sábado, 13 de julho de 2019

VIDA DE PRINCESA Capitulo 1

— Alguns dias, ser princesa equivale a ser uma presidiária. — Demetria murmurou enquanto fechava o zíper de seu vestido verde favorito para outro jantar formal no palácio Scorsolini.
Entretanto, não era a expectativa de jantar mais uma vez com o rei Paul e seus dignitários que a incomodava. Era a frustração de ter passado mais um dia no próprio purgatório. Ela adorava o rei de Isole dei Re e era mais próxima a ele do que ao próprio pai.
Mas, ainda assim, algumas vezes desejava que ela e Joseph tivessem o próprio lar, e não apenas um conjunto de apartamentos no palácio real. Especialmente naquela noite, por estar irrequieta diante da necessidade de compartilhar as notícias que recebera do seu médico de Miami. Ela fora aos Estados Unidos para fazer esse exame, a fim de garantir discrição.
Agora, quase não desejava ter ido. Porque, se a imprensa ficasse sabendo da história, pelo menos seria poupada de ter que comunicar as notícias a Joseph.
Era um pensamento covarde, e ela não era covarde.
Mas até mesmo ela, com anos de treinamento como filha de diplomata, não podia olhar para o fim do seu casamento com serenidade. Diferente dos seus pais, ela não via a vida como uma série de movimentos e contra movimentos políticos. Para ela... a vida real doía.
Joseph terminou de abotoar o segundo punho e colocou as luvas com movimentos precisos e familiares que causaram dor no coração dela, diante da possibilidade de perder isso tudo. Ele torceu os lábios, o que dava ao seu rosto um ar cínico.
— Terei certeza e direi à sua mãe que você pensa assim.
— Não ouse.
Joseph considerava a tendência a alpinismo social da mãe dela uma fonte de diversão, mas Demetria, não. Afinal de contas, era à custa dela que a mãe pretendia subir.
— Não tenho o menor desejo de ouvir a Lição 101 de mamãe sobre o quanto tenho sorte por ser uma princesa ou o quanto minha vida é privilegiada. — Isso sem falar no quanto era surpreendente o fato de Joseph ter escolhido Demetria, entre tantas mulheres no mundo. Não queria ouvir isso. Agora, não.
— Talvez ela seja capaz de compreender melhor que eu o seu aparente desencanto com a vida. — A voz de Joseph indicava que ele estava parcialmente brincando, mas seu olhar sombrio afirmava que ele falava sério.
— Não estou desencantada com a minha vida. — Ela estava tão-somente arrasada pela vida, mas agora não era momento para falar disso.
E não podia deixar de pensar que sua charmosa vida havia chegado ao fim... provavelmente desde o começo, mas estava cega demais para notar isso. Ela comprara a ideia do conto de fadas só para descobrir que o amor unilateral trazia apenas dor, e não prazer. O "felizes para sempre" era apenas para as princesas dos livros... ou para as que eram amadas pelo que eram, como as duas mulheres casadas com os outros príncipes Scorsolini.
— Então, por que comparou a vida como minha esposa à de uma presidiária? — perguntou Joseph do alto de seu metro e oitenta e com um perfume que a cercava só para lembrá-la do quanto sentiria falta de sua presença física quando tudo acabasse.
Ele era o sonho de toda mulher, o tipo de príncipe que enfeitava os contos de fada. Ela havia criado muitas fantasias com ele para saber. Ele tinha cabelos pretos, olhos castanhos e o tom de pele morena de seus ancestrais sicilianos, mas a altura de um atleta profissional. Seu corpo era musculoso, sem qualquer resquício de gordura, e seu rosto poderia ser o de um ator americano... talvez de uma época diferente, porém. Não a beleza óbvia dos rapazes, mas outra, com ângulos vigorosos e uma fenda no queixo que demonstrava uma força de caráter na qual ela havia aprendido a confiar inteiramente.
Ela teve de engolir duas vezes antes de responder.
— Eu não disse que ser sua esposa era como ser presidiária.
— Você disse a vida de uma princesa, o que você não seria se não fosse casada comigo.
— Verdade. — Ela suspirou. — Mas não quis ofendê-lo.
Ele apalpou a face dela em um movimento que certamente enviaria ondas de prazer às suas terminações nervosas. Ele a tocava tão raramente quando não estavam na cama que, quando o fazia, ela não sabia como reagir.
— Não estou ofendido, apenas preocupado. — Ela podia perceber a preocupação no tom de voz dele e sentiu-se culpada.
Ele não fizera nada de errado... exceto ter escolhido a mulher errada para ser sua princesa.
— Eu tive um dia difícil, só isso.
A outra mão dele uniu-se à primeira e ele inclinou a cabeça dela para cima, para que ela não desviasse os olhos.
— Por quê?
Ela lambeu os lábios, desejando novamente que não descessem para jantar com o pai dele. Ela também desejava muito que a forte dor que sentia na barriga fosse apenas uma cólica menstrual, desde que havia parado de tomar pílula para que pudessem ter um filho.
— Passei a manhã toda com representantes das principais organizações femininas de Isole dei Re para discutir a necessidade de creches e escolas em toda a ilha.
— Pensei que a mulher de Liam estivesse cuidando disso.
— O voo de helicóptero entre as ilhas aumentou o enjoo de Miley, mas ela não quis cancelar a reunião. Eu a convenci a deixar-me assumir seu lugar. Agora, acho que devia ter mandado as representantes se encontrarem com ela em Diamante.
— Por quê? Você e Miley têm a mesma visão sobre esse assunto.
— Não de acordo com as representantes. — Ela sorriu. — Elas acham que uma mulher que não tem filhos e que, sobretudo, nunca precisou trabalhar para viver, não compreenderia os desafios da mulher que trabalha fora. Acreditam que Miley seja ideal para essa missão e que devo me manter fora disso.
— Elas disseram isso a você? — Ele não parecia ofendido por ela, apenas curioso. Não tinha ideia do quanto a desaprovação daquelas mulheres a magoara.
— Sim.
— Então, o fato de ter crescido aprendendo a diplomacia foi bom.
— Quer dizer que teria se chateado se eu tivesse dito a elas para pegarem um voo e encontrarem Miley?
Joseph soltou uma gargalhada masculina, como se não pudesse imaginar a cena.
— Como se você fosse fazer isso.
— Talvez tenha feito.
Mas ele apenas sacudiu a cabeça.
— Conheço você. Sem chances.
— Talvez não me conheça tanto quanto pensa. — Na realidade, ela sabia que não. Afinal de contas, ele nunca se ativera ao fato de ela ter se casado com ele por amor. O casamento por conveniência fora um plano arquitetado pela mente dele e da mãe dela.
— Fez isso? — ele perguntou, com uma sobrancelha irônica levantada.
Ela queria dizer que sim só para provar que ele estava errado, mas falou a verdade.
— Não, mas quis fazer.
— Em geral, o que queremos e o que nos permitimos fazer não são a mesma coisa. E isso faz parte de se adequar à posição que você ocupa.
— E você ainda pergunta por que comparei ser princesa a ser uma presidiária?
— Está infeliz, Demetria?
— Não mais que a maioria das pessoas — ela admitiu. Desde pequena, aprendera a esconder as verdadeiras emoções, mas estava cansada de fingir.
— Você está infeliz? — Joseph perguntou com um tom de voz que trazia uma inegável perplexidade.
Aquele homem, tão conhecido nos círculos diplomáticos por sua perspicácia, sentia-se ameaçado quando se tratava de Demetria.
— Duas das representantes não foram nada sutis em expressar sua opinião de que já passou da hora de eu lhe dar um herdeiro — ela falou, em vez de responder.
— E isso a chateia? — Novamente ele parecia surpreso.
— Um pouco.
— Mas não deveria. Logo você poderá compartilhar boas notícias nessa área.
Ela estremeceu, como se as palavras dele tivessem caído como sal em uma ferida que fora deixada aberta e sangrando com a ligação do médico.
— E se eu não puder? — ela perguntou, testando um caminho que não estava pronta para enfrentar.
Ele colocou as mãos grandes e calorosas sobre seus ombros e virou-lhe o rosto com movimentos firmes.
— Está chateada por ainda não ter engravidado? Não deveria. Estamos tentando há apenas alguns meses. O médico falou que mulheres que tomam pílula por muito tempo podem levar mais tempo para engravidar, mas logo vai acontecer. Afinal de contas, sabemos que está tudo em ordem.
Pior que sal na ferida, essas palavras foram como duras chicotadas. Antes de se casarem, três anos antes, ele havia exigido que os dois fizessem vários exames, inclusive alguns relativos a tipo sanguíneo e compatibilidade do esperma dele com o muco do útero de Demetria. Ele também havia pedido que ela fizesse um teste sobre os seus ciclos de fertilidade, somente como garantia adicional.
Sabendo que grande parte do casamento com ela envolvia fornecer um herdeiro para o trono da família Scorsolini, ela havia concordado seu pestanejar. Tudo estava normal. Eles tinham compatibilidade para gravidez e ela era fértil como todas as mulheres de sua idade.
A surpresa maior para ela fora o desejo dele de esperar um pouco para ter um bebê. Ela não entendia nem sabia por que ele queria esperar, mas agora sabia que a chance que teriam de ter um filho juntos fora por água abaixo.
Incapaz de suportar qualquer nível de intimidade diante do que
ela sabia que estava por vir, até mesmo de um toque mais simples, ela se afastou dele.
Joseph sentiu muita raiva diante desse comportamento de Demetria, com suas curvas femininas provocando uma libido que ansiava por ela dia e noite. Ele queria agarrá-la e perguntar por que, depois de três anos, seu toque não era mais aceitável, mas essa seria uma atitude de um homem primitivo, e a coroa de príncipe de Isole dei Re não era primitiva.
Além disso, a rejeição física dela não era novidade. Isso vinha acontecendo há meses, mas, sempre que ela se esquivava de um contato físico, ele ficava surpreso. Depois de dois anos recebendo uma incrível paixão como resposta sempre que a tocava, ele podia ser perdoado por achar quase impossível resignar-se diante da repentina mudança de atitude dela.
Antes dos últimos meses ele juraria que Demetria o amava. Ela nunca falou isso, mas durante os dois primeiros anos do casamento, ela havia demonstrado de várias formas sutis e nem tão sutis assim que sentia mais que uma satisfação mercenária de uma mulher por um casamento bem contratado. O amor dela não fora uma das condições de Joseph, portanto ele não se prolongara no assunto... até que ele terminasse.
Não que precisasse que ela sentisse isso, mas não conseguia parar de pensar no momento em que tudo tinha acabado e por que ela parecia não desejá-lo mais com a mesma paixão que o atraía.
A rejeição física começou um ou dois meses depois de ela ter parado de tomar pílula. Inicialmente, ele pensou que talvez tivessem sido os hormônios. Ele leu em algum lugar que esse tipo de coisa pode acontecer, mas, com o passar dos meses, tudo piorou.
Então, às vezes, ela fazia amor com ele como antes e todas as preocupações dele desapareciam. Só para reaparecerem quando ela se esquivava mais uma vez. Ele não estava acostumado a ser rejeitado na vida, especialmente por uma mulher que desejasse fisicamente. Isso vindo de sua própria mulher era algo inaceitável.
E estava acontecendo mais e mais nos últimos tempos.
Ele começou a imaginar se, lá no fundo, ela não gostaria de engravidar.
— Você quer ter um bebê meu? Está com medo do que possa acontecer?
Ela se encolheu, como se ele tivesse batido nela, e seu rosto empalideceu.
— Sim, quero ter um filho seu. Mais que tudo. Não sei como pode imaginar outra coisa.
Ela fora tão firme em suas palavras que ele não tinha como
duvidar.
— Então, nada nessa situação deve chateá-la.
O olhar que ela lançou com seus olhos verdes não era encorajador, mas ele continuou, certo de sua conclusão.
— Logo você poderá calar essas pessoas com a realidade da gravidez. Por enquanto, você simplesmente lidará com a situação de forma diferente, mandando as representantes se encontrarem com Miley.
Ela virou o rosto para o espelho e prendeu os longos cabelos castanhos num coque.
— E isso resolve tudo, não é?
— Deveria — ele falou com certa exasperação. — Não entendo por que está reagindo tão intensamente a isso. Você já lidou com pessoas bem mais irritantes que essas mulheres.
Demetria deu de ombros e caminhou na direção da porta. Era muito linda, quase etérea em sua aparência, apesar das curvas que proclamavam seu corpo. E, em situações como essa, ela sentia-se intocável como um espírito. Mas era mulher dele, era direito dele tocá-la.
Ele o fez, pegando seu braço quando ela passou.
Ela parou e olhou para ele, seus lindos olhos verdes estavam tomados de uma vulnerabilidade que ele não compreendia, nem gostava. Aquilo implicava uma infelicidade que ele não queria que ela sentisse.
— O que foi? — ela perguntou.
— Não gosto de vê-la assim.
— Eu sei. Você espera que tudo na sua vida ande sem tropeços, que todas as pessoas cumpram seu papel sem questionamentos. Sua programação é analisada detalhadamente e as surpresas não são bem-vindas.
— Esforço-me para isso.
— A ponto de se casar com uma mulher com as qualificações adequadas. Você me investigou, e me testou para saber se eu me adequaria a ser sua principessa e futura rainha. Certamente não esperava que eu fosse uma fonte de frustração para você.
Ela estava certa, mas ele não entendia o som fraco de sua voz. Ela não pareceu chateada em cumprir todo esse protocolo na época.
— Você é tudo o que eu sempre quis como esposa. Naturalmente, na minha posição, faria qualquer esforço para ter certeza de que nosso futuro estivesse seguro, mas você era e é perfeita para mim, cara.
Ela se encolheu diante desse elogio, mais do que frequentemente se esquivava do toque dele. Como se qualquer alusão à intimidade entre ambos doesse. Mas eram íntimos. Eram marido e mulher. Não havia relação mais íntima que essa.
Então, por que ele havia sentido como se ambos vivessem em
hemisférios totalmente diferentes no momento?
Ele a puxou para perto, ignorando o sutil recolhimento de seu corpo.
— Não precisamos descer para jantar, você sabe. Ela arregalou os olhos, surpresa.
— Seu pai está recebendo dignitários da Venezuela.
— São seus parceiros de pescaria.
— São diplomatas oficiais.
— Ele não vai se incomodar se eu mandar avisar que não vamos. E há formas bem mais interessantes de passarmos a noite.
— Conversando?
— Não é o que tenho em mente.
Ela fechou a cara e se afastou, em uma óbvia rejeição.
— Isso seria rude.
Será que Demetria havia encontrado outra pessoa para dividir sua natureza passional? Talvez tivesse até um amante. Ele sentiu uma grande fúria diante dessa ideia, mas, em sua arrogância, não podia pensar em nada mais que fizesse com que ela o rejeitasse fisicamente. Além disso, algumas vezes, ela agia como se não estivesse presente, e ele tinha um argumento convincente para achar que ela havia conhecido outra pessoa.
Tão convincente que ele não tinha certeza se conseguiria controlar a fúria que sentia. Detestava sentir-se assim. Casara-se com ela para evitar esse tipo de convulsão emocional em sua vida.
E essa era a principal razão para nunca ter expressado sua suspeita. Ele conhecia Demetria melhor que muitos homens conheciam suas mulheres. Ele se assegurou disso, e tudo que conhecia de seu caráter dizia que ela nunca, sob circunstância alguma, agiria tão desonestamente a ponto de ter um caso. Essa fora uma das razões de ter se casado com ela. Era uma mulher muito íntegra, mas também era uma mulher acostumada a ter fortes paixões.
Se alguém pudesse mudar isso... será que o outro podia? Será que algum homem desconhecido estava se aproveitando da sensualidade secreta dela, algo que costumava satisfazer tanto a Joseph? Ele não podia acreditar nisso, mas, ao contrário do que podia parecer, ele tinha de saber a verdade.
Ligaria para uma agência de detetives e solicitaria uma investigação sobre as atividades atuais de Demetria e seus movimentos no último ano. Hawke, o dono da agência de detetives internacional, era totalmente discreto e o melhor nesse ramo.
De uma forma ou de outra, Joseph descobriria a origem do comportamento misterioso de sua mulher. Se outro homem estivesse envolvido, ele descobriria e lidaria com a situação adequadamente.
Esse pensamento provocou uma raiva primitiva à qual ele não tinha intenção de se entregar.
Demetria se arrependeu de ter rejeitado o convite de Joseph. Afinal, tudo que ele queria era apenas sexo? Ela podia contar a ele. O problema era que ela não queria. Enquanto mantivesse as notícias para si, parte dela podia continuar achando que seu casamento tinha alguma chance. Mas se tivessem conversado... se tivessem feito amor e tivesse doído um pouco, ela teria mais uma lembrança para guardar em um futuro sem ele. Em vez disso, estava sentada com um sorriso colado no rosto enquanto ouvia uma conversa na qual não tinha interesse algum.
Joseph recebera uma ligação na metade do jantar e desaparecera para atender, deixando-a totalmente sozinha.
Ela sabia que ele não voltaria depois da ligação. Ele sempre preferia trabalhar a ficar com ela. Naquele dia à noite, certamente não seria diferente. Portanto, quando serviram o café na sala ao lado, ela se retirou.
Ela havia sentido dores na região pélvica durante todo o dia, mesmo sem estar menstruada. Agora, a dor se agravava e não se limitava mais ao período menstrual. De acordo com o médico, as dores eram típicas de sua condição, mas certamente não eram agradáveis.
Estava ficando cada vez mais difícil esconder a verdade de Joseph também, mas logo... não precisaria mais. Ela revelaria os resultados da laparoscopia feita secretamente em Miami. Então, diria o que o médico havia falado sobre o futuro nas condições dela, e Joseph diria que o casamento havia chegado ao fim.
O pensamento era ainda pior que a dor no abdome e ela forçou sua mente a lidar com o presente, e não com o provável futuro.
Talvez um longo banho de banheira e os remédios para dor pudessem ajudar e ela não teria de tomar uma das bombas de medicamento prescritas pelo médico.
Elas sempre a deixavam tonta, e ela detestava isso. Havia dias em que sequer lembrava do que tinha feito. A surpresa foi Joseph nunca ter reparado. Se ela precisasse de provas de que não passava de uma conveniência para ele, aí estava uma.
Como um homem, mesmo tão distraído quanto Joseph, podia deixar de notar o comportamento da esposa como uma viciada em drogas? Mas ele nunca falava nada quando ela estava sob efeito dos medicamentos para dor. Para dar crédito a ele, ela fazia o melhor para esconder sua condição... de todas as formas. Mas havia uma grande parte dela que se ressentia pelo fato de isso ser tão fácil.
Se ele se importasse, não seria. Tinha certeza disso.
Com o coração pesado, ela começou a encher a banheira. Nenhuma mulher devia ter de conviver com o sentimento constante de que amava sem ser correspondida. Doía muito.
Quando a banheira encheu, ela tomou os remédios para dor e entrou nela.
Haviam passado trinta minutos quando ela ouviu ruídos no quarto. Deixou a mente flutuar de forma que apenas a periferia de sua consciência registrasse o que aqueles ruídos significavam.
— Se você tiver dormido aí, então vou ficar mais que um pouco chateado com você.
Ela abriu ligeiramente os olhos e o impacto de sua presença a atingiu como sempre. Nenhum homem era lindo assim.
— Não estou dormindo. Não tem que se irritar.
— Certamente parece sonolenta — ele falou em tom de acusação, mas seus olhos escuros a devoravam de uma forma que dizia que um seguro banho de banheira não era a única coisa na mente dele.
O interesse óbvio dele encontrou uma resposta ávida no corpo dela. A eficácia do banho de banheira para amenizar a dor significava que ela podia investir nisso, se quisesse. E ela queria. Quando contasse a ele a verdade e ele aceitasse que haveria apenas uma solução prática para o futuro, ela passaria o resto da vida sem sentir as consequências do toque dele.
— Que tal você se juntar a mim? — ela sugeriu, olhando para o magnífico corpo dele. — Somente para fins de segurança, entende? Ele apertou os olhos.
— Isso é um convite?
— O que acha? Ele fez um som que era estranho, como um gemido de frustração, embora seu corpo reagisse de uma forma óbvia e básica diante da sugestão.
Ela ocultou o sorriso de satisfação diante da evidência de que o homem a desejava. Então, olhou para ele por entre os cílios.
— Está querendo dizer que não está interessado? — ela perguntou, em um tom que indicava que não acreditava nisso. — Seu corpo diz o contrário.
— Talvez não seja meu corpo quem está no controle aqui.
Ela inclinou as costas, sentindo-se aliviada pelo fato de o movimento não ter causado mais que desconforto em sua pélvis.
— Talvez deva ser.
— Droga, Demetria, o que está acontecendo?
Ele nunca xingava na frente dela. Ela ficou tão impressionada que novamente relaxou na água. E se ele não a quisesse? Um homem podia não
conseguir controlar as respostas do seu corpo, mas ele não precisava acatá-las. Não se essa não fosse o desejo de sua mente.
Com medo de ter de implorar, caso falasse alguma coisa, ela saiu da banheira calada.
— O que está fazendo? — ele perguntou com a voz rouca.
— O que parece? Estou saindo. — Ele podia jogar um balde de água fria nela, mas não precisava humilhá-la.
Ele emitiu um som que fez um frio correr na espinha de Demetria.
— Fique onde está, sua maldosa provocadora. 

Um comentário:

  1. Gostei do capítulo. Tadinha da Demi. O que ela tem afinal? Não pode ter filhos?

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