Adam não estava
seguro de por que permaneceu tanto tempo em Kent. A excursão de dois dias
prontamente se prolongou quando Lorde Harry decidiu que na verdade queria
adquirir a propriedade, e não só isso, mas também queria convidar alguns amigos
imediatamente para realizar uma festa. Não havia forma de que Adam pudesse
livrar‐se educadamente, e para ser honesto, na realidade não tinha desejo
de partir, não quando isso significava retornar a Londres para enfrentar suas responsabilidades.
Não é que estivesse
tramando uma forma de evitar casar com Demetria. De fato, era absolutamente o
contrário. Uma vez que se resignou à ideia de voltar a se casar, já não parecia
um destino tão horrendo.
Mas ainda assim, não
se decidia a retornar. Se não se apressou a sair da cidade argumentando o mais
corriqueiro das desculpas, poderia ter esclarecido o assunto imediatamente. Mas
quanto mais tempo pospôs, mais desejava continuar pospondo‐o.
Como demônio ia
explicar sua ausência?
Assim que a viagem de
dois dias se converteu em uma festa campestre de uma semana de duração que a
sua vez se transformou em uma festa sem restrições de nenhum tipo de três
semanas de duração. Com caçadas, corridas e abundantes mulheres dissolutas a
quem lhes deu rédea solta dentro da casa. Adam tomou cuidado de não envolver‐se
com estas últimas. Podia ser que estivesse fugindo da responsabilidade para com
Demetria, mas o mínimo que podia fazer era permanecer fiel.
Logo chegou Mikey a
Kent e procedeu a unir‐se à festa com um desenfreio tão temerário que Adam se sentiu
obrigado a ficar e oferecer alguns conselhos fraternais. Isto requereu outras
duas semanas de seu tempo, que outorgou alegremente, já que mitigava algo da
culpa que esteve sentindo. Não podia abandonar seu irmão, não é verdade? Se não
vigiasse Mikey, o pobre moço provavelmente terminaria com um severo caso de
sífilis.
Mas finalmente se deu
conta que não podia adiar o inevitável por mais tempo, e retornou a Londres,
sentindo‐se um imbecil. Provavelmente Demetria estivesse xingando. Teria
sorte se o recebesse. E com isso em mente e não sem sentir‐se
um pouco agitado, subiu os degraus da casa de seus pais e sem esperar ser
recebido entrou no vestíbulo principal.
O mordomo se
materializou imediatamente.
—Huntley — disse Adam
a modo de saudação. — Encontra‐se a Senhorita Cheever? Ou minha irmã?
—Não, milord.
—Hmmm. Quando são
esperadas de volta?
—Não sei milord.
—Pela tarde? Na hora
do jantar?
—Imagino que não
voltarão até dentro de várias semanas.
—Várias semanas! —Adam
não tinha previsto isto. — Onde demônios estão? Huntley ficou rígido ante a
imprecação de Adam.
—Na Escócia, milord.
Escócia? Maldito
inferno. Que demônios estavam fazendo lá? Demetria tinha amigos em Edimburgo,
mas se tinha feito planos para visitá‐los, não o informou.
Espera um momento,
não estaria Demetria prometida a algum cavalheiro escocês relacionado com seus
avôs? Se esse fosse o caso certamente alguém teria informado‐o. Demetria,
antes de qualquer um. E Deus sabia que Selena era incapaz de manter um segredo.
Adam caminhou a
longos passos para o pé das escadas e começou a vociferar.
—Mãe! Mãe! —virou‐se
para Huntley. — Imagino que posso assumir que minha mãe não as seguiu até
Escócia?
—Não, ela está
residindo aqui, milord.
—Mãe!
Lady Rudland se
apressou a descer.
—Adam, em nome do
céu, o que acontece? E onde esteve? Partindo ao Kent sem nem sequer nos dizer
isso.
—Por que Selena e Demetria
estão na Escócia?
Ante seu interesse,
Lady Rudland arqueou as sobrancelhas.
—Uma enfermidade na
família. Quero dizer na família de Demetria.
Adam evitou assinalar
que isso era óbvio, já que os Bevelstoke não tinham parentes na Escócia.
—E Selena foi com
ela?
—Bom, já sabe como
são unidas.
—Quando retornam?
—Não posso dizer nada
a respeito da Demetria, mas já escrevi a Selena, insistindo em que retorne. A
esperamos em poucos dias.
—Bem — murmurou Adam.
—Estou segura que se
sentirá feliz por sua devoção fraternal.
Adam semicerrou os
olhos. Havia certa nota de sarcasmo na voz de sua mãe?
Não podia estar
seguro.
—A verei logo, mãe.
—Estou segura de que
o fará. OH, e Adam?
—Sim?
—Por que não tenta
passar mais tempo com seu ajudante de quarto? Parece um pouco maltrapilho.
Quando Adam se foi
estava grunhindo.
Dois dias depois, Adam
foi informado que sua irmã tinha retornado a Londres.
Adam se apressou a
sair para sua casa imediatamente. Se havia uma coisa que odiava era esperar. E
se havia algo que odiava ainda mais, era sentir‐se culpado.
E se sentia
malditamente culpado por ter feito Demetria esperar pelo que agora se converteu
em um período de mais de seis semanas.
Quando chegou, Selena
estava em seu quarto. Em vez de esperá‐la na sala de estar, Adam
subiu a escada e bateu na porta.
—Adam! —Exclamou Selena.
— Valha‐me Deus! O que está fazendo aqui?
—Sinceramente, Selena,
costumava viver aqui. Recorda?
—Sim, sim, é obvio.
—Sorriu e se voltou a sentar. — A que devo este prazer?
Adam abriu a boca, e
logo a fechou, sem estar seguro do que queria perguntar. Não podia simplesmente
sair com, "Seduzi sua melhor amiga e agora preciso endireitar as coisas,
assim consideraria apropriado que fosse procurá‐la à casa de seus avôs
enquanto um deles está doente?"
Voltou a abrir a
boca.
—Sim, Adam?
Fechou‐a,
sentindo um tolo.
—Queria me perguntar
algo?
—O que achou da
Escócia? —Balbuciou.
—Linda. Esteve lá
alguma vez?
—Não. E Demetria?
Selena duvidou antes
de responder.
—Está bem. Manda
saudações.
De alguma forma, isso
parecia duvidoso a Adam. Tomou fôlego. Devia proceder com cautela.
—Está de bom ânimo?
—Her, sim. Sim, está.
—Não estava desanimada
ao perder o resto da temporada?
—Não, é obvio que
não. Para começar nunca desfrutou muito. Você sabe.
—Correto. —Virou‐se
para ficar de frente à janela, tamborilando com a mão contra uma de suas pernas
em sinal de impaciência. — Retornará logo?
—Imagino que não o
fará até dentro de alguns meses.
—Então, sua avó está
bastante doente?
—Bastante.
—Deveria enviar
minhas condolências.
—Não chegou a isso
ainda. —Apressou‐se a dizer Selena. — O doutor diz que levará algum tempo, ehh, ao
menos meio ano, talvez um pouco mais, mas pensa que se recuperará.
—Já vejo. E
exatamente, que enfermidade padece?
—Uma doença feminina
— disse Selena, sua voz soou talvez um pouquinho petulante em excesso.
Adam arqueou uma
sobrancelha. Uma doença feminina em uma avó.
Extremamente
intrigante. E suspeito. Voltou a se virar.
—Espero que não seja
contagioso. Eu não gostaria que Demetria adoecesse.
—OH, não. A, er,
enfermidade que há nessa casa definitivamente não é contagiosa. —Quando viu que
Adam não desviava o olhar penetrante de seu rosto, acrescentou. — Olhe para
mim. Estive ali uma quinzena e estou sã como um cavalo.
—Sim, está. Mas devo
dizer que estou preocupado com Demetria.
—OH, mas não deveria
estar — insistiu Selena. — Ela está bem é sério.
Adam semicerrou os
olhos. As bochechas de sua irmã se puseram um pouco rosadas.
—Há algo que não está
me dizendo.
—Eu... Eu não sei do
que está falando — gaguejou. — E por que você está me fazendo tanta pergunta a
respeito de Demetria?
—Também é uma boa
amiga minha — respondeu em um tom suave como a seda. — E sugiro que trate de me
dizer a verdade.
Enquanto ele se
aproximava a grandes passos, Selena se deslizou velozmente por cima da cama,
atravessando‐a.
—Não sei do que está
falando.
—Está envolvida com
um homem? —Demandou. — Está? É por isso que inventou esta história tão óbvia a
respeito de um familiar doente?
—Não é uma história —
protestou.
—Me diga a verdade!
Fechou a boca com
força.
—Selena — disse
ameaçadoramente.
—Adam! —Sua voz
adquiriu um tom histérico. — Eu não gosto do olhar que tem nos olhos. Vou
chamar a mamãe.
—Mamãe é da metade de
meu tamanho. Não será capaz de evitar que te estrangule, pirralha.
Ela arregalou os
olhos.
—Adam, ficou louco.
—Quem é ele?
—Não sei! — Estalou.
— Não sei.
—Assim sim há alguém.
—Sim! Não! Já não
mais!
—Que demônio está
acontecendo? — O ciúme, puro e ardentemente violento, percorreu‐no
por inteiro.
—Nada!
—Me diga o que
aconteceu com Demetria. — Rodeou a cama até que abandonou a Selena. Um
sentimento de temor muito primitivo brincava de correr por seu corpo. Medo ante
a possibilidade de perder Demetria e medo de que de alguma forma estivesse
ferida. E se tinha acontecido algo com ela? Nunca teria imaginado que o bem‐estar
de Demetria poderia lhe causar esse tipo de preocupação que fechava sua garganta,
mas ali estava, e Cristo, era espantoso. Nunca quis preocupar‐se
tanto por ela.
A cabeça de Selena se
disparava de direita à esquerda procurando um meio de escape.
—Ela está bem, Adam.
Juro.
Ele colocou as
grandes mãos sobre os ombros da irmã.
—Selena — disse em
voz muito baixa, com os olhos azuis cintilando de fúria e de temor. — Vou dizer
isto só uma vez. Quando éramos crianças, nunca te batia, apesar, poderia
acrescentar, de ter tido suficientes razões. — Fez uma pausa, inclinando‐se ameaçadoramente.
— Mas não tenho inconvenientes em começar a fazê‐lo nesse mesmo instante. — O
lábio inferior dela começou a tremer. —Se não me disser neste mesmo instante em
que tipo de confusão Demetria se meteu, posso assegurar que se arrependerá
profundamente.
Cem emoções
diferentes cruzaram o rosto de Selena, a maioria delas relacionadas de certa
forma com o pânico e o medo.
—Adam — suplicou — é
minha melhor amiga. Não posso trair sua confiança.
—O que está
acontecendo? — Pressionou.
—Adam...
—Me diga!
—Não, não posso,
eu... — Selena ficou pálida. — OH, Meu Deus.
—O que?
—OH, Deus —
resfolegou. — É você.
Uma expressão que Adam
nunca tinha visto antes, não em sua irmã, nem dado o caso, em ninguém mais,
apoderou‐se de seu rosto, e então...
—Como pôde! —Gritou,
esmurrando a parte superior de seu corpo com seus pequenos punhos. — Como pôde?
É uma besta! Escutou? Um animal! E é certamente ruim de sua parte deixá‐la
assim.
Adam permaneceu
imóvel durante toda a enxurrada, tratando de encontrar sentido as palavras e a
fúria da irmã.
—Selena — disse
pausadamente. — Do que está falando?
—Demetria está
grávida — vaiou. — Grávida.
—OH, Meu Deus. —As
mãos de Adam caíram, afastaram‐se dos braços dela e se deixou cair afundando‐se
na cama, atordoado.
—Presumo que você
seja o pai — disse com frieza. — Isso é repugnante. Por amor de Deus, Adam.
Virtualmente é seu irmão.
Ele jogou fumaça pelo
nariz.
—Dificilmente.
—É mais velho que ela
e mais experiente. Não deveria ter se aproveitado.
—Não vou justificar
minhas ações ante você — cuspiu friamente. Selena bufou.
—Por que não me disse
isso?
—Se por acaso não
lembra, estava em Kent. Bebendo, fornicando e...
—Não estava
fornicando — disse bruscamente. — Não estive com outra mulher depois de ter
estado com Demetria.
—Me desculpe se acho
difícil de acreditar, irmão mais velho. É desprezível. Saia do meu quarto.
—Grávida. — Voltou a
pronunciar a palavra como se repeti‐la fizesse mais fácil de
acreditar. — Demetria. Um bebê. Deus.
—É um pouco tarde
para rezar — disse Selena glacialmente. —Seu comportamento foi do pior, vai
além do reprovável.
—Não sabia que estava
grávida.
—Acaso importa?
Adam não respondeu.
Não podia responder, não quando sabia que tinha atuado tão absolutamente mal.
Deixou cair à cabeça entre as mãos, sua mente ainda retrocedia ante a comoção.
Deus querido, quando pensava em quão egoísta tinha sido... Adiou enfrentar Demetria
simplesmente devido a que era muito indolente.
Imaginou que quando
retornasse, estaria aqui o esperando. Por que... Por que... Porque isso era o
que ela fazia. Não o esperou durante anos? Não lhe disse...
Era um idiota. Não
podia haver outra explicação nem outra desculpa.
Simplesmente tinha
assumido... E logo se aproveitou... E...
Nunca, nem em seus
sonhos mais selvagens imaginou que ela poderia ter ido umas trezentas milhas
para o norte, aguentando uma gravidez inesperada que logo se converteria em um
filho ilegítimo.
Disse a ela que o
notificasse se algo assim ocorresse. Por que não lhe escreveu?
Por que não lhe disse
algo?
Baixou a vista e
olhou as mãos. Viam‐se estranhas, alheias e quando flexionou os dedos, sentiu os
músculos tensos e torpes.
—Adam?
Pôde ouvir sua irmã
sussurrar seu nome, mas por algum motivo não pôde responder. Podia sentir sua
garganta movendo‐se, mas não podia falar, nem sequer podia respirar. Tudo o que
pôde fazer foi permanecer ali sentado sentindo um tolo, e pensando em Demetria.
Sozinha.
Estava sozinha e
provavelmente aterrada. Estava sozinha, quando deveria ter estado casada e
confortavelmente instalada em seu lar em Northumberland com ar fresco, comendo
comida saudável e onde ele pudesse vigiá‐la.
Um bebê.
Era gracioso, sempre
pensou que deixaria que Mikey continuasse o sobrenome da família. E agora o que
desejava mais que qualquer outra coisa era tocar o ventre inchado de Demetria,
sustentar seu filho nos seus braços. Esperava que fosse uma menina. Esperava
que tivesse olhos marrons. Podia ter um herdeiro mais a frente.
Com Demetria em sua
cama, já não o preocupava o tema da concepção.
—O que vai fazer a
respeito? — Demandou Selena.
Lentamente Adam
levantou a cabeça. Sua irmã estava de pé como um militar, na sua frente, com as
mãos nos quadris.
—O que pensa você que
farei a respeito? — Rebateu.
—Não sei Adam — e por
uma vez a voz de Selena carecia de fio.
Adam se deu conta que
não era uma réplica mordaz. Não era uma provocação.
Era certo que Selena
não estava convencida de que tivesse a intenção de fazer o correto e que fosse
casar com Demetria.
Adam nunca se sentiu
menos homem.
Com um profundo e
tremente suspiro, ficou de pé e clareou a garganta.
—Selena, seria tão
amável de me dar o endereço de Demetria na Escócia?
—Com prazer. — Foi
para a escrivaninha e arrancou um pedaço de papel no qual rapidamente rabiscou
umas poucas linhas. — Aqui está.
Adam tomou o pedaço
de papel, dobrou‐o e o pôs no bolso.
—Obrigado.
Selena muito
intencionadamente, não respondeu.
—Acredito que não a
verei por algum tempo.
—Tenho esperanças de
que ao menos seja por sete meses — replicou ela.
Adam cruzou a
Inglaterra até Edimburgo correndo, completando a viagem em um incrível lapso de
quatro dias e meio. Quando chegou à capital escocesa, estava cansado e
poeirento, mas isso não parecia importar. Cada dia que Demetria passava sozinha
era outro dia em que poderia... Infernos, não sabiam o que era capaz de fazer, mas
tampouco queria averiguar.
Antes de começar a
subir os degraus voltou a comprovar o endereço. Os avôs de Demetria viviam em
uma casa relativamente nova em um setor elegante de
Edimburgo. Uma vez
ouviu que eram pessoas ricas e que tinham propriedades mais ao norte. Suspirou
aliviado de que estivessem passando o verão aqui embaixo perto da fronteira.
Não teria ficado satisfeito ter que continuar a viagem internando‐se
nas
Highlands. Já tendo chegado
até ali estava exausto.
Golpeou a porta com
firmeza. Um mordomo abriu a porta e o saudou com o acento nasal que alguém
poderia encontrar‐se na residência de um Duque.
—Vim ver a Senhorita
Cheever — disse Adam com um tom cortante.
O mordomo olhou desdenhosamente
a roupa enrugada de Adam.
—Não está em casa.
—Não está? — O tom de
Adam implicava que não acreditava. Não o surpreenderia que tivesse dado sua
descrição a toda a casa com instruções de que proibissem sua entrada.
—Terá que retornar
mais tarde. Entretanto, ficaria encantado de transmitir uma mensagem, se
você...
—Esperarei — Adam
passou ao lado do mordomo, entrando em um pequeno salão do vestíbulo principal.
—Como se atreve,
senhor! — Protestou o mordomo.
Adam tirou um de seus
cartões e entregou. O mordomo olhou seu nome, o olhou, e logo voltou a olhar
seu nome outra vez. Obviamente não esperava que um
Visconde tivesse uma
aparência tão desgrenhada. Adam sorriu com secura. Havia vezes em que um título
podia resultar malditamente conveniente.
—Se deseja esperar,
milord — disse o mordomo em um tom algo mais contido.
— Farei que uma
criada traga o chá.
—Por favor.
Quando o mordomo
saiu, Adam começou a vagar pelo recinto, examinando lentamente os arredores.
Obviamente os avôs de Demetria tinham bom gosto. Os móveis eram simples e de
estilo clássico, estilo que nunca parecia desconjuntado nem irremediavelmente
passado de moda. Enquanto examinava ociosamente o quadro de uma paisagem,
refletiu como fez umas mil vezes desde que deixou Londres, a respeito do que
diria a Demetria. O mordomo não chamou a guarda ao escutar seu nome. Isso era
um bom sinal, ou isso supunha.
Alguns minutos depois
chegou o chá e quando Demetria não apareceu em seguida, Adam decidiu que o
mordomo não estava mentindo a respeito de seu paradeiro. Não importava.
Esperaria o que fosse necessário. Ao final sairia com a dele... Não tinha
nenhuma dúvida a respeito.
Demetria era uma moça
sensível. Sabia que o mundo era um lugar frio e desumano para uma criança
ilegítima. E para a mãe. Sem importar quão zangada estivesse com ele e estaria
disso não restava dúvida não desejaria relegar o filho a uma vida tão difícil.
Também era seu filho.
Merecia o amparo de seu sobrenome. Tanto como
Demetria. Realmente
não o agradava a ideia de que ela permanecesse muito mais tempo liberada a sua
sorte, mesmo que seus avôs tivessem aceitado acolhê‐la
neste difícil momento.
Adam permaneceu ali
sentado com seu chá por meia hora, arrasando ao menos seis bolachas das quais
haviam lhe trazido. Tinha sido uma longa viagem de
Londres, e não se
deteve muito frequentemente para comer. Estava se maravilhando com o fato de
que o sabor destas fosse muito melhor que qualquer coisa que tivesse provado na
Inglaterra quando ouviu que se abria a porta principal.
—MacDownes!
A voz de Demetria. Adam
ficou de pé, com uma bolacha ao meio comer entre os dedos. Soaram passos no
vestíbulo, presumivelmente pertencentes ao mordomo.
—Poderia me ajudar
com alguns destes pacotes? Sei que deveria ter pedido que fosse enviada a casa,
mas estava muito impaciente.
Adam ouviu o som de
pacotes trocando de mãos, seguido da voz do mordomo.
—Senhorita Cheever,
devo lhe informar que tem um visitante esperando‐a no salão.
—Um visitante? Eu?
Que estranho. Deve ser um dos MacLean. Sempre fui amistosa com eles quando
estou na Escócia, devem ter se informado que estou na cidade.
—Não acredito que
seja de origem escocesa, senhorita.
—Realmente, então
quem...
Adam quase sorriu
quando sua voz se alargou pela comoção. Quase podia ver como ficava boquiaberta.
—Foi do mais
insistente, senhorita — continuou MacDownes. — Tenho seu cartão justo aqui.
Houve um longo
silencio depois do qual Demetria disse finalmente:
—Por favor, diga que
não estou disponível. —Sua voz tremeu na última palavra, e logo se lançou
escada acima.
Adam saiu ao
vestíbulo a pernadas bem a tempo para se chocar com MacDownes, que
provavelmente estava desfrutando com a ideia de jogá‐lo
para fora.
—Ela não deseja vê‐lo,
milord — cantarolou o mordomo, não sem o mais leve indício de um sorriso.
Adam o empurrou para
abrir‐se caminho.
—Maldição se não o
fará.
—Não acredito milord.
— MacDownes o agarrou pela jaqueta.
—Olhe amigo — disse Adam,
tratando de soar friamente simpático, se tal coisa fosse possível. — Não tenho
inconveniente em golpeá‐lo.
—E eu não tenho
inconveniente em golpeá‐lo.
Adam examinou o homem
mais velho com desdém.
—Saia de meu caminho.
O mordomo cruzou os
braços e manteve sua posição.
Adam franziu o cenho
e tirou a jaqueta das mãos de um puxão, logo caminhou a pernadas até o pé da
escada.
—Demetria! — Gritou.
— Desça agora mesmo! Agora mesmo! Temos coisas a disc...
Thwack!
Bom Deus, o mordomo
lhe deu um murro na mandíbula. Aturdido, Adam acariciou a pele.
—Está louco?
—Não, nenhum pouco
milord. Levo meu trabalho com muita seriedade.
O mordomo tinha
adotado uma posição de luta com a soltura e a graça de um profissional. Podia
contar com Demetria para contratar um mordomo treinado para boxear.
—Olhe — disse Adam em
tom conciliador. — Preciso falar com ela imediatamente. É de suma importância.
A honra da dama está em jogo.
Thwack!
Adam cambaleou por um
segundo murro.
—Isso, milord, é por
implicar que a Senhorita Cheever é algo menos que honorável.
Adam semicerrou os
olhos ameaçadoramente, mas decidiu que não teria nem a menor oportunidade
contra o mordomo louco de Demetria, não quando já estava no extremo oposto a
dois golpes atordoantes.
—Diga à Senhorita
Cheever — disse em tom mordaz — que retornarei e será melhor que me receba. —
Saiu da casa e desceu os degraus dando furiosas pernadas.
Absolutamente furioso
porque a garota se negou categoricamente a vê‐lo, se virou para olhar para
a casa. Ela estava de pé em uma janela aberta do andar superior, cobrindo a
boca nervosamente com os dedos. Adam a olhou com o cenho franzido e então se
deu conta que ainda estava sustentando a bolacha meio comida. A lançou com
força através da janela, e bateu totalmente no meio do peito.
Encontrou certa
satisfação nisso.
24
DE AGOSTO DE 1819
OH,
céus.
Nunca
enviei a carta, é obvio. Passei um dia inteiro redigindo‐a e justo quando estava
pronta para enviá‐la,
fez‐se
desnecessária.
Não
soube se me regozijar ou se começava a chorar.
E
agora Adam está aqui. Deve ter tirado a verdade — ou melhor, dizendo, o que
costumava a ser a verdade — de Selena à força. De outra forma ela nunca teria
me traído. Pobre Livvy. Podia ser aterrador quando ficava furioso.
Coisa
que, aparentemente, ainda estava. Atirou uma bolacha em mim. Uma bolacha! É
algo difícil de compreender.