— Alguns dias,
ser princesa equivale a ser uma presidiária. — Demetria murmurou enquanto
fechava o zíper de seu vestido verde favorito para outro jantar formal no
palácio Scorsolini.
Entretanto, não
era a expectativa de jantar mais uma vez com o rei Paul e seus dignitários que
a incomodava. Era a frustração de ter passado mais um dia no próprio
purgatório. Ela adorava o rei de Isole dei Re e era mais próxima a ele do que
ao próprio pai.
Mas, ainda
assim, algumas vezes desejava que ela e Joseph tivessem o próprio lar, e não
apenas um conjunto de apartamentos no palácio real. Especialmente naquela
noite, por estar irrequieta diante da necessidade de compartilhar as notícias
que recebera do seu médico de Miami. Ela fora aos Estados Unidos para fazer
esse exame, a fim de garantir discrição.
Agora, quase
não desejava ter ido. Porque, se a imprensa ficasse sabendo da história, pelo
menos seria poupada de ter que comunicar as notícias a Joseph.
Era um
pensamento covarde, e ela não era covarde.
Mas até mesmo
ela, com anos de treinamento como filha de diplomata, não podia olhar para o
fim do seu casamento com serenidade. Diferente dos seus pais, ela não via a
vida como uma série de movimentos e contra movimentos políticos. Para ela... a
vida real doía.
Joseph terminou
de abotoar o segundo punho e colocou as luvas com movimentos precisos e
familiares que causaram dor no coração dela, diante da possibilidade de perder
isso tudo. Ele torceu os lábios, o que dava ao seu rosto um ar cínico.
— Terei certeza
e direi à sua mãe que você pensa assim.
— Não ouse.
Joseph
considerava a tendência a alpinismo social da mãe dela uma fonte de diversão,
mas Demetria, não. Afinal de contas, era à custa dela que a mãe pretendia
subir.
— Não tenho o
menor desejo de ouvir a Lição 101 de mamãe sobre o quanto tenho sorte por ser
uma princesa ou o quanto minha vida é privilegiada. — Isso sem falar no quanto
era surpreendente o fato de Joseph ter escolhido Demetria, entre tantas
mulheres no mundo. Não queria ouvir isso. Agora, não.
— Talvez ela
seja capaz de compreender melhor que eu o seu aparente desencanto com a vida. —
A voz de Joseph indicava que ele estava parcialmente brincando, mas seu olhar
sombrio afirmava que ele falava sério.
— Não estou desencantada com a minha vida. — Ela estava
tão-somente arrasada pela vida, mas agora não era momento para falar disso.
E não podia
deixar de pensar que sua charmosa vida havia chegado ao fim... provavelmente
desde o começo, mas estava cega demais para notar isso. Ela comprara a ideia do
conto de fadas só para descobrir que o amor unilateral trazia apenas dor, e não
prazer. O "felizes para sempre" era apenas para as princesas dos
livros... ou para as que eram amadas pelo que eram, como as duas mulheres
casadas com os outros príncipes Scorsolini.
— Então, por
que comparou a vida como minha esposa à de uma presidiária? — perguntou Joseph
do alto de seu metro e oitenta e com um perfume que a cercava só para lembrá-la
do quanto sentiria falta de sua presença física quando tudo acabasse.
Ele era o sonho
de toda mulher, o tipo de príncipe que enfeitava os contos de fada. Ela havia
criado muitas fantasias com ele para saber. Ele tinha cabelos pretos, olhos
castanhos e o tom de pele morena de seus ancestrais sicilianos, mas a altura de
um atleta profissional. Seu corpo era musculoso, sem qualquer resquício de
gordura, e seu rosto poderia ser o de um ator americano... talvez de uma época
diferente, porém. Não a beleza óbvia dos rapazes, mas outra, com ângulos vigorosos
e uma fenda no queixo que demonstrava uma força de caráter na qual ela havia
aprendido a confiar inteiramente.
Ela teve de
engolir duas vezes antes de responder.
— Eu não disse
que ser sua esposa era como ser presidiária.
— Você disse a
vida de uma princesa, o que você não seria se não fosse casada comigo.
— Verdade. —
Ela suspirou. — Mas não quis ofendê-lo.
Ele apalpou a
face dela em um movimento que certamente enviaria ondas de prazer às suas
terminações nervosas. Ele a tocava tão raramente quando não estavam na cama
que, quando o fazia, ela não sabia como reagir.
— Não estou
ofendido, apenas preocupado. — Ela podia perceber a preocupação no tom de voz
dele e sentiu-se culpada.
Ele não fizera
nada de errado... exceto ter escolhido a mulher errada para ser sua princesa.
— Eu tive um
dia difícil, só isso.
A outra mão
dele uniu-se à primeira e ele inclinou a cabeça dela para cima, para que ela
não desviasse os olhos.
— Por quê?
Ela lambeu os
lábios, desejando novamente que não descessem para jantar com o pai dele. Ela
também desejava muito que a forte dor que sentia na barriga fosse apenas uma cólica
menstrual, desde que havia parado de tomar pílula para que pudessem ter um
filho.
— Passei a manhã toda com representantes das principais
organizações femininas de Isole dei Re para discutir a necessidade de creches e
escolas em toda a ilha.
— Pensei que a
mulher de Liam estivesse cuidando disso.
— O voo de
helicóptero entre as ilhas aumentou o enjoo de Miley, mas ela não quis cancelar
a reunião. Eu a convenci a deixar-me assumir seu lugar. Agora, acho que devia
ter mandado as representantes se encontrarem com ela em Diamante.
— Por quê? Você
e Miley têm a mesma visão sobre esse assunto.
— Não de acordo
com as representantes. — Ela sorriu. — Elas acham que uma mulher que não tem
filhos e que, sobretudo, nunca precisou trabalhar para viver, não compreenderia
os desafios da mulher que trabalha fora. Acreditam que Miley seja ideal para
essa missão e que devo me manter fora disso.
— Elas disseram
isso a você? — Ele não parecia ofendido por ela, apenas curioso. Não tinha
ideia do quanto a desaprovação daquelas mulheres a magoara.
— Sim.
— Então, o fato
de ter crescido aprendendo a diplomacia foi bom.
— Quer dizer
que teria se chateado se eu tivesse dito a elas para pegarem um voo e
encontrarem Miley?
Joseph soltou
uma gargalhada masculina, como se não pudesse imaginar a cena.
— Como se você
fosse fazer isso.
— Talvez tenha
feito.
Mas ele apenas
sacudiu a cabeça.
— Conheço você.
Sem chances.
— Talvez não me
conheça tanto quanto pensa. — Na realidade, ela sabia que não. Afinal de
contas, ele nunca se ativera ao fato de ela ter se casado com ele por amor. O
casamento por conveniência fora um plano arquitetado pela mente dele e da mãe
dela.
— Fez isso? —
ele perguntou, com uma sobrancelha irônica levantada.
Ela queria
dizer que sim só para provar que ele estava errado, mas falou a verdade.
— Não, mas quis
fazer.
— Em geral, o
que queremos e o que nos permitimos fazer não são a mesma coisa. E isso faz
parte de se adequar à posição que você ocupa.
— E você ainda
pergunta por que comparei ser princesa a ser uma presidiária?
— Está infeliz,
Demetria?
— Não mais que a maioria das pessoas — ela admitiu. Desde
pequena, aprendera a esconder as verdadeiras emoções, mas estava cansada de
fingir.
— Você está
infeliz? — Joseph perguntou com um tom de voz que trazia uma inegável
perplexidade.
Aquele homem,
tão conhecido nos círculos diplomáticos por sua perspicácia, sentia-se ameaçado
quando se tratava de Demetria.
— Duas das
representantes não foram nada sutis em expressar sua opinião de que já passou
da hora de eu lhe dar um herdeiro — ela falou, em vez de responder.
— E isso a
chateia? — Novamente ele parecia surpreso.
— Um pouco.
— Mas não
deveria. Logo você poderá compartilhar boas notícias nessa área.
Ela estremeceu,
como se as palavras dele tivessem caído como sal em uma ferida que fora deixada
aberta e sangrando com a ligação do médico.
— E se eu não
puder? — ela perguntou, testando um caminho que não estava pronta para
enfrentar.
Ele colocou as
mãos grandes e calorosas sobre seus ombros e virou-lhe o rosto com movimentos
firmes.
— Está chateada
por ainda não ter engravidado? Não deveria. Estamos tentando há apenas alguns
meses. O médico falou que mulheres que tomam pílula por muito tempo podem levar
mais tempo para engravidar, mas logo vai acontecer. Afinal de contas, sabemos
que está tudo em ordem.
Pior que sal na
ferida, essas palavras foram como duras chicotadas. Antes de se casarem, três
anos antes, ele havia exigido que os dois fizessem vários exames, inclusive
alguns relativos a tipo sanguíneo e compatibilidade do esperma dele com o muco
do útero de Demetria. Ele também havia pedido que ela fizesse um teste sobre os
seus ciclos de fertilidade, somente como garantia adicional.
Sabendo que
grande parte do casamento com ela envolvia fornecer um herdeiro para o trono da
família Scorsolini, ela havia concordado seu pestanejar. Tudo estava normal.
Eles tinham compatibilidade para gravidez e ela era fértil como todas as
mulheres de sua idade.
A surpresa
maior para ela fora o desejo dele de esperar um pouco para ter um bebê. Ela não
entendia nem sabia por que ele queria esperar, mas agora sabia que a chance que
teriam de ter um filho juntos fora por água abaixo.
Incapaz de
suportar qualquer nível de intimidade diante do que
ela sabia que estava por vir, até mesmo de um toque mais
simples, ela se afastou dele.
Joseph sentiu
muita raiva diante desse comportamento de Demetria, com suas curvas femininas
provocando uma libido que ansiava por ela dia e noite. Ele queria agarrá-la e
perguntar por que, depois de três anos, seu toque não era mais aceitável, mas
essa seria uma atitude de um homem primitivo, e a coroa de príncipe de Isole
dei Re não era primitiva.
Além disso, a
rejeição física dela não era novidade. Isso vinha acontecendo há meses, mas,
sempre que ela se esquivava de um contato físico, ele ficava surpreso. Depois
de dois anos recebendo uma incrível paixão como resposta sempre que a tocava,
ele podia ser perdoado por achar quase impossível resignar-se diante da
repentina mudança de atitude dela.
Antes dos
últimos meses ele juraria que Demetria o amava. Ela nunca falou isso, mas
durante os dois primeiros anos do casamento, ela havia demonstrado de várias
formas sutis e nem tão sutis assim que sentia mais que uma satisfação
mercenária de uma mulher por um casamento bem contratado. O amor dela não fora
uma das condições de Joseph, portanto ele não se prolongara no assunto... até
que ele terminasse.
Não que
precisasse que ela sentisse isso, mas não conseguia parar de pensar no momento
em que tudo tinha acabado e por que ela parecia não desejá-lo mais com a mesma
paixão que o atraía.
A rejeição
física começou um ou dois meses depois de ela ter parado de tomar pílula.
Inicialmente, ele pensou que talvez tivessem sido os hormônios. Ele leu em
algum lugar que esse tipo de coisa pode acontecer, mas, com o passar dos meses,
tudo piorou.
Então, às
vezes, ela fazia amor com ele como antes e todas as preocupações dele
desapareciam. Só para reaparecerem quando ela se esquivava mais uma vez. Ele
não estava acostumado a ser rejeitado na vida, especialmente por uma mulher que
desejasse fisicamente. Isso vindo de sua própria mulher era algo inaceitável.
E estava
acontecendo mais e mais nos últimos tempos.
Ele começou a
imaginar se, lá no fundo, ela não gostaria de engravidar.
— Você quer ter
um bebê meu? Está com medo do que possa acontecer?
Ela se
encolheu, como se ele tivesse batido nela, e seu rosto empalideceu.
— Sim, quero
ter um filho seu. Mais que tudo. Não sei como pode imaginar outra coisa.
Ela fora tão
firme em suas palavras que ele não tinha como
duvidar.
— Então, nada
nessa situação deve chateá-la.
O olhar que ela
lançou com seus olhos verdes não era encorajador, mas ele continuou, certo de
sua conclusão.
— Logo você
poderá calar essas pessoas com a realidade da gravidez. Por enquanto, você
simplesmente lidará com a situação de forma diferente, mandando as
representantes se encontrarem com Miley.
Ela virou o
rosto para o espelho e prendeu os longos cabelos castanhos num coque.
— E isso
resolve tudo, não é?
— Deveria — ele
falou com certa exasperação. — Não entendo por que está reagindo tão
intensamente a isso. Você já lidou com pessoas bem mais irritantes que essas
mulheres.
Demetria deu de
ombros e caminhou na direção da porta. Era muito linda, quase etérea em sua
aparência, apesar das curvas que proclamavam seu corpo. E, em situações como
essa, ela sentia-se intocável como um espírito. Mas era mulher dele, era
direito dele tocá-la.
Ele o fez,
pegando seu braço quando ela passou.
Ela parou e
olhou para ele, seus lindos olhos verdes estavam tomados de uma vulnerabilidade
que ele não compreendia, nem gostava. Aquilo implicava uma infelicidade que ele
não queria que ela sentisse.
— O que foi? —
ela perguntou.
— Não gosto de
vê-la assim.
— Eu sei. Você
espera que tudo na sua vida ande sem tropeços, que todas as pessoas cumpram seu
papel sem questionamentos. Sua programação é analisada detalhadamente e as
surpresas não são bem-vindas.
— Esforço-me
para isso.
— A ponto de se
casar com uma mulher com as qualificações adequadas. Você me investigou, e me
testou para saber se eu me adequaria a ser sua principessa e futura rainha.
Certamente não esperava que eu fosse uma fonte de frustração para você.
Ela estava
certa, mas ele não entendia o som fraco de sua voz. Ela não pareceu chateada em
cumprir todo esse protocolo na época.
— Você é tudo o
que eu sempre quis como esposa. Naturalmente, na minha posição, faria qualquer
esforço para ter certeza de que nosso futuro estivesse seguro, mas você era e é
perfeita para mim, cara.
Ela se encolheu
diante desse elogio, mais do que frequentemente se esquivava do toque dele.
Como se qualquer alusão à intimidade entre ambos doesse. Mas eram íntimos. Eram
marido e mulher. Não havia relação mais íntima que essa.
Então, por que
ele havia sentido como se ambos vivessem em
hemisférios totalmente diferentes no momento?
Ele a puxou
para perto, ignorando o sutil recolhimento de seu corpo.
— Não
precisamos descer para jantar, você sabe. Ela arregalou os olhos, surpresa.
— Seu pai está
recebendo dignitários da Venezuela.
— São seus
parceiros de pescaria.
— São
diplomatas oficiais.
— Ele não vai
se incomodar se eu mandar avisar que não vamos. E há formas bem mais
interessantes de passarmos a noite.
— Conversando?
— Não é o que
tenho em mente.
Ela fechou a
cara e se afastou, em uma óbvia rejeição.
— Isso seria
rude.
Será que
Demetria havia encontrado outra pessoa para dividir sua natureza passional?
Talvez tivesse até um amante. Ele sentiu uma grande fúria diante dessa ideia,
mas, em sua arrogância, não podia pensar em nada mais que fizesse com que ela o
rejeitasse fisicamente. Além disso, algumas vezes, ela agia como se não
estivesse presente, e ele tinha um argumento convincente para achar que ela
havia conhecido outra pessoa.
Tão convincente
que ele não tinha certeza se conseguiria controlar a fúria que sentia. Detestava
sentir-se assim. Casara-se com ela para evitar esse tipo de convulsão emocional
em sua vida.
E essa era a
principal razão para nunca ter expressado sua suspeita. Ele conhecia Demetria
melhor que muitos homens conheciam suas mulheres. Ele se assegurou disso, e
tudo que conhecia de seu caráter dizia que ela nunca, sob circunstância alguma,
agiria tão desonestamente a ponto de ter um caso. Essa fora uma das razões de
ter se casado com ela. Era uma mulher muito íntegra, mas também era uma mulher
acostumada a ter fortes paixões.
Se alguém
pudesse mudar isso... será que o outro podia? Será que algum homem desconhecido
estava se aproveitando da sensualidade secreta dela, algo que costumava
satisfazer tanto a Joseph? Ele não podia acreditar nisso, mas, ao contrário do
que podia parecer, ele tinha de saber a verdade.
Ligaria para
uma agência de detetives e solicitaria uma investigação sobre as atividades
atuais de Demetria e seus movimentos no último ano. Hawke, o dono da agência de
detetives internacional, era totalmente discreto e o melhor nesse ramo.
De uma forma ou
de outra, Joseph descobriria a origem do comportamento misterioso de sua
mulher. Se outro homem estivesse envolvido, ele descobriria e lidaria com a
situação adequadamente.
Esse pensamento provocou uma raiva primitiva à qual ele
não tinha intenção de se entregar.
Demetria se
arrependeu de ter rejeitado o convite de Joseph. Afinal, tudo que ele queria
era apenas sexo? Ela podia contar a ele. O problema era que ela não queria.
Enquanto mantivesse as notícias para si, parte dela podia continuar achando que
seu casamento tinha alguma chance. Mas se tivessem conversado... se tivessem
feito amor e tivesse doído um pouco, ela teria mais uma lembrança para guardar
em um futuro sem ele. Em vez disso, estava sentada com um sorriso colado no
rosto enquanto ouvia uma conversa na qual não tinha interesse algum.
Joseph recebera
uma ligação na metade do jantar e desaparecera para atender, deixando-a
totalmente sozinha.
Ela sabia que
ele não voltaria depois da ligação. Ele sempre preferia trabalhar a ficar com
ela. Naquele dia à noite, certamente não seria diferente. Portanto, quando
serviram o café na sala ao lado, ela se retirou.
Ela havia
sentido dores na região pélvica durante todo o dia, mesmo sem estar menstruada.
Agora, a dor se agravava e não se limitava mais ao período menstrual. De acordo
com o médico, as dores eram típicas de sua condição, mas certamente não eram
agradáveis.
Estava ficando
cada vez mais difícil esconder a verdade de Joseph também, mas logo... não
precisaria mais. Ela revelaria os resultados da laparoscopia feita secretamente
em Miami. Então, diria o que o médico havia falado sobre o futuro nas condições
dela, e Joseph diria que o casamento havia chegado ao fim.
O pensamento
era ainda pior que a dor no abdome e ela forçou sua mente a lidar com o
presente, e não com o provável futuro.
Talvez um longo
banho de banheira e os remédios para dor pudessem ajudar e ela não teria de
tomar uma das bombas de medicamento prescritas pelo médico.
Elas sempre a
deixavam tonta, e ela detestava isso. Havia dias em que sequer lembrava do que
tinha feito. A surpresa foi Joseph nunca ter reparado. Se ela precisasse de
provas de que não passava de uma conveniência para ele, aí estava uma.
Como um homem,
mesmo tão distraído quanto Joseph, podia deixar de notar o comportamento da
esposa como uma viciada em drogas? Mas ele nunca falava nada quando ela estava
sob efeito dos medicamentos para dor. Para dar crédito a ele, ela fazia o
melhor para esconder sua condição... de todas as formas. Mas havia uma grande
parte dela que se ressentia pelo fato de isso ser tão fácil.
Se ele se
importasse, não seria. Tinha certeza disso.
Com o coração pesado, ela começou a encher a banheira.
Nenhuma mulher devia ter de conviver com o sentimento constante de que amava
sem ser correspondida. Doía muito.
Quando a
banheira encheu, ela tomou os remédios para dor e entrou nela.
Haviam passado
trinta minutos quando ela ouviu ruídos no quarto. Deixou a mente flutuar de
forma que apenas a periferia de sua consciência registrasse o que aqueles
ruídos significavam.
— Se você tiver
dormido aí, então vou ficar mais que um pouco chateado com você.
Ela abriu
ligeiramente os olhos e o impacto de sua presença a atingiu como sempre. Nenhum
homem era lindo assim.
— Não estou
dormindo. Não tem que se irritar.
— Certamente
parece sonolenta — ele falou em tom de acusação, mas seus olhos escuros a
devoravam de uma forma que dizia que um seguro banho de banheira não era a
única coisa na mente dele.
O interesse
óbvio dele encontrou uma resposta ávida no corpo dela. A eficácia do banho de
banheira para amenizar a dor significava que ela podia investir nisso, se
quisesse. E ela queria. Quando contasse a ele a verdade e ele aceitasse que
haveria apenas uma solução prática para o futuro, ela passaria o resto da vida
sem sentir as consequências do toque dele.
— Que tal você
se juntar a mim? — ela sugeriu, olhando para o magnífico corpo dele. — Somente
para fins de segurança, entende? Ele apertou os olhos.
— Isso é um
convite?
— O que acha?
Ele fez um som que era estranho, como um gemido de frustração, embora seu corpo
reagisse de uma forma óbvia e básica diante da sugestão.
Ela ocultou o
sorriso de satisfação diante da evidência de que o homem a desejava. Então,
olhou para ele por entre os cílios.
— Está querendo
dizer que não está interessado? — ela perguntou, em um tom que indicava que não
acreditava nisso. — Seu corpo diz o contrário.
— Talvez não
seja meu corpo quem está no controle aqui.
Ela inclinou as
costas, sentindo-se aliviada pelo fato de o movimento não ter causado mais que
desconforto em sua pélvis.
— Talvez deva
ser.
— Droga,
Demetria, o que está acontecendo?
Ele nunca
xingava na frente dela. Ela ficou tão impressionada que novamente relaxou na
água. E se ele não a quisesse? Um homem podia não
conseguir controlar as respostas do seu corpo, mas ele
não precisava acatá-las. Não se essa não fosse o desejo de sua mente.
Com medo de ter
de implorar, caso falasse alguma coisa, ela saiu da banheira calada.
— O que está
fazendo? — ele perguntou com a voz rouca.
— O que parece?
Estou saindo. — Ele podia jogar um balde de água fria nela, mas não precisava
humilhá-la.
Ele emitiu um
som que fez um frio correr na espinha de Demetria.
— Fique onde está,
sua maldosa provocadora.
Gostei do capítulo. Tadinha da Demi. O que ela tem afinal? Não pode ter filhos?
ResponderExcluirPOSTA LOGO