Os
raios de sol que incidiam no quarto envolviam a cama em um calor aconchegante,
onde Demi se encontrava deitada. Ela abriu os olhos, mas no mesmo instante
escondeu o rosto sob as cobertas. Tateou à procura de Joseph, mas encontrou
apenas o lugar que ele ocupara vazio.
Com
a testa franzida, sentou-se na cama e olhou ao redor, mas ele não se encontrava
em lugar algum. O ruído inconfundível do helicóptero lhe chamou atenção,
fazendo-a se levantar e caminhar até a janela.
Joseph
se encontrava parado com Taylor a uma curta distância do helicóptero, tocando-lhe
o braço com uma das mãos. A mulher anuiu e, logo depois, se encaminhou ao helicóptero
com o corpo inclinado para a frente. Demi não pôde evitar o suspiro de alívio.
Observou
por mais um instante, antes de virar-se e se apressar na direção do toalete.
Tomou
uma ducha rápida, envolveu o corpo com o robe e voltou ao quarto para se
vestir.
Joseph
a aguardava.
Demi
o encarou com expressão nervosa, ajustando o robe ao corpo.
–
Eu a deixarei à vontade para que se vista – disse ele, conciso. – Enviarei a Srta.
Cahill para acompanhá-la pela escada dentro de meia hora.
Sem
dizer mais nada, Joseph se retirou do quarto, deixando-a boquiaberta. Uma pontada
de dor lhe percorreu a espinha. Ele agira como se mal pudesse esperar para se
afastar dela. Depois da noite anterior, certamente aquele não era o tipo de comportamento
que Demi esperava.
E
enviar Patrice para acompanhá-la? Se estava tão determinado a não permitir que
ela descesse a escada sozinha, então devia ao menos realizar a função
pessoalmente, em vez de atirá-la aos cuidados da enfermeira como se ela fosse
uma tarefa indesejada.
Curvando
os ombros, Demi entrou no closet para escolher uma roupa. Tinha preocupações suficientes
sem ter de acrescentar um homem mal-humorado e rabugento a elas. Qualquer que fosse
o motivo para aquele estado de espírito, ele podia muito bem superá-lo.
Todas
as sensações cálidas e flutuantes da noite de amor evaporaram enquanto Demi deixava
o quarto. Não ficaria parada como um cachorro obediente, esperando as ordens do
dono. Era ridícula a insistência de Joseph em que a ajudassem a transitar por
escadas como se ela fosse uma criança.
Demi
havia descido metade dos degraus quando viu Joseph parado ao sopé da escada com
a mandíbula contraída e a raiva faiscando no olhar. Ela hesitou por um
instante, mas apertou o corrimão e continuou a descer.
Desafiá-lo
em algo tão insignificante a fazia parecer infantil e um pouco mesquinha, mas
no momento não se importava nem um pouco em irritá-lo.
Sustentou-lhe
o olhar, desafiadora enquanto descia os últimos degraus. Os lábios de Joseph se
apertaram em uma linha fina, mas ele nada disse. Segurando-lhe o cotovelo com uma
das mãos, a guiou à mesa do café da manhã, mas Demi se soltou e caminhou à
frente dele.
Fizeram
a refeição em silêncio, embora ela não pudesse afirmar que comera alguma coisa.
Mexia
as frutas no prato com o garfo e tomava goles mecânicos do chá, mas o silêncio
pétreo em que Joseph se encontrava a fazia ter vontade de sair correndo.
Em
vários momentos, Demi abriu a boca para lhe perguntar qual era o problema, mas
a cada vez algo na expressão daquele homem a mantinha em silêncio. Por fim, ela
desistiu de fingir que estava comendo e afastou o prato para o lado.
Joseph
ergueu o olhar com a testa franzida em desaprovação quando percebeu a comida ainda
no prato de Demi.
–
Precisa se alimentar.
–
É difícil ter apetite com uma nuvem negra pairando sobre a mesa do café da
manhã – retrucou ela com voz tensa.
Os
lábios de Joseph se comprimiram e os olhos faiscaram. Dava a impressão de que iria
responder, mas naquele momento ela ouviu o ruído do helicóptero se aproximando.
–
Esta ilha está parecendo um aeroporto esta manhã – resmungou ela.
Joseph
se ergueu e atirou o guardanapo sobre a mesa.
–
Deve ser o joalheiro. Retornarei dentro de um instante.
Joalheiro?
Demi o observou se afastar, com a mente repleta de questionamentos. Para que diabos
ele precisava de um joalheiro? Inclinou-se para trás na cadeira com um suspiro,
imaginando onde estaria Patrice e o Dr. Karounis. Ao menos na presença deles,
não teria de enfrentar o silêncio tempestuoso de Joseph.
Demi
se ergueu e olhou ao redor por um instante, antes de finalmente decidir se
aventurar para fora da casa. O sol parecia quente e convidativo e ainda não
vira nenhuma parte da ilha à luz do dia. Saiu para o terraço e no mesmo
instante fechou os olhos, apreciando a brisa suave do mar que lhe soprou o
rosto. Era fria, mas não de forma desconfortável, e a luz do sol deixava um
rastro aquecido em sua pele enquanto procurava pelo caminho de pedra que levava
à praia.
Quanto
mais se afastava da casa, mais o caminho se tornava arenoso. Demi retirou as sandálias,
imaginando como seria a sensação da areia aquecida sob os pés.
Ao
final do caminho, havia um declive curto na direção da praia. Quando desceu, os
pés se enterraram nos grãos macios, fazendo com que seus lábios se curvassem em
um sorriso prazeroso.
As
ondas recuaram e ela se aventurou em direção à espuma espalhada sobre a areia
úmida à margem da água. O mar tinha um tom de azul que lhe tirou o fôlego.
Paraíso. Aquilo era simplesmente o paraíso. E pertencia a Joseph.
O
vento lhe ergueu os cachos da nuca, atirando-os contra seu rosto. Após várias
tentativas de colocar as mechas desobedientes para trás das orelhas, Demi soltou uma risada e desistiu, deixando-as ao
sabor do vento. Arriscou um olhar na direção da casa, mas não viu ninguém se
aproximando e continuou a caminhar pela praia, na margem da água. O som das ondas
que estouravam a acalmava e logo a tensão em seus ombros começou a abrandar.
Sentia-se
em paz naquele lugar, porém mais do que isso, tinha a sensação de estar segura.
Aquela
palavra a assustou, fazendo-a paralisar onde estava, com a testa franzida pela consternação.
Por que não se sentiria segura? Joseph tinha um verdadeiro batalhão de seguranças
que insistia em levar para todos os lugares com eles. Se havia alguém seguro no
mundo, esse alguém era ela.
Contudo,
ainda assim, até aterrissarem naquela ilha, sentia-se inquieta, o pânico sempre
a circundando.
–
Está enlouquecendo – resmungou ela. – Bem, você já perdeu a memória. Talvez a sanidade
seja uma questão de tempo.
Demi
avistou um grande pedaço de madeira entalado em um monte de areia e caminhou naquela
direção. Havia um espaço na extremidade onde a superfície era relativamente
lisa e ela espanou a areia com a mão para se sentar.
Um
suspiro de contentamento lhe escapou dos lábios. Poderia ficar sentada ali
durante horas observando o movimento das ondas e escutando os sons confortantes
do oceano.
Se
estivesse quente o suficiente para nadar, teria ficado tentada a se despir e
entrar na água.
Mas
não tinha ideia onde estariam posicionados todos aqueles seguranças que
mantinham guarda e não estava disposta a lhes proporcionar um show.
Um
movimento em um dos cantos de seus olhos lhe captou a atenção e Demi virou a cabeça
para ver Joseph caminhando pela praia e murmurou um xingamento enquanto ele se
aproximava.
Estacando
diante dela, Joseph a encarou com a testa franzida. Em seguida, comprimiu os
lábios e fez um movimento negativo de cabeça, antes de se acomodar ao lado
dela.
–
Vejo que manterá meus seguranças muito ocupados, pedhaki mou. – Demi deu de ombros,
mas não respondeu. – O que está fazendo aqui? – perguntou em tom suave.
–
Aproveitando a praia. É muito linda.
–
Se eu prometer trazê-la de volta, concordará em me acompanhar até a casa? O
joalheiro está nos aguardando, e ele tem pressa de voltar para o continente.
Demi
lhe relanceou o olhar.
–
Por que chamou um joalheiro e por que temos de nos encontrar com ele aqui? O
normal não seria ir até a loja dele? – Joseph se ergueu, dirigindo-lhe um olhar
arrogante que sugeria que todos costumavam vir até ele e não o contrário. Em
seguida, esticou a mão e Demi a aceitou, resignada. – Você é muito sério –
resmungou ela quando Joseph a ajudou a
se levantar.
–
Vejo que terei de mudar sua opinião sobre mim.
Demi
tentou soltar a mão, quando os dois começaram a se encaminhar de volta para a casa,
mas ele a segurou com força. Quente e, em seguida, frio. Naquele ritmo, nunca conseguiria
entendê-lo. Amnésia ou não, não pôde deixar de se imaginar querendo arrancar os
cabelos por causa daquele homem.
Os
dois se encaminharam à biblioteca, onde um homem mais velho estava dispondo os mostruários
forrados de veludo sobre a mesa de Joseph. Quando entraram, a expressão do joalheiro
se iluminou.
–
Sente-se. – O homem a encorajou, contornando a mesa para segurar a mão de Demi,
levá-la aos lábios e lhe depositar um beijo formal no dorso.
Depois
de acomodá-la em uma das cadeiras, Joseph se sentou ao lado dela, e o joalheiro
se apressou a contornar a mesa outra vez.
Deparada
com anéis estonteantes e uma vertiginosa fileira de diamantes, Demi ofegou e dirigiu
um olhar questionador a Joseph.
–
Eu o chamei aqui para que possamos escolher seu anel – Joseph disse em tom
casual.
Como
se a visita de um joalheiro em sua casa fosse algo corriqueiro.
–
Não estou entendendo – começou ela insegura.
Joseph
lhe ergueu a mão esquerda, pressionando os lábios sobre os dedos delicados.
–
É importante para mim que use uma aliança. Ainda não tínhamos escolhido uma
quando você teve seu… acidente. Quero consertar isso.
–
Ah! – No quesito respostas, aquela não era uma das mais brilhantes, mas foi
tudo que Demi conseguiu dizer.
Joseph
a estimulou a desviar a atenção para as joias e assim ela o fez, embora um pouco
nervosa. Aqueles anéis eram tão grandes. E caros! Não queria nem se inteirar do
preço daquelas peças. Após experimentar vários, Demi encontrou um que a
encantou, mas logo imaginou se Joseph não ficaria ofendido com sua escolha.
O
olhar insistia em voltar ao gracioso anel, mesmo enquanto continuava a
experimentar os que o joalheiro tentava lhe impingir.
–
Aquele – disse Joseph, apontando para o anel na extremidade direita.
Para
a surpresa de Demi, o joalheiro pegou aquele que ela estivera admirando e o entregou
a Joseph, que o deslizou por seu dedo. A joia se encaixou com perfeição. Era menor
que os outros e simples, mas combinava com ela. Um solitário de safira que
faiscava a qualquer movimento e, de repente, Demi não queria mais tirá-lo.
–
Você gostou desse – afirmou Joseph.
–
Amei – sussurrou Demi, relanceando o olhar a ele. – Mas, se preferir outro, não
tem problema.
–
Ficaremos com este – disse Joseph ao joalheiro.
Se
o homem ficou desapontado, não demonstrou enquanto dirigia um largo sorriso ao
casal.
Com
treinada eficiência, guardou as demais joias e as colocou em uma caixa que
trancou em seguida. Minutos mais tarde, Joseph o acompanhou ao helicóptero que
o aguardava, mas não sem antes deixar uma ordem austera para que Demi não
saísse do lugar.
Uma
risada abafada escapou dos lábios de Demi quando ele se retirou. Joseph parecia
tão exasperado. Provavelmente estava acostumado com pessoas obedecendo a todas as
suas ordens e permanecendo onde ele determinava. Um pensamento repentino
deixou-a horrorizada. Teria sido uma daquelas pessoas? Certamente não. Podia
ter perdido a memória, mas não havia sido submetida a um transplante de
personalidade.
Com
aquele pensamento em mente, deixou a biblioteca e foi em busca de algo para
comer.
Agora
que sentia o estômago reclamar, se arrependia de não ter comido no café da
manhã.
Antes
que pudesse abrir o refrigerador, ouviu Joseph entrar na cozinha.
–
Por que será que adivinhei que você não estaria onde a deixei? – disse ele.
Demi
girou com um doce sorriso a lhe curvar os lábios.
–
Por que não pediu com educação?
Joseph
deixou escapar uma risada baixa, um som sexy que lhe reverberou pela espinha.
–
Pedi que o helicóptero voltasse dentro de uma hora. Se estiver disposta, pensei
em visitarmos as ruínas pelas quais se interessou e aproveitar para conhecer
outros lugares.
–
Ah, eu adoraria! – Esquecendo a comida e tudo mais, Demi cruzou a cozinha
apressada e se atirou nos braços musculosos, abraçando-o com força.
Joseph
soltou outra risada baixa.
–
Então, estou perdoado por ser muito sério?
Demi
recuou e fez uma careta.
–
Você é bom em me atirar as palavras de volta na cara. Mas, sim, está perdoado.
Deixe-me apenas mudar de roupa.
–
Traga um suéter. Esfriará no fim do dia.
Demi
virou-se, apressada, mas ele a puxou de volta. Ela colidiu com o peito
musculoso e ergueu o olhar para descobrir os lábios sensuais a centímetros dos
seus.
–
Certamente mereço uma recompensa? – murmurou ele.
Demi
umedeceu os lábios, fazendo-o gemer.
–
Suponho que uma pequena recompensa não faria mal algum – retrucou com voz
rouca.
A
boca exigente se fechou sobre a dela e Demi se derreteu no círculo seguro
daqueles braços fortes. Quando Joseph aprofundou o beijo, ela estremeceu e um
gemido fraco lhe escapou da garganta.
Quando
ele interrompeu o beijo, labaredas incendiavam os olhos âmbar.
–
É melhor eu ajudar você a subir a escada para que troque de roupa. Do
contrário, acabaremos não indo a lugar nenhum a não ser para a cama.
Um
sorriso malicioso curvou os lábios de Demi antes de ela se afastar na direção
da escada. Não que tivesse a ilusão de que subiria sozinha e não subiu. Antes
que pisasse no primeiro degrau, Joseph a alcançou.
Enquanto
subiam a escada, ela lhe relanceou um olhar exasperado.
–
Estou perfeitamente apta a subir a escada sozinha. Não sou uma incapaz.
–
Posso ser um homem tolerante, mas não nesta questão.–retrucou ele, arrogante. –
Desculpe,
mas terá de conviver com o fato de que pretendo tomar conta de você.
Demi
revirou os olhos, mas um sorriso lhe ergueu os cantos dos lábios. Era evidente
que ela testava a paciência de Joseph, mas por alguma razão aquilo a divertia.
Enquanto
Demi trocava de roupa, ele a aguardou e, por fim, lhe entregou um suéter. Ela o
pendurou sobre um dos braços e, mais uma vez, Joseph a guiou pela escada e na
direção do heliponto, onde estavam sendo aguardados pelo piloto.
Dentro
de alguns minutos, sobrevoavam o oceano e, pouco depois, aterrissaram em
Corinto.
Um
carro os aguardava e, para a surpresa de Demi, Joseph a acomodou no banco do carona
de um luxuoso carro esporte. Em seguida, contornou o veículo e escorregou para
trás do volante.
–
Eu sei dirigir –disse, conciso, quando ela o encarou um olhar inquiridor.
Demi
soltou uma risada.
–
É que nunca o vi dirigir antes. – Ela franziu a testa quando percebeu o que
dissera. – O que quero dizer é que nunca o vi dirigir desde que…
Joseph
pousou a mão sobre a dela.
–
Eu entendi. Na verdade, não dirijo com muita frequência. Geralmente estou
ocupado com questões de trabalho, mas tenho um carro tanto aqui quanto em Nova
York.
Demi
se acomodou confortavelmente no banco de couro enquanto ele se afastava do aeroporto.
Passaram
a maior parte da manhã caminhando pelas ruínas. Ele lhe explicava a história, mas
Demi estava mais focada no fato de aquele ser um belo dia de outono e de estarem
juntos. Não havia interferência de assistentes irritantes, de médicos,
enfermeiras, chamadas e faxes referentes aos negócios. Aquilo era, para resumir
em uma palavra, perfeito.
–
Não está prestando atenção, pedhaki mou. – A voz bem-humorada de Joseph lhe penetrou
a bruma do contentamento.
Demi
enrubesceu e girou para encará-lo.
–
Desculpe. Estou adorando, de verdade.
–
Está querendo voltar para a ilha? – perguntou ele. – Não a estou exaurindo,
certo? – O divertimento dera lugar à preocupação e, se ela não o dissuadisse da
ideia de que não estava bem, em breve se encontraria enfiada de volta no
helicóptero e aquele dia perfeito chegaria ao fim.
–
Conte-me sobre sua família. Nunca os mencionou. Suponho que a informação seja redundante,
mas como não me recordo de nada, talvez pudesse fazer minha vontade.
–
O que gostaria de saber? – perguntou ele.
–
Qualquer coisa. Tudo. Seus pais ainda estão vivos? Não comenta nada sobre eles.
Um
lampejo de dor varou os olhos dourados, fazendo-a lamentar a pergunta.
–
Morreram alguns anos atrás em um acidente de iate – respondeu ele.
Passando
o braço pelo de Joseph, ela o apertou em um gesto confortador.
–
Desculpe. Não tive intenção de suscitar lembranças tão dolorosas.
–
Já faz muito tempo – retrucou Joseph, dando de ombros. Mas Demi percebeu que falar
sobre eles o fazia sofrer.
Quando
ela abriu a boca para mudar de assunto, o viu franzir a testa e enfiar a outra
mão no bolso. De lá, retirou o celular e o observou por um instante, antes de
abri-lo e o colar à orelha.
–
Taylor – disse ele em tom suave, após relancear o olhar a Demi. Ela enrijeceu a
coluna e se soltou de Joseph . Era típico a assistente saber o exato momento de
ligar. Devia possuir um radar. Podia sentir a tensão crescendo dentro dele e
quando os olhos âmbar pousaram nela era como se a traspassassem.
–
Está tudo bem aqui – disse ele. – Verifique com Nick como estão indo as coisas
no hotel do Rio de Janeiro e me dê um retorno. – Seguiu-se uma longa pausa. –
Não. Não sei quando retornaremos a Nova York. – Mais uma vez, relanceou o olhar
a Demi, fazendo-a ter a clara impressão de que Taylor estava falando sobre ela.
– Não, claro que não –acrescentou.
Joseph
em um tom de voz tranquilizador. – Aprecio sua atenção, Taylor. Será a primeira
a saber quando eu decidir deixar a ilha.
Demi
desviou o olhar, desgostosa, incapaz de continuar escutando o que ele dizia.
Instantes
depois, Joseph desligou o telefone e o colocou de volta no bolso. Como era esperado,
quando ela girou na direção dele, percebeu a mudança brusca em seu comportamento.
Ele a encarava quase desconfiado, embora Demi não pudesse entender por quê.
Porém, sabia que aquilo não era fruto de sua imaginação. Uma clara mudança se
operara no humor de Joseph.
–
Desculpe pela interrupção – disse ele em um tom quase formal. – Sobre o que
estávamos falando?
–
Conte-me sobre seus hotéis – pediu Demi em um impulso, desejando afastá-lo das preocupações.
A
expressão do belo rosto másculo pareceu congelar e a cautela o dominou.
–
O que quer saber?
Demi
encontrou um lugar para se sentar de frente para as enormes colunas e o puxou
para que se acomodasse a seu lado.
–
Não sei. Qualquer coisa. Em que lugares possui hotéis? O Imperial Park em Nova
York é um deles, certo? – Joseph anuiu. – Onde mais possui hotéis? É uma rede
internacional? Ouvi você mencionar Rio de Janeiro. Tem um hotel lá?
Joseph
não conseguia esconder a tensão, e ela imaginou por quê. Não gostaria de discutir
seus negócios? Na verdade, ansiava por qualquer detalhe sobre a vida dele.
Joseph
nunca se mostrara muito acessível quanto à sua vida profissional. Um fato que
ela achava estranho.
–
Temos hotéis na maioria das cidades do mundo. Nossas maiores unidades se
concentram em Nova York, Tóquio, Londres e Madri. Temos vários outros, um pouco
menores, espalhados pela Europa. Atualmente estamos trabalhando em um projeto
para construir um no Rio de Janeiro.
–
Mas não em Paris? Gostaria que tivesse um em Paris para que pudéssemos
visitá-lo. –
Demi
o provocou com um sorriso, que logo secou quando os olhos dourados se tornaram frios
e severos. Um arrepio lhe percorreu a espinha e um nó se formou em sua
garganta.
Joseph
parecia enraivecido. Não, parecia furioso.
–
Não. Não temos nenhum em Paris.
O
tom conciso a fez recuar, deslizando vários centímetros ao longo do banco.
–
Desculpe… – Nem mesmo sabia por que estava se desculpando. Joseph perdera o humor
em questão de segundos e não tinha ideia do motivo. Ela parecia ter uma
inclinação para tocar nos assuntos errados. Primeiro fora os pais de Joseph e
agora os negócios.
Haveria
algum assunto seguro que pudessem discutir?
Demi
se ergueu cerrando os punhos.
–
Talvez tenha razão. É melhor voltarmos agora. – Ela se virou com rapidez, na
intenção de retornar ao carro, mas o movimento brusco fez o mundo girar ao seu
redor.
A
lembrança de que não comera no café da manhã lhe veio à mente, antes de os
joelhos cederem e o mundo se apagar.
Quando
voltou a si, a primeira coisa que escutou foi uma voz furiosa, cuspindo fogo em
grego. À medida que os olhos abriam e percebiam o ambiente a seu redor, ela se
deu conta de que se encontrava em uma cama de exames no que parecia ser uma
clínica.
Joseph
estava de costas para ela, interrogando o médico que se encontrava parado diante
dele.
–
Joseph. – Ela chamou com um fio de voz.
Virando-se,
ele se precipitou na direção dela.
–
Você está bem? – As mãos fortes lhe apalpavam o corpo, mesmo enquanto os olhos dourados
se encontravam fixos nos dela. – Está sentindo dor?
Demi
tentou sorrir, mas se sentia trêmula. O médico interpôs à frente de Joseph e entregou
um copo para ela.
–
Beba isto, Srta. Lovato. Sua glicemia está muito baixa, mas acho que um suco a
fará se sentir melhor.
Joseph
pegou o copo do suco, escorregou um dos braços sob o pescoço de Demi e a ergueu.
Em seguida, encostou o copo em seus lábios e ela tomou goles suaves do líquido
doce.
–
Quando comeu pela última vez, Srta. Lovato? – perguntou o médico com um olhar questionador
que a fez corar de vergonha e baixar a cabeça.
–
Não tomei café da manhã – admitiu.
Joseph
deixou escapar um xingamento.
–
Tampouco jantou bem ontem à noite. Theos! Não deveria tê-la trazido para cá
hoje. Sabia que não havia se alimentando adequadamente e não fiz nada para
remediar essa situação.
Demi
exibiu um sorriso frágil.
–
Não é culpa sua. Foi uma tolice da minha parte. Fiquei tão animada com a visita
às ruínas que me esqueci de comer.
–
É meu dever cuidar de você e de nosso filho – afirmou ele, obstinado.
O
médico limpou a garganta e sorriu para o casal.
–
Sim, bem, nenhum mal foi causado. Bastará uma refeição decente para que ela se
sinta uma nova mulher. Porém, sugiro que permaneça em repouso pelo restante do
dia. Não há motivo para arriscar um novo mal-estar.
–
Eu me encarregarei disso – disse Joseph tenso. – Demi suspirou. Ele estava se culpando
por seu desmaio. Podia senti-lo fervilhar com o sentimento de culpa e não
haveria como dissuadi-lo de seu propósito. Era melhor se resignar e passar o
restante do dia de repouso. – Posso levá-la para casa agora?
O
médico anuiu.
–
Apenas se certifique de que ela se alimente imediatamente e descanse.
–
Pode ter certeza disso – retrucou Joseph em tom de voz austero.
Demi
fez menção de se levantar da cama, mas Joseph a impediu segurando-a com uma das
mãos. Em seguida, ergueu-a nos braços e a carregou pelos corredores.
Quando
saíram do hospital, um carro preto estacou imediatamente diante deles e um homem.
Saltou para abrir a porta. Joseph se inclinou e entrou no veículo ainda a
carregando nos braços.
–
Já perdeu a vontade de dirigir – resmungou ela enquanto o carro arrancava para
tomar o caminho do aeroporto.
–
Não posso dirigir e segurá-la ao mesmo tempo – explicou Joseph paciente.
–
Não sabia que agora terei de ser carregada no colo.
–
Eu cuidarei de você.
As
palavras expressavam uma determinação ferrenha. A voz grave soou austera,
fazendo-a ciente de que Joseph levava
aquela promessa muito a sério. Percebendo que seria inútil argumentar com ele, Demi
relaxou contra o peito musculoso e lhe envolveu o corpo forte com os braços.
Acariciando-lhe
os cabelos, ele murmurou palavras em grego. Demi estava quase adormecida quando
o carro parou com um leve solavanco. Pouco depois, a porta se abriu e um raio
de sol a fez espremer os olhos quando os ergueu. Joseph improvisou uma viseira
com uma das mãos para lhe proteger a visão e voltou a lhe virar o rosto contra
o próprio peito com um gesto suave. Ainda a carregando nos braços, saltou do
carro e se encaminhou, apressado, ao helicóptero.
–
Volte a dormir se puder, pedhaki mou – murmurou ao subir no helicóptero.
No
entanto, quando o ruído das hélices começou, a névoa da sonolência se
dispersou.
Demi
se contentou em se aninhar contra a curva do pescoço largo enquanto decolavam
na direção da ilha.
Era
óbvio que Joseph havia telefonado e disparado uma sucessão de ordens, porque quando
entrou em casa, com ela nos braços, Patrice já tinha uma refeição a aguardando
e o Dr. Karounis se encontrava a postos para monitorar o estado de Demi. Após a
comoção inicial,
Patrice
e o médico o asseguraram de que ela estava bem e pediram licença para se
retirar, deixando-os sozinhos.
Demi
começou pela tigela de sopa e suspirou,
satisfeita, quando o alimento lhe forrou o estômago vazio.
–
Não deixará de fazer mais nenhuma refeição – disse Joseph em tom de reprovação enquanto a observava do
lado oposto da mesa.
–
Não era essa minha intenção – respondeu ela. – Apenas me distraí.
–
Eu me certificarei de que isso não se repita.
Demi
ergueu uma das sobrancelhas e exibiu um
sorriso travesso.
–
Então, voltou a ser sério?
Joseph
a encarou com olhar furioso.
Aquilo
a fez se lembrar do que acontecera entre os dois, antes de ela desmaiar. A
expressão de Demi se tornou séria e o
encarou, pensativa.
–
O que há de errado? – perguntou ele.
Demi
brincou com a colher antes de pousá-la
na tigela.
–
Por que ficou tão aborrecido quando estávamos nas ruínas?
A
expressão de Joseph permaneceu neutra,
mas ela percebeu que a pergunta não o agradou.
–
Não foi nada. Estava apenas pensando em assuntos de trabalho – retrucou
descartando o assunto.
Demi
lhe dirigiu um olhar incrédulo, mas não
insistiu. Quando concluiu a refeição, mais uma vez ele a ergueu nos braços e a
carregou até o quarto. Em seguida, pousou-a sobre o colchão e metodicamente
começou a lhe remover as roupas. Quando lhe tirou a calça comprida, Demi se encontrava deitada na cama apenas de
calcinha e sutiã. A inspiração profunda de Joseph soou audível enquanto ele se virava de costas.
–
Joseph – sussurrou ela. Com a
musculatura do corpo tensa pelo grande esforço que parecia fazer para se
controlar, ele se virou. – Fique comigo. Vamos tirar um cochilo juntos?
Estou
me sentindo muito cansada.
Se
ele não parecesse tão torturado, Demi teria soltado uma risada. Lutou para manter a expressão
neutra enquanto Joseph ruminava aquele
pedido. Por fim, começou a desabotoar a camisa. Em silêncio, se despiu até
ficar apenas com a cueca boxer e escorregou para a cama, acomodando-se ao lado
dela. E então, soltou um xingamento baixo.
Demi
lhe dirigiu um olhar questionador
enquanto os olhos dourados lhe varriam o corpo.
–
Não quer vestir algo para dormir? Não pode ficar apenas com suas roupas
íntimas. Não parece confortável.
As
maçãs do rosto de Demi se tornaram
rubras, mas ela anuiu.
–
Um camisão será suficiente.
Joseph
se levantou e retornou com uma de suas
camisas. Ajudou-a a sentar e lhe retirou o sutiã. As mãos ligeiramente trêmulas
enquanto lhe vestia a camisa pela cabeça e a deixava escorregar pelo abdômen
abaulado.
Com
um movimento suave, a inclinou de volta na direção do colchão e se ajoelhou
diante dela.
–
Está melhor assim?
–
Muito melhor – concordou ela com voz rouca.
Joseph
se deitou ao lado dela e a puxou para os seus braços. Demi contorceu o corpo, tentando
encontrar o ponto ideal. Quando encaixou as nádegas contra o quadril de Joseph lhe sentiu a ereção e congelou. Em seguida,
fez menção de se afastar, mas ele a prendeu no lugar.
–
Não se mexa.
Os
braços fortes a envolveram, prendendo-a. Com o rosto em chamas, Demi tentou relaxar. No momento em que ele a
tocara, o sono se dissipara. Agora tinha de tentar dormir com aquele corpo
forte colocado em cada centímetro do seu.
O
calor que dele emanava se derramava sobre ela. Joseph lhe acariciou os cabelos e murmurou palavras
gregas em seu ouvido. Embora não entendesse o sentindo, Demi reconheceu a intenção de relaxá-la. Um suspiro
de satisfação lhe escapou dos lábios quando a mão longa escorregou por seu
braço, quadril e descansou sobre a coxa. Uma sensação de perfeição a atingiu e
a deixou perplexa ao perceber que a emoção que não sabia definir e com a qual
estivera batalhando se chamava amor. Demi abriu os olhos quando ouviu a respiração de Joseph
cadenciada pelo sono.
Amava
aquele homem. Aquilo não deveria surpreendê-la, mas agora que percebera aquele sentimento,
lembrou-se que não o havia reconhecido de imediato, após a perda de memória.
Não
deveria saber de alguma forma que amava aquele homem?
Joseph
era complicado, quanto a isso não havia o que discutir. Complexo, firme e reservado.
Bem, se um dia conseguira lhe quebrar as barreiras, certamente seria capaz de repetir
a façanha.
Demi
relaxou para dormir, a determinação
imprimindo um ritmo cadenciado em sua mente.
vai Joe, deixe ela sem comer mesmo... vai nessa
ai esta mais um capitulo bjemi