Não
teria sido um exagero dizer que Demetria sonhou com este momento durante anos.
E em seus sonhos, sempre parecia saber o que dizer. Mas na realidade, pelo
visto, estava longe de ser eloquente e não podia fazer outra coisa exceto olhá‐lo fixamente,
sem respirar —literalmente— pensou, literalmente sem respirar.
Gracioso,
sempre pensou que fosse uma metáfora. Sem respirar. Sem respirar.
—Pensei
que não — estava dizendo ele, e Demetria mal podia ouvir por cima da corrida
frenética de seus pensamentos. Deveria começar a correr, mas estava paralisada
e não deveria fazer isto, mas desejava, ao menos pensou que na verdade o quis
desde que tinha dez anos e particularmente ainda não sabia o que esteve querendo
e...
E
seus lábios tocaram os dela.
—Adorável
— murmurou ele, lhe dando uma chuva de beijos delicados, sedutores, ao longo da
bochecha até que alcançou a linha da mandíbula.
Sentia‐se
como no céu. Sentia‐se de uma maneira que nunca conheceu. Sentiu uma agitação
interior, uma tensão estranha, enrolando‐se e alongando‐se e
não estava segura do que significava, assim ficou ali quieta, aceitando os
beijos enquanto ele se movia por seu rosto, ao longo da maçã do rosto,
retornando a seus lábios.
—Abra
a boca — pediu, e ela o fez, porque ele era Adam e ela queria isto. Não o quis
sempre?
A
língua dele se inundou dentro de sua boca e se sentiu atraída mais firmemente
contra ele. Os dedos estavam exigindo e em seguida a boca exigia, e então se
deu conta de que estava equivocada. Este não era o momento com o qual sonhou durante
anos. Ele não a desejava. Não sabia por que a beijava, mas não a desejava. E certamente
não a amava. Não havia ternura neste beijo.
—Me
beije de volta, maldita seja — grunhiu ele, e pressionou seus lábios contra os
dela com insistência renovada. Foi duro e estava zangado, e pela primeira vez
na noite, Demetria começou a sentir‐se assustada.
—Não
— tentou dizer Demetria, mas sua voz se perdeu contra a boca dele.
A
mão dele de algum jeito encontraram suas nádegas e estava apertando‐a, pressionando‐a
para cima contra ele na maioria dos lugares íntimos. E não entendia como podia
ter procurado isto e não desejá‐lo, como podia fazê‐la sentir uma comichão e
fazer que se assustasse como podia amá‐lo e o odiar ao mesmo tempo,
em igual medida.
—Não
— disse ela outra vez, interpondo as mãos entre eles, as palmas contra o peito.
— Não!
E
então ele se afastou com brutalidade, sem o mais leve indício de querer ficar.
—Demetria
Cheever — murmurou com o que realmente era um tom cansado,— quem diria?
O
esbofeteou.
Seus
olhos se entrecerraram, mas ele não disse nada.
—Por
que fez isso? —perguntou sua voz tranquila embora o resto dela tremesse.
—Beijá‐la?
–deu um encolher de ombros. — Por que não?
—Não.
—tornou‐se para trás, horrorizada pela nota de dor que detectou em sua
própria voz. Desejou estar furiosa. Estava furiosa, mas queria que ele notasse.
Queria que ele soubesse.
—
Não pode optar pela saída mais fácil. Perdeu esse privilégio.
Ele
riu baixo, o condenado, e disse:
—É
tão divertida como uma dominatrix.
—Chega
— gritou Demetria. Ele seguia falando a respeito de coisas que ela não entendia
e o odiou por isso. — Por que me beijou? Você não me ama.
Cravou
as unhas nas palmas das mãos. Estúpida, garota estúpida. Por que disse isso?
Mas
ele só sorriu.
—Me
esqueci de que só tem dezenove anos e não se dá conta de que o amor nunca é um
requisito prévio para um beijo.
—Não
acredito que eu goste disso.
—Tolices.
É obvio que sim. —Piscou, como se tratasse de recordar quando, exatamente, a
conheceu. — Bem, certamente não me produz aversão.
—Não
sou Camille — murmurou ela.
Em
um segundo meio, uma mão se enrolou ao redor da parte superior de seu braço,
apertando quase ao extremo da dor.
—Não
mencione seu nome nunca mais. Ouviu?
Demetria
ficou olhando‐o fixamente, assombrada pela crua ira que emanava de seus olhos.
—Sinto
muito — disse precipitadamente. — Por favor, deixe‐me
ir.
Mas
ele não o fez. Afrouxou o apertão, mas só ligeiramente, e quase era como se
visse através dela. A um fantasma. Ao fantasma de Camille.
—Me
solte, por favor — murmurou Demetria. — Está me machucando.
A
expressão dele se suavizou e deu um passo atrás.
—Sinto
muito — disse. Olhava para outro lado, à janela? Ao relógio? — Minhas desculpas
— disse bruscamente. — Por agarrá‐la. Por tudo.
Demetria
engoliu saliva. Deveria ir. Deveria esbofeteá‐lo outra vez e logo deveria ir,
mas se comportou de forma miserável e não podia perdoá‐lo
pelo que disse.
—Sinto
que ela o fizesse tão infeliz.
Seus
olhos voaram para os de Demetria.
—As
intrigas viajam até chegar às salas de aula, é assim?
—Não!
—disse Demetria rapidamente. — É só que... Posso explicar.
—OH?
Demetria
mordiscou o lábio, perguntando o que deveria dizer. Houve fofocas na sala de
aula. Mas, além disso, viu por si mesma. Estava tão apaixonado no dia do casamento.
Seus olhos tinham brilhado com amor, e quando olhava Camille, Demetria pôde
virtualmente ver o mundo desaparecer. Eram como se estivessem em seu próprio
pequeno universo, somente eles, e ela estivesse olhando do exterior.
E a
seguinte vez que o viu... Foi diferente.
—Demetria
– ele a apressou.
Olhou
para cima e disse com delicadeza.
—Qualquer
um poderia dar‐se conta de que seu matrimônio o fazia infeliz.
—E
como é isso? —Adam baixou o olhar para ela e havia algo tão urgente em seus
olhos que Demetria só podia lhe dizer a verdade.
—Costumava
rir — disse brandamente. — Você costumava rir e seus olhos brilhavam.
—E
agora?
—Agora
é frio e duro.
Ele
fechou os olhos e por um momento Demetria pensou que estivesse sofrendo. Mas ao
final lhe dirigiu um olhar fixo e penetrante, e um canto de sua boca se curvou
para cima em uma paródia sardônica de sorriso.
—Sou
— cruzou os braços e se apoiou insolentemente contra uma estante. — Rogo que me
diga Senhorita Cheever, desde quando se tornou tão perceptiva?
Demetria
engoliu saliva, lutando contra a decepção que subiu por sua garganta.
Seus
demônios tinham ganhado outra vez. Durante um instante, quando seus olhos
estavam fechados, quase pareceu como se a tivesse ouvido. Não suas palavras, mas
sim o significado que havia atrás delas.
—Sempre
fui — disse Demetria. — Você costumava fazer comentários a respeito disso
quando eu era pequena.
—Esses
grandes olhos marrons — disse com uma desumana risada afogada. —Seguindo‐me a
todas as partes. Acha que não me dei conta de que estava apaixonada por mim?
As
lágrimas arderam os olhos de Demetria. Como podia ser tão cruel para dizer isso?
—Foi
muito amável comigo quando era criança — disse brandamente.
—Suponho
que fui. Mas isso faz muito tempo.
—Ninguém
se dá conta disso mais do que eu.
Não
disse nada e Demetria tampouco. E depois finalmente...
—Vai.
Sua
voz soou rouca, doída e cheia de angústia.
Ela
se foi.
E
essa noite não escreveu nada em seu diário.
Na
manhã seguinte Demetria despertou com um objetivo claro. Queria ir para casa.
Não se importava perder o café da manhã, não importava se os céus se abrissem e
tivesse que avançar com dificuldade através da chuva torrencial. Simplesmente
não queria ficar aqui, com ele, na mesma casa, na mesma propriedade.
Era
muito triste. O Adam que conheceu o Adam que adorou se foi. Ela havia sentido,
é obvio. Tinha sentido em suas visitas a casa. A primeira vez foram seus olhos.
A
seguinte sua boca e as linhas brancas de cólera gravadas nos cantos.
Havia
sentido, mas até agora verdadeiramente não se permitiu saber.
—Está
acordada.
Era Selena,
completamente vestida e brilhando encantadora, inclusive com seu negro de luto.
—Infelizmente
— murmurou Demetria.
—O
que diz?
Demetria
abriu a boca, logo recordou que Selena não ia esperar para obter uma resposta,
para que gastar energia?
—Bem,
ande depressa — disse Selena. — Se vista e enviarei minha donzela para os
toques finais. É sem dúvidas, mágica com o cabelo.
Demetria
se perguntou quando Selena se daria conta de que não tinha movido um só
músculo.
—Levante‐se, Demetria
Demetria
quase ficou de pé de um salto.
—Meu
Deus, Selena. Ninguém te disse que é de má educação gritar no ouvido de outro
ser humano?
O
rosto de Selena apareceu acima do dela, bastante perto.
—Não
parece muito humana esta manhã, para falar a verdade.
Demetria
se virou.
—Não
me sinto humana.
—Se
sentirá melhor depois do café da manhã.
—Não
tenho fome.
—Mas
não pode perder o café da manhã.
Demetria
apertou os dentes. Tal vitalidade deve ser ilegal antes do meio‐dia.
—Demetria.
Demetria
colocou um travesseiro em cima da cabeça.
—Se
disser meu nome uma vez mais, terei que te matar.
—Mas
temos trabalho a fazer.
Demetria
fez uma pausa. A respeito de que diabos, Livvy estava falando?
—Trabalho?
—repetiu.
—Sim,
trabalho — Selena arrancou o travesseiro e o jogou ao chão. — Tive a ideia mais
maravilhosa. Sobreveio‐me em um sonho.
—Está
brincando.
—Muito
bem, estou brincando, mas me veio esta manhã quando estava na cama.
Selena
sorriu com um tipo de sorriso, bem felino, realmente do tipo que significava
que teve um brilho de genialidade ou destruiria o mundo tal e como o conheciam.
E então Selena esperou, tratava‐se da primeira vez que esperava e Demetria a premiou com um...
—Muito
bem, qual foi?
—Você.
—Eu.
—E Mikey.
Por
um momento, Demetria não pôde falar. Logo disse.
—Está
louca.
Selena
deu um encolher de ombros e se recostou.
—Ou
muito, muito inteligente. Pensa nisso, Demetria. É perfeito.
Demetria
não podia imaginar pensar em ter uma relação com algum cavalheiro nesse
momento, muito menos um com o sobrenome Bevelstoke, mesmo que não fosse Adam.
—O
conhece bem e está na idade — disse Selena, enumerando os motivos com os dedos.
Demetria
negou com a cabeça e escapou para o outro lado da cama.
Mas Selena
era ágil e esteve ao seu lado em questão de segundos.
—Você
realmente não quer uma temporada — continuou. — Disse em numerosas ocasiões. E
odeia conversar com pessoas que não conhece.
Demetria
tratou de esquivá‐la e escapuliu para o guarda‐roupa.
—Posto
que conheça Mikey, como já disse, isso elimina a necessidade de conversar com
desconhecidos, e, além disso – o rosto sorridente de Selena se fez visível—
significa que seremos irmãs.
Demetria
estava imóvel, seus dedos agarrando firmemente o vestido de dia que havia
tirado do guarda‐roupa.
—Isso
seria encantador, Selena — disse, porque realmente, que outra coisa poderia
dizer?
—OH,
estou emocionada de que esteja de acordo! — Exclamou Selena, e abraçou Demetria.
— Será maravilhoso. Esplêndido. Mais que esplêndido. Será perfeito.
Demetria
ficou quieta, perguntando‐se como diabos conseguiu se meter em tal enredo.
Selena
retrocedeu ainda radiante.
—Mikey
não terá a menor ideia do que estar por vim.
—O
propósito disto é o de igualar ou simplesmente se trata de algum jeito de superar
seu irmão?
—Bem,
ambos são obvio — admitiu Selena com franqueza. Soltou Demetria e se deixou
cair em uma cadeira próxima. — Tem importância?
Demetria
abriu a boca, mas Selena foi mais rápida.
—É
obvio que não — disse. — O que importa é ficar igualado, Demetria.
—Verdadeiramente estou surpreendida de não ter tido estes sérios pensamentos
antes.
Como
estava atrás de Selena, Demetria se deu o gosto de fazer uma careta. É obvio
que não pensou seriamente. Esteve muito ocupada sonhando com Adam.
—E
vi o Mikey te olhando ontem à noite.
—Só
havia cinco pessoas no aposento, Selena. Poderia muito bem não estar olhando
para mim.
—Tudo
está em como — persistiu Selena. — Estava como se nunca tivesse te visto antes.
Demetria
começou a vestir‐se.
—Estou
convencida de que está equivocada.
—Não
estou. Vire‐se, fecharei os botões. Nunca me engano a respeito destas coisas.
Demetria
permaneceu de pé pacientemente enquanto Selena fechava o vestido.
E
então lhe ocorreu.
—Quando
teve a ocasião de saber que tem razão? Estamos aqui enterradas no campo. Não é
como se tivéssemos sido testemunhas de que alguém caísse apaixonado.
—É
obvio que o fomos. Há Billy Evans e...
—Tiveram
que casar Selena. Sabe.
Selena
acabou de fechar o último botão, moveu as mãos para os ombros de Demetria e a
virou até que ficaram cara a cara. Sua expressão era de superioridade, inclusive
para Selena.
—Sim,
mas por que tiveram que casar? Porque se amavam.
—Não
recordo suas predições sobre o casamento.
—Tolices.
É obvio que as fiz. Você estava na Escócia. E não pude lhe dizer isso por
carta, isso teria feito que tudo, parecer completamente sórdido.
Demetria
não estava segura de que esse fosse o caso, uma gravidez imprevista era uma
gravidez imprevista. Escrever sobre não mudaria as coisas. Mas apesar de tudo, Selena
tinha um pouco de razão. Demetria ia à Escócia durante seis semanas cada ano
para visitar seus avôs maternos, e Billy Evans se casou enquanto ela não
estava.
Selena
veio com o único argumento que ela não poderia refutar.
—Vamos
tomar café da manhã? — perguntou Demetria com desalento.
Não
havia maneira de evitar deixar‐se ver, e, além disso, Adam esteve um tanto estranho a noite
anterior. Se houvesse justiça no mundo, então estaria como uma cuba em sua cama
com a cabeça palpitando toda a manhã.
—Não
até que Maria arrume seu cabelo — decidiu Selena. — Não devemos deixar nada ao
azar. Agora seu trabalho é ficar maravilhosa. OH, não me olhe fixamente. É mais
bonita do que pensa.
—Selena...
—Não,
não, foi uma má escolha de palavras. Você não é bonita. Eu sou bonita. Bonita e
insípida. Você tem algo mais.
—Um
rosto longo.
—A
verdade é que não. Não tanto como quando era pequena, pelo menos.
Selena inclinou a cabeça. E não disse nada.
Nada.
—O
que foi? —perguntou Demetria com receio.
—Acredito
que ficou maior.
Era
o que Adam disse há tantos anos antes. Algum dia irá crescer e será tão bela
como agora é inteligente. Demetria odiou a lembrança. E realmente o odiou até o
ponto de querer gritar.
Selena,
vendo a emoção em seus olhos empanados, disse abraçando‐a apertadamente.
—OH,
Demetria. Eu também te quero. Seremos as melhores irmãs. Não posso esperar.
Quando
Demetria chegou a tomar o café da manhã (exatamente trinta minutos inteiros
mais tarde, juraria que nunca tinha demorado tanto em arrumar o cabelo, e depois
jurou que nunca o faria outra vez) o estômago rugia.
—Bom
dia, família — disse Selena alegremente enquanto pegava um prato do aparador. —
Onde está Adam?
Demetria
elevou uma silenciosa oração de agradecimento pela ausência dele.
—Ainda
na cama, imagino — respondeu Lady Rudland. — O pobre. Sofreu uma comoção.
—Foi
uma semana terrível.
Ninguém
disse nada. A nenhum deles gostava de Camille.
Selena
aproveitou o silêncio.
—Correto
— disse. — Bem, espero que não esteja muito faminto. Tampouco jantou conosco
ontem à noite.
—Selena,
a esposa dele acaba de morrer — disse Mikey. — Com o pescoço quebrado, nada
menos. Rogo um pouco de benevolência.
—Porque
o amo é o motivo de que eu esteja preocupada com seu bem estar,— disse Selena,
com a irritabilidade que reservava só para o irmão gêmeo. — Não come.
—Pedi
que subissem uma bandeja ao quarto — disse sua mãe, pondo fim à rixa. — Bom
dia, Demetria.
Demetria
avançou. Esteve ocupada olhando Selena e Mikey.
—Bom
dia, Lady Rudland — disse rapidamente. — Confio que tenha dormido bem.
—Tão
bem como pode esperar‐se. — A condessa suspirou e tomou um gole de chá. — São tempos
duros. Mas devo agradecê‐la outra vez que tenha passado a noite aqui. Sei que foi um
consolo para Selena.
—É
obvio — murmurou Demetria. — Fico feliz por ter ajudado.
Seguiu
Selena para o aparador e se serviu um prato de café da manhã. Quando retornou à
mesa, viu que Selena lhe deixou um assento ao lado de Mikey.
Sentou‐se e
contemplou os Bevelstoke. Todos estavam sorridentes, Lorde e Lady Rudland de
forma totalmente benevolente, Selena com um indício de astúcia, e Mikey...
—Bom
dia, Demetria — disse afetuosamente. E seus olhos... Tinham... Interesse?
Meu
Deus! Selena teria razão? Havia algo diferente na forma que a estava olhando.
—Bom
dia — disse Demetria, completamente perturbada.
Mikey
era quase seu irmão, não? De maneira nenhuma podia pensar que o agradava, e ela
tampouco. Mas se ele podia então, ela podia? E...
—Tem
intenção de ficar em Haverbreaks toda a manhã? — perguntou Mikey.
—
Pensei que poderíamos dar um passeio. Talvez depois do café da manhã? Deus querido.
Selena tinha razão.
Demetria
sentiu que seus lábios se abriam com surpresa.
—Eu,
isto, não decidi ainda.
Selena
lhe deu um chute por debaixo da mesa.
—OH!
—Se
engasgou com a cavala? —perguntou à senhora Rudland.
Demetria
negou com a cabeça.
—Sinto
muito — disse, clareando voz. — Ehrm, eu acredito que era uma espinha.
—Esse
é o motivo pelo qual nunca como peixe no café da manhã — declarou Selena.
—O
que diz Demetria? —insistiu Mikey. Sorriu preguiçosamente, uma obra prima de inocência,
que certamente tinha quebrado mais de mil corações. — Damos um passeio a
cavalo?
Demetria
afastou cuidadosamente as pernas do alcance de Selena e disse.
—Receio
não ter trazido meu traje de montar. —Era a verdade, e era realmente uma
lástima, porque começava a pensar que uma excursão com Mikey era justamente o
que necessitava para desterrar Adam de sua mente.
—Pode
usar um dos meus — disse Selena, sorrindo docemente por cima da torrada. —Só
ficará um pouquinho grande.
—Então,
está decidido — disse Mikey. — Será esplêndido passear de dia. —Passou muito
tempo desde que tivemos a oportunidade.
Demetria
se encontrou sorrindo. Era tão fácil estar com Mikey, inclusive agora, quando
estava confusa a respeito das intenções dele.
—Acredito
que passaram vários anos. Sempre estou na Escócia quando você volta para casa
da escola.
—Mas
não hoje — anunciou ele felizmente. Tomou o chá, sorridente por cima da xícara,
e Demetria sentiu um choque pelo muito que se parecia com Adam quanto
este
era mais jovem. Mikey tinha agora vinte anos, exatamente um a mais que
Adam
quando ela se apaixonou por ele.
Quando
se encontraram pela primeira vez, corrigiu‐se. Não havia se apaixonado por
ele. Simplesmente pensou que estivesse. Agora tinha melhor critério.
11
DE ABRIL DE 1819
Hoje
desfrutei de um esplêndido passeio com Mikey. É muito parecido ao
irmão,
se seu irmão fosse amável e atento e ainda tivesse senso de humor.
******
Adam
não dormiu bem, mas não o assombrou; agora raramente dormia bem.
E
certamente, pela manhã ainda estava irritável e zangado, sobre tudo consigo
mesmo.
Em
que diabo, esteve pensando? Beijando Demetria Cheever. A garota era virtualmente
sua irmã menor. Estava zangado, e talvez um pouco bêbado, mas essa não era
desculpa para tão mau comportamento. Camille matou muitas coisas dentro dele,
mas por Deus, ainda era um cavalheiro. De outra maneira, o que restava?
Nem
sequer a desejava. Não realmente. Sabia o que era o desejo, conhecia essa força
que retorcia as vísceras com a necessidade de possuir e reclamar, e o que sentiu
por Demetria...
Bem,
não sabia o que era, mas não tinha sido isso.
Eram
aqueles grandes olhos marrons dela. Viam tudo. Desconcertavam‐no.
Sempre
o fizeram. Inclusive quando era uma menina, parecia incrivelmente sábia. Quando
esteve no estúdio de seu pai, se sentiu exposto, transparente. Era somente uma
jovenzinha, recém saída da sala de aula, mas viu através dele. A intrusão foi
exasperante, assim foi que repartiu golpes a torto e a direito do único modo
que lhe pareceu apropriado então.
Exceto
que, nada poderia ter sido menos apropriado.
E
agora teria que se desculpar. Meu Deus, mas em nisso pensar era intolerável.
Seria
mais fácil fingir que nunca ocorreu e a ignoraria para o resto de sua vida, mas
isso claramente não iria redimi‐lo, não se pretendesse manter relação com sua irmã. E, além disso,
esperava que ficasse algum farrapo de decência cavalheiresca.
Camille
matou a maior parte da bondade e inocência que havia nele, mas certamente tinha
que restar algo dentro dele. E quando um cavalheiro ofendia uma dama, um
cavalheiro se desculpava.
Quando
Adam desceu para tomar o café da manhã, sua família já havia saído, o que o
satisfez. Comeu rapidamente e engoliu o café, tomando‐o
preto, como penitência e sem estremecer quando desceu quente e amargo por sua
garganta.
—Deseja
algo mais?
Adam
contemplou o lacaio, que permanecia imóvel ao seu lado.
—Não,
agora não.
O
lacaio deu um passo atrás, mas não saiu da sala e Adam decidiu nesse instante
que era o momento de ir embora de Haverbreaks. Havia muitas pessoas ali.
Inferno,
sua mãe provavelmente tinha dado instruções a todos os serventes para que o
vigiassem de perto.
Ainda
com o cenho franzido, separou‐se de um empurrão a cadeira e caminhou a grandes passos saindo
para o vestíbulo. Avisaria ao ajudante de quarto que iria a toda pressa.
Poderiam ir á uma hora. Tudo o que restava fazer era encontrar Demetria e
conseguir se livrar do irritante assunto e uma vez feito voltaria a esconder‐se
em sua própria casa e...
Risadas.
Elevou
a vista. Mikey e Demetria acabavam de entrar, as bochechas rosadas e viçosas
por causa do ar fresco e o sol.
Adam
arqueou uma sobrancelha e parou, esperando ver quanto tempo demoravam em notar
sua presença.
—E
assim — estava dizendo Demetria, claramente chegando ao final de uma história,
— foi como soube que Selena não era de confiança com o chocolate.
Mikey
riu seus olhos examinando‐a calorosamente.
—Mudou
Demetria.
Ela
ruborizou o bastante.
—Nem
tanto. Apenas cresci.
—Sim,
tem razão.
Adam
pensou que talvez fosse engasgar.
—Pensou
que poderia ir à escola e me encontrar exatamente igual a quando me deixou?
Mikey
sorriu abertamente.
—Algo
assim. Mas devo dizer que estou satisfeito com o resultado. —Ele tocou seu
cabelo, que tinha sido enrolado em um coque rígido. — Creio que não voltarei a lhe
dar nenhum puxão.
Demetria
ruborizou outra vez e, de verdade, isto simplesmente não podia tolerar.
—Bom
dia — disse Adam falando alto, sem incomodar‐se em mover‐se
de seu lugar no vestíbulo.
—Acredito
que já é de tarde — respondeu Mikey.
—Para
quem não está acostumado, possivelmente — disse Adam com um sorriso meio
zombador.
—Em
Londres a manhã dura até as duas? —perguntou Demetria serenamente.
—Só
se a noite anterior resultou decepcionante.
—Adam
— disse Mikey com recriminação.
Adam
deu um encolher de ombros.
—Preciso
falar com a Senhorita Cheever — disse, sem incomodar‐se
em olhar o irmão.
Os
lábios de Demetria se separaram pela surpresa, supôs Adam, e talvez também com
um pouco de aborrecimento.
—Parece
que isso depende de Demetria — disse Mikey.
Adam
manteve os olhos em Demetria.
—Me
informe quando estiver pronta para retornar para casa. Irei acompanhá-la.
A
boca do Mikey se abriu com consternação.
—Olhe
— disse rigidamente. — É uma dama e faria bem em oferecer a cortesia de lhe
pedir permissão.
Adam
virou para o irmão e fez uma pausa, ficando com o olhar fixo até que o mais
jovem se sentiu envergonhado. Adam olhou de novo Demetria e disse novamente.
—Irei
acompanhá‐la até sua casa.
—Tenho...
Ele
a cortou com um olhar penetrante e Demetria aceitou com um assentimento de
cabeça.
—É
obvio milord — disse os cantos da boca excepcionalmente apertados.
Virou‐se
para Mikey. — Adam tem que analisar um manuscrito iluminado com meu pai. Tinha
me esquecido completamente.
Inteligente
Demetria. Adam quase sorriu.
—Adam?
—disse Mikey duvidando. — Um manuscrito iluminado?
—É
minha nova paixão — disse Adam brandamente.
Mikey
olhou de Adam a Demetria e dela a Adam novamente, depois finalmente se rendeu
com uma rígida inclinação de cabeça.
—Muito
bem — disse. — Foi um prazer, Demetria.
—Certamente
— disse ela, e por seu tom, Adam soube que não mentiu.
Adam
não abandonou sua posição entre os dois jovens apaixonados e Mikey lhe lançou
um olhar irritado, depois virou para Demetria dizendo.
—A
verei outra vez antes que retorne a Oxford?
—Espero
que sim. Não tenho planos marcados para os próximos dias, e...
Adam
bocejou.
Demetria
clareou a voz.
—Estou
segura de que poderemos fazer planos. Talvez Selena e você possam tomar um chá.
—Gostaria
muito.
Adam
conseguiu proclamar seu aborrecimento com o aspecto de suas unhas, a qual
inspecionou com uma significativa falta de interesse.
—Ou
se Selena não puder fazer uma visita — continuou Demetria, com a voz impressionantemente
acerada — talvez você possa ir.
Os
olhos do Mikey aumentaram quentes e com interesse.
—Ficaria
encantado — murmurou, inclinando‐se sobre a mão de Demetria.
—Está
preparada? —Ladrou Adam.
Demetria
não moveu nem um músculo quando disse com um esforço:
—Não.
—Bem,
apresse‐se então, não tenho todo o dia.
Mikey
se virou para ele com incredulidade.
—O
que ocorre contigo?
Foi
uma boa pergunta. Quinze minutos antes, sua única meta era escapar da casa de
seus pais a toda pressa, e agora estava insistindo todo o tempo em escoltar Demetria
para casa.
Muito
bem, ele insistiu, mas tinha suas razões.
—Estou
bastante bem — disse Adam dando a volta. — Melhor que do que estive em anos.
Desde 1816, para ser preciso.
Mikey
com desconforto mudou seu peso de um pé ao outro e Demetria se
moveu
esgotada. 1816 foram todos sabiam o ano do casamento de Adam.
—Junho
— adicionou, com um toque perverso.
—Perdão?
—disse Mikey com rigidez.
—Junho.
Junho de 1816. —E então Adam sorriu a ambos, um sorriso claramente falso, o
tipo de sorriso de auto‐satisfação. Virou‐se para Demetria.
—
Esperarei no vestíbulo dianteiro. Não se atrase.
Que isso Adam já tascando beijo assim ??? Hahaha
ResponderExcluirAi meu Deus Selena não me inventa história
POSTA LOGO
Adam estava indiretamente com ciúmes kk
ResponderExcluirSelena querendo arrumar ideia pra Demi
Parece que esse casamento do Adam foi só ruínas, ele tá insuportável.
Posta logo!!!