhaki mou. Desculpe se meu irmão foi rude. Não voltará a
acontecer.
–
Mas por que ele foi rude? – O comportamento de Kevin a deixara perplexa. E
então, outro pensamento lhe ocorreu. – Nós já nos conhecíamos? Provavelmente,
sim, ele é seu irmão. Fiz alguma coisa que o ofendeu no passado? Ele sempre
antipatizou comigo?
Joseph
se apressou em acomodá-la no carro e se sentar ao lado dela.
–
Vocês não se conheciam. Não tem de se preocupar se fez algo errado. Esse é o
jeito de
Kevin.
– Joseph soava ansioso e ela estreitou o olhar diante do que considerou uma mentira.
Quando
o celular de Joseph tocou, ele se precipitou em atender. Demi comprimiu os lábios
e refletiu em silêncio. Algo estava errado. Por que Kevin demonstraria aversão instantânea
a ela? E por falar nele, por que nunca o vira antes? Não seria normal ter
conhecido a família do homem com quem iria se casar, o pai de seu filho?
Demi
se inclinou para trás no banco e deixou escapar um suspiro frustrado. Enquanto estivesse
em Nova York pretendia buscar respostas e talvez tentar deslocar o bloco de cimento
que parecia lhe tapar a mente. Deveria haver uma forma de libertar sua memória.
E se houvesse, ela a encontraria. De preferência, antes de se casar.
Contudo,
ainda havia surpresas desagradáveis a aguardando quando chegaram à cobertura.
Demi
quase rosnou de frustração quando as portas do elevador se abriram e avistou Taylor.
Estaria
fadada a encontrar aquela mulher em sua casa a todo o momento?
A
assistente de Joseph exibiu um sorriso caloroso de boas-vindas, e Demi não pôde deixar de notar que se destinava
apenas ao patrão. Ela permaneceu ao lado de Joseph enquanto Taylor relatava a
programação das reuniões, os telefonemas que precisava retornar e os contratos
que necessitavam de sua atenção. Não recuaria entregando a vitória àquela mulher,
implícita ou não.
Taylor
falava em tom de voz baixo e sensual, tocando o braço do patrão com frequência.
Soltou
uma risada rouca diante de algo que ele lhe disse, durante todo o tempo
ignorando a presença de Demi. Tinha de admitir que aquela mulher era ousada. Se
não estivesse grávida, teria considerado seriamente a possibilidade de
arrastá-la para fora da cobertura pela orelha.
Uma
cena divertida em nível de fantasia, mas Joseph ficaria horrorizado.
Demi
suspirou mesmo enquanto a imagem da bela e penteada mulher sendo banida do apartamento
a divertia consideravelmente.
Por
fim, Taylor se preparou para partir, e os ombros de Demi relaxaram, aliviados.
Porém,
quando as portas do elevador se abriram para ela entrar, outro homem, também bastante
parecido com Joseph, também entrou.
Demi
teve vontade de perguntar quantas pessoas tinham passe livre ao recesso do lar
dos dois, mas mordeu o lábio.
–
Ao que parece, nosso apartamento está parecendo uma porta giratória hoje –
disse
Joseph,
fazendo-a imaginar se ele havia lido sua mente.
Embora
a desaprovação de Kevin tivesse sido algo mais sutil, não havia dúvidas sobre a
opinião do outro irmão sobre ela. Ele escancarou uma carranca quando lhe foi
apresentado como sendo Nick.
–
Preciso falar com você se não se importa, Joseph – disse o belo homem com a mandíbula
contraída.
–
Não os incomodarei – retrucou Demi, virando e se dirigindo ao quarto, farta da recepção
fria que recebera.
Mesmo
enquanto fechava a porta, podia ouvir as vozes alteradas e o tom irritado de
Joseph.
Hesitou por um instante, imaginando se devia escutar a conversa. Queria ouvir
de fato o que estavam dizendo? Com um suspiro, Demi girou para observar o
quarto que Joseph lhe designara depois que tivera alta do hospital. Sem saber o
que fazer, retirou os calçados e se sentou na cama. A viagem não havia sido
estafante, mas a ideia de se encolher debaixo das cobertas a atraía. A cabeça
começava a latejar pela tensão e se conseguisse cochilar por algum tempo,
talvez se sentisse melhor. E talvez, quando acordasse, não houvesse mais
ninguém no apartamento.
Quando
Demi despertou, se encontrava em outra cama. Pestanejou para dispersar a névoa provocada
pelo sono e percebeu que estava no quarto de Joseph. Espreguiçou-se e ficou feliz
por não sentir mais a pressão na cabeça.
Sentou-se
e viu Joseph parado na outra extremidade do quarto, observando-a. Por alguma
razão, Demi se sentiu insegura naquele momento.
–
Devia estar mais cansada do que pensei – disse ela em tom de voz leve. – Não
acordei quando você me transferiu para cá.
–
Você dormirá no nosso quarto, na nossa cama.
Demi
pestanejou várias vezes.
–
Está bem. Apenas não pensei. Foi naquele quarto que fiquei antes.
Joseph
fechou a distância que os separava e se sentou na cama ao lado dela.
–
Seu lugar é aqui. Comigo.
Demi
inclinou a cabeça para o lado. Tinha a nítida impressão de que ele não se
referia apenas ao fato de ela ter se deitado em outro quarto. Era quase como se
ele a estivesse convencendo, e aos outros, de que seu lugar era ao lado dele.
–
Seus irmãos não me aprovam – disse ela em tom de voz baixo.
A
expressão de Joseph se tornou pétrea.
–
Meus irmãos não têm de opinar em nosso relacionamento. Anunciarei nosso casamento
na recepção daqui a duas noites, e nos casaremos dentro de uma semana.
E
estava dito, pensou ela. A lei instituída por Joseph Jonas.
Inclinando-se,
ele a beijou.
–
Por que não se veste? Vamos sair para um belo jantar.
–
Lagosta? – perguntou esperançosa, e só então se deu conta do que dissera. – Os
olhos azuis se arregalaram pelo excitamento. – Lagosta! Eu me lembro de que
lagosta é meu prato preferido.
Exibindo
um sorriso tenso, ele a beijou outra vez.
–
Exatamente, pedhaki mou. Costumava pedir para que entregassem a comida aqui e sentávamos
nus na cama para comê-la.
Demi
corou até a raiz dos cabelos, mas tinha de admitir que a imagem era tentadora.
Joseph
a ajudou a se levantar e ela se encaminhou ao toalete para tomar um banho e
trocar de roupa. Trinta minutos depois, ele a guiou ao elevador e para fora do
prédio, na direção do carro que os aguardava. Joseph a levou a um restaurante
elegante, e os dois se sentaram em um canto aconchegante, destacado do salão de
jantar principal. A iluminação era frouxa e a fazia se lembrar do Natal. Uma
doce nostalgia a envolveu enquanto se recordava do quanto amava aquele feriado.
Dentro
de mais um mês, as decorações começariam a ser montadas e muitas lojas e restaurantes
estariam brilhando com as luzes e azevinhos. Um sorriso sonhador lhe curvou os lábios
enquanto imaginava passar o Natal ao lado de Joseph.
–
Parece perdida em pensamentos, agape mou. Com esse doce sorriso estampado no
rosto, espero que seja eu a ocupar seus pensamentos.
Demi
ergueu a cabeça para descobrir aqueles olhos dourados a estudando. A pele cor
de bronze acentuada pelas luzes das velas.
–
Estava imaginando como será passar o Natal ao seu lado. Estava me lembrando do
quanto eu gostava dessa época.
–
Suas lembranças parecem estar voltando – disse ele, embora não houvesse nenhuma
alegria em seu tom de voz.
Os
lábios de Demi se curvaram em um sorriso tristonho.
–
Não tão rápido. Apenas um lampejo aqui, outro ali. Parece mais intuição do que propriamente
lembrança.
–
Sua memória voltará. Tem de ser paciente.
Demi
anuiu, mas podia sentir a frustração a dominando. Determinada a não estragar o resto
da noite, forçou-se a relaxar e aproveitar a comida excelente e o fato de estar
com
Joseph.
Sem interferências dos membros da família ou da assistente.
–
Gostaria de fazer compras amanhã? – perguntou ele.
Demi
pestanejou, surpresa, diante da mudança brusca de assunto.
–
Tenho uma reunião amanhã bem cedo, mas depois poderíamos almoçar juntos e
comprar os itens de que necessitará para a recepção. Pode procurar um vestido
de noiva também.
Demi
não conseguia conjurar a imagem de Joseph fazendo compras e tinha certeza de que
não encontraria nenhum momento como aquele mesmo que gozasse de plena memória.
Ele simplesmente não era o tipo de homem de fazer compras.
–
Tem certeza de que quer me levar com você?
Joseph
ergueu uma das sobrancelhas.
–
Como estou planejando anunciar nosso casamento, seria estranho que você não
estivesse lá. A menos que não queira ir.
–
Não se trata disso. Adoraria ir. Apenas não tinha certeza de que… – Demi deixou
a frase morrer determinada a não se aprofundar no assunto.
–
Então, está decidido. Vamos fazer compras amanhã, depois de alimentá-la adequadamente.
Demi
exibiu um sorriso.
–
Do jeito que fala, me faz parecer um bichinho de estimação.
Um
sorriso lento e sexy curvou os lábios sensuais.
–
Gosto da ideia de você ser meu bichinho de estimação. Meu exclusivo e mimado
bichinho de estimação – disse ele com voz rouca.
Um
calor varou o corpo de Demi como a descarga de uma corrente elétrica. Ela engoliu
em seco e tomou um gole da água em uma tentativa de abrandar aquele
formigamento quente.
E
então, Joseph soltou uma risada e o som trouxe à vida cada terminação nervosa
do corpo de Demi.
–
Vejo que também gostou da ideia.
Corando,
ela baixou a cabeça.
–
Gosto da ideia de ser qualquer coisa sua – afirmou com sinceridade.
Joseph
esticou o braço sobre a mesa e lhe segurou os dedos.
–
Você é minha, agape mou. Pode ter certeza.
–
Então, leve-me para casa e faça amor comigo – sussurrou ela.
algo me diz que essa paz logo acaba,
olha eu sinceramente quero que chega o momento que ele vai se ferrar bonito a ponto de se odiar
só digo que irei chorar quando chegar esse momento, sempre choro quando leio pois é
bjemi