—
Não fique aí parada, Joan. Entre!
Demetria
estava tentando ler, mas não conseguia se concentrar. Sua mente estava ocupada
demais por outros pensamentos, a maioria deles sobre a mulher que no momento
cruzava a biblioteca em sua direção.
Joan
e Keighsley eram as únicas pessoas além de Joseph, Taylor e Mikey que haviam
estado na cidade e agora estavam em Mowbray, ou na vizinhança. Demetria não
acreditava que Taylor ou Mikey pudessem ser responsáveis pela sequência de
acidentes que sofrera, muito menos Joseph. Sobravam então apenas Joan e
Keighsley.
A
maior suspeita, sem dúvida, recaía sobre Joan. Keighsley era idoso. Demetria
não conseguia vê-lo infiltrando-se na casa de Londres no meio da noite para pôr
fogo no hall. Tampouco o imaginava escalando o portão dos fundos, como Joseph
fizera, para seguir seus passos e agredi-la na fonte.
Joan,
por seu lado, não necessitaria de qualquer peripécia para se aproximar dela.
Estava sempre ali e tinha informações privilegiadas sobre todas as suas
atividades. Ela era realmente a mais provável suspeita.
Demetria
só não conseguia pensar em uma razão que justificasse que ela tivesse feito
tais coisas. O fato é que gostava da moça.
Fechando
o livro e deixando-o de lado sobre a escrivaninha, Demetria levantou os olhos
quando a criada parou em frente a ela. Seus olhos imediatamente se estreitaram.
Ela nunca havia visto a criada daquele ângulo. Não com os óculos. Agora
conseguia enxergar a pequena pinta sob o queixo dela. Ocorreu-lhe ter visto uma
pinta igual àquela e exatamente no mesmo lugar. Dez anos antes.
Ela
fixou o olhar por um breve momento sobre a pinta e então levantou os olhos para
o rosto de Joan, examinando-o com cuidado antes de dizer:
—
O que foi, Molly?
—
Só queria saber se a senhora quer uma xícara de chá ou de chocolate enquanto
lê.
Demetria
comprimiu os lábios. Molly nem havia notado a troca de nomes. Aquela pinta era
a prova suficiente para ela.
—
Não se estiver envenenada como a torta, Molly.
A
criada ficou tensa, visivelmente acuada.
—
Sei que é você, Molly — Demetria prosseguiu — mas não sei o motivo por que está
tentando me matar.
De
punhos cerrados ao lado do corpo, Molly admitiu:
—
Pelo que fez ao meu irmão...
—
Jeremy — Demetria murmurou, lembrando-se da figura imponente do homem de
uniforme.
—.
. . e a minha mãe — Molly continuou.
—
Eu nunca vi sua mãe — Demetria espantou-se.
—
E a mim também — Molly acrescentou cheia de amargura. — Quando Jeremy foi
sentenciado e preso, perdemos nosso sustento. Tive de largar o palco para pôr
comida na mesa. Até então eu tinha uma vida tranquila. Foi uma experiência e
tanto.
—
Sinto muito que tenha sido difícil para você sustentar a si mesma e a sua
mãe... — Demetria começou a dizer, mas Molly não havia terminado.
—
E de nada adiantou. Fiz tudo que pude pela minha mãe, mas ela morreu de coração
partido por causa do escândalo e da prisão de Jeremy. — Molly levantou os olhos
cheios de ódio para Demetria e acusou-a e um tom descontrolado: — A senhora
matou os dois.
—Eu?
...
—
Jurei para mim mesma que um dia e a faria pagar.
Demetria
suspirou, olhando para Molly com pena.
—
E você esperou todo esse tempo para se vingar!
—
Para falar a verdade, eu nem esperava mais ter uma chance de me vingar — Molly
admitiu, pegando uma espátula da mesa e brincando distraída com ela. — Mas, no
começo da temporada, a senhora, lady Taylor e as amigas dela foram assistir a
uma peça em que eu estava trabalhando.
Demetria
piscou, surpresa.
—
Só fui assistir a uma única peça em toda a minha vida. — Era uma peça baseada
em contos de Shakespeare, mas ela nem se lembrava do nome. Também, sem os
óculos não enxergara nada e até dormira um pouco. — Você estava trabalhando
como atriz naquela peça? Molly assentiu com a cabeça.
—
Minha personagem morreu no segundo ato. Foi só porque, supostamente morta, eu
fiquei deitada no chão que consegui vê-la em um dos camarotes. Durante o
intervalo, dei uma escapada até o saguão para vê-la mais de perto e ter certeza
de que era a senhora. Quando me aproximei, ouvi lady Taylor comentar que a
senhora estava precisando de uma criada de quarto. Eu estava bem atrás da
senhora. Em um momento em que se virou, a senhora olhou diretamente para mim e
não vi sinal algum de ter me reconhecido. Então percebi que estava sem os
óculos. Tenho certeza — Molly prosseguiu — que não teria feito nada disso se o
destino não tivesse me dado uma mãozinha. Fui para casa naquela noite exausta e
aborrecida, e acordei no meio da noite com o cheiro de fumaça. Várias casas
estavam em chamas, inclusive a minha. Dei um jeito de pular pela janela, mas
não consegui pegar nenhuma roupa. Precisei roubar algumas. Perdi tudo no
incêndio. Só quando amanheceu é que vi o que havia roubado. Parecia uma criada.
— Ela deu uma risada. — Me pareceu quase providencial. Não entrei em contato
com nenhum conhecido, deixei que todos pensassem que havia morrido no incêndio
e resolvi me candidatar ao emprego de sua criada.
—
Você não ficou com medo de ser reconhecida? — Demetria perguntou, curiosa. — Se
não por mim, por uma outra pessoa. Como artista seu rosto certamente era
conhecido.
—
Não necessariamente. Ninguém presta muita atenção aos criados. Minha única
preocupação era se conseguiria o emprego. Não sabia nada sobre o serviço,
Mas
acho que minha profissão me ajudou bastante. A tarde, já era sua nova criada
pessoal.
—
E aí começaram os acidentes — disse Demetria. — É então a você que devo
agradecer pelo tombo na escada?
—
Ao meu sapato, foi nele que tropeçou. Eu o calcei depois e desci correndo para
ver se a senhora estava bem.
—
E a queda na frente da carruagem?
Molly
sacudiu a cabeça.
—
Aquilo foi mesmo um acidente. Não fiz nada para provocá-lo.
—
A torta envenenada?
—
Acho que não acrescentei veneno suficiente.
—
A pancada na minha cabeça e o tombo na fonte?
Molly
cerrou os dentes com muita raiva.
—
Contratei o pai do menino que trouxe o bilhete. O trato foi que ele lhe desse
uma pancada na cabeça para apagá-la. Acho que ele se entusiasmou demais e quis
me impressionar — concluiu secamente.
Demetria
ficou pensativa e então perguntou:
—
E o incêndio?
—
Tranquei a porta de seu quarto e pus fogo em um quebra-luz do hall; sabendo que
o fogo iria se propagar rapidamente, voltei correndo para a cama para que
tivessem de me acordar quando descobrissem.
Demetria
suspirou e disse.
—
Também perdi minha mãe e sei como é difícil, Molly. Mas você está culpando a
pessoa errada. Todo aquele escândalo foi provocado por seu irmão. E se ele
morreu na prisão, a morte dele não tem nada a ver comigo.
—
Não tem nada a ver com a senhora? — Molly ecoou revoltada e, apontando a
espátula para ela, disse: — Ele morreu na prisão... onde a senhora o colocou.
Ele jamais deveria ter ido parar em uma prisão. Era um bom homem, generoso e
doce e.
—
Me parece, Molly — Demetria a interrompeu, espantada —, que você esqueceu que
seu irmão me raptou e me forçou a casar com ele para passar a mão na minha
herança. Eu custo a acreditar que um homem bom, generoso e doce agiria assim.
—
Ele a amava.
—
Amava minha herança e bolou um plano para se apossar dela — Demetria rebateu,
impaciente. — E, como acontece com todos os planos malfeitos, o dele deu
errado. Foi pego e teve de pagar por isso.
—
Não haveria nenhum preço a pagar se o casamento tivesse sido consumado. Graças
à bondade dele, ele a deixou descansar aquela noite e foi esse gesto de bondade
que o matou — disse Molly com amargura e lágrimas nos olhos.
—
Bondade coisa nenhuma! — Demetria rebateu irritada.
—
Caso tivesse tido um pouquinho da bondade dele o teria salvado — Molly
insistiu. — Mas não teve nenhuma.
—
O que você queria que eu fizesse quando os homens de meu pai nos encontraram? —
Demetria argumentou, completando com toda a honestidade: — Mas mesmo que eu
pudesse fazer alguma coisa por ele, não sei se faria. Ele era um estranho para
mim e, quando os homens de meu pai apareceram, fiquei sabendo que era tudo uma
farsa para ele se apossar de minha herança.
—
Como pode dizer isso? Ele a amava. Ele me disse que se apaixonou por você no
momento em que a viu.
—
Então ele mentiu para você também — retrucou Demetria, com firmeza. —
Provavelmente para que você aceitasse o plano dele e o ajudasse. Nós nunca
havíamos nos encontrado, como ele poderia afirmar que me amava?
Demetria
viu a confusão estampada no rosto de Molly. Precisava convencê-la, por isso,
acrescentou:
—
Além disso, ouvi da própria boca dele. Eu tive um pesadelo na noite em que nos
casamos e, assustada, fui procurar por ele. Quando abri a porta entre nossos
quartos, ele estava falando para a criada, acho que era Beth o nome dela, que
ela tinha seios maravilhosos. Quando a moça perguntou por que ele havia se
casado comigo, muito bondosamente ele respondeu que embora me faltassem
encantos, me sobrava dinheiro. Então começou a elogiá-la, disse que ela era a
razão de não ter querido consumar o casamento comigo, que a consumação ficaria
para a noite seguinte, mas que estaria pensando nela. Sem fazer barulho, fechei
a porta, porque Jeremy começava a fazer o serviço completo com ela. Acho que a
gula de seu irmão não se restringia apenas a dinheiro. Se ele tivesse
conseguido se controlar, teria consumado o casamento comigo e estaria salvo. — Demetria
encolheu os ombros, cansada. — Por isso, só posso ser eternamente grata de não
ter sido tão atraente e ter dado tempo de os homens de meu pai chegarem.
—
Mentiras, mentiras. Tudo mentira — Molly gritou, levantando a espátula
ameaçadoramente.
—
Será que são? Você estava lá. Eu não poderia ter sido mais dócil e passiva, de
Londres a Gretna Green, até a última manhã. Você lembra como fiquei brava
então, e como exigi que voltássemos para casa? Primeiro seu irmão disse que eu
estava apenas cansada, mas quando insisti ele me bateu. Lembra disso?
Molly
mostrou-se hesitante, como se as lembranças de Demetria lhe avivassem a
memória. Ela abaixou um pouco a espátula e murmurou:
—
Lembro.
Molly
visivelmente se debatia internamente e seu rosto expressava toda a sua
confusão. Demetria se levantou.
Como
rosto tomado de raiva, Molly novamente apontou a espátula para Demetria.
—
Não, a senhora está querendo me confundir. Jeremy nunca mentiu para mim.
—
Nunca, nem mesmo para livrá-lo de um problema? — Demetria notou que a expressão
de Molly estava coberta de dúvida.
—
Meu Jeremy nunca faria o que a senhora está dizendo. Ele a amava.
Demetria
sentiu pena da moça. Era notório que ela se sentia traída e assustada. Procurou
então tratar os sentimentos dela com delicadeza.
—
Talvez o Jeremy que você conheceu não mentisse. Mas seu irmão foi para a
guerra, passou anos testemunhando coisas que mal podemos imaginar. Dizem que a
guerra faz um homem mudar. Talvez o Jeremy que voltou não fosse mais o seu
Jeremy.
Um
soluço escapou dos lábios de Molly e ela caiu sentada em uma poltrona na frente
da escrivaninha, soltando da mão a espátula que escorregou a seu lado.
—
Nossa, o que eu fiz! — ela gemeu, desarvorada.
—
Nada que seja irreparável — Demetria garantiu, tendo o cuidado de dar um passo
para trás da mesa. Parou, porém, assustada quando a moça deu uma risada amarga
e pegou novamente a espátula, pressionando-a dessa vez contra o próprio pulso.
—
Por favor, não se aproxime, milady. Balançando a cabeça, ela olhou para a
espátula com um olhar de total desamparo.
—
Não faça nada precipitado, Joan... Molly. Vai dar tudo certo.
—
Fácil dizer isso para quem não vai ter de enfrentar uma prisão.
—
Você não irá para a prisão — Demetria assegurou.
—
Como não? Vi o suficiente sobre prisão em minhas visitas a Jeremy. Prefiro
morrer.
—
Eu não vou denunciá-la.
—
Mas eu tentei matá-la...
Demetria
soltou um suspiro impaciente.
—
Bem, acho que você não tentou com muita convicção. Estou ainda aqui.
Molly
fungou e, ao levantar a cabeça, tinha esperança nos olhos, como se Demetria lhe
tivesse dado algo que poderia redimi-la.
—
É verdade, ou não é? — Demetria já começava a se exasperar. — Como dizem, eu
estava cega como um morcego e desamparada feito uma criança a maior parte do
tempo. Se você tivesse querido mesmo me matar, estou certa de que teria
conseguido. Em vez disso, você só se saía mal. Entretanto, como criada, sempre
foi muito eficiente. Acho que você não teve coragem de me matar.
—
Não mesmo — Molly admitiu, com outro soluço. — Eu queria magoá-la, queria que
sofresse, mas não conseguia... — Fazendo uma pausa, ela falou baixinho, como se
estivesse falando consigo mesma: — Acho que pouco importa se a senhora vai me
denunciar ou não. E só uma questão de tempo, seu marido me denunciará. Ele vai
querer me ver na prisão.
Demetria
teve um estremecimento ao se dar conta de que Molly estava certa. Joseph iria
querer que ela fosse punida, com toda a certeza. Sua mente começou a funcionar,
procurando uma saída para a moça e, então, seu rosto se iluminou.
—
América!
Molly
fitou-a, lívida.
—
América?
—
Você pode ir para lá. Eu pagarei a passagem. Lá você poderá ter um novo começo,
sem temer que seu passado possa assaltá-la.
—
Eu não tenho condições...
—
Eu pago sua passagem — Demetria insistiu, inclinando-se sobre a escrivaninha e
puxando urna folha de papel para escrever um bilhete. — Também lhe darei
dinheiro suficiente para começar um pequeno negócio, uma pensão talvez...
—
Por quê? — Molly perguntou incrédula. — Por que a senhora...?
—
Porque nós duas sofremos nas mãos de seu irmão, Molly. Ele nos enganou as duas
e ambas sofremos por isso nos últimos dez anos. Você mais do que eu. Além
disso, lembro perfeitamente como você foi boa para mim naquela viagem, me
confortando e garantindo que tudo ficaria bem. — Demetria assinou o nome no
bilhete e o estendeu à moça. — Aceite! Pegue! Vou pedir ao cocheiro para
levá-la a Londres. Vá recolher suas coisas e leve esse bilhete ao banco para
pegar o dinheiro e viajar de navio para a América.
Vendo
que Molly hesitava, embora esperançosa, Demetria tentou persuadi-la:
—
Você pode iniciar um negócio lá e ter uma nova vida, como uma mulher
respeitável. Algum dia, se você progredir, como desejo, poderá me pagar.
Tais
palavras pareceram ser decisivas. Ainda que relutante, Molly pegou o bilhete.
Sorrindo,
Demetria tirou a espátula da mão dela antes que ela mudasse de ideia, colocou-a
sobre a mesa e então pegou Molly pelo braço para acompanhá-la até a porta da
biblioteca, temerosa demais que Joseph pudesse chegar a qualquer momento.
—
Há alguma coisa daqui que você precise?
—
Não, não trouxe muita coisa comigo. A maior parte de minhas coisas está em
Londres.
—
Então vá arrumá-las antes de partir — disse Demetria, abrindo a porta da
biblioteca e indo com Molly até o hall. — Tudo ficará bem. Ouvi dizer que há
bastante progresso na América, mas você pode ir para a França, se preferir.
Você tem muitas opções. Nem precisa me dizer qual escolherá. Tudo ficará bem.
Vendo
Kibble que transitava pelo hall, Demetria o chamou e pediu que mandasse o
cocheiro preparar a carruagem e a levasse para a frente da casa. Depois foi com
Molly até a porta da frente e saiu, parando em um degrau.
—
Também não precisa deixar a Inglaterra, se não quiser. Juro que ninguém irá
persegui-la pelo que aconteceu aqui.
Molly
a encarou com um tímido sorriso nos lábios.
—
É por isso que não consegui machucá-la.
Demetria
levantou uma sobrancelha de forma inquisidora, e Molly explicou:
—
A senhora é muito boa. Vi como muitas damas tratam os criados. A senhora não é
como elas. Sempre foi gentil comigo, levando em consideração minhas opiniões,
como se fôssemos iguais. — Ela deu um sorriso mais aberto. — Cheguei até a
desejar que meu irmão tivesse conseguido consumar o casamento. Teríamos sido
como irmãs então.
Demetria
arregalou um pouquinho os olhos.
—
Sim, teríamos. Na verdade, fomos por alguns dias. — Ela sorriu também e abraçou
a moça. A carruagem já havia aparecido, vinda dos estábulos.
—
Se precisar de ajuda, me procure — Demetria cochichou no ouvido dela.
—
Obrigada — Molly sussurrou, com lágrimas nos olhos, apertou a mão de Demetria e
subiu na carruagem.
—
Leve-a para onde ela quiser ir — Demetria recomendou ao cocheiro quando fechava
a porta e se encaminhou de volta para casa, parando nos degraus da escadaria
para ver a carruagem partir.
—
Você tem um coração muito mole.
Demetria
voltou-se abruptamente ao ouvir as palavras ditas em voz grave e deu com o
marido parado no degrau atrás dela. Lorde Greville estava à porta, atrás de Joseph.
—
Há quanto tempo vocês chegaram?
—
Há bastante — respondeu ele, repetindo: — Você tem um coração mole demais,
esposa.
Ignorando
a crítica delicada do marido, ela se voltou para ver a carruagem que já descia
a alameda.
—
Vocês continuam amigos?
—
Claro! — Joseph respondeu prontamente, dirigindo o olhar para Mikey que falou
simultaneamente:
—
Ainda não decidi.
Demetria
esboçou um sorriso, depois, passando pelo marido, deu o braço a Mikey e o fez
entrar.
—
Vamos lá, milorde, perdoe meu marido por essas acusações falsas. Você deve
saber muito bem como ele fica abobado quando se trata daqueles que ama. Veja
só, ele nem percebeu ainda que estou de óculos.
Demetria
sentiu que o marido tropeçou atrás dela; ela parou, achando graça, e voltou-se
para dar a mão a ele.
Joseph
estava pálido e olhava fixamente para a armação de metal dos óculos de Demetria.
—
Você está conseguindo me enxergar?
—
Sempre consegui, milorde. Posso simplesmente vê-lo um pouco melhor — Demetria
esclareceu em tom carinhoso.
Vendo-o
tão perturbado, Mikey reagiu de maneira impaciente.
—
O cego tem sido você, não? Será que até agora não entendeu que sua mulher é
míope e que de perto ela enxerga?
—
Creio que meu marido achava que eu não conseguia ver nada — Demetria brincou.
Os
três permaneceram calados por um momento, então Demetria se voltou para Mikey e
sugeriu:
—
Talvez, milorde, você possa ir até o salão e se servir de um drinque?
—
Tenho uma ideia melhor. Acho que vou voltar para Wyndham e deixar vocês a sós.
— Dito isso, ele beijou a mão de Demetria, despediu-se de Joseph e caminhou até
a escadaria que haviam acabado de subir.
—
Você conseguia mesmo me enxergar antes? — Foi a primeira coisa que Joseph
perguntou ao ficarem sozinhos.
—
Sim, milorde.
—
Quando foi a primeira vez que você conseguiu?
—
Na noite em que o conheci, quando você se inclinou para falar comigo. Você
chegou tão perto que pude ver bem seu rosto e esses seus lindos olhos
castanhos.
Joseph
virou a cabeça, inconscientemente escondendo o lado de seu rosto em que tinha a
cicatriz.
Aproximando-se
mais dele, Demetria estendeu a mão até o queixo dele, fazendo-o encará-la, e
depois, pondo-se na ponta dos pés, beijou a cicatriz que ele tanto odiava.
Joseph
estremeceu ao toque e a expressão de seu rosto era de medo.
—
Então você se casou comigo por pena?
—
Por pena? — Demetria quase riu alto ao ouvir aquilo. — Que vergonha, milorde!
Dizer isso o insulta. Você é um homem atraente.
—
Sou um monstro. Um simples olhar para meu rosto fez com que várias mulheres
desmaiassem.
Demetria
deu de ombros.
—
Talvez logo depois do ocorrido, quando o ferimento ainda era recente e estava
muito exposto, muito vivo. Mas já se passaram dez anos. Está bem cicatrizado e
se ajustou ao seu rosto. Agora é simplesmente uma parte de você, só uma linha
que desce pela sua face. Acho que é muito maior em sua mente do que em seu
rosto.
—
Não é, não. Eu vi as mulheres se encolherem de medo.
—
Nesta temporada, milorde?
Joseph
hesitou e ela balançou a cabeça triunfante.
—
Acho que não. Imagino que uma ou duas mulheres até tentaram se aproximar de
você enquanto estávamos em Londres — ela acrescentou, ao se lembrar da proposta
indecente que lady Johnson fizera a ele.
Joseph
bufou.
—
Só estava buscando uma nova experiência com um ser excêntrico.
—
Custo a acreditar — contradisse-o Demetria, conduzindo o marido pela casa em
direção ao escritório. — Mas sabe, acho muito bom que você continue pensando
desse jeito. Assim, nunca vou precisar ter medo de que você me seja infiel.
Joseph
bufou novamente, seguindo-a até o escritório.
—
Você não precisa ter medo disso, de qualquer modo. Não tenho qualquer interesse
em outras mulheres. Aprontei tudo o que devia muito tempo atrás.
—
Hum. — Demetria caminhou até a escrivaninha e se sentou na beirada dela. —
Então você acha que eu o quero porque desejo excentricidade na cama?
Joseph
enrugou a testa.
—
Agora que você me viu direito, você ainda me quer?
—
Eu já lhe disse, marido. Eu o vi na primeira noite em que nos conhecemos e
muitas vezes depois disso. E sempre o quis.
—
Me ver de maneira embaçada e me ver perfeitamente e de perto são duas coisas
diferentes.
Demetria
ponderou por um momento.
—
É verdade, milorde. Você está certo, são duas coisas diferentes. Isso significa
então que você não vai me querer agora porque uso óculos novamente?
Joseph
piscou.
—
Não é a mesma coisa. Você pode tirar os seus óculos.
—
Não se eu quiser ver — Demetria rebateu, depois escorregou da escrivaninha e
começou a desabotoar o vestido. — Talvez devamos fazer um teste.
—
O que você está fazendo? — Joseph perguntou, assustado, dando a volta para
fechar a porta quando ela começou a se despir.
—
Bem, me parece, milorde, que estamos diante de um dilema. Eu não tinha óculos
quando nos casamos, portanto você poderá me achar verdadeiramente feia com
eles. Sem ter os óculos, eu também não conseguia vê-lo perfeitamente mesmo de
perto, portanto não sabia se depois iria achá-lo muito repulsivo. Acho que está
na hora de resolver esse problema e saber se nosso casamento tem alguma chance.
Joseph
arregalou os olhos ao vê-la descer o vestido dos ombros e deixá-lo cair aos
pés. Seu espartilho e as anquinhas tiveram o mesmo destino, deixando-a, como no
dia em que nasceu, completamente nua na frente dele. Exceto pelos óculos.
Engolindo
em seco, ele contemplou aquele corpo, detendo os olhos nos seios de Demetria,
em seu abdome lisinho até chegar aos pelos pubianos aninhados entre as pernas.
A atenção dele foi desviada pela exclamação de aborrecimento que Demetria
soltou. Ao levantar os olhos, ele viu que ela segurava com as mãos em concha os
próprios seios e os contemplava com uma expressão contrariada.
—
Era o que eu temia — disse Demetria infeliz, e Joseph sentiu o coração parar ao
ouvir essas palavras. Mas, em seguida, ela explicou: — A mera ideia do prazer
que seu corpo pode proporcionar ao meu fez com que meus seios ficassem pesados
e doloridos e meus mamilos se empinassem como para receber um beijo.
Joseph
engoliu em seco novamente, seus olhos fixando-se na prova das palavras dela;
suas mãos apoderaram-se daqueles seios intumescidos, com os mamilos
enrijecidos. Então ela tomou uma das mãos dele de seu seio e deslizou-a sobre o
ventre até seu ninho entre as pernas. Joseph ficou incrédulo quando os dedos
dela desceram um pouco mais e desapareceram nesse ninho por um breve instante.
—
Oh, Deus!
Joseph
fitou-a ao ouvir aquele suspiro, e ela explicou:
—
Parece que já estou molhada só da carícia de seu olhar. Isso não está
funcionando nada. Como posso testar o efeito de sua cicatriz quando todo o seu
corpo, sua mera presença, me afeta desse jeito?
Tirando
a mão dele de seu seio, ela o puxou.
—
Aproxime-se — sussurrou, e Joseph quase tropeçou no próprio pé para obedecê-la.
Deu um passo à frente, segurou a mão que ela lhe estendia e parou em dúvida ao
vê-la fixar os olhos nele. — Não, isso parece que não está ajudando muito,
milorde. Embora possa ver sua cicatriz de forma bem clara, não consigo ignorar
o resto de seu corpo para conseguir testar somente o efeito da cicatriz em mim.
Os
olhos de Demetria procuraram os do marido e ela arqueou a sobrancelha.
—
Quero ver o homem que eu amo fazer amor comigo.
Joseph
congelou sob o efeito dessas palavras.
—
Você me ama?
Demetria
também silenciou e a expressão de seu rosto foi se suavizando ao ver a
esperança e a alegria no rosto dele.
—
Claro que o amo. Como poderia não amá-lo?
—
Mas...
—
Não há “mas”, marido — Demetria o interrompeu. — Eu simplesmente o amo. Amo sua
aparência, seu sorriso, seus olhos, até sua cicatriz. Amo tudo em você.
Joseph
se colocou entre as pernas de Demetria e a beijou. Demetria fechou os olhos
novamente por um segundo e se forçou a abri-los, sorrindo para ele.
—
Eu o amo, Joseph. Vou repetir isso até que você se canse de ouvir.
—
Nunca vou me cansar de ouvi-la dizer isso. Eu também a amo muito, Demetria. Amo
tudo em você. Seu corpo, seu coração, sua alma, seu sorriso, sua mente e até
esses seus olhos ceguinhos. Você é dona do meu coração. Você me fez rir
novamente. Você deu um sentido à minha vida. Com óculos ou sem óculos, vestida
ou despida. Amo-a todinha e sempre amarei. — Ele se inclinou para dar um
beijinho na testa e completou: — Mas, por Deus, neste momento, eu a amo mais
nuazinha.
Demetria
riu.
—
Fico tão feliz. Agora, por favor, faça amor comigo que não estou aguentando
mais esperar.
Rindo,
Joseph puxou os quadris dela contra seu corpo e penetrou vigorosamente no
universo úmido e quente do corpo dela, fazendo-a vibrar a cada movimento de
reafirmação de seu amor.
Ela o havia visto com
os óculos e ainda o desejava, ainda o amava da mesma maneira. Era sua parceira,
seu amor, sua vida. Ele não sabia o que havia feito para rnerecê-la, mas jurou
fazer de tudo a seu alcance para vê-la sempre feliz. desculpem demora
estava sem acesso a fic pois mandei o meu not trocar a fonte que estava estragando, mas agora esta arrumado.
proxima fic sera tambem adaptaçao mas amo tanto a historia que achei que seria perfeito como jemi entao espero que tambem gostem
bjemi